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2016 Contabilidade SoCial e ambiental Prof. Valdecir Knuth 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof. Valdecir Knuth Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 657 K67c Knuth; Valdecir Contabilidade social e ambiental/ Valdecir Knuth : UNIASSELVI, 2016. 217 p. : il. ISBN 978-85-7830-996-1 1.Contabilidade. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III apreSentação Caro acadêmico! Diz o provérbio chinês que “podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos”. Assim, plantamos para você a semente do conhecimento na disciplina de Contabilidade Social e Ambiental e você poderá, ao fim da terceira unidade, colher os melhores frutos que conseguir. No campo de valorização intelectual aplicável você estará à frente de outros profissionais, no momento em que se prepara para uma das profissões mais valorizadas nos tempos atuais. A Contabilidade Social e Ambiental irá lhe proporcionar os conhecimentos voltados à mensuração e evidenciação dos atos administrativos que culminam com reflexos na responsabilidade social dos empresários. Não é para menos, pois todas e quaisquer decisões tomadas pelos gestores de empresas possuem algum tipo de impacto social e/ou ambiental. A responsabilidade social dos gestores reflete na percepção da sociedade que tem por consequência maior ou menor aceitação dos produtos e serviços. E por sua vez, a percepção da sociedade reflete nos resultados econômicos e financeiros da empresa. Assim, é importante perceber que os recursos financeiros direcionados para a gestão ambiental não são meros gastos e sim investimentos que terão retorno garantido, seja na preservação ambiental que garantirá o futuro de nossas gerações ou no retorno econômico para a empresa, em função de fortalecer sua marca no mercado por ser considerada ecologicamente correta junto ao público consumidor cada vez mais exigente. O conteúdo desta disciplina se divide em três unidades de ensino. Assim, iniciaremos a Unidade 1 com o estudo sobre definições e conceitos do Balanço Social. Os usuários das informações contábeis têm interesse nessas informações. Os reflexos das decisões dos gestores provocam impacto no mercado, por exemplo, empresas que implantam programas na área de preservação ambiental são “melhores vistas” pela sociedade. O Balanço Social teve origem na Europa, mas no Brasil também ocorreu a aprovação da RAIS – Relação Anual de Informações Sociais que, apesar de extremamente simples se comparado ao Balanço Social francês, já permitiu os primeiros passos para essa mentalidade. Com a elaboração e utilização do Balaço Social, é possível avaliar o montante da geração de riqueza da empresa e como foi distribuída com investimentos em treinamento, implantação de programas de saúde e alimentação na empresa, dentre outros. IV No decorrer da Unidade 2 estudaremos os elementos que compõem o Balanço Social. No período do pós-guerra na Europa, o empenho na construção de uma sociedade mais solidária e responsável foi fundamental para o pensamento de se constituir empresas com investimentos na área social e ecologicamente corretas. Cada país implantou o seu modelo de Balanço Social com vistas a atender aos seus usuários de acordo com suas necessidades. A França teve preocupação com as “células sociais” nas empresas. Em Portugal, a maior ênfase concentrava-se nas ações da empresa para contribuir com a melhoria das condições de vida da sociedade em geral. A Bélgica desenvolveu seu Balanço Social baseado na ideia de perenidade da empresa no mercado. A Holanda mantinha preocupação com as estatísticas e empregos. E assim cada país teve sua realidade. No Brasil, o modelo adotado é o do IBASE, que foi promovido por Herbert de Souza (Betinho). Depois de conhecer o Balanço Social dos países da Europa e do Brasil, você irá estudar a Demonstração do Valor Adicionado – DVA, que apresenta as informações geradas para avaliar o valor adicionado na empresa após a distribuição da riqueza por ela gerada. Para finalizar, na Unidade 3 abordaremos a definição e utilidade da Contabilidade Ambiental. Você irá conhecer o que são os Ativos Ambientais, os Passivos Ambientais, as Despesas e os Custos Ambientais. Essas contas são importantes para que se consiga mensurar quanto, como e onde são aplicados os recursos consumidos pelas atividades operacionais da empresa e que possuem algum tipo de impacto ambiental. A implantação de um Sistema de Gestão Ambiental – SGA, que atenda à legislação ambiental, contribui para inserir a empresa em um ambiente ecologicamente correto. Você também irá estudar a Demonstração do Resultado Abrangente – DRA, que apresenta as mutações ocorridas no patrimônio líquido resultantes das transações e demais operações que não se relacionam com os sócios. E por final, você estudará os conceitos e a importância do empreendedorismo e saberá como o empreendedor pode constituir sua empresa devidamente planejada a partir da elaboração de um plano de negócios, além de conhecer um modelo de plano de negócios aplicado à área ambiental. Bons estudos! Prof. Valdecir Knuth V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 – O BALANÇO SOCIAL ................................................................................................ 1 TÓPICO 1 – CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL ................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 CONCEITUAÇÃO DE BALANÇO SOCIAL ................................................................................... 3 2.1 ORIGEM DO BALANÇO SOCIAL ............................................................................................... 6 2.2 CONCEITOS DO BALANÇO SOCIAL ........................................................................................ 15 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 22 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICASDO BALANÇO SOCIAL ......................................................... 25 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25 2 APRESENTAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL ................................................................................... 25 2.1 MODELOS DO BALANÇO SOCIAL ............................................................................................ 32 2.2 ELABORAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL ................................................................................... 33 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 35 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 – FONTES DE INFORMAÇÃO PARA O BALANÇO SOCIAL ................................. 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 ASPECTOS DA INFORMAÇÃO PARA A ELABORAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL .......... 37 2.1 CONTRIBUIÇÃO PARA AS EMPRESAS E SOCIEDADE ........................................................ 38 2.1.1 Indicadores sociais internos .................................................................................................. 39 2.1.2 Indicadores sociais externos .................................................................................................. 45 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 48 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 51 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52 UNIDADE 2 – MODELOS DE BALANÇO SOCIAL ........................................................................ 53 TÓPICO 1 – BALANÇO SOCIAL NA EUROPA ............................................................................... 55 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55 2 MODELO DO BALANÇO SOCIAL FRANCÊS ............................................................................. 56 3 MODELO DO BALANÇO SOCIAL PORTUGUÊS ....................................................................... 68 4 MODELO DO BALANÇO SOCIAL BELGA................................................................................... 77 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84 TÓPICO 2 – O BALANÇO SOCIAL NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87 2 CONCEITO HISTÓRICO DO BALANÇO SOCIAL BRASILEIRO ........................................... 87 3 A REGULAMENTAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL BRASILEIRO ............................................ 90 3.1 MODELO DO BALANÇO SOCIAL BRASILEIRO ..................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 106 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 107 Sumário VIII TÓPICO 3 – DVA – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO........................................ 109 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 109 2 CONCEITOS RELACIONADOS COM A DVA ............................................................................. 109 3 ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS COM A DVA ................................................................ 112 3.1 CONCEITO E APLICAÇÃO DA ACCOUNTABILITY ............................................................... 114 4 APURAÇÃO E MODELO DE DVA ................................................................................................... 117 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 124 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 126 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 127 UNIDADE 3 – CONTABILIDADE AMBIENTAL, GESTÃO AMBIENTAL, DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE – DRA E EMPREENDEDORISMO ............................................................................................ 129 TÓPICO 1 – ESTRUTURA DA CONTABILIDADE AMBIENTAL ............................................... 131 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 131 2 CONTABILIDADE AMBIENTAL ..................................................................................................... 131 2.1 MEIO AMBIENTE E CONTABILIDADE ..................................................................................... 138 2.2 ATIVO AMBIENTAL ....................................................................................................................... 140 2.3 PASSIVO AMBIENTAL................................................................................................................... 142 2.4 RECEITAS DA CONTABILIDADE AMBIENTAL ...................................................................... 148 2.5 CUSTOS DA CONTABILIDADE AMBIENTAL ......................................................................... 149 2.6 DESPESAS DA CONTABILIDADE AMBIENTAL ..................................................................... 154 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 157 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 158 TÓPICO 2 – BALANÇO AMBIENTAL (ECOBILAN), LEGISLAÇÃO E GESTÃO AMBIENTAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE – DRA ............................ 159 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 159 2 BALANÇO CONTÁBIL AMBIENTAL – ECOBILAN ................................................................... 159 2.1 ECOBALANÇO ................................................................................................................................ 161 2.2 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ......................................................................................................... 167 3 GESTÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................................... 168 3.1 INTERNATIONAL STANDARDS FOR BUSINESS – ISO 14001 ............................................... 173 3.2 DANO AMBIENTAL E GESTÃO DE RESÍDUOS ...................................................................... 175 3 CONCEITOS RELACIONADOS COM A DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE – DRA ........................................................................................................................ 180 3.1 ASPECTOS LEGAIS DA DRA ....................................................................................................... 181 3.2 MODELO DE DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE – DRA .....................182 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 183 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 184 TÓPICO 3 – EMPREENDEDORISMO RELACIONADO À GESTÃO AMBIENTAL ............... 185 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 185 2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO EMPREENDEDORISMO ......................... 185 3 O PERFIL DO EMPREENDEDOR .................................................................................................... 188 4 IDENTIFICANDO OPORTUNIDADES .......................................................................................... 193 5 PLANO DE NEGÓCIOS...................................................................................................................... 195 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 207 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 209 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 210 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 211 1 UNIDADE 1 O BALANÇO SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os conceitos relacionados ao Balanço Social; • identificar os principais usuários da informação contábil que utilizam o Balanço Social; • conhecer a origem do Balanço Social; • compreender o enfoque utilizado nos Estados Unidos sobre o Balanço Social; • compreender as características do Balanço Social; • estudar e compreender a apresentação do Balanço Social; • compreender as informações geradas pelos modelos do Balanço Social; • identificar as informações que são necessárias para elaborar o Balanço Social; • compreender o que são e quais são os benefícios da informação gerada pelos indicadores sociais internos e externos da empresa. Esta unidade está dividida em três tópicos, a fim de auxiliá-lo na compreensão das noções básicas do Balanço Social, suas origens e finalidade como fonte de informação para a análise dos indicadores sociais internos e externos que podem contribuir para a análise da responsabilidade social das empresas com a sociedade e o meio ambiente. TÓPICO 1 – CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS DO BALANÇO SOCIAL TÓPICO 3 – FONTES DE INFORMAÇÃO PARA O BALANÇO SOCIAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 1 INTRODUÇÃO O Balanço Social talvez seja um dos principais demonstrativos que surgiram para evidenciar a participação das empresas com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas no contexto social, econômico e ambiental, onde a empresa está inserida. No decorrer deste tópico você irá estudar os principais conceitos de Balanço Social, conhecer os diversos usuários desta ferramenta e compreender os tipos de informações que esses usuários utilizam. É muito importante também conhecer as origens do Balanço Social e saber da sua ramificação como ciência na área contábil. Em se tratando de um demonstrativo que visa apresentar os aspectos sociais da empresa em relação à sociedade e o próprio meio ambiente, é importante frisar que a empresa possui responsabilidade social sobre todos os atos concernentes à agressão ao meio ambiente também. 2 CONCEITUAÇÃO DE BALANÇO SOCIAL A Contabilidade, como ciência, é um instrumento que tem como finalidade controlar o patrimônio da empresa e registrar os atos e fatos resultantes da qualidade da tomada de decisão dos administradores. Com o objetivo de controlar a riqueza patrimonial, a Contabilidade deve apurar os resultados e apresentá-los aos seus diversos usuários, possibilitando que estes realizem o melhor planejamento para uma tomada de decisão. Os usuários da Contabilidade podem ser todas as pessoas – físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, internas ou externas – que tenham algum tipo de interesse nos resultados da empresa ou entidade. Esses usuários podem ser: governos nos diversos níveis, administradores, sócios ou acionistas, fornecedores, financiadores e demais credores, clientes, empregados, integrantes do mercado financeiro e de capitais, entre outros. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 4 Complementando, Araújo (2009, p. 5-6) afirma que “em geral, toda pessoa, física ou jurídica, possui algum patrimônio; logo, podemos dizer que todos se interessam pela informação contábil”. Conforme o interesse do usuário, a informação contábil pode servir a diversos propósitos: - Os proprietários: todo empresário, que pode ser um acionista ou quotista, necessita saber se as diretrizes traçadas estão sendo seguidas e se os objetivos da empresa estão sendo alcançados, [...] - Os administradores: por meio da Contabilidade, os administradores poderão realizar o devido planejamento de suas ações, assim como acompanhar os resultados, uma vez que a maioria das decisões de uma empresa envolve aspectos financeiros. [...] - Os fornecedores de bens e serviços: aquele que vende bens ou presta serviços a prazo necessita saber se o seu cliente possui condições financeiras necessárias para liquidar a operação na data combinada. [...] - Os banqueiros: Os bancos [...], para conceder crédito a seus clientes, eles precisarão proceder à devida análise cadastral e contábil para se assegurarem de que a concessão de empréstimo não gerará prejuízos. - O governo: como sabemos, a principal fonte de arrecadação de receita para os três níveis de governo (federal, estadual e municipal) são os tributos (impostos, taxas e contribuições de melhoria). A maioria deles é calculada com base nas informações fornecidas pela Contabilidade. [...] - Os sindicatos: os empregados também constituem um dos principais interessados pelas informações contábeis, principalmente no que se refere às questões salariais e de participação nos lucros. - Os economistas: esses profissionais somente poderão realizar suas análises macro e microeconômicas se souberem utilizar devidamente as informações contábeis. - Os auditores: os profissionais de auditoria são contratados para emitir uma opinião sobre a adequação ou não dos demonstrativos contábeis. [...]. (ARAÚJO, 2009, p. 5-6, grifo nosso). Silva (2010, p. 8) também nos permite identificar os tipos de usuários da contabilidade e suas respectivas finalidades de obterem as informações geradas por esta área: Usuários Internos Sócios e Gestores - Aumentar ou reduzir investimentos. - Aumentar o capital ou emprestar recursos. - Expandir ou reduzir as operações. - Comprar/vender à vista ou a prazo. Usuários Externos Instituições Financeiras - Conceder ou não empréstimos. - Estabelecer termos do empréstimo (volume, taxa, prazo e garantias). QUADRO 1 – USUÁRIOS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 5 Clientes e Fornecedores em geral - Avaliação com vista à concessão ou não de crédito, em que valor e a que prazo. - Informações sobre a continuidade operacional da entidade, especialmente quando têm um relacionamento a longo prazo com ela, ou dela dependem como fornecedor importante. Investidores - Adquirir ou não o controle acionário. - Investir ou não em ações na bolsa de valores. - Avaliação do risco inerente ao investimento e potencial de retorno proporcionado (dividendos). Comissão de Valores Mobiliários - Observar se as demonstrações contábeis de uma empresa de capital aberto respondem aos requisitos legais domercado de valores mobiliários, como periodicidade de apresentação, padronização e transparência. Poder Judiciário - Solicitação e apreciação objetiva de perícia. Fiscalização Tributária - Buscar indícios de sonegação de impostos. Comissões de Licitação - Avaliar o vulto dos equipamentos e instalações, do capital de giro próprio, da solidez econômico-financeira, buscando identificar se há garantia acessória para o início ou continuidade no fornecimento dos bens ou serviços. O art. 31, da Lei Federal nº 8.666/93, prevê que o uso de índices extraídos das demonstrações contábeis limitar-se-á à demonstração da capacidade financeira do licitante com vistas aos compromissos que terá que assumir caso lhe seja adjudicado o contrato. Empregados e Sindicatos - Informações sobre a estabilidade e a lucratividade de seus empregadores (solvência, distribuição de lucros etc.) - Avaliação da capacidade que tem a entidade de prover sua remuneração, seus benefícios de aposentadoria e oferta de oportunidades de emprego. FONTE: Silva (2010, p. 8) Com a classificação dos tipos de usuários, Araújo (2009) e Silva (2010) proporcionam uma melhor visualização sobre o que o gestor financeiro pode obter da contabilidade, e essas informações contábeis são geradas e transmitidas pela emissão de relatórios. Mas não são todos os tipos de relatórios que são obrigatórios por lei. Um relatório gerencial onde se apresenta a margem de contribuição por unidade produzida (ou um relatório de orçamento anual) é um relatório gerencial interno, ou seja, não há obrigatoriedade em apresentar essas informações para o mercado. A ciência contábil evolui com as transformações da sociedade e, desta forma, não pode permanecer inerte apenas à divulgação das demonstrações contábeis e financeiras. Assim, como todas as outras ciências, a Contabilidade deve ser estudada em seus vários aspectos, em que cada um deles estuda o patrimônio sob determinada visão específica. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 6 Desta forma, a Contabilidade tem a premissa de medir e demonstrar com o uso do Balanço Social, para a empresa e também para a sociedade, o quanto se está fazendo para o bem-estar social da comunidade em geral, possibilitando a identificação de oportunidades para que a própria organização identifique caminhos para melhorar suas ações. Conforme Gomes e Torres (apud GOMES; TORRES; GARCIA, 2013, p. 107), o balanço social “[...] objetiva tornar pública a responsabilidade social empresarial, construindo maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o meio ambiente”. 2.1 ORIGEM DO BALANÇO SOCIAL A área contábil, como Ciência Social, deverá estudar a riqueza patrimonial gerada pela empresa, utilizando-se de instrumentos necessários para divulgar aos seus diversos tipos de usuários, além das informações geradas de caráter econômico-financeiro e as informações de caráter humano, social e ecológico, promovendo, desta forma, a evidenciação de uma parcela de comprometimento da empresa frente ao bem-estar da comunidade. Todos os movimentos sociais existentes desde a pré-história, todas as alterações nos seus diversos tipos de comportamentos, têm motivado mudanças nos comportamentos dos seres humanos – na sua forma de vestir, de consumir, de moradia, entre outros – que causam consequentemente modificações no patrimônio das entidades. Na última década, uma nova escola surgiu, conhecida como “economia comportamental”. Esta nova escola foca-se no próprio comportamento humano, em vez de forças de mercado abstratas, e considera esse comportamento como um meio para compreender a maneira pela qual tomamos decisões financeiras. Economia comportamental descreve a natureza e poder das relações humanas, suas colaborações e mostra a extensão de como tendências e percepção fundamental da economia humana dependem de valores de mutualidade. (A ECONOMIA, 2016, p. 1). Isso quer dizer que as mudanças no comportamento humano é que ditam as regras nas economias de mercado e no consumo. Isso tem profundo reflexo no resultado da empresa, pois a cada período curto de tempo as empresas necessitam criar, elaborar, alterar e sempre oferecer novos produtos e serviços para que as pessoas possam consumir. E temos como reflexo a própria necessidade das empresas se prepararem, se adequarem e oferecer subsídios para que seus funcionários se sintam seguros e confortáveis no seu ambiente de trabalho. TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 7 2.1 ORIGEM DO BALANÇO SOCIAL “Seguros” no sentido de atuarem em uma empresa que possa oferecer níveis de empregabilidade suficiente para que o funcionário não tenha receios ou arrependimentos futuros pela mudança de emprego. É comum que empresas com características de gestão extremamente autoritárias não ofereçam nenhum tipo de segurança e a mínima condição de ambiente de trabalho em equipe. São duas coisas antagônicas: Modelo de Gestão Autoritário x Modelo de Gestão Participativa. Em se tratando de “confortáveis”, é quando a empresa oferece um ambiente de trabalho onde o funcionário possa sentir-se ao mínimo motivado em poder atuar em um Modelo de Gestão Participativa. Martins (1999) destaca que a Contabilidade Social tem como objetivo principal procurar estudar e evidenciar, na medida em que for possível, a identificação, os efeitos que determinadas variações no patrimônio das empresas causam na sociedade, num sentido amplo. Então, percebe-se que, com o advento da Contabilidade Social, a sociedade demonstrou ter interesse em exigir cada vez mais das empresas, uma maior clareza das suas ações, ações estas que possam enquadrar as organizações na responsabilidade por seus atos. Com isso, nasce determinada consciência crítica e que se desenvolve na sociedade, obrigando que as empresas assumam a implantação de um planejamento cada vez mais rigoroso, que resulte em ações efetivas. Conforme Gonçalves (1980, apud SILVA; FREIRE, 2001, p. 15-16): No Brasil, os primeiros ventos de mudança de mentalidade empresarial já podem ser notados desde meados da década de 60. E, nesse sentido, a Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”, publicada em 1965, é um marco histórico incontestável do início da utilização explícita da expressão responsabilidade social diretamente associada às empresas e da própria relevância do tema relacionado à ação social das empresas no país. [...] “Já em 1965 aprovava a ‘Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas’, na qual se salienta a consciência de que ‘as crises e tensões do mundo contemporâneo devem-se a que as instituições econômico- sociais vigentes se afastaram dos princípios e das exigências da justiça social e que os antagonismos de classe, os aberrantes desníveis econômicos, o enorme atraso de certas áreas do país decorrem, em parte, de não ter o setor empresarial tomado consciência plena de suas responsabilidades sociais’”. Desta forma, é possível observar a mudança de comportamento dos seres humanos, pois enquanto os consumidores buscam produtos e serviços com qualidade e preço adequado, querem aliar a esses fatores a análise das políticas e das atitudes praticadas pelos gestores das organizações, e sua relação com a comunidade e com o meio ambiente. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 8 Conforme Bowen (1957, p. 14-15 apud REIS; MEDEIROS, 2009, p. 10), “a expressão responsabilidades sociais dos homens de negócios [...] refere-se às obrigações dos homens de negócios de adotar orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação que sejam compatíveis com os fins e valores de nossa sociedade”. A Contabilidade pode e deve ser estudada sob enfoques particulares, enfoques estes denominados de especializações. Para facilitar o estudo contábil, ramifica-se esse conjunto em partes menores, a fim de compreender melhor sua organização, mas sem jamais perder a visão global do resultado contábil. Portanto, a ciência contábil pode ramificar-se em várias especializações, tais comoa Contabilidade Gerencial, Contabilidade Agrícola, Contabilidade Pública, Contabilidade Comercial, e cada uma delas tem a incumbência de estudar o patrimônio da empresa sob uma ótica particular, conforme especifica a necessidade respectiva de cada ramificação. O que determina essas ramificações são as diversas atividades desenvolvidas pelas organizações, as suas políticas e diretrizes adotadas, os interesses dos usuários em relação ao modelo de gestão dessas empresas, as normas governamentais, entre outras. No entanto, mesmo que se subdivida a entidade em vários subsistemas, é importante compreender que ela é um conjunto de atividades de cada subsistema que busca o equilíbrio entre suas diversas partes, e para que se alcance o melhor resultado efetivo, todas as ramificações do subsistema devem convergir para a mesma direção. FIGURA 1 – RAMIFICAÇÃO DA CIÊNCIA SOCIAL Objeto de estudo Patrimônio aziendal, relacionado com ambiente endógeno e exógeno da organização Demonstração Principal Espécie de gestão Forma de Controle Balanço Social Participativa (gestão social) Auditoria social Ciência Contábil Outras Contabilidade Comercial Contabilidade de Custos Contabilidade Social Contabilidade Gerencial Contabilidade Agrícola Fonte: Kroetz (2000, p. 52) TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 9 Com o quadro anterior podemos entender que a Contabilidade Social é uma das ramificações entre as demais existentes para apresentar os resultados das empresas no mercado. Observa-se inicialmente, neste quadro, que as informações da Contabilidade Social são geradas a partir da Demonstração Principal da empresa, ou seja, o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício, que culminam na elaboração do Balanço Social. Kroetz (2000, p. 53) ainda destaca que a “[...] Contabilidade Social pode ser compreendida como uma parte da ciência contábil que procura estudar os impactos dos fenômenos patrimoniais nas entidades (especificamente em relação aos funcionários), na sociedade e no meio ambiente”. Corroborando com o autor, a Contabilidade Social visa buscar evidenciar ou apurar a verdade sobre a circulação da riqueza da empresa, desta forma, procurando registrar e demonstrar dados sobre a atividade social e ambiental da organização em todo e qualquer momento. Segundo Ferrel (2001 apud REIS; MEDEIROS, 2009, p. 15), “sendo a responsabilidade social a obrigação que a empresa assume perante a sociedade no compromisso de maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos”. Para entender melhor essa sistemática, vamos observar a figura a seguir, que demonstra que todas as ações tomadas pela empresa culminam com o cumprimento legal ao qual a empresa está inserida na nação. FIGURA 2 − DEGRAUS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL FONTE: Adaptado de Archie (1991, p. 42, apud FERREL, 2001, p. 68) FILANTRÓPICO: restituir à sociedade o que dela foi recebido. ECONÔMICO: maximizar para o stakeholder a riqueza e/ou o valor. ÉTICO: seguir padrões de conduta aceitável, da maneira definida pelos stakeholders. LEGAIS: cumprir todas as leis e regulamentos do governo. Podemos observar na figura anterior que a empresa tem o compromisso de restituir à sociedade, de alguma maneira, o que dela recebeu, muitas vezes como incentivos fiscais com isenções de impostos para a instalação dos seus parques fabris, e assim a empresa restitui com a construção de creches ou campanhas para doações para escolas e hospitais, o que é uma prática muito comum em empresas multinacionais instaladas no Brasil. As campanhas muitas vezes podem não ser necessariamente em espécie, pois há outras formas de doações, por exemplo, atividades realizadas pela Nestlé: “Por meio das parcerias formadas com UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 10 entidades, associações, escolas e empresas, a Nestlé realiza patrocínios e doações com foco nas temáticas Nutrição, Água e Desenvolvimento Rural”. (DOAÇÕES, 2016, p. 1). Como forma de apresentar os dados da Contabilidade Social originou- se o Balanço Social, uma demonstração cuja intenção é apresentar as influências de origem social e ambiental, resultante da interação da empresa com o meio ambiente e o bem-estar social. Conforme Tinoco e Kraemer (2011, p. 65), [...] certos pesquisadores na Europa e nos EUA constroem um sistema de contabilidade social. Informações sobre quantidades físicas e informações qualitativas completam os demonstrativos contábeis, visando a um melhor conhecimento da evolução social na empresa e na nação. Arrolam-se aí fatores mensuráveis, tais como emprego, condições de trabalho e informações qualitativas, como o bem-estar, além de suas relações com o meio ambiente. Percebe-se que neste momento os trabalhadores passaram a fazer exigências às organizações no sentido de obterem informações relativas a seu desempenho econômico e social, desta forma ampliando a informação que as empresas forneciam, incorporando as sociais, tendo em vista a discussão da responsabilidade social, e, por consequência, melhorando o processo de transparência entre a sociedade e empresas. Segundo Tinoco e Kraemer (2011, p. 65): Em França, organismos patronais e associações profissionais publicam diferentes modelos de tableu de bord social. Nesse país, a partir de 1970, as empresas passaram a publicar uma bateria de indicadores sociais, concernentes à gestão do pessoal, ao clima organizacional, juntamente com os indicadores financeiros tradicionais. Os indicadores contidos nesse quadro têm duplo objetivo, [...]: – “ajudar a direção da empresa a gerir segundo processo habitual de controle, que compreende quatro fases sucessivas: informação, decisão, ação e análise dos resultados; e conservar e incrementar a rentabilidade empresarial, evitando o descontentamento do pessoal suscetível de afetar a produtividade”. Nos Estados Unidos, as principais características desenvolvidas dos modelos dirigiram-se exclusivamente aos aspectos sociais públicos, à diminuição da violência e melhoria da relação entre consumidores e empresas. Segundo Danziger (1983, apud Tinoco, 2010, p. 2): A partir dos anos 50, especialmente nos EUA, e na Europa, uma mutação ocorre no sistema de valores. Nesses países, os cidadãos no contexto da nação, os assalariados na empresa, adotam uma posição prioritária, que consistia em que a repartição do bem-estar social pareceria doravante mais importante do que a segregação da riqueza. TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 11 Prosseguindo sobre as características dos modelos de Balanço Social desenvolvidos nos Estados Unidos, corroboram Reis e Medeiros (2009, p. 39): Nos Estados Unidos, questões sobre a responsabilidade social decorrente das atividades das empresas somente vieram à tona na década de 60 do século XX. A Guerra do Vietnã, com a utilização de armamentos sofisticados, que prejudicou o homem e o meio ambiente, e a discriminação de raça e sexo no emprego, fizeram com que a população debatesse mais abertamente a questão da posição das empresas perante a sociedade e exigisse uma posição mais ética. Observe, no quadro a seguir, qual é o enfoque dado por cada agente propositor nos Estados Unidos em relação à fundamentação e divulgação do Balanço Social. QUADRO 2 – ENFOQUE UTILIZADO NOS ESTADOS UNIDOS NA ELABORAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL País Datas Agente Propositor Fundamentação Estados Unidos Anos 60 Igrejas, fundações, organizações caritativas, associações de antigos combatentes de guerra da Coreia e Vietnã. Questionamentos sobre responsabilidade social, Guerra do Vietnã, prejudicando o homem e o meio ambiente, através, principalmente, de armas químicas; e discriminação sobre posição ética das empresas perante a sociedade. 1962 NASA Solicita ao professor Raymond Bauer investigações sobre as consequências socioculturais do programa espacial, visando averiguar a responsabilidade social do empreendimento. 1971 ABT Associates Publicaa Conta de Exploração Social, em virtude das consequências, principalmente da Guerra do Vietnã, referentes à fabricação de armamentos, poluição e exploração de reservas naturais. As organizações começam a apresentar, anualmente, relatórios dos resultados obtidos com investimentos sociais. Enfoque: o homem na empresa e a empresa na sociedade. 1999 DJSI Define a sustentabilidade de acordo com critérios econômicos, sociais e ambientais, efetuando a divulgação de informações através do Social Audit. Social Audit, relatório econômico-social, com conotação ampla, voltado, basicamente, para o meio externo: ênfase para os consumidores/clientes e a sociedade em geral; qualidade dos produtos, controle da poluição, contribuição da empresa às obras culturais; transporte coletivo e outros benefícios à coletividade; abordagem de caráter ambiental. FONTE: Reis e Medeiros (2009, p. 40) UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 12 Nos Estados Unidos, pelo que se observa no quadro anterior, as igrejas e demais fundações e associações têm preocupação com o meio ambiente em relação ao ser humano, como no caso a destruição provocada por guerras, e qual é o impacto no ser humano. A NASA, por sua vez, possui uma preocupação maior relacionada ao ser humano na exploração espacial e aos impactos dos programas espaciais nos aspectos socioculturais da humanidade. A ABT possui necessidades para a apuração das relações da empresa com o ser humano e vice-versa. E, por fim, a DJSI possui preocupação com a necessidade da auditoria ambiental, lembrando que os impactos ambientais nem sempre são mensurados de forma correta (os custos ambientais são exteriorizados, absorvidos pela sociedade com o deslocamento das pessoas para os grandes centros urbanos), e as empresas que poluem o meio ambiente deveriam mensurar corretamente os custos ambientais e serem auditadas. Para termos uma ideia da poluição além do ambiente terrestre, veja o que diz Araia (2013, p. 1): “Um novo relatório da Agência Espacial Europeia revela que já existem mais de 170 milhões de destroços de objetos na órbita da Terra”. Veja também essa foto da NASA em relação à existência de todo o lixo espacial ao redor do planeta Terra: FIGURA 3 – LIXO ESPACIAL FONTE: Disponível em: <http://acervo.avozdaserra.com.br/sites/default/files/noticias/lixo- espacial_0.jpg>. Acesso em: 17 jun. 2019. Com a foto acima, percebe-se que o ser humano não está apenas poluindo o meio ambiente no planeta Terra, mas também o espaço, com lixo orbital. Lembrando que há a necessidade para o desenvolvimento das pesquisas na área da ciência, mas também há a necessidade em controlar e eliminar os “restos espaciais”. TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 13 Prossegue Tinoco (2010, p. 3) dizendo que “esse estado de coisas levou ao surgimento do Balanço Social, especialmente na França, em 1977”. O que ocorreu foi que, na França, alguns pesquisadores se propuseram a reunir e comentar dados estatísticos, visto que perceberam que com este trabalho a abordagem dos problemas socioeconômicos da nação se traduzia com mais propriedade. Desta forma aconteceu a evolução da Contabilidade, que sob influência de pressões sociais exigiu uma revolução nos procedimentos contábeis até então aplicados. Segundo Paschoal (2016, p. 1, grifo do autor): Lei de 1977 tornou o balanço obrigatório Na França, em 12 de julho de 1977, foi aprovada a Lei 77.769, que tornava obrigatória a realização de balanços sociais periódicos para todas as empresas com mais de 700 funcionários. Esse número caiu depois para 300 funcionários. Podemos entender então que ocorreu uma substancial concentração no enfoque no bem-estar do desempenho dos funcionários nas empresas, ou seja, houve uma maior preocupação inicialmente em relação aos empregados, como remuneração e encargos, condições de higiene e segurança do trabalho, formação e outras condições de trabalho. A lei, inédita para a época, não contemplou uma série de informações de caráter econômico e ambiental que trabalhadores e outros usuários gostariam de ver publicadas nos relatórios contábeis. Porém, a maior concentração de informações, no entendimento de Martins e Ribeiro (1995, p. 2), estabelece que: [...] as empresas necessitam empenhar-se em: manutenção de condições saudáveis de trabalho, segurança, treinamento e lazer para seus funcionários e familiares; contenção ou eliminação de resíduos tóxicos, decorrentes de seu processo produtivo e do uso ou consumo de seus produtos, de forma a não agredir o meio ambiente de forma geral; elaboração e entrega de produtos ou serviços, de acordo com as condições de qualidade e segurança desejadas pelos consumidores. Em Portugal também houve iniciativas em relação aos aspectos da implantação do Balanço Social. Kroetz (2000) coloca as seguintes características da lei portuguesa: a obrigatoriedade de apresentação do Balanço Social por parte de empresas públicas e privadas com mais de 100 empregados, e que seja realizada sob a forma de formulário. As informações apresentadas no Balanço Social atendem basicamente à área de recursos humanos. Vamos verificar no quadro a seguir o enfoque que os principais países adotaram para implantar os conceitos e práticas da elaboração do Balanço Social. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 14 QUADRO 3 – BALANÇO SOCIAL – PANORAMA INTERNACIONAL País Balanço Social – Enfoque Estados Unidos Ênfase para os consumidores/clientes e a sociedade em geral; qualidade dos produtos, controle da poluição, contribuição da empresa às obras culturais, transportes coletivos e outros benefícios à coletividade; abordagem de caráter ambiental. Holanda Enfoque para informações sobre as condições de trabalho. Suécia Ênfase nas informações para os empregados. Alemanha Enfoque às condições de trabalho e aos aspectos ambientais. Inglaterra Forte discussão sobre a responsabilidade social e grandes pressões para divulgação mais ampla dos relatórios sociais. França Enfoque para informações aos empregados; nível de emprego, remuneração, condições de trabalho e formação profissional. Fonte: Luca (1998, p. 25) Observa-se no quadro anterior que o Balanço Social não possui uma metodologia única, pois cada país possui um enfoque diferenciado, não abandonando seu objetivo principal que é demonstrar a todos, público interno e externo, o quanto a empresa realiza em benefício do bem-estar da sociedade. O público interno, que são os colaboradores da empresa, tem um destaque em especial, pois com eles a empresa busca atingir a satisfação da sociedade. Os colaboradores são basicamente os principais comunicadores das influências positivas ou negativas que a empresa exerce sobre o meio em que interage. Vários autores, inclusive da literatura brasileira, também se posicionaram sobre o Balanço Social. Vejamos conceitos de vários autores, abordados por Mazzioni (2005 apud TINOCO, 2010, p. 6), conforme apresentado no quadro a seguir. QUADRO 4 – IMPORTÂNCIA DO BALANÇO SOCIAL Autor Importância do Balanço Social TAYLOR, 1980 É o instrumento mais apto, considerando-se suas limitações para apoiar o comportamento social. TINOCO, 1984 Instrumento de gestão e de informação que visa reportar informações econômicas, financeiras e sociais do desempenho das entidades. SÁ e SÁ, 1995 Representa a expressão de uma prestação de contas da empresa à sociedade em face de sua responsabilidade para com a mesma. TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 15 FONTE: Mazzioni (2005 apud TINOCO, 2010, p. 6). Observa-se que os pesquisadores que constam neste quadro anterior referem-se ao Balanço Social como a proposta de ser uma alternativa viável para que as empresas possam divulgar para a sociedade em geral quais são as atividades desenvolvidas por elas, sempre em prol do bem-estar social e econômico dos colaboradores, assim como a própria sustentabilidade da empresa no ambiente onde atua. ANDREOLLA, 1997 Instrumento de medida do desempenhoda empresa no campo social, considerando a tríplice realidade da empresa: econômico- financeira, pessoal-humana, político-social. DE LUCA, 1998 Instrumento de medida que permite verificar a situação da empresa no campo social. KROETZ, 2000 Instrumento de controle e de auxílio para a tomada de decisões e adoção de estratégias. KROETZ, 2000 Aborda questões que mostram com transparência as informações sobre a atuação social da empresa. SUCUPIRA, 2001 Um conjunto de informações sobre as atividades desenvolvidas por uma empresa, em promoção humana e social, dirigidas aos seus empregados e à comunidade onde está inserida. TINOCO, 2001 Pode contribuir para modificar a imagem pública da empresa, do próprio pessoal e do público em geral. IUDÍCIBUS, MARTINS e GELBCKE, 2003 O Balanço Social tem por objetivo demonstrar o resultado da interação da empresa com o meio em que está inserida. MAZZIONI, 2005 O Balanço Social busca oportunizar a oferta de instrumentos válidos, capazes de refletir os esforços organizacionais relacionados ao bem-estar das pessoas, ao meio ambiente, à geração e distribuição de riquezas e da responsabilidade social que lhe é inerente. 2.2 CONCEITOS DO BALANÇO SOCIAL Em decorrência de a responsabilidade social estar cada vez mais intrínseca nas operações e atividades que envolvem o processo decisório das organizações, isso nos remete que a Contabilidade deve evidenciar esses resultados nos relatórios das empresas, para que a sociedade em geral possa acompanhar a atuação delas no mercado. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 16 A participação das empresas no mercado e o relacionamento com os vários segmentos sociais com seus stakeholders, como fornecedores, financiadores, clientes, empregados, governos, investidores e o próprio meio ambiente, deixa clara a grande Responsabilidade Social que estas empresas possuem no mercado e na sociedade. A empresa, como sendo a geradora de lucros e riqueza para seus investidores, passa a ser também um forte agente social na comunidade, e deverá prestar contas de suas atividades junto à sociedade. O simples fato de a Contabilidade incumbir-se de evidenciar a importância da sua ação social já produz um grande desafio, pois a empresa tem fundamental parcela de responsabilidade social. Na visão de Perottoni (2002, p. 51), “a responsabilidade social da empresa está na sua participação direta nas ações da comunidade onde está presente e na minimização de possíveis danos ambientais decorrentes de suas atividades”. Então, de modo geral, podemos concluir que Balanço Social é visto como uma estratégia de mudança de cultura, da forma de pensar dos administradores da empresa e da forma de agir, o que interfere na qualidade das decisões dos gestores, proporcionando impacto positivo no resultado econômico. O Balanço Social também gera consequências para a comunidade com impacto social e cultural, pois procura sempre demonstrar ao universo de usuários, de forma confiável, a prestação de contas de todas as ações que realiza. Os demais usuários podem conhecer e avaliar a qualidade dos investimentos, a aplicação dos recursos e o cumprimento das destinações orçamentárias, ou seja, mapear e avaliar o desempenho social da empresa, inclusive em relação aos seus investimentos em preservação ambiental. Vasconcelos e Viana (2002, p. 27) salientam que “o Balanço Social consiste em uma peça contábil gerada anualmente que traz à superfície, para apreciação da sociedade e de seus gestores, informações de dimensão social com orientação multidimensional”. E isso possibilita que a análise não se relacione apenas com informações voltadas ao desempenho dos resultados financeiros, mas que possa servir também, para a sociedade e a todos com quem interage, na evidenciação das informações de dimensões sociais, o que pode favorecer o monitoramento das ações da empresa e de sua responsabilidade social perante a comunidade. Para Kroetz (1999, p. 36), o “Balanço Social representa a demonstração dos gastos e das influências (favoráveis e desfavoráveis) recebidas e transmitidas pelas entidades na promoção humana, social e ecológica, sendo que os efeitos dessa interação se dirigem aos gestores, aos empregados e à comunidade, no espaço temporal passado/presente/futuro”. O Balanço Social, portanto, deve ser o meio de mensuração e divulgação do nível de responsabilidade e interação da empresa com o meio ambiente. É um complemento necessário, demonstrando a transparência das empresas quanto à origem e a destinação dos lucros. TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 17 Para essa situação, buscou-se em Tinoco (2006, p. 28) o que se pressupõe que o Balanço Social deve conter basicamente para atender as necessidades para divulgação. Desse modo, o autor cita: Para alguns estudiosos, entre estes administradores, economistas, contadores, advogados, executivos, sindicalistas, formadores de opinião, essas informações deveriam ser vinculadas e reportadas em suas peças contábeis tradicionais – balanço patrimonial, demonstração do resultado do exercício, demonstração das origens e aplicações de recursos e outros quadros suplementares – e seriam do seguinte teor: a) valor, em reais, das vendas de bens e serviços produzidos pela empresa; b) valor, em reais, das compras de bens e serviços intermediários (a diferença entre o valor das vendas e o valor das compras de bens e serviços intermediários representa o valor adicionado pela empresa em seu processo produtivo de agregar valor); c) o número de empregados na administração e na produção no início e no fim do exercício contábil; d) salários praticados na administração e por pessoa/hora na produção, também no início e no final do período contábil; e) demonstrativo dos trabalhadores por faixa de qualificação e de salários no início e no fim do ano; f) remuneração dos diretores e benefícios conferidos. Com isso percebe-se uma forte relação com a divulgação dos valores auferidos pela empresa, ou seja, demonstrar as origens dos valores da empresa que possibilitam condicionar a distribuição de parte da geração desses valores para a remuneração dos colaboradores e dos gestores (diretoria, presidência, entre outros que estão no comando da empresa). É muito interessante esse tipo de adoção para a elaboração do Balanço Social, pois traduz certa transparência referente ao sistema de remuneração e benefícios da empresa, o que pode inclusive encorajar os demais colaboradores a se motivarem e se prepararem para alçar algum cargo de gestão. Mas prossegue Tinoco (2006, p. 29) revelando que as demais informações culminam com as de caráter financeiro, pois segundo ele: Todas as informações de caráter eminentemente econômico e financeiro são arroladas juntamente com outras de cunho social, como as relativas a(à): • emprego; • condições de higiene e segurança no trabalho; • formação de mão de obra; • relações profissionais; • outras condições de vida dependentes da empresa, tais como alojamento, transporte da residência ao trabalho e vice-versa; • preservação do meio ambiente; e • representatividade pública, são a origem e a base para a elaboração do balanço social da empresa, segundo nosso entendimento. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 18 Em relação aos indicadores sociais que abordamos até aqui, é importante verificar alguns que possuem relação com o desenvolvimento da nação, pois é pertinente que, se as empresas possuem determinada preocupação com a apresentação e divulgação dos seus indicadores de âmbito social e que corroboram com o bem-estar social dos seus funcionários, isso, com toda certeza, terá reflexos na comunidade onde esta empresa atua e, por conseguinte, pode melhorar os indicadores sociais da região e até do país. Conforme Paulani e Braga (2012, p. 337, grifos dos autores): [...] é necessário avaliar até que ponto a renda produzida pelo país reverte em benefícios para a população sob a forma, por exemplo, de melhores níveis de educação, saúdee saneamento. Ou seja, na avaliação da qualidade de vida da população, é necessário considerar não apenas os aspectos stricto sensu econômicos (nível de renda, renda per capita, distribuição de renda), mas também aqueles ligados à oferta de bens públicos, como saúde e educação, que afetam diretamente o bem-estar. Isso nos faz pensar que se a sociedade consegue alcançar o bem-estar no seu cotidiano, isso pode nos levar a refletir que devemos sempre acompanhar o nível do crescimento econômico existente em uma comunidade em relação ao nível do desenvolvimento econômico. Devemos atentar para o fato de que não adianta apenas existir o crescimento econômico das empresas em determinada região, mas esse crescimento econômico deve vir acompanhado do desenvolvimento econômico que a sociedade pode usufruir. Em outras palavras, podemos simplesmente afirmar que de nada adianta existirem empresas em determinada comunidade, se essas apenas buscam a exploração da mão de obra da região, exaurindo os seus recursos naturais, sem ao menos haver a preocupação com o risco à natureza, dentre outros fatores. Vamos aprofundar um pouco mais o que dizem os autores Paulani e Braga (2012, p. 337): [...] sabemos perfeitamente como mensurar o produto para verificar se, em determinado período, houve ou não crescimento econômico. Mas como mensurar a qualidade de vida, ou seja, como avaliar o processo de crescimento para verificar se houve desenvolvimento? Evidentemente que não há uma resposta única para esta questão. De fato, a questão de se saber o que deve e o que não deve entrar em uma avaliação do processo de desenvolvimento é bastante controvertida. Contudo, há consenso quanto à importância de alguns indicadores econômicos e sociais que auxiliam no diagnóstico acerca do estágio de desenvolvimento de um país. Dentre esses indicadores estão aqueles relativos à distribuição de renda e às condições da população no que diz respeito à educação e saúde. TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 19 Com isso já é possível perceber que o simples fato de as empresas divulgarem os seus indicadores de desempenho social – além de ser importante, é óbvio – não basta, pois não são apenas os únicos que devem ser avaliados, mas sim se deve acompanhar todo o processo de avaliação de indicadores econômicos e sociais da população em determinado país ou região. Vamos refl etir, então. Se as empresas apresentam em seu balanço social quais são os valores das remunerações dos seus colaboradores e diretoria (conforme vimos anteriormente), isso já quer dizer que há algum tipo de distribuição de renda nesta comunidade. Um indicador de distribuição de renda muito importante é o Índice de Gini. Conforme Paulani e Braga (2012, p. 341), esse índice “[...] varia de zero até um. Quanto mais próximo de um, pior a distribuição de renda do país; quanto mais próximo de zero, melhor”. Para termos uma melhor ideia do que é e como se apresenta o Índice de Gini, podemos observar a seguinte gráfi co. GRÁFICO 1 – ÍNDICE DE GINI NO BRASIL FONTE: Júnior (2015, p. 1) Analisando o resultado do coefi ciente de Gini, Júnior (2015, p. 1, grifos do autor) diz que: O Brasil é conhecido como um dos países que apresenta graves problemas de distribuição de renda. Tal conceito não é só impressão, o Índice de Gini do Brasil confi rma isso. Segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE, o Índice de Gini no Brasil em 2011 teve o valor de 0,527 e em 2012 fi cou em 0,526. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 20 Observa-se que o Brasil não possui um bom respaldo em relação à distribuição de renda, e isso impacta de forma negativa para a divulgação do Balanço Social. A questão é a seguinte: como se pode divulgar um bom Balanço Social com uma distribuição de renda tão desigualitária? Pois este é um problema para o qual se deve buscar solução nas políticas de programas sociais do Governo Federal. Conforme Patu e Canzian (2016, p. 1): Pilares da ação do Estado no país, os programas de transferência direta de renda às famílias contribuíram para a queda da pobreza e da desigualdade nos últimos anos, mas deixaram de caber no Orçamento federal. Só nos anos de administração petista, benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais saltaram do equivalente a 7,3% da renda nacional, em 2003, para 9,4% no ano passado. Em valores de hoje, é como se a despesa anual do governo com essa finalidade tivesse crescido em cerca de R$ 120 bilhões, sem um aumento correspondente da arrecadação tributária. Com a recessão econômica, a receita total da União caiu de 18,9% do PIB, recorde atingido em 2011, para 17,6% no ano passado – quase os mesmos 17,4% de 2003. Previdência Social, assistência a idosos e deficientes, seguro- desemprego, abono salarial e Bolsa Família respondem hoje por metade do gasto federal, excluindo da conta os encargos da dívida pública. Esse gasto deverá superar a receita deste ano em algo como R$ 100 bilhões. Percebe-se que há uma controvérsia, pois o governo está ampliando o acesso da classe social mais pobre aos recursos financeiros, com base em programas sociais. Veja no gráfico abaixo o índice da queda da desigualdade. GRÁFICO 2 – QUEDA DA DESIGUALDADE FONTE: Patu e Canzian (2016, p. 1) TÓPICO 1 | CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL 21 Ao observar as informações no gráfico, podemos perceber que há um alto grau de dependência do programa Bolsa Família na faixa da classe social da população 10% mais pobre. Conforme Patu e Canzian (2016, p. 1), Do ponto de vista da distribuição e da melhora de renda, os programas sociais e a Previdência tiveram maior impacto entre os mais pobres. Mas, de modo geral, vieram do trabalho e da empregabilidade ao longo dos 13 anos do PT na Presidência as maiores contribuições para a queda da desigualdade. No período, segundo dados do Centro de Políticas Sociais da FGV, todos os estratos da população tiveram melhora na renda acima dos índices de inflação: a dos 10% mais pobres aumentou 129%; a dos 10% mais ricos, 32%. Quanto mais pobre, maior o impacto dos programas sociais e da Previdência. Mas na média, foi a renda do trabalho que teve maior peso, de 78% para a melhora dos rendimentos. Previdência teve 19% e o Bolsa Família, de 3%. No decil mais pobre, o peso do Bolsa Família sobe a 31%, a Previdência cai para 10%, e a renda do trabalho, para 59% (e é preponderante mesmo assim). Podemos entender que o governo está tentando fazer a sua parte, está buscando inserir boa parte da classe social mais pobre na obtenção de renda para poder consumir. Resta aqui uma reflexão: se o governo está fazendo esse esforço, qual seria a origem desses recursos? A origem dos recursos está na divulgação do Balanço Social pelas empresas, onde podemos observar qual é a distribuição da riqueza gerada pelas empresas com base nos indicadores da arrecadação tributária. 22 RESUMO DO TÓPICO 1 Chegamos ao final do Tópico 1. Vamos fazer uma revisão do que estudamos até agora? Neste tópico estudamos que: • A Contabilidade deve apurar os resultados e apresentá-los aos seus diversos usuários. • A Contabilidade deve possibilitar que estes possam realizar o melhor planejamento para uma tomada de decisão. • Todos os movimentos sociais existentes desde a Pré-história, todas as alterações nos seus diversos tipos de comportamentos, têm motivado mudanças nos comportamentos dos seres humanos. • Os movimentos sociais têm influenciado a forma de vestir, de consumir, de moradia, entre outros, e isso provoca, consequentemente, modificações no patrimônio das entidades. • A Contabilidade tem a premissa de medir e demonstrar com o uso do Balanço Social, para a empresa e também para a sociedade. • O Balanço Social deve apresentar quanto se está fazendo para o bem-estar social da comunidade em geral, possibilitando a identificação de oportunidades para que a empresa busque melhores caminhos para melhorarsuas ações. • Com o advento da Contabilidade Social, a sociedade demonstrou ter interesse em exigir, cada vez mais das empresas, uma maior clareza das suas ações, ações estas que possam enquadrar as organizações na responsabilidade por seus atos. • O Balanço Social é visto como uma estratégia de mudança de cultura, de formas de pensar a empresa, de formas de pensar em como agir na qualidade das decisões dos gestores que causam impacto social e cultural, resultando em consequências para a comunidade. 23 Vamos fazer uma autoavaliação sobre o que aprendemos no Tópico 1. Procure responder com suas palavras às questões a seguir. Não hesite, vá com calma e sucesso para você! 1 O mercado e a economia possuem características específicas e que se alteram em determinadas situações, que inclusive podem levar a empresa à falência ou ao auge no mercado. Quanto a esses aspectos, o que leva às alterações nas regras da economia de mercado e de consumo? a) ( ) O que dita as regras da economia de mercado e no consumo são as mudanças no comportamento humano. b) ( ) Entende-se que o comportamento do quadro de funcionários pode ditar as regras da economia de mercado, em função do aumento ou redução da produção. c) ( ) As mudanças no comportamento humano é que levam às alterações de cunho político-sociológico na sociedade. d) ( ) As regras político-tributárias determinam as regras de mercado, pois uma alta carga tributária leva à redução do consumo. 2 Todo o contexto do desenvolvimento da sociedade em determinado espaço geográfico diz respeito à implantação de empresas que exploram esse ambiente econômico, mas em troca geram riqueza sob a forma de empregos e renda para a população. Com esses aspectos, o que leva as empresas a implantarem um planejamento cada vez mais rigoroso com o objetivo de melhor se prepararem para atender ao contexto social e ambiental onde estão instaladas? a) ( ) O planejamento mais rigoroso das empresas é oriundo das exigências fiscais e legais em relação à normatização das suas atividades no ambiente em que estão inseridas. b) ( ) A consciência crítica que se desenvolve na sociedade é que obriga as empresas a assumirem e implantarem um planejamento cada vez mais rigoroso, que resulte na melhoria das ações sociais e ambientais onde estão inseridas. c) ( ) A consciência crítica no meio político é o que aprimora a ética na governança pública, e assim as empresas se planejam melhor e de forma mais rigorosa para evitar qualquer problema de ordem legal. d) ( ) A consciência política e a inserção de regras tributárias cada vez mais rigorosas também obrigam as empresas a implantarem controles cada vez mais rigorosos e garantir a transparência nas suas ações. AUTOATIVIDADE 24 3 Existem vários tipos de relatórios contábeis que são elaborados, e cada um possui determinada finalidade na geração de informações, assim como o usuário certo que necessite dessas informações. Sobre o aspecto da Contabilidade Social, o que ela busca evidenciar? 4 As atividades que as empresas desenvolvem junto a determinada sociedade trazem benefícios, assim como malefícios. Em relação a esses aspectos, o que representa o Balanço Social? 5 O Índice de Gini é um importante indicador para identificar a distribuição de renda do país. Com esse indicador, qual é o melhor resultado para a melhor distribuição de renda? Assinale a alternativa correta: a) ( ) O indicador de Gini varia de um até três. Quanto mais próximo de um, pior a distribuição de renda do país; quanto mais próximo de três, melhor. b) ( ) O indicador de Gini varia de zero até cinco. Quanto mais próximo de um, melhor a distribuição de renda do país; quanto mais próximo de zero, pior. c) ( ) O indicador de Gini varia de zero até dez. Quando estiver em cinco, pior a distribuição de renda do país; quanto mais próximo de dez, melhor. d) ( ) O indicador de Gini varia de zero até um. Quanto mais próximo de um, pior a distribuição de renda do país; quanto mais próximo de zero, melhor. 25 TÓPICO 2 CARACTERÍSTICAS DO BALANÇO SOCIAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A evidenciação do Balanço Social tem como objetivo apresentar a realidade econômica e social de uma entidade, perante a sociedade na qual interage. Assim, é importante definir quais são as informações relevantes que devem ser utilizadas na sua elaboração. Lembrando que a sociedade é leiga, e assim não tem obrigação de conhecer ou compreender determinadas terminologias técnicas próprias que são de uso da classe contábil. Você irá estudar que o modelo que deve ser desenvolvido para a divulgação do Balanço Social deve expressar informações quanto à responsabilidade social e ambiental da empresa, e que estejam estruturadas de uma forma clara e condizente, para que as informações sejam aceitas pelos usuários e assim determinar a correta utilização desta ferramenta. Para demonstrar o Balanço Social devem ser apresentados indicadores que reflitam o empenho da empresa no campo humano e social, pois eles são essenciais para analisar a satisfação dos funcionários e comunidade. 2 APRESENTAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL No Brasil, em meados da década de 60, as primeiras mudanças na mentalidade empresarial começaram a ser notadas, pois a expressão responsabilidade social foi diretamente associada às empresas. Donaire (1995, p. 22) destaca que “responsabilidade social das organizações diz respeito às expectativas econômicas, legais, éticas e sociais que a sociedade espera que as empresas atendam, num determinado período de tempo”. Temos atualmente a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ACDE), que é uma entidade sem fins lucrativos e que tem por incumbência promover as melhores práticas de gestão de empresas de acordo com a responsabilidade social delas com valores cristãos. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 26 Empresa com Valores é um programa de "Responsabilidade Social Empresarial e Pensamento Social Cristão" que une a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB à Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas – ADCE Uniapac Brasil, em torno do conhecimento, disseminação e aplicação de conceitos e práticas empresariais e sociais, que tornem o ambiente empresarial e do trabalho mais ético, justo e humano. Se você é empresário, dirigente ou empreendedor, venha fazer parte deste programa incorporando novas práticas de gestão baseadas em valores cristãos, que tornarão sua empresa altamente competitiva, plenamente humana e socialmente responsável. Os grupos são autogerenciados, envolvendo de oito a 10 pessoas, com reuniões quinzenais ou mensais com 1:30h de duração. Dia, hora e local são de escolha livre do grupo e a participação é gratuita. O material didático é disponibilizado on-line. (EMPRESA, 2016, p. 1, grifo dos autores). A ideia de responsabilidade social, juntamente com a conjuntura nacional na qual o país está inserido, é o que propicia a formação de ideias para a transformação e mudança de mentalidade. Conforme Silva e Freire (2001, p. 16): Essa ideia, que começou a ser discutida e difundida ainda nos anos 60 após a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), demorou até a segunda metade dos anos 70 para difundir- se amplamente. As principais manifestações estavam concentradas no Estado de São Paulo – fato que se explica pela importância econômica e política desse Estado, que reúne, desde o início da industrialização brasileira, as maiores empresas e entidades de representação empresarial do país. Então, com a criação da ADCE podemos perceber uma clara preocupação, já nos anos 60, com o crescimento e o impacto social ou ambiental que as grandes empresas poderiam provocar com seu desenvolvimento industrial. Prosseguem Silva e Freire (2001, p. 16): “Um dos princípios dessa associação baseava-se na aceitação, por seus membros, de que as empresas, além de produzirem bens e serviços, devem possuir uma função social que se realiza em nome dostrabalhadores e do bem-estar da comunidade em geral”. Mas nem tudo “eram flores”, infelizmente o Brasil viveu um período conturbado, um “período das trevas”, para não o classificar como retrógrado ou retardatário, conforme Silva e Freire (2001, p. 17): No entanto, a conjuntura nacional daquele período não era propícia para ideias de transformação e mudança, tanto de mentalidade quanto de ação. A ideia de responsabilidade social nas empresas, que já motivava algumas discussões desde os anos 60, também sofreu com a falta de liberdade e as restrições impostas pela ditadura militar pós- 1964. TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS DO BALANÇO SOCIAL 27 Se, por um lado, no campo político, a ditadura militar coibia o desenvolvimento mais orgânico de parte da sociedade, proibindo a participação e a livre organização, por outro lado existia um empresariado acostumado, desde os primórdios da industrialização brasileira, com as benesses de um Estado nacional intervencionista. Este utilizou dinheiro público para beneficiar ações e iniciativas do setor privado em geral – especialmente do empresariado industrial, que desde a implantação do processo de industrialização no Brasil, ocorrido nos anos 50, estruturou-se e desenvolveu-se sob a proteção de sucessivos governos. Mas isso não foi sempre assim, felizmente tudo no mundo sofre mudanças. A cultura, a sociedade em geral clamou por mudanças e o rumo da própria história brasileira não conseguiu se manter indiferente. Veja que, conforme Silva e Freire (2001, p. 17): Entretanto, entre o final dos anos 70 e início dos anos 80, com a crise do modelo de desenvolvimento baseado na ação e na proteção estatal, o próprio papel das empresas e a postura dos empresários diante do mercado e da sociedade entraram em amplo processo de redefinição e reestruturação. Dessa forma, pode-se compreender o quanto essa prática – e esse discurso – de ação social por parte das empresas está relacionada, ao mesmo tempo, com a reestruturação do Estado, com uma renovação do empresariado nacional e com o processo de substituição das ações compensatórias, no contexto da crise do Estado de Bem-estar Social, o welfare state assistencial, que busca garantir integralmente o bem-estar de todos os cidadãos. Isso foi salutar para a economia brasileira de forma geral, pois uma nova mentalidade e a globalização dos mercados também pressionaram o país a buscar e promover mudanças. Para não dizermos que praticamente nada mudou em relação à produção e elaboração de relatórios sociais, cabe destacar que, embora pequeno, esse relatório evidenciava informações relacionadas com a geração de empregos. Estamos falando da RAIS, que, segundo Silva e Freire (2001, p. 17): Cabe aqui um destaque sobre o primeiro tipo de relatório que aborda aspectos sociais e de recursos humanos, que se tornou obrigatório para todas as empresas que atuam no Brasil. Na década de 70, durante a ditadura militar, foi criada, por meio do Decreto-Lei nº 76.900/75, a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS): um relatório obrigatório para todas as empresas que dava – e dá ainda hoje – conta das informações sociais relacionadas aos trabalhadores nas empresas. Compulsório para todos os empregadores, independentemente do número de empregados, refere-se a uma série de informações laborais específicas e consolida números que se encontram também em outros documentos da empresa. Apesar de mais antigo que o obrigatório Balanço Social francês, as informações contidas na RAIS são muito inferiores, tanto qualitativa, quanto quantitativamente, [...]. UNIDADE 1 | O BALANÇO SOCIAL 28 O que se observa na prática é que as informações da RAIS são disponibilizadas pelas empresas apenas para o governo e sequer são disponibilizadas para os funcionários das empresas e, muito menos, para as associações de classe. De acordo com Dinis e Boschi (1993 apud SILVA; FREIRE; 2001, p. 18), “os anos 80 foram marcados pelo esgotamento do modelo de desenvolvimento instaurado no pós-guerra, cujo desdobramento ao longo de quatro décadas – dos anos 40 aos anos 70 – se deu sob a égide de um Estado altamente intervencionista”. A atuação no âmbito social das empresas e da construção de uma ética empresarial acabou gerando consequências concretas, pois muitas empresas tiveram a iniciativa de investir em ações sociais, o que gerou mudança no perfil do relacionamento com funcionários e fornecedores. Também foram sendo observadas mudanças na atuação em relação ao meio ambiente e junto às comunidades. Com isso, houve a necessidade de proporcionar maior visibilidade e publicidade às ações sociais e ambientais promovidas pelas empresas. Desta forma, houve a utilização, por parte das empresas, de demonstrações regulares. Gonçalves (1980 apud SILVA; FREIRE, 2001, p. 19) descrevem: Mas, afinal, em breve e leve abordagem, que é o Balanço Social? De maneira muito simples – um instrumento colocado nas mãos dos empresários para que possa refletir, medir, sentir como vai a sua empresa, o seu empreendimento, no campo social. Este é um tema atual. Este é um tema de desafio. Este é um tema que, queiramos ou não, irá crescer e implantar-se cada vez mais. Vamos buscar a contribuição de Reis e Medeiros (2009, p. 79): Como característica importante, ainda se apresenta a natureza quantitativa/financeira, que possibilita análises da própria empresa ao longo de determinados períodos ou entre empresas de um mesmo setor. A publicação do Balanço Social baseado em dados financeiros define patamares que se transformam em metas da empresa e do setor, evidenciando os gastos em determinado indicador, por exemplo, no apoio à manutenção da escola do bairro, valor este que tende a ser visto como uma meta mínima para os anos seguintes e também serve de parâmetro para outras empresas do mesmo setor. Corroborando, segundo Reis e Medeiros (2009, p. 79): O Instituto Ethos desenvolve uma estrutura para a elaboração e a publicação do Balanço Social, através de estudos de benchmarking de diretrizes para relatórios no Brasil e no exterior, tomando por base a estrutura e o conteúdo de relatórios sociais propostos pela Global Reporting Initiative (GRI) e pelo Institute of Social and Ethical Accountability (ISEA), bem como a associação entre indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial e o Modelo de Balanço Social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS DO BALANÇO SOCIAL 29 O Balanço Social necessita atender a uma estrutura, ou seja, um padrão para elaboração e apresentação de todos os dados necessários para a geração das informações. Vamos buscar em Reis e Medeiros (2009, p. 79-80, grifo dos autores) sua contribuição em relação à Estrutura do Balanço Social. A estrutura recomendada pelo Instituto Ethos para elaboração e divulgação do Balanço Social das empresas apresenta-se do seguinte modo: Apresentação 01 Mensagem do Presidente 02 Perfil do Empreendimento 03 Setor da Economia Parte I – A Empresa 04 Histórico 05 Princípios e Valores 06 Estrutura e Funcionamento 07 Governança Corporativa Parte II – A Atividade Empresarial 08 Visão 09 Diálogo com Partes Interessadas 10 Indicadores de Desempenho 10.1 Indicadores de Desempenho Econômico 10.2 Indicadores de Desempenho Social 10.3 Indicadores de Desempenho Ambiental Anexos 11 Demonstrativo do Balanço Social (Modelo IBASE) 12 Iniciativas do Interesse da Sociedade (Projetos Sociais) 13 Notas Gerais E sobre os aspectos legais quanto à publicação do Balanço Social no Brasil? Tinoco (2001, p. 135) destaca que “em 1991, o senador Valmor Campelo encaminha ao Congresso um anteprojeto propondo a publicação do Balanço Social pelas empresas, que foi votado favoravelmente no Senado, entretanto, não foi aprovado na Câmara dos Deputados”. Em 1992 foi elaborado o Balanço Social do Banespa – Banco do Estado de São Paulo, com a publicação de um relatório divulgando suas ações sociais, compondo assim a lista das empresas
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