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TÓPICOS DE ARQUITETURA E PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Aula 1 – Conceitos Iniciais da Arquitetura
Tema 01 – Origens e conceitos fundamentais
Se morássemos em uma caverna ou em uma toca não teríamos a arquitetura, pois ela é relacionada ao ato de construir, de edificar. Porém, não é apenas o ato de construir que caracteriza a arquitetura, ou alguns animais construtores também fariam arquitetura. A construção, para a humanidade, é uma necessidade básica, mas também um ato social.
Assim, a arquitetura é condicionada a um planejamento anterior e à relação com um contexto cultural, social, histórico, econômico, político e geográfico, que dão as condições para que ela se manifeste. Hoje em dia vemos as cidades, com toda a sua complexidade e espaços para uma grande diversidade de atividades, e que abrigam milhares de pessoas. Mas, afinal, como tudo começou?
Tema 02 – A arquitetura como construção: Firmitas
O material (pedra, tijolo, madeira, palha, bambu, pele de animais, gelo, ferro, aço, vidro, etc.) é o que faz com que a arquitetura exista, ou seja, a estrutura é condição essencial de uma edificação, fazendo com que o projeto se transforme em objeto concreto. Assim, surgem as primeiras construções e os sistemas construtivos que influenciaram as construções em larga escala e, aos poucos, o surgimento de cidades. Nesse contexto, devemos ter a clareza de que coexistem a arquitetura popular e a arquitetura erudita, que têm motivações diferentes, bem como investimentos e propostas diferentes.
Tema 03 – Arquitetura e funcionalidade: Utilitas
A funcionalidade de uma edificação está ligada à forma como as atividades são ali realizadas. É básico que a arquitetura, desde seu projeto, considere a adequação à função a que se destina. Podemos pensar que um edifício é funcional quando atende a questões como a circulação, ventilação, conforto térmico, divisão de cômodos ou espaços utilitários. Porém, a funcionalidade não se limita simplesmente a aspectos práticos do uso do edifício. O que dizer, por exemplo, de um museu, de um edifício religioso, ou mesmo de um edifício governamental, cuja característica formal tem um importante significado como referência visual para determinada população? Percebe-se que a função, dessa forma, não é apenas uma, mas leva em conta, além do aspecto prático, o significado e questões simbólicas, e a forma de conexão do edifício com o entorno.
Tema 04 – Arquitetura como experiência estética: Venustas
A experiência estética é o que aproxima a arquitetura da arte e o que a distingue de uma simples construção. Essa experiência, na arquitetura, manifesta-se na preocupação com a forma. As escolhas formais feitas pelo arquiteto (ou, antigamente, pelo mestre de obras) relacionam-se sempre com determinado contexto social, e têm como base, por consequência, os referenciais visuais ligados àquela cultura. As escolhas formais têm relação com os materiais e as possibilidades técnicas e, sobretudo, com valores subjetivos que o arquiteto (e também o artista) tem contato, com sua sensibilidade e na sua relação com o mundo. Ao mudar a vida mudam os valores e nossas representações desses valores e, assim, mudam os estilos. “O estilo de uma época é sempre uma decorrência desse desenvolvimento, cristalizando certos valores e dando-lhes forma expressiva concreta” (Ostrower, 1988).
Tema 05 – A linguagem da arquitetura
A linguagem da arquitetura, assim como a linguagem das artes visuais, articula-se por meio de determinados elementos. Porém, diferente das artes visuais, as escolhas formais levam em conta, primeiramente, o fato de se tratar de um espaço do viver; depois, leva em conta os materiais e técnicas construtivas possíveis (existentes ou que podem ser executadas). A partir dessas determinações básicas parte-se para escolhas como escala, proporção, cheios e vazios, ritmo, texturas, luz e sombra, cor, que são determinadas por fatores mais subjetivos e que têm relação com valores culturais e artísticos. É por esse motivo que a arquitetura se conecta com o tempo e o espaço. Por essas escolhas serem particulares e profundamente relacionadas com a vida e com o lugar.
Aula 2 – A Arquitetura na História
Tema 01 - Reflexões iniciais sobre a história da arquitetura
A história da arquitetura tem um olhar construído culturalmente, e contempla as obras produzidas no tempo e no espaço. Observaremos tanto a arquitetura erudita, quanto a arquitetura popular, ambas geradoras de referências visuais, que percebemos por meio dos nossos sentidos, e que falam da nossa relação com o ambiente construído. A arquitetura está relacionada a possibilidades particulares de criação (conhecimentos, materiais, técnicas, investimentos, mão de obra), a condições de vida (valores, crenças, motivações), e também a aspectos subjetivos, inerentes ao fazer artístico. Assim, a forma da arquitetura sofre transformações ao longo do tempo, decorrentes das transformações do modo de viver e entender o mundo. A concepção e o estilo da obra acontecem num momento anterior ao trabalho com a obra, fruto de uma etapa subjetiva do fazer artístico, e que se encontra conectada com seu tempo.
Tema 02 - A arquitetura das antigas civilizações
Vamos falar brevemente de alguns aspectos da arquitetura nas primeiras civilizações urbanas. A Mesopotâmia e o Egito antigo organizaram a vida coletiva, construindo cidades para um grande número de pessoas compartilhar o mesmo espaço. No Egito, uma importante característica foram construções monumentais de inspiração religiosa, que continuam a ser visitadas nos dias de hoje, preservadas pelo fato de terem sido feitas de pedra. A arquitetura grega partiu do sistema construtivo do Egito, porém, houve um incremento de vários conhecimentos: matemática, filosofia, lógica, teatro, poesia, escultura, etc., refinando a forma, o apuro técnico e a busca do belo. A arquitetura romana atendeu às grandes massas e construiu cidades com grandes estruturas como anfiteatros, estradas, pontes, aquedutos, esgotos, banhos públicos, ou seja, não havia o interesse na busca do belo, mas sim em realizar cidades com estrutura para grandes massas.
Tema 03 - A arquitetura na Idade Média e no Renascimento
Nesse tópico iremos conhecer melhor de que forma a arquitetura era compreendida e produzida na Idade Média, que foi um longo período, no qual o edifício mais comum foi a igreja, fruto de uma sociedade europeia religiosa e com uma "cosmovisão assentada em bases metafísicas" (Hauser, 2003, p. 123). Dando continuidade ao desenvolvimento histórico-cultural, veremos como surge o Renascimento, instituindo o pensamento científico e uma visão racional de mundo, que tem o homem como o centro. O Renascimento também propõe uma revisão de ideais greco-romanos, retomando alguns preceitos dessas civilizações em contrapartida a produção medieval, sendo que a arquitetura irá refletir esse momento no retorno à estética clássica.
Tema 04 - América Pré-Colombiana, Barroco, Barroco brasileiro
Nesta aula veremos a produção arquitetônica na América Pré-Colombiana, estudando especificamente as civilizações Maia, Inca e Asteca, sendo que conheceremos de forma mais detalhada as grandiosas obras dessas culturas, como, por exemplo, os templos em forma de pirâmides. Na sequência estudaremos o surgimento do Barroco no continente europeu, num contexto de conflitos políticos, como as rupturas dentro da igreja Católica, compreendendo quais foram as características que esse estilo atribuiu para a arquitetura da época. E por fim, veremos a apropriação do estilo barroco em território brasileiro, o qual possui particularidades únicas, destacando-se as igrejas com fachadas com frontão com curvaturas, interiores ornamentados e esculturas exuberantes.
Tema 05 - Arquitetura dos séculos XVIII, XIX e XX
O mundo ocidental começa a sofrer profundas mudanças decorrentes do pensamento iluminista, Revolução Francesa e Revolução Industrial, e as ordens social, política e econômica são revisadas. Na arquitetura temos o Neoclassicismo, Neogótico, Neobarroco, num pluralismo que olha para o passado, masque aos poucos se esvazia de significado. Aos poucos a arquitetura se desvincula do passado e se conecta ao mundo industrial. Com o ferro, o concreto e o vidro, vislumbram-se novas possibilidades construtivas e estilísticas, junto com a ideia de resolver os problemas habitacionais e sociais (com o acesso das massas a bens produzidos industrialmente). Nesse novo contexto há uma ruptura com os estilos do passado e a estética industrial ganha espaço, com o uso de linhas retas, "das superfícies lisas, polidas a máquina, e do racionalismo estrutural da arquitetura moderna" (Ghirardo, 2009, p. 4), e surge o conceito de menos é mais.
Aula 3 – Arquitetura na Contemporaneidade e relações com as Artes Visuais
Tema 01 – Arquitetura Contemporânea
A partir da década de 1960, a arquitetura moderna começa a sofrer desgastes e surgem edifícios com novas características, ou seja, o purismo moderno é substituído pela ideia de pluralismo. Expande-se o uso de materiais, estilos, cores, motivações, dando abertura a um "pastiche" de elementos arquitetônicos de períodos anteriores. Este novo movimento estilístico da arquitetura ficou conhecido como "pós-modernismo". A partir dessa primeira fase, novas propostas foram edificadas, como o desconstrutivismo, a arquitetura high-tech, a arquitetura ambiental, entre outros, ampliando-se as possibilidades de edificação, de novas propostas urbanas e de diálogos com outras áreas. A arquitetura contemporânea, assim, contém um discurso plural e permite um hibridismo – técnico, formal e conceitual – que incorpora questões presentes na sociedade de consumo.
Tema 02 – Arquitetura como Espaço Expositivo
Traremos, agora, com o intuito de somar à discussão, o campo das Artes Visuais no que concerne à sua interação com a arquitetura. Ao longo do tempo, a arquitetura e as artes visuais estiveram muitas vezes profundamente conectadas. Na Grécia, por exemplo, as linguagens se misturavam nas colunas do templo de Erectheion. Afrescos romanos ou renascentistas tinham como suporte paredes e tetos. Na Idade Média, mosaicos, pinturas, esculturas e vitrais constituíam um mundo de imagens acessado nas grandes catedrais. Hoje, as ferramentas são outras, bem como a tecnologia, a forma expressiva e os propósitos; mas mantém-se a relação entre o espaço e as formas concretas da arquitetura com as artes visuais, ambas disponíveis à nossa percepção e cujo sentido, na interação das linguagens, se constrói justamente a partir dessa relação.
Tema 03 – Cidade como Espaço Expositivo
A arte que sai dos lugares oficiais de exposição – museus, galerias e espaços culturais – e tem na cidade o seu suporte possui um caráter mais democrático. Com ou sem consentimento dos poderes públicos e de particulares, entre formas e cores, marca sua presença na rua, espaço de natureza pública. É também, em grande parte, provocativa, porque traz elementos inesperados aos trajetos do dia a dia, causando uma sensação de "estranhamento". A rua, o muro, a calçada, a fachada do prédio, a praça, o poste, o ponto de ônibus são o suporte. Nascendo da arte intelectualizada, temos as performances, o site specific, as instalações, as performances e as intervenções de caráter conceitual. De caráter mais espontâneo, mas não menos eloquentes, são o grafitti, o lambe-lambe, o estêncil, o sticker.
Tema 04 – Arquitetura e Artes Visuais: Linguagens Conectadas
Faremos agora algumas reflexões acerca das obras de arte contemporâneas que têm como inspiração o espaço, mais especificamente, o espaço arquitetônico. As matérias-primas para a arte passaram a ter quase que infinitas possibilidades, o que inclui novos conceitos e também novas ferramentas – como as tecnologias digitais –, e um forte apelo à interação com o público. Os espaços expositivos ampliaram-se, indo além dos museus, galerias e espaços oficiais. Outro aspecto é que as obras de arte e arquitetura, hoje, são parte da sociedade de consumo, participando como mercadoria em um sistema que envolve os meios de comunicação, a publicidade, o mercado financeiro, e trazendo, consequentemente, questionamentos para as reflexões que envolvem a arte e a arquitetura. Em constante construção e reconstrução, essas linguagens trazem a contravenção. Provocam, transformam, ampliam o olhar, dando forma ao seu tempo e espaço como linguagens vivas.
Tema 05 – Arquitetura e Artes Visuais: o Espaço como Conceito
Veremos, aqui, a arquitetura como memória, observando os museus, museus-monumento e a arquitetura como patrimônio. Os museus têm uma importância histórica e/ou arquitetônica, tanto pelos seus edifícios como pelo que contêm, isto é, objetos que esses espaços salvaguardam e expõem. Como exemplo de museus, temos o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o Museu de Orsay, Paris, ou o MASP, São Paulo. O conceito de museu-monumento é mais recente e tem como característica a arquitetura, que tem especial destaque, sendo o edifício similar a uma grande escultura, cujas qualidades estéticas fazem dele um objeto de contemplação. Podemos citar o Museu Guggenheim, de Bilbao, o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro e o Museu Soumaya, no México. Para discutir o patrimônio, veremos alguns edifícios e cidades de interesse histórico e cultural e que, por isso, devem ser preservados.
Aula 4 – A Origem do Conceito de Patrimônio e suas Classificações
Tema 01 – A origem do patrimônio
Aos objetos reconhecidos como bem patrimonial é naturalmente atribuído valor, além de certa carga anímica que ultrapassa a nossa noção de temporalidade. A força de um bem patrimonial é capaz de influenciar gerações ao promover o respeito pelo passado, fomentando uma postura mais consciente diante do presente e possibilidades do futuro. A palavra patrimônio está relacionada a várias representações. O sentido etimológico da palavra, patri (“pai”) + monium (“recebido”), nos mostra como seu significado de “herança paterna” pode abranger os bens de família, o que também se refere ao patrimônio econômico.
Tema 02 – O patrimônio e suas classificações
Além de sabermos qual a origem do patrimônio, assim como a sua definição, faz-se necessário também conhecermos as classificações de patrimônio, suas diferentes tipologias. Assim, temos o patrimônio histórico, patrimônio artístico, patrimônio cultural, patrimônio religioso, patrimônio material ou tangível, imaterial ou intangível, patrimônio móvel ou imóvel e arquitetônico, patrimônio natural, arqueológico, etnográfico, patrimônio vivo, entre outros. Também é importante compreendermos que um mesmo artefato e/ou edificação arquitetônica pode ser classificado em mais de uma dessas categorias, incluindo outras.
Tema 03 – Patrimônio natural
A partir de documento elaborado em Conferência Geral da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), promovida na cidade de Paris, França, em 1972, durante a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, ficou estabelecido o que pode vir a ser considerado patrimônio cultural e natural dentro do cenário mundial. O mencionado documento, conhecido como a Recomendação de Paris, de 1972, integra o conjunto de recomendações, declarações e Cartas Patrimoniais, destacando os monumentos naturais e as formações geológicas como patrimônio natural. Tal reconhecimento é uma maneira formal de propor a preservação desses locais nos diferentes países.
Tema 04 – Patrimônio cultural
No Artigo 1º da Recomendação de Paris, de 1972, é mostrada a descrição dos bens que poderão ser reconhecidos para receberem o título de patrimônio cultural, abrangendo: “Os monumentos: Obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de caráter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os conjuntos: Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os locais de interesse: Obras do homem,ou obras conjugadas do homem e da natureza, a as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.” (RECOMENDAÇÃO DE PARIS, 1972, s.p.)
Tema 05 – Patrimônio imaterial
O conceito de patrimônio imaterial está relacionado ao conceito de patrimônio material no que se refere às políticas públicas de preservação, porém, resguarda-se sob um aspecto bastante antropológico e relativista de cultura, conforme aponta o IPHAN. Dessa forma, o imaterial e intangível envolve crenças diversas, receitas, danças, referências simbólicas, processos e dinâmicas socioculturais. A preservação dessa tipologia de patrimônio se dá, também, por meio de registros como escritos, imagens, filmagens e outros, para que este bem permaneça com sua prática contínua de transmissão e mediação. Em muitos momentos é apontada a dificuldade da permanência dos saberes e fazeres dos diferentes grupos culturais que não se preocupam em perpetuar a sua cultura por meio de registros físicos. O registro dessas culturas é fundamental para a continuidade das tradições e conhecimentos orais.
Aula 5 – O Patrimônio Histórico e Cultura como Fonte de Pesquisa
Tema 01 – Patrimônio e memória
A memória é reconhecidamente uma notável capacidade humana. Mas o que é realmente a memória e de que forma atua em nossas vidas? Qual seria, na realidade prática, a sua relação com o tempo – passado, presente, futuro? Onde e como se dá a conservação das nossas lembranças? Qual a sua relação com a consciência que temos acerca das coisas? Essas questões são correntes e podem facilmente obter mais de uma resposta a depender da área na qual o fenômeno da memória está sendo analisado. No que se refere ao patrimônio, a memória possui um papel social imprescindível, atribuindo valores, preservando informações, contribuindo com a construção e assimilação do conhecimento.
Tema 02 – Patrimônio histórico e cultural como fonte de pesquisa
A tarefa de pesquisa está intrinsecamente relacionada à tarefa de documentação e outras , porém, de forma ainda mais aprofundada. Na pesquisa buscam-se novos conhecimentos acerca de um bem patrimonial e tudo o que o envolve. Toda informação pode ser útil para um pesquisador que poderá transformar sua pesquisa em produção, contribuindo direta e indiretamente com a preservação do patrimônio pesquisado. A pesquisa é, assim, a base da transmissão e mediação do conhecimento e não deve, de forma alguma, ser negligenciada, pois sustenta muitas ações, inclusive, aquelas que subsidiam o patrimônio histórico e cultural, como é o caso da restauração. Para que um bem patrimonial, material ou imaterial possa ser preservado, ele precisa estar fortificado por uma pesquisa sólida.
Tema 03 – Patrimônio e desenvolvimento sustentável
O patrimônio, seja ele material ou imaterial, é um recurso para a sociedade e pode ser trabalhado de diferentes maneiras. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), organização não governamental, destaca os benefícios que o patrimônio histórico e cultural pode trazer em termos financeiros às diferentes culturas. Além disso, é reconhecida a importância do patrimônio para o desenvolvimento sustentável, tanto referente aos recursos naturais como aos recursos econômicos. No livro “As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local”, o autor Hugues de Varine defende o patrimônio como uma “riqueza que traz em si mesma seus próprios meios, que é preciso fazer frutificar” (2013, p. 207), e isso demonstra que há possibilidades múltiplas de trabalhar com o patrimônio, sem agredi-lo e sem agredir o meio em que ele se insere.
Tema 04 – Educação patrimonial
A educação patrimonial é um processo, que deve ser de caráter permanente nas sociedades, voltado ao patrimônio histórico e cultural, móvel e imóvel, material e imaterial. Destaca-se que a educação patrimonial é uma forma eficiente de “alfabetização cultural” que torna o indivíduo mais cônscio de sua cultura, sua história e, consequentemente, valores como respeito às diferenças e reconhecimento do outro são fomentados. Isso ocorre em virtude da explanação de conceitos como o de coletividade e de sentimento de pertença. O “sentimento de pertença” ou “sentimento de pertencimento” é um conceito correntemente aplicado na área da educação patrimonial e está relacionado ao sentimento humano de identificação. O sentimento de pertença faz com que o indivíduo queira preservar por tomar um bem patrimonial como seu, fundamental para a sua história e papel na sociedade.
Tema 05 – Disputas pelo patrimônio
O patrimônio sempre despertou sentimentos fortes, sejam sentimentos de pertença, de respeito e devoção ou mesmo de desejo e ambição. Possuir um bem patrimonial pode significar muito, tanto para um indivíduo como para um grupo, sociedade ou nação. Referente a isso podem ser citados inúmeros casos de bens patrimoniais de reconhecido valor histórico, artístico ou cultural pertencentes a uma nação, mas que por motivos variados encontram-se em museus ou coleções de outro país. O tema repatriação vem sendo discutido desde o término da Primeira Guerra Mundial (1918) e envolve organizações não governamentais como a ONU (Organização das Nações Unidas), a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o ICOM (Conselho Internacional de Museus) e outros. Dessa forma, a repatriação do patrimônio compreende, além de países, diferentes agentes, sendo o centro de grandes disputas.
Aula 6 – A Preservação do Patrimônio Histórico
Tema 01 – A preservação do patrimônio histórico
Até o presente, a humanidade vem manifestando os seus saberes e fazeres das mais diversas maneiras. Uma delas é por meio de construções arquitetônicas, produção de obras de arte, artefatos e objetos, criação de mitos e outros. Toda essa produção humana é, sobretudo, o reflexo de uma sociedade, uma época e período tornando-se documento histórico. Sabemos que não há possibilidade de juntar toda essa herança em um único pacote e que a preservação do patrimônio requer certa organização e classificação, inclusive referente às instituições responsáveis por essa tarefa.
Tema 02 – Os gabinetes de curiosidades como marco inicial do colecionismo
Em decorrência das grandes navegações, explorações e descobrimentos dos séculos XV, XVI e XVII, a práxis do colecionismo tornou-se algo bastante comum entre o alto clero, a aristocracia e a nobreza. Assim formaram-se expressivas coleções que eram armazenadas, de maneira muitas vezes caótica e sem uma curadoria a contento que pudesse dispor os objetos para serem efetivamente fruídos pelo observador. Esses locais, responsáveis por agrupar coleções de diversos itens, muitas vezes inusitados, ficaram conhecidos como os gabinetes de curiosidades, câmaras das maravilhas ou câmaras mágicas.
Tema 03 – Os museus
Os museus têm a sua origem na antiga Grécia, inicialmente como os templos dedicados à deusa Mnemosine, filha de Urano e Gaia, mãe das nove musas, também conhecida como a personificação da memória. A palavra museu, segundo a etimologia clássica, significa “templo das musas”. A mitologia afirma que Mnemosine trouxe ao mundo nove filhas com Zeus, o deus supremo do Olimpo. Cada uma de suas filhas representava uma arte ou ciência e eram conhecidas como musas – as responsáveis pela inspiração artística e científica dos homens na Terra. Estes templos das musas eram voltados à preservação da memória individual e as pessoas deixavam, principalmente, objetos votivos e ex-votivos como ofertas. Por muito tempo, os museus realmente estiveram fortemente atrelados à “sacralização” dos objetos expostos, mas, a partir da segunda metade do século XX, inicia-se uma nova forma de apresentar o patrimônio nesses espaços.
Tema 04 – Ações educativas
Sabe-se que um dos motivos essenciais que promove a visita aos museus, ou demais espaços e centros culturais, por parte do grande público é o anseio pela aquisição de cultura, ou seja, a vontade de fruir eaprender algo novo. Entretanto, é fundamental tornar claro qual tipo de aprendizagem temos nos espaços museológicos para melhorar a comunicação entre a instituição e seu público, e isso está dentre as responsabilidades do setor de Ação Educativa a partir de seus programas e propostas.
Tema 05 – O processo de tombamento
Para que um bem patrimonial possa receber alguns cuidados à sua preservação, precisa, primeiramente, estar registrado e ser tombado pelas autoridades responsáveis do país de origem. No Brasil, o órgão responsável pelo tombamento do patrimônio cultural é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. O termo “tombar”, relacionado ao patrimônio, significa inventariar, registrar ou inscrever o bem nos arquivos do reino e é o procedimento inicial, necessário e reconhecido por lei para a salvaguarda patrimonial.
ARTE E CULTURA POPULAR
AULA 1 – CULTURA, CULTURAS POPULARES E FOLCLORE
Tema 1 – O conceito antropológico de cultura
O termo cultura pode ser entendido de diversas formas. No entanto, a acepção que vamos nos dedicar a compreender aqui vem da antropologia. Para essa ciência, qualquer indivíduo ou grupamento humano é, antes de tudo, cultural, sendo a cultura um dos elementos mais evidentes de diferenciação das sociedades. Modernamente, a concepção antropológica nos traz a percepção de que não somos todos iguais. Pelo contrário, o que singulariza a natureza humana é a diversidade de hábitos, modos de fazer, de pensar, de interagirmos socialmente e com a natureza. Assim, não existe uma "cultura humana" ou uma "cultura brasileira", pois "nossa cultura" é fruto de um processo dinâmico de interações e transformações no tempo, por meio dos contatos e das influências históricas que sofremos.
Tema 2 – Etnocentrismo
A antropóloga Ruth Benedict nos diz que a cultura "é uma lente através da qual o homem vê o mundo" (BENEDICT, 1972). Nesse sentido, não há uma única forma de perceber e interpretar aquilo que, literal e metaforicamente, vemos. Tudo o que nos é diferente gera, de início, o que chamamos estranhamento e pode nos chocar. Temos a franca tendência em acreditar que nossas referências culturais, que nos são mais familiares, sejam consideradas "melhores" do que aquelas com as quais não temos aparente afinidade. Etnocentrismo pode ser traduzido como uma valorização de nossa própria cultura, seguida de um distanciamento e, até mesmo, de preconceitos dirigidos a outras culturas consideradas "estranhas" ou "inferiores", quando utilizamos como medida de valor apenas o que nos é familiar, olhando o outro a partir unicamente daquilo que acreditamos ser "correto" ou "melhor".
Tema 3 – Relativismo e alteridade
O conceito antropológico de relativismo cultural serve para que nos coloquemos diante do outro a fim de tentar perceber que seus princípios, por mais distantes que possam parecer, devem ser compreendidos justamente por serem diferentes. Por exemplo, as noções de educação, estética, religiosidade, família e justiça são construídas em realidades distintas, de acordo com as perspectivas próprias de cada cultura. Já o conceito de alteridade, na antropologia, nos faz perceber tanto o outro quanto nós mesmos a partir da observação das diferenças. Do estranhamento e da percepção daquilo que não nos parece familiar brotam as noções do que nós somos. Identificar o outro, nesse sentido, é compreender a nós mesmos, nossa própria cultura em contraste com o que nos causa estranheza no outro.
Tema 4 – Culturas populares: um conceito plural
Podemos fazer uma generalização e afirmar a ideia de que existe uma “cultura brasileira”? Sob os mais diversos pontos de vista, é preciso ter em mente que, mesmo com uma aparente unidade (no caso, um país), temos uma pluralidade de referências culturais. Já o entendimento sobre o popular define-se com base na concepção das diferenças internas, na diversidade. Assim, a noção de cultura brasileira enfatiza as diversas matrizes históricas de formação de nossa nacionalidade. Atualmente, portanto, é corrente a utilização do conceito no plural, ou seja, culturas populares, uma vez que nossa formação sócio-histórica abriga diversas matrizes populares. Devemos também desenvolver uma percepção sobre as inter-relações e transformações das culturas no tempo. Assim, o popular pode sofrer a influência ou influenciar culturas de outros povos, bem como se tornar parte de uma referência cultural de elite.
Tema 5 – Folclore versus cultura popular
Um cuidado importante que devemos ter diz respeito à semelhança entre os conceitos de culturas populares e folclore. Não há consenso entre os estudiosos sobre suas diferenças, sendo que alguns autores procuram atribuir equivalência entre ambos. O conceito de folclore, cunhado no século XIX, sofre críticas, principalmente, porque alguns folcloristas acreditam que as manifestações populares devem ser preservadas em suas características tradicionais, sem levar em conta os processos de transformação característicos das sociedades urbano-industriais. É comum a aplicação da expressão folclore, por exemplo, para designar grupos de dança e música, os quais, em geral, se vinculam à tentativa de preservar ou reproduzir elementos que, de uma forma ou de outra, conectam-se a uma herança cultural de longa data, uma tradição, porém vale aqui novamente pensarmos que as culturas são dinâmicas e podem se adaptar às transformações sociais.
AULA 2 – CULTURA BRASILEIRA E CULTURA POPULAR BRASILEIRA
Tema 01: Identidade cultural brasileira: referências históricas
O Brasil é marcado historicamente por uma formação sociocultural de múltiplos referenciais. A maneira como nossa sociedade é pensada atualmente – a partir de um conjunto de heranças históricas que abrangem as contribuições de povos indígenas, africanos, europeus, árabes e asiáticos – foi fruto de reflexões realizadas por cronistas, escritores, historiadores, antropólogos, sociólogos e pelo próprio Estado, desde o século XVI. Além das populações autóctones, outros povos foram, por longo tempo, desconsiderados como parte do “povo brasileiro”. Apenas a partir do final do século XIX, com o fim da legal da escravidão, as interpretações sobre nossa identidade cultural vieram a incluir negros originários de várias partes da África e os indígenas como parte integrante de nossa identidade cultural. A partir desse período, intelectuais como Silvio Romero e Gilberto Freyre passam a valorizar essas matrizes de nossa nacionalidade.
Tema 02: Cultura popular nacional em Sílvio Romero e Mário de Andrade
A construção da identidade nacional brasileira passou, decisivamente, pela mediação da intelectualidade. O fim do século XIX e a década de 1930 delimitam dois momentos de grandes reflexões no meio letrado acerca do caráter nacional-popular de nossa cultura. A discussão sobre a identidade brasileira passava, necessariamente, pela inclusão dos estratos sociais populares como parte essencial da nação. Entre os intelectuais que valorizaram as culturas populares como grandes referências da “brasilidade” estavam Silvio Romero e Mario de Andrade. Cada qual a seu modo, eles viam na mistura das matrizes indígenas, negras e lusitanas/europeias a riqueza do país, percebendo a mistura como algo “original”. Mario de Andrade considerava igualmente importantes as manifestações rurais e urbanas, ao contrário de outros intelectuais, e considerava a pesquisa de campo e a coleta de dados e de materiais como essenciais para o entendimento do Brasil.
Tema 03: Intelectuais e Estado: entre o popular e o nacional
A partir sobretudo da década de 1930, os laços entre Estado, intelectuais e culturas populares se estreitaram. O governo Vargas (1930-1945) encampou as referências das culturas populares como símbolos nacionais. O samba e o carnaval foram alçados, respectivamente, às categorias de ritmo e festa que representavam a identidade brasileira.
Já os intelectuais dos anos 1930-40 buscaram renovar as perspectivas de interpretação do povo, da cultura e da história brasileiras, entre eles Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda.Esses autores legaram às gerações posteriores a afirmação de uma identidade cultural que apontava a diversidade como um fator de afirmação.Mais tarde, já na década de 1950, se desenha um movimento em torno do folclore e cultura popular, que se concretiza com a criação da Comissão Nacional do Folclore, reunindo nomes como Cecília Meireles, Câmara Cascudo e Artur Ramos.
Tema 04: O nacional e o local
Quando pensamos a ideia de uma "cultura popular nacional", é comum, como vimos anteriormente, saltarem à mente algumas referências canônicas, por exemplo, o samba, no entanto a definição unificadora de referências consideradas nacionais, ou seja, que estão em todos as regiões do país, acaba por obscurecer as particularidades das referências culturais regionais. O próprio samba, observado em quase toda parte no Brasil, tem em cada lugar suas peculiaridades e diferenças. No Rio de Janeiro, temos o samba de terreiro, o jongo, o samba de escola; em Pernambuco, encontramos as matrizes do coco, um tipo de samba; na Bahia, o samba de roda; assim por diante. Em termos históricos, desde o início do século XX, houve movimentos que se colocaram em defesa dos valores das culturas populares locais de "matriz nacional", entre eles o Manifesto Regionalista (1926) e o Movimento Armorial (1970).
Tema 05: As identidades regionais: popular versus moderno
A construção das identidades regionais na maioria dos Estados e localidades brasileiras também deve muito ao popular. Em cada região, são alçadas à condição de ícones culturais referências, como o maracatu e o frevo em Pernambuco, os terreiros de candomblé de Salvador, os tropeiros do Rio Grande do Sul, os blocos carnavalescos do Rio de Janeiro. Além de serem base dessas afirmações identitárias, por sua perpetuação ao longo do tempo, as culturas populares são também dinâmicas, modernizando-se e atualizando-se. Para exemplificar, podemos pensar em uma festa de Tambor de Crioula, em uma comunidade rural do interior do Maranhão, na qual, nos intervalos dos cantos e toques de tambores, há uma enorme aparelhagem de som através da qual um DJ toca músicas de reggae. Essa inter-relação entre popular e moderno faz parte das interações contemporâneas.  
AULA 3 – MUNDIALIZAÇÃO, MODERNIZAÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL
Tema 01: Culturas mundializadas
O antropólogo Renato Ortiz afirma que a mundialização, fenômeno que se refere aos contatos globais de natureza cultural, não é nem homogênea nem tende a tornar o mundo culturalmente uniforme. Os indivíduos, comunidades e povos, à medida que tomam contato com o “outro”, podem vir a adaptar suas referências culturais de acordo com novos desejos ou necessidades. Assim, a mundialização afeta todos, inclusive as comunidades de matriz popular. Não devemos acreditar que a mundialização leva ao declínio das expressões culturais populares ou tradicionais, porém as afeta de forma substancial. No Brasil, isso ocorre e gera mudanças, em diversos níveis, desde o campo das artes aos ofícios tradicionais, por exemplo.
Tema 02: Cultura popular e cultura de massas
A cultura de massas abrange uma complexa rede de meios que se desenvolvem e aperfeiçoam rapidamente e afetam pessoas e comunidades mundialmente. É importante refletirmos sobre como esse fenômeno mundial afeta as culturas populares. Segundo a socióloga Ecléa Bosi, uma diferenciação essencial entre a cultura de massas e a popular é que a segunda possui tempo cíclico e enraizamento, assim, mantém relações com a época da colheita, o tempo das marés, os períodos de trabalho e ócio, e conserva os vínculos com seus realizadores. Em geral, as manifestações culturais populares conectam-se aos fenômenos ligados às comunidades em que ocorrem, respeitando as dinâmicas e as funções sociais que cumprem, o tempo e a maneira como ocorrem. Já a TV, por exemplo, tem como objetivo seduzir seu público por meio da descontinuidade, trabalhando com base na novidade, na espetacularização e no consumo que, tão rapidamente quanto surge, se esvai.
Tema 03: Urbanidade e modernização
Somos levados a imaginar que as culturas populares só existem em estado “puro”, “intocado” e em regiões distantes do ambiente modernizado e cosmopolita das grandes cidades. Quando pensamos as manifestações populares na urbanidade moderna, é fundamental termos em conta duas questões centrais: as expressões tradicionais são impactadas, de diferentes formas, pelos valores da modernidade, no entanto as transformações não as fazem, necessariamente, desaparecerem. Além das adaptações das formas tradicionais, existem também manifestações de caráter essencialmente moderno e híbrido, nascidas no próprio ambiente urbano e de características, ao mesmo tempo, modernas e populares. Um exemplo é o hip hop, movimento da juventude negra norte-americana que se internacionalizou nas décadas de 1970-80 e influencia jovens das periferias de cidades brasileiras, que fomentam a "cultura hip hop", como o break, o grafite e o rap.
Tema 04: Patrimônio imaterial
Desde o final do século XIX, muitos estudiosos passaram a temer que os saberes e fazeres populares não resistiriam aos contatos com os referenciais culturais urbano-industriais e com os meios de comunicação modernos. Assim, pesquisadores e órgãos governamentais começam a pensar, a nível mundial, formas de preservação das manifestações culturais, particularmente as tradicionais, aquelas que se acreditava estarem “desaparecendo”. O que passamos a chamar, em tempos mais recentes, de patrimônio imaterial tornou-se uma área de pesquisa e de construção de políticas públicas para reconhecer, valorizar e preservar os bens culturais também chamados de intangíveis. No Brasil, especialmente a partir anos 2000, foram criados diversos meios legais de identificação e proteção desses bens, que acabam por se confundir com a própria definição de culturas populares, seus saberes, suas formas de expressão, celebrações e lugares.
Tema 05: Mestres e mestras
Os indivíduos detentores de saberes tradicionais que têm capacidades, habilidades ou memórias para criar, reproduzir ou restituir a história de certos elementos do patrimônio imaterial são considerados fundamentais nas políticas de preservação do patrimônio imaterial: os mestres e mestras, reconhecidos pela excelência de seus saberes, devem ter seus conhecimentos transmitidos às gerações mais novas. No Brasil, a alcunha de mestre é também utilizada de forma recorrente por pesquisadores como forma distintiva de tratamento, por meio da qual o indivíduo é credenciado como grande referência em determinado tema.
AULA 4 – O MUNDO DAS ARTES
Tema 01: Arte ou artesanato?
Conforme nos aponta Nestor Canclini, costuma haver uma diferenciação entre "arte" e "artesanato", fomentada por uma visão elitista da obra de arte. Atribui-se, comumente, uma superioridade a criações mais acadêmicas, “requintadas” ou, ainda, feitas por um artista "de renome". Já as realizações de artistas populares – boa parte deles sem conhecimentos formais ou teóricos sobre o mundo das artes e, em certos casos, feitas em séries mais ou menos idênticas – são denominadas, genericamente, artesanato. Nesse sentido, o artesanato é desvalorizado, pois é avaliado por seu baixo valor de troca, “pequena expressividade visual” e “ínfima qualidade contemplativa”. É importante salientarmos que definir tal produção dessa forma é desqualificar os potenciais de seus realizadores como indivíduos que se expressam também com originalidade e quesitos artísticos, porém operando através de um sistema de produção mais sistemático e em série.
Tema 02: A música popular brasileira e a música popular do Brasil
A música é a manifestação artística popular mais significativa no Brasil. Espalhada por todo território nacional, temos uma enorme diversidade de ritmos e sonoridades, cada qual com sua história, características e inter-relações próprias. Como observa José Wisnik, seu poder reside em ser a música brasileira um veículo privilegiado de transmissão social, de ampla penetração e, segundo outros autores, lugar de produção de uma linguagem popularoriginal. No entanto, não devemos confundir “música popular” com o conceito de MPB (música popular brasileira), disseminado a partir da década de 1960. Por suas especificidades históricas, o conceito de MPB não se refere necessariamente a uma manifestação propriamente popular. É importante também problematizarmos que há, por outro lado, uma influência das matrizes legitimamente populares, como as variadas vertentes do samba, sobre a MPB ou mesmo sobre a música erudita, como foi o caso da obra de Villa Lobos.
Tema 03: O samba e o nacional-popular
Apesar da enorme quantidade de manifestações musicais populares e de suas variadas origens, apropriações e transformações ao longo do tempo, o samba se tornou uma espécie de unanimidade nacional. Isso não ocorreu por acaso, nem pelo desejo da maioria da população, mas foi uma noção construída historicamente, ao menos desde a década de 1930. Tomado como referência de brasilidade, foi fomentado pelo governo de Getúlio Vargas (1930-1945), caracterizado pelo nacionalismo e populismo, que ajudou a alçar o samba a elemento-chave de nossa identidade, na intenção de buscar apoio e, ao mesmo tempo, controlar as massas. Já na década de 1960, a fusão do samba com o jazz – a bossa nova – fez com que as relações entre samba, tradição, modernidade e a noção de cultura popular nacional se renovassem, inclusive internacionalizando a música brasileira como nunca antes visto.
Tema 04: Música, ritual e ritmos regionais
Nas culturas populares, para além de um produto de fruição ou entretenimento, a música pode servir como elemento que compõe cerimônias religiosas ou tomar parte em rituais comunitários. Nos terreiros de umbanda ou candomblé, o soar dos tambores e outros instrumentos percussivos, acompanhados ou não de cantos em coro, evocam a relação com entidades e orixás. Nas culturas indígenas, a música tem grande importância em diversos momentos da vida coletiva, como no ritual de iamurikuma entre os índios Wauja do Alto Xingu (MT), em que é considerada o elemento central, constituindo a forma ideal de expressão dos afetos. Já no Maranhão, o tambor de crioula é uma expressão popular festiva que tem, na música e na dança, elementos fundamentais, com características pagãs e religiosas. É possível encontrar país afora diversas manifestações regionais com características próprias em que a música popular é elemento central.
Tema 05: Patrimonialização e preservação das artes populares
As artes populares, individuais ou quando partem de uma construção coletiva e tradicional, podem até mesmo ser patrimonializadas como bens de natureza material ou imaterial. Os trabalhos de um mestre escultor, como Aleijadinho, por exemplo, podem ser tombados (protegidos por lei de tombamento) para que possam ser preservados sob os auspícios do Estado. Já manifestações com dimensões intangíveis podem, por meio de mecanismos como o registro (via IPHAN, por exemplo), ser também valorizadas, estudadas e salvaguardadas pelo poder público. Temos um grande conjunto de bens artísticos sob proteção desses mecanismos. Mais uma vez, é importante termos em vista que, no plano do patrimônio imaterial, a proteção não é sobre um objeto ou obra em si, mas se dirige aos saberes, ofícios ou lugares onde essas dimensões do artístico se realizam.
AULA 5 – RELIGIOSIDADES POPULARES
Tema 01: Algumas considerações a respeito da religiosidade brasileira
No Brasil, as manifestações das religiosidades populares tradicionais são caracterizadas principalmente pelo multiculturalismo, pela pluralidade, pelo trânsito e sincretismo religioso e por sua capacidade de permanência na contemporaneidade. Assim, não há a afirmação de uma única forma de cultuar e se relacionar com o sagrado. Em muitos casos, há misturas entre referências de religiões diferentes, relações diretas entre o sagrado e o profano e formas peculiares, desenvolvidas por agentes populares, de interação com a religiosidade.
Tema 02: O trânsito, a pluralidade e o sincretismo religioso
A religiosidade popular é exercida e significada pelos próprios atores sociais. Nela, a coletividade se expressa não só nas manifestações que mobilizam milhões, mas também nos ritos e nos cultos podem ser exercidos por pessoas que não são representantes oficiais das igrejas, em que novos elementos podem ser inseridos e ressignificados.
Essa possibilidade do exercício religioso fora da tutela de uma instituição oficial, além do afrouxamento de dogmas e rigores das doutrinas religiosas, permite que os indivíduos transitem e entrem em contato com várias religiões – além de suas representações, adaptações e usos múltiplos.
Tema 03: Convivência religiosa
Infelizmente, é comum nos preceitos de várias igrejas a não relativização de religiosidades alheias, que não seguem seus dogmas. Em nome dessa premissa, muitas igrejas conduzem seus fiéis a descredenciar o outro. Na colonização do Brasil, a cristianização dos índios foi uma forma poderosa de dominação. Ao serem apresentados ao Deus católico, às noções de pecado e outros dogmas, ocorreu uma desestruturação em toda a organização social da vida tribal. Frequentemente, a catequização era sugerida como uma benfeitoria aos povos “não civilizados”. Considerar as outras religiosidades “erradas” é parte, de certa forma, da legitimação da própria crença. Quando um missionário apresenta sua religião a um índio, por exemplo, mesmo em nossos dias, ele está desconsiderando o sistema de crenças daquela comunidade. A noção da existência de outros sistemas pode ter implicações e perdas significativas para povos que relacionam seus mitos à natureza.
Tema 04: Relatos de campo
A pesquisa de campo, na antropologia, possui particularidades. Entre elas, a longa permanência do antropólogo entre o grupo estudado. É mister distanciar-se de sua cultura e se inserir na do outro, vivenciando seu cotidiano, para compreender sua própria lógica. No que concerne à religiosidade popular, é fundamental ao pesquisador ou estudante das culturas ter experiências – ainda que menos profundas que as do antropólogo – para desfazer preconceitos e compreender internamente os significados de cada experiência religiosa. Ter uma religião não pode significar oposição às outras formas de relação com a espiritualidade. A experiência de contato com o outro, a partir do “estranhamento” – parte do processo de pesquisa antropológica – torna-se o momento para que a experiência de campo possa desfazer ou problematizar as próprias referências do pesquisador. O relato de campo geralmente é um texto escrito durante ou após a experiência de imersão.
Tema 05: O culto aos santos não oficiais
Os “santos” – sejam pessoas que tiveram uma vida exemplar, uma morte violenta ou, ainda, operaram milagres em vida ou após morrerem – podem ser exemplos potenciais de santificação popular. Transitando em religiões como o catolicismo e a umbanda, os santos podem tomar parte em rituais de benzimento, intermediando curas ou a solução de problemas, ou mover multidões em festividades ou momentos específicos de culto e devoção. Apesar de não ter “reconhecimento oficial”, como a canonização católica, os santos e santas populares estão presentes no mundo todo. No Brasil, de norte a sul, podemos encontrar tais fenômenos. Mesmo no caso dos santos canônicos, como Nossa Senhora Aparecida, a devoção popular se transforma de acordo com seu agente. A padroeira do país está nos terreiros de umbanda, nos altares de benzedeiras, no para-choque do caminhão, no quarto do devoto.
AULA 6 – OUTROS FOCOS DE EXPRESSÃO DAS CULTURAS POPULARES
Tema 01: Narrativas populares ‒ mitos
Uma característica fundamental das narrativas populares, como os mitos, é o fato de pertencerem, ao menos originariamente, ao domínio da oralidade. Como usualmente não são escritas por aqueles que contam, as histórias se tornam dinâmicas e sofrem transformações que variam de acordo com a região, com quem conta e com a passagem do tempo. O mito tem como característica fundamental contar uma história, com características simbólicas, que em geral remete à origem dascoisas, trazendo elementos divinos e também culturais, sociais e históricos. São comuns na oralidade dos índios brasileiros mitos fundadores ou mitos de origem, que contam sobre a formação da terra, a origem dos índios e dos brancos e como surgiram certos hábitos. Esses mitos se apresentam como relatos históricos e também como explicações para o presente.  
Tema 02: Narrativas populares ‒ lendas
O riquíssimo universo das lendas brasileiras é permeado pelas peculiaridades regionais, pelo trânsito de personagens e sentidos, pela improvisação do contador. Cada vez que se conta uma história, esta pode ganhar novos contornos ou significados. As nuances, as sutilezas e os acréscimos podem mudar conforme o narrador e certos fatos podem ser enfatizados ou subtraídos com a intenção de produzir diferentes interpretações. No Brasil, temos lendas que estão em boa parte do território e assumem diferentes feições em cada lugar: o curupira – que também recebe o nome de caipora ou capora ou, ainda, pai do mato – é um ser encantado que habita as matas e é uma espécie de protetor da fauna e da flora. Com características físicas também variadas a depender da região – meio porco meio homem, corpo peludo, pés invertidos – essa lenda narra encontros de pessoas que, na mata, tiram mais da natureza do que o devido e são perseguidas pelo personagem. 
Tema 03: O trabalho coletivo como festa
O trabalho, em diversas comunidades, conta muitas vezes com a participação da coletividade. O mutirão, termo de origem tupi que designa o trabalho coletivo, possui outras denominações, dependendo da região: putirão, pixirum, puxirão, adjunto, muxirão. Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil, considera-o como uma herança substancialmente indígena. Já para Câmara Cascudo, o mutirão é uma instituição social resultante do instinto gregário dos seres humanos, portanto não restrito a heranças de uma ou outra cultura: “o povo une-se para enfrentar o trabalho, como se une para bater o inimigo comum às portas da cidade, ou para apagar o fogo na casa do vizinho. Apenas cada grupo social o organiza segundo seus hábitos ou tendências peculiares, em consonância com o ambiente. É uma instituição universal” (O EXTENSIONISTA, 2015). Esse tipo de trabalho coletivo é normalmente bastante animado e, por vezes, seguido de uma festa, com música, comida e bebida.  
Tema 04: A arquitetura popular
Até pouco tempo atrás, antes dos bens industrializados penetrarem boa parte da vida cotidiana, as pessoas eram levadas a construir muitos de seus artefatos: cestos, panelas, redes de pesca, roupas. As moradias também eram feitas pelas mãos do próprio dono, com a matéria-prima disponível na região, atendo às necessidades climáticas e respeitando os referenciais culturais e as condições socioeconômicas do indivíduo, da família e da comunidade. Essas são características comuns ao que podemos definir como arquitetura popular. O uso de materiais naturais, com técnicas apreendidas de geração em geração, faz de muitas moradias verdadeiras obras de arte e torna os saberes envolvidos em sua construção patrimônios imateriais. É essencial que não percamos de vista, também, que a concepção relativista das ciências humanas impõe ao pesquisador valorar um tipo de habitação como “melhor” ou “pior” que outro. Essa é uma noção do senso comum. 
Tema 05: A folkcomunicação
No senso comum, costuma-se desvalorizar a comunicação e os saberes de pessoas não letradas ou cuja escrita não segue os padrões formais da língua. Da mesma maneira, grupos sociais populares sofrem preconceito pela forma como se expressam e, no mais das vezes, não tem voz nos meios de comunicação tradicionais. No Brasil, um dos primeiros estudiosos das relações entre mídia e culturas populares foi Luiz Beltrão, no final da década de 1960. Esse autor consolidou o conceito de folkcomunicação, desvirtuando as noções de comunicação e comunicador, trazendo para a cena os atores e os meios ligados às camadas populares. Buscou valorizar a informação oral como importante fenômeno comunicativo, tomando como exemplo os cantadores do povo. A literatura de cordel é analisada pelo autor como fenômeno popular de indivíduos pouco letrados, porém de grande riqueza poética e estética. isHHHs

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