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Álgebra II Oscar Ricardo Janesch Florianópolis, 2008 Universidade Federal de Santa Catarina Consórcio ReDiSul Campus Universitário – Trindade Caixa Postal 476 CEP 88040-900 – Florianópolis – SC Reitor: Alvaro Toubes Prata Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da Silva Secretário de Educação a Distância: Cícero Barbosa Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Yara Maria Rauh Muller Departamento de Educação à Distância: Araci Hack Catapan Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão: Débora Peres Menezes Pró-Reitor de Pós-Graduação: José Roberto O’Shea Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social: Luiz Henrique Vieira Silva Pró-Reitor de Infra-Estrutura: João Batista Furtuoso Pró-Reitor de Assuntos Estudantis: Cláudio José Amante Centro de Ciências da Educação: Carlos Alberto Marques Centro de Ciências Físicas e Matemáticas: Méricles Thadeu Moretti Centro de Filosofia e Ciências Humanas: Maria Juracy Filgueiras Toneli Cursos de Licenciaturas na Modalidade à Distância Coordenação Acadêmica Matemática: Neri Terezinha Both Carvalho Coordenação de Ambientes Virtuais: Nereu Estanislau Burin Coordenação de Infra-Estrutura e Pólos: Vladimir Arthur Fey Comissão Editorial Antônio Carlos Gardel Leitão Albertina Zatelli Elisa Zunko Toma Igor Mozolevski Luiz Augusto Saeger Roberto Corrêa da Silva Ruy Coimbra Charão Coordenação Pedagógica das Licenciaturas à Distância UFSC/CED/CFM Coordenação: Roseli Zen Cerny Núcleo de Formação Responsável: Nilza Godoy Gomes Núcleo de Criação e Desenvolvimento de Material Responsável: Isabella Benfica Barbosa Design Gráfico e Editorial: Carlos A. Ramirez Righi, Diogo Henrique Ropelato, Mariana da Silva Adaptação Design Gráfico: Diogo Henrique Ropelato, Marta Cristina Goulart Braga, Natal Anacleto Chicca Junior Produção Gráfica e Hipermídia: Thiago Rocha Oliveira Revisão Ortográfica: Jane Maria Viana Cardoso Editoração Eletrônica: Laura Martins Rodrigues Núcleo de Pesquisa e Avaliação Responsável: Claudia Regina Flores Copyright © 2008, Universidade Federal de Santa Catarina / Consórcio RediSul Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Coordenação Acadêmica do Curso de Licenciatura em Matemática na Modalidade à Distância. Ficha Catalográfica J35a Janesch, Oscar Ricardo Álgebra II / Oscar Ricardo Janesch. - Florianópolis : UFSC/EAD/ CED/CFM, 2008. 216p. ISBN 978-85-99379-56-1 1.Álgebra. I. Título. CDU 512 Elaborada pela Bibliotecária Eleonora M. F. Vieira – CRB – 14/786 Sumário 1 Polinômios ............................................................................ 13 1.1 O Anel de Polinômios ................................................................ 15 1.2 Algoritmo da Divisão e Raízes ................................................. 31 1.3 Irredutibilidade .......................................................................... 50 1.4 Ideais e Máximo Divisor Comum ............................................ 67 2 Grupos e Subgrupos ........................................................... 87 2.1 Grupos ......................................................................................... 89 2.2 Grupos de Permutações, Grupos de Rotações e Grupos Diedrais .................................. 97 2.3 Subgrupos ..................................................................................111 3 Subgrupo Normal e Grupo Quociente .......................... 125 3.1 Classes Laterais e Teorema de Lagrange .............................. 127 3.2 Subgrupo Normal e Grupo Quociente .................................. 138 4 Homomorfismos e Isomorfismos ................................... 153 4.1 Homomorfismos de grupos .................................................... 155 4.2 Propriedades dos Homomorfismos ........................................167 4.3 Isomorfismos e grupos Cíclicos ............................................. 182 5 Grupos de Permutações e o Teorema de Cayley ......... 191 5.1 Teorema de Cayley e Ciclos .................................................... 193 5.2 Grupo de Permutações Pares .................................................. 205 Referências ............................................................................ 216 Apresentação Este material foi elaborado para a disciplina Álgebra II, do curso de Matemática à distância. Trata-se da continuação do estudo de Álgebra, visto na disciplina Álgebra I. A disciplina Álgebra II tem carga de 80 horas, mas deve ficar claro que esta carga horária é apenas uma refe- rência com base em um curso presencial. O estudante deve utilizar este material como texto, seguindo a or- dem dos conteúdos expostos. Nenhuma parte pode ser deixada de lado. Mesmo que o assunto pareça fácil, deve ser estudado com deta- lhes, pois quase todos os tópicos trazem resultados e notações para uso posterior. Se algum assunto parecer difícil ou abstrato, deve ser estudado com mais afinco. Persistindo dúvidas, deve-se saná-las com o tutor, o moni- tor ou o professor da disciplina. Normalmente, dúvidas em matemáti- ca indicam algum grau de aprendizado. Portanto, encare suas dúvidas com naturalidade, mas empenhe-se em superá-las. A organização do texto segue o padrão dos livros escritos para cur- sos de graduação. Na introdução, situamos o assunto dentro da ma- temática e apresentamos os tópicos que serão tratados nos capítulos. Cada capítulo é dividido em seções. No final de cada seção, há lista de exercícios, e no final de cada capítulo há um resumo. Os exercícios de cada seção integram o texto da seção e em hipótese alguma são dispensáveis. Não se aprende matemática passivamente. Portanto, resolver exercícios é a forma correta de verificar o aprendiza- do e adquirir novos conhecimentos sobre o assunto. Neste trabalho, os conceitos matemáticos são apresentados na forma de Definição. Os resultados sobre cada assunto desenvolvido aparecem como Propriedade, Proposição, Lema, Corolário ou Teorema. Para in- dicar o final da demonstração destes resultados, usaremos a marca . Os comentários com objetivo de destacar algum resultado são apresen- tados como Observação. Oscar Ricardo Janesch 9 Introdução No curso de Álgebra I estudamos a estrutura algébrica chamada anel e vimos vários exemplos. Agora, iniciaremos o curso de Álge- bra II tratando de um anel especial, chamado anel de polinômios. No Capítulo I veremos que o conjunto dos polinômios com co- eficientes em um anel é novamente um anel. Se o conjunto dos coeficientes for um domínio, então teremos um domínio de po- linômios. Mostraremos que, se o conjunto dos coeficientes é um corpo, então o domínio de polinômios satisfaz o algoritmo de Euclides. Também estudaremos raízes de polinômios, irredutibi- lidade de polinômios, ideais em anéis de polinômios e máximo divisor comum entre polinômios. A cada polinômio 11 1 0( ) ... n n n np x a x a x a x a − −= + + + + , podemos associar a equação polinomial 11 1 0... 0 n n n na x a x a x a − −+ + + + = . Quando falamos em resolver a equação polinomial, estamos pro- curando as raízes do polinômio ( )p x . A equação polinomial 2 1 0x + = tem coeficientes em , mas não pode ser resolvida em . No entanto, pode ser resolvida em , pois toda equação polinomial de grau 1, 0ax b+ = com ,a b∈ , 0a ≠ , tem solução única 1ba−− ∈ . Portanto, a existên- cia de solução para uma equação polinomial depende do anel dos coeficientes do polinômio. Sabemos que a melhor estrutura algébrica para o anel dos coe- ficientes é a estrutura de corpo. Assim,o estudo de equações poli- nomiais é iniciado com equações polinomiais com coeficientes em . Mas toda equação polinomial com coeficientes em pode ser trocada por uma equação polinomial com coeficientes em , que tem a mesma solução. Assim basta trabalhar com equações poli- nomiais com coeficientes em ⊆ , e procurar soluções em . Note que a equação polinomial 2 1 0x + = tem coeficientes em , mas não é solúvel em . Logo, a solubilidade em é bastan- te restritiva. Por isso estudamos equações polinomiais usando o conceito de solubilidade por radicais sobre , que é mais amplo que solubilidade em . 10 Dizemos que uma equação polinomial com coeficientes em é solúvel por radicais sobre quando suas soluções são obtidas a partir dos coeficientes do polinômio através de operações do corpo e da extração de raízes. É óbvio que toda equação poli- nomial solúvel em é solúvel por radicais sobre . A extração de raiz permite buscar soluções fora de para a equação polinomial. A utilização da extração de raiz é um fato histórico, ligado à construtibilidade com régua e compasso. Retome a equação polinomial 2 1 0x + = . Suas soluções são 1± − . Logo 2 1 0x + = é solúvel por radicais sobre . A equação polino- mial de grau 2 , 2 0a x b x c+ + = com , ,a b c∈ e 0a ≠ , tem soluções 2 14 (2 )( )b b ac a −− ± − e, portanto, é solúvel por radicais sobre . Até o início do século XVI, não se sabia se todas as equações polinomiais de grau 3 eram solúveis por radicais. Nesta época, os matemáticos italianos Spicio del Ferro e Nicallo Fontana (conhe- cido como Tartaglia) verificaram que toda equação polinomial de grau 3 pode ser reduzida a uma equação do tipo 3 0x p x q+ + = , ,p q∈ , e que estas equações são solúveis por radicais sobre . Portanto, toda equação polinomial de grau 3 é solúvel por radi- cais sobre . Em 1545, o também italiano Cardano divulgou o método de Ferrari para redução de uma equação polinomial de grau 4 para uma equação polinomial de grau 3 . Usando as idéias de Tartaglia e del Ferro, verificou que toda equação polinomial de grau 4 é solúvel por radicais sobre . Muitos matemáticos tentaram em vão provar que toda equação polinomial de grau 5 é solúvel por radicais sobre . De fato não é, como mostrou o matemático norueguês Niels H. Abel, em 1824. Abel provou que a equação polinomial 5 6 3 0x x− + = não é solú- vel por radicais sobre . Claro que existem equações polinomiais de grau 5 que são so- lúveis por radicais sobre , por exemplo, 5 1 0x − = . Isso leva à questão de determinar quais equações de grau 5 são solúveis por radicais sobre . De modo mais geral: quais equações polino- miais de grau 5n ≥ são solúveis por radicais sobre ? 11 A resposta para esta pergunta foi dada por Evarist Galois (1811- 1832), que introduziu o conceito de grupo. Grosseiramente falan- do, Galois associou a cada equação polinomial de grau n um grupo formado por permutações de raízes da equação. Depois provou que a equação é solúvel por radicais sobre se, e so- mente se, este grupo tem propriedades específicas. Na linguagem atual, este grupo deve ser solúvel. A teoria de Galois está além dos objetivos deste curso. Nos res- tringiremos a apresentar a linguagem usada no estudo de grupos e a estudar as principais propriedades da teoria de grupos. No Capítulo II introduziremos a estrutura algébrica de gru- po, estudaremos propriedades, veremos exemplos e o conceito de subgrupo. O Capítulo III será dedicado à construção de grupos quociente. Para isso, estudaremos classes laterais e subgrupos normais. Também provaremos o Teorema de Lagrange. No Capí- tulo IV estudaremos homomorfismos e isomorfismos de grupos. Finalmente, no Capítulo V, veremos propriedades dos grupos de permutações. 1 Polinômios 15 1 No curso de Álgebra I vimos alguns anéis especiais, entre os quais os anéis de matrizes e os anéis n . Agora estuda- remos os anéis de polinômios. A partir de um anel A definiremos o anel [ ]A x , formado pelos polinômios na indeterminada x , com coeficientes em A . Veremos que a melhor estrutura algébrica para [ ]A x é domínio, e que isso ocorre exatamente quando A é domí- nio ou corpo. Mostraremos o algoritmo de Euclides e sua relação com raízes de polinômios. Também estudaremos irredutibilidade e máximo divisor comum de polinômios. 1.1 O Anel de Polinômios Nesta seção apresentaremos a definição formal de polinômios com coeficientes em um anel. Veremos que com as operações usu- ais de adição e multiplicação de polinômios, o conjunto de todos os polinômios com coeficientes em um anel é também um anel, que chamaremos de anel de polinômios. Estudaremos proprieda- des do grau de um polinômio, para determinar a melhor estrutu- ra algébrica possível para anéis de polinômios. Definição 1.1.1 Seja A um anel. Um polinômio sobre A , na variável (ou indeterminada) x , é uma expressão da forma: 2 0 1 2 ...a a x a x+ + + onde: ia A∈ , i∀ ∈ , e existe n∈ tal que 0ja = , para j n> . Observação 1.1.1 Os expoentes da variável x no polinômio 2 0 1 2 ...a a x a x+ + + não têm significado aritmético até o momento. Tratam-se apenas de uma notação. Observação 1.1.2. Se 20 1 2( ) ...p x a a x a x= + + + é um polinômio so- bre A na variável x , chamamos 0 1 2, , ,...a a a de coeficientes de ( )p x . Mais especificamente, 0a é o termo independente, 1a é o coeficiente Polinômios 16 de x , 2a é o coeficiente de 2x , e assim por diante. Costuma-se omi- tir o coeficiente 1 de jx , j ∗∈ , escrevendo jx em vez de 1 jx . Seja 20 1 2( ) ...p x a a x a x= + + + um polinômio sobre o anel A na variável x . Como existe n∈ tal que 0ja = , para j n> , pode- mos escrever: 2 0 1 2( ) ... n np x a a x a x a x= + + + + , deixando subentendido que 2 1 0 1 2( ) ... 0 ... n n np x a a x a x a x x += + + + + + + . Note que escrevemos 2 0 1 2( ) ... n np x a a x a x a x= + + + + , não excluindo a possibilidade 0ia = para {1,2,..., }i n∈ . Quando 20 1 2( ) ... n np x a a x a x a x= + + + + e 0na ≠ , dizemos que o coeficiente dominante de ( )p x é na . Um polinômio com coefi- ciente dominante 1 é chamado de polinômio mônico. Exemplo 1.1.1 O polinômio sobre o anel 2 3 4 5( ) 2 0 1 3 0 0 ...p x x x x x x= + + + + + + pode ser escrito de várias maneiras. Em particular, 2 3( ) 2 0 1 3p x x x x= + + + , 2 3 4( ) 2 0 1 3 0p x x x x x= + + + + . Exemplo 1.1.2 Seja A um anel. Para cada a A∈ , o polinômio 2( ) 0 0 ...p x a x x= + + + é chamado polinômio constante a , e indicado por ( )p x a= . Em particular, quando 0a = , temos o polinômio ( ) 0p x = , que é cha- mado polinômio nulo. Desde que cada polinômio na variável x sobre o anel A pode ser escrito como 20 1 2( ) ... n np x a a x a x a x= + + + + , para algum n∈ , vemos que o conjunto dos polinômios na variável x sobre o anel A é 0 1[ ] ... ; , {1,2,..., }{ }nn iA x a a x a x n a A i n= + + + ∈ ∈ ∀ ∈ . Seja A um anel. De acordo com o Exemplo 1.1.2, cada elemento a A∈ pode ser identificado com o polinômio constante ( )p x a= . Através desta identificação temos [ ]A A x⊆ . Nosso primeiro objetivo é mostrar que definindo operações convenientes, o conjunto [ ]A x é um anel. No entanto, para traba- lhar com o conjunto [ ]A x , devemos ter bem claro o que significa igualdade neste conjunto. 17 Definição 1.1.2 Os polinômios 20 1 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ 2 0 1 2( ) ... [ ]q x b b x b x A x= + + + ∈ são iguais quando i ia b= , i∀ ∈ . Agora vamos definir as operações de adição e multiplicação em [ ]A x . Observe que as operações que definiremos abaixo são exatamente as operações conhecidas para polinômios com coefi- cientes reais. Sejam A um anel, 201 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ e 20 1 2( ) ... [ ]q x b b x b x A x= + + + ∈ . Definimos a adição de ( )p x com ( )q x por 2 0 0 1 1 2 2( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ... [ ]p x q x a b a b x a b x A x+ = + + + + + + ∈ . Definimos a multiplicação de ( )p x com ( )q x por 2 0 1 2( ) ( ) ... [ ]p x q x c c x c x A x= + + + ∈ , onde 0 1 1 0k i j k k k i j k c a b a b a b a b− + = = = + + +∑ . Observação 1.1.3 Note que ( ) ( )p x q x+ e ( ) ( )p x q x são de fato elementos de [ ]A x , pois todos os seus coeficientes são obtidos fa- zendo operações no anel A e, portanto, estão em A . Além disso, como os coeficientes de ( )p x e ( )q x são todos nulos a partir de um certo n∈ , o mesmo ocorrerá com ( ) ( )p x q x+ e ( ) ( )p x q x . Para fazer a multiplicação de 20 1 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ por 20 1 2( ) ... [ ]q x b b x b x A x= + + + ∈ , podemos proceder da seguin- te maneira: Elaborar uma tabela, onde os coeficientes de • ( )p x aparecem na entrada vertical e os coeficientes de ( )q x aparecem na entrada horizontal; Completar a tabela, fazendo o produto no anel • A , dos ele- mentos correspondentes a cada linha e cada coluna; Tomar a soma dos elementos da diagonal da tabela, obser-• vando que eles correspondem a 0 1 2, , ,...c c c . 18 b0 b1 b2 b3 a0 a0b0 a0b1 a0b2 a0b3 a1 a1b0 a1b1 a1b2 a1b3 a2 a2b0 a2b1 a2b2 a2b3 a3 a3b0 a3b1 a3b2 a3b3 1ª diagonal: 0 0 0 0 i j i j a b a b c + = = =∑ . 2ª diagonal: 0 1 1 0 1 1 i j i j a b a b a b c + = + = =∑ . 3ª diagonal: 0 2 1 1 2 0 2 2 i j i j a b a b a b a b c + = + + = =∑ . 4ª diagonal: 0 3 1 2 2 1 3 0 3 3 i j i j a b a b a b a b a b c + = + + + = =∑ . Exemplo 1.1.3 Sejam 2( ) 2 2p x x x= + + , ( ) 1 3 [ ]q x x x= + ∈ . • 2( ) ( ) (2 1) (1 3) (2 0)p x q x x x+ = + + + + + 23 4 2x x= + + • Para calcular ( ) ( )p x q x usamos a tabela abaixo: 1 3 0 c0 = 2 c1 = 6 + 1 = 7 c2 = 3 + 2 = 5 c3 = 6 ck = 0 para k > 3 2 2 6 0 1 1 3 0 2 2 6 0 2 3( ) ( ) 2 7 5 6p x q x x x x= + + + . 19 O Teorema abaixo mostra que, com as operações definidas acima, [ ]A x é um anel, e que a comutatividade, a existência de unidade e a inexistência de divisores de zero, são passadas de A para [ ]A x . Teorema 1.1.1 Seja A um anel. Então: (1) [ ]A x é um anel. (2) Se A é comutativo, então [ ]A x é comutativo. (3) Se A tem unidade 1, então [ ]A x tem unidade ( ) 1g x = . (4) Se A é domínio, então [ ]A x é domínio. Demonstração. (1) Devemos verificar os 6 axiomas de anel. Sejam 2 0 1 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ , 2 0 1 2( ) ... [ ]q x b b x b x A x= + + + ∈ e 2 0 1 2( ) ... [ ]r x c c x c x A x= + + + ∈ . Lembre que os coeficientes dos polinômios estão em A , e, portan- to, valem os axiomas de anel para os coeficientes. Axioma • (i): Comutatividade da adição 2 0 0 1 1 2 2( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ...p x q x a b a b x a b x+ = + + + + + + 2 0 0 1 1 2 2( ) ( ) ( ) ...b a b a x b a x= + + + + + + ( ) ( )q x p x= + . Axioma • (ii): Associatividade da adição 2 2 0 1 2 0 0 1 1 2 2( ) ( ) ( ) ( ...) ( ) ( ) ( ) ...( ) ( )p x q x r x a a x a x b c b c x b c x+ + = + + + + + + + + + + 2 0 0 0 1 1 1 2 2 2( ) ( ) ( ) ...( ) ( ) ( )a b c a b c x a b c x= + + + + + + + + + 2 0 0 0 1 1 1 2 2 2( ) ( ) ( ) ...( ) ( ) ( )a b c a b c x a b c x= + + + + + + + + + 2 2 0 0 1 1 2 2 0 1 2( ) ( ) ( ) ... ( ...)( )a b a b x a b x c c x c x= + + + + + + + + + + ( ) ( ) ( )( )p x q x r x= + + . 20 Axioma • (iii): Existência de elemento neutro Tome ( ) 0 [ ]f x A x= ∈ . 2 0 1 2( ) ( ) ( 0) ( 0) ( 0) ...p x f x a a x a x+ = + + + + + + 2 0 1 2 ...a a x a x= + + + ( )p x= . Axioma • (iv): Existência de simétrico Para 20 1 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ , tome o polinômio 2 0 1 2( ) ( ) ( ) ... [ ]p x a a x a x A x− = − + − + − + ∈ . Então 20 0 1 1 2 2( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ...( )p x p x a a a a x a a x+ − = − + − + − + 0= . Axioma • (v): Associatividade da multiplicação Vamos mostrar que ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( )p x q x r x p x q x r x= . Escrevendo 2 0 1 2 2 0 1 2 2 0 1 2 2 0 1 2 ( ) ( ) ..., ( ) ( ) ( ) ..., ( ) ( ) ..., ( ) ( ) ( ) ..., ( ) ( ) i j t j t i i j t j t i i j t j t i i j t j t i q x r x d d x d x d b c p x q x r x e e x e x e a d p x q x l l x l x l a b p x q x r x m m x m x m l c + = + = + = + = = + + + = = + + + = = + + + = = + + + = ∑ ∑ ∑ ∑ devemos provar que i ie m= , i∀ ∈ . Tome então i∈ , daí ( ) ( )i j t j j j j t i j t i t j i j i e a d a b c a b c a b c + = + = + = + + = + + = = = = = ∑ ∑ ∑ ∑ ∑ j n i n i j n n i a b c l c m + = + = + = = = = ∑ ∑ ∑ Axioma • (vi): Distributividade Faremos apenas a distributividade à esquerda. A outra é aná- loga. Queremos mostrar que ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )p x q x r x p x q x p x r x+ = + . Escrevendo 21 2 0 1 2( ) ( ) ( ) ...( )p x q x r x x x + = + + + , ( )i j t t j t i a b c + = = +∑ 2 0 1 2( ) ( ) ...p x q x l l x l x= + + + , i j t j t i l a b + = = ∑ 2 0 1 2( ) ( ) ...p x r x v v x v x= + + + , i j t j t i v a c + = = ∑ devemos mostrar que ii i il vm = + , i∀ ∈ . Para i∈ temos ( ) ( )i j t t j t j t j t j t i i j t i j t i j t i j t i a b c a b a c a b a c l v + = + = + = + = = + = + = + = +∑ ∑ ∑ ∑ . Como [ ]A x satisfaz os 6 axiomas de anel, temos que [ ]A x é um anel. (2) Sejam 20 1 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ e 2 0 1 2( ) ... [ ]q x b b x b x A x= + + + ∈ . Escrevendo 20 1 2( ) ( ) ...p x q x l l x l x= + + + , i j t j t i l a b + = = ∑ , 2 0 1 2( ) ( ) ...q x p x w w x w x= + + + , i t j j t i w b a + = = ∑ , devemos provar que i il w= , i∀ ∈ . Por hipótese, o anel A é comutativo, e então para cada i∈ temos i j t t j i j t i j t i l a b b a w + = + = = = =∑ ∑ . (3) Seja 20 1 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ . Escreva ( ) 1g x = como 2 0 1 2( ) ...g x b b x b x= + + + , onde 0 1b = e 0tb = para 1t ≥ . Escrevendo 20 1 2( ) ( ) ...p x g x c c x c x= + + + , i j t j t i c a b + = = ∑ , devemos provar que i ic a= , i∀ ∈ , e então teremos ( ) ( ) ( )p x g x p x= . Para i∈ , note que a única forma das parcelas do somatório j t j t i a b + = ∑ serem não nulas é quando 0t = . Assim, 0 0 i j t j j i j t i j i j i c a b a b a a + = + = = = = = =∑ ∑ ∑ . De forma análoga prova-se que ( ) ( ) ( )g x p x p x= . Portanto, ( ) 1g x = é a unidade do anel [ ]A x . 22 (4) Como A é domínio, temos que A é anel comutativo, com uni- dade e sem divisores de zero. Segue dos itens (2) e (3), que [ ]A x também é anel comutativo com unidade. Falta provar que [ ]A x não tem divisores de zero. Faremos esta prova por absurdo, isto é, vamos supor que [ ]A x tenha divisores de zero. Então existem ( )p x , ( ) [ ]q x A x∈ , ( ) 0p x ≠ , ( ) 0q x ≠ , tais que ( ) ( ) 0p x q x = . Es- crevendo 2 0 1 2( ) ...p x a a x a x= + + + , 2 0 1 2( ) ...q x b b x b x= + + + , e lembrando que estes polinômios são não nulos, existem ,m n∈ tais que 0 1( ) ... m mp x a a x a x= + + + , 0ma ≠ e 0 1( ) ... n nq x b b x b x= + + + , 0nb ≠ . Desde que 2 0 1 20 ( ) ( ) ...p x q x c c x c x= = + + + , i j t j t i c a b + = = ∑ temos que 0ic = , i∀ ∈ . Em particular, 0n mc + = . Mas 0 1 1 1 1 1 1 00 ... ...n m j t n m n m m n m n m n n m j t n m c a b a b a b a b a b a b a b+ + + − − + + − + + = + = = = + + + + + + +∑ 0 1 1 1 1 1 1 00 ... ...n m j t n m n m m n m n m n n m j t n m c a b a b a b a b a b a b a b+ + + −− + + − + + = + = = = + + + + + + +∑ m na b= (pois 0jb = para j n> e 0ja = para j m> ) . Isso contradiz o fato de A ser domínio. Portanto, [ ]A x não tem divisores de zero. Observação 1.1.4 Vimos que, identificando os elementos do anel A com os polinômios constantes de [ ]A x , temos a inclusão [ ]A A x⊆ . Agora note que as operações com polinômios constan- tes de [ ]A x são exatamente as operações do anel A . Isso diz que A é um anel com a restrição das operações de [ ]A x . Portanto A é subanel de [ ]A x . Exemplo 1.1.4 Usando o Teorema 1.1.1 temos que: • [ ]x é domínio, pois é domínio. • ( )[ ]n x é anel comutativo, pois n é anel comutativo. 23 • [ ]( )p x é domínio, pois p é domínio para todo primo positivo p . • [ ]( )p x é domínio, pois p é domínio para todo primo positivo p . • [ ]n x é anel comutativo com unidade, pois n é anel comu- tativo com unidade. • [ ]p x é domínio, pois [ ]p x é domínio para todo primo posi- tivo p . • 2 2 ( ) [ ]( )M x× é anel com unidade, pois 2 2 ( )M × é anel com unidade. • [ ]x é domínio, pois é domínio. • [ ]x é domínio, pois é domínio. Agora vamos usar os axiomas de anel, verificados em [ ]A x , para fazer a multiplicação de polinômios. Note que o procedi- mento descrito abaixo é exatamente a maneira usual de multipli- car polinômios. Sejam A um anel e 0 1( ) ... n np x a a x a x= + + + , 0 1( ) ... [ ] m mq x b b x b x A x= + + + ∈ . Cada parcela que compõe ( )p x e ( )q x é também um polinômio de [ ]A x . Isto é, 0 1( ) ( ) ( ) ... ( )np x p x p x p x= + + + 0 1( ) ( ) ( ) ... ( )mq x q x q x q x= + + + onde ( ) ii ip x a x= , ( ) [ ] i i iq x b x A x= ∈ , {0,..., }i n∈ , {0,..., }j m∈ . Note que estamos usando a convenção 0 1x = . Podemos multiplicar ( )p x por ( )q x usando a distributividade em [ ]A x : 0 1 0 1 0 0 1 1 0 1 ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) n m m m p x q x p x p x p x q x q x q x p x q x q x q x p x q x q x q x = + + + + + + = + + + + + + + + +0 1 0 1 0 0 1 1 0 1 ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) n m m m p x q x p x p x p x q x q x q x p x q x q x q x p x q x q x q x = + + + + + + = + + + + + + + + + 0 1 0 1 0 0 1 1 0 1 ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ... ( ) ( ) ( ) ( ) n m m m p x q x p x p x p x q x q x q x p x q x q x q x p x q x q x q x = + + + + + + = + + + + + + + + + 0 1( ) ( ) ( ) ... ( )( )n mp x q x q x q x+ + + 24 Usando novamente a distributividade e a comutatividade da adição, podemos agrupar as parcelas da expressão acima de for- ma que a soma dos índices seja constante: 0 0 0 1 1 0( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( )( ) ( ) ( )n mp x q x p x q x p x q x p x q x p x q x= + + + + 0 0 0 1 1 0( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ( )( ) ( ) ( )n mp x q x p x q x p x q x p x q x p x q x= + + + + Portanto, para obter ( ) ( )p x q x precisamos apenas efetuar produ- tos do tipo .i ji ja x b x . O lema abaixo traz o resultado desta conta. Lema 1.1.1 Sejam A um anel, ,a b A∈ e ,r s∈ . (1) .r s r sax bx ab x += (2) . s sa bx ab x= e .r rax b ab x= . Demonstração. (1) Chame ( ) rp x ax= e ( ) sq x bx= . Por definição, 2 0 1 2( ) ( ) ...p x q x c c x c x= + + + , com k k c a b + = = ∑ . Desde que ra a= e sb b= sejam os únicos coeficientes de ( )p x e ( )q x que possam ser não nulos, temos: 0, para , para k r s k r s c a b ab k r s ≠ += = = + Portanto, . ( ) ( )r s r sax bx p x q x ab x += = . (2) Fazendo 0r = em (1), temos 0 0. s sa x b x ab x += , isto é, . s sa b x abx= . Fazendo 0s = em (1), temos 0 0.r ra x b x ab x += , isto é, .r ra x b abx= . Exemplo 1.1.5 Dados 3( ) 2 3p x x= + , 2( ) 1 2 [ ]q x x x x= + − ∈ , temos: 3 2( ) ( ) (2 3 ) (1 2 )p x q x x x x= + + − 2 3 22(1 2 ) 3 (1 2 )x x x x x= + − + + − 2 3 4 52 2 4 3 3 6 .x x x x x= + − + + − Nosso próximo objetivo é mostrar que um anel de polinômio nunca é corpo. De outra forma, a melhor estrutura algébrica para anéis de polinômios é domínio. 25 Veremos que em um anel de polinômios, os únicos elementos inversíveis são os polinômios constantes, cujas constantes são in- versíveis no anel. Como conseqüência, o polinômio ( )p x x= não é inversível, portanto, nenhum anel de polinômios pode ser corpo. Para estudar elementos inversíveis em anéis de polinômios, utilizaremos as propriedades de grau de um polinômio, que pro- varemos abaixo. Definição 1.1.3 Seja A um anel. Dizemos que 2 0 1 2( ) ... [ ]p x a a x a x A x= + + + ∈ tem grau n quando: (i) 0na ≠ ; (ii) 0ja = , para j n> . Notação: ( )( )p x n∂ = indica que o grau de ( )p x é n . Observação 1.1.5 Note que grau só está definido para polinômio não nulo, pois precisamos ter algum coeficiente não nulo no poli- nômio. É claro que grau é uma função: : [ ] {0}A x∂ − → ( ) ( )( )p x p x∂ . Exemplo 1.1.6 Sejam 2 5( ) 2 3 3 [ ]p x x x x= + + ∈ e 2 4 2 2 1 0 0 0 3 1 ( ) ( ) [ ] 2 3 1 0 2 2 ( )q x x x x M x× = + + ∈ − − . Então, ( ) 5( )p x∂ = e ( ) 4( )q x∂ = . Proposição 1.1.1. Sejam A um anel, ( )p x , ( ) [ ]q x A x∈ e ( ) 0 ( )p x q x≠ ≠ . (1) Se ( ) ( ) 0p x q x+ ≠ , então ( ) ( ) ( ) , ( )( ) { ( ) ( )}p x q x máx p x q x∂ + ≤ ∂ ∂ . (2) Se ( ) ( )( ) ( )p x q x∂ ≠ ∂ , então ( ) ( ) 0p x q x+ ≠ e ( ) ( )( )p x q x∂ + = ( ) , ( ){ ( ) ( )}máx p x q x∂ ∂ . 26 (3) Se ( ) ( ) 0p x q x ≠ , então ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )p x q x p x q x∂ ≤ ∂ + ∂ . (4) Se A é domínio, então ( ) ( ) 0p x q x ≠ e ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )p x q x p x q x∂ = ∂ + ∂ . Demonstração. Sejam 0 1( ) ... n np x a a x a x= + + + , 0 1( ) ... m mq x b b x b x= + + + com ( )( )p x n∂ = e ( )( )q x m∂ = . Então 0n ma b≠ ≠ . (1) Sem perda de generalidade, assuma que n m≥ . Assim, 0 0 1 10 ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ... ( ) m n m m n np x q x a b a b x a b x a b x≠ + = + + + + + + + + + 0 0 1 10 ( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ... ( ) m n m m n np x q x a b a b x a b x a b x≠ + = + + + + + + + + + , onde acrescentamos coeficientes 0jb = para j m> , se for necessário. Se 0n na b+ ≠ , então ( ) ( )( )p x q x n∂ + = , senão, ( ) ( )( )p x q x n∂ + < . Portanto, ( ) ( ) { , } ( ) , ( )( ) { ( ) ( )}p x q x n máx n m máx p x q x∂ + ≤ = = ∂ ∂ . (2) Por hipótese, ( ) ( )( ) ( )p x q x∂ ≠ ∂ , então n m≠ . Vamos assumir que n m> . Então 1 0 0 1 1 1( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ... . m m n m m m np x q x a b a b x a b x a x a x + ++ = + + + + + + + + + Desde que 0na ≠ temos que ( ) ( ) 0p x q x+ ≠ , e também ( ) ( ) { , } ( ) , ( )( ) { ( ) ( )}p x q x n máx n m máx p x q x∂ + = = = ∂ ∂ . (3) Escrevendo 20 1 2( ) ( ) ...p x q x c c x c x= + + + , k i j i j k c a b + = = ∑ , e lembrando que 0ia = para i n> , pois ( )( )p x n∂ = e 0jb = para j m> , pois ( )( )q x m∂ = , vemos que 0kc = para k n m> + . De fato, quando k n m> + , cada uma das parcelas de somatório k i j i j k c a b + = = ∑ envol- ve ia com i n> ou jb com j m> , portanto todas as par- celas são nulas. Conseqüentemente, 0kc = para k n m> + . Segue que 20 1 2( ) ( ) ... n m n mp x q x c c x c x c x + += + + + + , e então 2 0 1 2( ) ( ) ... n m n mp x q x c c x c x c x + += + + + + . 27 (4) Novamente, escreva 20 1 2( ) ( ) ...p x q x c c x c x= + + + , k i j i j k c a b + = = ∑ . Lembre que 0na ≠ e 0mb ≠ , pois ( )( )p x n∂ = e ( )( )q x m∂ = . Vi- mos na demonstração do item anterior que 0kc = para k n m> + . Além disso,note que 0 1 1 1 1 1 1 0... ...n m n m n m n m n m m m n m n mc a b a b a b a b a b a b a b+ + + − − + + − += + + + + + + + = 0 1 1 1 1 1 1 0... ...n m n m n m n m n m m m n m n mc a b a b a b a b a b a b a b+ + + − − + + − += + + + + + + + = , pois 0ia = para i n> e 0jb = para j m> . Como A é domínio e 0n ma b≠ ≠ , temos que 0n m n mc a b+ = ≠ . Por- tanto, ( ) ( ) 0p x q x ≠ e ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )p x q x n m p x q x∂ = + = ∂ + ∂ . Os próximos exemplos mostram que de fato pode ocorrer desi- gualdade estrita nos itens (1) e (3) da Proposição 1.1.1. Exemplo 1.1.7 Sejam 3( ) 2 2 5p x x x= + + , 2 3( ) 1 2 5 [ ]q x x x x x= + + − ∈ . Então 2( ) ( ) 3 3 2p x q x x x+ = + + e ( ) ( ) 2 3 ( ) , ( )( ) ( ) { ( ) ( )}p x q x máx p x q x∂ + = < = ∂ ∂ . Exemplo 1.1.8 Sejam 2( ) 1 2p x x= + , 3 4( ) 2 3 2 [ ]q x x x x= + + ∈ . En- tão 3 2 3 5( ) ( ) 2 3 2 4 6 4 2 3p x q x x x x x x x= + + + + + = + e ( ) ( ) 1 2 3 ( ) ( )( ) ( ) ( )p x q x p x q x∂ = < + = ∂ + ∂ . Proposição 1.1.2 Se A é um domínio, então o conjunto dos elementos inversíveis de A e de [ ]A x coincidem, isto é, ( ) [ ]( )A A x= . Demonstração. A inclusão ( ) [ ]( )A A x⊆ é imediata, pois [ ]A A x⊆ . Tome agora ( ) [ ]( )f x A x∈ . Então existe ( ) [ ]g x A x∈ tal que ( ) ( ) 1f x g x = . Assim, ( ) 0f x ≠ e ( ) 0g x ≠ . Como [ ]A x é domínio, pois A é domínio, segue da Proposição 1.1.1 (4) que 0 (1) ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )f x g x f x g x= ∂ = ∂ = ∂ + ∂ . Portanto, ( ) ( ) 0( ) ( )f x g x∂ = ∂ = , isto é, ( )f x a A= ∈ , ( )g x b A= ∈ e 1ab = . Logo, ( ) ( )f x a A= ∈ . 28 Corolário 1.1.1 Nenhum anel de polinômios é corpo. Demonstração. Seja A um anel, e suponha que [ ]A x é corpo. En- tão ( ) [ ] [ ]( )A A x A x ∗= = . Como A é subanel com unidade de [ ]A x temos que A é domínio. Pela Proposição 1.1.2 concluímos que ( ) [ ] [ ]( )A A x A x ∗= = o que é absurdo. Exemplo 1.1.9 A Proposição 1.1.2 permite concluir que: • [ ] ( ) { 1}( )x = = ± ; • [ ] ( )( )x ∗= = ; • [ ] ( )( )x ∗= = ; • [ ] ( )( )p p px ∗= = , p um número primo; • Se K é corpo qualquer, então [ ] ( )( )K x K K ∗= = . 29 Lista de Exercícios 1) Sejam 2( ) ( 1)f x a x bx c= − + + e 2( ) 2 2g x ax bx c= + − polinô- mios de [ ]x , determine os possíveis valores para ,a b e c de forma que valha a igualdade ( ) ( )f x g x= . 2) Dados 3( ) 1 5 3f x x x= + + , 2( ) 7g x x x= − , 2 4( ) 1 3 [ ]h x x x x= − + ∈ , calcule: a) ( ) ( )f x g x+ , ( ) ( )f x g x− e ( ) ( )h x g x− . b) ( ) ( )f x g x , ( ) ( )f x h x e ( ) ( )g x h x . 3) Sejam ( )f x A Bx= + , 2 2( ) ( ) [ ]( )g x C Bx Ax M x= + + ∈ , onde 1 0 0 0 A = , 0 2 3 0 B = e 3 0 0 1 C = . Calcule 2( )( )f x e 2( ) ( )( )f x g x− . 4) Justifique cada uma das afirmações abaixo: a) [ ]K x não é corpo, mesmo que K seja corpo. b) 4 [ ]x é anel comutativo com unidade. c) 4 [ ]x não é domínio. d) ( ) [ ]( )nM x é anel com unidade. e) ( ) [ ]( )nM x não é anel comutativo quando 1n > . 5) Verifique se cada um dos conjuntos abaixo é subanel de [ ]x : a) 0 1 0... [ ]; é par{ }nnA a a x a x x a= + + + ∈ . b) 0 1 0... [ ]; 3 = 0{ }nnB a a x a x x a= + + + ∈ . c) 0 1 0 1... [ ]; 0{ }nnC a a x a x x a a= + + + ∈ + = . 6) Determine todos os polinômios de grau 1 do anel 3 [ ]x . 30 7) Quantos polinômios de grau m existem em [ ]n x ? 8) Sejam A um domínio e ( )f x , ( ) [ ]g x A x∈ . Se ( ) ( ) 5( )f x g x∂ + = e ( ) ( ) 2( )f x g x∂ − = , determine ( ) ( )( )f x g x∂ , 2 2( ) ( )( ) ( )( )f x g x∂ − e 2 2( ) ( )( ) ( )( )f x g x∂ + . 9) Sejam A um domínio e ( )f x , ( ) [ ]g x A x∈ , tais que 2( ) 8( )( )f x∂ = e ( ) 7( )g x∂ = . Determine ( ) ( )( )f x g x∂ + , ( ) ( )( )f x g x∂ − e 2 2( ) 3 ( ) ( ) 4 ( ) ( )( ) ( )( )f x f x g x f x g x∂ + + . 10) Seja 2 3 2 2( ) (2 3) ( 1) ( 1) 3 [ ]f x a a x a x a x x= + − + − + + − ∈ . Determine, em função de a , o grau de ( )f x . 11) Seja um polinômio inversível. Determine , ,a b c e 1( )( )f x − . 3 2( ) ( 1) ( 2) ( 5) ( 1) [ ]f x a x a b x b c x c a x= − + − − + − + + − − ∈ 31 1.2 Algoritmo da Divisão e Raízes Lembre que se ,a b∈ e 0b ≠ , então existem únicos ,q r∈ tais que a b q r= + com 0 r b≤ < . Este é o processo de divisão conhecido como algoritmo de Eu- clides em . Nesta seção verificaremos que se ( )f x , ( ) [ ]g x K x∈ , K corpo e ( ) 0g x ≠ , então sempre é possível dividir ( )f x por ( )g x , ob- tendo quociente e resto únicos em [ ]K x . O procedimento usado para obter o quociente e o resto é o algoritmo de Euclides para polinômios. Veremos que tal algoritmo é útil para estudar raízes de polinômios. Dados ( )f x , ( ) [ ]g x x∈ , ( ) 0g x ≠ , sabemos efetuar a divisão de ( )f x por ( )g x , utilizando um processo estudado no ensino médio. Veja o exemplo abaixo. Exemplo 1.2.1 Sejam 3 2( ) 4 6 4 3f x x x x= + + + , 2( ) 2 1 [ ]g x x x x= + + ∈ . Dividir ( )f x por ( )g x e identificar o quociente e o resto. 3 2 2 3 2 2 2 4 6 4 3 2 1 (4 2 2 ) 2 2 4 2 3 (4 2 2) 1 x x x x x x x x x x x x x + + + + + − + + + + + − + + 3 2 24 6 4 3 (2 1) (2 2) 1x x x x x x+ + + = + + + + ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + . O quociente é ( ) 2 2q x x= + . O resto é ( ) 1r x = . O procedimento usado no Exemplo 1.2.1 para dividir ( )f x por ( )g x foi reduzir, em cada etapa, o grau do dividendo até que restas- se um polinômio cujo grau fosse menor que o grau de ( )g x . Pode- ria ocorrer, em um outro exemplo, que restasse o polinômio nulo. O que nos interessa no momento é observar que o grau de ( )g x é usa- 32 do como critério de parada. De outra forma, para dividir ( )f x por ( ) 0g x ≠ , reduzimos o grau do dividendo até que reste o polinômio nulo ou um polinômio de grau menor que o grau de ( )g x . No teorema abaixo, provamos que o procedimento para divi- dir polinômios com coeficientes em um corpo sempre pode ser aplicado. Além disso, o quociente e o resto obtidos são únicos. Teorema 1.2.1 Algoritmo de Euclides. Sejam K um corpo, ( )f x , ( ) [ ]g x K x∈ e ( ) 0g x ≠ . Então existem úni- cos ( )q x , ( ) [ ]r x K x∈ tais que ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ . Demonstração. Se ( ) 0f x = tome ( ) ( ) 0q x r x= = . Podemos admitir ( ) 0f x ≠ , e como ( ) 0g x ≠ , escrevemos 0 1( ) ... n nf x a a x a x= + + + , ( )( )f x n∂ = . 0 1( ) ... m mg x b b x b x= + + + , ( )( )g x m∂ = . 1° Caso: ( ) ( )( ) ( )f x g x∂ < ∂ Tome ( ) 0q x = e ( ) ( )r x f x= . 2° Caso: ( ) ( )( ) ( )f x g x∂ ≥ ∂ Vamos usar o Segundo Princípio de Indução sobre ( )( )n f x= ∂ . Se 0n = , então 0( )f x a K= ∈ . 00 ( ) ( ) ( ) 0 ( )( ) ( ) ( )n f x g x g x g x b K= = ∂ ≥ ∂ ⇒ ∂ = ⇒ = ∈ . Como 00 ( )g x b K≠ = ∈ , temos que 1 0b K − ∈ . Tome 10 0( )q x b a −= e ( ) 0r x = . É claro que 1 0 0 0 0( ) ( ) 0 ( ) ( ) ( )f x a b b a g x q x r x −= = + = + , com ( ) 0r x = . Agora consideramos 1n ≥ e nossa hipótese de indução é: “Se ( ) [ ]h x K x∈ , ( ) 0h x ≠ e ( )( )h x n∂ < , existem 1 ( )q x , 1 ( ) [ ]r x K x∈ tais que 1 1( ) ( ) ( ) ( )h x g x q x r x= + , com 1( ) 0r x = ou 1( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ ”. 33 Agora considere o polinômio 1( ) ( ) ( )( )n mn mh x f x a b x g x− −= − . (*) Se ( ) 0h x = , então ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = e 1( ) n mn mq x a b x − −= . Se ( ) 0h x ≠ , podemos calcular seu grau. E pela escolha de ( )h x temos ( )( )h x n∂ < . Usando a hipótese de indução obte- mos 1( )q x , 1( ) [ ]r x K x∈ tais que 1 1( ) ( ) ( ) ( )h x g x q x r x= + , com 1( ) 0r x = ou 1 ( ) ( )( ) ( )rx g x∂ < ∂ . Substituindo em (*) e isolando ( )f x , vem que 1 1 1( ) ( ) ( ) ( )( )n mn mf x g x q x a b x r x− −= + + . Chame 11( ) ( ) n m n mq x q x a b x − −= + e 1( ) ( )r x r x= . Então ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ . Isso prova a existência de ( )q x e ( )r x como enunciado. Resta verificar a unicidade. Sejam ( )q x , ( )q x , ( )r x , ( ) [ ]r x K x∈ tais que ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ . Temos agora a igualdade ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )g x q x q x r x r x− = − . Suponha ( ) ( )q x q x≠ . Então ( ) ( ) 0q x q x− ≠ e ( ) ( ) 0r x r x− ≠ . Logo, ( ( )) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )( ) ( ) ( )g x q x q x g x r x r x g x∂ ≤ ∂ − = ∂ − < ∂ . Essa contradição diz que não podemos supor ( ) ( )q x q x≠ . Por- tanto, ( ) ( )q x q x= . A igualdade ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )g x q x q x r x r x− = − fica 0 ( ) ( )r x r x= − . Isso assegura que ( ) ( )r x r x= . 34 Observação 1.2.1 Vimos que se K é um corpo, então vale o algo- ritmo de Euclides em [ ]K x . Usamos a função grau, indicada por ∂ , como critério de parada. Por isso, dizemos que ( [ ], )K x ∂ é um domínio Euclidiano. Exemplo 1.2.2 Sejam 3 2( ) 2 1f x x x x= + + + , 3( ) 2 2 [ ]g x x x= + ∈ . Determinar o quociente e o resto da divisão de ( )f x por ( )g x . ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com 2( ) 2 2q x x x= + e ( ) 1r x = . Exemplo 1.2.3. Sejam ( ) 2 3f x x= + , ( ) 3 [ ]g x x= ∈ . Determinar o quociente e o resto da divisão de ( )f x por ( )g x . ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com 2( ) 1 3 q x x= + e ( ) 0r x = . No exemplo acima, observamos que ( ) 2 3f x x= + e ( ) 3g x = também são polinômios do domínio [ ]x . No entanto, não é pos- sível usar o algoritmo de Euclides para efetuar a divisão de ( )f x por ( )g x em [ ]x . Basta notar que o algoritmo de Euclides for- neceria um único quociente ( ) [ ] [ ]q x x x∈ ⊆ , mas o Exemplo 1.2.3 mostrou que tal quociente é 2( ) 1 [ ] 3 q x x x= + ∉ . O fato de não podermos aplicar o algoritmo de Euclides para quaisquer ( )f x , ( ) [ ]g x x∈ , ( ) 0g x ≠ ocorre porque não satis- faz as hipóteses do Teorema 1.2.1, pois não é corpo. 35 Veremos a seguir que o algoritmo de Euclides pode ser aplicado, com restrições, para efetuar a divisão do polinômio ( ) [ ]f x A x∈ pelo polinômio ( ) [ ]g x A x∈ , ( ) 0g x ≠ , quando A é anel comutati- vo com unidade. A restrição é que o coeficiente do termo de maior grau de ( )g x seja um elemento inversível do anel A . Teorema 1.2.2 Seja A um anel comutativo com unidade. Dados ( )f x , ( ) [ ]g x A x∈ , 0 1( ) ... m mg x b b x b x= + + + com ( )mb A∈ , existem úni- cos ( )q x , ( ) [ ]r x A x∈ tais que ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ . Demonstração. Para provar a existência de ( )q x , ( ) [ ]r x A x∈ , procedemos da mesma maneira como fizemos na prova do Teo- rema 1.2.1. Vamos mostrar a unicidade. Sejam ( )q x , ( )q x , ( )r x , ( ) [ ]r x A x∈ tais que ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ ( ) ( ) ( ) ( )f x g x q x r x= + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( )( ) ( )r x g x∂ < ∂ . Isso fornece a igualdade ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )g x q x q x r x r x− = − . Suponha ( ) ( ) 0q x q x− ≠ . Afirmação: ( ) ( ) ( ) 0( )g x q x q x− ≠ e ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( )( )g x q x q x g x∂ − ≥ ∂ . Escreva 0 1( ) ( ) ... t tq x q x c c x c x− = + + + , com 0tc ≠ . Se ( ) ( ) ( ) 0( )g x q x q x− = vem que 0m tb c = , e daí, 1 0m m tb b c− = , que leva à contradição 0tc = . Logo, ( ) ( ) ( ) 0( )g x q x q x− ≠ . Desde que 0m tb c ≠ , temos: ( ) ( ) ( ) ( )( )( ) ( )g x q x q x m t m g x∂ − = + ≥ = ∂ . Da afirmação acima podemos concluir que ( ) 0r x ≠ e ( ) 0r x ≠ . De fato, se ( ) 0r x = , então ( ) ( ) ( ) ( )( )g x q x q x r x− = . Olhando para o grau, chegamos ao absurdo ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )( ) ( ) ( ) ( )g x g x q x q x r x g x∂ ≤ ∂ − = ∂ < ∂ . 36 Assim, ( ) 0r x ≠ , e analogamente ( ) 0r x ≠ . Isso garante que pode- mos falar em ( )( )r x∂ e ( )( )r x∂ . Finalmente, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) , ( ) ( )( ) { ( ) ( )}( ) ( ) ( ) ( ).g x g x q x q x r x r x máx r x r x g x∂ ≤ ∂ − = ∂ − ≤ ∂ ∂ < ∂ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) , ( ) ( )( ) { ( ) ( )}( ) ( ) ( ) ( ).g x g x q x q x r x r x máx r x r x g x∂ ≤ ∂ − = ∂ − ≤ ∂ ∂ < ∂ A contradição acima mostra que não podemos ter ( ) ( ) 0q x q x− ≠ . Portanto, ( ) ( )q x q x= e conseqüentemente ( ) ( )r x r x= . Observação 1.2.2 O teorema anterior assegura, em particular, que em [ ]x podemos dividir qualquer polinômio ( )f x por ( ) ng x x a= − , a∈ e n ∗∈ . Definição 1.2.1 Sejam A um anel e ( )f x , ( ) [ ]g x A x∈ . Dizemos que ( )g x divide ( )f x em [ ]A x quando existe ( ) [ ]h x A x∈ tal que ( ) ( ) ( )f x g x h x= . Notação. ( ) | ( )g x f x . Definição 1.2.2 Sejam A um anel, 0 1( ) ... [ ] n nf x a a x a x A x= + + + ∈ e Aa ∈ . Chamamos de valor de ( )f x em o elemento 2 0 1 2( ) ... n nf a a a a = + + + + . Como A é anel e 0 1, , ,..., na a a Aa ∈ , temos que ( )f A ∈ . Definição 1.2.3 Sejam A um anel e ( ) [ ]f x A x∈ . Dizemos que Aa ∈ é raiz de ( )f x quando ( ) 0f = . A próxima proposição e seu corolário relacionam o algoritmo de Euclides com valor de polinômio em um elemento, e divisibili- dade de polinômio com raiz. De forma mais precisa: a proposição diz que o resto da divisão Euclidiana de ( )f x , por x − é ( )f , e o corolário assegura que é raiz de ( )f x se, e somente se, x − divide ( )f x . Proposição 1.2.1 Sejam A um anel comutativo com unidade e Aa ∈ . Para ( ) [ ]f x A x∈ existe ( ) [ ]q x A x∈ tal que ( ) ( ) ( ) ( )f x x q x f = − + . 37 Demonstração. Como Aa ∈ , temos [ ]x A x− ∈ . De acordo com o Teorema 1.2.2, existem ( )q x , ( ) [ ]r x A x∈ tais que ( ) ( ) ( ) ( )f x x q x r x= − + , com ( ) 0r x = ou ( ) ( ) 1( ) ( )r x x ∂ < ∂ − = . Isso assegura que ( )r x é constante. Avaliando ( )f x no ponto temos ( ) ( ) ( ) ( ).f q r = − + Como ( )r x é constante e ( ) ( )r f = , temos que ( ) ( )r x f = . Logo, ( ) ( ) ( ) ( ).f x x q x f = − + Corolário 1.2.1 Sejam A um anel comutativo com unidade, Aa ∈ e ( ) [ ]f x A x∈ . São equivalentes: (a) é raiz de ( )f x . (b) ( ) | ( )x f x− . Demonstração. (a) ⇒ (b) De acordo com a Proposição 1.2.1, existe ( ) [ ]q x A x∈ tal que ( ) ( ) ( ) ( )f x x q x f = − + . Como é raiz de ( )f x , temos ( ) 0f = . Segue que ( ) | ( ).x f x− (b) ⇒ (a) Por hipótese, existe ( ) [ ]q x A x∈ tal que ( ) ( ) ( )f x x q x= − . Avaliando ( )f x em , temos ( ) ( ) ( ) 0.f q = − = Logo é raiz de ( )f x . Observação 1.2.3 O corolário acima é devido a D’Alembert (1717 – 1783). Exemplo 1.2.4 Determine o resto da divisão de 4 3 2( ) 2 2 3f x x x x x= − + − − por ( ) 1g x x= − , em [ ]x . Pela Proposição 1.2.1, o resto procurado é ( ) (1) 2 1 1 2 3 3r x f= = − + − − = − . 38 Exemplo 1.2.5 Determine o resto da divisão de 5 4 3 2( ) 1f x x x x x x= + + + + + por ( ) 1g x x= + , em [ ]x . Desde que ( ) ( 1)g x x= − − , o resto procurado é ( ) ( 1) 0r x f= − = . Exemplo 1.2.6 Determinar k∈ tal que 4 2( ) 2 8f x x kx x= + + − seja divisível por ( ) 2g x x= + , em [ ]x . De acordo com o Corolário 1.2.1, isso ocorre exatamente quando ( 2) 0f − = . Fazendo as contas, 0 ( 2) 16 4 4 8f k= − = + − − 1k = − . Exemplo 1.2.7 Determinar a e b em tais que 1( ) 1g x x= + e 2 ( ) 2g x x= + dividam3 2( ) 2 2f x x ax bx= + + − . Devemos ter ( 1) 0f − = e ( 2) 0f − = . 0 ( 1) 2 2 0 ( 2) 16 4 2 2 f a b f a b = − = − + − − = − = − + − − 4 2 9 a b a b − = − = Logo, 5a = e 1b = . Exemplo 1.2.8 Um polinômio ( )f x dividido por ( 3)x − tem resto 6 , e dividido por ( 5)x − , tem resto 8 . Calcular o resto da divisão de ( )f x por ( 3) ( 5)x x− − . Pela Proposição 1.2.1 sabemos que (3) 6f = e (5) 8f = . Pelo algoritmo de Euclides, ( ) ( 3) ( 5) ( ) ( )f x x x q x r x= − − + com ( ) 0r x = ou ( ) 2( )r x∂ < . Segue que ( )r x é da forma ( )r x a bx= + , então basta calcular a e b . Note que 6 (3) (3) 3f r a b= = = + 8 (5) (5) 5f r a b= = = + . Isso fornece o sistema 3 6 5 8 a b a b + = + = . Logo, 3a = e 1b = , isto é, ( ) 3r x x= + . 39 Veremos agora que o grau de um polinômio, com coeficientes em um domínio, é uma cota superior para o número de raízes deste polinômio. Proposição 1.2.2 Sejam A um domínio, ( ) [ ]f x A x∈ e ( ) 0f x ≠ . En- tão o número de raízes de ( )f x em A não ultrapassa ( )( )f x∂ . Demonstração. Desde que ( ) 0f x ≠ , podemos falar em grau de ( )f x . Seja ( )( )n f x= ∂ . Faremos a demonstração usando o Pri- meiro Princípio de Indução sobre n . Se 0n = então 0( ) 0f x a= ≠ . Logo ( )f x não tem raiz e a proposi- ção está provada. Seja 0n > e admita que todo polinômio de grau 1n − tenha no máximo 1n − raízes em A . Note que se ( )f x não tem raiz em A , nada temos para fazer, pois neste caso o número de raízes é 0 , que é menor que ( )( )f x n∂ = . Admita então que ( )f x tenha raiz Aa ∈ . Pelo Corolário 1.1.1, po- demos escrever ( ) ( ) ( )f x x q x= − , ( ) [ ]q x A x∈ . Se ( )f x só possui a raiz em A , temos que o número de raízes é 1 ( )( )f x≤ ∂ . Se ( )f x tem raiz Ab ∈ e b a≠, então é raiz de ( )q x . De fato, 0 ( ) ( ) ( )f q = = − , e como b a≠ e A é domínio, vem que ( ) 0q = . Como [ ]A x é domínio, a Proposição 1.1.1 (4) permi- te concluir que ( ) ( ) ( ) 1 ( )( ) ( ) ( ) ( )n f x x q x q x= ∂ = ∂ − + ∂ = + ∂ . Logo, ( ) 1( )q x n∂ = − , e pela hipótese de indução, ( )q x tem no má- ximo 1n − raízes em A . Portanto, ( )f x tem no máximo n raízes em A , pois as raízes de ( )f x são e as raízes de ( )q x . A Proposição 1.2.2 assegura que um polinômio não nulo de grau n com coeficientes em , , , , p , p , p , primop = primo, tem no máximo n raízes. O exemplo seguinte mostra que a hipótese de A ser domínio é essencial para limitarmos o número de raízes pelo grau do polinômio. 40 Exemplo 1.2.9 O polinômio 2( )f x x x= + tem 4 raízes em 6 . De fato: (0) 0 0 é raiz (1) 2 1 não é raiz (2) 0 2 é raiz (3) 0 3 é raiz (4) 2 4 não é raiz (5) 0 5 é raiz. f f f f f f = ⇒ = ⇒ = ⇒ = ⇒ = ⇒ = ⇒ Uma conseqüência interessante da Proposição 1.2.2 é que dois polinômios de grau n , com coeficientes em um domínio, coinci- dem quando seus valores coincidirem em 1n + pontos distintos. Corolário 1.2.2 Sejam A um domínio, ( )f x , ( ) [ ]g x A x∈ e ( ) ( )( ) ( )f x g x n∂ = ∂ = . Se existirem 1, 2,...,n+11 2 1, ,..., n Aa a a + ∈ , dois a dois distin- tos, tais que ( ) ( )i if g = , 1,2,..., 1i n= + , então ( ) ( )f x g x= . Demonstração. Suponha que ( ) ( )f x g x≠ . Então ( ) ( ) ( ) [ ]h x f x g x A x= − ∈ , ( ) 0h x ≠ e ( )( )h x n∂ ≤ . Para cada {1,2,..., 1}i n∈ + , temos ( ) ( ) ( ) 0.i i ih f g = − = Isso diz que ( )h x tem mais de n raízes em A , contradizendo a Proposição 1.2.2. Portanto, ( ) ( )f x g x= . Sejam A um anel comutativo com unidade, Aa ∈ e ( ) [ ]f x A x∈ ( ) 0f x ≠ . Sabemos que é raiz de ( )f x ⇔ ( ) | ( )x f x− . Neste caso, podemos escrever 1( ) ( ) ( )f x x q x= − , 1( ) [ ]q x A x∈ . • Se 1( ) 0q ≠ , então não é raiz de 1( )q x , e dizemos que é uma raiz simples (ou raiz de multiplicidade 1) de ( )f x . Se • 1( ) 0q = então é raiz de 1( )q x e dizemos que é raiz múltipla de ( )f x . Como 1( ) | ( )x q x− , podemos escrever 1 2( ) ( ) ( )q x x q x= − , 2 ( ) [ ]q x A x∈ 2 2( ) ( ) ( ).f x x q x= − 41 Se • 2 ( ) 0q ≠ , então é raiz de multiplicidade 2 de ( )f x . Se • 2 ( ) 0q = , então é raiz de 2 ( )q x e 2( ) | ( )x q x− . Segue que 2 3( ) ( ) ( )q x x q x= − , 3 ( ) [ ]q x A x∈ 3 3( ) ( ) ( ).f x x q x= − Se • 3 ( ) 0q ≠ , então a é raiz de multiplicidade 3 de ( )f x . Se • 3 ( ) 0q = , seguimos o processo. Proposição 1.2.3 O processo descrito acima é finito, isto é, existe r ∗∈ tal que ( ) ( ) ( )r rf x x q x= − , com ( ) [ ]rq x A x∈ e ( ) 0rq ≠ . Demonstração. Seja ( )( )n f x= ∂ e suponha que o processo não seja finito. Então podemos escrever 1 1( ) ( ) ( ) n nf x x q x + += − , com 1( ) [ ]nq x A x+ ∈ e 1( ) 0nq + = . Segue que 1 1( ) ( ) ( ) .( ) ( )n nx q x f x n + +∂ − = ∂ = Por outro lado, como 1( ) 0nq x+ ≠ , podemos escrever: 1 0 1( ) ... t n tq x a a x a x+ = + + + , com 0ta ≠ e 0t ≥ . Segue que o termo de maior grau do polinômio 1 1( ) ( ) n nx q x + +− é 1 1n t n tt tx a x a x + + += . Logo, 1 1( ) ( ) 1( )n nx q x n t n + +∂ − = + + > , o que é uma contradição. Portanto, o processo é finito, ou seja, existe r ∗∈ tal que ( ) ( ) ( )r rf x x q x= − , com ( ) [ ]rq x A x∈ e ( ) 0rq ≠ . Definição 1.2.4 Sejam A um anel comutativo com unidade e Aα∈ uma raiz de ( ) [ ]f x A x∈ , ( ) 0f x ≠ . Dizemos que é raiz de multi- plicidade r , r ∗∈ quando ( ) ( ) ( )rf x x q x= − , com ( ) [ ]q x A x∈ e ( ) 0q ≠ . Observação 1.2.4 Com a notação usada na definição anterior, te- mos que é raiz de multiplicidade r de ( )f x exatamente quando ( ) | ( )rx f x− e 1( ) | ( )rx f x +− / . 42 Observação 1.2.5 A multiplicidade de raiz não está definida para o polinômio nulo. Exemplo 1.2.10 Determinar a multiplicidade da raiz 2 do polinô- mio 4 3 2( ) 3 5 2f x x x x x= + − − − . Dividindo ( )f x por 2x − temos 3 2( ) ( 2) ( 3 3 1)f x x x x x= − + + + . Como 2 não é raiz de 3 21( ) 3 3 1q x x x x= + + + , pois 1(2) 0q ≠ , te- mos que 2 é raiz simples (multiplicidade 1) de ( )f x . Exemplo 1.2.11 Determinar a multiplicidade da raiz 1− do poli- nômio 4 3 2( ) 3 5 2 [ ]f x x x x x x= + − − − ∈ . Dividindo ( )f x por 1x + temos 3( ) ( 1) ( 3 2)f x x x x= + − − . Como 1− é raiz de 31( ) 3 2q x x x= − − , pois 1( 1) 0q − = , dividimos 1( )q x por 1x + . 2 1( ) ( 1) ( 2)q x x x x= + − − . Como 1− é raiz de 22 ( ) 2q x x x= − − , pois 2 ( 1) 0q − = , dividimos 2 ( )q x por 1x + . 2 ( ) ( 1) ( 2)q x x x= + − . É claro que 1− não é raiz de 3 ( ) ( 2)q x x= − . Assim, 3( ) ( 1) ( 2)f x x x= + − e 1− é raiz de multiplicidade 3 de ( )f x . Determinar a multiplicidade de uma raiz, fazendo divisões, pode ser um trabalho demorado quando a multiplicidade é um número relativamente grande. Existe um procedimento mais prá- tico para determinar a multiplicidade. Este procedimento usa o conceito de derivada formal de um polinômio. Definição 1.2.5 Sejam A um anel comutativo com unidade e 0 1( ) ... [ ] n nf x a a x a x A x= + + + ∈ . Chamamos de derivada formal de ( )f x o polinômio 2 1 1 2 3( ) 2 3 ... [ ] n nf x a a x a x na x A x −= + + + + ∈ . 43 Por recorrência, (2)( ) ( )f x f x= é a derivada formal de ( )f x , (3)( ) ( )f x f x= é a derivada formal de (2) ( )f x , ( ) ( )rf x é a derivada formal de ( 1) ( )rf x− . Observação 1.2.6 No caso em que o anel A é o corpo dos números reais, a definição de derivada formal de um polinômio coincide com a definição de derivada estudada no curso de cál- culo. A palavra “formal” se deve ao fato de que em um anel qual- quer nãotemos o conceito de limite, como estudado em , que leva à definição de derivada. Exemplo 1.2.12 A derivada formal de 2( ) (2 3 ) (1 ) ( 3 2 ) [ ]f x i i x i x x= + + − + + ∈ é ( ) (1 ) (2 3 4 )f x i i x= − + + . O lema a seguir mostra que as regras de derivação da soma e do produto de polinômio valem para a derivada formal. Lema 1.2.1 Sejam A um anel comutativo com unidade e ( )f x , ( ) [ ]g x A x∈ . (a) ( ) ( ) ( ) ( )( )f x g x f x g x+ = + . (b) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )f x g x f x g x f x g x= + . Demonstração. Sejam 0 1( ) ... n nf x a a x a x= + + + 0 1( ) ... m mg x b b x b x= + + + . Sem perda de generalidade, consideramos que n m≥ (a) 1 1 1 1 2 2 1( ) ( ) 2( ) ... ( ) ( 1) ...( ) m m nm m m nf x g x a b a b x m a b x m a x na x− −++ = + + + + + + + + + + ( ) 1 11 1 2 2 1( ) ( ) 2( ) ... ( ) ( 1) ...m m nm m m nf x g x a b a b x m a b x m a x na x− −++ = + + + + + + + + + + 1 1 1 2 1( 2 ... ( 1) ... ) m m n m m na a x ma x m a x n a x − − += + + + + + + + + 1 1 2( 2 ... ) m mb b x mb x −+ + + + ( ) ( )f x g x= + . 1 0 0 1 1 1( ) ( ) ( ) ( ) ... ( ) ... . m m n m m m nf x g x a b a b x a b x a x a x + ++ = + + + + + + + + + 44 (b) Escreva 0 1( ) ( ) ... n m n mf x g x c c x c x + += + + + onde k i j i j k c a b + = = ∑ . 1 1 1 2( ) ( ) 2 ... ... ( )( ) m n mm n mf x g x c c x mc x n m c x− + −+= + + + + + + 1 0 1 1 0 0 2 1 1 2 0 0 1 1 0( ) 2( ) ... ( ... ) ... m m m ma b a b a b a b a b x m a b a b a b x − −= + + + + + + + + + + 1 0 1 1 0 0 2 1 1 2 0 0 1 1 0( ) 2( ) ... ( ... ) ... m m m ma b a b a b a b a b x m a b a b a b x − −= + + + + + + + + + + 1 1 1 1 0... ( ... ) ... ( ) . n n m n m m n m m n n mn a b a b a b x n m a b x − + − − − + −+ + + + + + + 1 1 1 1 0... ( ... ) ... ( ) . n n m n m m n m m n n mn a b a b a b x n m a b x − + − − − + −+ + + + + + + Fazendo agrupamentos convenientes, chegamos a 1 1 0 1 2 1 1 2( ) ( ) ( 2 ... ) ( 2 ... ) ...( ) m mm mf x g x a b b x mb x a x b b x mb x− −= + + + + + + + + + 1 1 0 1 2 1 1 2( ) ( ) ( 2 ... ) ( 2 ... ) ...( ) m mm mf x g x a b b x mb x a x b b x mb x− −= + + + + + + + + + 11 2 1 0 1( 2 ... ) ( ... )n m mn m ma x b b x mb x a b b x b x−+ + + + + + + + + 1 1 2 1 0 1( 2 ... ) ( ... ) n m m n m ma x b b x mb x a b b x b x −+ + + + + + + + + 12 0 1 0 12 ( ... ) ... ( ... ) m n m m n ma x b b x b x na x b b x b x −+ + + + + + + + + 1 2 0 1 0 12 ( ... ) ... ( ... ) m n m m n ma x b b x b x na x b b x b x −+ + + + + + + + + 1 1 2 0 1( 2 ... ) ( ... ) n m n ma a x na x b b x b x −= + + + + + + + 1 0 1 1 2( ... ) ( 2 ... ) n m n ma a x a x b b x mb x −+ + + + + + + ( ) ( ) ( ) ( )f x g x f x g x= + . Proposição 1.2.4 Sejam A um domínio, Aa ∈ e ( ) [ ]f x A x∈ , ( ) 0f x ≠ . São equivalentes: (i) é raiz de multiplicidade r de ( )f x . (ii) ( 1)( ) ( ) ( ) ... ( ) 0rf f f f −= = = = = e ( ) ( ) 0rf ≠ . Demonstração. (i) ⇒ (ii) Usaremos o Primeiro Princípio de Indu- ção sobre r . Quando 1r = , temos ( ) ( ) ( )f x x q x= − para algum ( ) [ ]q x A x∈ e ( ) 0q ≠ . Segue que ( ) ( ) ( ) ( )f x q x x q x= + − . Assim, ( ) 0f = e ( ) ( ) 0f q = ≠ . Portanto, vale para 1r = . Assuma que (ii) vale para r , isto é, se é raiz de multiplicidade r de ( ) [ ]g x A x∈ , então ( 1)( ) ( ) ... ( ) 0rg g g −= = = = e ( ) ( ) 0rg ≠ . 45 Devemos provar que vale para 1r + . Para tanto, consideramos que é raiz de multiplicidade 1r + de ( )f x . Segue que 1( ) ( ) ( )rf x x q x += − , ( ) [ ]q x A x∈ e ( ) 0q ≠ . Chame ( ) ( ) ( )rg x x q x= − . Como ( ) 0q ≠ , temos que r é raiz de multiplicidade r de ( )g x . Pela hipótese de indução, concluímos que ( 1)( ) ( ) ... ( ) 0rg g g −= = = = e ( ) ( ) 0rg ≠ . Agora ( ) ( ) ( )f x g x x = − e claramente ( ) 0f = . Além disso, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 0f x g x x g x f g = − + ⇒ = = ; ( ) ( ) ( ) 2 ( ) ( ) 2 ( ) 0f x g x x g x f g = − + ⇒ = = ; ( 1) ( 1) ( 2) ( 1) ( 2)( ) ( ) ( ) ( 1) ( ) ( ) ( 1) ( ) 0r r r r rf x g x x r g x f r g − − − − −= − + − ⇒ = − = ( 1) ( 1) ( 2) ( 1) ( 2)( ) ( ) ( ) ( 1) ( ) ( ) ( 1) ( ) 0r r r r rf x g x x r g x f r g − − − − −= − + − ⇒ = − = ; ( ) ( ) ( 1) ( ) ( 1)( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 0r r r r rf x g x x r g x f r g − −= − + ⇒ = = ( ) ( ) ( 1) ( ) ( 1)( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 0r r r r rf x g x x r g x f r g − −= − + ⇒ = = ; ( 1) ( 1) ( ) ( 1) ( )( ) ( ) ( ) ( 1) ( ) ( ) ( 1) ( ) 0r r r r rf x g x x r g x f r g + + += − + + ⇒ = + ≠ ( 1) ( 1) ( ) ( 1) ( )( ) ( ) ( ) ( 1) ( ) ( ) ( 1) ( ) 0r r r r rf x g x x r g x f r g + + += − + + ⇒ = + ≠ . Note, na linha acima, que 1 0r + ≠ e ( ) ( ) 0rg ≠ garante que ( )( 1) ( ) 0rr g + ≠ , pois [ ]A x é domínio. (ii) ⇒ (i) Novamente usaremos o Primeiro Princípio de Indução sobre r . Quando 1r = , a hipótese (ii) diz que ( ) 0f = e ( ) 0f ≠ . De ( ) 0f = temos que é raiz de ( )f x . Escrevemos então ( ) ( ) ( )f x x q x= − , ( ) [ ]q x A x∈ . Derivando: ( ) ( ) ( ) ( ) 0 ( ) ( ).f x q x x q x f q = + − ⇒ ≠ = Segue que é raiz de multiplicidade 1 de ( )f x . Agora vamos assumir que vale para r , isto é, se ( ) [ ]g x A x∈ , ( 1)( ) ( ) ... ( ) 0rg g g −= = = = e ( ) ( ) 0rg ≠ então é raiz de mul- tiplicidade r de ( )g x . Devemos provar que vale para 1r + . Para isso, consideramos ( ) [ ]f x A x∈ com ( )( ) ( ) ... ( ) 0rf f f = = = = e ( 1) ( ) 0rf + ≠ . Desde que ( ) 0f = , temos que é raiz de ( )f x . Vamos verificar que a multiplicidade de é 1r + . 46 Escrevendo ( ) ( ) ( )f x x g x= − , ( ) [ ]g x A x∈ e derivando, temos: ( ) ( ) ( ) ( ) 0 ( ) ( )f x g x x g x f g = + − ⇒ = = ; ( ) 2 ( ) ( ) ( ) 0 ( ) 2 ( ) ( ) 0f x g x x g x f g g = + − ⇒ = = ⇒ = ( ) 2 ( ) ( ) ( ) 0 ( ) 2 ( ) ( ) 0f x g x x g x f g g = + − ⇒ = = ⇒ = ; ( ) ( 1) ( ) ( ) ( 1) ( 1)( ) ( ) ( ) ( ) 0 ( ) ( ) ( ) 0r r r r r rf x r g x x g x f r g g − − −= + − ⇒ = = ⇒ = ( ) ( 1) ( ) ( ) ( 1) ( 1)( ) ( ) ( ) ( ) 0 ( ) ( ) ( ) 0r r r r r rf x r g x x g x f r g g − − −= + − ⇒ = = ⇒ = ; ( 1) ( ) ( 1) ( 1) ( ) ( )( ) ( 1) ( ) ( ) ( ) 0 ( ) ( 1) ( ) ( ) 0r r r r r rf x r g x x g x f r g g + + += + + − ⇒ ≠ = + ⇒ ≠ ( 1) ( ) ( 1) ( 1) ( ) ( )( ) ( 1) ( ) ( ) ( ) 0 ( ) ( 1) ( ) ( ) 0r r r r r rf x r g x x g x f r g g + + += + + − ⇒ ≠ = + ⇒ ≠ . Pela hipótese de indução, é raiz de multiplicidade r de ( )g x . Assim, existe ( ) [ ]q x A x∈ tal que ( ) ( ) ( )rg x x q x= − , ( ) 0.q ≠ Substituindo em ( ) ( ) ( )f x x g x= − , vem que 1( ) ( ) ( )rf x x q x += − , ( ) 0.q ≠ Logo, é raiz de multiplicidade 1r + de ( )f x . Agora vamos refazer o Exemplo 1.2.11 usando a Proposição 1.2.4. Exemplo 1.2.13 Determinar a multiplicidade da raiz 1− como raiz dos polinômios 4 3 2( ) 3 5 2 [ ]f x x x x x x= + − − − ∈ ; ( 1) 0f − = ; 3 2 2 ( ) 4 3 6 5 ( 1) 0 ( ) 12 6 6 ( 1) 0 ( ) 24 6 ( 1) 0 f x x x x f f x x x f f x x f = + − − ⇒ − = = + − ⇒ − = = + ⇒ − ≠ Logo, 1− é raiz de multiplicidade 3 de ( )f x . Dividindo ( )f x por 3( 1)x + , obtemos 3( ) ( 1) ( 2)f x x x= + − . Vimos acima que 4 3 2( ) 3 5 2 [ ]f x x x x x x= + − − − ∈ pode ser escrito como 3( ) ( 1) ( 2)f x x x= + − . Além disso, como 1− é raiz de multiplicidade 3 de ( )f x e 2 é 47 raiz de multiplicidade 1, temos que a soma das multiplicidades das raízes não ultrapassa ( )( )f x∂ . Veremos agora que este resul- tado vale para todo polinômio com coeficientes em um domínio. Proposição 1.2.5 Sejam A um domínio, ( ) [ ]f x A x∈ , ( ) 0f x ≠ e 1, 2,..., t12, ,..., t Aa a a ∈ as raízes distintas de ( )f x com multiplicidade 1 2, ,..., tr r r respectivamente. Então 1 2 ... ( )( )tr r r f x+ + + ≤ ∂ . Demonstração. Como 1 é raiz de multiplicidade 1r , temos 1 1 1( ) ( ) ( ) rf x x q x= − , com 1( ) [ ]q x A x∈ e 1 1( ) 0q ≠ . Como 2 é raiz de ( )f x , 22 1a a≠ 1 e [ ]A x é domínio, segue que 2 é raiz de 1( )q x . Levando em consideração a multiplicidade de a2, escrevemos 1 2 1 2 2( ) ( ) ( ) ( ) r rf x x x q x = − − , com 2 ( ) [ ]q x A x∈ e 2 2( ) 0q ≠ . Seguindo o processo, 1 2 1 2( ) ( ) ( ) ... ( ) ( )t r rr t tf x x x x q x = − − − com ( ) [ ]tq x A x∈ . Usando a propriedade do grau de polinômio em domínios, vem que 1 2 1 2( ) ( ) ( ) ... ( ) ( )( ) ( ) ( ) ( ) ( )t r rr t tf x x x x q x ∂ = ∂ − + ∂ − + + ∂ − + ∂ 1 2 ... ( )( )t tr r r q x= + + + + ∂ 1 2 ... .tr r r≥ + + + Observação 1.2.7 A Proposição 1.2.2 pode ser vista como um caso particular da proposição anterior. De fato, se ( ) [ ]f x A x∈ não tem raiz em A , a Proposição 1.2.2 está provada. Caso tenha raízes em A , o número destas raízes é menor ou igual à soma das multipli- cidades das raízes. Então, pela Proposição 1.2.5 vem que o núme- ro de raízes é menor ou igual a ( )( )f x∂ . 48 Lista de Exercícios 1) Determine o quociente e o resto da divisão de ( )f x por ( )g x . a) 4 2( ) 4 6 2f x x x= − + e 2( ) 1g x x= − em [ ]x . b) 3( ) 4 3f x x x= − + e 2( ) 2 2 6g x x x= + − em [ ]x . c) 2( ) 1f x x= + e ( ) 1g x x= + em 2 [ ]x . 2) Determine ,a b∈ para que 4 3 2( ) 3 2f x x x x ax b= + + + + divi- dido por 2( ) 1g x x x= + + tenha resto 7 5x − . Qual é o quociente? 3) Calcule o resto da divisão de 10 9 8 7 6 5 4 3 2( ) 1f x x x x x x x x x x x= + + + + + + + + + + por ( ) 1g x x= − . 4) Sejam A um anel e ( ) [ ]p x A x∈ . Mostre que a soma dos coeficientes de ( )p x é (1)p . Qual é a soma dos coeficientes de 4 3 2 10( ) (7 3 4 2 1) [ ]p x x x x x x= − − − + ∈ ? 5) Determine o valor de k∈ para que 3 2( ) 3 2f x x x k x= + + seja divisível por 3x + em [ ]x . 6) Determine ( ) [ ]f x x∈ sabendo que ( ) 2( )f x∂ = , 1 2 3 3 f = e que as raízes de ( )f x são 0 e 3 . 7) Um polinômio ( ) [ ]f x x∈ dividido por 1x − tem resto 2 , e dividido por 4x + tem resto 4 . Calcule o resto da divisão de ( )f x por 2 3 4x x+ − . 8) Seja ( ) [ ]f x x∈ . Se a ∈ é raiz de ( )f x , mostre que o con- jugado de também é raiz de ( )f x . 9) Mostre, através de um contra–exemplo, que o resultado do exercício anterior pode não valer quando ( ) [ ]f x x∈ . 49 10) Mostre que, se 2( ) [ ]f x ax bx c x= + + ∈ , 0a ≠ , então as ra- ízes de ( )f x são 2 4 2 b b a c a − ± − . 11) Seja 0 1( ) ... [ ]nnf x a a x a x x= + + + ∈ um polinômio de grau 1n ≥ . a) Mostre que, se r s ∈ , ( , ) 1mdc r s = é raiz de ( )f x , então | ns a e 0|r a . Sugestão: Calcule rf s e iguale a zero. Multiplique por sn. Isole anr n para concluir que s|an. Isole a0s n para concluir que r|a0. b) Conclua que, se 1na = , então toda raiz racional de ( )f x é inteira. c) Conclua que toda raiz inteira de ( )f x deve dividir 0a . 12) Calcule as raízes de 3 2( ) 2 5 6f x x x x= + − − . 13) Calcule as raízes de 3 8( ) [ ]f x x x= ∈ . 14) Calcule a multiplicidade de 1− como raiz de 5 4 3 2( ) 5 8 4f x x x x x x= − − + + + . 15) Determine a e b para que 1 seja raiz de multiplicidade 3 de 5 4 3 2( ) 2 5 9 12f x x ax x bx x= + − + − + . 50 1.3 Irredutibilidade Em Álgebra I, estudamos elementos irredutíveis em um do- mínio qualquer. Agora estudaremos elementos irredutíveis em domínios de polinômios. Tais elementos são chamados de poli- nômios irredutíveis. Veremos que os polinômios irredutíveis são aqueles que não podem ser decompostos como produto de outros polinômios não inversíveis. Desta forma, os polinômios irredutíveis do domínio [ ]D x são os análogos dos números primos do domínio . Em geral, a tarefa de conhecer todos os polinômios irredutíveis de [ ]D x , quando D é domínio ou corpo, não é trivial. Mesmo no caso de domínios de polinômios que estamos acostumados a trabalhar, como por exemplo [ ]x e [ ]x , podem-se estabelecer alguns critérios e conhecer polinômios irredutíveis específicos, mas conhecer todos é muito difícil. Existem situações especiais em que conhecemos todos os poli- nômios irredutíveis. Uma delas é de polinômios em [ ]x , em que é possível provar que os polinômios irredutíveis são exatamen- te os polinômios de grau 1 e os polinômios de grau 2 que têm discriminante negativo. Outro caso em que conhecemos todos os polinômios irredutíveis é quando trabalhamos em [ ]K x , onde K é um corpo algebricamente fechado, isto é, todo polinômio não constante de [ ]K x , tem todas as raízes em K . No caso de K ser algebricamente fechado, pode-se provar que os únicos polinô- mios irredutíveis são os polinômios de grau 1. O principal exemplo de corpo algebricamente fechado é o cor- po dos números complexos. Este resultado é conhecido como Teorema Fundamental da Álgebra, e foi provado por Karl F. Gauss (1777 – 1855) em 1799. A demonstração deste teorema não é trivial. O leitor interessado pode encontrá-la na página 435 do livro [5] da bibliografia. Enunciamos a seguir o Teorema Fundamental da Álgebra, que será usado inicialmente para verificar que todo polinômio não constante de [ ]x pode ser decomposto como produto de fatores de grau 1. 51 Teorema 1.3.1 Teorema Fundamental da Álgebra. Todo polinômio não constante de [ ]x tem todas as suas raízes em . Seja 0 1( ) ... [ ] n nf x a a x a x x= + + + ∈ , ( )( )f x n∂ = . Pelo Teorema 1.3.1, existe 11a ∈ tal que 1 é raiz de ( )f x . Assim, 1 1( ) ( ) ( )f x x q x= − , com 1( ) [ ]q x x∈ e 1( ) 1( )q x n∂ = − . Se 1 0n − ≠ , aplicamos novamente o Teorema 1.3.1, obtendo 2 2a ∈ tal que 2 é raiz de 1( )q x . Logo, 1 2 2( ) ( ) ( )q x x q x= − , com 2 ( ) [ ]q x x∈ e 2 ( ) 2( )q x n∂ = − ; 1 2 2( ) ( ) ( ) ( ).f x x x q x = − − Se 2 0n − ≠ , seguimos o processo. Claro que chegaremos a 1 2( ) ( ) ( )...( ) ( )n nf x x x x q x = − − − , com ( ) 0( )nq x∂ = . Segue que ( )nq x é polinômio constante. Além disso, pela igualda- de dos coeficientes da variável x obtido na equação acima, temos que ( )n nq x a= . Portanto, 1 2( ) ( ) ( )...( ).n nf x a x x x = − − − Desta forma, decompusemos ( )f x em fatores de grau 1 (fato- res lineares) em [ ]x . Note que tal decomposição não pode ser feita em um anel qualquer [ ]A x , pois nem sempre todas as raízes estão em [ ]A x . Exemplo 1.3.1 Seja 3 2( ) 2 2 [ ]f x x x x x= − − + ∈ . Como (1) 0f = e , ' (1) 0f ≠ temos que 1 é raiz simples de ( )f x . Dividindo ( )f x por 1x − temos 2( ) ( 1) ( 2)f x x x= − − . Segue que as outras raízes de ( )f x são 2 , 2− ∉ . Portanto, a decomposição de ( )f x em [ ]x ou [ ]x é 2( ) ( 1) ( 2)f x x x= − − . Por outro lado, a decomposição de ( )f x em [ ]x ou [ ]x é ( ) ( 1) ( 2) ( 2)f x x x x= − − + . 52 Exemplo 1.3.2 O polinômio 2( ) 1 [ ]f x x x= + ∈ tem raízes i± . A decomposição de ( )f x em [ ]x , [ ]x ou [ ]x é 2( ) 1f x x= + . A decomposição de ( )f x em [ ]x é ( ) ( ) ( )f x x i x i= − + . Nos exemplos acima, vimos que um polinômio ( ) [ ]f x D x∈ , em que D é domínio ou corpo, nem sempre pode ser decomposto em fatores lineares de [ ]D x . Surge a pergunta seguinte: Existe uma maneira “padrão” para decompor ( )f x ? A resposta é sim. Para decompor ( ) [ ]f x D x∈ em [ ]D x usa- mos os elementos irredutíveis do domínio [ ]D x . Na definição abaixo apresentaremos o conceito de elemento irredutível no domínio [ ]D x . Chamamosa atenção para o fato de que esta definição é caso particular da definição de elemento irredutível, estudado no curso de Álgebra I. Definição 1.3.1 Seja D um domínio. Dizemos que ( ) [ ]p x D x∈ é ir- redutível em [ ]D x quando: (a) ( )p x é não nulo e não inversível em [ ]D x ; (b) ( ) ( ) ( )p x f x g x= com ( )f x , ( ) [ ]g x D x∈ , então ( )f x ou ( )g x é inversível em [ ]D x . Se D é domínio, segue da Proposição 1.1.2 que os elementos in- versíveis de [ ]D x coincidem com os elementos inversíveis de D , isto é, ( [ ]) ( )D x D= . Assim, podemos reescrever as condições (a) e (b) acima como: (a’) ( ) [ ] ( )p x D x D∗∈ . (b’) ( ) ( ) ( )p x f x g x= com ( )f x , ( ) [ ]g x D x∈ ⇒ ( ) ( )f x D∈ ou ( ) ( )g x D∈ . Definição 1.3.2 Seja D um domínio. Dizemos que ( ) [ ]p x D x∈ é re- dutível em [ ]D x quando: (a) ( ) [ ] ( )p x D x D∗∈ . 53 (b) Existem ( )f x , ( )g x não inversíveis em [ ]D x tais que ( ) ( ) ( )p x f x g x= . Observação 1.3.1 De acordo com as definições anteriores, o poli- nômio nulo e os polinômios inversíveis não são irredutíveis nem redutíveis. Os demais polinômios serão redutíveis se puderem ser decompostos como produto de polinômios não inversíveis, e caso contrário, serão irredutíveis. Apesar da irredutibilidade de polinômios ser definida para po- linômios em [ ]D x , onde D é um domínio qualquer, nosso interesse neste curso é pelo estudo de polinômios irredutíveis em [ ]x , [ ]x , [ ]x e [ ]x . Por isso, nossos exemplos e resultados serão direcio- nados para polinômios com coeficientes em , , ou . Iniciamos com um resultado enunciado para um corpo qual- quer K , tendo em mente as possibilidades K = , ou . Proposição 1.3.1 Sejam K um corpo e ( ) [ ]p x K x∈ . (a) Se ( )p x é polinômio constante, então ( )p x não é redutível e nem irredutível em [ ]K x . (b) Se ( ) 1( )p x∂ = , então ( )p x é irredutível em [ ]K x . Demonstração. (a) É claro que o polinômio ( ) 0p x = não é redutível e nem irredutível. Se ( )p x a= , 0a ≠ , então ( )p x é polinômio inver- sível de [ ]K x e, portanto, não é redutível nem irredutível em [ ]K x . (b) Como ( ) 1( )p x∂ = , temos que ( ) [ ] ( )p x K x K∗∈ . Escreven- do ( ) ( ) ( )p x f x g x= com ( )f x , ( ) [ ]g x K x∈ e usando os resulta- dos sobre grau de polinômios, temos: 1 ( ) ( )( ) ( )f x g x= ∂ + ∂ . Segue que ( ) 0( )f x∂ = ou ( ) 0( )g x∂ = . Assim, ( )f x ou ( )g x é polinômio constante não nulo. Logo, ( ) ( )f x K K∗∈ = ou ( ) ( )g x K K∗∈ = . Portanto, ( )p x é irredutível em [ ]K x . 54 Exemplo 1.3.3 Como caso particular da proposição anterior, ve- mos que: • ( ) [ ]p x a x= ∈ não é redutível nem irredutível em [ ]x . • ( ) [ ]p x ax b x= + ∈ é irredutível em [ ]x quando 0a ≠ . • ( ) [ ]p x ax b x= + ∈ é irredutível em [ ]x quando 0a ≠ . Vimos acima que todo polinômio de grau 1 em [ ]x é irre- dutível em [ ]x . A próxima proposição mostra que estes são os únicos polinômios irredutíveis de [ ]x . Proposição 1.3.2. Seja ( ) [ ]p x x∈ equivalentes. (i) ( ) 1( )p x∂ = . (ii) ( )p x é irredutível em [ ]x . Demonstração. (i) ⇒ (ii) Segue do item (b) da Proposição 1.3.1. (ii) ⇒ (i) Como ( )p x é irredutível em [ ]x , segue da Proposição 1.3.1 (a) que ( )p x não é constante. Logo, ( ) 1( )p x∂ ≥ . Suponha ( ) 1( )p x∂ > . Pelo Teorema 1.3.1, ( )p x possui raiz a ∈ , e então ( ) ( ) ( )p x x q x= − , ( ) [ ]q x x∈ . Segue que ( ) 1 ( ) 1( ) ( )q x p x∂ + = ∂ > . Assim, ( ) 0( )q x∂ > . Desta forma, obtivemos uma decomposição de ( )p x como produto de dois polinômios não inversíveis de [ ]x , contradizendo a irredu- tibilidade de ( )p x . Portanto, ( ) 1( )p x∂ = . Observação 1.3.2 A proposição acima continua valendo se trocar- mos por um corpo K que seja algebricamente fechado. Os polinômios irredutíveis de [ ]x estão perfeitamente carac- terizados pela Proposição 1.3.2. Esta caracterização não vale para polinômios de [ ]x , [ ]x e [ ]x , isto é, existem polinômios ir- redutíveis em [ ]x , [ ]x e [ ]x de grau diferente de 1. Veja o próximo exemplo. Exemplo 1.3.4 O polinômio 2( ) 1p x x= + é irredutível em [ ]x , [ ]x e [ ]x . É claro que ( )p x é não nulo e não inversível em [ ]x , [ ]x e [ ]x . 55 Vamos ver que ( )p x não pode ser decomposto como produto de dois polinômios não inversíveis de [ ]x , [ ]x e [ ]x . Escrevendo ( ) ( ) ( )p x f x g x= , vem que ( ) ( ) 2( ) ( )f x g x∂ + ∂ = . Temos as possibilidades: ( ) 2( )f x∂ = e ( ) 0( )g x∂ = ; ( ) 2( )g x∂ = e ( ) 0( )f x∂ = ; ( ) ( ) 1( ) ( )f x g x∂ = ∂ = . As duas primeiras possibilidades são análogas, e por isso tratare- mos apenas da primeira e da terceira. 1° Caso: ( ) 2( )f x∂ = e ( ) 0( )g x∂ = . Sejam 2( )f x ax bx c= + + e ( )g x d= . A igualdade ( ) ( ) ( )p x f x g x= diz que 1a d = . Portanto, ( )g x d= é inversível em [ ]x , [ ]x e [ ]x . 2° Caso: ( ) ( ) 1( ) ( )f x g x∂ = ∂ = . Sejam ( )f x ax b= + e ( )g x c x d= + . A igualdade ( ) ( ) ( )p x f x g x= leva ao sistema 1 0 1 a c a d b c b d = + = = . Multiplicando a segunda equação por c d e usando as outras duas, temos: 2 2( ) ( ) 0a c d b d c+ = 2 21 1 0d c+ = 2 2 0d c+ = 2 2d c= − . Desde que esta equação não tenha solução em , o segundo caso nunca pode ocorrer. Portanto, 2( ) 1p x x= + é irredutível em [ ]x , [ ]x e [ ]x . Proposição 1.3.3 (a) Sejam D um domínio, ( ) [ ]p x D x∈ e ( ) 1( )p x∂ > . Se ( )p x tem raiz em D então ( )p x é redutível em [ ]D x . (b) Sejam K um corpo, ( ) [ ]p x K x∈ e ( ) 2( )p x∂ = ou ( ) 3( )p x∂ = . Então: ( )p x é redutível em [ ]K x ⇔ ( )p x tem raiz em K . 56 Demonstração. (a) Seja Da ∈ uma raiz de ( )p x . Segue que ( ) ( ) ( )p x x q x= − , com ( )x − , ( ) [ ]q x D x∈ . Como ( ) 1( )p x∂ > , temos que ( ) 1x ∂ − = e ( ) 1( )q x∂ ≥ . Assim, x a− e ( )q x são polinômios não inversíveis de [ ]D x . Logo, ( )p x é redutível em [ ]D x . (b) ( )⇐ Segue do item (a). ( )⇒ Desde que ( )p x seja redutível em [ ]K x , existem ( )f x , ( ) [ ]g x K x∈ , ( )f x e ( )g x não inversíveis, tais que ( ) ( ) ( )p x f x g x= . Como ( )p x tem grau 2 ou 3 e ( )f x e ( )g x não são constantes, vem que ( ) 1( )f x∂ = ou ( ) 1( )g x∂ = . Sem perda de generalidade admitimos que ( ) 1( )f x∂ = , e escreve- mos ( )f x a x b= + , 0a ≠ . Assim, ( ) ( ) ( )p x a x b g x= + . Portanto, 1a b K−− ∈ é raiz de ( )p x . Vamos usar a proposição anterior para refazer uma parte do Exemplo 1.3.4. Exemplo 1.3.5 O polinômio 2( ) 1p x x= + é irredutível em [ ]x e [ ]x . De fato, como as raízes de ( )p x não estão em , basta aplicar a Proposição 1.3.3 (b). O próximo exemplo mostra que: Não vale a recíproca do item • (a) da Proposição 1.3.3. A Proposição 1.3.3 • (b) ( )⇒ não vale para domínio que não é corpo. Exemplo 1.3.6 O polinômio 2( ) 2 2 [ ]p x x x= + ∈ é redutível em [ ]x e não tem raiz em . É claro que ( )p x não tem raiz em , pois suas raízes são i± . Para ver se é redutível, escrevemos 2( ) 2( 1)p x x= + . Desde que ( ) 2f x = e 2( ) 1g x x= + sejam não-inversíveis em [ ]x , temos que ( )p x é redutível em [ ]x . 57 Pela Proposição 1.3.1, os polinômios constantes não são redutíveis nem irredutíveis em [ ]x , [ ]x e [ ]x . No exemplo a seguir, estu- daremos a irredutibilidade dos polinômios constantes em [ ]x . Exemplo 1.3.7. Seja ( ) [ ]p x a x= ∈ . • Se {0,1, 1}a∈ − , então ( )p x não é redutível nem irredutível em [ ]x . • ( )p x é irredutível em [ ]x ⇔ a é número primo. É claro que o polinômio nulo ( ) 0p x = e os polinômios inversíveis ( ) 1p x = ± não satisfazem
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