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PROCESSOS GRUPAIS 
CRONOGRAMA E TEXTOS 
PRIMEIRO BIMESTRE 2017 
DIURNO 
 
 
13.02 1ª Aula Apresentação e Discussão da Ementa 
20.02 2ª Aula 
Bibliografia: 
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. 
Campinas: Alínea, 2006. – Capítulo 1. 
06.03 3a Aula Contribuições teóricas:Kurt Lewin 
Bibliografia: 
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. 
Campinas: Alínea, 2006. – Capítulo 1 
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. São Paulo: Duas 
Cidades, 1991. Capítulos 1,2 e 4. 
13.03 4a Aula Contribuições teóricas:Moreno 
Bibliografia: 
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. 
Campinas: Alínea, 2006. – Capítulo 3 
20.03 Contribuições teóricas: Piaget e Shultz 
Bibliografia: 
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: 
Atlas, 2007. (Páginas 40 a 51). 
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. São Paulo: Duas 
Cidades, 1991. – Capítulo 5 
27.03 Contribuições Teóricas em Dinâmica de Grupo: Pichon-Rivière 
Bibliografia: 
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 
1994. Textos do livro: Técnica de grupos operativos (capitulo 13) e O 
conceito de porta-voz (capítulo 26). 
03.04 Prova teórica – NP1. 
Entrega do trabalho escrito: Análise do filme “12 homens e uma 
sentença” com base em uma das teorias estudadas no primeiro 
bimestre. 
13.04 Discussão da prova e devolutiva do desempenho dos alunos. 
 
 
 
 
PROCESSOS GRUPAIS 
TEXTOS SEGUNDO BIMESTRE 2017 
17.04 O Ciclo de Aprendizagem Vivencial. 
Objetivo: analisar as formas de interação do grupo, no uso do ciclo de 
aprendizagem vivencial - CAV. 
Bibliografia recomendada: 
BOOG, G. Manual de Treinamento e Desenvolvimento.São Paulo: 
Pearson Prentice Hall, 2007, Vol. 2. 
24.04 Técnicas em abordagem vivencial 
Bibliografia: 
MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed.São Paulo: 
Atlas, 2001.(Capítulo 5) 
08.05 - Práticas com grupos 
 AFONSO, M. L. M.Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de 
intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. 
CAPÍTULOS 1 e 2. 
- Apresentação de seminários para aplicação dos conceitos das teorias de 
Lewin, Moreno, Schutz ePichon-Rivièrena análise do filme: 12 homens e 
uma sentença. 
 
15.05 Práticas com grupos 
SCHMITT, Aline Alflen; NASCIMENTO, Deise Maria do; SCHWEITZER, Lucas. 
Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de 
Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência 
Especializado em Assistência Social. Pesquisas e Práticas Psicossociais , v. 
11, n. 2, p. 399-411, 2016. 
DE BARROS, Amailson Sandro; DE FREITAS, Maria de Fátima Quintal. Grupo 
psicoeducacional com em situação de violência contra filhos: relato de 
experiência. Revista de Educação Popular , v. 15, n. 2, p. 137-148, 2017. 
22.05 - Apresentação de seminários para aplicação dos conceitos das teorias de 
Lewin, Moreno, Schutz ePichon-Rivièrena análise do filme: 12 homens e 
uma sentença. 
29.05 18ª Aula - Prova teórica – NP2. 
 19a Aula – Vista da prova e devolutiva do desempenho dos alunos. 
Prova Substitutiva. 
 
 
 
 
399 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
 
 
Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de 
Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência 
Especializado em Assistência Social 
 
Group of adolescents in a Socio-educational Measure Compliance of 
Assisted Freedom: experience report on a Reference Center Specialized in 
Social Work 
 
Grupo de adolescentes en cumplimiento de Medida Socioeducativa de la 
Libertad Asistida: relato de la experiencia en un Centro de Referencia 
Especializado para la Asistencia Social 
 
 
Aline Alflen Schmitt
1
 
 
Deise Maria do Nascimento
2
 
 
Lucas Schweitzer
3
 
 
Resumo 
 
O presente relato refere-se à experiência de estágio realizada em um Centro de Referência Especializado em 
Assistência Social da Grande Florianópolis, com um grupo de adolescentes em cumprimento de Medida 
Socioeducativa de Liberdade Assistida. Para o desenvolvimento do trabalho, objetivou-se a reestruturação das 
potencialidades dos adolescentes, a discussão de questões relacionadas à descrença quanto às possibilidades de 
reinserção social e a promoção de estratégias para o reconhecimento de possibilidades na vida dos sujeitos. 
Como metodologia, foram utilizadas oficinas temáticas com assuntos relevantes no contexto cultural e social dos 
adolescentes. Os encontros permitiram pensar a Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida em outra 
perspectiva, destacando a importância de um ambiente de socialização. Os resultados apontaram uma mudança 
de comportamento dos jovens, maior capacidade de se comunicarem e de expressarem suas emoções. 
 
Palavras-chave: Medida Socioeducativa; Liberdade assistida; Ato infracional; Adolescência. 
 
Abstract 
 
This article refers to the training experience in the Specialized Reference Center for Social Assistance in the 
Great Florianópolis with a group of adolescents in compliance with d Socio-educational Measure of Assisted 
Freedom. For developing the work, it was objectified restructuring the potential of teenagers, discussing issues 
related to the disbelief of the possibilities of social reintegration, and promoting strategies with them to recognize 
the possibilities in their lives. The methodology used was to hold thematic workshops on topics identified as 
relevant to the cultural and social context of those teenagers. These meetings allowed thinking the Socio-
 
1 Psicóloga, pós-graduanda em Gestão Estratégica de Pessoas na Faculdade Borges de Mendonça. E-mail: 
alinee.schmitt@gmail.com 
2 Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: 
deisemn@uol.com.br 
3 Psicólogo, especialista em Avaliação Psicológica, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da 
Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: lucass.schweitzer@gmail.com 
mailto:alinee.schmitt@gmail.com
mailto:deisemn@uol.com.br
mailto:lucass.schweitzer@gmail.com
400 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
educational Measure of Assisted Freedom with another perspective, as an effective socialization environment. 
The results pointed a change in behavior of the teenagers, an improvement of their communication skills, and a 
better expression of their emotions. 
 
Keywords: Socio-educational Measure; Probation; Infraction; Adolescence. 
 
Resumen 
 
Este artículo se refiere a la experiencia en un Centro de Referencia Especializado para la Asistencia Social en la 
Grande Florianópolis con un grupo de adolescentes en cumplimiento de Medida Socioeducativa de Libertad 
Asistida. Para el desarrollo del trabajo, fue objetivada la reestructuración del potencial de los adolescentes, la 
discusión de temas relacionados con la incredulidad acerca de las posibilidades de reinserción social y la 
promoción de estrategias para el reconocimiento de las posibilidades en la vida de los individuos. La 
metodología utilizada fue la realización de talleres temáticossobre temas identificados como relevantes para el 
contexto cultural y social de los adolescentes. Las reuniones posibilitaran pensar la Medida Socioeducativa de 
Libertad Asistida en otra perspectiva, identificando la importancia de un ambiente de socialización. Los 
resultados indicaron un cambio de comportamiento de los jóvenes, mayor capacidad de comunicación y 
expresión de emociones. 
 
Palabras claves: Medida Socioeducativa; Libertad Asistida; Acto de infracción; Adolescencia. 
 
401 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
Introdução 
 
Quando um crime é cometido, 
costuma-se assumir como importante o 
estabelecimento de um culpado para o 
ocorrido, um responsável pela violação 
da norma de conduta em si. Esta é a 
base de um processo criminal: 
estabelecer o responsável pelo crime. A 
preocupação do processo, então, é com 
o passado, não com o futuro (Zehr, 
1990). Dessa forma, para a justiça, em 
seu modelo tradicional, o foco está mais 
para estabelecer quem cometeu o crime 
do que em suas causas e consequências. 
Um ato violento, assim, deve ser 
retribuído com uma punição equivalente 
à intensidade da ofensa, em uma 
tentativa de dissuadir quem praticou o 
crime (Fukamachi, 2012). 
A medida socioeducativa é uma 
forma de “punição” para adolescentes. 
Refere-se à aplicação de medidas 
judiciais para adolescentes que 
cometeram atos infracionais e foram 
julgados pela Justiça Especial para 
Crianças e Adolescentes. Ela tem como 
base a doutrina de proteção integral à 
criança e ao adolescente da Lei Federal 
nº 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da 
Criança e do Adolescente, considerado 
um marco nos direitos desse segmento 
social. Essa lei objetiva a educação 
como prioridade na aplicação de 
medidas para as crianças e adolescentes, 
sendo que a educação, nesse sentido, 
não significa escolarização formal, mas 
a forma de execução das medidas 
judiciais (Craidy, 2011). 
O presente relato de experiência, 
vinculado ao Centro de Referência 
Especializado de Assistência Social 
(Creas), tem por meta contribuir para o 
desafiador objetivo de efetivar a medida 
socioeducativa de acordo com o que 
prevê o Sistema Nacional de 
Atendimento Socioeducativo (Sinase),
4
 
cuja “implementação objetiva 
primordialmente o desenvolvimento de 
uma ação socioeducativa assentada nos 
princípios dos direitos humanos” 
(Costa, Penso, Sudbrack, Jacobina, 
2011, p. 381). 
Conforme prerrogativas da Lei 
Orgânica de Assistência Social (Lei nº 
8.742), as proteções sociais, básica e 
especial, são ofertadas precipuamente 
no Centro de Referência de Assistência 
Social (Cras) e no Centro de Referência 
Especializado de Assistência Social 
(Creas),
5
 respectivamente, e pelas 
entidades sem fins lucrativos de 
assistência social. O Creas, cenário 
deste relato de experiência, é uma 
unidade pública de abrangência e gestão 
municipal, estadual ou regional, 
relacionado à proteção social especial 
de média complexidade. Ele representa 
uma referência para a rede de 
atendimento às situações de risco 
pessoal e social, especialmente em 
situações de violação de direitos. 
Entre os serviços de média 
complexidade, está o Serviço de 
Proteção Social a Adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa 
de Liberdade Assistida (LA), que tem a 
finalidade de prover atenção 
socioassistencial e acompanhamento a 
adolescentes em cumprimento de 
 
4 O Sinase, conforme a Lei nº 12.594, trata do 
conjunto ordenado de princípios, regras e 
critérios que envolvem a execução de medidas 
socioeducativas. O cumprimento em meio 
aberto da Medida Socioeducativa de Liberdade 
Assistida (LA) objetiva estabelecer um 
processo de acompanhamento, auxílio e 
orientação ao adolescente, sendo catalisador da 
integração e inclusão social (Conselho 
Nacional dos Direitos da Criança e do 
Adolescente [Conanda], 2006). 
5 Cras e Creas são unidades públicas estatais 
instituídas no âmbito do Sistema Único de 
Assistência Social, que possuem interface com 
as demais políticas públicas e articulam, 
coordenam e ofertam os serviços, programas, 
projetos e benefícios da assistência social. 
402 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
medidas socioeducativas em meio 
aberto (Ministério do Desenvolvimento 
Social [MDS], 2011). A implantação da 
Medida Socioeducativa de Liberdade 
Assistida surge da necessidade de 
fornecer condições para o 
estabelecimento de novos projetos de 
vida e distanciamento da prática de atos 
infracionais. Para tanto, deve fortalecer 
laços familiares e comunitários e 
esforçar-se em integrar ações nas áreas 
de educação, saúde, lazer e trabalho 
(Conselho Federal de Psicologia [CFP], 
2012b). 
Com base nesses pressupostos, o 
relato que se segue é produto da 
experiência de estágio, uma intervenção 
em um grupo de adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa 
de Liberdade Assistida, frequentadores 
de um Creas da região da Grande 
Florianópolis/SC. Considerando a 
complexidade da política pública 
atendida nessa intervenção, demarca-se 
que a inserção no Creas representa um 
ganho para a formação de profissionais, 
cujo relato perpassa pelo 
aprimoramento da prática profissional 
do psicólogo nesse âmbito. Além disso, 
novas propostas de intervenção podem 
ser pensadas a partir deste trabalho, 
configurando sua importância para o 
campo da pesquisa, bem como para a 
política pública e o público atendido. 
Cabe demarcar a relevância de focalizar 
a adolescência, por se tratar de um 
período atravessado por crises, 
inquietações, transformações 
biológicas, psíquicas e sociais, gerando 
conflitos e dúvidas (Maheirie, Urnau, 
Vavassori, Orlandi, & Baierle, 2005), 
período em que “o adolescente precisa 
de um espaço de expressão e de 
ressignificação de suas vivências” 
(Brasil, Almeida, Amparo & Pereira, 
2015, p. 209). 
Considerando a pertinência da 
inserção do psicólogo em políticas 
públicas e as reflexões acerca da 
adolescência e das políticas de proteção 
de crianças e adolescentes, essa 
experiência de estágio visou 
implementar ações que contribuem para 
o acesso às políticas públicas de 
Assistência Social. Buscou-se 
problematizar a realidade vivenciada 
pelos adolescentes, evidenciando as 
potencialidades deles e apontando temas 
importantes relativos à realidade e a 
projetos de vida deles. 
Os objetivos dessa experiência 
se ancoram em uma perspectiva de 
Psicologia como prática profissional 
comprometida, ética e politicamente, 
com a transformação social. As 
intervenções se justificam ao considerar 
conceitos como vulnerabilidade social, 
desigualdade social, pobreza e violação 
de direitos, fundamentais para 
compreender como as pessoas podem 
ampliar suas potencialidades para o 
enfrentamento desses problemas, 
sempre visando à garantia de direitos e 
ao desenvolvimento dos sujeitos ou 
famílias (Conselho Federal de 
Psicologia [CFP], 2012a). Além disso, 
pressupôs-se a convocação do 
adolescente à partilha das suas 
construções pelos seus locais de 
convivência e respostas perante a lei, 
considerando sua subjetividade e a 
produção de intervenções baseadas no 
compromisso com a garantia dos 
direitos preconizados no ECA e nas 
normativas internacionais(Conselho 
Federal de Psicologia [CFP], 2012b). 
 
Procedimentos metodológicos 
 
A experiência de estágio aqui 
relatada foi realizada na sede de um 
Creas da região da Grande 
Florianópolis/SC, com um grupo de 
adolescentes em cumprimento de 
Medida Socioeducativa de Liberdade 
Assistida. Os participantes eram 
adolescentes, com idade entre 12 e 18 
anos, que praticaram algum ato 
403 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
infracional
6
 e cumpriam Medida 
Socioeducativa de Liberdade Assistida. 
Em geral, frequentavam o ensino 
fundamental ou médio na rede de 
ensino municipal ou estadual. Conforme 
demanda estabelecida pelo Creas, o 
número de participantes foi de cerca de 
dez adolescentes por encontro, com 
prevalência de jovens do sexo 
masculino. O grupo foi de caráter 
aberto, isto é, poderia ocorrer a entrada 
e saída de membros no decorrer dos 
encontros, considerando a 
disponibilidade dos participantes e 
início ou fim da medida socioeducativa. 
Para a realização do grupo, foram 
utilizadas discussões temáticas, uso de 
figuras, músicas e vídeos, participação 
de convidados e técnicas de dinâmica de 
grupo. 
O fato de o trabalho ser 
realizado em grupo justifica-se porque o 
adolescente protagonista de um ato 
infracional possui uma trajetória inscrita 
em um contexto complexo, impedindo 
que o foco da intervenção se restrinja ao 
jovem. Faz-se necessário compreender 
as relações que o envolvem, resgatando 
sua capacidade criativa para o 
desenvolvimento das relações sociais e 
consigo mesmo. Assim, desloca-se o 
foco exclusivo do adolescente como 
responsável por suas “dificuldades” e 
passa-se a entendê-lo em seu contexto 
cultural e social. Além disso, 
considerando que as estratégias de 
acompanhamento psicossocial podem 
ser diversas, essa experiência pautou-se 
no pressuposto de que grupos podem se 
constituir em espaço de vínculos e 
identificação de similaridades, 
estimulando a busca de soluções a partir 
de potenciais individuais e coletivos 
(Conselho Federal de Psicologia [CFP], 
2012a). Optou-se pelo grupo como 
forma de demonstrar uma alternativa 
 
6 Não foi utilizado como critério de inclusão o 
tipo de ato infracional cometido. 
complementar aos atendimentos 
individuais, contribuindo com o desafio 
atual da coletivização das demandas no 
âmbito da Assistência Social. 
O contato com o campo de 
estágio foi realizado por meio de 
reuniões com a equipe do Creas, a fim 
de estabelecer um vínculo inicial e 
levantar a possibilidade de realização 
das práticas de estágio no local. Com o 
convênio estabelecido entre a 
universidade e a coordenação do Creas, 
foram acordadas as temáticas a serem 
trabalhadas, considerando modificações 
no planejamento caso outras demandas 
surgissem ao longo dos encontros. 
Nesses contatos iniciais, as temáticas 
estabelecidas com os profissionais do 
Creas foram: percepção de si e 
percepção do outro, preconceito, 
violência, drogas, família, orientação 
profissional, sexualidade, expressões 
artísticas. A etapa prática do estágio foi 
composta por oito encontros com 
atividades específicas, de acordo com as 
necessidades identificadas pelos 
profissionais do local e com a demanda 
despertada pelos encontros grupais. O 
convite aos jovens para participarem 
dos encontros foi realizado diretamente 
pelos profissionais do Creas. 
Em relação ao andamento dos 
encontros, em todas as sessões os 
coordenadores e os participantes se 
apresentavam e havia uma exposição 
dos objetivos do trabalho, tendo em 
vista a variabilidade dos participantes 
ao longo dos encontros. Os sete 
primeiros encontros ocorreram em uma 
sala disponibilizada pelo Creas, com 
colchonetes dispostos em círculo, data 
show e aparelho de som. O último 
encontro foi realizado a céu aberto, em 
um espaço disponibilizado pela 
universidade vinculada. 
 
 
Resultados e Discussão 
 
404 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
O primeiro encontro objetivou 
identificar demandas, discutir a temática 
“Percepção de si e do outro” e 
estabelecer o contrato de grupo. Para a 
confecção do contrato, foram dispostas 
figuras com regras de convivência em 
dois cartazes, um indicando “pode” e 
outro “não pode”. Os adolescentes 
foram orientados a escolher figuras que 
representassem regras, como o respeito 
e a compreensão, e colá-las nos 
cartazes, de modo que elas não fossem 
impostas, mas discutidas com base em 
suas escolhas. Na sequência, foram 
distribuídas folhas para que 
escrevessem características pessoais e 
compartilhassem a produção com os 
demais participantes. Essas atividades 
sobre a “Percepção de si e do outro” 
justificam-se, pois a adolescência é um 
período que abriga, além das mudanças 
biológicas, construções histórico-sociais 
que situam o envolvimento com o ato 
infracional como um dentre os agravos 
que compõem o quadro de 
vulnerabilidade dos jovens (Costa & 
Assis, 2006). 
O segundo encontro foi 
dedicado à temática “Preconceito”. 
Inicialmente, os coordenadores 
apresentaram vídeos para a 
problematização de situações de 
preconceito, seguindo-se o relato de 
situações cotidianas, sendo que os 
membros deveriam escrever em uma 
folha a primeira coisa que lhes “viesse à 
cabeça” relacionada às situações. Por 
exemplo: ao ser descrita uma situação 
em que uma pessoa malvestida e 
descalça entra em uma lanchonete, os 
membros citaram que “a pessoa era 
pobre e não tinha dinheiro para estar 
ali” e que “poderia ser um trabalhador 
que veio direto do serviço, ou um 
mendigo”. A partir da atividade, os 
coordenadores buscaram evidenciar que 
o preconceito, um pré-conceito gerador 
de sofrimento, pode estar relacionado a 
aspectos como credo, cor, etnia e classe 
social, além de costumeiramente 
relacionado à diferença, comum às 
minorias (Aquino, 1998). 
Por fim, os coordenadores 
solicitaram aos adolescentes que 
expressassem, por meio de pintura em 
uma folha, quanto preconceito já 
haviam vivenciado. Dentre os desenhos, 
chamou a atenção a produção de um 
adolescente que escreveu a frase “o 
tempo todo”, com a explicação de que 
[o preconceito ocorre] “tanto comigo 
quanto da minha parte com os outros”. 
Isso corrobora as afirmações de Salles e 
Silva (2008) de que as pessoas são 
costumeiramente incluídas em 
categorias que supostamente permitem 
prever identidades sociais, aqui 
compreendidas como referentes ao 
pertencimento a grupos sociais e à carga 
afetiva implicada nesse processo 
dialético relacionado à constituição 
identitária de cada sujeito. No entanto, 
quando o que é imposto ao indivíduo 
adquire conotações depreciativas, parte-
se para estigmatizações em que o 
indivíduo passa a ser visto como 
diferente do normal, como desviante 
(Jacques, 1996; Goffman, 1998; 
Coutinho, Krawulski & Soares, 2007). 
O terceiro encontro teve como 
objetivo discutir a temática “Violência”, 
com a participação de um grupo de Rap. 
Inicialmente, os coordenadores 
apresentaram o tema do dia, 
“Violência”, e indicaram que ele seria 
discutido mais detalhadamente pelo 
grupo. De forma geral, a temática foi 
abordada de modo a evidenciar as 
diversas vertentes do tema (tais como 
violência verbal, física, etc.), 
aproximando-oda realidade dos 
adolescentes e o exemplificando com 
relatos pessoais. Também houve a 
apresentação do vídeo O menino e a 
Árvore 
(https://www.youtube.com/watch?v=bN
IoNXFNiFY) com o objetivo de propor 
estratégias de enfrentamento da 
405 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
violência por meio do trabalho em 
equipe. 
No debate com o grupo de Rap, 
os adolescentes mostraram-se atentos às 
discussões. Muitos realizaram 
pontuações sobre o tema, como: “às 
vezes começo a me envolver com 
violência por causa de amigo”, “às 
vezes um molequinho que é de gente 
boa e está de canto, tu de malandragem 
traz esse junto”. Os relatos e a forma 
como as atividades foram conduzidas 
vão ao encontro do que afirmam 
Jacobina e Costa (2011): no processo de 
construção da sua identidade, o 
adolescente busca referências nos seus 
pares e troca experiências produtoras 
dos sentidos que organizam o que é ser 
adolescente, o que foi potencializado no 
grupo. Além disso, a utilização da 
música ao longo do encontro parte do 
pressuposto de que esse é um recurso 
gerador de respostas positivas às 
demandas de atenção ao sofrimento 
humano, capaz de reconstruir 
identidades, integrar pessoas, reduzir a 
ansiedade e construir autoestima 
positiva (Jacobina & Costa, 2011; 
Andrade & Pedrão, 2005). Tal 
perspectiva também corrobora a noção 
de que as expressões culturais 
possibilitam ao adolescente passar pelos 
desafios subjetivos da adolescência com 
menor dano e risco ao seu 
desenvolvimento (Brasil et al., 2015). 
O quarto encontro teve como 
temática as “Drogas”. Inicialmente, 
foram exibidos vídeos sobre o assunto, 
seguidos de discussões sobre os 
sentidos atribuídos aos vídeos: o trailer 
do filme Meu nome não é Johnny
7
 
(https://www.youtube.com/watch?v=hit
jyeros2s), o clipe da música Cálice, de 
Chico Buarque, cantada pelo Criolo 
 
7 O filme apresenta um jovem que se envolve 
com tráfico de drogas e sua prisão. Ele suscita 
discussões sobre vulnerabilidade e 
imprevisibilidade de situações de uso de 
drogas. 
Doido 
(https://www.youtube.com/watch?v=ak
ZY0-6Rs0A) e o filme O bicho de sete 
cabeças
8
 
(https://www.youtube.com/watch?v=u2
4WcelAjww). Esses vídeos foram 
importantes para discutir o uso de 
drogas e as consequências na saúde, 
trabalho, família e amigos. Por fim, os 
coordenadores entregaram aos 
participantes extratos de matérias 
jornalísticas envolvendo a temática 
“drogas”, tais como a saúde de usuários, 
legalização de drogas, etc., solicitando 
posicionamentos quanto aos assuntos 
polêmicos abordados. 
Com a utilização dos vídeos e 
notícias, foi possível refletir sobre o 
potencial de escolha dos adolescentes 
pelo uso ou não das drogas, de modo a 
evitar debates de cunho moralista sobre 
a temática. Nesse sentido, ao contrário 
de deter-se a padrões de correção de 
condutas (Costa & Assis, 2006), o 
objetivo dos coordenadores foi alcançar 
as dimensões do cuidado com os 
adolescentes, visando a potencialização 
da autonomia e da possibilidade de 
escolhas conscientes diante de questões 
polêmicas. 
A temática do quinto encontro 
foi “Família”. Inicialmente, foi 
apresentado o vídeo Família, da banda 
Titãs 
(https://www.youtube.com/watch?v=GJ
8VqwDni6w), com o objetivo de iniciar 
o debate sobre as diferentes 
constituições familiares. Na sequência, 
foram distribuídas folhas para que os 
adolescentes escrevessem uma palavra 
definidora de “família”, cujas definições 
relacionaram-na ao conceito de “união”. 
Também foram apresentadas figuras 
com constituições familiares, por 
 
8 Na cena, o pai do personagem “Neto” o leva 
para uma internação compulsória por causa do 
uso de drogas. 
406 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
exemplo: famílias monoparentais,
9
 
famílias ampliadas,
10
 família 
homoparentais
11
 etc. A ideia era que 
cada um escolhesse uma figura para a 
sua família e comentasse o motivo da 
escolha. Por meio dessas reflexões, 
pôde-se reforçar a existência de 
diferentes concepções e constituições de 
família. 
Na sequência, foi apresentado o 
vídeo O lenhador e a raposa 
(https://www.youtube.com/watch?v=D1
8NHzdNYxU), a fim de discutir a 
importância da confiança entre os 
membros de uma família. Logo após, 
foi disposta uma cartolina com duas 
figuras: uma com uma família 
considerada “perfeita”, com união e 
harmonia, e outra com uma família em 
conflito, para que cada um dissesse em 
qual das duas figuras sua família se 
encaixaria. Assim, surgiram discussões 
acerca dos tipos de família e 
comentários relacionando família a um 
contexto de união. Um elemento trazido 
pelos adolescentes foi que “não há 
família perfeita”, reafirmando a 
importância do sentimento e o respeito 
entre os membros do contexto familiar, 
com a ocorrência de momentos de 
harmonia e de conflitos que se mesclam 
no convívio diário. Nesse sentido, cabe 
destacar que experiências com 
adolescente em risco social têm 
demonstrado que, dentre os fatores de 
 
9 “Sob essa denominação, aninham-se pessoas 
que cuidam sozinhas de crianças [...]. Reúne-
se, sob essa mesma sigla, solteiros, viúvos, 
divorciados”, entre outros (Uziel, 2002, p. 23). 
10 [...] “estamos diante de uma família 
[ampliada] quando encontramos um conjunto 
de pessoas que se acham unidas por laços 
consanguíneos, afetivos e, ou, de 
solidariedade” (Ministério do 
Desenvolvimento Social. PNAS, 2004, p. 42). 
11 “Situação familiar em que no mínimo o pai ou 
a mãe se assume como homossexual” (Uziel, 
2002, p. 59). O uso desse termo foi escolhido 
de modo a aumentar a visibilidade dessa 
família (Uziel, 2002). 
proteção considerados mais 
significativos ao adolescente, estão os 
vínculos familiares fortes, o que 
legitima essa discussão na medida 
socioeducativa (Costa & Assis, 2006). 
O sexto encontro objetivou a 
discussão dos temas “Amor”, “Gênero” 
e “Sexualidade”. Inicialmente, foi 
apresentado e discutido o clipe Amor e 
sexo, de Rita Lee 
(https://www.youtube.com/watch?v=ho
-iGFctXe8), que remete a diferenças 
entre o conceito de amor e de sexo. O 
questionamento sobre essa diferença foi 
levado aos participantes do grupo, 
sendo entregues folhas para que os 
adolescentes escrevessem uma palavra 
relacionada a “amor” e outra a “sexo”, 
com a posterior discussão das 
produções. De forma geral, os 
adolescentes relacionaram o “amor” a 
“sentimento”, a algo concreto 
relacionado principalmente à família. 
Quanto ao “sexo”, relacionaram-no a 
“vontade”, “necessidade” e “atração 
física”. 
Para as discussões sobre gênero, 
foram apresentadas figuras com objetos 
e/ou situações, como boneca, carro, etc., 
sendo solicitado que cada adolescente 
escolhesse uma figura que remetesse ao 
sexo masculino e outra ao sexo 
feminino. Logo após, foi apresentado o 
vídeo 3 coisas que as mulheres não 
precisam que os homens façam 
(https://www.youtube.com/watch?v=K
mEhFpwpFqw), que trata de papéis 
sociais atribuídos a homens. A 
discussão dessas atividades foi 
relacionada às ditas atribuições de 
gênero, pautando-se no pressuposto de 
que elas são construções históricas, 
culturais e sociais,problematizando a 
naturalização dessas relações. Isso 
ocorre porque os papéis ditos 
masculinos e femininos configuram o 
que seria pertinente ao homem e à 
mulher num dado contexto que impõe 
aprovações, restrições e reprovações 
407 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
apreendidas e transmitidas ao longo de 
gerações e durante o percurso da vida e 
não são naturalmente dadas (Negreiros 
& Féres-Carneiro, 2004). 
Por fim, foi exibido um trecho 
do programa Amor e sexo,
12
 que trata de 
preservativos e da transmissão de 
Doenças Sexualmente Transmitidas 
(DSTs). Assim, foi discutido o conteúdo 
do vídeo e a importância da proteção 
em relações sexuais e as consequências 
da não utilização de métodos 
contraceptivos. Essa discussão acerca 
da sexualidade se faz importante devido 
ao aumento dos índices de gravidez e da 
incidência de DSTs entre os 
adolescentes (Taquette, Rusany, 
Meirelles & Ricardo, 2003; Maheirie et 
al., 2005). Chama a atenção que, 
mesmo em um encontro com uma 
temática polêmica, os participantes 
estiveram participativos, contribuindo 
para a discussão, o que pode estar 
relacionado à naturalidade com que o 
assunto foi discutido. 
O sétimo encontro teve 
“Orientação profissional” como 
temática. Inicialmente, foram 
apresentadas informações sobre 
currículo e, em seguida, foi apresentada 
uma tirinha do Calvin e Haroldo 
(http://24.media.tumblr.com/tumblr_md
gmoeqskJ1rxmaupo1_500.jpg) que trata 
da responsabilidade presente nas 
escolhas e do impacto delas na vida. 
Também foi apresentado e discutido um 
vídeo demonstrando comportamentos a 
serem evitados em uma entrevista de 
emprego, expondo elementos como 
vestimenta, direitos em processos 
seletivos, perguntas em entrevistas de 
emprego, entre outros aspectos. 
Também foram apresentados exemplos 
de cursos de qualificação, técnicos, 
tecnólogos e graduação, e formas de 
 
12 Apresentado por Fernanda Lima na Rede 
Globo. Vídeo indisponível na internet. 
ingresso, tais como bolsas de estudo 
oferecidas em universidades. 
As atividades sobre “Orientação 
Profissional” foram relevantes para 
encorajar os adolescentes a vislumbrar 
trajetórias por meio do apoio de figuras 
representativas (Costa & Assis, 2006). 
Com isso, buscou-se tratar da entrada 
em uma faculdade ou da conquista de 
um emprego como uma possibilidade 
que, para muitos, não é vislumbrada. 
Além disso, seguindo o que afirmam 
Bardagi, Arteche e Neiva-Silva (2005), 
a ideia esteve em mostrar a escolha 
profissional e a saída para o trabalho 
como uma etapa importante para o 
desenvolvimento dentro da sociedade, 
como elemento construtor de identidade 
(Bardagi et al., 2005). Em linhas gerais, 
os objetivos do encontro foram 
pensados com a compreensão de que o 
período de aplicação da medida deve 
constituir um momento para a 
estruturação do projeto de vida, sendo 
que as atividades devem ter o potencial 
de despertar para uma construção do 
adolescente (Costa & Assis, 2006). 
O último encontro, intitulado 
“Expressões Artísticas”, teve como 
objetivo a realização de uma oficina de 
Grafite e Música, com a participação 
dos adolescentes e dos servidores do 
Creas – convidados mediante 
autorização dos adolescentes. O 
encontro ocorreu em um espaço da 
universidade, com a presença de dois 
grafiteiros e de uma banda de Rap local. 
O objetivo foi apresentar a relevância da 
arte para a inserção social e como forma 
de expressão de emoções. Como 
atividades, os grafiteiros apresentaram 
um histórico dessa manifestação de arte, 
a forma como ela se constituiu e sua 
importância, seguindo-se com a 
construção de desenhos em parceria 
com os adolescentes. A respeito dessa 
atividade, é possível afirmar que o 
grafite é um meio de expressão artística 
que os jovens utilizam para expressar 
408 
 
Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
sua opressão e como forma de 
reconhecimento ao mundo por meio da 
arte (Lopes, 2011). Nesse sentido, a 
utilização dessa estratégia pode ser de 
grande valia no contexto da medida 
socioeducativa. 
Para o fechamento dos 
encontros, a banda de Rap verbalizou 
sobre a importância da música para a 
busca por um trabalho “honesto” e 
“digno” e como forma de expressão de 
suas emoções. Eles apresentaram suas 
músicas, todas com a temática 
relacionada à violência e a drogas, o que 
possibilitou uma retomada das 
discussões dos encontros anteriores. 
Destaca-se que a utilização da música, 
presente em diversos encontros do 
grupo, foi essencial, ao se considerar o 
envolvimento dos participantes com ela, 
bem como o fato de que fazer música 
possibilita construções de si mesmo e 
ampliação dos recursos de interação, 
sendo um importante veículo 
performático (Jacobina & Costa, 2011). 
 
Considerações finais 
 
Com a realização das atividades 
grupais, possibilitou-se algo diferente 
do que vinha sendo até então realizado 
no Centro de Referência que, antes, 
oferecia apenas atendimentos 
individuais. Esses atendimentos, apesar 
de abordarem aspectos relevantes, 
acabam por secundarizar aspectos como 
socialização e discussão de temáticas 
que importam na adolescência. Esse é 
um desafio enfrentado na prática 
profissional no Creas. Por isso, este 
relato, que aponta mudanças de 
comportamento dos jovens, maior 
capacidade de se comunicarem e de 
expressarem suas emoções, pode ser 
relevante para se pensar no 
aprimoramento da complexa prática dos 
profissionais que atuam no âmbito da 
política de assistência social, 
especialmente no que tange ao 
compartilhamento das demandas no 
contexto da Medida Socioeducativa de 
Liberdade Assistida. 
É possível afirmar que a 
experiência aqui relatada buscou 
possibilitar novas perspectivas de 
mundo para os jovens, com o cuidado 
de partir de uma realidade próxima à 
deles, de assuntos e formas de 
expressão particulares, como o rap e o 
grafite. Com os encontros, pode-se 
confirmar o que afirmaram Siqueira e 
Dell’Aglio (2006): que instituições, 
como o Creas, podem prover apoio 
social, favorecendo o desenvolvimento 
de aspectos saudáveis, mesmo diante 
das adversidades vivenciadas pelos 
usuários. 
As atividades conduzidas 
levaram a romper com a ideia da 
medida socioeducativa como modelo 
unicamente de punição, indicando seu 
caráter socioeducativo e a importância 
de buscar outros referenciais, 
especialmente na superação do estigma 
de predição de fracasso atribuído aos 
adolescentes e ao sistema 
socioeducativo (Costa & Assis, 2006). 
É possível ressaltar que essa 
proposta pode ser levada adiante, visto 
que o desenvolvimento dos 
adolescentes foi perceptível ao longo 
dos encontros e que as estratégias 
utilizadas podem ser aprimoradas e 
adaptadas a outros contextos. Reitera-se 
que a formação acadêmica carece de 
cada vez mais relatos de intervenções, 
visto que ainda são poucos os artigos 
encontrados sobre experiências 
similares, vinculadas à atuação do 
psicólogo em contextos de 
vulnerabilidade social e violação de 
direitos. Mais que isso, os adolescentes 
responsabilizados por um ato 
infracional carecem de intervenções 
profissionais implicadas em fazer 
diferente, buscar inovações e, 
principalmente, usar o potencial 
409Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em 
cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de 
Referência Especializado em Assistência Social 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. 
 
daqueles jovens, já desacreditados por 
muitos. 
Um dos adolescentes, aqui 
chamado “Chavoso”, dada a forma 
como se autoafirmou, chamou a atenção 
nos encontros por não aceitar participar 
das atividades – sendo respeitado em 
seu direito de escolha –, ao mesmo 
tempo em que raramente faltou às 
oficinas, sempre esteve presente e 
notadamente atento. No último 
encontro, percebeu-se sua real 
implicação com o processo: conversou 
com os coordenadores sobre o receio 
quanto ao encerramento do grupo e 
deixou seu desenho – seu nome 
marcado na parede da Universidade. 
Esse é um exemplo dos adolescentes 
que passaram pelo grupo e que 
demonstram que esse trabalho pode 
trazer efetivas mudanças ou reflexões 
por parte deles, mesmo diante de suas 
singularidades no grupo. 
Por fim, cabe destacar a 
importância do contato e das visitas 
técnicas ao Creas, que trouxeram 
importantes indicativos das 
necessidades do local, facilitando o 
planejamento das atividades e dos 
objetivos deste relato de experiência. 
Tendo em vista que os assuntos 
discutidos nas oficinas temáticas 
abordavam a realidade dos jovens, 
havendo o respeito e o cuidado de se 
fazer uso de uma linguagem clara e 
acessível ao público participante, os 
resultados foram percebidos na 
mudança de postura dos adolescentes do 
grupo ao longo dos encontros. Eles 
iniciaram o processo bastante calados, 
mas com o passar do tempo 
demonstraram mais implicação com as 
atividades. Além disso, o retorno por 
parte da equipe do Creas, com 
feedbacks positivos trazidos pelos 
participantes, confirma os resultados do 
trabalho. 
 
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Recebido em 27/09/2015 
Aprovado em 01/07/2016 
137
Grupo psicoeducacional com pais em situação de violência 
contra filhos: relato de experiência
Amailson Sandro de Barros1, Maria de Fátima Quintal de Freitas2
Resumo
Este estudo tem como objetivo apresentar o relato de uma 
experiência profissional interdisciplinar realizada no âmbito 
do Centro de Referência Especializado de Assistência 
Social (CREAS) de um município do interior do estado do 
Paraná, especificamente no atendimento a situações de 
violência doméstica. Participaram dessa experiência 19 pais, 
encaminhados ao CREAS para atendimento psicossocial e 
educacional devido a atos de violência por eles perpetrados 
contra seus filhos. Foram realizados 10 encontros semanais, 
cada um com duração de 90 minutos. Os resultados obtidos 
indicam boa participação dos pais nos grupos, mudanças na 
interação familiar e redução da violência doméstica.
Palavras-chave
Grupo de Pais. Violência Doméstica Contra Crianças e 
Adolescentes. Grupo Psicoeducacional.
1. Doutor em Educação na Universidade Federal do Paraná, professor assistente na Universidade Federal do 
Mato Grosso, Mato Grosso. E-mail: amailsonbarros@gmail.com.
2. Pós-Doutora em Psicologia Comunitária pela Instituição Universitária de Psicologia Aplicada, Lisboa, Portugal e 
pela Universidade do Porto, Portugal, professora associada da Universidade Federal do Paraná. E-mail: fquintal@
terra.com.br.
138
Psychoeducational group of parents involved in violence 
against children: an experience report
Abstract
The aim of the present study is to report on an interdisciplinary 
professional experience gained at the Social Assistance 
Specialized Reference Center (CREAS) in a town in the countryside 
of the State of Paraná, Brazil, more specifically on the handling 
of cases of domestic violence. Nineteen parents participated 
in this experiment and were referred to CREAS for educational 
and psychosocial assistance due to acts of violence against their 
own children. Ten weekly meetings were held, which lasted 90 
minutes each. The results obtained indicate improvement in the 
lives of the parents, changes in family interaction and reduction 
of domestic violence.
Keywords
Group of Parents. Domestic Violence Against Children and 
Adolescents. Psychoeducational Group.
* PhD in Education, Federal University of Paraná, State of Paraná, Brazil, assistant professor, Federal University of 
Mato Grosso, State of Mato Grosso, Brazil. E-mail: amailsonbarros@gmail.com.
** Post-Doctoral degree in Community Psychology, Instituição Universitária de Psicologia Aplicada e Universidade 
do Porto, Portugal; associate professor, Federal University of Paraná, State of Paraná, Brazil. E-mail: fquintal@
terra.com.br.
Amailson Sandro de Barros*, Maria de Fátima Quintal de Freitas**
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Introdução
Estudos têm demonstrado que é no 
núcleo familiar, lócus inicial de aprendizagem 
de relações sociais, que acontecem com 
maior frequência situações de violência que 
comprometem direitos fundamentais da 
criança e do adolescente (MINAYO, 2001; 
BÉRGAMO; BAZON, 2012). Pesquisas que se 
debruçam ao estudo da violência infanto-juvenil 
indicam geralmente que esta é uma forma de 
comunicação e de relação interpessoal que se 
estabelece entre os membros de uma família 
e que, na maioria dos casos, os autores mais 
comuns dessa violência são os pais, padrastos, 
mães, madrastas, tios e avós, com destaque 
para a figura da mãe (SANCHEZ; MINAYO, 
2006; BOARATI; SEI; ARRUDA, 2009). 
Embora o contexto familiar seja apontado 
como o lugar onde ocorre a maior incidência 
de violência contra crianças e adolescentes, 
as relações agressivas que aí se estabelecem 
podem ser superadas e trabalhadas a 
partir de práticas interventivas que visem o 
restabelecimento e fortalecimento dos vínculos 
familiares e do modo de enfrentamento 
da vida cotidiana destas famílias (NEVES; 
ROMANELLI, 2006; ASSIS et al., 2009) sem cair 
na naturalização e na culpabilização dos pais. 
Entre as estratégias de intervenção, 
o trabalho com grupos aparece como uma 
possibilidade de intervir com esses pais, 
admitindo a possibilidade de mudanças 
positivas na relação pais e filhos, em favor de 
um processo de conscientização (FREIRE, 2010) 
e de transformação social (FREITAS, 2010).
De acordo com alguns estudos, as 
intervenções em grupo realizadas com pais 
agressores reduzem comportamentos agressivos, 
sensibiliza-os sobre suas responsabilidades 
parentais, possibilitam a formação e a 
identificação de uma rede de apoio social e 
afetiva e sinalizam uma melhor compreensão 
da função protetiva da família (BAZON et al., 
2010; CAMPANA; ANDERY; MARIAN, 2013). 
Segundo esses autores, o intercâmbio de 
ideias e de reflexões conjuntas entre os pais 
se mostra essencial na problematização de 
saberes e na superação de práticas educativas 
pouco afetuosas e agressivas que, por vezes, 
se naturalizaram na dinâmica familiar e 
ultrapassam gerações. Nesse sentido, pensar 
a família como uma instituição concreta é 
fundamental para o processo de socialização 
e desenvolvimento humano, em seu aspecto 
físico, cognitivo, emocional e sociocultural. 
Há, ainda, de se considerar que a 
família transmite valores, normas e princípios 
que reproduzem e estabelecem a ordem e 
os interesses sociais, bem como atua sobre a 
saúde mental de seus membros. Além disso, o 
uso de castigos físicos revela não só aspectos 
processuais de uma convivência familiar 
marcada por conflitos e pela contradição, mas 
aponta também sua função na manutenção e 
na reprodução das relações sociais expressas em 
uma sociedade que reduz as relações entre os 
homens à condição de objetos, cuja objetalização 
se expressa também a partir de tratamentos 
abusivos (LANE, 2002; MARTIN-BARÓ, 2003).
O uso da violência contra crianças e 
adolescentes busca legitimar, ao longo da 
história, a relação de poder assimétrica dos 
pais (adultos) sobre os filhos (crianças), baseada 
em autoritarismo, submissão e opressão, de 
forma que muitas vezes seu uso seja atribuído 
ao discurso de uma prática educativa e 
corretiva. Difunde-se, assim, e muitas vezes 
com o respaldo da sociedade, a violência como 
estratégia utilizada pelos adultos para educar, 
regular e normatizar as crianças e adolescentes 
para deles obter o respeito. Aos filhos, por 
sua vez, cabe moldarem-se à subalternidade 
e àquilo que lhes é esperado socialmente. É 
assim que, ao longo dos anos, pais e filhos 
vão se formando e justificando suas práticas.
140 Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016
Ao atribuir-lhe uma justificativa e um 
objetivo educacional, a ideologia que subjaz nos 
atos de violência é distorcida e a gravidade do 
ato fica camuflada, tornando imperceptível, na 
vida cotidiana, outros elementos constitutivos 
dessa ação, como seu caráter histórico-
contextual e o caráter pessoal de quem a 
pratica e de quem a recebe, operando na 
construção de significados e sentidos (MARTÍN-
BARÓ, 2003) e aparecendo na superfície dos 
fatos como algo que é merecido pela vítima. A 
superaçãoda violência doméstica depende de 
um posicionamento crítico dos pais em relação 
ao seu uso como estratégia educativa e punitiva.
Em consonância com os argumentos 
apresentados, o presente artigo descreve uma 
experiência de atendimento psicossocial e 
educacional realizada com dois grupos de 
pais atendidos em um Centro de Referência 
Especializado de Assistência Social (CREAS), de 
um município do interior do estado do Paraná. 
As atividades reflexivas desenvolvidas 
a partir do trabalho em grupo com os pais 
tiveram como objetivo proporcionar formas 
de enfrentamento das situações de violência 
contra crianças e adolescentes, oportunizar 
a interação entre os pais e a formação 
de uma rede social de apoio entre eles.
A proposta de trabalho com pais em 
situação de violência contra filhos
O trabalho partiu da perspectiva da 
psicologia social comunitária e da educação 
popular freireana, entendendo que uma 
intervenção psicossocial e educacional, em 
contextos de violência doméstica, não deve 
partir do entendimento de que o processo de 
intervenção é o resultado exclusivo da ação dos 
profissionais sobre os participantes dos grupos 
de pais, de forma a impor seu saber fazer e 
pensar, mas sim um processo coletivo, uma ação 
compartilhada que se estabelece na relação 
entre o público-alvo e os profissionais (FREITAS, 
2010, 2014; FREIRE, 2010; MONTERO, 2010). 
Como processo, a intervenção psicossocial 
e educacional não é uma atividade solitária. 
Ela implica relações concretas com os outros. 
Decorre dessa observação que o trabalho 
com grupos não é realizado no vácuo da 
participação profissionais-população e/ou no 
isolamento dos profissionais com a comunidade, 
ou com os usuários dos equipamentos 
sociais, em que eles prestam seus serviços. 
Nessa medida, a prática adotada para 
o atendimento em grupo rompe com o 
pragmatismo de intervenções que carregam 
em seu bojo o normativismo e o dogmatismo 
de dar explicações universalizantes, 
quando não moralizantes e psicologizantes 
às problemáticas da vida cotidiana, em 
uma tentativa de emoldurar os sujeitos da 
intervenção e suas relações (FREITAS, 2014).
Enfatizando o caráter libertador, o 
processo de conscientização e a possibilidade 
ontológica do indivíduo em “ser-mais” humano 
(FREIRE, 2010), a intervenção em grupo 
desenvolvida com os pais pautou-se em um 
continuum ação-reflexão-ação, processo que 
por excelência é entendido como dialógico 
e transformador das pessoas e da realidade.
Acreditamos que a intervenção em grupo 
oportuniza que novos significados sejam dados 
às experiências de cada participante do grupo, 
pois conhecimentos são compartilhados e 
busca-se estabelecer apoio social e afetivo entre 
os participantes, com o intuito de fortalecer 
os vínculos e colaborar para a superação das 
problemáticas enfrentadas pelo grupo ou 
comunidade.
Assumir essa perspectiva torna-se 
fundamental, visto que para a psicologia social 
comunitária e a educação popular as relações 
concretas cotidianas oferecem possibilidades 
de educar e politizar todos os envolvidos na 
proposta de intervenção. Nesse sentido, o 
trabalho desenvolvido não se limita à troca de 
informações, mas se constitui como possibilidade 
141Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016
de enfrentamento da violência doméstica e 
de transformação das relações afetivas entre 
pais e filhos, de modo a fortalecer os vínculos 
familiares e sociais e possibilitar relações mais 
solidárias e afetuosas. 
Metodologia
A experiência trata-se de um relato 
de intervenção psicossocial e educacional, 
na modalidade Grupo de Pais, realizada no 
âmbito do CREAS de um município do estado 
do Paraná. A condução dessa intervenção 
foi, especificamente, coordenada pela 
equipe técnica de Atendimento a Crianças e 
Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e 
Exploração Sexual e de Medidas Socioeducativas. 
Os encontros ocorreram no CREAS, 
no período noturno, em uma sala para 
atividades em grupo. Os participantes dessa 
intervenção foram pais, mães, madrastas e 
padrastos, que apresentavam dificuldades de 
se ausentar de seus locais de trabalho para 
comparecerem aos atendimentos diurnos 
ofertados pelo CREAS em suas instalações. Este 
texto sistematiza a proposta de intervenção 
Grupo de Pais, tendo como pano de fundo 
dois momentos distintos de sua realização. 
Participaram desses dois momentos 
19 sujeitos, divididos em dois grupos, 
denominados de grupo A (10 participantes) 
e grupo B (9 participantes). Cada grupo se 
reuniu em dia específico da semana. No total, 
foram realizados 10 encontros semanais, com 
duração de uma hora e trinta minutos cada. 
Para inclusão dos participantes nos grupos3 
adotaram-se os seguintes critérios: pais maiores 
de 18 anos sem histórico de qualquer tipo 
de transtorno mental e de acompanhamento 
psiquiátrico; casos de violência física, psicológica 
e negligência; ter sido a violência intrafamiliar 
contra crianças e adolescentes perpetrada 
por um dos seus principais cuidadores, ou 
seja, pai, mãe, padrasto e/ou madrasta. 
A equipe técnica responsável pela 
condução dos grupos foi formada por um 
psicólogo, uma psicóloga, uma pedagoga e uma 
assistente social.
Discussão dos encontros
O início do processo
Os grupos foram formados a partir dos 
encaminhamentos das famílias pelo Conselho 
Tutelar ao CREAS, devido à situação de violência 
de pais contra filhos, e com indicação de 
acompanhamento psicossocial dos pais. Após 
receber os encaminhamentos do Conselho 
Tutelar, a equipe técnica entrou em contato 
com as famílias in loco com o objetivo de 
compreender o ambiente familiar e comunitário 
no qual estavam inseridas, bem como apresentar 
os serviços do CREAS e estabelecer vínculo 
entre elas e a equipe. Durante o processo de 
atendimento das famílias no CREAS, a equipe 
técnica realizou encontros domiciliares com as 
famílias como estratégia de acompanhamento 
mais individualizado dos casos. 
Após o primeiro contato domiciliar 
dos técnicos com as famílias, elas foram 
convidadas a participar dos atendimentos 
e das atividades ofertadas pelo CREAS, 
principalmente dos encontros de um dos 
grupos de pais. Posteriormente à realização 
do cadastro psicossocial da família na unidade 
do CREAS, foi feito o encaminhamento dos 
interessados em participar dos grupos de pais. 
Sobre a intervenção
O trabalho com os grupos de pais pautou-
se nas premissas de uma intervenção reflexiva, 
dialógica e participativa, que ultrapassasse 
o mero ensino e a mera aprendizagem de 
3. Para garantir o anonimato e sigilo, adotamos nomes fictícios para nos referirmos aos participantes dos grupos. 
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comportamentos considerados satisfatórios 
para lidar com os conflitos familiares e 
com a educação dos filhos. Primou-se 
em propiciar aos pais participação ativa e 
possibilidades de questionamentos da realidade 
vivenciada enquanto famílias e cidadãos. 
Os encontros dos grupos foram 
planejados a partir da demanda dos pais e dos 
apontamentos realizados pela equipe técnica 
do CREAS durante a coordenação dos trabalhos 
com as famílias, em um processo dialógico e de 
trocas de experiências. Cada grupo apresentou 
particularidades de assuntos trabalhados, mas 
verificaram-se temáticas pertinentes aos dois 
grupos que aqui foram sintetizadas e alocadas 
didaticamente para compreensão do processo. 
Os encontros foram organizados 
respeitando a seguinte estrutura (AFONSO, 2006):
a. Acolhimento e aquecimento e/
ou relaxamento. Momento inicial do 
grupo em que os pais são acolhidos 
pela equipe técnica antes de iniciar as 
atividades propostas para o encontro, de 
forma a deixá-los à vontade e favorecer 
a socialização entre os participantes. 
Como forma de preparar o grupo 
para as atividades do dia, a equipe 
técnica realizava com os pais algum 
aquecimento ou relaxamento corporal.
b. Momento de discussão da temática 
e de realização das atividades propostas.c. Sistematização e avaliação das 
atividades com o objetivo de proporcionar 
reflexões sobre o trabalho realizado pelo 
grupo e proporcionar encaminhamentos 
para o encontro seguinte.
Apresentação e discussão dos encontros
Etapa I – Estabelecimento de vínculo entre os 
participantes e formação do grupo (Encontros 
1 a 3) 
Nestes três encontros, foram acolhidas 
as expectativas dos pais em relação ao grupo, 
as possíveis dificuldades para participar dos 
trabalhos e os temas de interesse para as reflexões. 
No primeiro encontro, pais e 
profissionais se apresentaram, discutiram 
questões relacionadas ao sigilo e a não 
obrigatoriedade de participação dos pais 
nos grupos, sem prejuízo ao atendimento da 
família pelo CREAS. Nesse encontro, foram 
levantados com os participantes os possíveis 
temas que norteariam o trabalho em grupo.
Os participantes manifestaram interesse 
pela discussão de situações de conflito entre 
pais e filhos, desenvolvimento infanto-juvenil e 
sexualidade, Estatuto da Criança e do Adolescente, 
uso e abuso de substâncias psicoativas e 
estratégias de educação sem o uso de violência.
No segundo encontro, os pais assistiram 
ao filme de animação intitulado Era uma vez 
uma família, disponível no Youtube. O conteúdo 
dessa animação apresentou o cotidiano de uma 
família, na qual os pais se utilizam da violência 
física, psicológica e verbal para educar seus filhos. 
A equipe observou que a partir dessa exibição 
os participantes relataram suas vivências de 
infância e a maneira como foram educados pelos 
seus genitores e/ou responsáveis. Foi possível 
verificar que, em muitos casos, a violência 
doméstica é uma dinâmica naturalizada e 
banalizada pelos participantes, sendo sua 
prática passada de geração para geração. Essa 
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constatação corrobora com a literatura que 
aponta a multigeracionalidade da violência 
doméstica (ABRANCHES; ASSIS, 2011) como 
sendo um dos fatores para a sua manutenção.
As agressões físicas e verbais praticadas 
contra os filhos foram justificadas pelos 
participantes como uma estratégia de 
educação, correção e meio de controle dos 
pais sobre os filhos. Essas considerações 
direcionaram a reflexões sobre as possíveis 
consequências da violência intrafamiliar 
para o desenvolvimento emocional, físico e 
cognitivo das crianças e dos adolescentes. 
A exemplo do uso da violência física 
e verbal, o trabalho infantil foi considerado 
inicialmente pelos participantes como uma 
atividade que colabora na educação dos filhos. 
O caráter moralizante do trabalho apareceu nos 
dois grupos e sua adoção foi justificada pela 
possibilidade de retirar crianças e adolescentes 
das ruas, da “vadiagem” e “de se envolver 
em coisas erradas”. Os pais puderam refletir 
sobre a importância da categoria trabalho para 
a constituição do ser humano e diferenciar 
situações de abuso da força de trabalho 
infanto-juvenil de situações de colaboração e 
participação dos filhos nos afazeres domésticos, 
sem que isso acarrete prejuízos ao seu 
desenvolvimento psicossocial, cognitivo e físico.
Esse tema proporcionou reflexões sobre 
a implantação e efetividade do Estatuto da 
Criança e do Adolescente e desmistificou a 
ideia que muitos pais têm de que crianças 
e adolescentes não podem mais ajudar nos 
afazeres domésticos, por conta de uma possível 
penalidade judicial aos pais. A distinção entre 
abuso e atividade educativa, proporcionada 
pelos afazeres domésticos corriqueiros, 
permitiram a diferenciação entre aquilo que 
pode ou não ser considerado exploração de 
trabalho infantil, a depender da intensidade 
da tarefa e das condições físicas, cognitivas 
e emocionais da criança para executá-la. 
No terceiro encontro, ocorreu a 
continuidade das reflexões do encontro 
anterior. Como atividade de socialização e de 
acolhimento, realizou-se no início do encontro 
a vivência do espelho. Essa atividade consistiu 
em levar individualmente cada participante até 
um espaço reservado, previamente preparado 
pela equipe técnica do CREAS, onde era 
possível o participante sentir-se acolhido e 
protegido. Nesse espaço, foi colocado um 
espelho grande que possibilitava o reflexo 
do corpo inteiro de quem se posicionasse 
diante dele. Ao se depararem com o espelho, 
cada participante era incentivado a olhar o 
que ele refletia e buscar semelhanças entre a 
imagem refletida no espelho e os filhos. Essa 
prática teve como proposta promover uma 
reflexão entre os participantes das posições que 
ocupam como pais, podendo olhar para si e 
para os filhos. Foi possível observar que diante 
do espelho muitos participantes choraram e 
outros cobriram o rosto com as mãos. Diante 
dessas situações, o apoio profissional foi 
fundamental para os participantes lidarem 
com suas emoções e seus sentimentos, em um 
contexto grupal compreensivo e acolhedor.
Durante a realização de todos os encontros, 
houve por parte da equipe técnica a preocupação 
em proporcionar um processo em grupo seguro 
e afetivo. Após a realização dessa atividade, os 
participantes discutiram coletivamente aquilo 
que sentiram diante do espelho, os significados 
e os sentidos da atividade para cada um deles.
Eu vi ódio, querendo se cortar com a 
gilete. [referindo-se ao comportamento de 
automutilação da filha). (Amélia)
Eu vi minha filha chorando, comendo unhas. 
Nunca vou ser feliz! (Cecília)
Ela não tem minha fisionomia. Quando estou 
brava com o pai dela, desconto nela. Ela diz 
que não tem culpa. Eu não dou atenção para 
ela. (Alda)
A partir das verbalizações dos 
144 Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016
participantes, problematizou-se a relação pais 
e filhos como espaço concreto e subjetivo, 
com foco na discussão sobre as marcas 
dolorosas causadas na família tanto pela 
violência física quanto pela carência afetiva. 
Os relatos dos participantes revelaram 
condições necessárias para o trabalho com 
pais autores de violência contra os filhos:
a. Considerar os aspectos afetivos e 
emocionais dos participantes, resgatando 
fatos da vida cotidiana da família e seus 
sentimentos;
b. Reconhecer a história de vitimização 
dos participantes;
c. Respeitar o participante em seu 
processo grupal;
d. Prevenir casos de violência doméstica.
Etapa II – Fortalecimento da rede de apoio e 
práticas de resolução de conflitos (Encontros 
4 a 7)
A partir do quarto encontro, questões 
referentes à resolução de conflitos familiares 
tornaram-se focos de reflexão nos grupos. 
Ao longo desses encontros, os participantes 
compartilharam suas histórias e suas vivências 
de violência doméstica.
Como estratégia para iniciar essas 
reflexões, utilizaram-se jogos dramáticos, 
por exemplo, improvisação teatral com os 
participantes sobre um conflito cotidiano 
enfrentado na família. Antes de iniciar a 
improvisação, realizou-se com os pais uma 
sessão de aquecimento vocal e alongamento 
corporal. Na sequência, os participantes foram 
divididos em quatro subgrupos. Cada subgrupo 
encenou um conflito ou problema familiar, 
seguido de sua solução. Após a apresentação 
dos subgrupos, o grande grupo refletiu sobre 
as cenas, seus encaminhamentos e as outras 
possíveis soluções para os conflitos apresentados.
Os conflitos encenados giraram em 
torno de dificuldades de relacionamento 
entre pais e filhos adolescentes, sexualidade 
dos filhos, dificuldades financeiras da família 
e seus impactos no relacionamento afetivo 
e sexual dos pais, uso e abuso de substâncias 
psicoativas pelos filhos adolescentes, furtos e 
violência doméstica contra a mulher e o idoso.
Em todas as improvisações, a resolução 
dos conflitos ocorreu pelo uso do diálogo. No 
coletivo, os pais valorizaram o diálogo e as redes 
de apoio familiar e social para a constituição 
e consolidação de vínculos afetivos e sociais 
não violentos, o que aponta para uma possível 
conscientização na prevenção e na superação 
do uso da violência e ressignificação deexperiências. Apoio social e afetivo emergiram 
nas considerações e reflexões dos participantes, 
tornando-se temas para os encontros 5 e 6.
No quinto encontro, os pais mapearam 
as redes de apoio que poderiam ser acionadas 
pelas famílias com o objetivo de auxiliá-
las a resolver as situações apresentadas nas 
encenações do encontro anterior. O encontro 
teve como foco as redes socioassistenciais e de 
saúde e abriu discussão sobre políticas públicas 
em relação ao enfrentamento e ao combate 
do uso de drogas, em específico do uso de 
crack; políticas de proteção à infância e à 
adolescência; e políticas de proteção à mulher 
e ao idoso, vítimas de violência doméstica. 
A importância do fortalecimento dos 
vínculos familiares e comunitários para o 
enfrentamento da violência doméstica também 
foi enfatizada e refletiu-se sobre o compromisso 
de formação de redes de solidariedade e 
cooperação entre as pessoas e as instituições.
No sexto encontro, os pais realizaram 
uma atividade de colagem que resultou em 
um cartaz que representava a família de cada 
participante. Para execução dessa tarefa foram 
disponibilizados tesouras, revistas, cartolinas, 
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canetinhas hidrocor, colas, lápis de cor e 
canetas coloridas. Após todos os participantes 
finalizarem os cartazes, o grupo se posicionou 
em círculo para discutir sobre eles. Os 
participantes observaram que seus cartazes 
retrataram uma família feliz e expuseram a 
diferença entre a família pensada (representada 
no cartaz) e a família vivida (real) por eles.
As reflexões sobre o conceito de 
família e sua função social foram apontadas 
inicialmente pelos participantes em seu caráter 
natural e tradicional (pai, mãe e filhos), sendo 
posteriormente relacionadas a concepções 
ideológicas (patriarcal e privada) e vista em 
seu caráter fundamental de socialização.
Essa atividade possibilitou também 
a expressão das dificuldades vividas pelas 
famílias dos participantes. Os pais relataram 
situações como vícios em jogos de baralho, 
uso abusivo de álcool, submissão feminina, 
descrédito nas leis (Estatuto da Criança e do 
Adolescente, Lei Maria da Penha, Estatuto do 
Idoso) e nos serviços públicos de saúde e de 
assistência social, principalmente no que se 
refere ao tratamento e à prevenção do uso de 
álcool e de substâncias psicoativas. O tema 
sexualidade infanto-juvenil emergiu durante 
a reflexão da atividade e foi considerado 
proposta de discussão para o encontro seguinte.
No sétimo encontro foi trabalhado o 
tema desenvolvimento humano e sexualidade. 
Como atividade de aquecimento foi realizada 
uma brincadeira infantil chamada “lenço atrás 
da porta”. A partir desse aquecimento, os 
participantes relembraram outras brincadeiras 
infantis e contaram como suas infâncias foram 
vivenciadas. Alguns relataram o ingresso 
precoce no mundo do trabalho e que por isso 
não viveram a infância como gostariam. A 
fase da adolescência também foi relembrada 
pelos participantes e percebeu-se que para 
muitos ela foi considerada inexistente.
Os participantes relataram diferenças 
entre a criança e o adolescente nos tempos 
atuais, em comparação com o que era ser criança 
e adolescente há pouco mais de 30 e 40 anos. 
Na opinião deles, as crianças e os adolescentes 
de hoje “estão mais rebeldes e mais espertas”.
A partir do conhecimento dos participantes 
sobre o que é ser criança e adolescente, foi 
possível refletir a construção social e histórica 
da infância e da adolescência, do ser menino 
e do ser menina e, assim, abordar o tema da 
sexualidade, pontuando diferenças biológicas, 
de gênero e históricas, de forma a superar 
concepções deterministas, preconceituosas 
e biológicas sobre o fenômeno. Refletiu-se 
também que a sexualidade é uma questão 
multideterminada, que se expressa nas relações 
sociais e que sua definição está relacionada 
a condições concretas e ao momento 
histórico vivido pela humanidade. Sendo, 
portanto, um processo histórico e simbólico.
Etapa III – Construção do plano familiar e 
encaminhamentos (Encontros 8 a 10)
Nos encontros 8 e 9, o objetivo 
foi a realização do plano familiar e 
encaminhamentos das famílias para outros 
equipamentos da assistência social e da saúde. 
Para elaboração inicial do plano familiar, 
os participantes elencaram as principais 
potencialidades da família para a superação da 
violência doméstica vivenciada e refletiram os 
pontos positivos e as qualidades das pessoas que 
formam o seu núcleo familiar. Depois, listaram 
as principais vulnerabilidades que causam 
fragilidades e submetem a família a situações de 
risco pessoal e social.
Ao elaborarem o plano familiar, os 
participantes apontaram a educação formal 
como uma das possibilidades para a melhoria 
da convivência e do cuidado familiar, bem 
como destacaram a importância da educação 
e da cultura como meios de perpetuação e 
superação da violência doméstica. Ademais, 
revelaram que uma boa educação vai além do 
contexto familiar, pois envolve boas condições 
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de ensino escolar e a garantia de acesso dos 
filhos a escolas públicas e ao ensino superior 
de qualidade. Na opinião dos participantes, a 
educação escolar e universitária dos filhos foi 
defendida como possibilidade de melhores 
oportunidades de trabalho e ganhos financeiros. 
O acesso de todos a uma boa educação foi 
amplamente defendida pelos participantes. 
A relação educação e trabalho, 
defendida pelos participantes dos grupos 
de pais, foi voltada ao imediatismo da 
prática do trabalho e ajuste dos indivíduos 
aos pré-requisitos exigidos pelo mercado.
A elaboração do plano familiar possibilitou 
que os pais apontassem questões estruturais 
das comunidades às quais pertenciam e que 
impactavam no fortalecimento dos vínculos 
familiares e comunitários. A falta de áreas 
de lazer nos bairros, como praças e quadra 
de esporte para os filhos se divertirem, e as 
dificuldades de acesso a eventos culturais, como 
teatro, dança e cinema, foram citadas pelos pais. 
Lá onde eu moro não tem uma quadra de 
esporte e um parquinho de diversões para as 
crianças brincarem. (Juliana).
Você não tem onde sair para se divertir com 
eles. Como que você vai ao cinema. Nem tem 
mais. E o dinheiro? Não dá, né? (Pedro).
Ela queria aprender a dançar, mas não tenho 
como pagar a aula para ela. (Ivone).
Um dos aspectos mais abordados nos 
Grupos de Pais foi a vulnerabilidade social das 
famílias decorrente do acesso precário ou nulo 
a serviços e espaços públicos de lazer e cultura 
e as dificuldades financeiras, o que acabam 
contribuindo para a fragilização de vínculos 
afetivos e relacionais na família e na comunidade.
A partir do plano familiar todos os 
participantes foram encaminhados aos serviços 
de convivência e fortalecimento de vínculos 
familiares e comunitários realizados nos 
Centros de Referência de Assistência Social 
(CRAS) e outros foram aos serviços de saúde, 
como o Centro de Atenção Psicossocial em 
Saúde Mental e Estratégia Saúde da Família. 
No décimo encontro ocorreu o 
encerramento dos grupos com a realização de 
um jantar para todos os participantes e seus 
filhos. Durante o jantar, alguns pais realizaram 
apresentações artísticas, como música e dança.
Algumas considerações
A oferta de grupo de pais em situação 
de violência doméstica perpetrada por eles 
contra seus filhos mostrou-se um trabalho 
necessário e com possibilidades efetivas de 
superação, promoção e prevenção da violência 
doméstica contra crianças e adolescentes. 
O cuidado em oferecer um espaço de 
identificação, acolhimento e formação 
de rede de apoio entre os participantes 
favoreceu a reflexão de estratégias não 
violentas para lidar com os conflitos familiares. 
As trocas e os vínculos formados durante 
o processo em grupo demonstraram um 
cuidado entre os participantes que, em muitas 
situações, se emocionaram com o discurso do 
outro.

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