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PROCESSOS GRUPAIS CRONOGRAMA E TEXTOS PRIMEIRO BIMESTRE 2017 DIURNO 13.02 1ª Aula Apresentação e Discussão da Ementa 20.02 2ª Aula Bibliografia: BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006. – Capítulo 1. 06.03 3a Aula Contribuições teóricas:Kurt Lewin Bibliografia: BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006. – Capítulo 1 MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. São Paulo: Duas Cidades, 1991. Capítulos 1,2 e 4. 13.03 4a Aula Contribuições teóricas:Moreno Bibliografia: BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006. – Capítulo 3 20.03 Contribuições teóricas: Piaget e Shultz Bibliografia: MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007. (Páginas 40 a 51). MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. São Paulo: Duas Cidades, 1991. – Capítulo 5 27.03 Contribuições Teóricas em Dinâmica de Grupo: Pichon-Rivière Bibliografia: PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1994. Textos do livro: Técnica de grupos operativos (capitulo 13) e O conceito de porta-voz (capítulo 26). 03.04 Prova teórica – NP1. Entrega do trabalho escrito: Análise do filme “12 homens e uma sentença” com base em uma das teorias estudadas no primeiro bimestre. 13.04 Discussão da prova e devolutiva do desempenho dos alunos. PROCESSOS GRUPAIS TEXTOS SEGUNDO BIMESTRE 2017 17.04 O Ciclo de Aprendizagem Vivencial. Objetivo: analisar as formas de interação do grupo, no uso do ciclo de aprendizagem vivencial - CAV. Bibliografia recomendada: BOOG, G. Manual de Treinamento e Desenvolvimento.São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007, Vol. 2. 24.04 Técnicas em abordagem vivencial Bibliografia: MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed.São Paulo: Atlas, 2001.(Capítulo 5) 08.05 - Práticas com grupos AFONSO, M. L. M.Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. CAPÍTULOS 1 e 2. - Apresentação de seminários para aplicação dos conceitos das teorias de Lewin, Moreno, Schutz ePichon-Rivièrena análise do filme: 12 homens e uma sentença. 15.05 Práticas com grupos SCHMITT, Aline Alflen; NASCIMENTO, Deise Maria do; SCHWEITZER, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social. Pesquisas e Práticas Psicossociais , v. 11, n. 2, p. 399-411, 2016. DE BARROS, Amailson Sandro; DE FREITAS, Maria de Fátima Quintal. Grupo psicoeducacional com em situação de violência contra filhos: relato de experiência. Revista de Educação Popular , v. 15, n. 2, p. 137-148, 2017. 22.05 - Apresentação de seminários para aplicação dos conceitos das teorias de Lewin, Moreno, Schutz ePichon-Rivièrena análise do filme: 12 homens e uma sentença. 29.05 18ª Aula - Prova teórica – NP2. 19a Aula – Vista da prova e devolutiva do desempenho dos alunos. Prova Substitutiva. 399 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Group of adolescents in a Socio-educational Measure Compliance of Assisted Freedom: experience report on a Reference Center Specialized in Social Work Grupo de adolescentes en cumplimiento de Medida Socioeducativa de la Libertad Asistida: relato de la experiencia en un Centro de Referencia Especializado para la Asistencia Social Aline Alflen Schmitt 1 Deise Maria do Nascimento 2 Lucas Schweitzer 3 Resumo O presente relato refere-se à experiência de estágio realizada em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social da Grande Florianópolis, com um grupo de adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida. Para o desenvolvimento do trabalho, objetivou-se a reestruturação das potencialidades dos adolescentes, a discussão de questões relacionadas à descrença quanto às possibilidades de reinserção social e a promoção de estratégias para o reconhecimento de possibilidades na vida dos sujeitos. Como metodologia, foram utilizadas oficinas temáticas com assuntos relevantes no contexto cultural e social dos adolescentes. Os encontros permitiram pensar a Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida em outra perspectiva, destacando a importância de um ambiente de socialização. Os resultados apontaram uma mudança de comportamento dos jovens, maior capacidade de se comunicarem e de expressarem suas emoções. Palavras-chave: Medida Socioeducativa; Liberdade assistida; Ato infracional; Adolescência. Abstract This article refers to the training experience in the Specialized Reference Center for Social Assistance in the Great Florianópolis with a group of adolescents in compliance with d Socio-educational Measure of Assisted Freedom. For developing the work, it was objectified restructuring the potential of teenagers, discussing issues related to the disbelief of the possibilities of social reintegration, and promoting strategies with them to recognize the possibilities in their lives. The methodology used was to hold thematic workshops on topics identified as relevant to the cultural and social context of those teenagers. These meetings allowed thinking the Socio- 1 Psicóloga, pós-graduanda em Gestão Estratégica de Pessoas na Faculdade Borges de Mendonça. E-mail: alinee.schmitt@gmail.com 2 Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: deisemn@uol.com.br 3 Psicólogo, especialista em Avaliação Psicológica, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: lucass.schweitzer@gmail.com mailto:alinee.schmitt@gmail.com mailto:deisemn@uol.com.br mailto:lucass.schweitzer@gmail.com 400 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. educational Measure of Assisted Freedom with another perspective, as an effective socialization environment. The results pointed a change in behavior of the teenagers, an improvement of their communication skills, and a better expression of their emotions. Keywords: Socio-educational Measure; Probation; Infraction; Adolescence. Resumen Este artículo se refiere a la experiencia en un Centro de Referencia Especializado para la Asistencia Social en la Grande Florianópolis con un grupo de adolescentes en cumplimiento de Medida Socioeducativa de Libertad Asistida. Para el desarrollo del trabajo, fue objetivada la reestructuración del potencial de los adolescentes, la discusión de temas relacionados con la incredulidad acerca de las posibilidades de reinserción social y la promoción de estrategias para el reconocimiento de las posibilidades en la vida de los individuos. La metodología utilizada fue la realización de talleres temáticossobre temas identificados como relevantes para el contexto cultural y social de los adolescentes. Las reuniones posibilitaran pensar la Medida Socioeducativa de Libertad Asistida en otra perspectiva, identificando la importancia de un ambiente de socialización. Los resultados indicaron un cambio de comportamiento de los jóvenes, mayor capacidad de comunicación y expresión de emociones. Palabras claves: Medida Socioeducativa; Libertad Asistida; Acto de infracción; Adolescencia. 401 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. Introdução Quando um crime é cometido, costuma-se assumir como importante o estabelecimento de um culpado para o ocorrido, um responsável pela violação da norma de conduta em si. Esta é a base de um processo criminal: estabelecer o responsável pelo crime. A preocupação do processo, então, é com o passado, não com o futuro (Zehr, 1990). Dessa forma, para a justiça, em seu modelo tradicional, o foco está mais para estabelecer quem cometeu o crime do que em suas causas e consequências. Um ato violento, assim, deve ser retribuído com uma punição equivalente à intensidade da ofensa, em uma tentativa de dissuadir quem praticou o crime (Fukamachi, 2012). A medida socioeducativa é uma forma de “punição” para adolescentes. Refere-se à aplicação de medidas judiciais para adolescentes que cometeram atos infracionais e foram julgados pela Justiça Especial para Crianças e Adolescentes. Ela tem como base a doutrina de proteção integral à criança e ao adolescente da Lei Federal nº 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, considerado um marco nos direitos desse segmento social. Essa lei objetiva a educação como prioridade na aplicação de medidas para as crianças e adolescentes, sendo que a educação, nesse sentido, não significa escolarização formal, mas a forma de execução das medidas judiciais (Craidy, 2011). O presente relato de experiência, vinculado ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), tem por meta contribuir para o desafiador objetivo de efetivar a medida socioeducativa de acordo com o que prevê o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), 4 cuja “implementação objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa assentada nos princípios dos direitos humanos” (Costa, Penso, Sudbrack, Jacobina, 2011, p. 381). Conforme prerrogativas da Lei Orgânica de Assistência Social (Lei nº 8.742), as proteções sociais, básica e especial, são ofertadas precipuamente no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), 5 respectivamente, e pelas entidades sem fins lucrativos de assistência social. O Creas, cenário deste relato de experiência, é uma unidade pública de abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, relacionado à proteção social especial de média complexidade. Ele representa uma referência para a rede de atendimento às situações de risco pessoal e social, especialmente em situações de violação de direitos. Entre os serviços de média complexidade, está o Serviço de Proteção Social a Adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), que tem a finalidade de prover atenção socioassistencial e acompanhamento a adolescentes em cumprimento de 4 O Sinase, conforme a Lei nº 12.594, trata do conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas. O cumprimento em meio aberto da Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) objetiva estabelecer um processo de acompanhamento, auxílio e orientação ao adolescente, sendo catalisador da integração e inclusão social (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente [Conanda], 2006). 5 Cras e Creas são unidades públicas estatais instituídas no âmbito do Sistema Único de Assistência Social, que possuem interface com as demais políticas públicas e articulam, coordenam e ofertam os serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social. 402 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. medidas socioeducativas em meio aberto (Ministério do Desenvolvimento Social [MDS], 2011). A implantação da Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida surge da necessidade de fornecer condições para o estabelecimento de novos projetos de vida e distanciamento da prática de atos infracionais. Para tanto, deve fortalecer laços familiares e comunitários e esforçar-se em integrar ações nas áreas de educação, saúde, lazer e trabalho (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2012b). Com base nesses pressupostos, o relato que se segue é produto da experiência de estágio, uma intervenção em um grupo de adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida, frequentadores de um Creas da região da Grande Florianópolis/SC. Considerando a complexidade da política pública atendida nessa intervenção, demarca-se que a inserção no Creas representa um ganho para a formação de profissionais, cujo relato perpassa pelo aprimoramento da prática profissional do psicólogo nesse âmbito. Além disso, novas propostas de intervenção podem ser pensadas a partir deste trabalho, configurando sua importância para o campo da pesquisa, bem como para a política pública e o público atendido. Cabe demarcar a relevância de focalizar a adolescência, por se tratar de um período atravessado por crises, inquietações, transformações biológicas, psíquicas e sociais, gerando conflitos e dúvidas (Maheirie, Urnau, Vavassori, Orlandi, & Baierle, 2005), período em que “o adolescente precisa de um espaço de expressão e de ressignificação de suas vivências” (Brasil, Almeida, Amparo & Pereira, 2015, p. 209). Considerando a pertinência da inserção do psicólogo em políticas públicas e as reflexões acerca da adolescência e das políticas de proteção de crianças e adolescentes, essa experiência de estágio visou implementar ações que contribuem para o acesso às políticas públicas de Assistência Social. Buscou-se problematizar a realidade vivenciada pelos adolescentes, evidenciando as potencialidades deles e apontando temas importantes relativos à realidade e a projetos de vida deles. Os objetivos dessa experiência se ancoram em uma perspectiva de Psicologia como prática profissional comprometida, ética e politicamente, com a transformação social. As intervenções se justificam ao considerar conceitos como vulnerabilidade social, desigualdade social, pobreza e violação de direitos, fundamentais para compreender como as pessoas podem ampliar suas potencialidades para o enfrentamento desses problemas, sempre visando à garantia de direitos e ao desenvolvimento dos sujeitos ou famílias (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2012a). Além disso, pressupôs-se a convocação do adolescente à partilha das suas construções pelos seus locais de convivência e respostas perante a lei, considerando sua subjetividade e a produção de intervenções baseadas no compromisso com a garantia dos direitos preconizados no ECA e nas normativas internacionais(Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2012b). Procedimentos metodológicos A experiência de estágio aqui relatada foi realizada na sede de um Creas da região da Grande Florianópolis/SC, com um grupo de adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida. Os participantes eram adolescentes, com idade entre 12 e 18 anos, que praticaram algum ato 403 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. infracional 6 e cumpriam Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida. Em geral, frequentavam o ensino fundamental ou médio na rede de ensino municipal ou estadual. Conforme demanda estabelecida pelo Creas, o número de participantes foi de cerca de dez adolescentes por encontro, com prevalência de jovens do sexo masculino. O grupo foi de caráter aberto, isto é, poderia ocorrer a entrada e saída de membros no decorrer dos encontros, considerando a disponibilidade dos participantes e início ou fim da medida socioeducativa. Para a realização do grupo, foram utilizadas discussões temáticas, uso de figuras, músicas e vídeos, participação de convidados e técnicas de dinâmica de grupo. O fato de o trabalho ser realizado em grupo justifica-se porque o adolescente protagonista de um ato infracional possui uma trajetória inscrita em um contexto complexo, impedindo que o foco da intervenção se restrinja ao jovem. Faz-se necessário compreender as relações que o envolvem, resgatando sua capacidade criativa para o desenvolvimento das relações sociais e consigo mesmo. Assim, desloca-se o foco exclusivo do adolescente como responsável por suas “dificuldades” e passa-se a entendê-lo em seu contexto cultural e social. Além disso, considerando que as estratégias de acompanhamento psicossocial podem ser diversas, essa experiência pautou-se no pressuposto de que grupos podem se constituir em espaço de vínculos e identificação de similaridades, estimulando a busca de soluções a partir de potenciais individuais e coletivos (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2012a). Optou-se pelo grupo como forma de demonstrar uma alternativa 6 Não foi utilizado como critério de inclusão o tipo de ato infracional cometido. complementar aos atendimentos individuais, contribuindo com o desafio atual da coletivização das demandas no âmbito da Assistência Social. O contato com o campo de estágio foi realizado por meio de reuniões com a equipe do Creas, a fim de estabelecer um vínculo inicial e levantar a possibilidade de realização das práticas de estágio no local. Com o convênio estabelecido entre a universidade e a coordenação do Creas, foram acordadas as temáticas a serem trabalhadas, considerando modificações no planejamento caso outras demandas surgissem ao longo dos encontros. Nesses contatos iniciais, as temáticas estabelecidas com os profissionais do Creas foram: percepção de si e percepção do outro, preconceito, violência, drogas, família, orientação profissional, sexualidade, expressões artísticas. A etapa prática do estágio foi composta por oito encontros com atividades específicas, de acordo com as necessidades identificadas pelos profissionais do local e com a demanda despertada pelos encontros grupais. O convite aos jovens para participarem dos encontros foi realizado diretamente pelos profissionais do Creas. Em relação ao andamento dos encontros, em todas as sessões os coordenadores e os participantes se apresentavam e havia uma exposição dos objetivos do trabalho, tendo em vista a variabilidade dos participantes ao longo dos encontros. Os sete primeiros encontros ocorreram em uma sala disponibilizada pelo Creas, com colchonetes dispostos em círculo, data show e aparelho de som. O último encontro foi realizado a céu aberto, em um espaço disponibilizado pela universidade vinculada. Resultados e Discussão 404 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. O primeiro encontro objetivou identificar demandas, discutir a temática “Percepção de si e do outro” e estabelecer o contrato de grupo. Para a confecção do contrato, foram dispostas figuras com regras de convivência em dois cartazes, um indicando “pode” e outro “não pode”. Os adolescentes foram orientados a escolher figuras que representassem regras, como o respeito e a compreensão, e colá-las nos cartazes, de modo que elas não fossem impostas, mas discutidas com base em suas escolhas. Na sequência, foram distribuídas folhas para que escrevessem características pessoais e compartilhassem a produção com os demais participantes. Essas atividades sobre a “Percepção de si e do outro” justificam-se, pois a adolescência é um período que abriga, além das mudanças biológicas, construções histórico-sociais que situam o envolvimento com o ato infracional como um dentre os agravos que compõem o quadro de vulnerabilidade dos jovens (Costa & Assis, 2006). O segundo encontro foi dedicado à temática “Preconceito”. Inicialmente, os coordenadores apresentaram vídeos para a problematização de situações de preconceito, seguindo-se o relato de situações cotidianas, sendo que os membros deveriam escrever em uma folha a primeira coisa que lhes “viesse à cabeça” relacionada às situações. Por exemplo: ao ser descrita uma situação em que uma pessoa malvestida e descalça entra em uma lanchonete, os membros citaram que “a pessoa era pobre e não tinha dinheiro para estar ali” e que “poderia ser um trabalhador que veio direto do serviço, ou um mendigo”. A partir da atividade, os coordenadores buscaram evidenciar que o preconceito, um pré-conceito gerador de sofrimento, pode estar relacionado a aspectos como credo, cor, etnia e classe social, além de costumeiramente relacionado à diferença, comum às minorias (Aquino, 1998). Por fim, os coordenadores solicitaram aos adolescentes que expressassem, por meio de pintura em uma folha, quanto preconceito já haviam vivenciado. Dentre os desenhos, chamou a atenção a produção de um adolescente que escreveu a frase “o tempo todo”, com a explicação de que [o preconceito ocorre] “tanto comigo quanto da minha parte com os outros”. Isso corrobora as afirmações de Salles e Silva (2008) de que as pessoas são costumeiramente incluídas em categorias que supostamente permitem prever identidades sociais, aqui compreendidas como referentes ao pertencimento a grupos sociais e à carga afetiva implicada nesse processo dialético relacionado à constituição identitária de cada sujeito. No entanto, quando o que é imposto ao indivíduo adquire conotações depreciativas, parte- se para estigmatizações em que o indivíduo passa a ser visto como diferente do normal, como desviante (Jacques, 1996; Goffman, 1998; Coutinho, Krawulski & Soares, 2007). O terceiro encontro teve como objetivo discutir a temática “Violência”, com a participação de um grupo de Rap. Inicialmente, os coordenadores apresentaram o tema do dia, “Violência”, e indicaram que ele seria discutido mais detalhadamente pelo grupo. De forma geral, a temática foi abordada de modo a evidenciar as diversas vertentes do tema (tais como violência verbal, física, etc.), aproximando-oda realidade dos adolescentes e o exemplificando com relatos pessoais. Também houve a apresentação do vídeo O menino e a Árvore (https://www.youtube.com/watch?v=bN IoNXFNiFY) com o objetivo de propor estratégias de enfrentamento da 405 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. violência por meio do trabalho em equipe. No debate com o grupo de Rap, os adolescentes mostraram-se atentos às discussões. Muitos realizaram pontuações sobre o tema, como: “às vezes começo a me envolver com violência por causa de amigo”, “às vezes um molequinho que é de gente boa e está de canto, tu de malandragem traz esse junto”. Os relatos e a forma como as atividades foram conduzidas vão ao encontro do que afirmam Jacobina e Costa (2011): no processo de construção da sua identidade, o adolescente busca referências nos seus pares e troca experiências produtoras dos sentidos que organizam o que é ser adolescente, o que foi potencializado no grupo. Além disso, a utilização da música ao longo do encontro parte do pressuposto de que esse é um recurso gerador de respostas positivas às demandas de atenção ao sofrimento humano, capaz de reconstruir identidades, integrar pessoas, reduzir a ansiedade e construir autoestima positiva (Jacobina & Costa, 2011; Andrade & Pedrão, 2005). Tal perspectiva também corrobora a noção de que as expressões culturais possibilitam ao adolescente passar pelos desafios subjetivos da adolescência com menor dano e risco ao seu desenvolvimento (Brasil et al., 2015). O quarto encontro teve como temática as “Drogas”. Inicialmente, foram exibidos vídeos sobre o assunto, seguidos de discussões sobre os sentidos atribuídos aos vídeos: o trailer do filme Meu nome não é Johnny 7 (https://www.youtube.com/watch?v=hit jyeros2s), o clipe da música Cálice, de Chico Buarque, cantada pelo Criolo 7 O filme apresenta um jovem que se envolve com tráfico de drogas e sua prisão. Ele suscita discussões sobre vulnerabilidade e imprevisibilidade de situações de uso de drogas. Doido (https://www.youtube.com/watch?v=ak ZY0-6Rs0A) e o filme O bicho de sete cabeças 8 (https://www.youtube.com/watch?v=u2 4WcelAjww). Esses vídeos foram importantes para discutir o uso de drogas e as consequências na saúde, trabalho, família e amigos. Por fim, os coordenadores entregaram aos participantes extratos de matérias jornalísticas envolvendo a temática “drogas”, tais como a saúde de usuários, legalização de drogas, etc., solicitando posicionamentos quanto aos assuntos polêmicos abordados. Com a utilização dos vídeos e notícias, foi possível refletir sobre o potencial de escolha dos adolescentes pelo uso ou não das drogas, de modo a evitar debates de cunho moralista sobre a temática. Nesse sentido, ao contrário de deter-se a padrões de correção de condutas (Costa & Assis, 2006), o objetivo dos coordenadores foi alcançar as dimensões do cuidado com os adolescentes, visando a potencialização da autonomia e da possibilidade de escolhas conscientes diante de questões polêmicas. A temática do quinto encontro foi “Família”. Inicialmente, foi apresentado o vídeo Família, da banda Titãs (https://www.youtube.com/watch?v=GJ 8VqwDni6w), com o objetivo de iniciar o debate sobre as diferentes constituições familiares. Na sequência, foram distribuídas folhas para que os adolescentes escrevessem uma palavra definidora de “família”, cujas definições relacionaram-na ao conceito de “união”. Também foram apresentadas figuras com constituições familiares, por 8 Na cena, o pai do personagem “Neto” o leva para uma internação compulsória por causa do uso de drogas. 406 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. exemplo: famílias monoparentais, 9 famílias ampliadas, 10 família homoparentais 11 etc. A ideia era que cada um escolhesse uma figura para a sua família e comentasse o motivo da escolha. Por meio dessas reflexões, pôde-se reforçar a existência de diferentes concepções e constituições de família. Na sequência, foi apresentado o vídeo O lenhador e a raposa (https://www.youtube.com/watch?v=D1 8NHzdNYxU), a fim de discutir a importância da confiança entre os membros de uma família. Logo após, foi disposta uma cartolina com duas figuras: uma com uma família considerada “perfeita”, com união e harmonia, e outra com uma família em conflito, para que cada um dissesse em qual das duas figuras sua família se encaixaria. Assim, surgiram discussões acerca dos tipos de família e comentários relacionando família a um contexto de união. Um elemento trazido pelos adolescentes foi que “não há família perfeita”, reafirmando a importância do sentimento e o respeito entre os membros do contexto familiar, com a ocorrência de momentos de harmonia e de conflitos que se mesclam no convívio diário. Nesse sentido, cabe destacar que experiências com adolescente em risco social têm demonstrado que, dentre os fatores de 9 “Sob essa denominação, aninham-se pessoas que cuidam sozinhas de crianças [...]. Reúne- se, sob essa mesma sigla, solteiros, viúvos, divorciados”, entre outros (Uziel, 2002, p. 23). 10 [...] “estamos diante de uma família [ampliada] quando encontramos um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e, ou, de solidariedade” (Ministério do Desenvolvimento Social. PNAS, 2004, p. 42). 11 “Situação familiar em que no mínimo o pai ou a mãe se assume como homossexual” (Uziel, 2002, p. 59). O uso desse termo foi escolhido de modo a aumentar a visibilidade dessa família (Uziel, 2002). proteção considerados mais significativos ao adolescente, estão os vínculos familiares fortes, o que legitima essa discussão na medida socioeducativa (Costa & Assis, 2006). O sexto encontro objetivou a discussão dos temas “Amor”, “Gênero” e “Sexualidade”. Inicialmente, foi apresentado e discutido o clipe Amor e sexo, de Rita Lee (https://www.youtube.com/watch?v=ho -iGFctXe8), que remete a diferenças entre o conceito de amor e de sexo. O questionamento sobre essa diferença foi levado aos participantes do grupo, sendo entregues folhas para que os adolescentes escrevessem uma palavra relacionada a “amor” e outra a “sexo”, com a posterior discussão das produções. De forma geral, os adolescentes relacionaram o “amor” a “sentimento”, a algo concreto relacionado principalmente à família. Quanto ao “sexo”, relacionaram-no a “vontade”, “necessidade” e “atração física”. Para as discussões sobre gênero, foram apresentadas figuras com objetos e/ou situações, como boneca, carro, etc., sendo solicitado que cada adolescente escolhesse uma figura que remetesse ao sexo masculino e outra ao sexo feminino. Logo após, foi apresentado o vídeo 3 coisas que as mulheres não precisam que os homens façam (https://www.youtube.com/watch?v=K mEhFpwpFqw), que trata de papéis sociais atribuídos a homens. A discussão dessas atividades foi relacionada às ditas atribuições de gênero, pautando-se no pressuposto de que elas são construções históricas, culturais e sociais,problematizando a naturalização dessas relações. Isso ocorre porque os papéis ditos masculinos e femininos configuram o que seria pertinente ao homem e à mulher num dado contexto que impõe aprovações, restrições e reprovações 407 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. apreendidas e transmitidas ao longo de gerações e durante o percurso da vida e não são naturalmente dadas (Negreiros & Féres-Carneiro, 2004). Por fim, foi exibido um trecho do programa Amor e sexo, 12 que trata de preservativos e da transmissão de Doenças Sexualmente Transmitidas (DSTs). Assim, foi discutido o conteúdo do vídeo e a importância da proteção em relações sexuais e as consequências da não utilização de métodos contraceptivos. Essa discussão acerca da sexualidade se faz importante devido ao aumento dos índices de gravidez e da incidência de DSTs entre os adolescentes (Taquette, Rusany, Meirelles & Ricardo, 2003; Maheirie et al., 2005). Chama a atenção que, mesmo em um encontro com uma temática polêmica, os participantes estiveram participativos, contribuindo para a discussão, o que pode estar relacionado à naturalidade com que o assunto foi discutido. O sétimo encontro teve “Orientação profissional” como temática. Inicialmente, foram apresentadas informações sobre currículo e, em seguida, foi apresentada uma tirinha do Calvin e Haroldo (http://24.media.tumblr.com/tumblr_md gmoeqskJ1rxmaupo1_500.jpg) que trata da responsabilidade presente nas escolhas e do impacto delas na vida. Também foi apresentado e discutido um vídeo demonstrando comportamentos a serem evitados em uma entrevista de emprego, expondo elementos como vestimenta, direitos em processos seletivos, perguntas em entrevistas de emprego, entre outros aspectos. Também foram apresentados exemplos de cursos de qualificação, técnicos, tecnólogos e graduação, e formas de 12 Apresentado por Fernanda Lima na Rede Globo. Vídeo indisponível na internet. ingresso, tais como bolsas de estudo oferecidas em universidades. As atividades sobre “Orientação Profissional” foram relevantes para encorajar os adolescentes a vislumbrar trajetórias por meio do apoio de figuras representativas (Costa & Assis, 2006). Com isso, buscou-se tratar da entrada em uma faculdade ou da conquista de um emprego como uma possibilidade que, para muitos, não é vislumbrada. Além disso, seguindo o que afirmam Bardagi, Arteche e Neiva-Silva (2005), a ideia esteve em mostrar a escolha profissional e a saída para o trabalho como uma etapa importante para o desenvolvimento dentro da sociedade, como elemento construtor de identidade (Bardagi et al., 2005). Em linhas gerais, os objetivos do encontro foram pensados com a compreensão de que o período de aplicação da medida deve constituir um momento para a estruturação do projeto de vida, sendo que as atividades devem ter o potencial de despertar para uma construção do adolescente (Costa & Assis, 2006). O último encontro, intitulado “Expressões Artísticas”, teve como objetivo a realização de uma oficina de Grafite e Música, com a participação dos adolescentes e dos servidores do Creas – convidados mediante autorização dos adolescentes. O encontro ocorreu em um espaço da universidade, com a presença de dois grafiteiros e de uma banda de Rap local. O objetivo foi apresentar a relevância da arte para a inserção social e como forma de expressão de emoções. Como atividades, os grafiteiros apresentaram um histórico dessa manifestação de arte, a forma como ela se constituiu e sua importância, seguindo-se com a construção de desenhos em parceria com os adolescentes. A respeito dessa atividade, é possível afirmar que o grafite é um meio de expressão artística que os jovens utilizam para expressar 408 Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. sua opressão e como forma de reconhecimento ao mundo por meio da arte (Lopes, 2011). Nesse sentido, a utilização dessa estratégia pode ser de grande valia no contexto da medida socioeducativa. Para o fechamento dos encontros, a banda de Rap verbalizou sobre a importância da música para a busca por um trabalho “honesto” e “digno” e como forma de expressão de suas emoções. Eles apresentaram suas músicas, todas com a temática relacionada à violência e a drogas, o que possibilitou uma retomada das discussões dos encontros anteriores. Destaca-se que a utilização da música, presente em diversos encontros do grupo, foi essencial, ao se considerar o envolvimento dos participantes com ela, bem como o fato de que fazer música possibilita construções de si mesmo e ampliação dos recursos de interação, sendo um importante veículo performático (Jacobina & Costa, 2011). Considerações finais Com a realização das atividades grupais, possibilitou-se algo diferente do que vinha sendo até então realizado no Centro de Referência que, antes, oferecia apenas atendimentos individuais. Esses atendimentos, apesar de abordarem aspectos relevantes, acabam por secundarizar aspectos como socialização e discussão de temáticas que importam na adolescência. Esse é um desafio enfrentado na prática profissional no Creas. Por isso, este relato, que aponta mudanças de comportamento dos jovens, maior capacidade de se comunicarem e de expressarem suas emoções, pode ser relevante para se pensar no aprimoramento da complexa prática dos profissionais que atuam no âmbito da política de assistência social, especialmente no que tange ao compartilhamento das demandas no contexto da Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida. É possível afirmar que a experiência aqui relatada buscou possibilitar novas perspectivas de mundo para os jovens, com o cuidado de partir de uma realidade próxima à deles, de assuntos e formas de expressão particulares, como o rap e o grafite. Com os encontros, pode-se confirmar o que afirmaram Siqueira e Dell’Aglio (2006): que instituições, como o Creas, podem prover apoio social, favorecendo o desenvolvimento de aspectos saudáveis, mesmo diante das adversidades vivenciadas pelos usuários. As atividades conduzidas levaram a romper com a ideia da medida socioeducativa como modelo unicamente de punição, indicando seu caráter socioeducativo e a importância de buscar outros referenciais, especialmente na superação do estigma de predição de fracasso atribuído aos adolescentes e ao sistema socioeducativo (Costa & Assis, 2006). É possível ressaltar que essa proposta pode ser levada adiante, visto que o desenvolvimento dos adolescentes foi perceptível ao longo dos encontros e que as estratégias utilizadas podem ser aprimoradas e adaptadas a outros contextos. Reitera-se que a formação acadêmica carece de cada vez mais relatos de intervenções, visto que ainda são poucos os artigos encontrados sobre experiências similares, vinculadas à atuação do psicólogo em contextos de vulnerabilidade social e violação de direitos. Mais que isso, os adolescentes responsabilizados por um ato infracional carecem de intervenções profissionais implicadas em fazer diferente, buscar inovações e, principalmente, usar o potencial 409Schmitt, Aline Alflen; Nascimento, Deise Maria do; Schweitzer, Lucas. Grupo com adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida: relato da experiência em um Centro de Referência Especializado em Assistência Social Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(2), São João del-Rei, julho a dezembro 2016. daqueles jovens, já desacreditados por muitos. Um dos adolescentes, aqui chamado “Chavoso”, dada a forma como se autoafirmou, chamou a atenção nos encontros por não aceitar participar das atividades – sendo respeitado em seu direito de escolha –, ao mesmo tempo em que raramente faltou às oficinas, sempre esteve presente e notadamente atento. No último encontro, percebeu-se sua real implicação com o processo: conversou com os coordenadores sobre o receio quanto ao encerramento do grupo e deixou seu desenho – seu nome marcado na parede da Universidade. Esse é um exemplo dos adolescentes que passaram pelo grupo e que demonstram que esse trabalho pode trazer efetivas mudanças ou reflexões por parte deles, mesmo diante de suas singularidades no grupo. Por fim, cabe destacar a importância do contato e das visitas técnicas ao Creas, que trouxeram importantes indicativos das necessidades do local, facilitando o planejamento das atividades e dos objetivos deste relato de experiência. Tendo em vista que os assuntos discutidos nas oficinas temáticas abordavam a realidade dos jovens, havendo o respeito e o cuidado de se fazer uso de uma linguagem clara e acessível ao público participante, os resultados foram percebidos na mudança de postura dos adolescentes do grupo ao longo dos encontros. Eles iniciaram o processo bastante calados, mas com o passar do tempo demonstraram mais implicação com as atividades. Além disso, o retorno por parte da equipe do Creas, com feedbacks positivos trazidos pelos participantes, confirma os resultados do trabalho. Referências Andrade, R. L. P., & Pedrão, L. J. (2005). Algumas considerações sobre a utilização de modalidades terapêuticas não tradicionais pelo enfermeiro na assistência de enfermagem psiquiátrica. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 13(5), 737-742. Aquino, J. G. (Coord.). (1998). Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summos. Bardagi, M. P., Arteche, A. X., & Neiva-Silva, L. 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Participaram dessa experiência 19 pais, encaminhados ao CREAS para atendimento psicossocial e educacional devido a atos de violência por eles perpetrados contra seus filhos. Foram realizados 10 encontros semanais, cada um com duração de 90 minutos. Os resultados obtidos indicam boa participação dos pais nos grupos, mudanças na interação familiar e redução da violência doméstica. Palavras-chave Grupo de Pais. Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes. Grupo Psicoeducacional. 1. Doutor em Educação na Universidade Federal do Paraná, professor assistente na Universidade Federal do Mato Grosso, Mato Grosso. E-mail: amailsonbarros@gmail.com. 2. Pós-Doutora em Psicologia Comunitária pela Instituição Universitária de Psicologia Aplicada, Lisboa, Portugal e pela Universidade do Porto, Portugal, professora associada da Universidade Federal do Paraná. E-mail: fquintal@ terra.com.br. 138 Psychoeducational group of parents involved in violence against children: an experience report Abstract The aim of the present study is to report on an interdisciplinary professional experience gained at the Social Assistance Specialized Reference Center (CREAS) in a town in the countryside of the State of Paraná, Brazil, more specifically on the handling of cases of domestic violence. Nineteen parents participated in this experiment and were referred to CREAS for educational and psychosocial assistance due to acts of violence against their own children. Ten weekly meetings were held, which lasted 90 minutes each. The results obtained indicate improvement in the lives of the parents, changes in family interaction and reduction of domestic violence. Keywords Group of Parents. Domestic Violence Against Children and Adolescents. Psychoeducational Group. * PhD in Education, Federal University of Paraná, State of Paraná, Brazil, assistant professor, Federal University of Mato Grosso, State of Mato Grosso, Brazil. E-mail: amailsonbarros@gmail.com. ** Post-Doctoral degree in Community Psychology, Instituição Universitária de Psicologia Aplicada e Universidade do Porto, Portugal; associate professor, Federal University of Paraná, State of Paraná, Brazil. E-mail: fquintal@ terra.com.br. Amailson Sandro de Barros*, Maria de Fátima Quintal de Freitas** 139Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 Introdução Estudos têm demonstrado que é no núcleo familiar, lócus inicial de aprendizagem de relações sociais, que acontecem com maior frequência situações de violência que comprometem direitos fundamentais da criança e do adolescente (MINAYO, 2001; BÉRGAMO; BAZON, 2012). Pesquisas que se debruçam ao estudo da violência infanto-juvenil indicam geralmente que esta é uma forma de comunicação e de relação interpessoal que se estabelece entre os membros de uma família e que, na maioria dos casos, os autores mais comuns dessa violência são os pais, padrastos, mães, madrastas, tios e avós, com destaque para a figura da mãe (SANCHEZ; MINAYO, 2006; BOARATI; SEI; ARRUDA, 2009). Embora o contexto familiar seja apontado como o lugar onde ocorre a maior incidência de violência contra crianças e adolescentes, as relações agressivas que aí se estabelecem podem ser superadas e trabalhadas a partir de práticas interventivas que visem o restabelecimento e fortalecimento dos vínculos familiares e do modo de enfrentamento da vida cotidiana destas famílias (NEVES; ROMANELLI, 2006; ASSIS et al., 2009) sem cair na naturalização e na culpabilização dos pais. Entre as estratégias de intervenção, o trabalho com grupos aparece como uma possibilidade de intervir com esses pais, admitindo a possibilidade de mudanças positivas na relação pais e filhos, em favor de um processo de conscientização (FREIRE, 2010) e de transformação social (FREITAS, 2010). De acordo com alguns estudos, as intervenções em grupo realizadas com pais agressores reduzem comportamentos agressivos, sensibiliza-os sobre suas responsabilidades parentais, possibilitam a formação e a identificação de uma rede de apoio social e afetiva e sinalizam uma melhor compreensão da função protetiva da família (BAZON et al., 2010; CAMPANA; ANDERY; MARIAN, 2013). Segundo esses autores, o intercâmbio de ideias e de reflexões conjuntas entre os pais se mostra essencial na problematização de saberes e na superação de práticas educativas pouco afetuosas e agressivas que, por vezes, se naturalizaram na dinâmica familiar e ultrapassam gerações. Nesse sentido, pensar a família como uma instituição concreta é fundamental para o processo de socialização e desenvolvimento humano, em seu aspecto físico, cognitivo, emocional e sociocultural. Há, ainda, de se considerar que a família transmite valores, normas e princípios que reproduzem e estabelecem a ordem e os interesses sociais, bem como atua sobre a saúde mental de seus membros. Além disso, o uso de castigos físicos revela não só aspectos processuais de uma convivência familiar marcada por conflitos e pela contradição, mas aponta também sua função na manutenção e na reprodução das relações sociais expressas em uma sociedade que reduz as relações entre os homens à condição de objetos, cuja objetalização se expressa também a partir de tratamentos abusivos (LANE, 2002; MARTIN-BARÓ, 2003). O uso da violência contra crianças e adolescentes busca legitimar, ao longo da história, a relação de poder assimétrica dos pais (adultos) sobre os filhos (crianças), baseada em autoritarismo, submissão e opressão, de forma que muitas vezes seu uso seja atribuído ao discurso de uma prática educativa e corretiva. Difunde-se, assim, e muitas vezes com o respaldo da sociedade, a violência como estratégia utilizada pelos adultos para educar, regular e normatizar as crianças e adolescentes para deles obter o respeito. Aos filhos, por sua vez, cabe moldarem-se à subalternidade e àquilo que lhes é esperado socialmente. É assim que, ao longo dos anos, pais e filhos vão se formando e justificando suas práticas. 140 Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 Ao atribuir-lhe uma justificativa e um objetivo educacional, a ideologia que subjaz nos atos de violência é distorcida e a gravidade do ato fica camuflada, tornando imperceptível, na vida cotidiana, outros elementos constitutivos dessa ação, como seu caráter histórico- contextual e o caráter pessoal de quem a pratica e de quem a recebe, operando na construção de significados e sentidos (MARTÍN- BARÓ, 2003) e aparecendo na superfície dos fatos como algo que é merecido pela vítima. A superaçãoda violência doméstica depende de um posicionamento crítico dos pais em relação ao seu uso como estratégia educativa e punitiva. Em consonância com os argumentos apresentados, o presente artigo descreve uma experiência de atendimento psicossocial e educacional realizada com dois grupos de pais atendidos em um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), de um município do interior do estado do Paraná. As atividades reflexivas desenvolvidas a partir do trabalho em grupo com os pais tiveram como objetivo proporcionar formas de enfrentamento das situações de violência contra crianças e adolescentes, oportunizar a interação entre os pais e a formação de uma rede social de apoio entre eles. A proposta de trabalho com pais em situação de violência contra filhos O trabalho partiu da perspectiva da psicologia social comunitária e da educação popular freireana, entendendo que uma intervenção psicossocial e educacional, em contextos de violência doméstica, não deve partir do entendimento de que o processo de intervenção é o resultado exclusivo da ação dos profissionais sobre os participantes dos grupos de pais, de forma a impor seu saber fazer e pensar, mas sim um processo coletivo, uma ação compartilhada que se estabelece na relação entre o público-alvo e os profissionais (FREITAS, 2010, 2014; FREIRE, 2010; MONTERO, 2010). Como processo, a intervenção psicossocial e educacional não é uma atividade solitária. Ela implica relações concretas com os outros. Decorre dessa observação que o trabalho com grupos não é realizado no vácuo da participação profissionais-população e/ou no isolamento dos profissionais com a comunidade, ou com os usuários dos equipamentos sociais, em que eles prestam seus serviços. Nessa medida, a prática adotada para o atendimento em grupo rompe com o pragmatismo de intervenções que carregam em seu bojo o normativismo e o dogmatismo de dar explicações universalizantes, quando não moralizantes e psicologizantes às problemáticas da vida cotidiana, em uma tentativa de emoldurar os sujeitos da intervenção e suas relações (FREITAS, 2014). Enfatizando o caráter libertador, o processo de conscientização e a possibilidade ontológica do indivíduo em “ser-mais” humano (FREIRE, 2010), a intervenção em grupo desenvolvida com os pais pautou-se em um continuum ação-reflexão-ação, processo que por excelência é entendido como dialógico e transformador das pessoas e da realidade. Acreditamos que a intervenção em grupo oportuniza que novos significados sejam dados às experiências de cada participante do grupo, pois conhecimentos são compartilhados e busca-se estabelecer apoio social e afetivo entre os participantes, com o intuito de fortalecer os vínculos e colaborar para a superação das problemáticas enfrentadas pelo grupo ou comunidade. Assumir essa perspectiva torna-se fundamental, visto que para a psicologia social comunitária e a educação popular as relações concretas cotidianas oferecem possibilidades de educar e politizar todos os envolvidos na proposta de intervenção. Nesse sentido, o trabalho desenvolvido não se limita à troca de informações, mas se constitui como possibilidade 141Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 de enfrentamento da violência doméstica e de transformação das relações afetivas entre pais e filhos, de modo a fortalecer os vínculos familiares e sociais e possibilitar relações mais solidárias e afetuosas. Metodologia A experiência trata-se de um relato de intervenção psicossocial e educacional, na modalidade Grupo de Pais, realizada no âmbito do CREAS de um município do estado do Paraná. A condução dessa intervenção foi, especificamente, coordenada pela equipe técnica de Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e de Medidas Socioeducativas. Os encontros ocorreram no CREAS, no período noturno, em uma sala para atividades em grupo. Os participantes dessa intervenção foram pais, mães, madrastas e padrastos, que apresentavam dificuldades de se ausentar de seus locais de trabalho para comparecerem aos atendimentos diurnos ofertados pelo CREAS em suas instalações. Este texto sistematiza a proposta de intervenção Grupo de Pais, tendo como pano de fundo dois momentos distintos de sua realização. Participaram desses dois momentos 19 sujeitos, divididos em dois grupos, denominados de grupo A (10 participantes) e grupo B (9 participantes). Cada grupo se reuniu em dia específico da semana. No total, foram realizados 10 encontros semanais, com duração de uma hora e trinta minutos cada. Para inclusão dos participantes nos grupos3 adotaram-se os seguintes critérios: pais maiores de 18 anos sem histórico de qualquer tipo de transtorno mental e de acompanhamento psiquiátrico; casos de violência física, psicológica e negligência; ter sido a violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes perpetrada por um dos seus principais cuidadores, ou seja, pai, mãe, padrasto e/ou madrasta. A equipe técnica responsável pela condução dos grupos foi formada por um psicólogo, uma psicóloga, uma pedagoga e uma assistente social. Discussão dos encontros O início do processo Os grupos foram formados a partir dos encaminhamentos das famílias pelo Conselho Tutelar ao CREAS, devido à situação de violência de pais contra filhos, e com indicação de acompanhamento psicossocial dos pais. Após receber os encaminhamentos do Conselho Tutelar, a equipe técnica entrou em contato com as famílias in loco com o objetivo de compreender o ambiente familiar e comunitário no qual estavam inseridas, bem como apresentar os serviços do CREAS e estabelecer vínculo entre elas e a equipe. Durante o processo de atendimento das famílias no CREAS, a equipe técnica realizou encontros domiciliares com as famílias como estratégia de acompanhamento mais individualizado dos casos. Após o primeiro contato domiciliar dos técnicos com as famílias, elas foram convidadas a participar dos atendimentos e das atividades ofertadas pelo CREAS, principalmente dos encontros de um dos grupos de pais. Posteriormente à realização do cadastro psicossocial da família na unidade do CREAS, foi feito o encaminhamento dos interessados em participar dos grupos de pais. Sobre a intervenção O trabalho com os grupos de pais pautou- se nas premissas de uma intervenção reflexiva, dialógica e participativa, que ultrapassasse o mero ensino e a mera aprendizagem de 3. Para garantir o anonimato e sigilo, adotamos nomes fictícios para nos referirmos aos participantes dos grupos. 142 Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 comportamentos considerados satisfatórios para lidar com os conflitos familiares e com a educação dos filhos. Primou-se em propiciar aos pais participação ativa e possibilidades de questionamentos da realidade vivenciada enquanto famílias e cidadãos. Os encontros dos grupos foram planejados a partir da demanda dos pais e dos apontamentos realizados pela equipe técnica do CREAS durante a coordenação dos trabalhos com as famílias, em um processo dialógico e de trocas de experiências. Cada grupo apresentou particularidades de assuntos trabalhados, mas verificaram-se temáticas pertinentes aos dois grupos que aqui foram sintetizadas e alocadas didaticamente para compreensão do processo. Os encontros foram organizados respeitando a seguinte estrutura (AFONSO, 2006): a. Acolhimento e aquecimento e/ ou relaxamento. Momento inicial do grupo em que os pais são acolhidos pela equipe técnica antes de iniciar as atividades propostas para o encontro, de forma a deixá-los à vontade e favorecer a socialização entre os participantes. Como forma de preparar o grupo para as atividades do dia, a equipe técnica realizava com os pais algum aquecimento ou relaxamento corporal. b. Momento de discussão da temática e de realização das atividades propostas.c. Sistematização e avaliação das atividades com o objetivo de proporcionar reflexões sobre o trabalho realizado pelo grupo e proporcionar encaminhamentos para o encontro seguinte. Apresentação e discussão dos encontros Etapa I – Estabelecimento de vínculo entre os participantes e formação do grupo (Encontros 1 a 3) Nestes três encontros, foram acolhidas as expectativas dos pais em relação ao grupo, as possíveis dificuldades para participar dos trabalhos e os temas de interesse para as reflexões. No primeiro encontro, pais e profissionais se apresentaram, discutiram questões relacionadas ao sigilo e a não obrigatoriedade de participação dos pais nos grupos, sem prejuízo ao atendimento da família pelo CREAS. Nesse encontro, foram levantados com os participantes os possíveis temas que norteariam o trabalho em grupo. Os participantes manifestaram interesse pela discussão de situações de conflito entre pais e filhos, desenvolvimento infanto-juvenil e sexualidade, Estatuto da Criança e do Adolescente, uso e abuso de substâncias psicoativas e estratégias de educação sem o uso de violência. No segundo encontro, os pais assistiram ao filme de animação intitulado Era uma vez uma família, disponível no Youtube. O conteúdo dessa animação apresentou o cotidiano de uma família, na qual os pais se utilizam da violência física, psicológica e verbal para educar seus filhos. A equipe observou que a partir dessa exibição os participantes relataram suas vivências de infância e a maneira como foram educados pelos seus genitores e/ou responsáveis. Foi possível verificar que, em muitos casos, a violência doméstica é uma dinâmica naturalizada e banalizada pelos participantes, sendo sua prática passada de geração para geração. Essa 143Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 constatação corrobora com a literatura que aponta a multigeracionalidade da violência doméstica (ABRANCHES; ASSIS, 2011) como sendo um dos fatores para a sua manutenção. As agressões físicas e verbais praticadas contra os filhos foram justificadas pelos participantes como uma estratégia de educação, correção e meio de controle dos pais sobre os filhos. Essas considerações direcionaram a reflexões sobre as possíveis consequências da violência intrafamiliar para o desenvolvimento emocional, físico e cognitivo das crianças e dos adolescentes. A exemplo do uso da violência física e verbal, o trabalho infantil foi considerado inicialmente pelos participantes como uma atividade que colabora na educação dos filhos. O caráter moralizante do trabalho apareceu nos dois grupos e sua adoção foi justificada pela possibilidade de retirar crianças e adolescentes das ruas, da “vadiagem” e “de se envolver em coisas erradas”. Os pais puderam refletir sobre a importância da categoria trabalho para a constituição do ser humano e diferenciar situações de abuso da força de trabalho infanto-juvenil de situações de colaboração e participação dos filhos nos afazeres domésticos, sem que isso acarrete prejuízos ao seu desenvolvimento psicossocial, cognitivo e físico. Esse tema proporcionou reflexões sobre a implantação e efetividade do Estatuto da Criança e do Adolescente e desmistificou a ideia que muitos pais têm de que crianças e adolescentes não podem mais ajudar nos afazeres domésticos, por conta de uma possível penalidade judicial aos pais. A distinção entre abuso e atividade educativa, proporcionada pelos afazeres domésticos corriqueiros, permitiram a diferenciação entre aquilo que pode ou não ser considerado exploração de trabalho infantil, a depender da intensidade da tarefa e das condições físicas, cognitivas e emocionais da criança para executá-la. No terceiro encontro, ocorreu a continuidade das reflexões do encontro anterior. Como atividade de socialização e de acolhimento, realizou-se no início do encontro a vivência do espelho. Essa atividade consistiu em levar individualmente cada participante até um espaço reservado, previamente preparado pela equipe técnica do CREAS, onde era possível o participante sentir-se acolhido e protegido. Nesse espaço, foi colocado um espelho grande que possibilitava o reflexo do corpo inteiro de quem se posicionasse diante dele. Ao se depararem com o espelho, cada participante era incentivado a olhar o que ele refletia e buscar semelhanças entre a imagem refletida no espelho e os filhos. Essa prática teve como proposta promover uma reflexão entre os participantes das posições que ocupam como pais, podendo olhar para si e para os filhos. Foi possível observar que diante do espelho muitos participantes choraram e outros cobriram o rosto com as mãos. Diante dessas situações, o apoio profissional foi fundamental para os participantes lidarem com suas emoções e seus sentimentos, em um contexto grupal compreensivo e acolhedor. Durante a realização de todos os encontros, houve por parte da equipe técnica a preocupação em proporcionar um processo em grupo seguro e afetivo. Após a realização dessa atividade, os participantes discutiram coletivamente aquilo que sentiram diante do espelho, os significados e os sentidos da atividade para cada um deles. Eu vi ódio, querendo se cortar com a gilete. [referindo-se ao comportamento de automutilação da filha). (Amélia) Eu vi minha filha chorando, comendo unhas. Nunca vou ser feliz! (Cecília) Ela não tem minha fisionomia. Quando estou brava com o pai dela, desconto nela. Ela diz que não tem culpa. Eu não dou atenção para ela. (Alda) A partir das verbalizações dos 144 Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 participantes, problematizou-se a relação pais e filhos como espaço concreto e subjetivo, com foco na discussão sobre as marcas dolorosas causadas na família tanto pela violência física quanto pela carência afetiva. Os relatos dos participantes revelaram condições necessárias para o trabalho com pais autores de violência contra os filhos: a. Considerar os aspectos afetivos e emocionais dos participantes, resgatando fatos da vida cotidiana da família e seus sentimentos; b. Reconhecer a história de vitimização dos participantes; c. Respeitar o participante em seu processo grupal; d. Prevenir casos de violência doméstica. Etapa II – Fortalecimento da rede de apoio e práticas de resolução de conflitos (Encontros 4 a 7) A partir do quarto encontro, questões referentes à resolução de conflitos familiares tornaram-se focos de reflexão nos grupos. Ao longo desses encontros, os participantes compartilharam suas histórias e suas vivências de violência doméstica. Como estratégia para iniciar essas reflexões, utilizaram-se jogos dramáticos, por exemplo, improvisação teatral com os participantes sobre um conflito cotidiano enfrentado na família. Antes de iniciar a improvisação, realizou-se com os pais uma sessão de aquecimento vocal e alongamento corporal. Na sequência, os participantes foram divididos em quatro subgrupos. Cada subgrupo encenou um conflito ou problema familiar, seguido de sua solução. Após a apresentação dos subgrupos, o grande grupo refletiu sobre as cenas, seus encaminhamentos e as outras possíveis soluções para os conflitos apresentados. Os conflitos encenados giraram em torno de dificuldades de relacionamento entre pais e filhos adolescentes, sexualidade dos filhos, dificuldades financeiras da família e seus impactos no relacionamento afetivo e sexual dos pais, uso e abuso de substâncias psicoativas pelos filhos adolescentes, furtos e violência doméstica contra a mulher e o idoso. Em todas as improvisações, a resolução dos conflitos ocorreu pelo uso do diálogo. No coletivo, os pais valorizaram o diálogo e as redes de apoio familiar e social para a constituição e consolidação de vínculos afetivos e sociais não violentos, o que aponta para uma possível conscientização na prevenção e na superação do uso da violência e ressignificação deexperiências. Apoio social e afetivo emergiram nas considerações e reflexões dos participantes, tornando-se temas para os encontros 5 e 6. No quinto encontro, os pais mapearam as redes de apoio que poderiam ser acionadas pelas famílias com o objetivo de auxiliá- las a resolver as situações apresentadas nas encenações do encontro anterior. O encontro teve como foco as redes socioassistenciais e de saúde e abriu discussão sobre políticas públicas em relação ao enfrentamento e ao combate do uso de drogas, em específico do uso de crack; políticas de proteção à infância e à adolescência; e políticas de proteção à mulher e ao idoso, vítimas de violência doméstica. A importância do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários para o enfrentamento da violência doméstica também foi enfatizada e refletiu-se sobre o compromisso de formação de redes de solidariedade e cooperação entre as pessoas e as instituições. No sexto encontro, os pais realizaram uma atividade de colagem que resultou em um cartaz que representava a família de cada participante. Para execução dessa tarefa foram disponibilizados tesouras, revistas, cartolinas, 145Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 canetinhas hidrocor, colas, lápis de cor e canetas coloridas. Após todos os participantes finalizarem os cartazes, o grupo se posicionou em círculo para discutir sobre eles. Os participantes observaram que seus cartazes retrataram uma família feliz e expuseram a diferença entre a família pensada (representada no cartaz) e a família vivida (real) por eles. As reflexões sobre o conceito de família e sua função social foram apontadas inicialmente pelos participantes em seu caráter natural e tradicional (pai, mãe e filhos), sendo posteriormente relacionadas a concepções ideológicas (patriarcal e privada) e vista em seu caráter fundamental de socialização. Essa atividade possibilitou também a expressão das dificuldades vividas pelas famílias dos participantes. Os pais relataram situações como vícios em jogos de baralho, uso abusivo de álcool, submissão feminina, descrédito nas leis (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Maria da Penha, Estatuto do Idoso) e nos serviços públicos de saúde e de assistência social, principalmente no que se refere ao tratamento e à prevenção do uso de álcool e de substâncias psicoativas. O tema sexualidade infanto-juvenil emergiu durante a reflexão da atividade e foi considerado proposta de discussão para o encontro seguinte. No sétimo encontro foi trabalhado o tema desenvolvimento humano e sexualidade. Como atividade de aquecimento foi realizada uma brincadeira infantil chamada “lenço atrás da porta”. A partir desse aquecimento, os participantes relembraram outras brincadeiras infantis e contaram como suas infâncias foram vivenciadas. Alguns relataram o ingresso precoce no mundo do trabalho e que por isso não viveram a infância como gostariam. A fase da adolescência também foi relembrada pelos participantes e percebeu-se que para muitos ela foi considerada inexistente. Os participantes relataram diferenças entre a criança e o adolescente nos tempos atuais, em comparação com o que era ser criança e adolescente há pouco mais de 30 e 40 anos. Na opinião deles, as crianças e os adolescentes de hoje “estão mais rebeldes e mais espertas”. A partir do conhecimento dos participantes sobre o que é ser criança e adolescente, foi possível refletir a construção social e histórica da infância e da adolescência, do ser menino e do ser menina e, assim, abordar o tema da sexualidade, pontuando diferenças biológicas, de gênero e históricas, de forma a superar concepções deterministas, preconceituosas e biológicas sobre o fenômeno. Refletiu-se também que a sexualidade é uma questão multideterminada, que se expressa nas relações sociais e que sua definição está relacionada a condições concretas e ao momento histórico vivido pela humanidade. Sendo, portanto, um processo histórico e simbólico. Etapa III – Construção do plano familiar e encaminhamentos (Encontros 8 a 10) Nos encontros 8 e 9, o objetivo foi a realização do plano familiar e encaminhamentos das famílias para outros equipamentos da assistência social e da saúde. Para elaboração inicial do plano familiar, os participantes elencaram as principais potencialidades da família para a superação da violência doméstica vivenciada e refletiram os pontos positivos e as qualidades das pessoas que formam o seu núcleo familiar. Depois, listaram as principais vulnerabilidades que causam fragilidades e submetem a família a situações de risco pessoal e social. Ao elaborarem o plano familiar, os participantes apontaram a educação formal como uma das possibilidades para a melhoria da convivência e do cuidado familiar, bem como destacaram a importância da educação e da cultura como meios de perpetuação e superação da violência doméstica. Ademais, revelaram que uma boa educação vai além do contexto familiar, pois envolve boas condições 146 Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2016 de ensino escolar e a garantia de acesso dos filhos a escolas públicas e ao ensino superior de qualidade. Na opinião dos participantes, a educação escolar e universitária dos filhos foi defendida como possibilidade de melhores oportunidades de trabalho e ganhos financeiros. O acesso de todos a uma boa educação foi amplamente defendida pelos participantes. A relação educação e trabalho, defendida pelos participantes dos grupos de pais, foi voltada ao imediatismo da prática do trabalho e ajuste dos indivíduos aos pré-requisitos exigidos pelo mercado. A elaboração do plano familiar possibilitou que os pais apontassem questões estruturais das comunidades às quais pertenciam e que impactavam no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. A falta de áreas de lazer nos bairros, como praças e quadra de esporte para os filhos se divertirem, e as dificuldades de acesso a eventos culturais, como teatro, dança e cinema, foram citadas pelos pais. Lá onde eu moro não tem uma quadra de esporte e um parquinho de diversões para as crianças brincarem. (Juliana). Você não tem onde sair para se divertir com eles. Como que você vai ao cinema. Nem tem mais. E o dinheiro? Não dá, né? (Pedro). Ela queria aprender a dançar, mas não tenho como pagar a aula para ela. (Ivone). Um dos aspectos mais abordados nos Grupos de Pais foi a vulnerabilidade social das famílias decorrente do acesso precário ou nulo a serviços e espaços públicos de lazer e cultura e as dificuldades financeiras, o que acabam contribuindo para a fragilização de vínculos afetivos e relacionais na família e na comunidade. A partir do plano familiar todos os participantes foram encaminhados aos serviços de convivência e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários realizados nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e outros foram aos serviços de saúde, como o Centro de Atenção Psicossocial em Saúde Mental e Estratégia Saúde da Família. No décimo encontro ocorreu o encerramento dos grupos com a realização de um jantar para todos os participantes e seus filhos. Durante o jantar, alguns pais realizaram apresentações artísticas, como música e dança. Algumas considerações A oferta de grupo de pais em situação de violência doméstica perpetrada por eles contra seus filhos mostrou-se um trabalho necessário e com possibilidades efetivas de superação, promoção e prevenção da violência doméstica contra crianças e adolescentes. O cuidado em oferecer um espaço de identificação, acolhimento e formação de rede de apoio entre os participantes favoreceu a reflexão de estratégias não violentas para lidar com os conflitos familiares. As trocas e os vínculos formados durante o processo em grupo demonstraram um cuidado entre os participantes que, em muitas situações, se emocionaram com o discurso do outro.
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