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resumo - @isabellamenezess Nefrologia Definição: Redução abrupta da taxa de filtração glomerular, ou seja, do volume de sangue que os glomérulos filtram a cada minuto. Repercussões: • Distúrbios hidroeletrolíticos; • Distúrbios ácido-base; • Acúmulo de escórias nitrogenadas (ureia e creatinina). Azotemia: aumento das escórias nitrogenadas (ureia e creatinina) no sangue. Epidemiologia: • 5 a 7% dos hospitalizados; • 30% dos admitidos em UTI; • 90% de mortalidade em populações susceptíveis (idosos, hipertensos e diabéticos); • IRA aumenta a chance de doença renal crônica posterior. Etiologia e Fisiopatologia: Depende da porção do trato urinário afetada: • ou por um problema circulatório que preceda o néfron, envolvendo as arteríolas renais; • ou por um problema na filtração feita por esse néfron; • ou por algum distúrbio ou lesão na via coletora de urina. A partir disso, dividimos então em: • Injúria pré-renal (60-70%); • Injúria renal intrínseca (25-40%); • Injúria pós-renal (5-10%). Injúria Pré-Renal: • Mais prevalente; • Hipoperfusão renal. PAS < 80 mmHg, com integridade do parênquima renal; • Problema hemodinâmico e não estrutural; • Quadro clínico reversível se restaurar o fluxo renal; resumo - @isabellamenezess • Quando há redução do fluxo sanguíneo renal, a arteríola aferente sofre dilatação por conta de mediadores químicos (ex.: prostaglandinas, NO, etc.) e do reflexo miogênico por conta do estímulo dos barorreceptores nesse vaso, aumentando esse fluxo. De forma sinérgica, as arteríolas eferentes sofrem contração por conta do sistema renina- angiotensina-aldosterona. Tudo isso ocorre a fim de manter a TFG. Tais eventos formam um mecanismo compensatório em nosso corpo; • Autorregulação só é feita até uma pressão arterial sistólica igual a 80mmHg. Abaixo disso, o paciente entra num estado de hipoperfusão renal gravíssima e duradoura, apresentando tal lesão renal, podendo até evoluir com necrose tubular aguda isquêmica e IRA; • Causas de Injúria Pré-Renal: o Depleção absoluta do fluido corporal: hemorragias, diarreias, vômitos, fístula digestiva, poliúria, sudorese intensa, ascite e uso de diuréticos; o Vasoconstrição Renal: sepse (lesão do endotélio, liberação de mediadores inflamatórios e geração de espécies oxidativas causam tal fenômeno) e doenças hepatorrenais (patologias graves caracterizadas pela rápida deterioração da função renal por conta de cirrose ou insuficiência hepática fulminante); o Redução do débito cardíaco: ICC, hipertensão pulmonar e IAM; o Alterações na autorregulação: medicamentos como AINEs, iECAs e BRAs que inibem prostaglandinas e angiotensina II. • Na injúria pré-renal a urina tende a ser bem concentrada e com cheiro forte por conta da redução do débito urinário. A hipoperfusão renal: o Aumenta as concentrações de ureia e creatinina; o SRAA reabsorvem sódio e água no néfron, concentrando a urina, por isso o odor mais forte. resumo - @isabellamenezess resumo - @isabellamenezess Injúria Renal Intrínseca: • Nesta IRA, a causa é um dano estrutural no parênquima renal por fatores intrínsecos; • Alterações: vasculares, intersticiais e glomerulares; • Principais causas de dano no parênquima: o Doença Vascular Renal: Obstrução de vasos, ou do lúmen por trombo ou êmbolo, ou vasculites. ▪ Exemplos: infarto renal por dissecção de aorta, tromboembolismo sistêmico, trombose aguda em veia renal, anormalidade em artéria renal como aneurisma. o Doenças Tubulares e Intersticiais: dano na estrutura tecidual/celular do túbulo do néfron ou do interstício do rim. ▪ Exemplos: necrose tubular aguda (NTA), nefrite intersticial aguda (NIA). o Doenças Glomerulares: Inflamação/degeneração do glomérulo de forma primária (idiopática, sem relação com patologias sistêmicas) ou secundária (induzida por síndromes paraneoplásicas, drogas ou doenças reumatológicas sistêmicas). ▪ Padrão Nefrítico: paciente com urina cheia de sedimentos (hemácias dismórficas, leucócitos) podem até apresentar proteinúria. Caso de glomerulonefrites proliferativas como a Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva (GNRP); ▪ Padrão Nefrótico: paciente com proteinúria severa, padrão de glomerulopatia não proliferativa, como a Glomérulo Nefrite Membranosa (GNM). • 80 a 90% dos casos de lesão renal intrínseca são causados por necrose tubular aguda (NTA). • NTA: células tubulares morrem por isquemia (hipoperfusão severa) pela interação com substancias nefrotóxicas (medicamentos como aminoglicosídeos, penicilina, contrastes radiológicos, pigmentos de hemoglobina, mioglobina, bilirrubina e metais pesados como mercúrio e peçonhas de animais) ou reação autoimune do corpo (sepse). • De qualquer forma, na NTA as células morrem e obstruem o túbulo do néfron e fazem com que o filtrado extravase pro interstício. • Na Nefrite Intersticial Aguda há inflamação aguda do interstício renal por efeitos adversos do abuso de medicamentos (antibióticos, diuréticos, corticoides) e o paciente apresenta rash cutâneo eritematoso, febre, eosinofilia e eosinofilúria, e cilindros piocitários. • Na Injuria Renal Intrínseca, pela lesão no parênquima, a função de reabsorção é prejudicada e a urina tende a ser mais diluída por conta do excesso de ureia e sódio. Pode repercutir ou não com oligúria. resumo - @isabellamenezess resumo - @isabellamenezess Injúria Pós-Renal: • Interrupção no sistema urinário coletor (ureter, bexiga e uretra); • Obstrução mecânica → congênita ou adquirida; Fisiopatologia: • Com a obstrução, há congestionamento da urina e a pressão glomerular se torna maior, reduzindo a TFG; • No início há aumento da TFG por conta da vasodilatação aferente causado pelo aumento da pressão arterial (produção de prostaglandinas); • No entanto, com o passar do tempo, esta taxa vai caindo por conta da produção local de vasoconstritores. Causas da obstrução: • Estruturais: perturbação da anatomia do sistema coletor por cálculos, coágulos, prostatite e hiperplasia prostática benigna. • Funcionais: Casos de bexiga neurogênica ou medicamentos (antidepressivos, antiarrítmicos, anticolinérgicos, antipsicóticos e reposição hormonal). Dessa forma: • Redução da TFG, menor influxo de sódio, água, ureia e creatinina para dentro do néfron, aumentando as concentrações sanguíneas; • Pela obstrução, o aumento da pressão nos túbulos diminui ainda mais a reabsorção dessas substâncias; • Portanto, além de oligúria, a urina desse paciente vai ser muito concentrada. A Injúria Pós-Renal, por ser congestiva, ao aumentar a pressão tubular pode lesionar suas células causando injúria renal intrínseca. A litíase urinária é uma das causas mais comuns e o paciente apresentará oligúria, dor lombar intermitente (pode irradiar para região abdominal, pélvica ou genital), hematúria (micro ou macroscópica), ardor ou dor durante a micção, urgência miccional, náuseas, febre e sudorese. Diagnóstico padrão-ouro, tomografia computadorizada de abdome que acha um cálculo hiperdenso no trato urinário que é hipodenso. resumo - @isabellamenezess Manifestações Clínicas da Injúria Pós-Renal: Alterações hidroeletrolíticas: Com a lesão do rim, sua função de filtrar e reabsorver água e eletrolíticos são perturbadas. • Hipernatremia: retenção de sódio na circulação e, consequentemente de água, causando sobrecarga no volume intravascular. Pode ocasionar: o HAS leve, edema cerebral, edema agudo de pulmão, aumento da pressão venosa jugular, edema periférico. • Hiponatremia: Ao haver diluição do sódio e, quando agudizada, a IRA pode causar: o Edema cerebral, crises convulsivas, cefaleia, confusão e estupor, coma. • Hipercalemia: Retenção de potássio. Distúrbio mais grave por ser cardiotóxico. • Hiperfosfatemia e hipercalcemia: Excesso de fosfato e cálcio no sangue. Distúrbio Ácido-Base: • Acidose metabólica: retençãode metabólitos ácidos no sangue. • Aumento do ânion gap: diferença entre cátions e ânions no sangue, estão sempre em equilíbrio e na IRA há desbalanço nesta eletroneutralidade sanguínea. • Diminuição da excreção de ácidos proteicos e da reabsorção de bicarbonato (HCO3-), além do acúmulo de sulfatos, fosfatos, uratos e hipuratos. Uremia: Quando a ureia se eleva chamamos de azotemia. Uremia é o nome dado ao quadro sindrômico que o paciente apresenta quando os metabólitos nitrogenados tóxicos aumentam no corpo causando: • Manifestações neurológicas: confusão mental, irritabilidade, delirium, convulsão, coma, hiperreflexia tendinosa, mioclonia, flapping e sinal de Babinski bilateral, formando um quadro de encefalopatia urêmica; • Manifestações cardiovasculares: pericardite urêmica (azotemia causa inflamação), tamponamento cardíaco (retenção de líquido na cavidade pericárdica) e arritmia. • Manifestações pulmonares: A ureia e outras toxinas, como a amônia, “puxam” muita água por osmose causando edema agudo de pulmão, congestões e até pleurite (pelos metabólitos muito tóxicos); • Manifestações digestivas: náuseas, vômitos, anorexia e inflamação da mucosa, podendo causar distúrbios na motilidade gastrointestinal. Úlceras também podem aparecer pela toxicidade destas excretas; • Manifestações hematológicas: trombocitopenia leve, disfunção plaquetária e anormalidade nos fatores de coagulação (pacientes urêmicos têm menos capacidade de adesão e agregação plaquetária). Pode haver anemia normocrômica e normocítica (uremia por DRC) pela insuficiência de eritropoietina. • Sintomas mais leves podem aparecer com ureia > 120 mg/dL. Se ureia > 380 mg/dL os sintomas serão mais graves. resumo - @isabellamenezess Diagnóstico: Além da anamnese e exame físico, podemos utilizar dos exames laboratoriais. Exame de função renal: Depuração ou Clearence da Creatinina: avaliação renal da creatinina, substancia produzida pelo metabolismo do tecido muscular. Fração ureia/creatinina plasmática: Avalia indício de IRA e classifica a etiologia. O normal é de 20:1, ou seja, pra 20 ureias, tem-se 1 creatinina. Em injúria pré-renal: Pela hipoperfusão renal, há maior filtração de ureia e creatinina, mas como o rim preserva sua integridade funcional, 90% da ureia é absorvida, aumentando a relação com VR > 40:1. Em injúria renal intrínseca: A disfunção das células tubulares proximais não aumenta a reabsorção de ureia, logo a relação diminui, chegando a VR < 15:1. resumo - @isabellamenezess Em injúria pós-renal: Pode estar normal ou aumentado pelo leve aumento da reabsorção da ureia resultante do aumento da pressão nos rins causada pela obstrução dos ductos. Exame de Urina Tipo 1: Análise química e física de sedimentos urinários. Análise química: pH, concentração de glicose, proteína e outras substâncias que não deveriam estar na urina, como sangue e pus. Análise física: aspecto, coloração, densidade. Sedimentos: pesquisa de células epiteliais, leucócitos, cilindros (deposições de moléculas ou íons com células mortas que tem formato de cilindro). Injúria pré-renal: Sem alterações químicas, urina mais densa e concentrada por baixa de água, sedimentos ausentes. Injúria renal intrínseca: pelas lesões no parênquima pode haver hematúria, piúria, proteinúria e glicosúria. Urina com menor densidade (diluída) porque o rim reabsorve menos água. Podem haver células epiteliais, leucócitos e cilindros. Injúria pós-renal: pela obstrução podem haver hematúria e piúria. A concentração da urina, a priori, é normal, mas pode se tornar mais concentrada se a obstrução tornar a pressão dentro do túbulo muito alta. Sedimentos ausentes, mas podem aparecer pedaços de coágulo ou cálculo da obstrução. Fração de Excreção do Sódio: Ajuda a diferenciar IRA pré-renal e renal intrínseca. Injúria pré-renal: O rim absorve muita água e sódio, por conta do hipofluxo dá “mais tempo” para as células tubulares reabsorverem. Sendo assim, a excreção de sódio será < 1%. Injúria renal intrínseca: Excreção > 2%. Exames de Imagem: Ajudam geralmente se a etiologia for pós-renal. Faz-se um USG das vias urinárias principalmente em suspeita de obstrução. Ele avalia parênquima renal, ecogenicidade, tamanho, hidronefrose. Pode-se identificar também aumento da ecogenicidade dos rins, perda diferenciação corticomedular e dilatação do sistema coletor. resumo - @isabellamenezess Resumo: Critérios diagnósticos: • RIFLE (Risk, Injury, Failure, Loss of kidney function, End-Stage kidney disease) – o mais antigo; • AKIN (Acute Kidney Injury Network) – uma versão mais reduzida da RIFLE que aborda temporaridade; • KDIGO (Kidney Disease Improving Global Outcome) – o mais recente e mais usado, mesclando os dois outros; KDIGO: O paciente precisa apresentar UM dos seguintes TRÊS critérios: • Aumento da creatinina sérica > 0,3 mg/dL dentro de 48 horas; • Aumento da creatinina sérica > 1,5x o valor de base, conhecido ou presumido nos últimos 7 dias; • Débito urinário < 0,5ml/kg/h por 6 horas. resumo - @isabellamenezess Critérios de Estadiamento: O KDIGO estabelece a existência de três estágios, em que o paciente precisa APENAS apresentar 1 dos critérios de estadiamento para ser diagnosticado nesse estágio. Estágio 1: ◊ Aumento da creatinina sérica 1,5 a 1,9 vezes o valor de base; ◊ Aumento da creatinina > 0,3mg/dl; ◊ Débito urinário < 0,5ml/kg/h por 6-12 horas; Estágio 2: ◊ Aumento da creatinina sérica em 2 a 2,9 vezes o valor de base; ◊ Débito urinário < 0,5ml/kg/h > 12 horas Estágio 3: ◊ Aumento da creatinina 3 vezes o valor de base; ◊ Aumento da creatinina > 0,4mg/dl; ◊ Débito urinário < 0,3ml/kg/h > 24 horas; ◊ Anúria > 12 horas; ◊ Início de terapia de substituição renal; ◊ Redução da TFG < 35ml/min nos pacientes com menos de 18 anos. resumo - @isabellamenezess Tratamento: Cessar a causa da patologia de base a garantir suporte metabólico ao paciente, corrigindo complicações sistêmicas resultantes da lesão renal. Na injúria pré-renal: normalizar pressão arterial sistólica, fazer reposição volêmica (infusão de líquido) e suspender o uso de diuréticos (atentar se o paciente precisa do medicamento em caso de ICC por exemplo). Na injúria renal intrínseca: Dependerá da causa que lesionou o parênquima e interstício renal. Se infarto por êmbolo/trombo, administrar anticoagulantes com estatina; Se intoxicação, suspender patógeno; se inflamações, usar AINEs e glicocorticoides. Na injúria pós-renal: Avaliar a causa e se necessário, desobstruir o trato urinário com cateter vesical. Apesar das etiologias diferentes, todos os pacientes precisam de suporte metabólico, correção de alterações hidroeletrolíticas, acidose metabólica e uremia. Medidas gerais: Monitoramento constante da concentração sérica de eletrólitos, creatinina e ureia (em TODOS os casos); dieta com baixo teor de sódio e potássio até melhora da função renal; em caso de hiponatremia, restrição do uso de soluções hipotônicas e da ingesta de água; suspensão de fármacos como AINEs, BRAs e IECAs (interferem na perfusão renal); evitar fármacos nefrotóxicos, como aminoglicosídeos, e contrastes radiológicos. Medidas farmacêuticas: Embora os diuréticos não melhorem a função renal e o prognóstico do paciente, é recomendado seu uso no controle volêmico de ALGUNS pacientes nas fases iniciais do tratamento. Sempre em dose controladas, evitando seu uso por tempo prolongado. Terapia dialítica: A diálise assume a função filtradora do rim lesionado, resolvendo algumas das complicações dessa lesão. No entanto, ela também não melhora o prognóstico. Em caso de acidose metabólica, hipovolemia e hipercalemia grave e refratárias, síndrome urêmica, edema pulmonar não responsivo a diurético e intoxicações, deve-se iniciada a diálise de urgência. Se as medidas geraisforem ineficientes, pode-se usar a terapia de substituição renal (TSR) para equilíbrio e balanço hidroeletrolítico, manejo de líquido extracelular e recuperação de funções orgânicas sistêmicas com hemodiálise e diálise peritoneal. resumo - @isabellamenezess resumo - @isabellamenezess
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