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Aborto - Causas Introdução O aborto é a expulsão ou extração de um embrião ou feto que não tenha alcançado a viabilidade, pesando menos de 500g, até a 20º semana, independente da presença ou não de sinais vitais. Pode ser classificado quanto à intenção: • Espontâneo: sem ação deliberada de qualquer natureza • Provocado/induzido: caso a interrupção seja resultante de interferência intencional E quanto à cronologia: • Precoce: até 12 semamas • Tardio: entre 12 a 20 semanas O aborto recorrente (AR) é definido pela ocorrência de dois ou mais abortos consecutivos. Em cerca de 50% a 75% dos casos, não há uma causa definida. As principais causas identificáveis, em ordem de prevalência, são: Alterações cromossômicas e genéticas Ocorre devido a duplicações ou perda de algum cromossomo ou parte dele. As mais frequentes em abortos espontâneos são: Trissomia acrossômica: são explicadas por erros na meiose II e relacionam-se com a idade materna avançada e com a diminuição ou ausência de recombinação meiótica. Monossomia do cromossomo X: geralmente ocorre pela falta de um cromossomo sexual paterno, relacionada em cerca de 7 a 10% dos abortamentos no primeiro trimestre Triploidia: ocorrem devido à dispermia (fecundação por dois espermatozoides ou por um espermatozoide que duplica seu genoma. Suas manifestações incluem saco gestacional desproporcionalmente grande, degeneração hidrópica parcial das vilosidades coriônicas, hiperplasia do trofoblasto. Tetraploidia: rara e incomum, a gestação raramente evolui para além da terceira semana. As alterações mais comuns relacionadas ao aborto habitual/de repetição são: • Translocações recíprocas: quando ocorre troca de material entre cromossomos não- homólogos • Translocações robertsonianas: quando dois cromossomos acrocêntricos se fundem próximo à região do centrômero, perdendo seus braços curtos • Inversões: ocorrem duas quebras em um mesmo cromossomo e em seguida esses fragmentos são restaurados, mas a ordem dos nucleotídeos foi alterada. Logo, os pais também podem ser fenotipicamente normais, mas podem formar gametas com alterações não balanceadas durante a meiose. As alterações de cariótipo nos pais levam ao risco de 70% de aborto por aneuploidia (adição ou redução no nº de cromososnos) e de 1% para o nascimento de um filho com alguma alteração cromossômica. Alterações anatômicas Malformação uterina: a frequência de pacientes com AR (aborto repetitivo) é de 7-13%, sendo as mais frequentes em útero bicorno e septo uterino. Sinéquias: aderências intrauterinas decorrentes de cirurgias uterinas ou endometrite. É recomendada ressecção histeroscópica sob sua presença. Miomas: os miomas intramuriais e submucosos que distorcem a cavidade uterina são os mais relacionados aos casos de abortamento. Causa uma deciduação deficiente na região de implantação, interferindo também na resposta imune. Assim, o mioma pode sofrer necrose tumoral pela liberação de citocinas e consequentemente, provocar contratilidade uterina e abortamento. Alterações imunológicas Aumento da expressão de células NK no útero: relaciona-se com falhas na implantação e aborto. Indica um defeito no mecanismo fisiológico de imunossupressão da região, impedindo a tolerância da mãe ao feto, que é um haloenxerto. (se quiserem aumentar a fala nisso, dêem uma olhada naquela parte de tolerância materna ao feto do módulo de imuno, que tem as interleucinas específicas e etc) Incompatibilidade de antígenos leucocitários (HLA) entre o casal. Em condições fisiológicas, o organismo materno suprime o sistema imune para não haver rejeição do feto devido à presença do DNA paterno. O HLA do casal deve ser diferente para induzir uma resposta imune ativa, porém protetora. Casais que compartilham antígenos HLA (familiares) têm maior probabilidade de sofrerem abortos ou manter a gestação: já que o HLA é similar, o organismo não vai entender como um corpo estranho e não vai ativar as vias de sinalização para imunossupressão do local. Alterações no balanço TH1/TH2 TH1: pró-inflamatório, combatem agentes agressores; TH2: neutralizam TH1. Se as respostas pró-inflamatórias forem descontroladas e excessivas, poderão causar dano tecidual por conta da estimulação do TNF-alfa pela ação do TH1. Muitos abortos estão associados a níveis anormais dessas citocinas no organismo. Apesar dos níveis de TH1 serem necessários para a implantação do blastocisto, a manutenção de seus valores elevados acaba causando um dano tecidual que impede essa implantação e consequentemente, a gestação. Normalmente, as TH2 realizam essa neutralização. aumento no balanço TH1/TH2 por períodos prolongados → dificuldade de implantação → aborto. Trombofilias Provocam alterações na coagulação do sangue, aumentando a chance da formação de coágulos e tromboses. Isso pode obstruir o fluxo sanguíneo da circulação uteroplacentária, essencial para a manutenção da gestação. Alterações endócrino-metabólicas Diabetes mellitus (DM): mulheres diabéticas com aumento de hemoglobina glicosilada no primeiro trimestre têm maior chance de aborto e malformação fetal. Para as controladas, o risco é igual à população geral. Síndrome dos Ovários Policísticos: risco aumentado para aborto devido à resistência à insulina e hiperinsulinemia (dificulta envio de glicogênio para o feto e sua manutenção metabólica). Hipotireoidismo: quando está descompensado, aumenta o risco de aborto. Hiperprolactinemia: altera o eixo hipotálamo- hipófise-ovário, resultando em alteração na maturação na foliculogênese, maturação oocitária e insuficiência lútea. Insuficiência lútea: vai resultar em níveis menores de hormônios andrógenos, principalmente de progesterona. A implantação ovular vai ocorrer em um endométrio que não foi adequadamente preparado. A administração de progesterona sintética, apesar de não diminuir o risco de abortos espontâneos isolados, tem evidência de benefício em pacientes com AR. (febrasgo) Infecções Qualquer infecção que leve a bacteremia ou viremia pode causar aborto de primeiro trimestre. Por isso os testes do pré-natal são tão importantes (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, sífilis). A infecção produz toxinas que causam danos ao embrião e no processo de implantação. Aborto - Formas Clínicas Ameaça Quadro clínico: • Sangramento discreto • Dor discreta ou ausente • Ausência de febre • Colo uterino fechado • Ultrassonografia: feto vivo, podendo encontrar pequena área de descolamento ovular Conduta: • Acompanhamento ambulatorial (não existe indicação de internação) • Repouso relativo • Abstinência sexual • Ultrassonografia seriada em intervalos dependentes da evolução do quadro • Hioscina: 1 comprimido VO, 6/6 horas em caso de cólicas Inevitável/Incompleto Quadro clínico: • Sangramento intenso, presença de coágulos e restos ovulares • Cólicas de grande intensidade • Orifício do colo uterino aberto • Ultrassonografia: hematoma retro-ovular Conduta: ↳ Medidas gerais • Internação da paciente • Sinais vitais a cada 6 horas (temperatura axilar, pulso radial, P.A) • Hemograma completo • Tipagem sanguínea • Coombs indireto caso Rh (-) • Acesso venoso com correção da volemia caso necessário ↳ Gestação de 1° trimestre • Misoprostol • AMIU (aspiração manual intrauterina) ou curetagem. ↳ Gestação de 2° trimestre • Misoprostol (>12 semanas) • Perfusão venosa de ocitocina em solução glicosilada • Esvaziamento da cavidade uterina: AMIU ou curetagem • Carbegolina para inibição da lactação Infectado Geralmente associada a manipulações da cavidade uterina com formas inadequadas ou inseguras. Quadro clínico: • Sangramento variável • Sinais de peritonite ocasionais (caracteriza a dor)• Febre • Secreção purulenta • Orifício do colo uterino aberto/entreaberto • Podem ser visualizados restos ovulares na ultrassonografia Conduta ↳ Medidas gerais (as mesmas já descritas) ↳ Exames específicos • Hemograma com contagem de leucócitos/plaquetas • Cultura da secreção vaginal e canal endometrial. ↳ Antibioticoterapia de 7 a 10 dias • Com peritonite: cefazolina • Sem peritonite: clindamicina ↳ Gestação de 1° trimestre • AMIU/curetagem 1h após o início da antibioticoterapia ↳ Gestação do 2° trimestre • Só pode ser realizada a curetagem após a expulsão do feto • Misoprostrol Retido Pode ocorrer com ou sem os sinais de ameaça. Pode se apresentar de duas formas: ↳ Retenção do ovo/missed abortion: presença de embrião sem vida no SG íntegro ↳ Ovo anembrionado ou ovo cego: ausência de embrião no SG íntegro Quadro clínico: • Regressão dos sintomas de ameaça, que podem chegar a nem aparecer • Ausência de sangramento dor, febre • Exame especular sem alterações • Orifício do colo uterino fechado. • BCF do embrião ausentes em dois exames intercalados de 15 dias • Ultrassonografia: sem embrião/ovo anembrionado Conduta: ↳ Medidas gerais ↳ Missed abortion com < 12 semanas • Misoprostol • AMIU ou dilatação do colo e curetagem uterina ↳ Missed abortion com > 12 semanas • Misoprostol Misoprostol A via vaginal é a forma preferencial, aplicando-se os comprimidos nos fundos de saco laterais. As doses a serem utilizadas dependem da idade gestacional. Para expulsão do feto: ↳ Até 12 semanas e 6 dias • 4 comprimidos de 200mcg a cada 12h • 2 comprimidos de 200mcg a cada 8h A expulsão do feto nas 24h posteriores, podendo em alguns casos demorar 48h a 72h. ↳ De 13 a 16 semanas • 1 comprimido de 200cmg a cada 6h ↳ De 17 a 26 semanas • 1 comprimido de 100cmg a cada 6h Após dois dias de uso do misoprostrol, deve-se aguardar 72h pelo abortamento. Caso não ocorra, o esquema deve ser repetido. Para amolecimento do colo uterino: • 2 comprimidos de 200mcg, via vagina, 3 a 4 horas antes do procedimento Contraindicações: • Cesárea anterior • Cirurgia uterina pélvica • Paciente asmática • Uso concomitante com ocitocina (não usar 6h antes do uso do misoprostol) • Placenta prévia Efeitos colaterais: • Cólicas intensas • Febre • Náuseas • Vômitos • Diarreia
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