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Excludentes de Ilicitude

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EXCLUDENTES DE ILICITUDE 
Não há crime quando o agente pratica o fato em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito. 
NÃO HÁ CRIME quando o fato é praticado em:
a) Estado de necessidade;
b) Legítima defesa;
c) Exercício regular de um direito;
d) Estrito cumprimento do dever legal.
Sendo o fato praticado nessas circunstâncias, não haverá crime (artigo 23 do CP).
ESTADO DE NECESSIDADE
Conceito: Situação de perigo atual de interesses legítimos (referem-se a bens, legalmente protegidos por lei. Legítimo no caso, é sinônimo de legal), em que o agente, para salvaguardar interesse seu ou alheio, acaba por lesionar interesse de outro. 
Diz o Código Penal no art. 24: “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”.
A situação de necessidade pressupõe, antes de tudo, a existência de um perigo (atual) que ponha em conflito dois ou mais interesses legítimos, que, pelas circunstâncias, não podem ser todos salvos (na legítima defesa, só existe um interesse legítimo). Um deles, pelo menos, terá de perecer em favor dos demais. 
Ocorre uma “situação-limite”, que demanda uma atitude extrema e, por vezes, radical. O exemplo característico é o da “tábua de salvação”: após um naufrágio, duas pessoas se veem obrigadas a dividir uma mesma tábua, que somente suporta o peso de uma delas. Nesse contexto, o direito autoriza uma delas a matar a outra, se isso for preciso para salvar sua própria vida.
Exemplos clássicos: a) Agente que se utiliza do único colete salva-vidas em prejuízo de outrem; b) Aborto necessário ou terapêutico (art. 128, I, do CP) para salvar a vida da pessoa que está grávida.
Natureza jurídica: O estado de necessidade é causa excludente de antijuridicidade, sendo o fato típico, mas não ilícito. O Código Penal adotou a teoria unitária, ou seja, o estado de necessidade sempre é excludente de antijuridicidade. 
Requisitos do Estado de Necessidade: Há requisitos vinculados à situação de necessidade, ensejadora da excludente, e outros ligados à reação do agente. 
Entre os primeiros, temos: a) existência de um perigo atual; b) perigo que ameace direito próprio ou alheio; c) conhecimento da situação justificante; d) não provocação voluntária da situação de perigo. 
Com relação à reação do agente, temos: a) inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado (proporcionalidade dos bens em confronto); b) inevitabilidade da lesão ao bem jurídico em face do perigo; c) inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.
a)Perigo atual: Perigo é a probabilidade de dano (ou lesão) a algum bem juridicamente tutelado. Pode provir da ação humana, como um incêndio criminoso, ou de fato da natureza, como uma inundação, um naufrágio provocado por mar revolto ou o ataque de um animal selvagem. 
Deve se tratar, ainda, de uma possibilidade concreta de dano,
levando-se em conta a situação em que o agente se encontrava no momento imediatamente anterior à sua atuação em necessidade. Se o perigo não era real, mas fruto da imaginação do sujeito, fica afastada a ocorrência do estado de necessidade real (CP, art. 24), podendo cogitar-se, entretanto, da presença do estado de necessidade putativo (CP, art. 20, § 1º).
Deve-se ter em conta, ademais, a necessidade de se avaliar o perigo com certo grau de flexibilidade, posto que uma pessoa, em situação de necessidade, não possui (como regra) ânimo calmo e refletido para dimensionar a efetiva gravidade do mal que está por vir.
Exige nosso Código, ainda, que se trate de perigo atual, ou seja, presente. Não se admite a excludente, portanto, quando passado o perigo (sem perigo, não há mais necessidade de reação) ou quando este ainda não se concretizou, não passando de meras conjecturas. A atualidade deve ser aferida pela necessidade de pronta reação para defesa do bem ameaçado.
Registre-se, por derradeiro, que muito embora a lei só se refira à defesa do bem em face de um perigo atual, deve-se admitir o estado de necessidade quando iminente o perigo (analogia in bonam partem).
b) perigo que ameace direito próprio ou alheio: Age em estado de necessidade não somente quem salva direito próprio (ex.: a “tábua de salvação”), mas também quem defende direito de terceiro (ex.: médico que quebra sigilo profissional revelando que um paciente é portador do vírus HIV para salvar terceira pessoa que seria contaminada). Fala-se, respectivamente, em estado de necessidade próprio e estado de necessidade de terceiro.
A excludente, ademais, aplica-se quaisquer que sejam os direitos em jogo. Se o interesse for tutelado pelo ordenamento jurídico, poderá ser salvaguardado diante de uma situação de necessidade. 
c) conhecimento da situação justificante: O Texto Penal refere-se explicitamente a esta exigência quando, ao traçar os elementos da excludente, aduz que se considera sob seu manto quem pratica o fato “para” salvar (de perigo atual etc.) direito seu ou de outrem.
É fundamental, portanto, que o sujeito tenha plena consciência da existência do perigo e atue com o fim de salvar direito próprio ou alheio. Deve o sujeito dirigir seu
proceder para combater o risco ou afastá-lo, com o firme propósito de salvaguardar algum bem jurídico.
Por essa razão, não age em estado de necessidade, o médico que realiza aborto por dinheiro, mesmo se constatando, após a consumação do delito, a existência de risco de morte à gestante, de modo que a intervenção tenha impedido seu iminente falecimento.
d)não provocação voluntária da situação de perigo: O provocador do perigo não pode beneficiar-se da excludente, a não ser que o tenha gerado involuntariamente. Em outras palavras, aquele que por sua vontade produz o perigo não poderá agir em estado de necessidade. 
Provocar voluntariamente significa causar dolosamente. Dessa forma, se o agente provocou culposamente o perigo, poderá ser beneficiado pelo instituto. Há quem entenda de maneira diversa, tratando como provocação voluntária tanto a dolosa como a culposa. 
Argumenta-se que o provocador do risco teria sempre o dever jurídico de impedir o resultado (isto é, salvar o bem alheio em detrimento do seu), independentemente de dolo ou culpa, com base no art. 13, § 2º, c, do CP. 
Esse dispositivo, contudo, não se aplica ao estado de necessidade, pelo princípio da especialidade; isso porque o art. 24, § 1º, do CP estipula que só não pode alegar estado de necessidade quem tem o dever legal de enfrentar o perigo (situação retratada no art. 13, § 2º, a, do CP).
Portanto, das pessoas arroladas no art. 13, § 2º, somente aquela da alínea a não pode agir amparada pela excludente; já as demais (letras b e c) podem. 
Requisitos ligados à reação do agente
a)Inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado (princípio da ponderação de bens). Na situação concreta, deve-se fazer uma análise comparativa entre o bem salvo e o bem sacrificado (ponderação de bens). 
Haverá estado de necessidade quando aquele for de maior importância que este, ou, ainda, quando se equivalerem (ex.:
ofender o patrimônio de terceiro para salvar a vida ou matar para salvar a própria vida). É evidente que essa comparação não pode ser feita de acordo com um critério milimétrico, pois, como regra, quem se encontra diante de um perigo atual reage ex improviso, sem ânimo calmo e condições serenas para refletir ou sopesar qual a solução menos gravosa para a salvaguarda do bem que pretende resguardar.
Caso o valor salvo seja de inferior importância em comparação com o sacrificado, não haverá estado de necessidade (ex.: para evitar que um navio afunde, o capitão ordena que a tripulação se jogue em alto-mar). Nesse caso, todavia, deve-se aplicar o § 2º do art. 24 (causa obrigatória de diminuição de pena, de um a dois terços).
Registre-se, a título de ilustração, que o grande Luís Vaz de Camões fora vítima de um naufrágio e, em situação de necessidadediante da iminência de tornar-se viúvo ou perder o manuscrito de Os Lusíadas, preferiu o poeta português garantir sua magistral obra.
b) inevitabilidade da lesão ao bem jurídico em face do perigo: A excludente de antijuridicidade definida no art. 24 do CP autoriza as pessoas a lesarem bens jurídicos alheios, desde que essa medida se mostre necessária e urgente.
Para que essa permissão seja válida, entretanto, deve o sacrifício do direito alheio ser a única saída. A lesão ao bem jurídico decorrente do perigo, portanto, não pode ser de outro modo evitável. 
Podendo-se salvaguardar o direito de outra maneira, seja qual for, como um pedido de socorro ou a fuga do local, o fato não se considerará justificado.
O que dizer, contudo, quando havia outro meio de evitar o dano, mas o agente, na situação concreta, o desconhecia? Imagine-se, por exemplo, que, no caso da “tábua de salvação”, havia outra madeira capaz de apoiá-los, além daquela que disputavam, embora eles não a tenham visto e, em face disto, acreditaram que a medida extrema era sua única salvação. Deverá se reconhecer, diante disso, o estado de necessidade
putativo (art. 20, § 1º).
c) inexistência do dever legal de enfrentar o perigo (art. 24, § 1º): Quem tem dever legal de enfrentar o perigo não pode invocar estado de necessidade. Trata-se este do dever “que o Estado impõe, normativamente, em matéria de serviço de utilidade pública ou na defesa do interesse da comunhão social”392. Isso ocorre com algumas funções ou profissões: bombeiro, policial etc.
Assim, o bombeiro não pode eximir-se de salvar uma pessoa num prédio em chamas sob o pretexto de correr risco de se queimar. Evidentemente que não se exige heroísmo (ex.: bombeiro ingressar em uma casa completamente tomada pelo fogo para salvar algum bem valioso, sendo improvável, na situação, que ele sobreviva, apesar de todo o seu treinamento).
Anote-se que não está abrangido o dever contratual, de tal modo que um segurança particular encontra-se desobrigado de enfrentar o perigo quando se encontrar, ele próprio, numa situação de necessidade.
Classificação do Estado de Necessidade:
1)Estado de necessidade defensivo: Configura-se quando o bem jurídico sacrificado é do próprio causador do perigo. Exclui efeitos penais e civis. A conduta do sujeito que age em necessidade se volta contra quem produziu ou colaborou para a produção do perigo, lesionando um bem de sua titularidade (ex.: um náufrago disputa a tábua de salvação com outro, que é o responsável pelo afundamento do navio);
2)Estado de necessidade agressivo: Ocorre quando o bem jurídico sacrificado pertence a terceiro alheio ao causador do perigo. Nesses casos existe a obrigação de reparar o dano, assim como haverá também ação regressiva. A conduta do sujeito que age em necessidade se volta contra outra coisa, diversa daquela que originou o perigo, ou contra terceiro inocente (ex.: um náufrago disputa a tábua de salvação com outro, sendo que ambos não tiveram nenhuma responsabilidade no tocante ao afundamento do navio).
A distinção acima não tem relevância para o Direito Penal ambos excluem a ilicitude, mas repercute na órbita cível. O sujeito que age em estado de necessidade agressivo deverá reparar o dano causado ao terceiro inocente pela sua conduta, tendo direito de regresso contra o causador do perigo.
O reconhecimento do estado de necessidade defensivo, por outro lado, afasta até mesmo a obrigação de reparar o dano causado pelo crime (a sentença penal que o reconhecer impedirá eventual ação civil ex delicto);
3) Estado de necessidade justificante: afasta a ilicitude da conduta. No Código Penal, o instituto sempre terá essa natureza, pois a Lei o prevê como excludente de antijuridicidade em todos os casos nos quais se permite seu reconhecimento, ou seja, quando o bem salvo é mais importante ou equivalente ao sacrificado.
4) Estado de necessidade próprio: salva-se direito próprio.
5) Estado de necessidade de terceiro: salva-se bem alheio.
6) Estado de necessidade real: Configura-se quando a situação de perigo existe efetivamente e acarretará a exclusão da ilicitude. É aquele definido no art. 24 do CP.
7) Estado de necessidade putativo: Ocorre quando a situação de perigo é imaginária, ou seja, não existe a situação de necessidade, mas o autor do fato típico a considera presente. 
O agente, por erro, isto é, falsa percepção da realidade que o cerca, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a sua ação legítima. 
Nesse caso não se exclui a ilicitude, sendo aplicada a regra da descriminante putativa prevista no art. 20, §1º do CP (afasta o dolo — art. 20, § 1º, do CP, ou a culpabilidade — art. 21 do CP, conforme o caso).
LEGÍTIMA DEFESA
Conceito legal: A legítima defesa está prevista no artigo 25 do CP: “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
Trata-se de um dos mais bem desenvolvidos e elaborados institutos do Direito Penal. Sua construção teórica surgiu vinculada ao instinto de sobrevivência (“matar para não morrer”) e, por via de consequência, atrelada ao crime de homicídio.
Reconhece-se a possibilidade de agir em legítima defesa para a salvaguarda de qualquer direito, não somente a vida ou a integridade física.
Requisitos da legítima defesa: 
São os seguintes: a) existência de uma agressão; b) atualidade ou iminência da agressão; c) injustiça dessa agressão; d) agressão contra direito próprio ou alheio; e)conhecimento da situação justificante (animus defendendi); f) uso dos meios necessários para repeli-la; g) uso moderado desses meios.
a)Existência de uma agressão: Agressão é sinônimo de ataque, ou seja, de conduta humana que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos tutelados. A mera provocação não dá ensejo à defesa legítima. Ao reagir a uma provocação da vítima, o agente responderá pelo crime, podendo ser reconhecida em seu favor uma atenuante genérica (CP, art. 65, III, b) ou uma causa de redução de pena, como se dá nos crimes de homicídio e lesão corporal dolosos (CP, arts. 121, § 1º, e 129, § 4º).
A agressão deve ser proveniente de um ser humano. Contra investidas de animais cabe, em tese, estado de necessidade (a não ser que alguém provoque deliberadamente o ser irracional, de modo que ele sirva como instrumento da sua ação — como ocorre quando o dono de um cão o açula, a fim de que fira outrem).
Importante questão refere-se às agressões insignificantes, como poderia se dar, a título de exemplo, na hipótese em que alguém tentasse subtrair (sem violência ou grave ameaça) pequena quantia em dinheiro e o ofendido reagisse contra o furto efetuando disparos letais de arma de fogo em direção ao agente. Existe a tal respeito consenso doutrinário, no sentido de que, quando nítida a desproporção entre o bem protegido e o sacrificado, deve-se afastar o reconhecimento da excludente.
Cremos que tais situações devem ser resolvidas com a aplicação do excesso (extensivo), responsabilizando o agente pelo resultado produzido (morte ou lesões corporais de natureza grave, por exemplo), nos termos do art. 23, parágrafo único, do Código Penal.
b) Atualidade ou iminência da agressão: Trata-se do indispensável requisito temporal.
Atual é a agressão presente, que está em progressão, que está acontecendo. Por exemplo: uma pessoa saca sua arma e reage contra a abordagem de um ladrão, que acabara de anunciar o roubo. 
Iminente, quando está prestes a se concretizar. Outro exemplo: alguém saca uma arma tão logo percebe que seu rival, com quem discute, leva a mão ao coldre para sacar a sua.
Não caberá legítima defesa diante do temor de ser agredido, muito menos se alguém revidar uma agressão que, anteriormente, sofrera. A pessoa que reage em face de passado vinga-se; em vez de lícita, é, como regra, mais severamente punida (motivo fútil ou torpe). Se a agressão for futura, o agente também comete crime, pois faz justiça com as próprias mãos.
c) Injustiça dessa agressão: Injusta é a agressão ilícita (não precisa,porém, ter natureza criminosa). A injustiça da agressão deve ser apreciada objetivamente; significa dizer que não importa saber se o agressor tinha ou não consciência da injustiça de seu comportamento. Sendo ilícita sua conduta, contra ela caberá a defesa necessária. Assim, por exemplo, encontrar-se-á em legítima defesa aquele que agredir uma pessoa para evitar ser vítima de um crime. 
Não se encontrará sob amparo da excludente o proprietário de um bem que pretender retirá-lo à força do locatário, quando este não for ressarcido em face da resilição do contrato antes do prazo assinalado; isto porque o Código Civil assegura ao locatário o direito de retenção, tornando lícita sua conduta (art. 571, parágrafo único).
Podem ser mencionados, ainda, os seguintes exemplos de agressões justas: cumprimento de mandados de prisão ou efetivação de prisão em flagrante (cf. arts. 284 e 292 do CPP), defesa da posse, violência desportiva e penhora judicial. Nesses casos, quem reagir não estará em legítima defesa.
d)Agressão contra direito próprio ou alheio (de terceiro): Abrange a integridade corporal, vida, liberdade, patrimônio, honra, ou seja, qualquer direito pode ser defendido em legítima defesa. Age sob seu manto, ainda, tanto aquele que defende direito próprio (legítima defesa própria) como quem tutela bem alheio (legítima defesa de terceiro). 
Assim, se uma pessoa causa lesão a fim de dominar um ladrão enquanto este assaltava alguém, está em legítima defesa de terceiro; se o faz para evitar ser assaltado, em legítima defesa própria.
e)Conhecimento da situação justificante (animus defendendi);
Constitui requisito fundamental para a existência da excludente. O agente deve ter total conhecimento da existência da situação justificante para que seja por ela beneficiado. “A legítima defesa deve ser objetivamente necessária e subjetivamente orientada pela vontade de defender-se”. 
Imagine-se a seguinte situação: A pretende vingar-se de seu inimigo B e passa a andar armado. Certo dia, avista-o. Ocorre que somente enxerga sua cabeça, pois B se encontra atrás de um muro alto. A não sabe o que está acontecendo do outro lado do muro. Como tencionava matar seu desafeto, saca sua arma e efetua um disparo letal na cabeça de B. Posteriormente, apura-se que, do outro lado do muro, B também estava com uma arma em punho, prestes a matar injustamente C. Constata-se, ainda, que o tiro disparado por A salvou a vida de C. Enfim, A deve ou não ser condenado? Agiu em legítima defesa de terceiro? Não, uma vez que só age em legítima defesa (e isso vale para as demais excludentes de antijuridicidade) quem tem conhecimento da situação justificante e atua com a finalidade/intenção de defender-se ou defender terceiro.
Presentes os requisitos vistos até então, restará plenamente configurada a situação autorizadora da repulsa ao ataque, de modo que esta se produzirá licitamente. A reação, no entanto, deve se pautar pelo que se mostre necessário e suficiente para salvar o direito ameaçado ou lesionado. Excedendo-se, extrapola o agente os limites da defesa, acarretando excesso, pelo qual o sujeito responderá, se no tocante a ele atuar dolosa ou culposamente (CP, art. 23, parágrafo único).
f)Uso dos meios necessários para repeli-la: São os meios menos lesivos, menos vulnerantes. Trata-se daquele menos lesivo que se encontra à disposição do agente, porém hábil a repelir a agressão. Havendo mais de um recurso capaz de obstar o ataque ao alcance do sujeito, deve ele optar pelo menos agressivo. Evidentemente essa ponderação, fácil de ser feita com espírito calmo e refletido, pode ficar comprometida no caso concreto, quando o ânimo daquele que se defende encontra-se totalmente envolvido com a situação. 
Por isso se diz, de forma uníssona, que a necessidade dos meios (bem como a moderação, que se verá em seguida) não pode ser aferida segundo um critério rigoroso, mas, sim, tendo em vista o calor dos acontecimentos. Assim, exemplificativamente, a diferença de porte físico legitima,
conforme o caso, agressão com arma.
g) Uso moderado desses meios: Depois de escolhido o meio, o sujeito deve se utilizar desse meio moderadamente, ou seja, não deve ir além do necessário. Se basta um tiro na perna, não precisa descarregar o revólver. 
Não basta a utilização do meio necessário, é preciso que esse meio seja utilizado moderadamente. Trata-se da proporcionalidade da reação, a qual deve se dar na medida do necessário e suficiente para repelir o ataque. Como já lembrado, a moderação no uso dos meios necessários deverá ser avaliada levando-se em conta o caso concreto.
Pode-se dar como exemplo de atitude imoderada a repulsa empregada pela vítima de bullying que, vendo-se agredida a socos pelo valentão, reage com chutes e pontapés e, mesmo depois de conseguir contê-lo, prossegue com os golpes, ferindo-o gravemente.
Excesso: O excesso está previsto no artigo 23, parágrafo único do CP. Trata-se da desnecessária intensificação de uma conduta inicialmente legítima. 
Predomina na doutrina o entendimento de que o excesso decorre tanto do emprego do meio desnecessário como da falta de moderação.
Há, conforme já se estudou, duas formas de excesso:
Excesso doloso: É o excesso intencional, voluntário ou consciente, quando o agente tem plena consciência de que a agressão cessou e, mesmo assim, prossegue reagindo, visando lesar o bem do agressor; nesse caso, responderá pelo resultado excessivo a título de dolo (é o chamado “excesso doloso”). Exemplo de excesso doloso: Pessoa desarma a outra em seguida, mata-a. Responde por homicídio doloso. Se no excesso, ferir ou errar o alvo, responde por tentativa de homicídio. Há excesso doloso também na conduta do agente que se defende, mas quando o oponente foge, passa a persegui-lo e a agredi-lo. 
Excesso culposo: É o excesso que deriva da culpa, não intencional, involuntário ou inconsciente, o qual se dá quando o sujeito, por erro na apreciação da situação fática, supõe que a agressão ainda persiste e, por conta disso, continua reagindo sem perceber o excesso que comete. 
Nesse caso, o agente não emprega o dever objetivo de cuidado. O excesso culposo pode derivar do meio desnecessário ou da imoderação. É denominada culpa imprópria. O excesso culposo possui como antecedente causal um estado emotivo. 
No doloso, o agente possui plena consciência da conduta, no culposo, há uma falta de consciência, muitas vezes, pelo nervosismo, pela emoção. 
Se o erro no qual incorreu for evitável (isto é, uma pessoa de mediana prudência e discernimento não cometeria o mesmo equívoco no caso concreto), o agente responderá pelo resultado a título de culpa, se a lei previr a forma culposa
(“excesso culposo”). 
Caso, contudo, o erro seja inevitável (qualquer um o cometeria na mesma situação), o sujeito não responderá pelo resultado excessivo, afastando-se o dolo e a culpa (“excesso exculpante” ou “legítima defesa subjetiva”)
A legítima defesa é classificada em:
1)legítima defesa recíproca: é a legítima defesa contra legítima defesa (inadmissível, salvo se uma delas ou todas forem putativas);
2)legítima defesa sucessiva: cuida-se da reação contra o excesso, quando o agressor se defende do excesso;
3)legítima defesa real: é a que exclui a ilicitude;
4)legítima defesa putativa: estará em legítima defesa putativa o agente que imaginava que estava agindo em legítima defesa, ou seja, houve uma errada percepção da realidade. Trata-se da imaginária, que constitui modalidade de erro (CP, arts. 20, § 1º, ou 21) e, nos termos da lei, “isenta de pena” o agente. Exemplo: “A” foi jurado de morte por “B”. Em determinada noite, em uma rua escura, encontram-se. “B” coloca a mão no bolso, e “A”, acreditando que ele iria pegar uma arma, mata-o. Descobre-se, posteriormente, que “B” tinha a intenção de oferecer-lhe um charuto para selar a paz;
5)legítima defesa própria: quando o agente salva direito próprio;
6)legítima defesa de terceiro: quando o sujeito defende direito alheio;
7)legítima defesa subjetiva: é aquela em que o agente, por erro de tipoescusável, excede os limites da legítima defesa. É também denominada de excesso acidental. Exemplo: “A”, de porte físico avantajado, parte para cima de “B”, para agredi-lo. Este, entretanto, consegue acertar um golpe violento, fazendo seu inimigo desmaiar. Não percebe, contudo, que “A” estava inconsciente e, com medo de ser agredido, continua a
desferir socos desnecessários. Não responde pelo excesso, em face de sua natureza acidental. 
É a hipótese de excesso por erro de tipo escusável, ou seja, o agente, por erro, supõe ainda existir a agressão (art. 20, §1º, 1ª parte do CP);
8)legítima defesa com aberratio ictus: o sujeito, ao repelir a agressão injusta, por erro na execução, atinge bem de pessoa diversa da que o agredia. Exemplo: A, para salvar sua vida, saca de uma arma de fogo e atira em direção ao seu algoz, B; no entanto, erra o alvo e acerta C, que apenas passava pelo local. 
A agiu sob o abrigo da excludente e deverá ser absolvido criminalmente; na esfera cível, contudo, responderá pelos danos decorrentes de sua conduta contra C, tendo direito de regresso contra B, seu agressor.
Bibliografia: 
Direito penal esquematizado – parte geral/André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçalves. – Coleção esquematizado/ Coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
Manual de direito penal/Nucci, Guilherme de Souza. – 16. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2020
Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Ed. MÉTODO, 2019.
Curso de Direito Penal: Valter Kenji Ishida – São Paulo: Atlas, 2009
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