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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Monalisa Nogueira Barreto casa EPS EDIFÍCIO RESIDÊNCIAL EM PAINÉIS MONOLÍTICOS DE POLIESTIRENO EXPANDIDO Natal/RN 2017 Monalisa Nogueira Barreto casa EPS EDIFÍCIO RESIDÊNCIAL EM PAINÉIS MONOLÍTICOS DE POLIESTIRENO EXPANDIDO Trabalho Final de Graduação submetido ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientador: Prof. Dr. José Jefferson de Sousa Natal/RN 2017 Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI Catalogação da Publicação na Fonte - Biblioteca Central Zila Mamede Barreto, Monalisa Nogueira. Casa EPS: edifício residencial em painéis monolíticos de poliestireno expandido / Monalisa Nogueira Barreto. - 2017. 130 f. : il. Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Arquitetura e Urbanismo. Natal, RN, 2018. Orientador: Prof. Dr. José Jefferson de Sousa. 1. Tecnologia construtiva - Monografia. 2. Painéis monolíticos - Monografia. 3. Projeto residencial - Monografia. 4. Construções em EPS - Monografia. 5. Poliestireno expandido - Monografia. I. Sousa, José Jefferson de. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 692.2 2 Monalisa Nogueira Barreto casa EPS EDIFÍCIO RESIDÊNCIAL EM PAINÉIS MONOLÍTICOS DE POLIESTIRENO EXPANDIDO Trabalho Final de Graduação submetido ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientador: Prof. Dr. José Jefferson de Sousa Aprovação em 08 de Dezembro de 2017 __________________________________________________________________________________ Professor orientador – UFRN __________________________________________________________________________________ Examinador interno – UFRN __________________________________________________________________________________ Examinador externo 3 Ao meu Pai, por todo o infinito amor dado. 4 AGRADECIMENTOS Ao decidir um dia qual seria a minha profissão, acordo desde então almejando, entre outros sonhos de vida, a sua realização e lutando por ela: A primeira grande luta foi passar no processo seletivo e iniciar a graduação; a segunda, foram os incansáveis trabalhos acadêmicos que acabo de concluir . Prestes a iniciar a terceira grande batalha, não é difícil reconhecer todos os que contribuíram para a superação destes obstáculos aparentemente inalcançáveis. Ao meu Deus, o responsável por todos os outros motivos de agradecimento que seguirão- por minha existência e me conceder fé, força, condições e oportunidades- para - buscar e almejar meus ideais. Ao meu avô, que mesmo sem o encargo, por amor escolheu ser meu pai e com muita afeição, ternura e carinho demonstrou o sentido puro da vida. A lembrança do sonho de ver sua neta graduada foi mais forte que qualquer presença física. Às três mulheres da minha vida, as mais fortes que conheci. Minha avó, por seu exemplo de superação e todos os cuidados com meu bem estar e preocupações com as noites de sono perdidas. Minha mãe, por me dar a vida e todo o suporte que necessitei, por depositar propósitos bons e acreditar no meu potencial. Minha irmã, por seu exemplo de força de uma jovem mulher contemporânea. Ao meu namorado, pelo amor, incentivo, ajuda e principalmente compreensão em face aos momentos de stress e ausência, durante toda a graduação. Às colegas de faculdade, em especial as amigas Arqfriends, pelos momentos de convivência, apoio, companheirismo e partilha de conhecimentos. Aos amigos de escola, vida social e trabalho, pelas demonstrações de amizade e carinho, e compreensão pela ausência durante o desenvolvimento deste. Aos mestres de escola e universidade, em especial Jefferson - ao aceitar me orientar, por compartilharem seus conhecimentos que - contribuírem para minha formação. Meu muito obrigada! 5 RESUMO Os processos construtivos convencionais, compostos de alvenaria de tijolos cerâmicos, por exemplo, amplamente utilizado, vem ao longo do tempo contribuindo para a geração de um sério dano ambiental com a produção de resíduos sólidos, como também, para uma perpetuação de uma prática que, se por um lado não exige uma qualificação apurada da mão de obra, termina por contribuir para uma baixa produtividade na construção civil. Contrapondo-se a esta prática, os painéis monolíticos de poliestireno expandido (EPS) são uma opção bastante interessante e que vem sendo usado na construção de edificações diversas. O sistema de painéis monolíticos de EPS é um conjunto integrado de painéis modulares, com função estrutural e/ou de fechamento, compostos por placas de poliestireno expandido pré-fabricados, montadas entre duas malhas de aço galvanizado eletrossoldadas e revestidas com micro concreto. Assim, este trabalho tem por objetivo demonstrar a relevância da implementação de novas tecnologias e do desenvolvimento de projetos com esse sistema construtivo, através do resultado final de projeto arquitetônico para uma residência unifamiliar, localizada na praia de Jacumã, Município de Ceará Mirim, estado do Rio Grande de Norte. Para tanto, utilizou-se de pesquisas de fundamentação teórica sobre o processo construtivo e estudos de referência em projetos arquitetônicos executados com a tecnologia. O trabalho resultou na proposta de uma edificação que quebra paradigmas de sistemas autoportantes e une as qualidades construtivas e de desempenho do sistema com princípios de habitabilidade e estética. Palavras-Chave: Tecnologia construtiva; painéis monolíticos de poliestireno expandido; EPS; projeto residencial. 6 ABSTRACT Conventional construction processes, composed of masonry of ceramic bricks, for example, widely used, come over time contributing to the generation of serious environmental damage with the production of solid waste, as well as to a perpetuation of a practice that, if on the one hand it does not require an accurate qualification of the workforce, ends up contributing to a low productivity in the construction industry. Contrary to this practice, monolithic expanded polystyrene (EPS) panels are a very interesting option and have been used in the construction of various buildings. EPS's monolithic panel system is an integrated set of modular panels with structural and / or closing function, composed of prefabricated expanded polystyrene panels, mounted between two galvanized steel meshes welded and coated with micro concrete. The objective of this work is to demonstrate the relevance of the implementation of new technologies and the development of projects with this constructive system, through the final result of an architectural project for a single family dwelling, located on the beach of Jacumã, Ceará Mirim Municipality, state of Rio Grande do Norte. For that, we used researches of theoretical foundation on the construction process and reference studies in architectural projects executed with the technology. The work resulted in the proposal of a building that breaks paradigms of self-supporting systems and unites the constructive and performance qualities of the systemwith principles of habitability and aesthetics. Key words: Constructive technology; monolithic expanded polystyrene panels; EPS; residential project. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Poliestireno sob a forma granulada ............................................................................................. 22 Figura 2: Blocos de Poliestireno expandido ................................................................................................. 22 Figura 3: Camadas dos painéis (1-microconcreto;2-malha de aço galvanizado;3-bloco de EPS com treliça de ferro galvanizado) ........................................................................................................... 24 Figura 4: Estrutura dos painéis............................................................................................................................ 25 Figura 5: Projeto de corte dos blocos de EPS ............................................................................................. 25 Figura 6: Formato da alma de EPS ................................................................................................................... 26 Figura 7: Malha de tela Soldada ........................................................................................................................ 26 Figura 8: Fixação das telas de aço através de grampos ....................................................................... 27 Figura 9: Painéis prontos ........................................................................................................................................ 27 Figura 10: Painéis básicos, duplos, curvos, escadas e lajes ............................................................... 28 Figura 11: Blocos de escada ................................................................................................................................ 28 Figura 12: Painéis de laje e de base ................................................................................................................. 29 Figura 13: Tipos de reforços ................................................................................................................................. 30 Figura 14: Fundação tipo radier ......................................................................................................................... 33 Figura 15: Painel fixado nos arranques da fundação tipo radier ...................................................... 34 Figura 16: Grampeador para amarração dos painéis nos arranques ............................................ 34 Figura 17: facilidade de instalação dos painéis ......................................................................................... 34 Figura 18: Painéis alinhados com réguas de alumínio .......................................................................... 35 Figura 19: Abertura de sulcos no EPS com soprador térmico ........................................................... 36 Figura 20:Instalações elétricas e hidráulicas ............................................................................................... 37 Figura 21: Instalação de quadro de energia ................................................................................................ 37 Figura 22: Detalhe de solução de instalações ............................................................................................ 38 Figura 23: Projeção de microcimento com equipamento .................................................................... 39 Figura 24: Laje com painéis de EPS ................................................................................................................. 40 8 Figura 25: Cobertura de laje inclinada apoiada diretamente sobre os painéis ......................... 40 Figura 26: Laje Fácil .................................................................................................................................................. 41 Figura 27: Laje treliçada com preenchimento de isopor ....................................................................... 41 Figura 28: Casa Vila Maresias ............................................................................................................................. 43 Figura 29: Volumetria de projeto Vila Maresias .......................................................................................... 43 Figura 30: Planta Baixa, Térreo e 1° pavimento Vila Maresias. .......................................................... 44 Figura 31: Planta Baixa, Cobertura e Terraço Vila Maresias. ............................................................... 45 Figura 32: Corte longitudinal, projeto Vila Maresias ................................................................................. 45 Figura 33: Corte transversal, projeto Vila Maresias .................................................................................. 46 Figura 34: Perspectiva Vila Maresias com destaque para madeira e vidro ................................ 47 Figura 35: Proteção com painéis deslizantes, Vila Maresias ............................................................... 47 Figura 36: Jardim interno, projeto Vila Maresias ........................................................................................ 48 Figura 37: Soluções de eficiência ...................................................................................................................... 50 Figura 38: Casa Alphaville Dom Pedro ........................................................................................................... 51 Figura 39: Planta Baixa subsolo, Casa Alphaville ...................................................................................... 52 Figura 40: Planta Baixa térreo, Casa Alphaville .......................................................................................... 53 Figura 41: Planta baixa pavimento superior, Casa Alphaville ............................................................. 53 Figura 42: Perspectiva Casa Alphaville Dom Pedro ................................................................................. 54 Figura 43: Circulação vertical, Casa Alphaville ........................................................................................... 55 Figura 44: Execução de fundação e sistema construtivo, casa Alphaville .................................. 55 Figura 45: Área de lazer, Casa Alphavillle ...................................................................................................... 56 Figura 46: Casa Alphaville, destaque para madeira, vidro e vedação ........................................... 57 Figura 47: Proteção com brises verticais, Casa Alphaville ................................................................... 58 Figura 48: Utilização de Terraço semi-sombreado, Casa Alphaville ............................................... 58 Figura 49: Solução para condensadores, Casa Alphaville ................................................................... 59 Figura 50: Mecanismo de coleta e tratamento de águas pluviais e cinzas ................................. 60 Figura 51: Residencial Schneider ...................................................................................................................... 61 9 Figura 52: Planta Baixa, Térreo ........................................................................................................................... 62 Figura 53: Planta Baixa, Pav. Superior ............................................................................................................. 62 Figura 54: Corte transversal e longitudinal ................................................................................................... 63 Figura 55: Paredes autoportantes em painéis monolíticos de EPS ................................................. 64 Figura 56: Vigas em concretoarmado e laje de vigotas e fôrma de isopor ................................ 64 Figura 57: Escada em concreto armado engastada em painel de EPS ....................................... 65 Figura 58: Detalhe de amarração dos painéis em obra ........................................................................ 66 Figura 59: Execução de Cobertura em EPS ................................................................................................. 67 Figura 60: Lareira executada em painéis de EPS ..................................................................................... 67 Figura 61: Fachada, projeto Beto Rocha........................................................................................................ 68 Figura 62: Esquema de localização: Brasil; Rio Grande do Norte; Ceará Mirim; Condomínio Bosque da Praia ......................................................................................................................................................... 71 Figura 63: Acessos ao Condomínio Bosque da Praia ............................................................................. 72 Figura 64: Vista áerea do condomínio Bosque da Praia, Jacumã ................................................... 73 Figura 65: Imagem de satélite da situação do empreendimento ..................................................... 73 Figura 66: Planta de situação .............................................................................................................................. 74 Figura 67: Limites do lote ....................................................................................................................................... 75 Figura 68: Curvas de vível do lote ...................................................................................................................... 76 Figura 69: Mapa de zonas Bioclimáticas do Brasil ................................................................................... 77 Figura 70: Recomendações do Guia Hotel sustentável Sebrae ........................................................ 78 Figura 71: Rosa dos ventos predominantes ao dia sobre o lote ....................................................... 79 Figura 72: Rosa dos ventos predominantes à noite sobre o lote ...................................................... 79 Figura 73: Carta solar aplicada ao lote ........................................................................................................... 80 Figura 74: Mapa de Macro Zonas de Ceará Mirim................................................................................... 82 Figura 75: Croquis de parâmetros projetuais voltados à harmonia espacial ............................. 89 Figura 76: Croquis de parâmetros projetuais referentes à estratégia sentido de lar .............. 90 10 Figura 77: Croqui de parâmetros projetuais referente a estratégia de opção e flexibilidade ............................................................................................................................................................................................. 90 Figura 78: Inserção de malha GRID sobre o lote ....................................................................................... 94 Figura 79: Relação de eixos estruturais com o lote e a carta solar ................................................. 95 Figura 80: Zoneamento do pavimento superior ........................................................................................ 96 Figura 81: Zoneamento pavimento térreo .................................................................................................... 97 Figura 82: Sobreposição de zoneamento com carta solar .................................................................. 98 Figura 83: Sobreposição de zoneamento com ventilação predominante dia ........................... 98 Figura 84: Proposta 01 de distribuição dos ambientes ....................................................................... 100 Figura 85: Proposta 01 de volumetria ........................................................................................................... 100 Figura 86: Proposta 02 de distribuição dos ambientes ....................................................................... 101 Figura 87: Proposta 02 de volumetria ........................................................................................................... 101 Figura 88: Proposta 03 de distribuição dos ambientes ....................................................................... 102 Figura 89: Proposta 03 de volumetria ........................................................................................................... 102 Figura 90: Planta de cobertura e locação com recuos ....................................................................... 106 Figura 91: Planta de Layout Pavimento Térreo........................................................................................ 107 Figura 92: Planta de Layout Pavimento Superior ................................................................................... 109 Figura 93: Solução volumétrica da fachada ............................................................................................. 110 Figura 94: Soluções volumétricas da área de lazer .............................................................................. 110 Figura 95: Eixos estruturais ................................................................................................................................ 112 Figura 96: Análise de esquadria no térreo, fachada Leste em solstício de inverno ............. 116 Figura 97: Análise de esquadria pavimento superior, fachada Leste em Equinócio ........... 117 Figura 98: Análise de esquadria pavimento térreo, fachada Oeste em Equinócio............... 117 Figura 99: Análise de pele de vidro da fachada Norte em Solstício de Inverno .................... 118 Figura 100: Análise de pele de vidro da fachada Norte em Solstício de verão ...................... 119 Figura 101: Simulação de coeficiente de pressão de vento Sul em planta baixa ................ 120 11 Figura 102:Simulação de coeficiente de pressão de vento Sul em fachadas Leste e Oeste .......................................................................................................................................................................................... 120 Figura 103: Simulação de coeficiente de pressão de vento Leste em planta baixa ............ 121 Figura 104: Simulação de coeficiente de pressão de vento Leste em fachada Leste........ 121 12 LISTA DE TABELAS E QUADROS Tabela 1: Características exigíveis para o EPS Isopor® .................................................................. 23 Tabela 2: Resumo dos precedentes arquitetônicos de estudos de caso .............................. 70 Tabela 3: Prescrições Gerais básicas para toda Área Urbana exceto as Áreas Especiais ....................................................................................................................................................................... 83 Tabela 4: Prescrições Urbanísticas da minuta de convenção do condomínio .................. 85 Tabela 5: Programa de necessidades ........................................................................................................ 87 13 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 15 1. ENTENDENDO A TECNOLOGIA CONSTRUTIVA EM EPS ........................................................... 20 1.1 HISTÓRICO ................................................................................................................................................. 201.2 BLOCO DE POLIESTIRENO EXPANDIDO ................................................................................... 21 1.3 OS PAINÉIS ................................................................................................................................................. 24 1.3.1 Tipos e aplicações dos painéis ............................................................................................... 27 1.3.2 Reforços em malha ....................................................................................................................... 29 1.3.3 Adaptabilidade com outros sistemas .................................................................................. 31 1.4 TÉCNICA E ETAPAS DE CONSTRUÇÃO ...................................................................................... 32 1.4.1 Preparação do terreno e fundação .............................................................................................. 32 1.4.1 Fixação de barras e estabilização inferior ......................................................................... 33 1.4.2 União dos painéis e estabilização superior ...................................................................... 35 1.4.3 Abertura dos caminhos com soprador térmico ............................................................. 36 1.4.4 Instalações ......................................................................................................................................... 37 1.4.5 Revestimento .................................................................................................................................... 38 1.4.6 Apoio da laje sobre os painéis................................................................................................. 40 2. REFERÊNCIAS PROJETUAIS ....................................................................................................................... 42 2.1 ESTUDOS INDIRETOS .......................................................................................................................... 42 2.1.1 Vila Maresias, SP ............................................................................................................................ 43 2.1.2 Casa Alphaville Dom Pedro, SP ..................................................................................................... 51 2.2 ESTUDO DIRETO ........................................................................................................................................... 61 2.2.1 Residência Beto Rocha, Novo Hamburgo/RS ........................................................................ 61 2.3 COMPILAÇÕES DOS ESTUDOS DE CASO ...................................................................................... 69 14 3. CONDICIONANTES PROJETUAIS ............................................................................................................ 71 3.1 Área de intervenção ............................................................................................................................... 71 3.2 Condicionantes físico ambientais ................................................................................................... 75 3.3 Condicionantes legais e normativas ............................................................................................. 81 3.3.1 Plano Diretor Participativo de Ceará Mirim - RN ............................................................ 81 3.3.2 Minuta de convenção de condomínio: normas construtivas .................................. 84 3.4 Condicionantes funcionais ................................................................................................................. 86 3.4.1 Público Alvo ....................................................................................................................................... 86 3.4.2 Programa de necessidades ...................................................................................................... 86 4. METODOLOGIA E PROCESSO PROJETUAL....................................................................................... 88 4.1 Habitabilidade e estratégias projetuais ....................................................................................... 89 4.2 Conceito ....................................................................................................................................................... 91 4.3 Partido arquitetônico ............................................................................................................................. 92 4.4 Modularidade e sistema estrutural ................................................................................................. 93 4.5 Zoneamento ............................................................................................................................................... 96 4.6 Evolução da Proposta ........................................................................................................................... 99 5. CASA EPS – MEMORIAL JUSTIFICATIVO .......................................................................................... 103 5.1 Requisitos Gerais de desempenho ............................................................................................. 103 5.2 Sistema Construtivo e Desempenho Estrutural.................................................................... 111 5.3 Sistemas Prediais ................................................................................................................................. 113 5.4 Conforto Ambiental .............................................................................................................................. 115 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................... 122 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................................... 124 APÊNDICES ............................................................................................................................................................... 129 15 INTRODUÇÃO Há anos, a construção civil no Brasil se apoiou no sistema de vedação em alvenaria de tijolos e estrutura em concreto armado. Esse tipo de construção foi difundido em todo o país e consolidado no mercado por sua tradição e confiabilidade, mantendo-se nos dias de hoje como o mais usual. Entretanto, esse método é caracterizado por sua produção artesanal; tornando a mão de obra onerosa devida o prolongamento da construção; ambientalmente ineficaz, em detrimento do uso excessivo de água e produção de resíduos; e suscetível a patologias relacionado a pouca padronização. (PET CIVIL, 2015) Em resposta aos prejuízos causados pela construção artesanal, nos últimos anos, o mercado da construção de edifícios, em busca de métodos construtivos mais racionalizados, investe em novas tecnologias. A racionalização do processo construtivo é a maneira de dotar a indústria civil de capacidade de produtividade, de construtividade, baixo custo e desempenho ambiental. Partindo do conceito de racionalização como a “simplificação e aperfeiçoamento de uma técnica, de modo que melhore o rendimento” (AURÉLIO, 2014), entende-se racionalização construtiva como: “um conjunto de ações que visam substituir as práticas convencionais por tecnologias que visam eliminar o empirismo das decisões” (RIBEIRO, 2002). Desta forma, diversas técnicas – vem sendo – desenvolvidas como o steel frame, concreto-PVC, wood frame, pré-fabricados de concreto e painéis em EPS e introduzidos no processo produtivo de construção -, no esforço de torná-lo - mais eficiente e industrializado. Já muito utilizado - em diversos países, o sistema construtivo em painel de EPS (PoliestirenoExpandido, conhecido como isopor®) vem se fortalecendo no segmento e - se consolidando pela inovação, tecnologia e ecoeficiência. A Tecnologia surgiu na Itália antes da Primeira Guerra Mundial, foi aprimorada nos Estados Unidos e durante os anos 16 70 e 80 e “chegou ao Brasil em 1990, mas só agora, com o boom da construção civil, está se tornando conhecida” (MARTINS, 2017). Essa tecnologia consiste basicamente de painéis monolíticos modulares pré- fabricados que - utilizam placas feitas com telas de aço galvanizado unidas por treliças de ferro galvanizado, dispostas a cada 15 cm, e recheadas com EPS – podem receber no canteiro de obras barras metálicas adicionais para sustentação extra. Os recortes necessários para colocar portas, janelas e instalações elétricas e hidráulicas são feitos rapidamente no próprio canteiro, depois que os painéis estão fixados na base – baldrame, por exemplo - e em seguida, erguidos. Para o acabamento, uma camada de argamassa de cimento de 4,0 cm de espessura é lançada com a ajuda de uma máquina ou manualmente que envolve a malha quadriculada de 5x5cm de ferro galvanizado. O sistema de tubulações de hidráulica, esgoto e elétrica são instalados entre os painéis e a tela metálica antes da aplicação de argamassa, evitando quebra de paredes ou pisos depois de executados. (MARTINS, 2017). O sistema possibilita sua aplicação em prédios de até cinco pavimentos, podem ser empregados para executar tanto paredes quanto coberturas inclinadas em residências, prédios comerciais, industriais e casas populares, principalmente no sul e sudeste do Brasil (GONSALVES, 2016). Tendo em vista que a habitação é para a comunidade em geral, a obra mais importante ou, para muitos, a única edificação que é concretizada ao longo da vida, neste trabalho a implementação do processo construtivo em painéis de EPS será realizada em um exemplo de habitação unifamiliar -, pois se acredita que, ao alcançar a confiabilidade necessária por parte dos usuários quanto ao processo de construção utilizado, se tornará mais fácil atingir o público empresarial e órgãos públicos, por exemplo. A região Nordeste se destaca nos últimos anos por seu crescimento em relação ao País, segundo dados do IBGE Info 2010, a região avançou 0,5, - na participação 17 percentual no Produto Interno Bruto brasileiro de 2002 a 2010. Atualmente, após um cenário de estagnação no setor da construção civil, o mercado imobiliário potiguar retoma aos poucos seu desempenho e atividades. No Nordeste, há predominância construtiva de processos extremamente artesanais e a aplicação de um sistema construtivo industrializado é, ainda, incipiente e não há registros da utilização dos painéis modulares na construção civil no Rio Grande do Norte. Em meio a um cenário de diminuta industrialização no processo de construção civil do estado, o universo de estudo a ser trabalho será a cidade de Ceará Mirim, litoral no Rio Grande do Norte. O recorte espacial, por sua vez, é a praia de Jacumã, satisfazendo os aspectos relevantes como as especificidades climáticas de uma região litorânea. O projeto acadêmico será desenvolvido em terreno particular localizado no Condomínio Bosque da Praia, Rodovia 306, Bairro Praia de jacumã, Ceará-mirim- RN. O empreendimento foi escolhido por possuir uma área de conservação ambiental e Selo Verde de construção, ademais, o acesso ao condomínio e terreno, auxilia para que processo de concepção de projeto se torne mais próximo da realidade. Neste contexto, o presente trabalho tem como objeto de estudo o uso do sistema construtivo em painéis de EPS em projeto arquitetônico de residência unifamiliar litorânea. Através do objetivo geral de empregar uma tecnologia construtiva a um projeto arquitetônico, pretende-se alcançar os objetivos específicos de: a) Apontar as características do sistema construtivo em EPS como uma nova tecnologia a ser empregada de forma mais difundida no projeto de arquitetura. b) Identificar as diretrizes/aspectos de desempenho a serem atendidas pelo projeto de residência litorânea e pela tecnologia construtiva empregada. c) Desenvolver projeto específico para o sistema proposto e expor uma representação gráfica que melhor se adeque as fases construtivas e elementos do sistema. 18 Uma das justificativas para desenvolvimento deste trabalho - ocorreu ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo, onde a autora teve oportunidade de tomar conhecimento sobre técnicas de construção industrializadas, em contrapartida, foram raras as possibilidades de aplicação das tecnologias em seus projetos acadêmicos, devido ao déficit de informações e/ou falta de aplicabilidade prática, como também o curto tempo disponível para pesquisas aprofundadas, gerando insegurança. Essa deficiência, somada à aptidão pessoal pelo tema, desencadeou o interesse por aplicar um novo método- e tecnologia construtiva ao trabalho final de graduação. Apesar da grande quantidade de pesquisas desenvolvidas para utilização e implementação de novos processos construtivos no Brasil, há pouca iniciativa por parte dos arquitetos de adotar tais tecnologias em seus projetos. Por se tratar de um sistema construtivo industrializado e modulado, exige que, para sua utilização, o projeto preveja a aplicação antecipada e seja desenvolvido diretamente para esse método construtivo. O emprego de uma nova tecnologia construtiva como a de painéis em EPS em um projeto residencial, no estado do Rio Grande do Norte, pode auxiliar na disseminação de seu uso na região e despertar nos profissionais de arquitetura a mesma iniciativa, além de contribuir para o processo de retomada do mercado imobiliário potiguar. Por ser um sistema relativamente novo no Brasil, sua utilização estimula a corrida das indústrias e dos fornecedores, aumentando a oferta de sistemas disponíveis no mercado, tornando a tecnologia mais acessível. “Tal competição tende a uma redução no preço dos produtos facilitando o acesso e sucessivamente estimulando o consumidor final a considerar relevantes, diversos fatores na hora de escolher um determinado sistema” (ALVES, 2015). Dessa maneira o presente trabalho se justifica também pela oportunidade de, através do resultado do projeto arquitetônico e exposição de suas vantagens, a população local se tornar mais favorável à adoção de construção com novas tecnologias. Acredita-se que o sistema construtivo com paredes levantadas a partir de painéis produzidos em EPS (isopor®) e malha de aço, seja positivo para o universo e 19 área de estudo a se trabalhar – litorânea. Por conseguinte, espera-se que o usuário se beneficie de residência econômica, alto desempenho em segura, qualidade térmica, e ecoeficiência que o sistema promete oferecer. Para atingir os objetivos do projeto, alguns procedimentos metodológicos foram determinados e o desenvolvimento do mesmo será divido em quatro fases principais. A primeira constitui a fundamentação teórica voltada principalmente ao processo construtivo em painéis monolíticos de EPS com o objetivo de fundamentar e compreender as características, materiais, o uso e aplicação da tecnologia construtiva a ser inserida no projeto de arquitetura. Na segunda etapa, o trabalho se utiliza do método analítico de estudos de caso, diretos e indiretos, através dos quais será possível evidenciar de forma qualitativa, em projetos arquitetônicos as variantes esplanadas acima. A terceira fase progride no tocante ao desenvolvimento e elaboração do projeto para o qual foi adotada a metodologia de Laert Neves em seu livro Adoção do Partido na Arquitetura. Primeiramente, a partir da fase analítica, através das condicionantes que restringem e dão limites ao processo projetual, seguido dos procedimentos projetuais, os quais direcionam o desenvolvimento do projeto a partir do conceito projetual, seguido da adoção deum partido arquitetônico, concepção formal e funcional. Por fim, a quarta e última se refere ao memorial justificativo, que contempla todas as informações e detalhamentos necessários à compreensão do projeto. 20 1. ENTENDENDO A TECNOLOGIA CONSTRUTIVA EM EPS 1.1 HISTÓRICO A tecnologia construtiva em paineis monolíticos de EPS (Poliestireno Expandido, conhecido como isopor®) tem sua origem em um projeto italiano de industrialização da construção, desenvolvido para regiões sujeitas a terremotos. A proposta tinha o intuito de criar uma estrutura monolítica autoportante que agregasse elementos de isolamento térmico e acústico totalmente estanque as intempéries (ISOLITE, 2001). O sistema foi desenvolvido por uma empresa italiana chamada Monolite, por volta do ano de 1980 e que, na ocasião, o denominou também de Método Monolite e recebeu homologação italiana (Certificato d`Idoneita Técnica) emitida em 1985 pelo Instituto Giordianos. (ALVES, 2015) Desde a sua criação, a Monolite passou a implantar unidades de produção em diversos países e hoje possui vinte e três linhas de produção espalhadas pelo mundo. Está presente na Itália, Portugal, Espanha, Rússia, Turquia, Líbia, Egito, Equador, Bósnia, Argentina, Chile, Venezuela, Guatemala, Costa Rica, México, Panamá, Nigéria, Moçambique, França, Malásia, Qatar e Filipinas e Brasil (ALVES, 2015). O EPS (poliestireno expandido) já vinha sendo utilizado na construção civil brasileira com crescente aceitação, sendo empregado em juntas de dilatação, caixão perdido, isolamento e fundação de estradas. Recentemente, o material vem ganhando grande participação na execução de lajes (LUEBE, 2004). Contrariamente ao pensamento de se tratar de um sistema prematuro, o sistema construtivo com paredes levantadas a partir de painéis produzidos em EPS e malha de aço chegou ao Brasil por volta do ano 1990, quando foi submetido a análises do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo) que apresentou resultados positivos. Apesar de não existir condições tão desfavoráveis, o sistema se adaptou de forma satisfatória com a utilização em formas 21 arquitetônicas variadas e em razão de suas vantagens e facilidades de execução explanadas por seus fornecedores, construtores e adeptos, o processo construtivo difunde-se. Sua ecoeficiencia é justificada pela obra limpa com baixa produção de resíduos, baixa contaminação de solo, água e ar, e economia de água na execução e por ser composto de material 100% reciclável. A garantia de o material possuir propriedade retardante a chama, com eficiência termo/acústica, inerente e resistente à agressão de agentes biológicos conferem segurança ao método. Por fim, características como facilidade de fixar as tubulações, facilidade de transporte em virtude de se tratar de um material leve e compacto, disponibilidade em diversas espessuras conferem inovação e economia através da racionalização da construção com redução de desperdícios de material, redução do consumo de aço, otimização do tempo da construção, elevada produtividade e serialização da construção (JJ DESIGN, 2016). 1.2 BLOCO DE POLIESTIRENO EXPANDIDO Com o intuito de compreender aspectos de segurança, habitabilidade e sustentabilidade, é importante falar dos materiais que compõe o sistema, que se resumem ao poliestireno expandido (EPS), aço galvanizado e concreto. Dentre eles, o produto que mais se destaca em volume e inovação - em relação aos sistemas construtivos mais comumente utilizados hoje no Brasil-, é o EPS. EPS é a sigla internacional do Poliestireno Expandido de acordo com a definição da norma DIN ISO-1043/78. No Brasil, é mais conhecido como “Isopor ®”, marca registrada pela empresa Knauf. É um plástico celular rígido, derivado do petróleo através da polimerização do estireno em água. Basicamente, diferentes tipos de polimerização de compostos químicos irão gerar os conhecidos: PVC, amido, proteínas, borracha sintética. Para melhorar as propriedades do poliestireno, particularmente sua resistência ao fogo, aditivos são acrescentados em sua fase de polimerização, apresentando-se então o 22 material sob a forma granulada, de aspecto vítreo (ABRAPEX, 2016), como é possível visualizar na Figura 1. Figura 1: Poliestireno sob a forma granulada FONTE: João Paulo de Oliveira Alves, 2015. Para obtenção dos blocos de EPS (Figura 2), o material é submetido à ação de vapor saturado, produzindo uma expansão de 20 a 50 vezes o volume inicial dos grânulos de poliestireno vítreo. “A espuma termoplástica resultante contém 98% de ar e 2% em volume de matéria sólida na forma de poliestireno, o que garante ao EPS suas propriedades físicas peculiares” conforme ABRAPEX (2016, p.5). Figura 2: Blocos de Poliestireno expandido FONTE: João Paulo de Oliveira Alves, 2015. São fabricados sete diferentes tipos de EPS, cujas propriedades básicas têm os seguintes valores da Tabela 1. Para os painéis monolíticos de concreto, se utilizam do 23 tipo 7 que possui maior densidade aparente mínima e nominal, resistência mínima a flexão e à cisalhamento; e menores valores de condutividade térmica. Tabela 1: Características exigíveis para o EPS Isopor® Propriedades Norma Unid. Tipos de EPS Isopor® Método de ensaio Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Tipo 6 Tipo 7 Densidade aparente nominal NBR 11949 kg/m³ 10 12 14 18 22,5 27,5 32,5 Densidade aparente mínima NBR 11949 kg/m³ 9 11 13 16 20 25 30 Condutividade térmica máxima (23°C) NBR 12094 W/m.k - - 0,042 0,039 0,037 0,035 0,035 Tensão por compreensão com deformação de 10% NBR 8082 KPa ≥33 ≥42 ≥65 ≥80 ≥110 ≥145 ≥165 Resistencia mínima à flexão ASTM C- 203 KPa ≥50 ≥60 ≥120 ≥160 ≥220 ≥275 ≥340 Resistência mínima ao cisalhamento EN-12090 KPa ≥25 ≥30 ≥60 ≥80 ≥110 ≥135 ≥170 Flamabilidade (se material classe F) NBR 11948 Material retardante à chama FONTE: Knauf Industries, 2017. Os produtos finais de EPS são inodoros, não contaminam o solo, água e ar, são 100% reaproveitáveis e recicláveis e podem voltar à condição de matéria-prima. 24 1.3 OS PAINÉIS A tecnologia construtiva é composta basicamente por um sistema integrado de painéis modulares que possuem função estrutural e de fechamento. As placas de poliestireno expandido (EPS) têm faces planas ou com baixo relevo, são monolíticas e possuem dimensões de 1.20 mm de largura, espessura de 50 mm, 80 mm, 100mm e 120mm de espessura - a altura tem a capacidade de ser alterada no processo de fabricação. Estas são estruturadas com telas de aço baixo carbono, com fios galvanizados de 2,1 mm de diâmetro e malha 50 mm x 50 mm ou 150 mm x 50 mm, posicionadas em suas duas faces. As placas são interligadas entre si por conectores de aço médio carbono galvanizados com 2,76 mm de diâmetro, eletrosoldados às telas, formando uma treliça. Posteriormente, no processo construtivo, recebem, em cada uma de suas faces, uma camada de microconcreto de fck = 25 MPa com espessura mínima de 3,5 cm (TECHNE, 2012), ilustrado na Figura 4. Figura 3: Camadas dos painéis (1-microconcreto;2-malha de aço galvanizado;3-bloco de EPS com treliça de ferro galvanizado) FONTE: Luis Gomes, adaptado por Fábio Flaks 25 Figura 4: Estrutura dos painéis FONTE: Ricardo Gonsalves, 2017. As chapas EPS que compõem a alma dos painéis são cortadas de acordo com a especificação de cada projeto. Sua composição final é bastante leve, pesando entre 2,5 kg/m2 a 4 kg/m2 (antes da aplicação da argamassa). Uma maneira de entender esses valores é relacionar as mesmas dimensões de alvenaria simples, que podem chegar a 120 kg/m2. (ALVES, 2015) Figura 5: Projeto de corte dos blocos de EPS FONTE: Alves, 2015. As formas do poliestireno expandido utilizado no painel conferem um desenho estruturalinteligente ao revestimento: os painéis de EPS podem ser ondulados, retangulares ou duplos, e sua utilização, será determinada pela capacidade de se preencher as cavidades, por onde corre o fio da malha de aço e da armadura de reforço, 26 com argamassa (Figura 6). Dessa maneira a forma do EPS confere ao painel a característica de “micropilares” (ALVES, 2015). Figura 6: Formato da alma de EPS Fonte: Paredes Betel, 2014. As malhas utilizadas no sistema construtivo – ilustradas na Figura 7 são produzidas com aço de alta resistência, com tensão última superiores a 600 MPa, com limite de escoamento, fyk > 600 N/mm2 e limite de ruptura, ftk > 680 N/mm2. O aço utilizado poderá ser do tipo comum, zincado, galvanizado a quente e inoxidável, adequados às necessidades de aplicação e que garantam estabilidade e integridade ao longo do tempo (ALVES, 2015). Figura 7: Malha de tela Soldada Fonte: Termotécnica As duas telas de aço eletro soldadas de bitola entre 2,1mm a 5mm e malha à partir de 5 cm x 5 cm, podendo variar de acordo com cada projeto, fazem um sanduíche da peça e são presas por grampos de aço. (TECHNE, 2012) 27 Figura 8: Fixação das telas de aço através de grampos FONTE: Alessandra cabral, 2015. Figura 9: Painéis prontos FONTE: Alessandra cabral, 2015. 1.3.1 Tipos e aplicações dos painéis O sistema construtivo de painéis de EPS, não se restringe apenas ao tipo de painel “básico e plano” descrito anteriormente. A tecnologia construtiva se expande a outros elementos monolíticos, os quais podem ser empregados para executar, além de paredes, unidades como lajes e escadas, por exemplo, com a possibilidade de formas variadas. O componente de painel único pode ser utilizado como vedação, divisórias, coberturas e paredes estruturais para edifícios de até seis pavimentos. Os painéis duplos consistem na união de dois painéis básicos através de dois conectores horizontais criando uma cavidade interna a ser preenchida por concreto. Os painéis curvos possuem grandes dimensões e espessuras, são fabricados de forma plana com cavidades que conferem maleabilidade, facilmente transportado e dobrado manualmente no canteiro de obras, ou por um equipamento semiautomático e pneumático. 28 Figura 10: Painéis básicos, duplos, curvos, escadas e lajes FONTE: M2 Emmedue, 2012. O painel de escada, de rápida e fácil instalação, é composto por um bloco monolítico de EPS com cavidades de espera para treliças de aço galvanizado e rodeado pela malha de ferro galvanizado (Figura 11). Assim como os componentes de vedação, posteriormente recebem camada de microconcreto e qualquer material de revestimento. Figura 11: Blocos de escada FONTE: M2 Emmedue, 2012. O painel de laje é formado por uma placa de EPS com calhas de espera para instalação de ferragem, as quais criam vigotas de concreto armado e pode ser utilizado para construir lajes de piso e de cobertura. Outra tipologia é o painel de base, também constituído por painel de EPS com a particularidade de possuir calhas de espera nos dois eixos horizontais e muito próximas entre si. Este painel pode ser utilizado como base para radie, e laje de piso a ser reforçada em duas direções horizontais. 29 O transporte e içamento dos painéis podem ser manuais, e os mesmos devem ser armazenados na posição horizontal com pilhas de no máximo 20 painéis, em locais secos e limpos. Figura 12: Painéis de laje e de base FONTE: M2 Emmedue, 2012. 1.3.2 Reforços em malha A partir do estudo e levantamento de informações acerca do sistema construtivo em painéis monolíticos de EPS, é possível perceber a relevância da malha de aço galvanizado, apesar desta poder passar despercebida em relação à significância em volume e inovação de aplicabilidade do EPS no sistema construtivo. A malha é responsável por muitos aspectos característicos do sistema, como sua propriedade autoportante e por fases de execução do sistema construtivo: fundamental para amarração entre os painéis através de sobreposição e como estrutura de apoio para execução da instalação hidráulicas e elétrica. O Sistema possui três tipos básicos de reforços, concebidos com malha de arame de aço galvanizado, da mesma malha de aço utilizada nos painéis: reforço L, reforço Liso e reforço U. O objetivo do uso destes reforços, juntamente com o recobrimento em concreto, é formar uma estrutura única, interligando toda a montagem e fortalecer possíveis pontos críticos da estrutura. Esses reforços são instalados à tela do painel com arame ou grampo galvanizados. 30 Figura 13: Tipos de reforços FONTE: Termotécnica, 2014. O reforço com armadura tipo “L” é aplicado em todo encontro de paredes perpendiculares, cantos de paredes ou paredes em T. Assim como especifica Techne (2012) “são aplicados reforços com armadura tipo L e Lisa tanto na face interna, quanto na face externa, na altura total do pé-direito, com fixação feita em arame recozido”. Já o reforço “liso”, é utilizado em aberturas de portas e janelas e cantos. Com dimensões de 30 cm x 60 cm, a armadura é disposta diagonalmente em relação aos fios do painel em suas duas faces (TECHNE, 2012). Este procedimento é previsto para absorver tensões comuns nesses pontos e eventuais trincas onde estão presentes os acúmulos de esforços, este reforço também é utilizado em painéis que perderam seu traspasse e em recortes para passagens de tubulações hidráulicas e elétricas. Por fim, o reforço “U” é empregado em todo o perímetro interno das aberturas (portas, janelas, passagem de ar-condicionado, etc.). São armaduras com o formato de vergas e contra vergas de tela em U fixadas com arame recozido, evitando assim que o revestimento dos painéis seja aplicado diretamente no EPS e para neutralizar os esforços de corte e esmagamento localizados (TECHNE, 2012). 31 1.3.3 Adaptabilidade com outros sistemas O sistema permite ser utilizados com outros processos construtivos que, assim como os painéis monolíticos de EPS, sejam executados in loco e possuam elementos e materiais semelhantes. O principal deles é o concreto armado, tendo em vista que partilham dos mesmos materiais para atingirem formas e resistência a carga e força. Além de se utilizar da armadura e concreto, possui a possibilidade de execução moldado in loco, permitindo a união dos seus elementos com outros componentes do sistema construtivos em EPS e preservando a sua característica principal de homogeneidade – a qual confere propriedades importantes dos painéis monolíticos, como resistência a abalos sísmicos. Em virtude da propriedade autoportante da tecnologia construtiva em EPS e de sua baixa densidade, quando necessária à utilização de outro sistema construtivo, este último operará como um reforço, possuindo dimensões mínimas. Um exemplo comum é a utilização de vigas chatas de concreto armado para corroborar lajes a vencer grandes vãos, acima de 6 m. 32 1.4 TÉCNICA E ETAPAS DE CONSTRUÇÃO 1.4.1 Preparação do terreno e fundação Antes do início da obra se procedem aos serviços comuns de limpeza, como capina, escavação e aterro, se necessários. A preparação das fundações é feita, de acordo com o cálculo estrutural. À depender do tipo de terreno, podem ser adotados diferentes tipos de fundação: fundação tipo laje radier com (18 cm de altura, por exemplo); sapata corrida de 40 cm de largura e 15 cm de profundidade nos projetos simples, ou então uma fundações especial se as condições de sondagem do terreno ou arquitetônicas não forem favoráveis. (TECHNE, 2012). A fundação geralmente é do tipo radier, executado com concreto fck = 20 MPa, com espessura de 18 cm, obedecendo as especificações de projeto, assentado sobre lastro drenante de 5 cm de brita no 1, impermeabilizada com manta de PAD de 200 g/m². A resistênciacaracterística do concreto é definida em razão dos aspectos de durabilidade e resistência estrutural, conforme NBR 6.118. A armadura do radier é geralmente constituída por tela de aço CA-60 soldada com malha de 10 cm x 10 cm. Pode ser simples ou dupla, dependendo do projeto estrutural, que considera as tensões atuantes e as condições do solo no local de implantação da obra. (TECHNE, 2012). Sistemas hidrossanitários, elétricos, de comunicação, segurança e outros, que venham a interferir no radier, são posicionados antes de iniciar a concretagem da fundação. A tubulação é aterrada e nivelada ao solo para lançamento do concreto do contra piso. Feito o contra piso, este servirá como pavimento para que os trabalhos possam ser desenvolvidos com mais limpeza e eficiência. (MONOLITE,2017). 33 Figura 14: Fundação tipo radier FONTE: Monolite, 2017. Após o término das instalações de esgoto, juntamente com a armadura da fundação, deverão ser posicionados os arranques de aço na vertical (na tela do radier), que ficarão à espera da fixação dos painéis. Estes possuem dimensões de 3,4 mm a 5 mm com 50 cm de comprimento, destes 30 cm deve ficar acima do piso para ancoragem, que alinhados pelo gabarito da obra serão dispostos a 20 cm de distancia entre si-(ALVES, 2015). Essas barras de aço podem ser engastadas posteriormente, perfurando a fundação e fixando-as com graute ou produto equivalente, com o mínimo de 10 cm de engastamento e ancoragem mínima de 50 cm para os painéis, conforme a locação e as definições do projeto- (TECHNE, 2012). 1.4.1 Fixação de barras e estabilização inferior Após a concretagem da fundação, se inicia o processo de montagem da base e alinhamento e aprumo dos painéis para o levantamento de paredes. O montador deve fixar os painéis nos arranques previamente colocados com o auxílio de um grampeador com grampos de aço CA 60 (o mesmo que prende a malha aos painéis) ou simplesmente com arame recozido e torquês. Os painéis têm abas de malha de aço que se sobrepõem, para que sejam solidarizadas ao painel vizinho. (MONOLITE,2017) 34 Figura 15: Painel fixado nos arranques da fundação tipo radier FONTE: Monolite, 2017 Figura 16: Grampeador para amarração dos painéis nos arranques FONTE: Termotécnica, 2014. O trabalho de montagem poderá ser facilitado com a numeração dos painéis. O painel é manuseado e colocado na posição por um funcionário apenas, o que simplifica e acelera a montagem e, também, dispensa a formação de equipes de trabalhos especiais. (ALVES, 2015) Figura 17: facilidade de instalação dos painéis FONTE: Monolite, 2017 Para garantir o prumo e alinhamento das paredes, utilizam-se réguas que são fixadas, horizontalmente nos painéis, a cerca de 2 m do piso, como ilustrado Figura 18. As 35 escoras reguláveis são colocadas na diagonal e perpendicular às réguas, reguladas para garantir a verticalidade dos painéis. Segundo MONOLITE (2017) é recomendável o uso de réguas de alumínio, que também podem ser substituídas, sem qualquer prejuízo, por sarrafos de madeira. Caso os painéis sejam aplicados num segundo piso, os processos se repetem, não havendo necessidade de arranques (a própria tela dos painéis verticais poderá fazer essa função). (COELHO, 2015). Figura 18: Painéis alinhados com réguas de alumínio FONTE: Monolite, 2017 1.4.2 União dos painéis e estabilização superior Os painéis são amarrados entre si por meio de transpasse das abas da malha de tela eletrossoldada, que devem ser sobrepostas ao painel ao lado. Como explanado anteriormente essa união pode receber reforço de peças de telas estruturais tipo L ou tipo Lisa. Em relação às aberturas de vão e esquadrias, os painéis, sob consulta, são fornecidos com qualquer tipo de abertura de portas e janelas, conforme projeto arquitetônico. No entanto, as aberturas podem ser feitas no canteiro obra, que são realizados cortando-se o painel com maquita na medida desejada. Neste ultimo caso, os reforços devem ser projetados para que ocorram estes cortes, (MONOLITE,2017). 36 1.4.3 Abertura dos caminhos com soprador térmico Com a todos os painéis e reforços instalados, a fase seguinte é o posicionamento das tubulações de elétrica e hidráulica embutidas. No processo construtivo, as instalações são simples, a operação é rápida e limpa, pois não ocorrem quebras de material para abertura de roços, como nos processos tradicionais. Para disposição das instalações elétrica e hidráulica, deve-se projetar o posicionamento das passagens. Primeiramente é desenhado o percurso das instalações na placa de EPS por spray. Com o ar quente, o EPS se funde com facilidade e utilizando- se um soprador térmico (pistola de ar quente). Seguindo o traçado feito no painel, abrem- se os sulcos - cavidades por onde são passados, na parte posterior da malha de aço, os materiais que compõem a instalação, (ALVES, 2015). Como alternativa ao gerador de ar quente, pode-se utilizar também um maçarico a gás, que recebe um tubo metálico na ponta (objetivando cobrir a chama viva que poderá queimar o EPS). (MONOLITE,2017). Figura 19: Abertura de sulcos no EPS com soprador térmico Fonte: Monolite. 2017. 37 1.4.4 Instalações Figura 20:Instalações elétricas e hidráulicas Fonte: Termotécnica, 2014 Após a abertura dos sulcos, os tubos devem ser colados sob da tela de aço, montando-se todo o conjunto antes da etapa de revestimento, de maneira que o diâmetro dos tubos embutidos nas paredes não pode ser maior que a espessura interna do EPS (Figura 20). As saídas de hidráulica e caixas para instalação elétrica devem ser fixadas na malha de aço e reguladas para que fiquem no mesmo plano da face concluída do revestimento, como demonstrado na Figura 21 (COELHO, 2015). No caso de tubos rígidos ou semi-rígidos, quando necessário, corta-se a tela metálica com um alicate e no final, fecha-se novamente a tela para segurar a tubagem. Uma sofisticação admitida pelo sistema é o aterramento dessa malha, criando uma gaiola de Faraday e para projetos de multipavimentos recomenda-se a utilização de shafts, pois facilita o acesso e a manutenção dos sistemas elétrico e hidráulico. (MONOLITE,2017) Figura 21: Instalação de quadro de energia Fonte: Téchne, 2012. 38 Os detalhes da união dos dutos a outras peças do sistema são executados de forma usual a todos os projetos de instalações elétricas ou hidráulicas. Além disso, estas peças não influenciam na eficácia da estrutura autoportante devido a pequena área que ocupam no interior do painél. Quando houver a necessidade de manutenção das instalações hidráulicas, esta será feita da mesma forma em que é feita para a alvenaria de tijolos cerâmicos, ou seja, quando a falha estiver no interior da alvenaria será necessário a quebra de uma das camadas de revestimento em argamassa estrutural. Após o conserto deve-se repor novamente a malha de aço e o microconcreto, bem como os revestimentos finais. (LUEBLE, 2004) Figura 22: Detalhe de solução de instalações Fonte: Ricardo Gonsalves, 2017. 1.4.5 Revestimento O revestimento é aplicado em duas camadas: a primeira preenche a superfície do EPS com micro cimento, a segunda se refere ao revestimento final e convencional. Inicialmente se executa as mestras (ou taliscamento) que servem para demarcar as áreas de projeção, delimitando a espessura final do microconcreto, e como apoio para a régua utilizada no sarrafeamento. As mestras devem estar alinhadas e aprumadas para garantir o acabamento da camada de microconcreto até facear com a malha de aço (espessura mínima de 3,5 cm), nas duas faces do painel. Esse cuidado é importante para que a parede não apresente retração diferencial nas faces revestidas. O microconcreto é 39 projetado no espaço definido pelas mestras. A projeção deve começar sempre de baixo para cima e aespessura de 3,5 cm do microconcreto é obtida por camadas: cada camada de projeção deve ter espessura de no mínimo 0,5 cm e no máximo 2,0 cm, sem excesso e de forma a evitar o retrabalho. (TECHNE, 2012) Figura 23: Projeção de microcimento com equipamento Fonte: Téchne, 2012 Após a projeção, é feito o sarrafeamento com régua de alumínio tipo H, no sentido vertical e de baixo para cima, evitando que o microconcreto excedente caia no chão. Esse primeiro sarrafeamento tem como objetivo principal retirar o excesso de material projetado na parede e promover uma regularização inicial. Se for verificada a existência de falhas na aplicação do microconcreto após o sarrafeamento, deve-se refazer a projeção, corrigindo tais irregularidades. (TECHNE, 2012) Após a cura total dessa primeira camada, inicia-se a colocação dos batentes e caixilhos, nesse momento as escoras (instaladas no processo de fixação dos painéis) podem ser retiradas, pois as paredes já possuem característica autoportante. Uma vez fixados, nivelados e aprumados, os batentes e caixilhos devem ser protegidos, para que não sejam danificados pela argamassa projetada da segunda e última camada. Os revestimentos seguem os mesmos procedimentos comuns a maiorias dos sistemas construtivos, seja em áreas secas, com aplicação de textura nas paredes externas; gesso 40 ou massa corrida com pintura nas internas; ou ainda, nas áreas molhadas, o assentamento de qualquer tipo de revestimento, por exemplo (LUEBLE, 2004). 1.4.6 Apoio da laje sobre os painéis Depois de fase de acabamento, interna e externa, é colocada a laje de cobertura, ou do pavimento seguinte. Uma das possibilidades para coberturas é a laje treliçada unidirecional de EPS de 10 cm, em alguns casos, empregam uma malha de 3,4 mm de 15 cm x 15cm em pontos onde o vão é maior (Figura 24), mas não há necessidade do uso da malha em todas as peças da obra -deve-se seguir, em todo caso, a orientação do calculista (COELHO, 2015). Os painéis de cobertura inclinados (Figura 25) podem receber as telhas diretamente sobre o concreto desempenado e em processo de cura, evitando assim todo o madeiramento de sustentação do telhado (MONOLITE,2017). Figura 24: Laje com painéis de EPS FONTE: Ricardo Gonsalves, 2017. Figura 25: Cobertura de laje inclinada apoiada diretamente sobre os painéis FONTE: Ricardo Gonsalves, 2017. 41 Outra opção é a laje de EPS, chamada pelos fornecedores de laje fácil, deve ser aplicada diretamente sobre as paredes e tem espessura de 90mm a 300mm. Esta dispensa a utilização das vigas concretadas e trabalha como fôrma para as vigas e enchimento da laje ao mesmo tempo, reduzindo o tempo de montagem e riscos de perdas (ALVES, 2015). Figura 26: Laje Fácil Fonte: Paredes Betel, 2014. A utilização de laje confeccionada por vigotes de concreto, é outra possibilidade, com placas de EPS em substituição a tavela cerâmica, apoiados sobre viga de cintamento de 3cm de altura, executadas sobre as paredes. (LUEBLE, 2004). Figura 27: Laje treliçada com preenchimento de isopor Fonte: Paredes Betel, 2014. 42 2. REFERÊNCIAS PROJETUAIS Este capítulo contempla o referencial empírico, no qual são apresentados estudos de referência em projetos arquitetônicos, com o objetivo de compreender em obras construídas o que já foi estudado de forma teórica, somar informações ainda não levantadas e contribuir com o desenvolvimento do trabalho. Os estudos são divididos em duas categorias: diretos (realizados in loco) e indiretos (através de pesquisas em sites e revistas), que seguem duas vertentes de relevância: àquelas que se utilizam dos painéis monolíticos de concreto e aquelas que exercem uso similar ao projeto a ser desenvolvido, ou ainda aquelas que agregam as duas características. Cada estudo será analisado sobre princípios preestabelecidos- que nortearão as análises e - possíveis rebatimentos na elaboração do projeto, como: programa de necessidades e solução espacial; sistema estrutural e circulação vertical; sistema construtivo, materiais e recursos; conforto do usuário, e por fim sustentabilidade. 2.1 ESTUDOS INDIRETOS Os estudos indiretos são o projeto Villa Maresias, na cidade de São Sebastião- e uma residência no condomínio Alphaville São Pedro em Campinas-., ambas situadas no Estado de - São Paulo, e se diferenciam, principalmente, em relação a localização. O primeiro, situa-se em uma praia do litoral e o segundo em um condomínio residencial urbano. Os projetos atendem simultaneamente o perfil de projeto residencial com a utilização da tecnologia construtiva em painéis monolíticos de EPS, quando - serão analisados aspectos comuns de zoneamento funcional, relações espaciais dos ambientes, dimensões, soluções que visem maior conforto do usuário, adequações ao sistema construtivo e estrutura utilizada. 43 2.1.1 Vila Maresias, SP No litoral paulista, a residência está localizada em frente à praia é de autoria do arquiteto Luiz Paulo Machado de Almeida em primeira fase, e recebeu ajustes e projeto de interiores da Arquiteta Fernanda Azevedo. A obra foi iniciada em 2011 e finalizada em 2014. Figura 28: Casa Vila Maresias FONTE: ICP Engenharia e Construções, 2017. O projeto compreende uma residência unifamiliar localizada na praia de Maresias, município de São Sebastião- SP com 1.830 m² de área construída, em um terreno de 3.060 m², é o maior projeto entre os nove pilotos implementados em um condomínio fechado. Figura 29: Volumetria de projeto Vila Maresias FONTE: Bruno Nitzke, 2010. 44 A vila Maresias se destaca por ser a primeira residência no Brasil a receber o selo referencial GBC Brasil Casa® do Green Building Council Brasil. A certificação, destinada a domicílios sustentáveis, unifamiliares ou multifamiliares, de baixo, médio ou grande porte, que possuem alto desempenho econômico, social e ambiental. PROGRAMA DE NECESSIDADES E SOLUÇÃO ESPACIAL Apesar de se tratar de uma residência unifamiliar, o programa de necessidades é bastante completo e extenso, contando com 11 suítes e um infraestrutura completa de uma casa de praia para receber muitos hóspedes. O projeto conta com 35 ambientes distribuídos em setores como acessos, lazer, serviço, circulações, suítes e setor técnico dispostos em dois pavimentos, cobertura e terraço técnico. Figura 30: Planta Baixa, Térreo e 1° pavimento Vila Maresias. FONTE: Bruno Nitzke, 2010. 45 Figura 31: Planta Baixa, Cobertura e Terraço Vila Maresias. FONTE: Bruno Nitzke, 2010. SISTEMA ESTRUTURAL E CIRCULAÇÃO VERTICAL Para atender ao extenso programa de necessidades, o projeto se verticalizou em 3 pavimentos, apesar da horizontalidade ser dominante no contexto formal. O sistema estrutural desse projeto se resume ao próprio sistema construtivo: o sistema de painéis em EPS e concreto armado, o qual foi dimensionado para atuar com propriedade autoportante. Acrescida a tecnologia construtiva se utilizou de vigas metálicas e fundação em sapata corrida. A circulação vertical é satisfeita através de escadas de diferentes formatos – em forma de bumerangue do térreo para o 1° pavimento e linear do segundo pavimento para a cobertura e terraço técnico-, dispostas no mesmo eixo vertical. Figura 32: Corte longitudinal, projeto Vila Maresias FONTE: Bruno Nitzke, 2010. 46 Figura 33: Corte transversal, projeto Vila Maresias FONTE: Bruno Nitzke, 2010. SISTEMA CONSTRUTIVO, MATERIAIS E RECURSOS Destaca-se a utilização da tecnologia construtiva de painéis monolíticos de EPS e argamassa armada, considerado o grande diferencial do projeto, principalmente para a obtenção da certificação de sustentabilidade. A tecnologia foi empregada nas paredes e lajes e os 3.500 m² de paredes foram erguidas em apenas 8 meses. No processo construtivo, utilizou-sesomente cimento CP III, que apresenta maior impermeabilidade e durabilidade. Além disso, as propriedades do cimento de baixo calor de hidratação e alta resistência à expansão auxiliaram para uma construção mais rápida. Dentre os principais materiais utilizados no projeto, a madeira e o vidro se evidenciam. O conjunto madeira e vidro são aplicados principalmente nas aberturas e proteções: o primeiro material na função de permeabilidade visual, de iluminação e ventilação em janelas e “peles”, enquanto que o segundo como proteção para radiação solar e coberturas, como caramanchões e painéis deslizantes. Na obra, se fez uso de madeira Cumaru devidamente legalizada e certificada. 47 Figura 34: Perspectiva Vila Maresias com destaque para madeira e vidro FONTE: Bruno Nitzke, 2010. CONFORTO DO USUÁRIO Como era objetivo da construção receber a certificação de residência sustentável, muitas diretrizes de conforto foram guias para o projeto. A residência possui alto desempenho de isolamento térmico e acústico, obtido através do processo construtivo com painéis de EPS, com um índice de redução acúsctica de 37 dB. A ventilação cruzada permitida pelas grandes aberturas laterais e a especificação de elementos de controle da isolação direta - como películas em todas as janelas e portas e painéis vazados e pergolados-, oferecem proteção contra incidência solar e contribuem para uma maior eficiência e conforto térmico da edificação. Figura 35: Proteção com painéis deslizantes, Vila Maresias FONTE: Bruno Nitzke, 2010. 48 O conforto abrange também questões de umidade, tendo em vista o alto desempenho de estanqueidade obtido através da tecnologia construtiva, pois o EPS é inerte por não absorver água, além de possuir propriedades antifungicidas. Além disso, o sistema de ar condicionado foi projetado com desumidificador e filtro das impurezas do ar, já que a residência está localizada na praia e há muita poeira. “Jardins verticais internos foram projetados para aumentar a umidade interna, além de grandes aberturas de vidros para integração entre o interior e o exterior”, explica a engenheira Lourdes Cristina em entrevista para o Universo Jabotá (2014). Figura 36: Jardim interno, projeto Vila Maresias FONTE: Bruno Nitzke, 2010. SUSTENTABILIDADE Para o Projeto Vila Maresias, com grandes dimensões, foi instalado um sistema de armazenamento e reaproveitamento de águas pluviais recolhidas do telhado que filtra e as encaminha para uma cisterna. Após o tratamento, a água é reutilizada em bacias sanitárias e no sistema de irrigação. Destaca-se neste último sua eficiência através do uso de gotejamento e de paisagismo com plantas nativas de baixo consumo. Na residência, foram utilizados medidores de vazão setorizados, metais eficientes para chuveiros e torneiras (com vazão específica) e sanitários com duplo fluxo de descarga. 49 Em relação à eficiência quanto ao plano de gerenciamento de resíduos: foram contratadas empresas especializadas na coleta e descarte, para o resíduo inevitável, que ao final, 88% do total do resíduo gerado foram reciclados. O projeto conta também com uma produção de 10% da energia necessária e água quente através da instalação de sistemas de placas fotovoltaicas, -20 placas com capacidade de gerar até 240 w/placa, para produção de energia elétrica e placas solares para aquecimento de água. Somado a isso, a residência apresenta uma eficiência de 37% em redução de consumo de energia através da instalação de lâmpadas LED e eletrodomésticos mais eficientes com tecnologia “Inverter” e selo de consumo de energia, letra A. O aproveitamento de recursos naturais como alternativas ao resfriamento e iluminação artificial contribuem para economia energética necessária como a implementação de um grande jardim no terraço, que, por sua vez, contribuiu para controlar a temperatura no interior da casa. O isolamento termo-acústico da envoltória alcançado através do uso dos painéis estruturados de EPS imprimiu alto rendimento ao sistema de ar condicionado o uso da fachada com paredes de vidro combinadas com concreto claro, que permitem aproveitamento da luz natural; grandes aberturas para iluminação e ventilação natural com isolamento térmico nos vidros e aplicação de película da 3M (película para vidro que combinam 200 camadas que reduzem a transparência dos vidros e incidência de Sol) e de pergolados. 50 Figura 37: Soluções de eficiência FONTE: Bruno Nitzke, 2010. 51 2.1.2 Casa Alphaville Dom Pedro, SP Figura 38: Casa Alphaville Dom Pedro FONTE: Mariana Orsi, 2016. Construída no condomínio Alphaville em campinas - SP, assinado pela arquiteta Teresa D’Ávila, com revisão da arquiteta Cristina Hana Shoji e projeto paisagístico da arquiteta Renata Kassis a obra teve início em 2014 e foi entregue em outubro 2015, num total de 16 meses de execução. O projeto residencial unifamiliar conta com uma área de 450 m² em um terreno de apenas 594 m². A residência se conceituou por ser a primeira da América latina a conquistar o nível Silver do selo internacional Leed for Homes (Leadership In Energy And Environmental Design), tornando-se referencia para construções sustentáveis. O selo LEED for Homes trata-se de um selo ambiental internacional concedido pelo USGBC (U.S.Green Building Council), reconhecido em 154 países e que já validou mais de 56 mil unidades no mundo. 52 PROGRAMA DE NECESSIDADES E SOLUÇÃO ESPACIAL Segundo arquiteta Teresa d’Ávila, “a implantação impôs uma construção em Y, a fim de aproveitar o terreno com mínimas intervenções na topografia original, permitindo ainda abertura a um amplo horizonte visual, na face nordeste”. (ARCO, 2016). Com 450 metros quadrados de área construída dispostos em 3 pavimentos, a residência ficou dividida nos seguintes ambientes: lavanderia, dependências do filho, garagem, academia de ginástica no andar inferior com saída para o jardim e área da piscina, com cisterna de 10 mil litros de água, horta e casa de bombas e irrigação (Figura 39). Além disso, há ainda quarto de hóspede, sala de estar, sala de jantar, lavabo, home theater e cozinha no térreo (Figura 40); e, no piso superior (Figura 41), suíte do casal com closets, escritório, varanda com mirante e acesso à sala técnica, além de abrigo para caixas d'água. Figura 39: Planta Baixa subsolo, Casa Alphaville FONTE: ARCO, 2016. 53 Figura 40: Planta Baixa térreo, Casa Alphaville FONTE: ARCO, 2016. Figura 41: Planta baixa pavimento superior, Casa Alphaville FONTE: ARCO, 2016. 54 SISTEMA ESTRUTURAL E CIRCULAÇÃO VERTICAL Figura 42: Perspectiva Casa Alphaville Dom Pedro FONTE: Mariana Orsi, 2016. Devido a intenção de preservar a topografia original do terreno e não realizar grandes modificações, a residência se diferencia por conter um pavimento em subsolo, além de outros dois pavimentos, térreo e superior, contabilizando uma volumetria em 3 níveis, atendendo ao programa de necessidades em um terreno 598 m². A circulação vertical do projeto se resume a uma escada na área central, enclausurada e independente dos ambientes de convívio, que se repete no mesmo eixo vertical em todos os pavimentos. 55 Figura 43: Circulação vertical, Casa Alphaville FONTE: Mariana Orsi, 2016. Assim como o referencial projetual anterior, o sistema construtivo em painéis monolíticos de concreto é autoportante e assume a função estrutural, com a diferença de não utilização de nenhum outro sistema estrutural adicional. No que diz respeito a fundação, o projeto faz uso de radiêr e, onde há diferença de nível do terreno, sapata corrida. Figura 44: Execução de fundação e sistema construtivo, casa Alphaville FONTE: ARCO, 2016. 56 SISTEMA CONSTRUTIVO, MATERIAIS E RECURSOS. A obra, como
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