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Natália Martins Belchior Da Silva A DUPLA PATERNIDADE NO REGISTRO CIVIL BRASILEIRO Centro Universitário Toledo Araçatuba - SP 2018 Natália Martins Belchior Da Silva A DUPLA PATERNIDADE NO REGISTRO CIVIL BRASILEIRO Monografia apresentada ao curso de graduação em Direito como trabalho de conclusão, sob a orientação do Prof. Me. Paulo Roberto Cavasana Abdo. Centro Universitário Toledo Araçatuba - SP 2018 BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Prof. Me. Paulo Roberto Cavasana Abdo _____________________________________ Prof. _____________________________________ Prof. Araçatuba - SP, ___ de __________ de 2018. A Deus, o único que se vira para TODOS com olhar de amor, aos meus familiares com todo carinho do mundo e aos meus amigos é que dedico a presente monografia, que se tornou possível graças ao companheirismo que pude ter de cada um ao longo desses cinco anos de esforço, luta mas em especial de muita sabedoria e crescimento. AGRADECIMENTOS Agradeço sempre e antes de tudo, a Deus, por ter me fortalecido durante todo esse percurso que pude com a sua graça vivenciar, nesses cinco anos de puro esforço e dedicação, vislumbrando alcançar o tão sonhado objetivo de conquistar a graduação no curso de Direito. Agradeço também, a todos aqueles que direta ou indiretamente, me ajudaram ao longo desses anos a alcançar e conquistar a cada dia um degrau a mais em minha história, que apesar de difícil e repleta de desafios, foi também em especial uma motivação, um aprendizado e uma vitória em minha vida, na vida de todos os meus familiares e de todos os meus amigos. Portanto, resta dizer, que o presente trabalho monográfico é uma construção com o intuito de concluir meu tão sonhado curso, mas também para agradecer a aqueles que se esforçaram tanto em me ajudar. Por isso digo obrigado a Deus, a meus familiares, meus amigos e é claro a todo corpo docente que tive o prazer em conhecer e principalmente em aprender por meio de suas sábias e admiráveis palavras. “7 Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 8 Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á. 9 E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? 10 E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? 11 Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso 12 Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?”. Mateus 7:7-11 – Bíblia Sagrada RESUMO O presente trabalho monográfico objetiva analisar a eficácia e a aplicação da multiparentalidade, ou seja, da cumulação de paternidades atualmente possível nos registros de nascimento de todo o país. Busca-se com o presente trabalho, observar o posicionamento doutrinário e jurisprudencial brasileiro a respeito do direito de família que obterá com essa recente autorização legal algumas alterações visando com mais força os direitos da pessoa humana. Para tanto, será analisado desde o início o procedimento de formação de novos conceitos de famílias introduzidos em nosso meio social e com isso a inserção da multiparentalidade também em nosso ordenamento jurídico vigente, possibilitando o reconhecimento da dupla paternidade no registro civil brasileiro. Será analisado também, os princípios existentes que fundamentam a possibilidade legal de se ter cumulada e reconhecida uma dupla paternidade. E ao final, será examinada as formas de filiações e os mecanismos formais existentes, que possibilitarão a todos os sujeitos que assim desejarem, oficializar a dupla paternidade em seus registros de nascimento nos cartórios de todo o país. Palavras-chaves: Cumulação de paternidade; Direito de Família; Direito da pessoa humana; Conceitos de família; Formas de filiações; Oficializar a dupla paternidade em seus registros. ABSTRACT The present monographic work aims to analyze the effectiveness and the application of multiparentality, that is, the cumulation of paternities currently possible in birth records throughout the country. This work seeks to observe the doctrinal and Brazilian jurisprudential position regarding the family law that will obtain with this recent legal authorization some changes aimed at strengthening the rights of the human person. To do so, we will analyze from the beginning the procedure of forming new concepts of families introduced in our social environment and with this the insertion of multiparentality also in our current legal system, making possible the recognition of dual paternity in the Brazilian civil registry. It will also be analyzed the existing principles that underlie the legal possibility of having cumulated and recognized a double fatherhood. And in the end, it will be examined the forms of affiliation and the existing formal mechanisms, which will enable all the subjects who wish to officiate the double paternity in their birth registers in the offices of the whole country. Keywords: Cumulation of paternity; Family right; Right of the human person; Family concepts; Forms of affiliation; Make dual paternity available in your records. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................12 CAPÍTULO I – A FAMÍLIA..................................................................................................13 1.1 Da Origem e sua Evolução Histórica...............................................................................13 1.2 Instituições Familiares....................................................................................................15 1.3 Princípios que regulam o Direito de Família...................................................................18 1.3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana..................................................................19 1.3.2 Princípio da Igualdade nas espécies de vínculo da Filiação e o Direito ao reconhecimento da Ascendência genética.............................................................................21 1.3.3 Princípio da Paternidade Responsável.........................................................................23 1.3.4 Princípio da Solidariedade familiar e os efeitos de sua ausência..................................24 CAPÍTULO II – DUPLA PATERNIDADE..........................................................................26 2.1 A afetividade e sua influência na dupla paternidade........................................................26 2.2 Multiparentalidade..........................................................................................................28 2.3 O Prisma da Figura Paterna e a busca da Própria Essência..............................................30 2.4 Cumulação de Paternidades e seus efeitos jurídicos........................................................31 2.4.1 A disposição do pai Socioafetivo e do pai Biológico....................................................34 CAPÍTULO III – REGISTRO CIVIL...................................................................................383.1 Direitos Da Personalidade no ordenamento jurídico.......................................................38 3.1.2 Direito ao Nome...........................................................................................................40 3.2 Do Reconhecimento da Paternidade no registro civil brasileiro......................................43 3.2.1 Do reconhecimento da Dupla Paternidade no Registro civil brasileiro........................46 CONCLUSÃO.........................................................................................................................50 REFERÊNCIAS......................................................................................................................52 12 INTRODUÇÃO Atualmente ao analisar o conjunto familiar de nossa sociedade verificamos que muitos são os direitos que a tônica família pode agregar, questões paterno-filiais obteve ainda mais destaque com o entendimento dado pelo Supremo Tribunal Federal que negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 898060 procedente de Santa Catarina. No caso concreto em que foi objeto de repercussão geral discutia-se a possibilidade de o recorrente pai biológico eximir-se de sua responsabilidade de genitor já que não havia entre ele e sua prole vínculo afetivo devido ao obscurantismo da existência do rebento que se manteve por muitos anos e ainda a atuação do pai registral que assumiu a sua paternidade satisfazendo toda e qualquer necessidade que a autora da ação e filha pudesse ter tido ou viesse a ter, sendo dispensável portanto a inserção de seu nome no registro da filha para efeitos jurídicos. Tal posicionamento não obteve êxito configurando o entendimento firmado do Supremo Tribunal Federal de que haveria o reconhecimento do pai biológico em concomitância com o pai socioafetivo que já figurava no registro civil da autora da ação, igualando-os assim em direitos e deveres, sem que houvesse entre eles qualquer tipo de hierarquização. Nessa nova caracterização do registro civil brasileiro que possibilita a anotação de dois ou mais pais observamos que o critério utilizado não se restringe a paternidade que exteriorizou mais ou menos afeto a prole, mas sim toda e qualquer paternidade coexistente que assegure ao indivíduo o melhor dos direitos, deveres e liberdade quanto a escolha de quem integrará ou não o seu registro civil para sua completa satisfação. Tamanha é a importância da dupla paternidade que abrem- se no âmbito do direito civil discussões de natureza moral e patrimonial nas relações familiares, mas que terão ao seu tempo o devido aprofundamento. Para essa nova definição de paternidade registral resta saber até onde suportaria o direito de família quanto a dupla paternidade quando efetivada no registro civil brasileiro sem causar prejuízos ao filho, aos que o cercam, ao próprio direito de família e ao poder judiciário. Muitas serão as mudanças quando tratarmos de direitos e deveres dos pais, porém esses direitos e deveres resguardados aos filhos se restringem a visão de interesses apenas plurihereditários que beneficia e assegura ao registrado o direito pecuniário como alimentos e herança, ou existe uma proteção de um interesse maior? É nessa linha de pensamento que se desdobra a matéria a ser tratada no presente trabalho monográfico. 13 A FAMÍLIA Quando tratamos de Família, observamos que tal instituição obteve amparo estatal amplo e abrangente devido a mudanças sociais e culturais que notadamente alterou a forma de legislar no âmbito do direito de família que se constitui e evolui de acordo com as necessidades de toda a sociedade. Dessa forma não só houve o surgimento de variados modelos de instituições familiares protegidas constitucionalmente, houve principalmente a tutela e proteção de cada indivíduo membro destas instituições, o que vem fortalecer em nosso país a visão subjetiva de amparo e tutela dos interesses de cada pessoa. 1.1 Da Origem e sua Evolução Histórica Para que possamos conceituar a família da atualidade é necessário entender o conceito de família no passado, os costumes dentro de uma sociedade estão em constante mudanças, porém são mudanças que delimitam dentro dela o que será aceito ou não para aquela época. A origem da família é estabelecida no conjunto e a união entre pessoas, cada qual consciente de seu dever dentro daquilo que foi estabelecido como ente familiar e que este agora fará parte. Quando se fala nos primeiros indícios de civilização temos o casamento como a única figura capaz de constituir uma família, onde se relacionavam homens e mulheres e destes nasciam filhos, formando um agrupamento de pessoas que ligados por uma comunhão faziam predominar então o matrimônio, como observa Silvio Rodrigues (2008, p.20) “De certo modo poder-se-ia dizer que o casamento era o elemento estrutural no Direito de Família do Brasil, na forma por que o disciplinou o Código de 1916”. Destacava- se ainda os objetivos essenciais a constituição de uma entidade familiar para a época como, a concepção dos filhos, o patrimônio do casal que seria passado hereditariamente, e o poder patriarcal que preservava a autoridade masculina no cerne familiar já que este era o marido, o pai e o provedor que exercia certa supremacia sobre sua mulher, seus filhos e seus bens possuindo assim a chefia do pater família, ditando destarte as regras de todas as vidas que o cercavam, e tornando-se assim uma figura respeitável socialmente e legalmente, o que fora mantido por muito tempo. Diante da construção cultural e a evolução dos costumes dentro da sociedade brasileira tal entendimento de família e a forma de sua constituição pretérita acaba ficando ultrapassada, não suprindo mais os conceitos e as transformações decorrentes do tempo que automaticamente abriu espaço para uma nova discussão e concepção do que seria necessariamente uma família 14 quanto a sua constituição, subsistência, aceitação e formalização na sociedade atual e no ordenamento jurídico vigente. Uma variedade de entidades familiares se torna cada vez mais visível ao passo que comporta crescente mudança legal com influência social e vice-versa. O que fora trazido principalmente com o advento da Constituição Federal de 1988, abrange a proteção não só do casamento, mas também da família natural, da família adotiva e das uniões estáveis que de fato priorizou a vasta gama de interesses de cada pessoa componente dessa instituição familiar em sua personalidade e capacidade jurídica. Como principal marco de possibilidades e garantias de direitos, tal inovação de entidades familiares em nosso ordenamento jurídico pátrio advindos com a carta magna, possibilitou a existência de uma família mais ampla e de mais inclusões, abrangendo assim uma pluralidade de características e aspectos do conjunto familiar que não mais acompanha aquele padrão único, formal e legitimo que era utilizado no passado. Desse modo, tem-se fundamentadamente na presente Constituição Federal do Brasil de 1988, especialmente em seu artigo 226, a proteção inerente a família que se fez necessária e ordena que: art. 226 A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Para Silvio Rodrigues (2004, p.05) o conceito de família define-se como: Dentro dos quadros de nossa civilização,a família constitui a base de toda a estrutura da sociedade. Nela se assentam não só as colunas econômicas, como se esteiam as raízes morais da organização social. De sorte que o Estado, na preservação de sua própria sobrevivência, tem interesse primário em proteger a família, por meio de leis que lhe assegurem o desenvolvimento estável e a intangibilidade de seus elementos institucionais. Daí a interferência, por vezes até exagerada, do Estado nas relações familiares. O autor Carlos Roberto Gonçalves (2015, p. 21 e 22), instrui ainda que: As alterações introduzidas visam preservar a coesão familiar e os valores culturais, conferindo-se à família moderna um tratamento mais consentâneo à realidade social atendendo-se às necessidades da prole e de afeição entre os cônjuges ou companheiros e aos elevados interesses da sociedade. 15 Entendemos assim que o Estado quanto a chegada da Constituição Federal de 1988 nos trouxe uma nova concepção do que poderia ser caracterizado entidade familiar a merecer uma tutela estatal. Diante dos princípios advindos com o presente texto maior, destacou-se principalmente os princípios da dignidade da pessoa humana, o da paternidade responsável, entre outros, que incorporou diversas situações como uma união estável por exemplo a ser amparada legalmente completando-se em direitos que antes não possuía, um exemplo é claro dentre várias outras situações que foram abrangidas no direito de família, e assegurou o melhor para os sujeitos integrantes de nossa sociedade. Logo, a família atualmente é a base do Estado e da sociedade que necessariamente precisa cuidar para que todos os seus direitos e garantias constitucionais e legais sejam respeitados, objetivando um convívio coletivo em geral cada vez melhor o que acabará por refletir em nossa sociedade influenciando direta e indiretamente a forma de se compreender e legalizar as variadas famílias da atualidade. 1.2 Instituições Familiares Hoje em dia, traçar um modelo único e padronizado de instituição familiar é uma tentativa ineficaz visto que notadamente como já fora apresentado não conseguimos mais ditar as regras do que seria ou não uma formalidade familiar legitima e concreta a ser seguida dentro de nossa atual e gradativa sociedade. Nota-se que a liberdade em escolher cada qual a sua desejada composição familiar para ser inserido desde que seja a mesma apta a atender respeitosamente a todos os direitos de uma pessoa humana, nos trouxe uma flexibilidade quanto as formas em que tal instituto poderá surgir e assim se manter dentro do âmbito social, tudo isso fundado na busca de um resultado comum, qual seja a felicidade que como já dito é o foco de qualquer relação. Desta maneira, é imprescindível que os valores como o afeto, carinho, respeito e o companheirismo existentes em um ente familiar sejam a essência e a seguridade de convivências que realmente importa e que se é buscado quando tratamos de família, independentemente de qualquer evolução. Sem serem classificadas formalmente em níveis de importância nos lembra Kaíque Freire (2016) que, temos em nosso ordenamento jurídico brasileiro muitas possibilidades de famílias estabelecidas em leis, jurisprudências, súmulas ou apenas em doutrinas. Com isso abordaremos ainda neste capitulo algumas formas atuais em que 16 se constituem algumas famílias, todas com a mesma proporção de importância e igualdade de tratamento em nosso ordenamento jurídico vigente. Inicialmente temos a família Casamentária, aquela cujo nascimento se dá a partir do casamento civil formalmente definido e constituído, fazendo surgir uma harmonia entre o casal que são unidos juridicamente desta forma pelo matrimonio, tal modalidade encontra-se enraizada em nosso sistema jurídico brasileiro desde a era clássica, sendo este o modelo mais tradicional e antigo de se ver iniciada e oficializada uma instituição familiar. A união entre duas pessoas, pelo casamento recebem uma tutela estatal que é garantida por preceitos que existem a muitos anos, e que oportunamente se estendeu a relações formadas tanto por héteros quanto homossexuais. Logo, tal comunhão de matrimonio como menciona Dimas Messias de Carvalho (2009, p.04): [...] família matrimonial é a formada com base no casamento pelos cônjuges e prole, natural e socioafetiva. A família deixa de ser singular e passa a ser plural com sua vasta representação social-famílias matrimonializadas, uniões estáveis hétero e homoafetivas, simultâneas, pluriparentais. Por muito tempo a família matrimonial foi a única existente em nossa sociedade, primeiramente sendo autorizado o seu registo quando constituída por pessoas de sexos diferentes e posteriormente devido a transformação social por pessoas do mesmo sexo. Este padrão único de família cuja base de estabelecimento se dava apenas pelo casamento mudou completamente com o aparecimento de outras instituições familiares que surgiram e surgem até hoje para satisfazer as exigências de nossa sociedade atual. A família Convivencial é uma das formas de agrupamento familiar que ganhou proteção após o advento da importante Constituição Federal de 1988, obtendo igualmente direitos e deveres que qualquer união fundada pelo casamento pudesse ter. A família Convivencial é aquela que surge a partir de uma união-estável que ao contrário da família matrimonializada caracteriza-se pela informalidade quanto ao seu registro, registro que não é realizado mas que não torna tal ato um óbice caso queira a união ser a qualquer tempo registrada. É também uma instituição onde duas pessoas formam um vínculo de afeto e amor, que ao seu tempo não se define um casamento propriamente dito, entretanto não se restringe a algo momentâneo, curto ou não duradouro, sendo esta uma relação como já dito não oficializada, porém estável. Como destaca Olga Jubert Gouveia Krell (2008, p.25) sobre uniões que não são assim registradas: “As pessoas compartilham a cumplicidade e solidariedade familiar, não porque lhes 17 foi imposto pela norma do contrato bilateral, mas porque tal sentimento de afetividade recíproca já se encontra implícito na união entre homens e mulheres com o fim de constituir família.” Prosseguindo, temos a família Concubinária, que é constituída por pessoas que estão restringidas de se casarem por já serem ambos ou apenas um deles casados, mas que desta forma, mesmo já possuindo um matrimonio tendem a constituir uma família paralela com outra pessoa. Tal instituição familiar não é aceita em nosso direito legislativo brasileiro por não ser atualmente uma forma adequada sob o ponto de vista social atual de se constituir e se manter uma família. A família Monoparental é aquela onde estarão presentes num lar apenas o pai e seus filhos sem a mãe, ou então apenas a mãe e seus filhos sem o pai, logo é a família constituída por qualquer dos pais que sozinhos criam seus filhos. É uma forma de entidade familiar que também está garantida constitucionalmente. A família Anaparental por outro lado é caracterizada por possuírem os membros de um mesmo lar um vínculo de parentesco desde que tal vínculo não seja formado pela ascendência ou descendência. A família Homoafetiva é a entidade familiar constituída por pessoas do mesmo sexo ligadas pelo afeto e amor que possuem um pelo outro. De acordo com Rodrigo Haidar (2011) este tipo de afeição existe desde as primeiras civilizações, todavia pode ser formalmente amparada pelo direito civil brasileiro a partir de seu reconhecimento recente pelo Supremo Tribunal Federal, que em 2011 equiparou a família homoafetiva a qualquer família heterossexual que já possuía tutela jurisdicional garantidores de direitos e obrigações. Antes disso entidades familiares homoafetivas não eram bem vistas ou protegidas dentro de nossa sociedade.A família Reconstituída nos traz a união entre duas pessoas que já estiveram anteriormente em um relacionamento, onde por vezes deste mesmo relacionamento surgiram ou não os filhos, e que por algum motivo ou circunstancia tal convívio não foi duradouro. Atualmente famílias reconstituídas são uma entidade familiar cada vez mais comum e que obteve crescente adeptos, o que motivou casais que não mantinham mais uma relação de amor com seus conjugues a se divorciarem e se casarem novamente por mais de uma vez. Foi com a Constituição Federal de 1988 que surgiu tal possibilidade de todos se casarem quantas vezes fosse necessário. A família Unipessoal é definida por apenas uma pessoa que sozinha, voluntariamente ou não possui capacidade para se auto denominar família, afinal tal definição não necessita 18 obrigatoriamente de um conjunto de pessoas para que possa existir. Dessa forma o individuo é a sua própria família que encontra o amor e o carinho familiar em si mesmo. A família Eudemonista caracteriza-se num agrupamento de três ou mais pessoas que se relacionam entre si, formando uma entidade familiar onde estão presentes não apenas o casal tradicional de um par de indivíduos, mas sim o número de pessoas que achar a família necessário, convivendo todos em perfeita harmonia como qualquer outra entidade familiar. É válido ressaltar que tal união ainda não possui um amparo legal em nosso ordenamento jurídico vigente, porém não é proibida constitucionalmente ou civilmente o que gera assim muitas controvérsias a seu respeito dentro de nossa sociedade por pessoas que são contrárias e outras que são favoráveis a tais situações. E por fim temos ainda a família Socioafetiva, aquela onde o elo dentro do lar especialmente entre pais e filhos existe por conta do afeto, amor e carinho, sem qualquer ligação meramente biológica e sanguínea entre os seus membros. Prevalece que quando a família socioafetiva constituí- se em um liame de afeto e se mantém como qualquer outra, independente dos filhos e pais possuírem ou não um vínculo sanguíneo será possível que a mesma seja identificada normalmente como uma entidade familiar. Dessa maneira, muitos são os meios de se formar e identificar uma instituição familiar atualmente, portanto torna-se notório as imensas restrições que possuíamos em épocas passadas onde não havia muitas alternativas de relacionamentos formais entre as pessoas, foi porém com a chegada da carta magna e as constantes evoluções que se viu obrigatoriamente uma necessidade de mudança que viesse a acompanhar e satisfazer os anseios sociais. Com variados modelos familiares tutelados verificamos que o direito se faz presente, compreendendo e garantindo sua eficácia em cada formato atual de família quando disciplinado e acolhido no ordenamento jurídico. 1.3 Princípios que regulam o Direito de Família Os princípios que alicerçam nosso atual direito de família é garantia constitucional, que está presente não somente em nossa carta magna positivada por normas constitucionais, mas também se encontra em normas infra - constitucionais que cuidam e satisfazem da forma mais ampla as necessidades de nossas instituições familiares. Vários são os princípios norteadores dos direitos e garantias das famílias brasileiras e que aos principais e mais importantes anote- se, ganharão destaque ainda neste capítulo. 19 Com a evolução social houve uma forçosa forma de se priorizar a família em nossa legislação vigente, com isso variados princípios foram surgindo no decorrer do tempo para que pudessem todas as atuais famílias valer-se de direitos e garantias que amplamente as pudessem proteger. Como preleciona Carlos Roberto Gonçalves (2015, p. 22) “o direito de família é o mais humano de todos os direitos”, tal pensamento remete a instituição familiar e seus princípios asseguradores ao especial e importantíssimo princípio do respeito à dignidade da pessoa humana que nitidamente expõe o fato de que antes de tudo ter-se uma vida digna é o mínimo tanto para uma pessoa quanto para uma família propriamente dita que também necessita de toda proteção possível dentro de nossa sociedade. No tocante a atenção que obteve o direito de família no decorrer dos séculos é certo a divisão e a análise feita diante de cada ponto sobre o assunto no plano civil, familiar, social e econômico. Foi sob a influência e a tutela dada pela Constituição Federal de 1988 que houve classificações e organizações acerca do tema em nosso atual código civil de 2002 e em todas as demais normas que disciplinam o assunto, buscando atender toda e qualquer precisão ou necessidade que um ente familiar pudesse ter seguindo um grau de importância e de cada vez mais humanização. Como conceitua Flávio Tartuce (2015, p.1106) por exemplo: Tal organização ainda remete à tendência de personalização do Direito Civil, ao lado da sua despatrimonialização, uma vez que a pessoa é tratada antes do patrimônio. Dessa maneira, o direito de família evolui conforme a sociedade e a própria lei e suas normas regulamentadoras lhe permite evoluir, logo seguir os princípios trazidos pelo texto maior permite amparar na medida do possível os sujeitos de nossa sociedade e consequentemente as famílias que estes podem vir a formar e se integrar no decorrer de suas vidas. O que tende a ser observado com mais ênfase com o advento da Constituição Federal de 1988, são justamente essas necessidades dos indivíduos integrantes da sociedade brasileira enquanto pessoas humanas em primeiro lugar, o que acaba por beneficiar assim os desejos também de uma instituição familiar. Portanto restam a todos os indivíduos e as entidades familiares em que estes possam fazer parte extremamente acolhidos em nosso ordenamento jurídico vigente, o que claramente conseguimos através de uma proteção ativa e eficaz advinda de nossas variadas normas, leis, doutrinas, súmulas, entre outras, e também é claro da própria coletividade a qual pertencemos e que obtém os benefícios de toda melhora que gradativamente conseguimos juntos conquistar. 20 1.3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana Existe em toda pessoa humana uma integridade e dignidade própria que deve sempre e em primeiro lugar ser considerada e respeitada por todos. Desde o momento em que nascemos obtemos por sermos pessoas essa condição de sujeitos detentores de dignidade, que por sua vez nos integra a valores essenciais que surgem conosco, podendo e devendo dessa maneira ser reconhecidos pela sociedade e por nosso sistema jurídico, merecendo amplamente uma total e absoluta proteção. A dignidade de uma pessoa humana está vinculada a ela com o fim de direciona-la a uma conceituação de um ser solene e significativo. Em nossa Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, inciso III a definição de um macroprincípio que se faz presente para orientar e regular nosso Estado brasileiro como um Estado Democrático De Direito, dispondo que: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; Tem-se resguardado a toda pessoa humana uma aplicação e preservação de direitos formados a respeitar a sua nobreza e o seu valor, que desde a sua concepção até a sua morte poderá exigir de um Estado democrático o seu mantimento e cumprimento efetivo de seus direitos. Como dito, a dignidade da pessoa humana está no topo dos princípios, conduzindo todos os demais, a respeitar a pessoa humana no que lhe for dado como garantia. Da mesma maneira as demais normas, preceitos e leis constitucionais ou infraconstitucionais devem seguir igual caminho. É importante destacar que todas as entidades familiares nas diversas modalidades que já foram expostasdevem ser protegidas em sua dignidade, tanto pessoal quanto familiar. Expõe Pereira (2005, p.100 apud Karine Mota, 2018), o princípio da dignidade da pessoa humana em relação as famílias brasileiras em dizer que “significa, em primeira e última análise, uma igual dignidade para todas as entidades familiares”, o que é de fato uma observação em defesa do indivíduo e das escolhas que deste advém. Assim aos membros de tal entidade, seja ela qual for a sua forma de constituição, não se pode deixar esquecer que recaem sobre todos primeiramente a figura de serem humanos, de pessoas que igualmente a todas as outras possui resguardado obrigações e com eles também os seus direitos onde são cautelosamente observados e tutelados pela sociedade e pelo Estado. Logo são sujeitos que estão de fato garantidos pelas normas constitucionais e também 21 infraconstitucionais a terem uma vida a ser considerada a honra e a liberdade para com as suas escolhas, possibilidade que surge a partir do momento em que uma pessoa nasce e se integra no âmbito social, pronta para exigir o dever de zelo e cuidado que objetive solucionar da forma mais adequada e eficiente qualquer situação que venha a surgir. 1.3.2 Princípio da Igualdade nas espécies de vínculo da Filiação e o Direito ao reconhecimento da Ascendência Genética Quanto a importante chegada de nossa Constituição Federal de 1988 uma mudança valorosa que merece destaque e que foi trazida por ela estão nas presentes filiações, que em suas variadas espécies obtém hoje paridade de tratamento em nossa estrutura jurídica. As normas sobre o tema eram antigamente regidas de uma forma desproporcional e desigual, o que causava danos e violações de vários direitos que atualmente são garantidos aos filhos independentemente da forma em que são concebidos. Como instrui Roberto Senise Lisboa (2013, p.277) sobre as filiações ilegítimas “Filho ilegítimo ou bastardo era aquele não originário das justas núpcias, isto é, concebido fora da relação conjugal (extra matrimonium)”. Assim como anteriormente dito regulavam-se as filiações legitimas diferentemente da forma que regulavam as filiações ilegítimas o que acabou gerando preocupações no direito de família condicionando-a a aceitáveis mudanças e alterações possíveis para que pudéssemos obter melhoras a respeito do tema, objetivando beneficiar principalmente e em primeiro lugar os inocentes registre-se os filhos ilegítimos que até então eram os únicos prejudicados com essa tamanha e atroz diferenciação. Pelo procedimento de proteção aos filhos havidos na constância do casamento de acordo com Tauã Lima Verdan Rangel (2017), tudo se perfazia de forma a assegurar a estes o melhor dos direitos e benefícios que os chamados filhos legítimos tinham e com toda força normativa lhes eram assegurados, quando porém o assunto envolvesse filhos ilegítimos deparávamos com um rebento que não nascera dentro dos padrões aceitos pela sociedade, o que consequentemente acarretava a este o encargo de aceitar que por conta de tal condição variados direitos existentes para alguns filhos não lhe seriam cabíveis. Com o necessário surgimento da atual Constituição Federal de 1988 singularmente em seu artigo 227 § 6º conseguimos observar que “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” o que fez outrora o código civil de 2002 disciplinar da mesma forma. 22 Com isso ficamos remansados pela possibilidade de nos deparar com uma fundamental e mais humana realidade de filhos que nascidos em qualquer circunstância ou situação encontrarão finalmente amparo em nosso sistema. Diante das conquistas obtidas pela filiação em geral, sejam elas legítimas ou ilegítimas passemos agora para sua análise classificatória. A filiação pode se desdobrar em uma filiação biológica, registral ou até mesmo socioafetiva, sua característica encontra-se cravada num liame existente entre a prole e seus pais. O que mais comumente nos deparamos são as filiações biológicas que trata do filho que descende geneticamente de seus pais. Todavia Roberto Senise Lisboa (2013, p.275) nos esclarece que “O critério biológico da fixação da paternidade, entretanto, vem sofrendo uma série de modificações resultantes da própria mutabilidade social e da noção de família, reforçando-se a ideia da necessidade de reconhecimento da paternidade por solidariedade”. A filiação registral por sua vez nos remete aos filhos registrados civilmente e que são reconhecidos desta forma como qualquer outro filho daqueles que o registram, e por fim temos a não menos importante filiação socioafetiva que submete quaisquer indivíduos a condições de verdadeiros pais, desde que demonstrem querer ser o pai ou a mãe daquele que é carinhosamente e afetivamente considerado como um filho mantendo-se efetivamente uma afeição notória e reconhecida socialmente a ponto de considera-los integrantes de uma relação paterno-filial. Tratados finalmente de forma igualitária por nossa legislação podemos concluir com a ajuda de Matheus Monteiro (2016) que, estando o indivíduo na condição de filho várias serão as formas de exigibilidade de seus direitos. A força normativa estabelecida para satisfazer as necessidades do filho é exteriorizada por exemplo quando falamos no direito que o mesmo possui em conhecer a sua ascendência genética caso esse seja o seu desejo, por conseguinte notamos que é possibilitado aos indivíduos ter acesso ao seu passado, sua cultura e suas origens, o que não acarretará obrigatoriamente uma formalização de filiação. Para Paulo Nader (2016, p.313) a filiação é relevante e no que tange a busca de sua identidade argumenta que: Hodiernamente, os avanços da ciência e de sua correspondente tecnologia favorecem a busca da verdade real, permitindo a definição da origem genética estreme de dúvida. Esta definição é importante em face dos múltiplos direitos e deveres decorrentes do parentesco, especialmente de primeiro grau, e, ainda, pela necessidade que os seres humanos possuem, sobretudo de natureza psicológica, emocional, de conhecer a identidade de seus pais. O assunto é muito discutido pelos doutrinadores e estudiosos do direito, Paulo Lôbo (2016) nos lembra que saber quem são os indivíduos que possuem uma mesma consanguinidade 23 daquele que procura é de fato a maneira mais usual a ser utilizada para se pleitear judicialmente o reconhecimento de diversos direitos, garantias e benefícios ligados a filiação, ademais a falta de proximidade entre os genitores e seus filhos por si só não é capaz na maioria dos casos de banir do rebento a satisfação de obter paridade de tratamento quando comparado a qualquer outro filho que usufrui dessa conjunção. Se assim fosse, teríamos uma situação favorável apenas para os genitores. Dessa maneira concluímos que um dos maiores benefícios trazidos com a carta magna para o direito de família foi a maneira de tratar com igualdade todos os tipos de filiações que atualmente nos deparamos no âmbito social. Logo observamos mais uma vez um interesse dos indivíduos e do próprio Estado em observar os direitos dos filhos principalmente, atenção que não obtinham antes da chegada de nossa vigente constituição federal, para que se entenda melhor sobre o assunto é que veremos neste trabalho monográfico os demais princípios que incumbe a figura do pai a responsabilidade do que é ter um filho. 1.3.3 Princípio da Paternidade Responsável O afeto firmado nas relações paterno filiais são claramente a forma mais fiel que encontramos para demonstrar zelo e cuidado para com nossos filhos, estar na condição de pai é possuir uma responsabilidade que vai além da vigia ou guarda de sua própria existência, é criar mas principalmentemanter uma boa vida que pertencerá a outra pessoa mas que dependerá totalmente daqueles que serão chamados seus pais. Desta maneira é nítido o comprometimento que ambos os genitores terão ao adentrarem no poder familiar onde lhes serão atribuídos certos direitos e obrigações. As instituições familiares já elencadas nos remete em especial a uma paternidade de afeto que possuímos dentro de cada família brasileira, o que merece destaque quando tratamos de direito de família e de suas normas. Logo, proteger os interesses dos filhos é retratar o dever familiar de cuidado, amor, amparo e carinho que tende a ser exigível e inevitável em nosso meio coletivo, pela sociedade, pelos próprios lares brasileiros e pelo Estado principalmente que ao tratar de defesa de direitos e garantias em beneficio do filho estabelece na medida do possível e conforme as mudanças sociais acontecem algumas diretrizes a serem seguidas pela família e pelos pais especialmente, possibilitando-lhes uma participação ativa do que seria uma paternidade responsável. 24 Ao que expõe Flávio Guimaraes Lauria (2003, p.32) podemos observar os cuidados com o rebento desde a infância, assim: Os cuidados especiais que recaem sobre a criança decorrem do peculiar momento de sua formação, cujas consequências podem ser irreversíveis e vão influenciar o seu comportamento durante toda a vida. Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2015, pág.420), “Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores”. Observa-se que há uma evidente cobrança legal e social quanto a enorme responsabilidade que é transmitida aos pais, cabendo aos mesmos corresponderem a tais exigências que visa tão somente beneficiar os filhos como assim dispõe o artigo 226, §7º, da Constituição Federal de 1988 que frisa o importante princípio da paternidade responsável indicando que: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas Assim, o procedimento de construção e manutenção familiar é de livre escolha dos genitores, todavia a correta criação, educação e orientação quando transmitida aos filhos devem estar de acordo com o que deseja a lei e a sociedade, afinal é para dentro desta que o mesmo será inserido, cabendo aos pais serem os seus principais guias. Dessa forma salienta-se que o ser humano, com todas as suas qualidades e defeitos é a figura mais importante em nosso ordenamento jurídico, é tido como foco onde devemos centralizar todas as formas de cuidado e proteção, lhes garantindo a solução de qualquer problema que venha surgir, o que possibilita a este a vida digna que todos merecem ter desde o seu nascituro. Logo gerar um filho é literalmente tomar para si responsabilidades que na maioria das vezes durará para a vida inteira. 1.3.4 Princípio da Solidariedade familiar e os efeitos de sua ausência Por fim, resta o tópico do princípio da solidariedade familiar e os efeitos de sua ausência para que possamos finalizar o primeiro capítulo quanto a conceituação de instituição familiar 25 no direito de família. Baseia-se o princípio da solidariedade em um dos propósitos de nossa nação que é estabelecido e fortificado em nosso sistema jurídico se esforçando a propagar a convicção de que todos os indivíduos necessitam de assistência o que acarretará simultaneamente no dever de todos também assistir. A noção de colaboração mútua e recíproca entre os integrantes de nossa sociedade objetiva impor a cada um destes a certeza de que carregam consigo uma enorme responsabilidade para com os outros, encargo este que em eras passadas era conhecido como um dever apenas do Estado, mas que atualmente entendeu-se como um dever também de cada pessoa em particular para que possamos conquistar juntos um meio social igualitário, desenvolvido socialmente, e digno para todos aqueles que nele vivem, interagem para a sua melhora e recebem os seus benefícios, logo tudo isso é possível se houver assim a participação solidária de cada individuo para com os seus semelhantes buscando um bem comum e uma melhora na qualidade de vida para a população total. O desenvolvimento socialmente visto e objetivado no brasil como aponta Paulo Lôbo (2013) certamente obteve como influência o princípio da solidariedade que na maioria das vezes brota dentro de cada ente familiar e é transferido para cada membro que a compõe com as orientações de nossas leis e princípios. Como expõe a Constituição Federal em seu artigo 3º, incisos I, II, III e IV: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Por sua vez, a convivência e a afetividade dentro de cada cerne familiar é a principal via de divulgação dos deveres que cada pessoa possui quando se encontra apta a adentrar no meio coletivo contribuindo para uma melhor expansão política, econômica e cultural basilar do povo brasileiro e do próprio país. A carência de instrução, cuidados e responsabilidades de uns para com os outros acarreta diversas consequências nas habilidades de tentar a sociedade evoluir para melhor. Assim para que se alcance um grupo social mais favorável a integralidade dos indivíduos que ali permanecem devem se ajudar fazendo valer o lado humano e solidário de cada pessoa, caso contrário a injustiça, a pobreza e a desigualdade prevalecerão atingindo milhões de pessoas que por falta de solidariedade não terão condições básicas para sobreviverem. 26 DUPLA PATERNIDADE 2.1 A afetividade e sua influência na dupla paternidade Neste capítulo, será analisado a dupla paternidade que pode atualmente ser formalizada em nosso sistema jurídico. A desenvoltura de uma interação entre os indivíduos nas diferentes relações familiares e sociais é de extrema importância para que se consiga alcançar e se permanecer nos laços afetivos de cada grupo, formando a tão desejada base sólida, benéfica e satisfatória para se viver. O princípio da afetividade retrata bem esse elemento grandioso que é o bom convívio do indivíduo dentro de uma coletividade, seja ela familiar ou social. Sua força insere-se em decisões dentro do próprio ambiente jurídico, um exemplo é como argumenta Roberto Senise Lisboa em seu livro (2012, p.180) “Nesse caso, o juiz de direito concederá a guarda preferencialmente conforme o grau de parentesco, a afinidade e a afetividade”, destacando assim a grandiosa atuação que a chamada afetividade possui e cada vez mais amadurece no direito positivo da atualidade. Uma comunhão agradável existirá apenas quando o amor, carinho e compaixão fundamentar a sua razão de ser, notadamente qualquer interação humana será coerente quando o seu elemento formador conter o espirito da afetividade. Em nossa Constituição Federal tal princípio encontra-se implicitamente protegido, logo sua definição ou conceito não é achada claramente ou explicitamente no texto da lei maior, porém a sua existência e prevalência se faz presente no enaltecimento valorativo quanto ao princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da solidariedade, como ressalta Flávio Tartuce (2015, p.1116) “Mesmo não constando a expressão afetodo texto maior como sendo um direito fundamental, pode-se afirmar que ele decorre da valorização constante da dignidade humana e da solidariedade”. Diante disso observamos que há certa prioridade nos laços afetivos que mesmo não podendo ser quantificados podem ser identificados, mostrando-se importante para o desenvolvimento social, familiar e normativo. Como argumenta Paulo Nader (2015, p.05) “A tendência moderna é no sentido de reconhecer o parentesco em vínculo de afetividade, como o existente entre pais e filhos de criação” o que nos remete ao reconhecimento legal de tal afinidade que já existe e é comum de ser vista no âmbito social, precisando caminhar com frequência para atingir a seguridade e 27 proteção que os demais vínculos possuem, vislumbrando assim mais uma vez o poder de transformação que a afetividade vem a ter. Nesse contexto a maioria das pessoas buscam frequentemente uma maneira harmoniosa e feliz de se viver, o que automaticamente vem inserido na forma de como cada pessoa interage uma com as outras, propiciando um ambiente bom ou ruim de se permanecer, quando porém neste ambiente prevalecer o afeto visando o melhor interesse dos envolvidos todos conseguirão então a felicidade almejada. Quando trazemos o princípio da afetividade em especial para o direito de família notamos que a sua influência atinge também o sistema jurídico atual, este princípio vale destacar não está acima de outros valores jurídicos, todavia não deixa de ser um peso na formação e aplicação das leis dentro do direito de família onde ajudou a modificar o conceito de família clássica para o que conhecemos hoje como família contemporânea. Um exemplo é destacado nas palavras de Rodrigo da Cunha Pereira (2011, p.193) ao abordar que: A família hoje não tem mais seus alicerces na dependência econômica, mas muito mais na cumplicidade e na solidariedade mútua e no afeto existente entre seus membros. O ambiente familiar tornou-se um centro de realização pessoal, tendo a família essa função em detrimento dos antigos papeis econômico, político, religioso e proporcional anteriormente desempenhados pela instituição. No mesmo sentido Christiano Cassettari (2017, p.29) descreve ainda que: Dessa forma, quando a família passa a realizar e concretizar a afetividade humana, ela desloca as funções econômica, política e religiosa para a afetiva, para determinar a repersonalização das relações civis, que valoriza mais o interesse humano do que as relações patrimoniais, em que a pessoa humana está no centro do Direito, no lugar do patrimônio. Assim, uma das formas mais claras e significantes de se expressar a afeição está dentro da própria família brasileira que se renova e se desenvolve objetivando amparar-se nos fundamentais valores e normas constitucionais ou infraconstitucionais a fim de obterem dessa maneira uma proteção estatal, logo ressalta-se que o vínculo de afeto cada vez mais frequente e não padronizado entre as pessoas permitiu aos integrantes de todas as formas de instituição familiar a interagirem entre si e dentro da própria sociedade, buscando o essencial para a vida pessoal e familiar, valorizando-se primeiramente como pessoa digna de ter seus direitos respeitados. 28 2.2 Multiparentalidade Como já dito é questão indiscutível estar a sociedade em constante mudança, o que nos traz diversas alterações sociais e possibilita desta forma a existência de variadas consequências jurídicas em nosso ordenamento. A estrutura de nosso sistema organizacional se eleva ou decai conforme a sociedade o influencia, valendo destaque especial que a legislação deve sempre tentar acompanhar esse movimento social, que por vezes consegue seguir e em algumas situações tarda em permanecer junto, desta forma a realidade da nação brasileira desde que não viole a moral e aos bons costumes deve sempre estar na medida do possível retratada em nossa legislação e vice-versa a fim de obter amparo e proteção nos interesses comuns de todos os indivíduos que ali estão inseridos. Uma questão recente no que tange a evolução normativa de acordo com a evolução social é a chamada multiparentalidade, que a anos era cogitada e que somente em 2016 pode ser inserida formalmente na legislação brasileira. Como destaca Flávio Tartuce (2015, p.1272) “o que se tem visto na jurisprudência é uma escolha de Sofia, entre o vínculo biológico e o socioafetivo, o que não pode mais prosperar”. Assim a única forma viável para se obter no registro de nascimento o nome dos pais cujo filho vinculava-se tanto pelos laços sanguíneos quanto pelo afeto era em escolher apenas um nome identificando-a mãe e um nome identificando-o pai, independentemente de possíveis situações onde o indivíduo pudesse ter mais de uma mãe e/ou mais de um pai. Com isso tivemos com o passar do tempo várias discussões acerca do tema o que obteve relevância e cada vez mais força assegurando de uma vez por todas a entrada formal da multiparentalidade em nosso sistema. Foi graças a análise e negativa de provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 898.060 pelo Supremo Tribunal Federal, e com base no tema da Repercussão Geral 622 que se dedica a temática da socioafetividade que obtivemos em especial tal reconhecimento. Discutia-se no recurso a possibilidade de um pai biológico estar integrado ou não a certidão de nascimento de sua filha que por sua vez já possuía em seu registro o nome de seu pai socioafetivo que a criou desde pequena como se filha fosse. Recorreu o pai biológico da decisão que deferia o pedido da filha em reconhecer no registro a sua paternidade. A ideia é que, dada a forma ausente de convívio do pai biológico com sua filha levando em conta a descoberta recente da situação, o mesmo alegou em sua defesa em recurso extraordinário que o pai registral é quem deveria manter-se pai para todos os fins, afinal todas as necessidade e cuidados com a filha ao longo dos anos foram supridos e arcados 29 por este, não cabendo assim a inserção de seu nome no registro da filha para qualquer efeito jurídico, principalmente financeiro. Diante da situação supra narrada o Supremo Tribunal Federal em setembro de 2016 reconheceu e validou a possibilidade de constar na certidão de nascimento da autora o nome de seu pai biológico em concomitância com o pai registral que ali já se encontrava, logo a colocação do pai biológico não prosperou. Como destaca Christiano Cassettari (2017, p.188): O relator do RE 898.060-SC, Ministro Luiz Fux, considerou que o princípio da paternidade responsável impõe que tanto vínculos de filiação construídos pela relação afetiva entre os envolvidos quanto aqueles originados da ascendência biológica devem ser acolhidos pela legislação. Segundo ele, não há impedimento do reconhecimento simultâneo de ambas as formas de paternidade – socioafetiva ou biológica –, desde que esse seja o interesse do filho. Destaca-se que tal aprovação como argumentam Flávio Tartuce (2016) e Ricardo Calderón (2016) de fato causou uma enorme influencia no direito de família, afinal sabe-se que antigamente e por um longo período manteve-se a regra em constar na certidão de nascimento de todos os indivíduos o nome de apenas um pai e de apenas uma mãe, logo não havia qualquer abertura para a multiparentalidade no registro civil brasileiro não possuindo assim tal possibilidade qualquer respaldo legal em nossa legislação. O que a multiparentalidade nos trouxe foi apenas uma evolução legal e social inevitável com o surgimento das várias concepções de famílias em especial, podendo a lei desta forma analisar com mais valor direitos subjetivos e deixar em segundo plano questões meramente patrimoniais, circunstancias que já se mantinham no âmbito social, mas que precisavam agora obter amparo e seguridade por parte do Estado. Logo observamos finalmente quea multiparentalidade atual elevou-se a uma circunstância plenamente possível, assegurando aos registros brasileiros de nascimento a oportunidade de se ter inserido múltiplos pais e/ou mães conforme o desejo do filho, oportunidade que surgiu graças a análise do Recurso Extraordinário (RE) 898.060 feita pelo Supremo Tribunal Federal onde permitiu manter assim os pais independentemente da forma de parentesco num mesmo grau de vínculo ou importância e lhes transferindo igualmente direitos e obrigações o que põe fim a terrível escolha do filho no que tange a um maior ou melhor afeto e amor independentemente de genética. 30 2.3 O Prisma da Figura Paterna e a busca da Própria Essência Inicialmente a figura paterna no decorrer da história baseava-se em uma condição de autoridade não somente sobre toda a prole, mas também sobre toda a família, nos dizeres de Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 32) “No direito romano a família era organizada sob o princípio da autoridade. O pater famílias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis)”, o que levava a figura paternal a ter uma imagem rigorosa no âmbito familiar e social. Sua existência baseava-se também num conceito meramente econômico, logo a mãe era quem ensinava e cuidava dos filhos e o pai era quem provia as necessidades financeiras da família, uma percepção escassa que o remetia a apenas reproduzir e transferir a totalidade de seus bens. Atualmente há uma incorporação desta figura dentro da sociedade e da própria família diferente do conceito anteriormente visto, que parte principalmente de um elemento subjetivo e particular quanto a sua relevância e significado na vida de um filho principalmente, o que consequentemente acaba sendo refletido também numa coletividade. Por assim dizer, a atuação de um pai na vida dos filhos neste século se faz cada vez mais presente de forma física e mental, afinal a sua inserção dentro da família atual fez com que novas funções lhes fossem atribuídas a ponto de ajudar a conduzir o indivíduo desde o seu nascimento até a sua morte a uma boa e gloriosa vida, auxiliando-o em seus feitos e conquistas desde que claro tal participação seja positiva e construtiva para o rebento. Sabe-se que em uma sociedade todos possuem deveres para com os seus integrantes e que por fim a junção dos ensinamentos dos pais e de todos que cercam aquele chamado de filho de alguma forma o influenciará, prejudicando ou beneficiando a sua criação e forma com a qual este irá dirigir a sua vida, o que o leva a construir uma identidade aceitável ou não para os parâmetros sociais e culturais almejados e valorizados em nossa época. Essa mesma construção é o que será transmitido por ele mesmo a todos que de alguma forma o ensinou. Desta maneira todos são capazes, possuem um dever, e um compromisso na formação daqueles que estão inseridos em nosso meio. Roberto João Elias (2010, p.30) discute sobre o dever e a responsabilidade que todos os membros de uma sociedade em geral possuem na formação individual e pessoal do indivíduo dizendo que: Assim sendo, todas as pessoas são responsáveis como se lhes tivesse sido atribuída uma paternidade abrangente. Quem se omitir poderá ser responsabilizado. 31 Na mesma linha de raciocínio Arthur Ramos (2003, p. 238) explica que: Indivíduo dentro dos seus padrões sociais, vive em sociedade, como membro do grupo, como “pessoa”, como “socius”. A própria consciência da sua individualidade, ele a adquire como membro do grupo social, visto que é determinada pelas relações entre o “eu” e os “outros”, entre o grupo interno e o grupo externo. Para Almeida (2001, p. 159) vale frisar que: O novo posicionamento acerca da verdadeira paternidade não despreza o liame biológico da relação paterno-filial, mas dá notícia do incremento da paternidade socioafetiva, da qual surge um novo personagem a desempenhar o importante papel de pai: o pai social, que é o pai de afeto, aquele que constrói uma relação com o filho, seja biológica ou não, moldada pelo amor, dedicação e carinho constantes. É justamente nessa lógica de pensamento que destacamos a possibilidade de surgir uma pessoa em especial oferecendo uma proteção, um afeto e amor a ponto de ser considerado um verdadeiro membro da família, enquadrando-se na vida de outrem como um indivíduo extremamente significativo prestes a ser considerado ou não como um pai ou uma mãe que biologicamente não é, podendo até mesmo ser registrado tal afeto na mencionada certidão de nascimento, o que não necessariamente fará inexistir ou desfazer qualquer vínculo estabelecido com aqueles que já figuram em seu registro de nascimento e compartilham dos mesmos sentimentos. Logo, muitos podem exercer essa função de paternidade ou maternidade que agora possui liberdade para se exteriorizar expressamente quando formalizados nos registros civis de todo o Brasil. Diante disso, conclui-se, que a missão paterna deve ser levada a sério já que possui grande importância e uma carga valorativa imensa para o filho, é uma posição cujo número pode não se restringir a apenas um pai e a sua função sempre que preenchida de maneira adequada acertadamente influenciara e capacitará o indivíduo em seu desenvolvimento humano. 2.4 Cumulação de Paternidades e seus efeitos jurídicos O vigente texto constitucional de 1988 modificou com o seu advento algumas teorias no direito de família. Obter todas as filiações um tratamento uniforme e equiparado ao justo sem seguir qualquer ordem de importância como explica a professora Raquel Bueno (2017) é 32 um grande exemplo disso. O que houve em nosso direito de família foi uma completa evolução quanto ao tratamento e a regulamentação de suas normas, visando equiparar todos os tipos de filiação as normas constitucionais humanitárias, mantendo assim os filhos e até mesmo os pais amplamente protegidos. Paulo Nader (2016, p. 313), salienta essa nova conceituação de filiação dada pelo poder legal como: Destarte, em qualquer circunstância em que se verifique a filiação, a gama de direitos e deveres entre pais e filhos segue regulamento único. Sob o prisma da lei, distinção não há entre filho consanguíneo e adotivo, entre o concebido em casamento, união estável, concubinato ou em relação eventual. Anteriormente, dado o grande interesse em valorizar o casamento, protegendo-o contra fatos que pudessem abalá-lo, impedia- se a ação de investigação de paternidade em face de pessoa casada. A injustiça era patente. Desta maneira pode-se ver firmado em nossa legislação atual uma forma de proteção legal que não obtinha no passado as diversas uniões não consideradas formalmente como possíveis tipos de famílias. Em especial tínhamos ainda os filhos que advindos destas famílias sem tutela para a época, eram os que de fato sentiam com mais impacto a injustiça e a desigualdade de tratamento quanto a sua forma de nascimento não se encaixar dentro dos parâmetros aceitáveis da sociedade da época. Com todas essas mudanças foi estabelecido em lei alguns tipos de parentescos, sendo eles como destaca Denise Tiemi Fugimoto (2015) o civil, o afim e o natural, abrangendo o primeiro o vínculo socioafetivo existente a partir do afeto. Como o próprio código civil em seu artigo 1.593 decreta “o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”. Logo a afetividade é uma origem possível e atual de se reconhecer uma paternidade, que por sua vez poderá ser registrado em certidão de nascimento se as partes assim desejarem. Por conseguinte, a paternidade biológica também é de fato um liame admirável pela doutrina e pela legislação, afinal colocamos em pauta laços de sangue que são passados a outrem, carregando dessa forma toda uma herança genética o que por sinal não é mais e nem menos importantedo que uma paternidade constituída por uma simples afinidade. Portando, as possíveis formas de se ter uma paternidade manifestada e registrada são conhecidas, todavia ganham mais notoriedade quando analisamos a possibilidade de cumula-las com o advento da recente aprovação legal multiparental, o que vem assegurando efeitos diversos que a seguir poderão ser na medida do possível visualizados. 33 Os indivíduos que desejarem formalizar o seu estado de filiação indicando no seu registro de nascimento seus pais, independentemente de origem biológica ou socioafetiva quando o faz cumulando estas paternidades devem estar atentos aos efeitos jurídicos que consequentemente acarretará tal ato. Uma paternidade sempre traz consigo diversos direitos e obrigações, que não se restringem somente aos pais, compreendendo desta forma também a pessoa do filho. Tais incumbências vão desde as alterações do nome, guarda, e visitas até situações econômicas como direitos alimentícios e sucessórios por exemplo, sendo intercorrências contingentes mas presentes na rotina daqueles que registram e daquele que é registrado. Possibilitar que uma mesma pessoa possa ter múltiplos pais ou mães ainda de acordo com Denise Tiemi Fugimoto (2015) é garantir uma abrangência na a atuação do poder familiar, transmitindo aos pais registrais comum atuação e participação na vida do filho. O autor Carlos Roberto Gonçalves (2018, p.307) exemplifica que alguns pontos tendem a se definir e a evoluir de acordo com seguimento que a multiparentalidade percorrerá no decorrer dos anos, logo: Efetivamente, o deferimento da multiparentalidade deve ser reservado para situações especiais, de absoluta necessidade de harmonização da paternidade ou maternidade socioafetivas e biológicas, pelo menos até que a jurisprudência tenha encontrado, com o passar dos anos, solução para as consequências que fatalmente irão advir dessa nova realidade, especialmente a repercussão que a nova situação irá trazer, por exemplo, nas questões relacionadas com o direito a alimentos e sucessórios entre os novos parentes, cujo quadro fica bastante ampliado, bem como com os direitos de convivên- cia, de visita, de guarda e de exercício do poder familiar, entre outros. Completando o raciocínio dos mencionados autores, a multiparentalidade é uma efetivação que agora existe não somente na realidade fática da sociedade, mas passa a pertencer também na prática e vida de todo o nosso ordenamento jurídico o que remete o direito de família portanto a algumas mudanças como assim orienta Karina Azevedo Simões de Abreu (2015) em seu artigo. Podemos concluir desta maneira que notadamente o enquadramento da multiparentalidade em nosso sistema legal já encaminha o nosso direito de família a diversas alterações a serem refletidas em nosso meio social, todavia é só o começo para mudanças que com o passar dos anos tendem a surgir e ser formalizadas para um bom convívio entre a sociedade e as normas, porém é válido ressaltar que mesmo diante de situações complexas que deverão ao seu tempo ser regulamentadas adequadamente pelo direito de família, não podemos negar que de fato há uma grande conquista na possibilidade de um filho cumular paternidades 34 em seu registro de nascimento, garantindo assim a efetivação e o cumprimento de um direito subjetivo que é um interesse pessoal importante de ser observado e que agora se encontra legalmente protegido. 2.4.1 A disposição do pai Socioafetivo e do pai Biológico Finalizaremos este segundo capítulo observando a disposição do pai socioafetivo e do pai biológico, o que trará uma análise especifica de características e definições de cada espécie possível de filiação e consequentemente a sua regulamentação em nosso atual direito de família. A possibilidade de manter o sujeito em seu registro de nascimento concomitantemente o nome de mais de um pai aufere a ambos e sem grau de hierarquização diversos direitos e também deveres. O Estado passa a ter com mais esta autorização legal uma atuação cada vez mais ativa ao satisfazer e proteger os interesses dos indivíduos para que não surja conflitos demasiados a ponto de afastar o objetivo crucial de todos que é a harmônica convivência social e familiar de toda nação brasileira. Regulamentar a multiparentalidade buscando acomoda-la em normas precisas e eficazes a serem cumpridas no direito de família é de fato uma longa jornada cuja doutrina, legislação, e a própria sociedade deverão trabalhar juntos para alcançar. Contudo para que possamos vislumbrar um bom andamento desse procedimento que ainda se encontra em seu estagio inicial é preciso garantir um conhecimento preciso no que tange a paternidade biológica e a paternidade socioafetiva trazendo cada qual a sua própria definição e as suas próprias disposições presentes em nosso sistema. Sob a ótica exclusiva da afetividade e afinidade paterno-filial que pode nascer e restar preservados entre uma pessoa e outra posicionando-as numa possível e sadia união é de suma importância destacar a conquista que obteve tal possibilidade em ser aceita normativamente pelo país, onde lutou por muito tempo para que pudesse ter êxito em tamanho reconhecimento. Assim buscou o Estado mais uma vez agir com seriedade diante de situações que já se encontravam presentes em nossa realidade comunitária quando constitucionalmente foi assegurado aos filhos nascidos fora de um casamento igualdade em tratamento e em direitos fundamentais. Fazendo valer o seu posto de defesa e satisfação dos anseios sociais, o Estado elaborou igualmente como faz hoje com a multiparentalidade diversos estudos, analises e discussões sobre o reconhecimento de uma paternidade socioafetiva. Logo a paternidade socioafetiva também precisou ser criteriosamente examinada por muitos para que pudéssemos 35 chegar a um comum acordo moldando-a a uma atuação efetivamente satisfatória e precisa a ser exercida e aceita em todo território nacional. Analisando o assunto sob o crivo do importante Supremo Tribunal Federal observamos o tema como: Nesse contexto, a filiação socioafetiva, que encontra alicerce no art. 227, 6º, da CF/88, envolve não apenas a adoção, como também ‘parentescos de outra origem’, conforme introduzido pelo art. 1.593 do CC/02, além daqueles decorrentes da consanguinidade oriunda da ordem natural, de modo a contemplar a socioafetividade surgida como elemento de ordem cultural. Para T. Pereira, G. Oliveira e Coltro (2017, p. 104), a referida socioafetividade quando encarada de forma reflexiva das relações afetivas dos indivíduos que tendem a se relacionar voluntariamente num espaço familiar ou dentro da essencial sociedade valendo-se de cuidados, amor, carinho e proteção: O socioafetivo, tanto pela circunstância sociológica que o integra, quanto pela importância que o afeto naturalmente tem no âmbito das relações familiares, vêm se manifestando como aspecto relevante à solução dos temas próprios ao direito paterno- filial, representando sua consideração importante manifestação sobre como a figura do cuidado, como valor jurídico que é, vem recebendo na esfera jurídica. Segundo Marconatto et al. (2014, p. 49): Como dissertado no decorrer do presente trabalho, é sabido que a filiação não mais se define estritamente pelos laços biológicos, mas também pelo laço afetivo que envolve todo contexto familiar, responsabilizando- se como pai ou mãe aquele que detém, não apenas o material genético necessário para assim ser denominado, mas a vontade, o amor, e os deveres inerentes a essa qualidade. Tal conceituação releva a importância das características socioafetivas que estão frequentemente visíveis e emoldadas numa realidade fática e normativa. Entretanto geralmente nos deparamos com a mais tradicional,porém igualmente importante paternidade biológica onde pai e filho são ligados pelo sangue, o que normalmente poderá também trazer consigo uma afinidade entre os seus partícipes. A paternidade biológica foi encarada desde a antiguidade como o estado de filiação mais valioso a ser verdadeiramente considerado socialmente e legalmente afirmando a veracidade de sua existência através de uma verdade legal que se disseminava a partir dos matrimônios, a única forma de constituição de família para a época passada. O fruto advindo 36 do casamento era tido com a certeza de ser filho biológico de ambos os casados, prevalecendo assim a verdade real cuja base fundava-se em conjecturas e presunções. Com as inúmeras inovações, descobertas cientificas e principalmente com as mudanças sociais estabeleceu-se uma necessidade de se ter cada vez mais a certeza dos fatos que pudessem envolver o tema paternidade, afinal é sabido como uma filiação deve ser tratada com seriedade diante da carga valorativa e obrigacional que tal entidade carrega consigo ao comprometer pais e filhos numa relação duradoura e via de regra irrevogável. Foi o teste de DNA que merece ser destacado como uma das prestezas majestosas trazida pela ciência que distanciou cada vez mais a verdade legal de ser a única e absoluta forma de se avaliar uma paternidade biológica, a sua indispensabilidade existe até hoje em diversas e inimagináveis situações, inclusive para verificações de ascendências que traz uma maior confiabilidade para milhares de situações e decisões processuais que já foram e serão proferidas pelos nossos tribunais se firmadas no referido teste de DNA.. O chamado exame de DNA configura um dos mais importantes avanços que a humanidade obteve no decorrer dos séculos, o que traz nos possíveis testes a possibilidade de se identificar todas as pessoas através do material genético. Logo o que é mais grandioso do que a sua sublime definição é sem sombra de dúvidas a sua imponente atuação onde consegue por si só garantir a existência ou a inexistência de uma paternidade em especial. Como ilustra Croce e Croce Jr. (2009, p.704): [....] a única e remota possibilidade de erro é no caso de comparação das estruturas genéticas de gêmeos idênticos. Afora isso, a probabilidade de indivíduos que não são parentes terem a mesma “impressão digital do DNA” é apenas um para cinco quatrilhões, ou seja, praticamente zero; para irmãos, essa qualidade de provável é de um para cem milhões. O autor Benjamin A. Pierce (2017, pág. 506) argumenta sobre o DNA: Atualmente, o fingerprinting do DNA se tornou uma ferramenta importante na investigação forense. Além de sua aplicação na solução de crimes, o fingerprinting do DNA é usado para analisar a paternidade, estudar relações genéticas entre organismos individuais em populações naturais, identificar cepas específicas de bactérias patogênicas e identificar cadáveres humanos. A precisão é tanta em indicar se há ou não relação de parentesco natural entre os envolvidos que alguns pais se negam ao teste, e neste sentido o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula 301 decidindo que “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter- 37 se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.” Logo ficou estabelecido que se negar a fazer o teste em ação de investigação de paternidade restará presumido a paternidade daquele que recusou. Dessa maneira concluímos a importante formação das chamadas paternidades e suas disposições referentes ao tema. Logo ocupar o indivíduo uma posição de pai biológico ou afetivo antes de mais nada é pensar no melhor para o filho independente da forma em que será obtida tal filiação, seja pelo afeto onde não possuímos qualquer ligação genética mas sim uma afinidade, ou seja a biológica onde diferentemente da paternidade socioafetiva trará consigo a união pelo sangue o que poderá também vir acompanhada ou não do afeto a depender da situação. 38 REGISTRO CIVIL Quando tratamos de Registro Civil observamos primeiramente que em todo território brasileiro devem os sujeitos estar devidamente registrados a fim de tornar público os atos de sua vida civil, mas principalmente tornar público a sua própria existência, uma obrigação necessária para que todos os indivíduos possam então requerer a tutela estatal e o cumprimento de todos os seus direitos que estarão protegidos e garantidos com o devido registro das pessoas naturais. 3.1 Direitos Da Personalidade no ordenamento jurídico Neste capítulo faremos uma análise das espécies de filiações formalmente inseridas no registro civil dos indivíduos brasileiros. O direito a personalidade pode ser considerado como um dos vários direitos fundamentais que nós como pessoas necessitamos ter para uma sobrevivência satisfatória e de boa qualidade. O Estado bem se preocupou em garantir e proteger legalmente tudo o que nos seria concernente a posição de detentores de uma vida digna e íntegra de forma física, moral e intelectualmente possível, o que ressaltamos entretanto é que nem sempre atuou o Estado dessa maneira. Diante de situações de extremo colapso onde ainda não era estabelecido no brasil um regime democrático de direitos o ponto de proteção não só em nosso ordenamento jurídico interno mas também externo estava em priorizar apenas e tão somente o valioso e proveitoso patrimônio individual e coletivo, o que acabou criando por muito tempo um acolhimento legislativo da vida econômica e financeira dos sujeitos integrantes da sociedade, deixando para trás qualquer oportunidade de terem as pessoas os seus direitos subjetivos tutelados. Mantendo o patrimônio em foco por um período de tempo extensivo, viu-se aberta as portas para diversas questões sociais existentes que não mais eram cabíveis em nosso meio. Já que direitos subjetivos eram quase inexistentes e dessa forma permitiam que a maioria das pessoas independentemente de idade, sexo ou religião se achassem cada vez mais vulneráveis, encontrou-se os Estados numa posição de escolhas significativas para que mudanças acontecessem em seus ordenamentos jurídicos de forma a regular e garantir a proteção não só do que o sujeito poderia construir materialmente mas proteger também e principalmente a sua pessoa como um ser apto em obter uma personalidade resguardada de direitos e deveres desde o seu nascimento, o que permaneceria até a sua morte. 39 O Brasil por sua vez adepto a efetivas mudanças instalou-se num Estado democrático de direitos onde precisou assumir uma posição forçosa em proteger seus nacionais conforme as suas necessidades viessem a aparecer. Com isso uma análise aprofundada do que realmente seria necessário em obter tutela estatal passou a ser questionada e finalmente viável com o advento de nossa Constituição Federal de 1988 que possibilitou assim o surgimento de vários direitos que antes não possuíamos como por exemplo a tutela da personalidade. O texto maior em seu artigo 5º estabelece que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]” o que segundo Anne Araújo e Natália Rodrigues (2017) apontam como um evidente zelo para com os direitos individuais de cada pessoa destacando assim a primazia do direito de personalidade. Como se sabe todas as demais regulamentações precisaram então ser criadas e adequadas mantendo-se coerentes com as normas supralegais, nessa mesma linha de pensamento o código civil de 2002 em seu artigo 11 dispõe que “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo
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