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projeto do produto © 2006 eduardo romeiro filho 121 ufmg - depto engenharia de produção Os Estados Unidos redescobrem o design O gosto pelo estilo deixou de ser um privilégio da elite e conquistou o cotidiano dos norte-americanos Frank Gibney e Belinda Luscombe Nos anos 60, Constant Nieuwenhuys, um crítico cultural holandês pouco conhecido, previu que no futuro todos nós nos tornaríamos arquitetos. Em um mundo uniformizado, a tecnologia nos deixaria tão alienados que passaríamos a reinventar o espaço ao nosso redor na esperança de recuperar o prazer de viver. Nieuwenhuys errou em apenas um ponto. Não estamos assim tão alienados. Às portas do século 21, os Estados Unidos vivem seu mais longo período de prosperidade. Os norte- americanos estão conectados globalmente via Internet e consomem com avidez as novidades tecnológicas antes mesmo de aprender a usá-las. No meio dessa loucura, as pessoas estão mesmo procurando recriar o espaço ao redor, não para reconquistar o prazer de viver, mas simplesmente para atender às demandas da sociedade de consumo. Com o nível de desemprego lá embaixo e o poder aquisitivo em ascensão, os norte- americanos estão comprando computadores coloridos, carros compactos e telefones celulares cromados. Para se exibir, ninguém precisa ser um bilionário da Internet. Antigamente o design era um privilégio da elite. Mas terminou se tornando um artigo popular. Não basta ter mais; é preciso ter também o melhor -ou pelo menos o mais bonito. Bem-vindos à economia do design, onde a prosperidade e a tecnologia se misturam com a cultura e o marketing. A produção eficiente e a competição acirrada dos nossos dias transformaram os "artigos chiques" em ítens não apenas acessíveis, mas obrigatórios. Os norte-americanos sabem o que é estilo, seja na arquitetura de um hotel moderno ou numa escova de limpeza. "O design está sendo democratizado", afirma Karim Rashid, que no ano passado ganhou o prêmio George Nelson pela inovação no design de móveis. "Com a melhora da paisagem, o público ficou mais crítico", acrescenta. E mais ávido também. Como afirma Mark Dziersk, presidente da Sociedade de Desenhistas Industriais dos Estados Unidos, "essa é a nova era de ouro do design". O design se transformou em um grande negócio. Apenas no ano passado, os norte- americanos desembolsaram cerca de US$ 6 trilhões em bens e serviços, e quase um quinto desse total foi gasto com produtos para o lar. O enorme sucesso do colorido iMac, por exemplo, não apenas ajudou a revitalizar a Apple, mas inspirou a criação de inúmeros computadores estilizados, produzidos por empresas como Dell, Gateway e Compaq. O novo Fusca resgatou a imagem da Volkswagen há dois anos e tornou-se um catalisador das transformações pelas quais está passando o mercado de automóveis. As montadoras resolveram caprichar no visual de seus produtos para não ter de ver seus veículos encalhados nos pátios. projeto do produto © 2006 eduardo romeiro filho 122 ufmg - depto engenharia de produção O mesmo acontece com os fabricantes de quase tudo que se possa imaginar. "Quando preço e funcionalidade não são mais motivos de competição entre as indústrias, o único diferencial que conta é o design", diz Dziersk, repetindo o preceito introduzido nos anos 30 por Raymond Loewy, pai do desenho industrial (foto acima). Loewy foi quem imortalizou o design do maço de cigarros Lucky Strike, deu um ar de elegância aos ônibus da empresa Greyhound e fez as vendas da Sears dispararem em 1934 quando colocou um friso na geladeira Coldspot, tornando-a mais moderna que suas concorrentes (foto ao lado). Costumava dizer que a curva mais bonita era a dos gráficos do crescimento de vendas. Esse é o pensamento que tem prevalecido desde então. O design de qualidade aliou-se ao comércio durante a Depressão dos anos 30, e a carreira de Loewy decolou porque ele criava produtos irresistíveis, numa época em que ninguém estava disposto a pagar para consumir. Na década de 50, Charles e Ray Eames lideraram um consórcio de californianos que, usando a capacidade industrial do pós-guerra, criou ambientes domésticos elegantes, funcionais e confortáveis. Mas, a partir dos anos 60, com o consumidor norte-americano querendo comprar mais e pagar menos, o desenho industrial amargou décadas de ostracismo até emergir novamente na década de 90. Hoje o mundo do design está se expandindo com uma mistura eclética de empresários e investidores decididos a ganhar dinheiro criando produtos modernos e atraentes. Na briga pelo mercado, estão grandes empresas como Sony, Ford e Philips, além de arquitetos e designers como o iconoclasta Philippe Starck. Há também novos investidores, como Jasper Morrison e Marc Newson, ou ainda empresários como David Neeleman, cuja companhia aérea, a Jet Blue, começa a operar este mês prometendo elegância sem afetação. E não se pode esquecer de Martha Stewart, a rainha do estilo nos Estados Unidos, que soube transformar seu gosto apurado num negócio bilionário. Com sua linha de produtos para o lar, Stewart ajudou a tirar do vermelho a rede de lojas de departamentos K Mart. Mas ninguém tem apostado no novo apetite norte-americano para o design como o empresário britânico Terence Conran. Vinte anos atrás, ele inaugurou uma rede de lojas de móveis com seu nome, mas o negócio naufragou durante o governo Bush. Agora Conran está de volta, disposto a embarcar na nova onda. Em dezembro passado, abriu uma loja de 2.100 metros quadrados em Manhattan. Como filiais em Londres, Paris e Tóquio, a Terence Conran Shop é um verdadeiro bazar de design, onde se vendem de relógios digitais (US$ 17) a sofás violeta (US$ 3.550). "Ainda não entendi por que o design não decolou há mais tempo nos Estados Unidos", comenta Conran, cautelosamente otimista desta vez. "Novos ventos estão soprando por aqui. Nos Estados Unidos, tudo é tecnologia, e os norte-americanos têm orgulho do que conquistaram." O novo apetite pelo design se deve, em parte, à onda de prosperidade no país. A explosão na construção de habitações alcançou proporções históricas. É preciso agora decorar as casas novas com produtos que definam o estilo de vida de seus ocupantes. Antigamente, dava status ter um sofá caro, assinado por um designer famoso. Hoje, o importante é adquirir produtos mais projeto do produto © 2006 eduardo romeiro filho 123 ufmg - depto engenharia de produção personalizados, como a Mosquito Table, que lembra uma asa de avião, ou a cadeira Conrad, feita de cortiça de Bora Bora. "Com a prosperidade econômica, as pessoas estão ansiosas para expressar sua individualidade", diz Bill Faust, vice-presidente executivo da Fitch, uma consultoria de design com sede em Columbus, Ohio. De Nova York a Los Angeles, os empresários estão lucrando com os caprichos das pessoas. Antigamente, se dizia que a roupa faz o homem. Hoje em dia, são os acessórios que contam. O homem moderno não sabe se carrega um iBook, um notebook VAIO da Sony ou um belo Apple G3 preto. O design está tomando conta também das ferramentas, como o novíssimo cortador de grama Husqvarna ou o medidor de corrente i410 da Fluke Corporation. E no banheiro? Uma dos maiores sucessos do momento são as peças em aço inoxidável (inclusive o assento sanitário), projetados originalmente para uso em penitenciárias. No bairro do SoHo, em Nova York, Murray Moss construiu um pequeno e lucrativo império, vendendo toda sorte de objetos com design de qualidade. Quando trabalhava na indústria italiana da moda, ele conheceu o trabalho de diversos designers europeus. Foi assim que surgiu a Moss, uma loja-museu que exibe e venera suas mercadorias. Entre os artigos à venda, os clientes encontram vasos flexíveis de borracha, luminárias feitas com garrafas de leite e uma mesa de passar roupa dobrável, de zincoe aço, que não sai por menos de US$ 385. Um sucesso? Com certeza. Além de quadruplicar a área da loja em cinco anos, Moss diz que precisou renovar seu estoque 11 vezes no ano passado (a maioria dos comerciantes se contenta em esvaziar suas prateleiras 4 vezes). Os clientes da Moss são, em grande parte, turistas. "Imagino que se usem escovas para banheiro em Minneapolis e acho que as pessoas vão gostar dos modelos que tenho aqui na loja", diz Moss. A ironia é que a revolução do design recebeu um empurrão de lojas populares como a Pottery Barn e a sueca Ikea, que conquistaram a classe média norte-americana nos anos 90. Partindo da premissa de que não é necessário contratar um decorador de interiores para ter uma casa bonita, essas lojas democratizaram a decoração. "Havia uma divisão na cultura norte- americana", explica Hilary Billings, ex-criadora de produtos da Pottery Barn e atual diretora da butique on-line RedEnvelope. "As pessoas compravam revistas com belas casas e interiores, mas não podiam comprar nada daquilo." Com preços relativamente acessíveis, essas lojas ensinaram os clientes a driblar problemas de decoração. E ajudaram a difundir a idéia de que o design é importante. Se qualquer um pode decorar bem a própria casa comprando no shopping do bairro, por que ter um sofá estropiado no meio da sala? E quem disse que um bom sofá precisa custar caro? As respostas para essas perguntas podem estar nas novas lojas Target espalhadas pelos Estados Unidos. Antigamente, a Target não dava muita atenção às tendências da moda. Mas seus executivos perceberam que não podiam mais competir com o preço oferecido por redes como a Wal-Mart. Decidiram então remodelar a loja, adotando uma fórmula simples: contratar um grande designer para projetar cópias baratas dos mesmos produtos vendidos para o público sofisticado do SoHo. Michael Graves, designer conhecido por seu trabalho para firmas como a italiana Alessi, passou a fornecer chaleiras de aço inoxidável (foto na página anterior), móveis de madeira maciça para varandas e espátulas estilizadas para a Target. projeto do produto © 2006 eduardo romeiro filho 124 ufmg - depto engenharia de produção As torradeiras de Graves (acima), com os pés em forma de ovo, são um verdadeiro sucesso. Quando perguntam a Alberto Alessi se ele se chateia com o fato de Graves estar reciclando suas criações, o italiano desconversa: "Nosso objetivo real deveria ser falar com o povo". E o povo correu para a Target, onde as vendas cresceram dois dígitos percentuais desde que os produtos de Graves invadiram as prateleiras no ano passado. "Os clientes consomem produtos que envolvem uma idéia nova", diz Ron Johnson, ex-vice-presidente da Target, responsável pelo lançamento da linha Graves. Não é de se estranhar que essa rede de lojas de departamentos, com sede em Minneapolis, tenha chamado a atenção dos executivos da Madison Avenue, onde se concentram as maiores empresas de publicidade dos Estados Unidos. Este ano, a Target deve inaugurar sua milésima loja. Para fortalecer os investimentos na área de design, a empresa resolveu também contratar Philippe Starck, outro favorito de Alessi, além da jovem equipe Blu Dot, da cidade natal da Target. "Trata-se de um princípio que começou com a escola de arte Bauhaus: todo mundo deve ter acesso a produtos bonitos", explica Dziersk. Em parte, temos de agradecer ao desenvolvimento tecnológico por esse privilégio. "Antes sonhávamos em ter tecnologia para fazer as coisas", diz o hoteleiro Ian Schrager, pioneiro da moda do hotel-butique, um paraíso de estilo e conforto a preços acessíveis. "Agora a tecnologia está nos dando produtos que nem sabemos como usar." Os hóspedes do hotel londrino St. Martin's Lane, de Schrager, podem alterar as cores de seus quartos simplesmente pressionando um botão próximo à cama. Os computadores e os novos materiais baratearam a fabricação de muitos produtos, melhorando sua qualidade e facilitando sua manutenção. Por isso, a forma não precisa mais acompanhar a função para tornar um produto lucrativo. Fabricantes de automóveis, como a japonesa Toyota, podem se dar ao luxo de investir em modelos excêntricos como o novo Echo (acima), incluir muitos acessórios no veículo e ainda vendê-lo por menos de US$ 10.500. A Sony conseguiu salvar sua divisão de computadores introduzindo o ultrafino Vaio, uma máquina prateada e lilás que exerce as mesmas funções de um laptop -mas com um visual arrojado. Nada representa tão bem a revolução tecnológica como o plástico. Há muito tempo o produto não fazia tanto sucesso. O polipropileno, por exemplo, é um tipo de plástico usado desde os anos 50. Mas o novo gosto pelo design trasnformou-o num artigo especial. Esse plástico pode ser moldado de forma tão suave que chega a ser sensual. E é capaz de fixar tintura tão bem quanto a seda. Firmas alemãs de design, como a Authentics e a Koziol, estão faturando alto com seus produtos de plástico. Os garfos de macarrão da Koziol, as conchas para sorvete e a escova de limpar pratos são alguns dos mais de 300 "utensílios graciosos" que desapareceram das prateleiras das lojas norte-americanas no ano passado. "Não tinha dúvida de que esses produtos venderiam bem em Chicago, Nova York e Boston", diz Elliott Zivin, presidente da Majestic, distribuidora norte-americana da Koziol. "Mas eles também estão vendendo em Bogalusa, Louisiana, e no oeste do Texas." Tanto é verdade que Zivin está trazendo mais cem novos artigos de plástico este ano. As compras de produtos para o lar deixaram de ser uma obrigação e se tornaram uma forma de expressão pessoal. Talvez seja apenas coincidência, mas os fabricantes começaram a criar acessórios divertidos para o lar pouco depois que os homens passaram a dividir as tarefas da casa. A demanda por novas estratégias de design está aumentando. Bill Faust, da Fitch, diz que projeto do produto © 2006 eduardo romeiro filho 125 ufmg - depto engenharia de produção seu escritório de projetos de decoração foi procurado por um número tão grande de clientes que ele se viu obrigado a aprimorar seus conhecimentos sobre administração de empresas. "Os designers estão sendo cada vez mais convidados para as reuniões e são ouvidos na hora em que se tomam decisões", assinala Faust. Ninguém escapa dessa onda. A General Mills está planejando mudanças para suas embalagens de cereais matinais, a Kodak aposentou a máquina fotográfica de caixa preta e a Swingline resolveu estilizar seu tradicional grampeador. As empresas sem designers em seus quadros estão correndo para contratar bons consultores. "Os fabricantes estão cientes de que os consumidores querem mais do que benefícios funcionais", afirma Barry Shepard, fundador da SHR Perceptual Management, consultora de design que ajudou a conceber o novo Fusca da Volkswagen. "Os produtos precisam refletir o gosto dos consumidores." E nem precisam durar muito. Comprar uma escova de dentes descolada é uma maneira de expressar sua personalidade sem um compromisso maior do que uma boa higiene bucal. Philippe Starck foi um dos primeiros a perceber essa tendência em 1989, quando desenhou uma escova de dentes transparente para a Fluocaril. Agora existem escovas de todos os tipos no mercado: trançadas, com faixas, sulcos, pontos ou espirais. A mesma filosofia se aplica a dezenas de produtos normalmente considerados banais, como latas de lixo, escovas de banheiro e raladores de queijo. São artigos baratos, atraentes e descartáveis. É exatamente isso que agrada a Starck, cujos espremedores de fruta e abridores de garrafa contribuíram muito para a atual paixão dos Estados Unidos pelo design. Para ele, o design de qualidade deve ser uma produto comercial, mas a preços acessíveis. Starck afirma que toda vez que projeta uma nova cadeira,ela acaba saindo mais barata do que o modelo anterior. "Quero que todo mundo tenha os melhores produtos pelo preço de qualquer porcaria do supermercado", diz. Inevitavelmente, alguns projetos acabam não refletindo a sensibilidade do artista. Outros pecam pela falta de funcionalidade. "A funcionalidade se tornou mais dimensional", diz Susan Yelavich, diretora assistente do Museu Cooper-Hewitt, que abriu na semana passada sua primeira exposição trienal de design. "A função agora está associada à psicologia e à emoção." Ou como afirma Karim Rashid: "Quanto mais tempo passamos na frente do computador, maior a importância do visual de nossa xícara de café". Resta saber se a economia do design irá se sustentar quando a maré de prosperidade norte-americana recuar e todos voltarem a modelos funcionais e antiquados. Se ainda estivesse vivo, Raymond Loewy nos faria lembrar que seu trabalho começou durante a Depressão dos anos 30 e que talvez a verdadeira revolução do design ainda esteja por vir. Se for o caso, as palavras de Constant Nieuwenhuys continuarão valendo como profecia. -Reportagem de Juli Rawe/Nova York e Sheila Gribben/Chicago Artigo retirado da Revista Time. Fonte: www.cnnemportugues.com Data: 15 de março de 2000. Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 91HFD, v.2 n.3, pXXX - XXX, 2013 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 9191 Contribuição da Ergonomia no Processo de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribution of Ergonomics in The Product Development Process: The Case Of The Saddle Bicycle David Omar Núñez Diban¹, Eugenio Andrés Díaz Merino², Leila Amaral Gontijo³ Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 92 93HFD, v.2 n.3, pXXX - XXX, 2013 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 92 9392 93HFD, v.2 n.3, p 3 - 17, 2013 1. Introdução O mercado de bens de consumo oferta uma vasta gama de produtos para aten- der as mais diversas e estranhas vontades advindas das pessoas. Para atingir essa capacidade de complacência embutida nos produtos, o Processo de Desenvolvimen- to de Produto - PDP confronta desafios que requerem abordagens sistemáticas que contemplem de forma efetiva o comportamento humano e suas nuances. Por essa razão, quando mencionados os parâmetros subjetivos presentes no PDP, eles estão diretamente relacionados a aspectos que lidam com as qualidades do ser humano, dito de outra forma, as vontades, anseios e expectativas vindas do público alvo, mui- tas vezes manifestos sob definições ambíguas. É inevitável considerar a influencia do comportamento do ser humano no PDP, por mais que ele objetive aspectos de alta tecnologia, o processo sempre envolverá pessoas, que com suas ações, conhe- cimentos, estados anímicos e decisões, irão afetar o processo como um todo. Por tanto, o exercício das abordagens metodológicas do design, que tem nas áreas sócias aplicadas uma fonte de recursos (BÜRDECK, 2006), permitirá complementar uma abordagem racional no intuito de visualizar de forma mais completa o espectro do ser humano constituído no "cliente". O processo de organização, das necessidades manifestas pelos clientes no pro- cesso de definição dos requisitos, passa a ser um ponto de referência importante para o sucesso do novo produto. Então, passa a ser necessário definir procedimentos que incluam essa demanda, como é o caso do Diagrama Kano da satisfação dos clientes, abordado por Baxter (1998) e Alliprandini et all (2006), entre outros. Existe uma ne- cessidade básica, a qual se centra no entendimento das relações existentes entre o ser humano e seu entorno, ou em muitos casos, a interação entre o ser humano e os objetos que o circundam no seu dia a dia. Considerando o principio de adequação do campo de ação à condição do ser humano que intervém, a proposta da ergonomia pode somar nesse entendimento, sobre tudo quando aborda aspectos relacionados à complexidade do sistema, decorrente do agir do ser humano. Sob a perspectiva ergonômica, verificar a capacidade de entendimento e ma- nuseio dos produtos passa a ser um aspecto importante, sobre tudo quando o que se busca é desenvolver um produto que não condicione o usuário e sim o comple- mente, fornecendo possibilidades para que ele possa interagir com segurança visan- do satisfazer suas vontades/necessidades. Por tanto, entender essa relação requer o entendimento dos objetos a nível estrutural, o qual se divide em três zonas: área de trabalho, área de manipulação e área de informação (na qual ela é apresentada). No caso de produtos de baixa complexidade, a área de trabalho e a interface se sobre- põem, portanto não existe uma área de informação (BONSIEPE, 2011). Estes aspectos são relevantes, para compreender que todo produto possui as três zonas, porém, dependendo da complexidade elas poderão se apresentar dissociadas ou unificadas. Com base ao exposto, o presente trabalho disserta sobre a pertinência da aborda- gem ergonômica, aplicada ao produto sob a ótica da usabilidade, de forma especifi- Resumo O presente artigo tem por objetivo, verificar através de um estudo de caso, as possibilidades de analises de usabili- dade como potencial subsidio, na defini- ção de requisitos de projeto no Processo de Desenvolvimento de Produtos - PDP. Para tal fim, foram adotados procedi- mentos de analise teórico, pesquisas de campo através de questionários, obser- vação participativa e elaboração de teste piloto. Como ponto de partida, a bicicleta e especificamente o selim, foi o produto analisado permitindo a abordagem ergo- nômica sob a ótica da usabilidade imersa no ambiente do projeto em design. Reali- zada a experiência prática, os resultados foram confrontados com alguns métodos de avaliação ergonômica, para verificar o potencial de suas aplicabilidades em si- tuações de analise de produtos no está- gio do projeto informacional. Finalmente, conclui-se que os modelos ergonômicos existentes ponderam a atividade trabalho, a qual deverá ser re-interpretada a par- tir da dualidade "atividade - tarefa" como "usabilidade - requisito de projeto". Dessa forma, existe a possibilidade de amplificar a capacidade de incorporar esses méto- dos ergonômicos como instrumentos norteadores no processo de concepção de requisitos de projeto no PDP. Palavras-Chave: Ergonomia, Usabilidade, Design, Interface, Selim, Projeto Informa- cional. Abstract This paper pretends, by using a case stu- dy, verify the potential of using usability analysis as information supplier for the design requirements in the Product De- velopment Process – PDP. To attempt that objective, theoretic procedures, field research, participative observation and practical test were adopted. The bicycle and specially the saddle were adopted as starting point for the ergonomic approach from the perspective of usability inside the project in design. After the practical ex- perience, the results are confronted with some ergonomic evaluation methods to verify its potential inclusion inside the in- formation project stage. Finally, conclu- des that the analyzed ergonomics models highlight the work activity that must be translated from the binomial definition of “activity – task” to “usability – project re- quirement”. So, them is possible to create a real conditions of includes those ergo- nomic methods as guide tools inside the conception process of design require- ments in the PDP. Key-words: Ergonomic, Usability, Design, Interface, Saddle, Informational Project. ¹ Professor – Departamento de Design Universidade do Estado de Santa Ca- tarina Mestre em Engenhariade Produção Universidade Federal de Santa Catarina E-mail: omar@udesc.br ² Professor - Departamento de Expressão Gráfica. Universidade Federal de Santa Catarina. Dr. Em Engenharia de Produção Universidade Federal de Santa Catarina E-mail: eugenio.merino@ufsc.br ³ Professora – Departamento de Engenharia de Produção Universidade Fede- ral de Santa Catarina Dra. em Ergonomia Université de Paris XIII E-mail: leila. gontijo@ufsc.br ISSN: 2316-7963 Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 94 95 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 94 9594 95HFD, v.2 n.3, p 5 - 17, 2013HFD, v.2 n.3, p 4 - 17, 2013 pontos, como aquelas de materiais compósitos e mecanismos de alta precisão, com fins esportivos de alta performance. Isto possibilita uma oferta ilimitada de configura- ções para as mais diversas atividades, no entanto, as fontes de informação, com uma linguagem simples, que permita entender essa diversidade é muito restrita, o que muitas vezes leva as pessoas a comprar produtos que não atendem suas expectati- vas ou que as ultrapassam, subutilizando o produto. 81.8% das pessoas pesquisadas manifestaram ter recebido as informações necessárias na hora de adquirir o produto. No entanto, a seleção do produto baseia-se em 36.4% na experiência pessoal, 27.3% em informações vindas de amigos, e só 18.2% em profissionais do ramo. Este aspec- to tem trazido muitos questionamentos e dúvidas para quem adquire um produto destes, pois termina, em alguns casos, investindo em equipamentos que distorcem sua interação com ele. Isto quer dizer, a pessoa inconscientemente não se sente to- talmente entrosada com a bicicleta, traduzindo sua insatisfação de diversas formas, dores em determinadas partes do corpo até a mais comum das situações, deixar de usar a bicicleta, passando a ser mais um enfeite em um determinado ambiente do lar. Apesar da evolução tecnológica, a bicicleta tem mantido sua composição for- mal quase inalterada e enquadrada dentro do binômio "forma e função". Porém, o termo interface colocou a atividade do design no campo das ações eficientes, saindo desse binômio e passando para a relação triádica em que a interface funciona como domínio mediador entre usuário, produto e objetivo da ação (BONSIEPE, 2011). Analisar os diversos motivos conflitantes na interface entre a bicicleta e seu usuário, devido a sua condição dinâmica no relacionamento, implicara numa analise além das circunstâncias biomecânicas e quantitativas, incorporando outros aspectos de cunho subjetivo como são os emotivos. Por ser um produto de baixa complexida- de, a interface se apresenta incorporado no produto coexistindo com ele, porém, em alguns componentes existentes na bicicleta apresentam um incremento na comple- xidade, nesse caso, a interface se incorpora cada vez mais como um domínio próprio a cada um desses componentes (BONSIEPE, 2011). A presença dessa complexidade passa a exigir um gerenciamento próprio, podendo ser desde dois setores comple- mentares, quem projeta a bicicleta (consolidação da tarefa, que nesse caso são os requisitos do projeto), e quem passa a usá-la (o agente) (LEPLAT, 2004). Muitas vezes, a baixa ênfase nos requisitos no projeto informacional, leva a modificar o agente. No entanto, o correto é não pretender uma alteração no comportamento humano, e sim no projeto de maneira a não gerar uma possível sobrecarga no usuário, seja esta física ou mental, sendo que a segunda é mais difícil de detectar em estágios inicias de testes de prototipagem, decorrente de sua subjetividade inerente. Conseqüen- temente, os esforços devem focarse na redução da complexidade do produto ou o desenvolvimento de uma interface que vai de encontro com as características do agente. É nesse sentido, que muitos desses fatores são contemplados nos projetos de bicicletas no mercado, e dada sua diversificação, são ofertados diversos acessórios para as bicicletas, assim como cores e grafismos aplicáveis a elas. Aqui se retoma um ponto previamente destacado, o acesso ou a clareza com ca quando da consolidação de requisitos norteadores no desenvolvimento e novos produtos. Para tal fim, o presente estudo selecionou inicialmente a bicicleta como produ- to, sobre o qual foi feita uma pesquisa de campo no intuito de determinar o grau de relacionamento existente entre ele e seu usuário. A partir dessa pesquisa foram deter- minados três grupos de componentes susceptíveis de analise, dos quais se priorizou um deles, com base nos resultados obtidos na pesquisa de campo. Posteriormente, foram analisados alguns métodos ergonômicos no intuito de verificar a pertinência deles como recursos sistêmicos na analise do produto. E, a partir desses foram defini- dos alguns elementos estruturantes para uma futura utilização na construção de um modelo piloto de avaliação ergonômica. Para tal fim, a amostra de pessoas não atende a uma faixa etária especifica, nem gênero, porém foram definidas duas premissas gerais: a primeira é que o público alvo tivesse idade igual ou superior a 18 anos, e a segunda, foi que esse tivesse condições físicas de usar esse produto. Por tanto, a amostra apresentou os seguintes parâme- tros: idade media de 31 anos, sendo 55.5% do gênero masculino e 44.5% do gênero feminino, 77% manifestaram possuir bicicleta e os restantes 23% ter usado esse pro- duto, mas não possuílo atualmente. Finalmente, esta pesquisa ficou restrita a detecção qualitativa de aspectos que poderiam auxiliar no processo de consolidação do desenvolvimento do projeto. Por tanto, não foi de interesse definir o tipo e intensidade das cargas mentais ou físicas aferidas ao produto, assim como a interface ou posturas que seriam as mais adequa- das no seu uso. No entanto, entender como os aspectos de interação entre produto e usuário são importantes para futuros desenvolvimentos. 2. Compreendendo o produto bicicleta. A bicicleta outrora meio de transporte, atualmente temum papel na sociedade muito diferente daquele atribuído no seu início. E para entender seu comportamento atual no mercado, foi realizada uma pesquisa de campo através de questionário. Esta abordagem permitiu ratificar o que já é observado dia a dia nas ruas da cidade. Segun- do a pesquisa de campo realizada, a bicicleta é vista como objeto de lazer por 63% das pessoas pesquisadas, seguidamente como meio de locomoção e/ou meio alter- nativo ao deslocamento de curtas e medias distâncias, com 27%. Tentar enquadrá-la em um determinado segmento, a semelhança do veículo automotor, é praticamente impossível. Dificilmente as pessoas a consideram dentro de suas prioridades quando se anseia um meio de transporte, porém em muitos casos passa a ser por diversos motivos, sejam eles de natureza financeira, até como de opção de vida, 18% dos en- trevistados manifestaram usar a bicicleta como meio de condicionamento físico. No mercado podem ser encontradas diversas configurações de bicicletas, da- quelas que têm uma mecânica simples, cuja finalidade é o deslocamento entre dois Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 96 97 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 96 9796 97HFD, v.2 n.3, p 7 - 17, 2013HFD, v.2 n.3, p 6 - 17, 2013 evitar uma opacidade do sistema sócio técnico (LEPLAT, 2004) como: • Ausência ou insuficiência de feedback - importante no processo de usabili- dade, • Conhecimento parcial do funcionamento do sistema técnico - o que pos- sibilita o entendimento global das possibilidades ofertadas pelo produto,e • Comunicação deficiente com o ambiente humano e técnico - diretamente relacionada com a construção da interface. Por outro lado, a pesquisa mostrou que dentro de uma perspectiva de uso da bicicleta, 59% manifestaram desconforto ou descontento com o selim, já o 27.3% manifestaram aspectos relacionados ao guidão e suas possibilidades de posiciona- mento ou de material de contato superficial com as mãos. Outros aspectos decla- rados como conflitantes, porém em menor grau foram 18.2% relacionados a ques- tões posturais da coluna vertebral e 13.6% relacionados às extremidades inferiores do corpo humano. Mas nem tudo o que foi obtido com a pesquisa é negativo, houve ampla exposição sobre os benefícios emocionais proferidos pelo ato de pedalar, e isto fica reforçado pela predominância do uso da bicicleta como objeto de lazer, complementado com uso como meio de transporte alternativo e suas vantagens, em comparação ao trânsito de veículos automotores. Com base a estes resultados e a proximidade de funcionamento dos compo- nentes analisados na bicicleta, foi possível sua agrupação atendendo a três zonas de análise do corpo humano. Essas zonas ponderam a interface através do sentido tátil com o produto, a interface visual fica em segundo plano, dada as condições de uso, a visão prioritariamente está orientada para o caminho a ser percorrido com o veículo. As zonas percebidas agrupam as partes do corpo daseguinte forma: grupo supe- rior, que incluem as extremidades superiores - o contato é realizado entre as mãos e o guidão; grupo inferior, que contém as extremidades inferiores - o contato acontece entre pés e os pedais: e o terceiro grupo, que inclui as coxas e tronco - em contato com o selim, através da bacia, especificamente o contato é feito pelas tuberosidade- sisquiais (figura 1). Figura 1: Medição da separação das tuberosidades isquiais em contato com o selim (SPEZIALIZED, 2011). que o produto repassa sua capacidade de adaptação ao usuário. O entendimento da arquitetura dos componentes de uma bicicleta não é de difícil compreensão na sua forma geral, conseqüência da convivência com esse produto em muitas sociedades contemporâneas (não em todas, porexistirem grupos sociais que nunca tiveram aces- so a esse tipo de produto). No entanto, existem diversos componentes agrupados em atividades específicas, que não são de domínio comum, por exemplo, o entendimen- to dos diversos ajustes de manetes de freio, ajuste de altura no canote ou mesa de direção, dentre outros. Estes ajustes possibilitam a compatibilidade entre a bicicleta e o biótipo da cada usuário, porém, nem todos têm a capacidade de realizá-los ou expô-los a um especialista que possa realizar as regulagens pertinentes. Para tanto, podem ser focados dois aspectos importantes a serem considerados quando da aquisição e uso da bicicleta. O primeiro ponto é identificar a atividade ou atividades a serem realizadas, e o segundo aspecto, está diretamente relacionado a este primeiro aspecto, que é o tempo de uso. As pessoas pesquisadas manifestaram usar em media 3 vezes por semana, dasquais 59.1% usam por um período inferior à uma hora dia. É inegável a existência de outros fatores a considerar, no entanto, são ponderados esses dois, pelo fato de terem sido detectados muitos casos e manifes- tos relacionados a situações envolvendo tempo da atividade com o produto em uso. E do ponto de vista da ergonomia, a variável tempo é fundamental na avaliação de desempenho de um produto. 3. Os subsistemas da bicicleta e o corpo humano Interagir com um produto como a bicicleta, requer o desenvolvimento e/ou aprimoramento de certas capacidades. Essa atividade física requer, por parte do usu- ário e após a percepção das condições de uso, da realização de ajustes constantes e em simultâneo. Assim tem-se o equilíbrio corporal, avaliação dinâmica e espacial dos acontecimentos (em velocidades variáveis e diferentes das obtidas na ação de simples caminhar) além de uma predisposição a "tolerar" a influência climática. Para tal evento, a bicicleta possui diversos componentes que possuem a capacidade de ajustes específicos ou regulagens predefinidas, que contribuíram para otimizar o de- sempenho no ato de andar de bicicleta. No intuito de descobrir o grau de entrosamento dos usuários como a bicicleta, a pesquisa de campo questionou o nível de conhecimento sobre as possibilidades de ajustes e regulagens presentes na bicicleta. Dos dez quesitos listados na pesqui- sa, referentes a regulagens na bicicleta, os mais destacados foram: 81.8% ajuste da altura do selim e 31.8% regulagem da sensibilidade dos freios. No entanto, 22.7% dos entrevistados, manifestaram conhecer a totalidade das regulagens, porem, só 68.2% deles modificam a altura do selim e 31.2% a calibragem dos pneus. Com base nesses dados, percebe-se que não existe um total descaso sobre as possibilidades de ajuste da bicicleta, mas evidencia duas situações latentes: a total satisfação do produto, dada a baixa intervenção ou a impossibilidade deste produto de não atender de fato as expectativas do usuário. Por tanto, outros aspectos deverão ser considerados para Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 98 99 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 98 9998 99HFD, v.2 n.3, p 9 - 17, 2013HFD, v.2 n.3, p 8 - 17, 2013 que a bicicleta por si apresenta uma movimentação usuário produto conjugados. No entanto, cabe destacar que esses dois componentes apesar do movimento relativo ao produto apresentam, em menor grau, um desconforto que é amenizado pela mo- vimentação das partes do corpo, que perdem parcialmente o contato com a bicicleta segundo as condições de uso da bicicleta. 4. Postura, atividades e a decomposição analítica do produto. Para efeito dessa pesquisa, precisou-se definir o tipo de bicicleta a ser abordada, visto que isto permitiria delimitar o tipo de atividade e postura corporal, conseqüen- temente a atitude adotada ao conduzi-la. Por tanto, com base a população analisada, mais de 50% manifestaram ter uma mountainbike (figura 2) ou interesse em possuir uma. Figura 2: Bicicleta Mountainbike Caloi Aluminum (CALOI, 2012) Esse modelo possui qualidades muito particulares, das quais se destaca a posi- ção do tronco levemente inclinado para frente, repassando uma parte do apoio do corpo para as mãos. A razão dessa inclinação deve-se as origens da bicicleta, a qual exige uma postura que favoreça a velocidade e ao mesmo tempo a estabilidade sobre superfícies irregulares. Segundo a amostra pesquisada, só 9% utilizam sua bicicleta para fins esportivos, especificamente sobre superfícies irregulares. Cabe aqui desta- car duas situações importantes perante o tipo de uso conferido à bicicleta, seu uso em superfícies irregulares e de outro lado em superfícies regulares. Quando usada em condições de solo variável, o corpo passa a ter um comportamento dinâmico ge- ral, isto quer dizer todas suas partes, ficando estático por períodos curtos de tempo. Esta situação não permite uma manifestação prematura de dores ou desconforto. No entanto, quando usada em condições de superfície regular, gera longos perío- dos estáticos. Então, a adoção de uma única postura por longos períodos de tem- po compromete a circulação sanguínea, traduzindo-se em desconforto ou perda de sensibilidade ou inclusive de atrofia, se existir algum tipo de trauma decorrente de uma compressão repetitiva e localizada. E nesse ambiente, como foi previamente delimitado, o selim passa a ter um destaque relevante no condicionamento do corpo nos recursos realizados a bordo da bicicleta. O selim é um dos componentes da bicicleta que apresenta uma oferta bastante Como foi mencionado no início dessa pesquisa, aabordagem que seria aplica- da, passava pelo entendimento da interface através da usabilidade. E para esse fim, foram aplicados os Princípios de Usabilidade no Design, propostos por Jordan (1998). A finalidade dessa abordagem permitirá entender o comportamento do usuário em relação ao produto, fornecendo segundo seu grau de complexidade, informações pertinentes que permitirão manter as características satisfatórias do produto em fu- turos desenvolvimentos. Por outro lado, também permitirá detectar os campos de interação atuantes entre o usuário e objeto, assim como possíveis desvios funcionais que deverão ser corrigidos nos futuros desenvolvimentos. Confrontados os princí- pios de Usabilidade com o ato de andar de bicicleta e vinculados ao grau de comple- xidade proferido ao produto, assim como o nível de conhecimento e entrosamento por parte do usuário, foram detectadosos seguintes: • Consistência - visto que o agir sobre o produto exige ações muito próximas das realizadas pelo ser humano quando se desloca, e de forma geral a capa- cidade psicomotora grossa é a que predomina nas funções essenciais (con- siderando que o equilibrar-se sobre a bicicleta passa a ser uma ação natural após o processo de adaptação). • Compatibilidade - quesito da usabilidade que está amplamente relacionado ao anterior, e atende as expectativas de movimentação (o projeto do ser hu- mano não é estático) e de lazer, na suas diversas expressões. • Feedback - presente através de reações táteis aos estímulos inferidos pelo usuário no produto. Cabe destacar que este princípio ainda em alguns as- pectos, não atinge o grau de consistência e compatibilidade desejados. • Clareza de operação - estritamente relacionada ao caso anterior. Existem componentes que apelam muito a sentidos como do tato e audição, por priorizar a dedicação do sentido da visão ao ato de conduzir o veículo. E componentes, muitas vezes não possuem uma interface visual, o que dificul ta a assimilação e incorporação por parte do usuário (como exemplo a troca de marchas) por viver em um meio de predominância nos estímulos visuais. • Controle pelo usuário - fundamental nesse produto que depende totalmente do desempenho corporal e mental do usuário. A bicicleta conforme as informações que vem sendo expostas, apresenta um vasto campo para a pesquisa do sistema total, como dos seus subsistemas. O intui- todesse artigo não esta no aprofundamento desse produto nos seus mais mínimos detalhes e sim de usá-lo como objeto de discussão para o entendimento que a abor- dagem ergonômica proposta, destaca aspectos muito relevantes para o desenvol- vimento do próprio produto. E, sob esse aspecto, a presente pesquisa usará só um subsistema da bicicleta para dar continuidade à proposta de analise pretendida. Por tanto, considerando a recorrência nas reclamações de desconforto, conforme ex- posto previamente com base aos usuários entrevistados, a analise focou-se no selim, o que é facilmente entendido como se expõe a seguir. A interação tanto com o gui- dão como os pedais apresentam um diferencial em relação ao selim, que é o grau de movimento periódico, ou constante, dependendo das circunstâncias do percurso. Este movimento das partes do corpo é relativo ao componente da bicicleta, visto Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 100 101 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 100 101100 101HFD, v.2 n.3, p 11 - 17, 2013HFD, v.2 n.3, p 10 - 17, 2013 Seguidamente foram realizadas duas condições de uso, uma em superfície rígi- da e regular (estradas de asfalto, calçamento ou cimentadas), e outra em superfície irregular e de menor dureza (estradas de chão e trilhas). A atividade foi realizada em períodos compreendidos entre 1 hora e 2 horas e em dois dias separados por uma semana. Essa experiência prática gerou resultados, os quais mostraram indícios con- traditórios ao que se poderia imaginar. No entanto, esses resultados não poderão ser validados devido à inexistência de uma amostragem representativa. Porém, serviu para identificar uma possível forma de avaliação do selim, que subsidiem informa- ções relevantes para futuros desenvolvimentos. Os resultados obtidos inicialmente indicam que no caso de percurso de tempo reduzido, a seleção do selim 1 poderia ser a opção mais viável para qualquer tipo de superfície, pela qual se transita com a bicicleta. Já períodos mais longos, sobre tudo em superfícies regulares, sua fácil deformação refletiu-se em uma sustentação pre- cária, levando a uma fadiga dos tecidos musculares na região de contato. Nesse caso, Figura 3: Selim 1 (DIBAN, 2012) Figura 4: Selim 2 (DIBAN, 2012) pressivos e validos cientificamente, é necessário realizar um analise sob abordagem clínica, a qual transforma a relação do conhecimento científico com o tempo e o sentido. Sendo esse tempo da abordagem clínica dinâmica, tempo que age, trans- forma e que compreende o sujeito, e não sob o tempo da ciência que geralmente é estático (HUBAULT, 2004). O procedimento analítico pondera a análise em condições reais, visto que é a única situação que poderá trazer resultados aplicáveis à realidade do produto. O procedimento teve com base a realização de quatro experiências práticas, aplicadas a duas pessoas, combinando dois tipos de selim e duas situações de uso, com inter- venção da variável tempo. Usou-se um selim com um estofamento generoso e com ampla deformação - selim 1 (figura 3) e outro com um estofamento reduzido e com uma espuma de maior densidade e em menor volume que oferece uma maior resis- tência à deformação - selim 2 (figura 4). ampla de opções no mercado, mas sempre é alvo de comentários diversos quando avaliada a bicicleta em condições de uso. Esta situação está vinculada a dois fatores, incompatibilidade entre o tipo de selim e a atividade desenvolvida, e a relação dessa atividade com seu tempo de duração. Quando a pessoa passa a usar a bicicleta, faz uma avaliação rápida no selim, mas essa avaliação muitas vezes carece de subsídios racionais, e apela muito a estética do produto, a qual nem sempre é bem desenvolvida ou é conflitante com a razão do en- tendimento do usuário. Por tanto a estética transcende ao apelo meramente visual e subjetivo, apresentando-se na forma como é usado um produto (SUDJIC, 2008), coi- sa que nem todo usuário possui como conhecimento de causa e efeito. Zimmermann (1998) pondera a estética como ponto forte no sucesso de um projeto, associando-o como elemento estratégico no PDP. Segundo ele a "estética" (do grego aisthysis) com base a sua etimologia, passam a ser a capacidade do ser humano perceba sequer, com o auxílio de todos seus sentidos, seu entorno e que esta percepção seja para ele, conhecimento e compreensão desse contexto. Isto explica, em parte, porque a associação do selim com um sofá pode gerar uma compreensão errônea do produto. De forma geral, quando o usuário foca no ato de sentar na bicicleta, visualmente procurará por um selim largo, volumoso e com aspecto de possuir alta absorção de impacto ou de amoldar ao seu corpo. Seguidamente ele analisa de forma tátil a capa- cidade de fácil deformação, de modo tal a complementar a capacidade de absorção de impactos. Mas essas duas avaliações atendem a um repertorio que muitas vezes não tem uma relação direta com o produto em questão. O fato de o selim ser "fofo" não garante o desempenho pretendido para a atividade a ser realizada, por isso é im- portante ter clara a atividade a ser realizada com a bicicleta. Aqui facilmente podem ser aplicados os princípios de construção da forma física do produto, segundo sua condição de uso: geométrica ou antropomorfa. Mas não basta só isso, tem-se que analisar a capacidade de sustentação, providapela estrutura do selim, que depen- dendo da atividade realizada, oferecerá maior ou menor sensação de segurança e ou conforto. Estas sensações de caráter subjetivo têm um suporte racional, que possa explicá-las através do grau de tensão do grupo muscular atingido na região do corpo em contato (direto ou indireto) com o selim. A partir desse ponto, o parâmetro que entra a trabalhar, é a variável tempo. Des- sa forma, pode ser levantada a seguinte hipótese: No caso do selim com volumoso e deformável, que provê uma sustentação reduzida, gerará uma tensão muscular, que poderá ser assimilada sem seqüelas, desde que o tempo de uso seja reduzido. Já no caso contrário a fadiga é eminente, e com ela as dores e desconforto geral. No contraponto, quando usado um selim de aparência física minimalista e com pou- ca capacidade de deformação, o usuário inicialmente rejeita a possibilidade de uso, porém, na prática ele pode trazer resultados inesperados. Esta situação hipotética foi baseada em uma experiência prática (descrita seguidamente), porém sem os sub- sídios ainda necessários para ser validada, porém, visa o questionamento da relação existente entre percepção versus a funcionalidade. Por tanto, para ter resultados ex- Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 102 103 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 102 103102 103HFD, v.2 n.3, p 13 - 17, 2013HFD, v.2 n.3, p 12 - 17, 2013 realizada com a aplicação desses métodos, aos parâmetros estabelecidos na expe- riência prática, visando verificar a capacidade de gerar resultados condizentes com as expectativas do produto e seu uso, especificamente quando do uso em períodos longos de tempo e as condições geográficas de uso. Acionados os métodos, os quais solicitam informações diversas, como ambiente de trabalho, postura, carga realizada entre outros parâmetros, se entendeu que o método que mais se aproximou da abor- dagem pretendida para análise do selim foi o OWAS. A abordagem do OWAS, trabalha com informações relacionadas as posições da coluna vertebral (reta, curvada, com giro e suas combinações), posição dos braços (para cima, para baixo de forma individual ou conjunta), posição das pernas (senta- do, em pé, flexionado de joelhos com variações do centro de gravidade do corpo) e cargas e esforços realizados pela pessoa. E, o resultado fornecido pelo método só visa destacar as atividades que possam apresentar risco para a saúde pessoal (grau de risco segundo critério pré-definido pelo avaliador). O sistema OWAS foi alimentado com os parâmetros condizentes à postura do usuário da bicicleta, muitos desses da- dos solicitados tiveram que passar por uma adequação, ou interpretação, para poder gerar um resultado. Como o próprio método alerta, ele só fornece o local conflitante no corpo humano, mas não os parâmetros específicos enquanto à magnitude dele. No entanto, a proposta do OWAS se mostrou limitada, pelo menos na abor- dagem relacionada à atividade de dirigir bicicleta. Isso se deve a que a forma como são tratadas as posturas corporais para sua analise, não são diretamente compatíveis com as adotadas, quando se usa a bicicleta, e muito menos do selim, e mais ainda por se tratar de um produto que envolve uma situação dinâmica, e submetida a um meio ambiente, em constante mudança. E, como foi destacado, foi preciso à reinterpreta- ção dos dados, para poder alimentar o sistema OWAS, o que fragiliza a informação, visto que fica vulnerável ao critério pessoal do avaliador. O método não detalha sobre a capacidade de inserir as cargas exercidas na área de contato ao sentar, como força de compressão, o que também seria aplicado no caso das mãos em contato com o guidão. Também, ele trabalha com atividades repetitivas, no entanto, quando usada a bicicleta em longos trechos sem variantes, entrasse em uma situação de atividade única e constante. Por outro lado, a forma em que são relacionadas às ações de cada parte do corpo, está mais voltada a um posto de trabalho, confinado a um espaço físico e não necessariamente a uma interface com um produto em condições variáveis de seu ambiente de uso. Também, foi constatado que os parâmetros para a variável tempo, são incompatíveis na sua maioria, com os pretendidos na análise do selim, ou da bici- cleta em geral. Adicionalmente, a abordagem não contempla a inserção de informa- ções de ordem subjetiva e que apelam a quesitos da estética e da zona de interface. Apesar das restrições apresentadas, o método OWAS poderia servir como base para a consolidação de uma abordagem sistêmica, que inclua esses aspectos. Isto é possível devido à forma clara em que a estrutura apresenta os parâmetros que o uso do selim 2 apresentou resultados mais favoráveis, no entanto o uso prolongado causaria uma fadiga se não existisse movimentação na região de contato do corpo com o selim. Contudo, independente do tipo de selim, o uso prolongado e estático não é recomendável. Pode parecer contraditório, mas o selim 2 apresentou resultados positivos em superfícies irregulares e não tanto por sua capacidade de absorção, muito pelo con- trário, devido à falta dela, obriga ao usuário a reduzir o tempo de contato do corpo com ele, fator importante que favorece a boa circulação sangüínea, conseqüente- mente sua oxigenação, e evita a postura estática do grupo muscular envolvido. No caso da superfície regular, o selim 2 teve resultados não muitodistintos dos obtidos com o selim 1. Dessa forma, a experiência prática reforça a necessidade de conhecer a atividade predominante a ser realizada com a bicicleta, para poder determinar a melhor opção de selim. 5. Confrontando a realidade com os métodos ergonômicos. Os resultados anteriormente descritos motivaram a busca por subsídios sis- têmicos no âmbito da ergonomia e que possam contribuir para a consolidação de requisitos de projeto no PDP. Para tal finalidade se pesquisou alguns métodos que lidassem diretamente com o quadril, seguido de extremidades inferiores, tronco e in- diretamente as extremidades superiores. Foram pré-selecionados três métodos que poderiam contribuir com a proposta dessa pesquisa. Os métodos selecionados nesse primeiro momento foram: Avaliação Rápida do Corpo Inteiro - REBA (Rapid Entire Body Assessment), Evaluación Postural Rápida - EPR e Sistema Ovako de Análise do Trabalho - OWAS (Ovako Working Analysis System) (ERGONAUTAS, 2012). Também foram pesquisados outros métodos específicos para a avaliação e po- tencialização de desempenho no uso profissional das bicicletas, os chamados de Bike Fit: Retül Fit Technology (RETUL, 2012) e o Body Geometry Fit - BG Fit (SPEZIALIZED B.C., 2010). Para serem aplicados, estes métodos requerem de um ferramental es- pecífico e não foram utilizados devido a seu foco na alta performance. No entanto, o que pode ser obtido deles é sua proposta de ajuste da bicicleta a cada biótipo e esporte. Esses métodos, além do ajuste fino dos componentes, em condição estática e dinâmica, permite a compreensão das possibilidades de potencializar o preparo físico da pessoa, com base a avaliação histórica do histórico clinico do esportista - processo individualizado. No entanto, para efeitos dessa pesquisa, o que pode ser aproveitado é a exploração máxima da relação ajuste versus atividade e que em al- guns produtos, pode evidenciar limitações que terminam condicionando o usuário a posturas não naturais e baixa produtividade, fadiga e dor. Por tanto, podem trazer informações pertinentes para o aperfeiçoamento de produtos destinados a pessoas com fins polivalentes para as bicicletas. O passo seguinte priorizou o entrosamento dos métodos REBA, EPR e OWAS, com a experiência prática realizada e previamente relatada. Essa compatibilizaçãofoi Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 104 105 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 104 105104 105HFD, v.2 n.3, p 15 - 17, 2013HFD, v.2 n.3, p 14 - 17, 2013 implica que a atividade cognitiva seja concebida dentro do ambiente da ação, e não usando artifícios para solucionar esta complexidade com aperfeiçoamentos técnicos (LEPLAT, 2004). Por tanto, a busca por procedimentos que auxiliem no dimensiona- mento das ações imateriais do usuário, facilitarão na clara definição dos requisitos de projeto, o qual não garante sucesso do novo produto, porém facilita a tomada de decisão ao longo do PDP. 6. Considerações finais O presente trabalho teve como objeto de estudo, a aplicabilidade de aborda- gens ergonômicas na contribuição de informações relevantes à consolidação dos requisitos de projeto. Foi proposto como objeto de estudo, a bicicleta classificada de mountainbike, e dentro dela, a análise do subsistema de assento, focado espe- cificamente no selim, conforme ampla manifestação da amostra pesquisada. Com relação a este componente, a experiência prática realizada não teve como finalida- de gerar um diagnóstico conclusivo, pelo contrário, elucidar subsídios para futuras abordagens sistêmicas, baseadas em métodos ergonômicos. Destaca-se ainda, que sua análise não foi realizada de forma isolada ao total, mas desvinculada de outros componentes destacados como relevantes segundo a pesquisa de campo, como é o caso do guidão. Os resultados também mostraram a necessidade de intensificar o trabalho sobre a interface visual, facilitando a percepção dos atributos reais do selim. Outro aspecto constatado, é que existe uma real necessidade de mudança postural quando da inte- ração com ele, visto que o uso prolongado, independente de sua estrutura física, gera situações de desconforto, seja qual for à atividade fim, definida para a bicicleta.Po- rém, a definição clara dessa atividade, pode contribuir para diminuir essas situações de desconforto. E, como foi percebido ao longo da pesquisa, o selim é m dos pontos pouco considerados na avaliação visual da bicicleta realizada pelo usuário/cliente, no entanto altamente decisórios no uso final dela. Dessa forma, esse componente pouco evoluído formalmente, desde suas origens, participa de forma inconsciente no sucesso ou insucesso da interação do usuário com a bicicleta, estágio crítico de uma análise de usabilidade no âmbito da ergonomia, e que pode ser crucial para o suces- so comercial da bicicleta como um todo. Por tanto, a pertinência de incluir métodos que lidem com conceitos como o conforto, gosto, entre outros, e que fazem parte do relacionamento entre ser humano e objeto e permitam quantificar essas caracte- rísticas,passam a ser sumamente importantes para a correta conceituação do futuro produto. A busca de procedimentos ergonômicos que auxiliaram na compreensão dos acontecimentos presentes, no uso diário de uma bicicleta sem fins profissionais, tem ajudado a detectar alguns aspectos que não podem ser apreciados por procedimen- tos de simples inspeção visual ou ensaios laboratoriais. Aspectos como a influência da capacidade de deformação do selim, relacionada ao tipo de superfície de rodagem, tempo de uso, relacionado às condições anímicas e climáticas, percepção visual e deverão ser inseridos. Por tanto, uma proposta válida para a presente pesquisa, é a inclusão de um quadro que avalie a intensidade, sobre dois aspectos: detecção da necessidade de mudança de postura e intensidade da dor quando detectada - enten- dida sob a aura do desconforto. Esses dois elementos passam a ser relevantes pelo fato de avaliar uma situação de atividade semi-estática. O deslocamento realizado ao conduzir uma bicicleta, vai definir um posicionamento relativamente constante do indivíduo em relação ao produto, e que vai sendo afetado pelo meio-ambiente, que induze a uma movimentação reduzida a nível físico. Essa movimentação vai trazer diversas percepções táteis no contato com o selim, e que podem ser amenizadas ou não, pelo ambiente de uso. Assim, o método dispensa a necessidade de definir os pontos conflitantes, visto que eles já são previamente definidos. Por tanto o que resta é determinar o grão de aferimento dos estímulos nesses campos de contato, e como eles podem gerar outras sensações no ciclista. Finalmente, a modelagem do novo método permitira medir o grau do estimulo gerado pela bicicleta, assim como o tipo de estimulo que ele é, seja positivo ou negativo, como também se este agente estimulador provoca alguma outra reação que possa afetar o fim pretendido com o uso da bicicleta. Finalmente, estas informações podem complementar um gabarito, que delimita zonas de contato no selim, as quais servem como campos de aplicação do procedimento supracitado. Com base a essa estrutura sistêmica, podem ser determinadas algumas qualida- des inatas ao selim, susceptíveis de dimensionamento dentro de uma faixa de valores compatíveis com as informações que serão utilizadas na construção do projeto infor- macional. Dessa forma, a objetividade de um procedimento ergonômico que explora percepções sensoriais, e as apresenta em condições de serem gerenciadas sem a necessidade de apelar a uma interpretação subjetiva, mostra-se apto a ser utilizado como fonte fidedigna no PDP. Como conseqüência desse raciocínio, percebe-se que existe a possibilidade de aproveitamento de abordagens sistemáticas, advinda das engenharias que sejam susceptíveis de serem modificadas e capacitadas para situações que requeiram a ab- sorção de quesitos de ordem subjetivos. Por tanto, todo processo de adoção de no- vas abordagens participativas com intervenção do design no processo produtivo, vai além de uma mudança de pensamento, não só no design (MANZINI, 2009), senão na sociedade, como ente regulador das interações como o meio em que elas têm lugar. Por tanto, o que deve ser enfatizado é que os três níveis do design (NORMAN, 2004) deverão ser trabalhados: • Visceral - com apelo a necessidades básicas, • Comportamental - que tem influencia direta dos grupos sociais, e • Reflexivo - com relação a postura contemplativa e feedback em relação ao produto, interação racional. Estes três níveis são considerados quando da consolidação dos objetos inte- ligentes, em que eles assumem parte da responsabilidade da execução das tarefas, aliviando a carga mental do usuário. Dessa forma a complexidade é distribuída, o que Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas Contribuição da Ergonomia no Porcesso de Desenvolvimento de Produto: O Caso do Selim de Bicicletas 106 107 David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo David Omar Núñez Diban, Eugenio Andrés Díaz Merino, Leila Amaral Gontijo 106 107106 107HFD, v.2 n.3, p 17 - 17, 2013HFD, v.2 n.3, p 16 - 17, 2013 Referências Bonsiepe, Gui. Design, Cultura e Sociedade. São Paulo: Edgard Blücher, 2011. Hubault, François. Do que a ergonomia pode fazer análise. In Daniellou, F. A Ergonomia em busca de seus princípios. São Paulo: Edit Blucher, 2004. p. 105-140. JORDAN, Patrick W. An Introduction to Usability. UK: Taylor & Francis Ltda, 1998. Leplat, Jacques. Aspectos da complexidade em ergonomia. In Daniellou, F. A Ergonomia em busca de seus princípios. São Paulo: Edit Blucher, 2004. p. 57-78. Manzini, Ezio. 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Estas informações podem contribuir em aprimorar aspectos materiais e de interface, sendo incorporadas nos estágios inicias do PDP. Enquanto à proposta da avaliação ergonômica se pode concluir que, a cons- cientização de estar lidando com uma situação dinâmica e complexa pode sugerir de início a busca por procedimentos mais completos e que de uma forma ou outra, permitam a captação sistemática e estatística dos aspectos subjetivos, presentes nos usuários. Por outro lado, não existe nenhum empecilho na transposição de aborda- gens sistêmicas, vindas da ergonomia e incorporadas em algumas etapas do PDP. Isto fica reforçado pelo fato que a consolidação dos requisitos no projeto informacional tem adquirido progressivamente sua real importância na consolidação do sucesso de novos produtos. Como foi evidenciado no estudo de caso apresentado, é necessária a definição do problema, para poder buscar subsídios que deverão ser adequados as necessidades requeridas pelo projeto em desenvolvimento. Não se pode assumir que existirá um método pronto que atenda o detalhamento diversificado, demandado por cada projeto. Inclusive, os procedimentos adotados não deveriam ser repetidos, por tanto, sempre atualizados e adequados segundo a nova demanda proposta. Nes- se ponto surge outro aspecto relevante, que diz respeito ao campo de realização dos testes de usabilidade. O estado da arte e da tecnologia, tem permitido modelar am- biências próximas das reais, nas quais os modelos matemáticos simulam condições diversas de uso para os produtos sob desenvolvimento. Este avanço tem propiciado economias diversas no PDP. Porém, como foi percebido ao longo da pesquisa, a úni- ca forma em que se poderá aproximar dos 100% da interface eficaz, é através de uma análise de usabilidade em condições reais. Finalmente, o objetivo proposta para a presente pesquisa foi atingido ao cons- tatar a existência de evidências sobre a viabilidade da transposição de informações geradas pela abordagem ergonômica, e que podem ser consideradas válidas para a elaboração de requisitos de projetos. Procedimento válido, porque no entendimen- to dos resultados obtidos nos ensaios práticos, foi possível "traduzir" as atividades exercidas como o processo de usabilidade, assim como a reformulação das tarefas em requisitos de projeto. Assim, um enfoque mais humanizado, porém objetivo e que complemente aqueles que priorizam a eficiência funcional dos sistemas, trará benefício na consolidação mais certeira da arquitetura do produto, pretendida pelas demandas explícitas e implícitas do seu futuro usuário.
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