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GESTAO SOCIAL (AULAS 1 A 10)

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GESTAO SOCIAL (AULA 01) 
Responsabilidade Social Corporativa (RSC) 
Segundo o Livro Verde da Comissão Europeia (2001), a responsabilidade social é um conceito, 
segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade 
mais justa e para um ambiente mais limpo. 
Com base nesse pressuposto, a gestão das empresas não pode, e/ou não deve, ser norteada 
apenas para o cumprimento de interesses dos proprietários das mesmas, mas também pelos 
de outros detentores de interesses. Veja alguns exemplos. 
Os trabalhadores, as comunidades locais, os clientes, os fornecedores, as autoridades públicas, 
os concorrentes e a sociedade em geral (os stakeholders, objeto da aula 2). 
Na verdade, o conceito de responsabilidade social deve ser entendido em dois níveis. 
Nível interno 
O nível interno relaciona-se com os colaboradores e, mais genericamente, a todas as partes 
interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar no alcance de 
seus resultados: clientes e fornecedores. 
Nível externo 
O nível externo tem em conta as consequências das ações de uma organização sobre os 
demais atores externos, como o meio ambiente, a comunidade, os sindicatos e o governo. 
No contexto da globalização e de mutação industrial em larga escala, emergiram novas 
preocupações e expectativas dos cidadãos, dos consumidores, das autoridades públicas e dos 
investidores. Os indivíduos e as instituições, como consumidores e/ou como investidores, 
adotam progressivamente critérios sociais nas suas decisões. 
Atualmente, os consumidores recorrem aos rótulos sociais e ecológicos para tomarem 
decisões de compra de produtos. 
Os danos causados ao ambiente por parte das atividade econômicas têm gerado preocupações 
Exemplos: As marés negras e fugas radioativas são dois exemplos de danos causados ao meio 
ambiente que são proveniente de atividades econômicas. 
 
Os meios de comunicação social e as modernas tecnologias da informação e da comunicação 
têm sujeitado a atividade empresarial e econômica a uma maior transparência. 
Daqui tem resultado um conhecimento mais rápido e mais profundo das ações empresariais – 
tanto as socialmente irresponsáveis (nefastas) como as que representam bons exemplos (e 
que, por isso, são passíveis de imitação) - com consequências notáveis na reputação e na 
imagem das empresas. 
 
 
A ideia de que as atividades empresariais afetam com suas práticas de negócios um número 
maior de interessados ficou evidenciada com a repercussão dos efeitos da Grande Depressão 
Americana dos anos 30, considerada a primeira crise econômica do sistema capitalista. 
A segunda crise ocorreu mais recentemente, em 2008, com o estouro da “bolha imobiliária” 
no mercado americano e que foi a responsável pela crise das economias de vários países da 
zona do Euro, entre eles: a Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. 
Historicamente, a primeira abordagem referente à Responsabilidade Social das grandes 
empresas que se tem registro, foi em 1899, quando o empresário A. Camigie, fundador do 
conglomerado U.S. Stell Corporation, um gigante mundial do aço, resolver aderir às práticas de 
Responsabilidade Social através do princípio da caridade e da custódia. 
Em 1919, a questão da ética, da responsabilidade e da discricionariedade dos dirigentes de 
empresas abertas veio a público com o julgamento do caso Dodge versus Ford, nos EUA, que 
tratava da competência de Henry Ford, presidente a acionista majoritário da empresa para 
tomar decisões que contrariavam interesses dos acionistas John e Horace Dodge. 
Foi somente nos anos 50 e 60 que começou a se repensar a ideia da Responsabilidade Social 
vigente e expandir seus horizontes nos Estados Unidos, a partir da guerra do Vietnã. 
Como efeito, uma nova concepção de Responsabilidade Social emergiu e pautou-se pelo 
reflexo dos objetivos e valores sociais. 
Houve o entendimento de que as companhias estão inseridas em ambiente complexo, onde 
suas atividades influenciam ou têm impacto sobre diversos agentes sociais, comunidade e 
sociedade. 
A nova moral das empresas passou por uma mudança, havendo um limite para o que 
produziam e vendiam, criando um novo paradigma da Responsabilidade Social pós-guerra do 
Vietnã. 
Porém, nesta época, a Responsabilidade Social encontrou muitas barreiras, através da figura 
dos fundamentalistas, que apoiavam a ideia de que as empresas devem somente realizar 
atividades que visam ao lucro dos acionistas. 
Na sociedade pós-capitalista, o conceito de Responsabilidade Social se amplia, instituindo uma 
nova visão que vai além da obrigação com os acionistas e passa também incluir outros grupos 
constituídos na sociedade. 
Assim como afirma Peter Druker, considerado um dos pilares do estudo da administração: “a 
empresa deve assumir responsabilidade por eventuais impactos causados para tudo e todos”. 
Porém, preocupar-se com a maximização do retorno aos acionistas, a razão de ser da empresa 
deve ser a maximização do bem-estar social. A continuidade da empresa, no longo prazo, 
passa a depender da capacidade da administração no atendimento aos anseios da sociedade, 
incluindo as expectativas de outros agentes, além de empregados, acionistas e governo, em 
seu plano de negócios. 
 
 
GESTAO SOCIAL (AULA 02) 
Teoria dos stakeholders e a responsabilidade social corporativa –(RSC) 
 
O primeiro estudioso a apresentar, de forma explícita e detalhada, a Teoria dos Stakeholders, 
foi R. Edward Freeman, professor de administração de negócios da Darden School da 
Universidade de Virgínia. Ele argumenta que, na tomada de decisão sobre alocação de 
recursos organizacionais, devem ser considerados os efeitos que essa alocação causará sobre 
os grupos de interesse que se relacionam com a organização, sejam grupos na própria 
organização ou exteriores à ela. 
De acordo com Bryson (2003), a simples definição de quem são realmente os stakeholders 
possui variações entre os autores, como exposto no quadro abaixo: 
 
 
 
 
 
A relação entre a teoria dos stakeholders e a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) é 
íntima, pois o conhecimento da primeira é fundamental para que se tenha uma compreensão 
clara da abrangência que a segunda vem tomando nas últimas décadas. 
Existem duas correntes de pensamento. A primeira diz que os gestores têm a função principal 
de elevar, tanto quanto possível, o retorno dos acionistas ou cotistas da empresa e deveriam 
atuar somente de acordo com as forças impessoais do mercado, que demandam eficiência e 
lucro, tudo transcorrendo em um ambiente de respeito aos ditames legais impostos pelos 
agentes sociais, fazendo esse pensamento parte da teoria do acionista. 
Já a segunda corrente de pensamento argumenta que os gestores exercem a função ética de 
respeitar os direitos coletivos e garantir o bem-estar entre todos os agentes afetados pela 
empresa, incluindo neste conjunto clientes, funcionários, fornecedores, proprietários, a 
comunidade em geral, como também os gestores, os quais estão a serviço desse amplo 
grupamento de partes interessadas. 
Em uma outra visão, alguns autores enxergam a Responsabilidade Social sob três óticas. 
A primeira refere-se ao exercício da gestão social interna, sendo o próprio cumprimento das 
obrigações sociais o que está previsto em lei. Este vai do pagamento de imposto até a 
colocação de chaminés em fábricas. O objetivo é aumentar a motivação, a satisfação e o 
comprometimento dos funcionários, contribuindo para incrementar a produtividade. Desta 
forma, torna a gestão social interna não um fim em si mesmo, mas transcende ao contemplar 
objetivos sociais mais amplos de mudança de cultura. 
A segunda ótica se refere à gestão social externa, envolvendo a sociedade, as comunidades e 
os consumidores em questões como preservação do meio ambiente, impactos 
socioeconômicos, políticos e cultural na sociedade, segurança e qualidade dos produtos.Por último, tem-se a terceira ótica, que aborda o exercício da gestão social cidadã, que 
extrapola a comunidade e se estende à sociedade como um todo. As empresas inserem-se 
socialmente na comunidade, cooperando para o desenvolvimento e fomentando projetos 
locais e regionais, mediante ações de filantropia, incentivo à geração de empregos e 
estabelecimento de parcerias com o Governo e outras entidades, além da promoção de 
campanhas de conscientização social e de cidadania. 
Na visão clássica, as empresas são vistas como entidades econômicas produtoras de bens e 
prestadoras de serviços que precisam vender para clientes cada vez mais exigentes, em um 
mercado de acirrada concorrência. 
Contudo, a visão contemporânea considera que as empresas têm um grande desafio por 
operarem em um ambiente marcado pela incerteza, pela inovação tecnológica e pelos novos 
paradigmas de gestão. 
Zilberstajn (2000) afirma que: “com a adoção de práticas de Responsabilidade Social, mesmo 
sob a ótica de maximização do lucro sem que a empresa obtenha ganhos econômicos diretos, 
os benefícios advirão com a elevação do capital reputacional da empresa, favorecendo, no 
longo prazo, a maior adesão dos consumidores aos seus produtos.”. 
O resultado aparece no incremento do lucro e, consequentemente, no aumento do valor de 
mercado da empresa, trazendo benefícios aos acionistas e investidores. 
Ademais, a crescente complexidade dos negócios, em decorrência da velocidade das inovações 
tecnológicas e da transição das nações para um mundo globalizado, desperta no empresariado 
e nos governos uma nova maneira de agir, obrigando-os a desenvolver formatos diferenciados 
para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. 
O mundo empresarial, portanto, enxerga na Responsabilidade Social uma fonte de estratégia 
inovadora, que contribui para promover a elevação dos lucros e impulsionar o seu 
crescimento. 
Nesse sentido, a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) fundamenta-se, portanto, em 
estratégias para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, 
de modo que a empresa garanta, além do lucro e da satisfação dos seus clientes, o bem-estar 
da sociedade, como também os valores que suas ações possam agregar aos negócios e à sua 
imagem reputacional. 
Uma referência no estudo da RSC, o Business for Social Responsibility Institute – BSRI 
(organização norte-americana, sem fins lucrativos, dedicada à divulgação de responsabilidade 
social nos negócios) relaciona a Responsabilidade Social Corporativa, em um sentido mais 
abrangente, à tomada de decisões nos negócios, tomando como base valores éticos que 
contemplem uma perspectiva de respeito e concordância a valores legais, comunidades, 
indivíduos e meio ambiente. 
Dentro desta visão, o BSRI focaliza as empresas socialmente responsáveis como aquelas que 
interagem, de forma harmônica, no ambiente de negócios no qual se inserem, desenvolvendo 
ações que permitem alcançar ou até mesmo superar expectativas éticas, legais e comerciais. 
No Brasil, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, fundado em 1998, por 
iniciativa de um grupo de empresários brasileiros, tem como função ajudar os empresários 
nacionais a compreender e incorporar o conceito de Responsabilidade Social no cotidiano de 
sua gestão, contribuindo para proliferação das ações socialmente responsáveis adotadas por 
um número cada vez maior de empresas. 
O conceito de Responsabilidade Social Empresarial vincula-se ao reconhecimento de que as 
tomadas de decisão e os resultados obtidos com suas atividades atingem um universo de 
agentes sociais muito mais vasto do que o expresso por sócios e acionistas, porquanto muitas 
das decisões e atividades dos negócios trazem consequências para a comunidade, para o meio 
ambiente e outros interesses da sociedade. 
 
 
 
VISÃO CLASSICA - As empresas são vistas como entidades econômicas produtoras de bens e 
prestadoras de serviços que precisam vender para clientes cada vez mais exigentes, em um 
mercado de acirrada concorrência. 
 
RESPONSABILIDADE SOCIAL- Tem como principal característica a coerência ética nas práticas e 
relações com seus diversos públicos, contribuindo para o desenvolvimento contínuo das 
pessoas, das comunidades e dos relacionamentos entre si e o meio ambiente. 
 
VISÃO CONTEMPORANEA -Considera que as empresas têm um grande desafio por operarem 
em um ambiente marcado pela incerteza, pela inovação tecnológica e pelos novos paradigmas 
de gestão. 
 
GESTAO SOCIAL (AULA 03) 
 
CONCEITO DE GESTÃO SOCIAL – DEFINIÇÃO E ORIGEM 
Conceito de Gestão Social – Introdução 
O tema gestão social tem sido cada vez mais utilizado nos últimos anos para acentuar a 
importância das questões sociais para os sistemas-governos (primeiro setor), principalmente 
na implementação das políticas públicas, assim como dos sistemas-empresa (segundo setor) 
no gerenciamento dos seus negócios. 
Conceito de Gestão Social – Definição 
Gestão Social pode ser entendida como “uma alternativa de intervenção e transformação 
social, coletiva e sustentável. Sendo um processo gerencial dialógico, onde a autoridade 
decisória é compartilhada entre os participantes da ação”. 
Ela tem encontrado suas práticas sociais nos diferentes atores, não apenas governamentais, 
mas de ONGs, associações, fundações, assim como algumas iniciativas do setor privado que se 
exprimem nas noções de responsabilidade social da empresa. A Gestão Social tem se mostrado 
uma forma de relação entre Estado e sociedade no enfrentamento das problemáticas mais 
contemporâneas. 
O adjetivo ‘social’ qualificando o substantivo ‘gestão’ deve ser entendido como o espaço 
privilegiado de relações sociais no qual... ... todos têm o direito à fala, sem nenhum tipo de 
coação. 
Desta forma, a gestão social é uma gestão realizada pela sociedade (coletiva) e para a 
sociedade. Nesse sentido, a Gestão Social se conceitua como sendo a construção de diversos 
espaços para a interação social. 
Trata-se de um processo que é desenvolvido em uma determinada comunidade e que se 
baseia na aprendizagem coletiva, contínua e aberta para a concepção e a execução de projetos 
que respondam às demandas do espaço social. Sua implementação implica o diálogo entre os 
diversos atores/intervenientes, como os governantes, as empresas, as organizações civis e 
os cidadãos. 
Por isso, a necessidade de um novo conceito para traduzir o espaço de interação da gestão 
social. A este dá-se o nome de cidadania deliberativa que significa, em linhas gerais: “que a 
legitimidade das decisões deve ter origem em processos de discussão orientados pelos 
princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem 
comum". 
Sob essa perspectiva, a esfera pública seria o espaço de intermediação entre Estado, sociedade 
e mercado, bem como a Cidadania Deliberativa seria o processo participativo de deliberação 
baseado essencialmente no entendimento (e não no convencimento ou negociação) entre as 
partes e conforme escreve Tenório (2008):"[...] o procedimento da prática da cidadania 
deliberativa na Esfera Pública é a participação". 
Em resumo, a Gestão Social pode ser entendida como a tomada de decisão coletiva, sem 
coerção, baseada na inteligibilidade da linguagem, na dialogicidade e no entendimento 
esclarecido como processo, na transparência como pressuposto e na emancipação como fim 
último. 
De uma forma mais prática, pode-se entender gestão social como a maneira de gerir assuntos 
públicos, baseando-se em participação, maior fluidez de informações, e buscando estabelecer 
formas de articulação social entre os diversos agentes locais, públicos e privados, de forma a 
compartilhar o poder e as responsabilidades com todos. 
A Origem do Conceito 
O conceito de Gestão Social em âmbito mundial começa a ganhar corpo no início da década de 
50 com o Estado de bem-estar social ou welfarestate, ou seja, quando o Estado assume um 
papel ativo de movimentar a agenda do desenvolvimento econômico e social. 
Exemplos marcantes estão relacionados com a reconstrução da Europa após a segunda guerra 
mundial, ampliando o papel do Estado não somente como garantidor do desenvolvimento, 
mas como provedor de benefícios sociais que até então não eram cogitados para serem 
adotados pela dinâmica das economias de mercado nos países desenvolvidos e sendo 
copiados pelos países em via de desenvolvimento, como o caso do Brasil. 
Mas foi em face das mudanças econômicas e administrativas ocorridas na década de 1990 que 
a gestão social ganhou força, “surgiu” e se “estabeleceu”, na prática, contribuindo para mudar 
fortemente o papel das ONGs, deslocando-as da posição basicamente política e de 
interlocutoras da sociedade, para a de “parceiras do Estado” na execução das políticas 
públicas. 
 
Evolução do Conceito 
A expressão ‘gestão social’ tem sido usada de modo corrente nos últimos anos, servindo para 
identificar as mais variadas práticas sociais de diferentes atores não apenas governamentais, 
mas sobretudo de organizações não governamentais, associações, fundações, assim como, 
mais recentemente, algumas iniciativas partindo mesmo do setor privado e que se exprimem 
nas noções de cidadania corporativa ou de responsabilidade social da empresa. 
Vários autores vêm falando sobre o tema, capturando uma dimensão diferente do termo, mas 
sempre elevando o seu status na direção da necessidade da construção da cidadania, que 
pressupõe maior participação nos processos de tomada de decisão, favorecendo os sujeitos do 
processo. 
Opiniões sobre o termo Gestão Social 
Como já havíamos dito, vários autores vêm falando sobre o tema, capturando uma dimensão 
diferente do termo, mas sempre elevando o seu status na direção da necessidade da 
construção da cidadania, que pressupõe maior participação nos processos de tomada de 
decisão, favorecendo os sujeitos do processo. 
 A seguir destacamos algumas opiniões: 
 1) Singer (1999) afirma que Gestão Social diz respeito às ações que intervêm nas diferentes 
áreas da vida social para a satisfação das necessidades da população. Ele propõe que a Gestão 
Social seja viabilizada através de políticas e práticas sociais articuladas e articuladoras das 
diversas demandas; 
2) Tânia Fischer (2002) aborda a Gestão Social como um ato relacional que se estabelece entre 
pessoas, em espaços e tempos relativamente delimitados, objetivando realizações e 
expressando interesses de indivíduos, grupos e coletividade; 
3) Para Fischer et al. (2006), a Gestão Social pode ser praticada tanto no âmbito público 
quanto privado, tendo como objetivo fundamental o desenvolvimento social, seja em nível 
micro ou macro, uma vez que a gestão sempre se orienta para a mudança e para o 
desenvolvimento; 
 4) Para Allebrandt (2006), a Gestão Social se funda, assim, na democratização das relações 
sociais, na construção da cidadania. Propõe a substituição do enfoque estadocêntrico e/ou 
mercadocêntrico, em que a sociedade civil aparece como alvo e/ou cliente, por um enfoque 
sociocêntrico, onde a sociedade civil aparece como sujeito do processo. Isso requer a 
construção de um novo triângulo social, no qual a sociedade civil passa a ocupar uma posição 
de destaque, em que a cidadania emerge como protagonista no processo dessas novas 
relações. 
 A Gestão Pública, a Gestão do Desenvolvimento e o Terceiro Setor constituem-se em locus 
privilegiado, em espaço público para a prática da Gestão Social. Entretanto, é necessário o 
alerta para não submeter esta prática à lógica do mercado. 
 
Como se pode concluir pela abordagem dos autores, todos destacam a importância da atitude 
deliberativa na construção da cidadania, pois ela valoriza a participação que, de fato, contribui 
para o desenvolvimento econômico e social, gerando maiores benefícios para aqueles que 
participam ativamente do processo e muitas das vezes não se fazem presente, quando se trata 
de auferir os benefícios das decisões tomadas. Por isso, a importância da construção 
democrática e coletiva das decisões. 
Diferenças de Conceito 
 
Tenório e Saraiva (2006) ressaltam que na maioria das vezes, a gestão social é entendida como 
gestão de políticas públicas e/ou programas sociais. Na verdade, o termo ainda tem sido 
objeto de estudo e prática muito mais associado à gestão de políticas sociais, de organizações 
do Terceiro Setor, de combate à pobreza e até ambiental, do que à discussão e possibilidade 
de uma gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas públicas, quer 
naquelas relações de caráter produtivo que deve ser a essência da gestão social. 
Já, segundo Gomes (2008, p. 59), "[...] pensar em Gestão Social é pensar além da gestão de 
políticas públicas. É pensar em estabelecer as articulações entre ações de intervenção e de 
transformação do campo social, que é uma noção mais ampla, e que não se restringe à esfera 
público-governamental, como vemos a exemplos das ações de responsabilidade social e do 
crescimento do Terceiro Setor". 
Para Botrel, Araújo e Pereira (2010), a Gestão Social se desenvolve no âmbito da esfera 
pública, na qual se sobressaem as organizações públicas não estatais e o interesse público da 
sociedade, além de proporcionar condições à emancipação dos indivíduos, baseando-se na 
democracia deliberativa, na formação da consciência crítica de seres humanos dotados de 
razão. 
Por outro lado, o que se percebe é que a Gestão Social tem se consolidado como prática, sem 
ainda o consenso sobre o conceito. Temos que a Gestão Social parece constituir nos últimos 
anos um daqueles termos que tem conquistado uma visibilidade cada vez maior, tanto do 
ponto de vista acadêmico quanto nas mídias. Bom por um lado, pois tem curso a sua 
disseminação, mas por outro, acaba ocorrendo uma espécie de banalização, pois tudo que não 
é gestão tradicional passa então a ser visto como gestão social. 
No Brasil, o social tem alargado seu espectro de expressão e organização desde a 
década de 90. A democratização do Estado Brasileiro apontou os direitos sociais como 
garantias para a cidadania - que está fortemente impregnado na Constituição Federal de 1988 
- ampliando assim a implementação de políticas e programas sociais setoriais e por segmentos 
populacionais. 
 O resultado, em termos práticos, foi a constituição de estruturas nos governos 
municipais, estaduais e federal para o planejamento, monitoramento, avaliação e gestão 
dessas políticas e programas sociais. Ao mesmo tempo que multiplicaram, também, as 
organizações da sociedade civil para a realização das ações e projetos sociais. 
Podemos resumir o que foi abordado nesta aula da seguinte forma: 
“Gestão Social é um processo que para ser implementado, requer uma aprendizagem 
conjunta, democrática, participativa e contínua dos grupos sociais, na construção de um 
espaço de relação social e criação de vínculos de relacionamento institucional, que lhes 
permitam pronunciar-se sobre a concepção e monitoramento da execução das políticas 
públicas, para que, de fato, os benefícios sejam efetivos para todos os participantes que 
formam a sociedade”. 
Na prática, veremos que gestão social corresponde ao modo de gestão próprio das 
organizações que atuam em um espaço que não é originariamente aquele do mercado e/ou do 
Estado, muito embora existam relações dessas organizações com instituições privadas e 
públicas, através de variadas formas de parcerias para a consecução de projetos. Por isso diz-
se que este é o espaço próprio da chamada sociedade civil, portanto, uma esfera pública de 
ação que não é estatal. 
Nesta aula, você: 
 Compreendeu que a gestão social pode ser entendida como uma alternativa de 
intervenção e transformação social, coletiva e sustentável, sendo um processo 
gerencial dialógico, onde a autoridade decisória é compartilhadaentre os 
participantes da ação; 
 entendeu que a gestão social tem se mostrado uma forma de aumentar a 
produtividade social da relação entre Estado e sociedade, no enfrentamento das 
problemáticas originárias da vida contemporânea; 
 teve conhecimento do novo conceito de cidadania deliberativa, que pressupõe 
que a legitimidade das decisões deve ser baseada no pluralismo e na igualdade 
participativa. 
 
 
GESTAO SOCIAL (AULA 04) 
Conceito de gestão social – objetivo e aplicação 
 
O objetivo da Gestão Social é o desenvolvimento socialmente justo e 
ecologicamente equilibrado. Seu estudo e sua prática estão associados às 
políticas sociais e ambientais, as ONGs, aos movimentos sociais, ao 
combate à pobreza, ao desenvolvimento territorial e à possibilidade de 
uma gestão democrática, participativa, na formulação de políticas públicas 
ou projetos sociais sustentáveis. 
Determinada pela solidariedade, a Gestão Social é, portanto, um processo 
que deve primar pela concordância, onde o outro deve ser incluído e a 
cooperação deve ser o seu motivo. 
Por essa razão, constitui o modo de gestão próprio às organizações que 
atuam num circuito que não é originariamente aquele do mercado e/ou 
do Estado, muito embora estas organizações desenvolvam, em grande 
parte dos casos, relações com instituições privadas e públicas, através de 
variadas formas de parcerias para implementação dos projetos. Este é o 
espaço próprio da chamada sociedade civil, portanto, uma esfera pública 
de ação que não é estatal. 
E para dar um sentido bem preciso ao campo de ação da Gestão Social, o 
professor Tenório, em um de seus estudos (2006), escreve: 
“o conceito de Gestão Social não deve estar atrelado às especificidades de 
políticas públicas direcionadas a questões de carência social ou de gestão 
de organizações do denominado Terceiro Setor, mas, também, a 
identificá-lo como uma possibilidade de gestão democrática, onde o 
imperativo não é apenas o eleitor e/ou contribuinte, mas sim o cidadão 
deliberativo; não é só a economia de mercado, mas também a economia 
social; não é o cálculo utilitário, mas o consenso solidário; 
Como o assunto é novo, outros autores desenvolvem suas análises em 
outras direções. De um lado, essas contribuições têm ampliado o próprio 
sentido da Gestão Social, enquanto, de outro, tem provocado confusão no 
entendimento do conceito, pois estreitam a dimensão que a Gestão Social 
tem em seu campo de atuação. A questão básica é que na maioria das 
vezes, a Gestão Social é entendida como gestão de políticas públicas e/ou 
programas sociais. 
Pensar em Gestão Social é ir além da gestão de políticas públicas. É pensar 
em estabelecer as articulações entre ações de intervenção e de 
transformação do campo social, que é uma noção mais ampla, e que não 
se restringe à esfera público-governamental, como vemos a exemplos das 
ações de responsabilidade social e do crescimento do Terceiro Setor. 
Outro ponto importante é que, diante das experiências práticas, a Gestão 
Social tem sido mais associada à gestão de políticas sociais ou até 
ambientais, do que à discussão e possibilidade de uma gestão 
democrática, participativa, quer na formulação de políticas públicas, quer 
nas relações de caráter produtivo. 
O resultado nesse sentido tem sido contribuir com mais confusão, do que 
propriamente com a consolidação de uma modalidade de gestão onde as 
principais características são o diálogo, a participação, o convencimento e 
a tomada de decisão coletiva. 
Nesse sentido, a Gestão Social tem como objetivo a construção de 
diversos espaços para a interação social. 
É um processo desenvolvido numa determinada comunidade e deve se 
basear na aprendizagem coletiva, contínua e aberta para a concepção e a 
execução de projetos que respondam às demandas do espaço social. 
Sua implementação implica o diálogo entre os diversos 
atores/intervenientes, como os governantes, as empresas, as 
organizações civis e os cidadãos. 
Por isto que a dinâmica do processo requer uma aprendizagem conjunta e 
contínua para os grupos sociais, que lhes permita pronunciar-se sobre a 
concepção das políticas públicas. Em suma, trata-se da construção de um 
espaço de relação social e vínculos de relacionamento institucional, que se 
consegue através de um conjunto de ações. 
Em resumo, podemos dizer que a Gestão Social representa, por assim 
dizer, um intermediário através do qual a comunidade atua com 
espírito empreendedor para promover mudanças sociais. Nesse sentido, é 
necessário reforçar os laços comunitários e trabalhar em prol da 
recuperação da identidade cultural e dos valores coletivos da sociedade 
em questão. A pessoa com capacidade de coordenação e 
de negociação tanto dentro da sua própria organização como fora da 
mesma dá-se-lhe o nome de Gestor Social. 
Aplicação 
Como exemplo de aplicação do conceito da Gestão Social, trazemos aqui o 
case da Central Única de Favelas (CUFA), uma organização sólida, 
reconhecida nacionalmente pelas esferas políticas, sociais, esportivas e 
culturais. Ela foi criada a partir da união entre jovens de várias favelas do 
Rio de Janeiro – principalmente negros – que buscavam espaços para 
expressarem suas atitudes, questionamentos ou simplesmente sua 
vontade de viver. 
Falando um pouco mais sobre o que foi a origem da CUFA, o Hip Hop 
acabou por se tornar a principal forma de expressão da entidade. Além 
disso, serve como ferramenta de integração e inclusão social por ser capaz 
de mobilizar e “estar em sintonia” com os anseios e linguagem desses 
jovens. 
Outro instrumento que acabou sendo abraçado pela CUFA e que 
contribuiu para dar uma organicidade, tipicamente de entidade que se 
move dentro dos princípios da gestão social, é o basquete de rua. Este 
esporte é praticado fora das quadras e ginásios convencionais, o que o 
torna uma atividade democrática e cada vez mais procurada por 
adolescentes e jovens. Contendo lances de extrema plasticidade e 
habilidade, esta modalidade esportiva oportuniza o antagonismo de 
adolescentes e jovens de periferia diante da sociedade como um todo. 
Atualmente, a CUFA expandiu as suas áreas da atuação, ampliando com 
cursos e oficinas de DJ, gastronomia, audiovisual, teatro, produção 
cultural e muitas outras. São diversas ações promovidas nos campos da 
educação, esporte, cultura e cidadania, com mão de obra própria. 
Um aspecto importante do modelo de organização adotado pela 
CUFA, que é uma característica da aplicação da Gestão Social, é que a 
formação da equipe é composta, em grande parte, por jovens formados 
nas oficinas de capacitação e profissionalização das bases da instituição e 
oriundos das camadas menos favorecidas da sociedade. 
Desta forma, aumenta a legitimidade de suas ações perante a 
comunidade e a sociedade, já que são, na sua maioria, formada por 
moradores de comunidades carentes. 
Como podemos ver, a CUFA é um exemplo de Gestão Social 
Empreendedora, um caso de aplicação de resgate de jovens moradores 
das periferias pobres, que começam a se tornar cidadãos com acesso a 
cursos de capacitação que podem mudar, de fato, a sua vida. O passo 
seguinte é o engajamento desses agora profissionais na participação e 
construção da cidadania deliberativa. Ultrapassando os limites da CUFA e 
discutindo com potenciais parceiros públicos e privados, mais projetos 
que podem contribuir para melhorar, em definitivo, a realidade desses 
jovens. 
Para finalizar, o último projeto de impacto da CUFA que contou com 
um empresário de shopping, mas se constitui um empreendedor social, é 
a construção do Favela Shopping, que está em curso no Morro do Alemão 
– favela pacificada pela Unidade de Política Pacificadora (UPP) lá instalada. 
Esta, ao ser implantada, contribuiu para a restauração do clima de 
segurança pública, levando, como resultado, a ampliação de novas 
oportunidades de novos empreendimento sociais, ondese alia a eficiência 
econômica com a eficiência social. 
 
GESTAO SOCIAL (AULA 05) 
A importância da gestão social na cidadania e no desenvolvimento 
 
Soluções Individuais e Soluções Sociais 
 
É interessante colocar a seguinte questão: 
Por que razão, com décadas de discurso antiestado, e com as grandes 
vitórias liberais, o Estado continuou aumentando? E aumentou na fase 
Thatcher na Inglaterra, na fase Reagan e Bush nos Estados Unidos, quando 
o discurso liberal que preconiza a redução do Estado, estava no cerne dos 
discursos políticos? 
A realidade é que o Estado aumentou porque cresceu 
consideravelmente a demanda por bens públicos. Ainda que seja muito 
óbvio, é necessário lembrar que a problemática social mudou 
radicalmente com a urbanização. 
Uma família no campo resolve os seus problemas individualmente, seja no 
caso do lixo, da água, do transporte ou outro. 
Na cidade, a residência só é viável quando integrada na rede de energia 
elétrica, telefonia, água, esgoto, calçamento, redes de ruas e assim por 
diante. 
A urbanização também mudou a forma de organização da solidariedade 
social. 
Na família ampla do mundo rural, as crianças e os idosos, ou um eventual 
deficiente, eram sustentados pela parte ativa da família. Assim, a 
redistribuição necessária entre a fase na qual o indivíduo é ativo e as fases 
não ativas se fazia através da solidariedade da família. 
Com a urbanização, o conceito de família no sentido tradicional se 
modifica, rompendo o sistema. 
Com as novas tecnologias, os miniapartamentos e a atomização 
social, a própria família nuclear se desintegra. 
Nos Estados Unidos, apenas 26% dos domicílios, no início dos anos 90, 
tinham pai, mãe e filho, ou seja, uma família. 
No caso brasileiro, o processo é dramático, pois nos urbanizamos em 
apenas três décadas, criamos cidades e, sobretudo, periferias sem 
infraestruturas, sem escolas, sem saneamento, sem segurança. Perdeu-se 
o pouco que havia de redes tradicionais e ainda estão nas fraldas os 
sistemas modernos de solidariedade pública. Discutimos amplamente os 
possíveis defeitos do Estado de Bem-Estar quando sequer chegamos a 
desenvolvê-lo. 
Chegamos assim a alguns pensamentos absurdos defendidos pelos liberais 
mais ortodoxos, sobre se o princípio de ajuda pública aos vulneráveis da 
sociedade não constituiria por acaso um certo paternalismo - pecado 
mortal na visão de pessoas ricas - enquanto crianças inocentes morrem de 
fome e de causas ridículas, e a sociedade explode com desemprego, 
criminalidade, corrupção generalizada. 
Outra tendência que muda o contexto são as novas tecnologias que 
constituem, junto com a urbanização, os dois eixos fundamentais de 
transformação da gestão social. 
Curiosamente, sentimos a tecnologia como ameaça. Em vez de 
aproveitarmos a oportunidade que ela oferece de fazer mais coisas com 
menos esforços, geramos o pânico do desemprego, e em vez de organizar 
a redistribuição do trabalho, aderimos com entusiasmo à nova indústria 
de bens e serviços de segurança, de condomínios fechados. 
O fato de existirem robôs nas empresas automobilísticas não significa que 
deixamos de ter 20 milhões de pessoas que ainda trabalham no campo, 
dezenas de milhões de trabalhadores sem carteira assinada, outros tantos 
em atividades precárias e informais, e um crescente contingente em 
atividades ilegais. 
Podemos imaginar no futuro uma sociedade em rede, crianças com 
computadores no bolso, a explosão do lazer. E o que construímos no país 
realmente existente são as fortalezas isoladas nos condomínios, enquanto 
a sociedade degenera gradualmente para a barbárie. É o que um 
americano chamou apropriadamente de "slow motion catastrophy" 
(catástrofe em câmara lenta). 
Reflexão 
Sonhos à parte, portanto, o desafio que temos pela frente, em termos de 
gestão social, é a construção de uma transição ordenada, minimamente 
viável em termos políticos, sociais e econômicos, para o admirável mundo 
novo que se delineia no horizonte. As pessoas frequentemente esquecem 
que a transição para a era industrial jogou milhões de pessoas no 
desemprego e no desespero, provocando gigantescas migrações, nos 
Estados Unidos ou no Brasil, ou em outros países. Repetir esse drama em 
escala planetária, com bilhões de pessoas excluídas do processo de 
transformação, neste pequeno e exausto planeta, levaria a tragédias 
insustentáveis. É fácil, sem dúvida, dizer que no futuro outros empregos 
virão substituir os que perdemos, e que outras formas de organização 
virão resolver os problemas. O que gostaríamos, naturalmente, é de 
sobreviver até lá. Articular o social com o realismo, flexibilidade e 
eficiência, e não mais com ideologias do século passado, tornou-se 
imperativo para as nossas sociedades. 
Uma Área à Procura do seu Paradigma Organizacional 
As áreas sociais adquiriram essa importância apenas nos últimos 
anos. Ainda não se formou realmente uma cultura setorial. E a grande 
realidade é que não sabemos como gerir essas novas áreas, pois os 
instrumentos de gestão correspondentes ainda estão engatinhando. 
 Os paradigmas de gestão que herdamos - basta folhear qualquer 
revista de administração - têm sólidas raízes industriais. Só se fala em 
taylorismo, fordismo, toyotismo, just-in-time e assim por diante. 
 Em termos práticos, sabemos que quando se ultrapassa 5 ou 6 
níveis hierárquicos, os dirigentes vivem na ilusão de que alguém lá em 
baixo da hierarquia executa efetivamente os seus desejos, enquanto na 
base se imagina que alguém está realmente no comando. A agilidade e 
flexibilidade que exigem situações sociais muito diferenciadas não podem 
mais depender de intermináveis hierarquias estatais que paralisam as 
decisões e esgotam os recursos. 
Na realidade, os paradigmas da gestão social ainda estão por ser definidos 
ou construídos. É uma gigantesca área em termos econômicos, de 
primeira importância em termos políticos e sociais, mas com pontos de 
referência organizacionais ainda em elaboração. 
 
 
 
 
O mundo do lucro há tempos descobriu a nova mina de ouro que o social 
representa. Que pessoa recusará gastar todo o seu dinheiro, se precisa 
salvar um filho? E que informação alternativa tem o paciente, se o médico 
lhe recomenda um tratamento? 
 
Nos Estados Unidos, um hospital está sendo processado porque pagava 
100 dólares a qualquer médico que encaminhasse um paciente aos seus 
serviços. 
Paciente é mercadoria? A Nature mostra como dezenas de pesquisadores 
publicavam como cartas pessoais em revistas científicas opiniões 
favoráveis ao fumo: descobriu-se que receberam em média dez mil 
dólares das empresas de cigarros. Um cientista se defende, dizendo que 
esta é a sua opinião sincera, e porque não fazê-la render? Para regular a 
cultura, basta a cultura do dinheiro? 
Empresas hoje fornecem softwares educacionais para escolas, com 
publicidade já embutida, martelando a cabeça das crianças dentro da sala 
de aula. A televisão submete as nossas crianças (e nós) ao circo de quarta 
categoria que são os ratinhos de diversos tipos, explicando que está 
apenas seguindo as tendências do mercado, dando ao povo o que o povo 
gosta. 
No Brasil, a excessiva rigidez das tradicionais estruturas 
centralizadas de Estado e a trágica inadequação do setor privado na 
gestão do social têm levado a uma situação cada vez mais caótica. 
 Uma avaliação recente não deixa dúvidas quanto à origem 
essencialmente institucional do estado caótico das políticas sociais no 
Brasil. Uma avaliação recente não deixa dúvidas quanto à origem 
essencialmente institucional do estado caótico das políticas sociais no 
Brasil. 
 
 
 
GESTAO SOCIAL (AULA 06) 
O social: Um poderoso espaço de construção das decisões coletivas 
 
O social: um espaço de construção das decisões coletivas 
 Um caminho renovado vem sendo construído através de 
parcerias envolvendo o setor estatal,organizações não governamentais e 
empresas privadas. Surgem com força conceitos como responsabilidade 
social e ambiental do setor privado. O chamado Terceiro Setor aparece 
como uma alternativa de organização que pode, ao se articular com o 
Estado e assegurar a participação cidadã, trazer respostas inovadoras. 
 As empresas privadas... 
Onde funciona, por exemplo, no Canadá ou nos países escandinavos, a 
área social é gerida como bem público, de forma descentralizada e 
intensamente participativa. 
 A razão é simples: o cidadão associado à gestão da saúde do 
seu bairro está interessado em não ficar doente e está consciente de que 
se trata da sua vida. Um pai, associado à gestão da escola do seu bairro, 
não vai brincar com futuro dos seus filhos. 
 Outro eixo renovador surge com as políticas municipais, o 
chamado desenvolvimento local. A urbanização permite articular o social, 
o político e o econômico em políticas integradas e coerentes, a partir de 
ações de escala local, viabilizando - mas não garantindo, e isto é 
importante para entender o embate político - a participação direta do 
cidadão e a articulação dos parceiros. 
 O surgimento de políticas inovadoras nesta área é muito 
impressionante. Peter Spink e um grupo de pesquisadores na Fundação 
Getúlio Vargas em São Paulo têm hoje um banco de 640 descrições de 
experiências exitosas. 
A Secretaria de Assuntos Institucionais do Partido dos Trabalhadores tem 
um banco de dados com algumas centenas de experiências. A Pólis publica 
excelentes resumos no quadro das Dicas Municipais. A Fundação Abrinq 
está ajudando a dinamizar um conjunto de atividades no quadro do 
movimento Prefeito-Criança. 
 
A quantidade de projetos citadas indica que houve uma aceleração das 
iniciativas locais que está transformando o contexto político da Gestão 
Social. 
O cruzamento entre a gestão social e a descentralização política 
oferece, portanto, perspectivas particularmente interessantes. 
 Uma vantagem muito significativa das políticas locais é o fato de 
poderem integrar os diferentes setores e articular os diversos atores. Um 
ponto de referência prático para esta visão pode ser encontrado nas 
atividades da Câmara Regional do Grande ABC, onde 7 municípios se 
articularam para dinamizar as atividades locais da indústria de plásticos: a 
formação dos trabalhadores é coordenada pelo sindicato dos químicos, 
em parceria com as empresas, Senai, Sebrae, empresas, faculdades e 
colégios locais, com apoio financeiro do FAT e outros que se articularam 
no processo. 
 Programas de alfabetização, como o Mova, e de formação de 
jovens e adultos, como o Seja, criam um processo mais amplo de 
mobilização. O IPT aderiu ao projeto criando um sistema móvel de apoio 
tecnológico à pequena e média empresa (projeto Prumo). A Unicamp 
participou com a realização de um diagnóstico do setor plástico regional, e 
as pequenas e médias empresas se articulam por meio de reuniões 
periódicas da região. 
 O conjunto das iniciativas, estas e outras, encontram a sua lógica 
e coerência através da Câmara Regional que reúne as administrações 
municipais da região, além de representantes de outras instâncias do 
governo e da sociedade civil. As diferenças do espectro político das 
prefeituras da região não impediram a articulação desta rede onde as 
diversas iniciativas - educação, emprego, renda, produção - se tornam 
sinérgicas em vez de dispersivas. 
Não há fórmula universal na área social. Como demonstra a riqueza do 
projeto médico de família, por exemplo, a dimensão diferenciada de 
relações humanas é fundamental nas políticas sociais. Uma das mais 
significativas riquezas do desenvolvimento local resulta, justamente, do 
fato de se poder adequar as ações às condições extremamente 
diferenciadas que as populações enfrentam. 
 Isto não implica, naturalmente, que as políticas sociais possam 
se resumir à ação local, às parcerias com o setor privado e à dinâmica do 
Terceiro Setor. A reformulação atinge diretamente a forma como está 
concebida a política nacional nas diversas áreas de gestão social, 
colocando em questão a presente hierarquização das esferas de governo, 
e nos obriga a repensar o processo de domínio das macroestruturas 
privadas que dominam a indústria da saúde, os meios de informação, os 
instrumentos de cultura. 
 As tendências recentes da gestão social nos obrigam a 
repensar formas de organização social, a redefinir a relação entre o 
político, o econômico e o social, a desenvolver pesquisas cruzando as 
diversas disciplinas, a escutar de forma sistemática os atores estatais, 
empresariais e comunitários. Trata-se hoje, realmente, de um universo em 
construção. 
 Mais uma vez, não se trata aqui de redescobrir coisas óbvias, mas 
devemos nos colocar uma pergunta elementar: se as atividades da área 
social estão se tornando o setor mais importante, que tipo de relações 
sociais de produção o seu surgimento traz no seu bojo? Seguramente, 
serão diferentes das que foram geradas com o desenvolvimento 
industrial. Apontam para uma sociedade mais horizontalizada, mais 
participativa, mais organizada em rede do que as tradicionais pirâmides de 
autoridade ou podem ainda gerar um tipo de capitalismo de pedágio 
centrado na indústria da doença, na indústria do diploma, na manipulação 
cultural através da publicidade e do controle. 
 
 
A Agenda Social e o Programa Bolsa Família (PBF) 
A Agenda Social tem como objetivo a redução das desigualdades 
sociais, a ampliação dos direitos de cidadania, a prioridade para a 
juventude, a promoção da cultura, a melhoria da qualidade da educação, 
da saúde e da segurança pública. Para tanto, articulam-se ações entre 
órgãos executores de políticas nos âmbitos federal, estadual, municipal e 
distrital e entre governo e sociedade civil. 
No país, os efeitos da última crise econômica foram menores em 
comparação com outros países, desenvolvidos ou em desenvolvimento. 
Isso se deve às boas condições macroeconômicas e às políticas sociais 
que, dentre outros fatores, garantiram robustez ao mercado interno e 
aumentaram nossa capacidade de retomada de crescimento. Prova disso 
é que estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica 
que a pobreza no Brasil segue em queda, apesar da crise internacional. 
O processo de desconcentração da renda no Brasil tem sido 
bastante positivo. De 2001 a 2008, a renda familiar per capita de toda a 
população cresceu, sendo que entre os mais pobres a evolução foi mais 
acelerada, de acordo com os gráficos a seguir apresentados. Enquanto a 
renda per capita dos 10% mais pobres cresceu a um ritmo de 8,1% ao ano, 
três vezes mais que a média nacional (2,7%), a renda dos 10% mais ricos 
cresceu de forma mais lenta, alcançando 1,5% ao ano nesse período. 
 No ano de 2008, a taxa de crescimento na renda dos mais pobres 
foi a mais elevada entre todos os países do mundo. Simultaneamente, a 
taxa de crescimento na renda dos 10% mais ricos, embora menor que a de 
todos os demais décimos, foi superior ao que se observou em 85% dos 
demais países. 
 O resultado dessas ações contribuiu para que o Banco Mundial 
(Bird), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o 
governo do Brasil formalizassem um acordo mediante o qual se 
comprometem a promover, globalmente, os planos sociais que tiraram da 
pobreza cerca de 40 milhões de brasileiros. 
 
“Este acordo reconhece o Brasil como um líder global em redução da 
pobreza e da desigualdade e como um país do qual o mundo pode obter 
uma grande aprendizagem”, disse o presidente do BIRD, Jim Yong Kim, 
que lembrou que cerca de 25% da população mundial se encontra em 
níveis de pobreza moderados. 
O acordo chamado Iniciativa de Conhecimento e Inovação para a 
Redução da Pobreza permitirá a criação de um banco de dados no qual 
constarão os detalhes da experiência brasileira que será promovida pelo 
Bird e o Pnud,contando com assessoria técnica do governo da presidente 
Dilma Rousseff. 
Kim disse que os programas sociais brasileiros serviram como base 
para planos similares aplicados em diversos países do mundo, entre os 
quais citou os exemplos do Haiti, do Vietnã e da Nigéria e afirmou que 
esta iniciativa dará mais 'profundidade' à cooperação nessa área. 
 O representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek, considerou 
que o país se transformou em um “modelo mundial de desenvolvimento”. 
Segundo ele, o acordo permitirá que, no futuro, “milhões de pessoas em 
algum lugar do mundo melhorem suas vidas graças à experiência 
brasileira”. 
 
As bases dos programas aplicados no país se concentram no plano 
conhecido como 'Brasil sem Miséria', anunciado em 2011 por Dilma que 
reuniu e ampliou diferentes projetos de apoio aos mais pobres 
desenvolvidos desde o ano 2000. 
 
 
 
 
 
 
GESTAO SOCIAL (AULA 07) 
 
A gestão social no terceiro setor – a questão da ética na 
organizações 
Cada vez mais aumenta sobre as empresas a cobrança da sociedade por 
mais ética, transparência, participação, políticas efetivas de 
responsabilidade social, programas sociais efetivos, respeito aos 
colaboradores. As empresas estão sendo mais cobradas pelo resultado de 
suas ações sociais e ambientais. Não bastam que elas tenham o melhor 
resultado econômico, cumpram as leis, paguem salários e recolham os 
impostos, elas precisam também mostrar que estão comprometidas com 
a sustentabilidade por meio de ações concretas. 
 Desta forma, cabe sugerir às organizações que os resultados 
positivos na esfera profissional e empresarial dependem de decisões 
morais e éticas. Portanto, ter padrões éticos é o melhor caminho para a 
obtenção de bons negócios a curto e longo prazo. 
 Por oportuno, merece ser lembrada uma das maiores 
autoridades mundiais em ética empresarial, professora Laura Nash, da 
Harvard Business School, quando diz que a rapidez das mudanças nos 
negócios, o surgimento de novas tecnologias e a rapidez como as 
informações circulam estão fazendo com que os empresários se 
preocupem cada vez mais com as questões éticas. Pois, nos Estados 
Unidos, essa preocupação já está presente em 95% das organizações, que 
criaram seus próprios códigos de ética, como forma de preservar suas 
imagens. 
A Articulação do Social e do Produtivo 
 
Os mercados mundiais vivem a era dos serviços. Mas muitas das vezes 
essa conceituação tende, por sua generalidade, num primeiro momento, 
confundir mais do que ajudar. Vejamos o exemplo: a agricultura nos EUA 
ocupa 2,5% da mão de obra. Tal avaliação é possível porque reduzimos a 
atividade agrícola à lavra da terra. A atividade agrícola atual se apoia em 
serviços de análise de solos, em serviços de inseminação artificial, em 
serviços de calagem, serviços de silagem, serviços meteorológicos etc. 
Da mesma forma, poderíamos dizer que a secretária ou o 
engenheiro que trabalham na fábrica não estão na indústria, estão na área 
de "serviços". Que sentido teria isso? Na realidade, trata-se em grande 
parte de uma transformação do conteúdo das atividades produtivas, e não 
do desaparecimento dessas atividades em proveito de uma nebulosa área 
de "serviços". 
Não é um terceiro "setor" que está surgindo, um "terciário". De 
certa forma, é o conjunto das atividades humanas que está sendo 
transformado, ao incorporar mais tecnologias, mais conhecimento e mais 
trabalho indireto. Adquirem maior conteúdo de pesquisa, de concepção, 
de planejamento e de organização tanto as atividades produtivas, como as 
atividades ligadas às infraestruturas econômicas, à intermediação 
comercial e financeira, e aos serviços sociais. É a dimensão 
de conhecimento do conjunto das nossas atividades de reprodução social 
que está se avolumando. 
 A sociedade precisa e demanda as necessidades básicas 
formadas por: casas, sapatos, arroz e feijão. Contudo, cada vez mais isso 
está sendo assegurado de forma diferente, ou seja, as atividades 
produtivas continuam essenciais, mas a sua forma de produção está 
sofrendo profundas modificações. 
Veja os efeitos proporcionados pelo transporte individual. As 
grandes cidades do mundo, principalmente as dos países que não optaram 
pelo transporte de massa, estão asfixiadas pelos sucessivos 
congestionamentos. Será inocente em termos de racionalidade da 
sociedade em seu conjunto o fato de termos optado por transporte 
rodoviário de carga e que usa predominantemente óleo diesel, altamente 
poluidor, em vez do transporte ferroviário e por água? Quanto nos custa 
em gastos de saúde e desconforto o fato de uma ampla maioria de 
domicílios do país não terem acesso a um saneamento adequado? 
 
O setor produtivo precisa, portanto, de infraestruturas adequadas 
para que a economia no seu conjunto funcione. Mas precisa também de 
um bom sistema de financiamento e de comercialização, para que os 
processos de trocas possam fluir de forma ágil: esses serviços de 
intermediação, no nosso caso, se tornaram um fim em si mesmo, 
drenando o essencial da riqueza, constituindo-se mais propriamente em 
atravessadores do que intermediários, esterilizando a poupança do país. 
 Finalmente, nem a área produtiva, nem as redes de 
infraestruturas, e nem os serviços de intermediação funcionarão de 
maneira adequada, se não houver investimento no ser humano, na sua 
formação, na sua saúde, na sua cultura, no seu lazer, na sua informação. 
Em outros termos, a dimensão social do desenvolvimento deixa de ser um 
"complemento", uma dimensão humanitária de certa forma externa aos 
processos econômicos centrais, para se tornar um componente essencial 
do conjunto da reprodução social. 
 Não há nada de novo, naturalmente, em se afirmar 
que para o funcionamento adequado da área empresarial produtiva são 
necessárias amplas redes de infraestruturas, serviços eficientes de 
intermediação, e um forte desenvolvimento da área social. O que há de 
diferente é a nova importância relativa da dimensão social do nosso 
desenvolvimento. A saúde, para ser viável, tem de ser preventiva, 
permear todo o tecido social, e atingir toda a população. A educação no 
Brasil envolve hoje, entre alunos e professores, mais de trinta milhões de 
pessoas. A cultura tornou-se um dos setores mais importantes no 
conjunto das atividades econômicas e sociais. 
 A dimensão e a importância da área social mudaram 
qualitativamente, exigindo novos equilíbrios nas prioridades da sociedade. 
E a construção desse novo equilíbrio passa a depender de articulações 
sociais mais complexas, que nos obrigam a deixar de lado as simplificações 
que estão embutidas nos modelos tradicionais de funcionamento da 
economia, que coloca a questão de mais estado (estatista) ou menos 
estado (liberal). 
 
Ética e Ação Social 
"Vivemos num mundo absurdamente desigual, um verdadeiro barril, não 
mais de pólvora, mas nuclear, químico, ecológico e biológico. A diferença 
entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres do planeta era de 11 vezes 
em 1913, passou para 30 vezes em 1960, para 60 vezes em 1990 e para 74 
vezes em 1997”. 
 
Ocorre que esses problemas – cuja solução passa por acordos e decisões 
de ordem ética – são os principais problemas da sociedade atual e os que 
inquietam a comunidade internacional. Com efeito, os dados disponíveis 
permitem entrever uma alternativa entre responsabilidade social ou 
barbárie. Neste sentido, anota Oded Grajew: 
 
 Para Reflexão 
Em um ensaio de jornalismo econômico, Joelmir Betting faz-nos recuar até 
o ano de 1900, e propõe a um homem dessa época dois grupos de 
questões, perguntando-lhe quais deles serão resolvidos no final do século. 
 
No primeiro grupo, encontram-se dificuldades como: transportar um 
elefante pelos céus a uma velocidade duas vezes maior do que a do som, 
transmitir instantaneamente a imagem e o som de um acontecimento 
ocorrido em outro continente, reproduzir parasempre a voz de uma 
pessoa falecida, e outras coisas do mesmo estilo. 
 Como afirma o jornalista, o nosso interlocutor 
certamente responderia que o segundo grupo de problemas poderia estar 
resolvido em fins do século, já que só exigiria um pouco de bom senso e 
cooperação, ao passo que os problemas do primeiro grupo exigiriam 
procedimentos fantásticos e absurdos. No entanto, a realidade foi bem 
outra; enquanto os problemas fantásticos foram resolvidos, os demais não 
só não encontraram solução, como se agravaram bastante. 
 
Os problemas do primeiro grupo são problemas técnicos, que dependem 
fundamentalmente do desenvolvimento das ciências físicas, ao passo que 
os demais dependem de atitudes e decisões éticas. 
 
 Ética e Captação de Recursos 
 
Nos países mais desenvolvidos, duas dificuldades ameaçam o terceiro 
setor: a burocratização e a mercantilização, isto é, converter-se em um 
agente da Administração (a qual às vezes substituem) ou em uma mera 
empresa entre outras (com as quais às vezes competem). Para preservar 
seu espírito e identidade, as organizações devem reforçar sua 
independência tanto em relação ao Estado quanto às empresas 
comerciais, buscando sua vinculação com o cidadão, seja como doador (de 
tempo, de dinheiro) ou como receptor de seus serviços. 
 
AULA 08 
 
O PAPEL DAS ORGANIZAÇOES DO TERCEIRO SETOR - AS ONGS 
 
A Origem 
As organizações não governamentais (ONGs) foram criadas a partir 
de movimentos de mobilização social nas diversas regiões do mundo, 
sobretudo na América Latina, Europa e Estados Unidos, a partir da década 
de 60 e, com mais intensidade, nos anos 70. Elas representam o processo 
de ordenação e fortalecimento de setores da sociedade civil, que 
apresentam disposição para se organizar na elaboração e realização de 
ações. Com isso, estabelecem um novo modelo de relação 
Estado/sociedade, a partir da atuação em áreas com lacunas ou 
incompletudes dos serviços públicos. 
As primeiras ONGs no Brasil surgiram nos anos 70, apoiando 
organizações populares e movimentos sociais com um perfil de luta pela 
inclusão social, promovendo ações de cidadania e fortalecimento da 
sociedade civil, principalmente, apoiando ações na área de educação. 
Além de representar um setor social atuante ao lado do Estado, de 
forma complementar, as ONGs também influenciam e mobilizam a 
sociedade e as organizações privadas em torno de causas de interesse 
comum, para a criação de políticas de responsabilidade social. 
 
 
Durante décadas, em virtude do regime governamental vigente e da 
dificuldade de estruturação econômica brasileira, as ONGs se 
posicionaram excessivamente no campo político. Muito embora 
apresentasse em seu discurso a pretensão da promoção do bem-estar 
social, negavam uma atuação econômica por acreditarem que a promoção 
da igualdade e do desenvolvimento seria possível a partir da liberdade 
individual (democracia), sem se pensar no bem-estar material. 
 
 Essa negação é considerada equivocada à luz de pensadores 
como Milton Friedman, que considera indissolúveis as relações entre 
política e economia. Geralmente se acredita que política e economia 
constituem territórios separados, apresentando pouquíssimas inter-
relações; que a liberdade individual é um problema político e o bem-estar 
material um problema econômico; e que qualquer tipo de organização 
política pode ser combinado com qualquer tipo de organização 
econômica. 
 
 PARA FRIEDMAN (19885) 
 
 
 
 No que se refere às mudanças de paradigmas, que alteram 
a concepção de atuação política para um viés econômico, o Brasil na 
década de 1990, segundo Filgueiras (2000), foi marcado por uma série de 
reformas de ordem econômica, política e administrativa. Essas mudanças 
resultaram no redesenho do modelo de gestão pública e de 
reestruturação do Estado e colocaram o país em outra perspectiva de 
desenvolvimento econômico, com a abertura das fronteiras geopolíticas 
ao capital estrangeiro e a superação da inflação. 
 Embora economicamente relevante, essas transformações 
não contribuíram de forma efetiva para a superação da pobreza e dos 
problemas sociais históricos, que continuaram afetando as camadas mais 
pobres da população, mesmo em períodos de crescimento econômico. 
Esse fato contribuiu para o surgimento de grupos e organizações da 
sociedade civil intencionados em atuar na minimização das causas dos 
problemas sociais, ou seja, uma saída forçada da posição apenas política 
para a de agente econômico, interventor e promotor de desenvolvimento. 
Este período, segundo Acioli (2008), apresentou grande crescimento 
do terceiro setor brasileiro, impulsionado não apenas pelas conquistas 
sociais e reconhecimento da sociedade civil, mas pela perspectiva de 
financiamento com recursos advindos de agências internacionais, que 
reconheceram nas ONGs brasileiras, potencialidades para desenvolverem 
projetos para redução da pobreza e atendimento de áreas prioritárias. 
 Esse processo também foi influenciado pela adoção de uma nova 
postura do governo brasileiro, com a descentralização de ações sociais e 
econômicas. Essas ações foram confiadas às ONGs, com a transferência de 
recursos financeiros, resultando em um cenário novo para elas. Além de 
atuação política, essas organizações devem apresentar capacidade de 
gestão e de sistematização de resultados, de forma a mostrar e comprovar 
o alcance de metas prometidas e pactuadas. 
Novas Funções das ONGs 
 
Agora, já não são mais organizações apenas políticas; precisam 
atuar como atores econômicos e devem posicionar-se como tais. Nas 
últimas décadas, uma série incontável de políticas sociais e de 
desenvolvimento tem sido criada pelo governo brasileiro em todas as 
áreas e, em quase sua totalidade, existe a previsão de participação de 
ONGs na sua execução. São ações que vão desde a promoção e defesa de 
direitos sociais e proteção ambiental, até medidas de desenvolvimento 
econômico baseadas nas políticas de agricultura familiar e de economia 
solidária. 
 Isso tem exigido das ONGs conhecimento, estrutura e capacidade 
de gestão para atender as exigências de cada programa de forma 
eficiente. É preciso habilidade de planejar e de executar políticas e de 
coordenar o uso eficiente do investimento (recursos recebidos), para 
gerar externalidades positivas, ou seja, retorno social e econômico sobre o 
investimento (CARVALHO, 2011). 
 Novas Funções das ONGs 
 
Do ponto de vista teórico, a gestão de uma ONG pode não 
apresentar diferenças em relação a uma empresa privada. Ambas 
possuem características e alguns problemas semelhantes quanto à busca 
por qualificação profissional e pela construção de metodologias para 
garantir a eficiência e o alcance de resultados. No entanto, a gestão das 
ONGs vai além dos quatro pilares básicos da administração: planejamento, 
organização, direção e controle (TENÓRIO, 2000). 
Essas organizações estão envoltas em um ambiente de natureza 
econômica, política e social que demanda muito além do desenvolvimento 
e da entrega de um produto ou serviço. Exige-se a capacidade de 
equacionar todos estes aspectos para a promoção de bem-estar social a 
partir de ações que propiciem o desenvolvimento econômico e social. 
ATENÇÃO 
 
 Embora guardem semelhanças entre si quanto às áreas em que 
atuam e militam e à forma como participam e ocupam os espaços 
democráticos, é notória a existência de fatores que distinguem empresas 
de ONGs no aspecto econômico. Assim como as organizações privadas, 
existem ONGs com estruturas grandes, que desenvolvem projetos 
extensos, possuem quadros técnicos qualificados, acessam volumes 
elevados de recursos públicos e privados, têm visibilidade das ações, 
integram redes de empresas e universidades e atendem/beneficiam 
grandes contingentes. 
Outras ONGs não alcançaram nível aceitável de desenvolvimento e 
permaneceram pequenas por décadas, semacesso a recursos, com 
estruturas precárias, sem quadros técnicos qualificados, sem visibilidade e 
com baixa capacidade de atendimento/benefício de um número 
significativo de pessoas. Ainda que tenham contado com financiamentos 
de recursos públicos e privados recebidos para implementação de 
políticas públicas. Mas para a maioria delas, não tiveram desempenho 
satisfatório para gerar os resultados esperados e contribuir para o 
desenvolvimento econômico, social e ambiental, ou seja, o 
desenvolvimento sustentável. 
 
Gestão Social e Novo Papel das ONGs 
 
Percebida no Brasil como um fenômeno recente, a gestão social surgiu a 
partir das mudanças econômicas e administrativas ocorridas na década de 
1990. Essas mudanças alteraram o papel das ONGs, deslocando-as da 
posição basicamente política e de interlocutoras da sociedade, para a de 
“parceiras do Estado” na execução das políticas públicas. 
 
Neste cenário, o caráter político dá lugar ao técnico/burocrático, jurídico, 
econômico e administrativo, exigindo uma práxis próxima da gestão 
corporativa e do modelo gerencialista proposto na reforma do Estado, 
com o desafio da eficiência sem a perda do caráter político. Os 
agrupamentos de pessoas de boa vontade, o caráter filantrópico, a 
carência do público já não são argumentos suficientes para convencer 
financiadores. 
As ferramentas da gestão corporativa e a burocracia do Estado se 
misturam e criam um ambiente que militantes históricos jamais 
enfrentaram. O desafio posto é a adoção de procedimentos técnico-
administrativos, capacidade de execução e de geração de resultados, que 
incluem os econômicos, e a contribuição para a redução da pobreza. 
 Segundo Drucker (1998), as organizações sem fins lucrativos têm 
um papel importante na transformação da sociedade e dos indivíduos, 
pois contribuem para o equilíbrio econômico e social das nações e 
oportunizam acesso a bens e serviços aos desprovidos. Porém, elas 
precisam ser eficientes, inovadoras e competentes. 
Para Hudson (1999), embora o mundo reconheça a importância das 
ONGs, o maior desafio a elas imposto é o da gestão sem recursos, em 
decorrência do não domínio das receitas para desenvolver projetos e para 
sua manutenção. Elas são (com raras exceções) dependentes de fontes 
externas, o que as deixa vulneráveis quanto à sua sustentabilidade, 
exigindo habilidade na captação de recursos. 
Para Tenório (1998), a institucionalização do terceiro setor é 
fundamental no cenário social, político e econômico atual, no qual os dois 
primeiros setores - o público e o privado - cresceram em desarmonia com 
os anseios da sociedade. O recente enfraquecimento do setor público, 
com a proposta em curso do “Estado mínimo”, demanda da sociedade 
civil ações na busca do equilíbrio social. 
 Porém, ao passo que as ONGs ganham importância, suas 
necessidades financeiras se ampliam, e os recursos a elas disponibilizados 
se tornam escassos. Ao se traçar um panorama da gestão das ONGs, 
percebem-se lacunas conceituais. Porém, para Tenório (2000), a utilização 
de um ferramental básico com as principais funções administrativas é 
relevante. 
Estabelecer métodos que considerem os aspectos internos, as 
políticas, os planos e rotinas pode ser um ponto de partida para o 
pensamento, a discussão e a elaboração de modelos para o setor que 
possam evoluir para o atendimento pleno de suas especificidades 
 
A Fundação SOS Mata Atlântica 
Esta ONG foi criada em 1986 e tem como missão defender o que resta da 
mata atlântica, conservando os patrimônios naturais, histórico, também 
para ajudar os animais selvagens, dessas regiões, buscando um 
desenvolvimento sustentável. É uma ONG privada, sem vínculos 
partidários ou religiosos e sem fins lucrativos. A atuação da S.O.S Mata 
Atlântica é alertar, informar, educar, mobilizar e capacitar para o exercício 
da cidadania. Recebe financiamento de diversas e grandes empresas 
privadas nas mais diferentes áreas de atuação como bancos, indústrias 
automotivas, alimentícias, de produtos de higiene pessoal, e através de 
pessoas que se filiam à causa. 
 Seu objetivo é defender os remanescentes da Mata Atlântica, 
valorizar as identidades física e cultural das comunidades humanas que os 
habitam e conservar os riquíssimos patrimônios natural, histórico e 
cultural dessas regiões, buscando o seu desenvolvimento sustentado. 
Atento à necessidade de preservar e manter o equilíbrio ambiental para o 
futuro, em 2007 a Schincariol inaugurou, em parceria com a Fundação SOS 
Mata Atlântica, o Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica - 
Grupo Schincariol, em Itu (SP). 
 Instalado em uma antiga fazenda de café, o projeto tem como 
objetivo principal recompor a vegetação de Mata Atlântica a partir da 
restauração de áreas degradadas. Dos 526 hectares de terras cedidas em 
comodato por 20 anos à Fundação SOS Mata Atlântica, 384 são usados 
para plantio. Desde 2008, a parceria já viabilizou a restauração de 392 
hectares, dos quais 261 foram na área do próprio Centro de Experimentos 
Florestais SOS Mata Atlântica. O Centro visa restaurar áreas degradadas 
através do plantio com espécies características do bioma da região, 
cambará, cabreúva, timburi, pau-marfim, ipê- verde e cedro-rosa, entre 
outras. Em 2010, o viveiro produziu 400 mil mudas de 84 espécies nativas. 
 A equipe técnica do viveiro também foi responsável pelo 
desenvolvimento de mais 217 mil mudas, recebidas de outros viveiros em 
diferentes fases de crescimento. O projeto, cuja duração prevista é de 
cinco anos, fará a restauração completa da propriedade, que em seguida 
será transformada em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural 
(RPPN). 
 
 
 
 
 
AULA 09 
A APLICAÇÃO DA GESTÃO SOCIAL NA GESTÃO PÚBLICA E NA GESTÃO 
PRIVADA 
Colocar o desenvolvimento social e a qualidade de vida como objetivo, 
como finalidade ampla; ter repercussões profundas, na medida em que o 
social deixa de ser apenas um setor de atividades para se tornar uma 
dimensão de todas as nossas atividades. 
Quando um grande produtor de soja nos afirma que é capaz de 
suprir as nossas necessidades agrícolas em geral, visualiza dezenas de 
milhares de hectares de plantações numa ponta e consumidores felizes na 
outra. 
Em outra visão, esta opção representa êxodo rural, famílias sem 
emprego penduradas nas periferias urbanas, gigantescos custos humanos 
e enormes custos financeiros em termos de segurança, saúde e outros, 
além de um fluxo de renda insuficiente para consumir o produto. 
Não se trata de qualquer intenção de construir refinamentos 
teóricos. Milhares de empresas poluem os rios. Os empresários e os seus 
economistas explicam que jogar os dejetos no rio é mais barato, que os 
ambientalistas são uns exagerados, que a produtividade e competitividade 
é mais importante, pois assegura mais empregos, e em última instância 
mais bem- -estar via salários. 
No entanto, o dinheiro economizado pelas empresas, ao não se 
equiparem para a proteção do meio ambiente, resulta em rios poluídos. 
Estes por sua vez geram doenças e enormes gastos em saúde curativa, 
ocorrendo a perda de lazer e prejuízo de outras atividades como pesca ou 
turismo. Pagando com os nossos impostos, as prefeituras terão de 
proceder à recuperação da água poluída, com custos dezenas de vezes 
superiores ao que teria sido o custo da prevenção. O resultado prático é 
uma sociedade que perde dinheiro, além de perder qualidade de vida. 
Visitando um supermercado em Toronto, encontrei uma sala 
repleta de livros. Explicaram-me que se tratava de uma seção da 
biblioteca municipal que funciona dentro do supermercado. 
A lógica é simples: quando uma pessoa vai fazer compras, aproveita 
para pegar um livro para a semana, devolvendo o da semana anterior. 
Em termos microeconômicos, de faturamento, não há dúvida que o 
supermercado preferiria ter uma seção de cremes de beleza. Mas, emtermos de qualidade de vida e de cidadania, ter essa facilidade de acesso 
aos livros, poder folheá-los com as crianças, gerando interesse pela 
cultura, aumenta indiscutivelmente a produtividade social. 
A essência do enfoque é que não se trata de optar pelo 
supermercado ou pelo livro, pelo interesse econômico ou pelo social: 
trata-se de articulá-los. 
E em numerosos países, a articulação destes interesses já foi 
incorporada nas práticas correntes de gestão da sociedade, na 
chamada governança. 
Ao apresentar no Brasil a discussão escandinava sobre a reforma do 
Estado, Ove Pedersen explica: 
“É minha asserção que os países escandinavos estão 
crescentemente assumindo o caráter de uma economia negociada. Uma 
parte essencial, e inclusive crescente, da alocação de recursos produtivos, 
bem como a (re)distribuição do produto é determinada nem no mercado, 
nem através de tomadas de decisão autônomas das autoridades públicas. 
Em vez disto, o processo de tomada de decisão é conduzido através 
de negociações institucionalizadas entre os agentes interessados 
relevantes que chegam a decisões vinculantes tipicamente sobre a base 
de imperativos discursivos, políticos ou morais, mais do que sobre a base 
de ameaças e incentivos econômicos”. 
 Quem olha a Suécia, país pequeno, congelado sete meses por 
ano, com todas as dificuldades econômicas que isso implica, deve-se 
perguntar a razão da simultânea prosperidade econômica e qualidade de 
vida. 
A razão reside, em grande parte, no fato de se zelar não só pelo capital da 
empresa, mas crescentemente pelo capital social do país. 
No Canadá, as pessoas se acostumaram a lavar, para dar 
um exemplo, a latinha de massa de tomate que utilizaram e a depositá-la 
em recipiente adequado. É o chamado lixo limpo, conceito que já está 
penetrando em várias cidades brasileiras. 
Se multiplicarmos, para dar um exemplo, cinco pequenas ações 
ambientais deste tipo por dia, pelos 30 milhões que conta a população do 
Canadá, teremos 150 milhões de ações ambientais por dia. 
Em São Paulo, o programa de reciclagem foi na época cancelado por 
Paulo Maluf, pois não era economicamente viável. 
O raciocínio é correto do ponto de vista microeconômico, pois custa 
mais a reciclagem doméstica do que o valor de venda do produto 
reciclado. 
 Entretanto, no Canadá, uma vez generalizada a atitude ou a 
cultura, do não desperdício, constatou-se que o lixo orgânico que sobra é 
muito pouco. A prefeitura de Toronto forneceu latas de lixo padronizadas 
e herméticas para este tipo de lixo. 
Como é pouco e está vedado, não provocando mau cheiro, foi possível 
passar a recolha do lixo de todo dia para uma vez por semana. Isso 
significa evidentemente uma redução dramática dos custos de limpeza da 
cidade. A mudança cultural e a correspondente mudança da forma de 
organização das atividades, provocam assim uma grande melhoria da 
produtividade social. 
É fácil dizer que se trata de sociedades ricas, onde há cultura e 
espaço para atividades do gênero, mas podemos inverter o raciocínio. A 
sociedade do Canadá é muito menos rica do que a dos Estados Unidos e, 
no entanto, a qualidade de vida é muito superior. 
 
Vendo por outro ângulo, podemos nos perguntar se Canadá 
consegue promover este tipo de iniciativas porque é rico ou se tornou rico 
por optar pelos caminhos socialmente mais produtivos. 
Não é o caso de multiplicar exemplos de uma tendência que já se 
tornou evidente no plano internacional. O que isso implica, em termos de 
melhoria da gestão social, é que o avanço social não significa 
necessariamente destinar por lei uma maior parcela de recursos para a 
educação. Significa também incorporar nas decisões empresariais, 
ministeriais, comunitárias ou individuais, as diversas dimensões e os 
diversos impactos que cada ação pode ter em termos de qualidade de 
vida. 
Além de uma área, com os seus setores evidentes como saúde, 
educação, habitação, lazer, cultura, informação, esporte, o social constitui, 
portanto, uma dimensão de todas as outras atividades, uma forma de 
fazer indústria, uma forma de pensar desenvolvimento urbano, uma 
forma de tratar os rios, uma forma de organizar o comércio. 
O conceito microeconômico de produtividade só consegue provar a 
sua superioridade ao isolar o impacto lucro de uma unidade produtiva, do 
conjunto das externalidades, do impacto social gerado. 
A cada parque que fecha para abrigar um supermercado ou um 
estacionamento, temos maior lucro em termos empresariais, e maior 
prejuízo em termos econômicos, pelos custos adicionais gerados para a 
sociedade, além da perda de qualidade de vida, que afinal é o objetivo 
mais amplo. 
A opção liberal centrada no lucro imediato da unidade empresarial, 
não é apenas socialmente injusta: é economicamente burra. É natural que 
uma sociedade perplexa ante o ritmo das mudanças, assustada com o 
desemprego, angustiada com a violência, busque soluções simples. 
 
A grande simplificação ideológica do liberalismo representa neste 
sentido o extremismo ideológico simétrico do que foram as grandes 
simplificações da esquerda estatista. Com todo o peso das heranças 
extremas do século XX, temos de aprender a construir sistemas mais 
complexos, onde a palavra-chave não é a opção, mas a articulação. 
Em termos práticos, temos que aprender a construir uma sociedade 
economicamente viável, socialmente justa, e ambientalmente sustentável. 
E temos de fazê-lo articulando Estado e empresa no quadro de uma 
sociedade civil organizada. 
A palavra-chave, uma vez mais, não é a opção entre um ou outro, é 
a articulação do conjunto - a isto se chama gestão social. 
Exemplo prático - Sistemas alternativos podem viabilizar água em 
pequenas comunidades. 
 
AULA 10 
 
A Profissionalização das ONGS e o seu Papel de Parceira do 
Desenvolvimento Sustentável 
 
O papel do Estado tem sido repensado. Ao mesmo tempo, verificam-se a 
crescente participação das empresas privadas no total das riquezas 
mundiais e o progresso alcançado pela humanidade, que contrastam com 
a pobreza e a exclusão social. 
Há também uma conscientização sobre a preservação ambiental, a 
valorização da ética e a visão das responsabilidades de cada agente. Essas 
questões, entre outras, colaboraram para a discussão do papel que as 
organizações privadas têm a desempenhar em assuntos de interesse 
público. 
É nesse contexto que surge a preocupação social por parte das 
empresas, dando início, do ponto de vista empresarial, à responsabilidade 
social corporativa. 
E grande parte dessas atividades desenvolvidas pelas empresas está 
relacionada ao não cumprimento do papel do Estado no atendimento 
satisfatório às expectativas da população. Entre as causas apontadas está 
a crise do modelo do Welfare State. 
 
O Welfare State ou Estado do Bem-Estar Social pode ser entendido, de 
forma ampla, como a mobilização em larga escala do aparelho do Estado 
em uma sociedade capitalista, a fim de executar medidas orientadas 
diretamente ao bem-estar da população. E essas medidas acabaram 
gerando um déficit sem que as demandas fossem atendidas. 
Vários autores consideram o esgotamento do modelo do Welfare State 
como o ponto de partida para o desenvolvimento do Terceiro Setor, no 
qual as empresas socialmente responsáveis têm uma atuação relevante. 
Ao longo do tempo, o crescimento e a complexidade das desigualdades e 
demandas sociais, além de outros fatores contingenciais, fizeram esse 
modelo atravessar uma grande crise de financiamento. 
 Uma nova racionalidade econômica se coloca no lugar da 
racionalidade econômica tradicional. Nesta, o Estado era o principal 
gestor, prevalecendo a visão macroeconômica baseada 
em políticas públicas. 
Na nova racionalidade econômica prevalece a visão do mercado, baseada 
nas estratégias das empresas multinacionais, que se tornam os principais 
agentes. Contudo, esta nova lógica social surge

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