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Síntese -Guaranis e Kaingangues os primeiros habitantes das terras descalvadenses

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SÍNTESE
“Guaranis e Kaingangues: os primeiros habitantes das terras descalvadenses”
O território onde hoje se localizam as cidades de Piracicaba, Limeira, Rio Claro, Pirassununga, Porto Ferreira, Descalvado, São Carlos e Araraquara, era conhecida como os Campos de Araraquara. Esse território, na época da colonização, era desconhecido pelos portugueses, porém já era habitada por grupos indígenas, na qual, foram obrigados a abandonar a região devido a ocupação do homem branco.
Para compreender a história de Descalvado e como se deu a construção e formação dessa região, bem como, a dominação e o extermínio dos primeiros que aqui habitaram, precisamos retomar a história da colonização dos portugueses aqui no Brasil. Como sabemos, no início a ocupação se concentrava no litoral do país, mas devido a vários fatores, isso foi se configurando e tomando outro rumo.
A princípio o primeiro governo-geral, Tomé de Souza, tentava controlar a produção de cana-de- açúcar e inibir o estabelecimento dos jesuítas para o interior, porém essas ações não evitaram as constantes invasões à procura de silvícolas para mão-de-obra nas propriedades agrícolas. Além disto, os limites impostos pela Coroa provocavam certo descontentamento entre os jesuítas, que tinham por objetivo catequizar a população indígena. Firmes nesse propósito, os jesuítas subiram a Serra do Mar e fundaram o colégio de São Paulo de Piratininga, em 1554, e entre os envolvidos nessa missão estavam Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. 
Após algum tempo, Mem de Sá se torna o novo governo-geral e passa a ter atitudes contrárias ao governo antecessor e incentiva a interiorização devido aos ataques dos Tupinambás e a ausência de solos férteis no litoral, além de mandar moradores para as mediações do colégio dos jesuítas em 1560. Esse local se tornou o ponto de partida dos aventureiros que saiam dessa localização, na Serra do Mar, e se aprofundavam nos sertões aproveitando caminhos abertos pelos índios ou seguindo o rio Tietê e seus afluentes, chegando até a região central do Brasil.
Vários foram os fatores que contribuíram às expedições para o interior. A hipótese mais usada foi o fator pobreza, pois estimulados pela ausência de recursos, buscavam seu sustentos se deslocando e por fim, capturavam índios. A outra razão foi à busca por metais preciosos, que se não tinha ouro, servia o índio. Mas o que aguçava de fato essas expedições era a esperança de se encontrar a tão sonhada riqueza nas regiões próximas ao rio São Francisco (a lenda da Serra de Sabarabuçu), levando-os a desbravarem matas fechadas e enfrentarem animais selvagens e índios bravos. Foram organizadas várias empreitadas, mas sem nenhum sucesso. Essas expedições eram levadas para captura ou evangelização de índios, mas depois se tornou quase que exclusivamente para escravização.
Até a metade do século XVII, o destino dos bandeirantes era outro, porém a ambição de aumentar o número de escravos indígenas levou a destruição de aldeias missionárias, que tinham uma agricultura e uma pecuária próspera, porém suas maiores riquezas eram os índios (catequizados e aculturados) que estavam acostumados ao ritmo dos colonos.
A resistência dos índios, muitas vezes, supunha ser uma “guerra justa”, apesar dessa prática de escravidão indígena ser ilegal desde 1570. E ainda por algum tempo se manteve essa ação por falta de fiscalização, e também argumentar contra os índios se tornava muito fácil. Exemplo disso foi Raposo Tavares, que tinha a posse de inúmeros índios em sua fazenda nas margens do Tietê. Muitos bandeirantes prestavam serviços para destruir tribos e capturar índios foragidos. Domingos Jorge Velho foi contratado pelos senhores de engenho de Pernambuco com o intuito de destruir o Quilombo dos Palmares. As resistências dos quilombolas provocavam a derrota e a morte de milhares, inclusive o líder, Zumbi, teve sua cabeça entregue ao governador da Bahia, Caetano de Melo.
O apressamento de índio deixou de ser uma atividade lucrativa, a partir do final do século XVII, por vários motivos: por ser uma mercadoria rara por conta do extermínio e fuga para matas mais distantes tornando uma atividade de alto risco; segundo, pela resistência a escravidão indígena, aumentando a restrição da Coroa à utilização da mão-de-obra servil dos silvícolas; terceiro, porque a mão-de-obra dos negros se elevou, pois muitos preferiam os escravos da guiné por ter mais resistência física e maior experiência na agricultura. Os índios, em contato com os brancos, contraíam muitas doenças, e isso gerava uma crença generalizada de que os africanos eram mais produtivos.
Ainda nessa época, aumentaram-se os rumores de que no interior da capitania de São Paulo, havia ouro. Então, os bandeirantes retomam as expedições à procura de metais e pedras preciosas. Fernão Dias Pais, em 1681, encontra pedras verdes, acreditando serem esmeraldas, porém logo fica enfermo e morre. Então seu filho, Garcia Rodrigues Pais, tem a triste noticia, em Lisboa, que eram turmalinas verdes e não esmeraldas que o pai havia encontrado. No entanto, volta para São Paulo e organiza uma nova expedição, e finalmente encontra ouro e a partir daí pessoas de toda parte, começam achar pedras e metais preciosos no interior das capitanias paulista (a corrida do ouro). Como consequência disso, iniciam-se diversos conflitos, como a Guerra dos Emboabas um dos principais confrontos. 
A criação da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, em 1709, teve por objetivo controlar essas batalhas e garantir o pagamento de impostos sobre a produção de ouro, para isso, organizou-se a criação de casas de fundição, a cobrança do quinto e regimentos militares, abriam estradas para exploração, dizimavam índios e destruíam quilombos. Com o tempo, essas forças militares foram substituindo as bandeiras no processo de ampliação do território, pois antes o interesse era só de caça de mão-de-obra indígena, descoberta de minas de metais e pedras preciosas. 
Todo esse movimento deu origem às paragens para descanso dos homens e cavalos e reabastecimento das tropas, formando povoamentos fixos ao longo das estradas e surgindo as cidades do interior paulista como Rio Claro, Araraquara e São Carlos. Conclui-se que os domínios portugueses foram responsáveis, de forma direta e indireta, pela chegada dos primeiros colonizadores a Descalvado e municípios vizinhos. 
Em 1724, o governador da capitania de São Paulo, D. Rodrigo César de Meneses, abriu um caminho de São Paulo a Cuiabá, acompanhando o trajeto do rio Tietê, que ficou conhecido como o Picadão de Cuiabá. Esse percurso apresentava perigos e não atraía viajantes e nem povoados tornando-se inviável, pois na ausência de habitantes não havia o apoio mínimo oferecido pelos mesmos. Isso ocasionou a busca de rotas alternativas, como por exemplo, a Estrada dos Goiases, que foi o caminho pelo qual o famoso bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva desbravou e que se consolidou como sendo a principal via de penetração para o interior paulista. E assim autoridades paulistas voltaram a se preocupar em abrir novas veredas aos novos centros de produção aurífera. 
Apesar do aumento da disputa por área dos Campos de Araraquara, essa região só foi colonizada no século XIX. Para a época, ter terras era sinônimo de prestígio social, além de garantir o título de propriedade. Temos como exemplo o capitão Bartholomeu de Arruda, que possuía sesmarias, mas só foi ocupada em 1840, quando começou a cultivar café. No entanto, há indícios que a ocupação da região se deu com a crise da mineração, surgindo as propriedades agrícolas a partir do século XIX, nesse momento ocorre a formação das fazendas pioneiras de Descalvado, quando os mineiros abandonam suas atividades em busca de áreas para plantação ou criação de gado. 
Em 1809, chegaram os primeiros habitantes da cidade de Descalvado, Agostinho José Alves de Amorim, natural de Santa Catarina, e abre a Fazenda Caridade, localizada as margens do rio Pântano e Mogiguaçu, enquanto os irmãos Nicolau e Manuel Antônio Lobo de Minas Gerais abremas fazendas Grama, Nova e Areias. Essas fazendas foram frutos de ocupação irregular, além do valor da terra ser baixo a utilização de áreas para atividade econômica era reduzida e em um pouco espaço de tempo essas propriedades foram se subdividindo. Os irmãos mineiros Tomé e José Ferreira da Silva compraram as duas fazendas antes pertencentes aos irmãos Nicolau e Manuel Antônio Lobo. Tomé comprou a Fazenda próxima ao Cuzcuzeiro (atual fazenda Monte Alverne), e José Ferreira, a fazenda Areias, onde foi construída a capela que deu origem à vila de Descalvado. 
Dai em diante a área começou ser ocupada principalmente a partir do desenvolvimento da cafeicultura. O crescimento econômico proporcionou o chamado ouro verde e o crescente número de habitantes estruturou a formação de um município economicamente autônomo. Em um período já capitalista a cidade entra nesse contexto com a chegada dos trens ligando a cidade a outros mercados.
Apesar dessa ocupação pelos colonizadores por essas regiões, não podemos deixar de considerar que aqui antes já habitavam tribos indígenas, o que trouxe uma diversidade cultural e está diretamente ligada a heterogeneidade ecológica dos Campos de Araraquara, por possuir cerrados, matas, florestas, rios e variedades de fauna que trouxe os nativos para esse lugar.
Todos esses fatores fizeram do Campo de Araraquara um local privilegiado para o estabelecimento dos dois grupos étnicos, os Tupis-Guaranis e os Jê-Meridionais, primeiros habitantes de Descalvado. Assunto esse levantando por alguns estudiosos e que não se chegou a uma conclusão se de fato houve a ocupação dos Kaingang por aqui, por ausência de fontes e investimentos sistemáticos. Os estudos descritivos sobre esses grupos indígenas foram baseados em objetos encontrados de forma acidental, durante o preparo de terras para plantio, construção de estradas ou ferrovias e não em estudos aprofundados constituídos por sítios arqueológicos. Além de tudo, muito do que foi encontrado se perdeu e várias hipóteses levantadas sobre a ocupação dos Jês ficaram baseadas em relatos memorialísticos ou notícias de jornais da época.
Os estudos feitos por um desses estudiosos, Manuel Pereira de Godoy, foram muito importantes por possuir um acervo recolhido e documentado acerca dos índios dos Campos de Araraquara. Dedicou-se em uma longa pesquisa sobre essas sociedades que ocuparam a Cachoeira de Emas e outros pontos das margens do rio Mogi-Guaçu. Os vestígios encontrados por ele (urnas funerárias, e outros objetos cerâmicos, pilões de pedra polida, pontas de flecha e lança entre outros.) apontam a ocupação dos primeiros humanos da região. 
Dentre os achados de Godoy, merece destaque as chamadas igaçabas, uma espécie de material cerâmico utilizado para armazenar comida, água, para cozinhar e tinha a função ritualística de servir de urnas funerárias para enterrar os chefes-guerreiros, sendo que, o primeiro sepultamento era feito no interior das ocas e o segundo para servir de alimento pelos deuses. O enterramento nesses vasos não era uma característica exclusiva dos povos Tupis-Guaranis, mas também era costume de outros povos. O que caracterizava ser dos Tupis é um tipo de ornamento que recebiam (geralmente corrugadas ou com formas diversas geométricas pintadas de branco, vermelho e preto), como as encontradas por Godoy na cachoeira de Emas. 
Próximo a Serra do Descalvado, na mineração Jundu, foram encontrados durante a extração de areia diversos objetos líticos, que eram utilizados para caça e preparo de alimentos (cortadores, raspadores, pontas de lança, perfuradores, mão de mó e de pilão). A presença de objetos utilizados na agricultura e a legenda da foto tirada dos objetos encontrados demonstram a teoria de aqui também habitaram tribos não tupis. 
Algumas características desses povos podem ser apontadas, a fim de conhecer um pouco mais sobre seus hábitos, usos e costumes. De acordo com os estudos apresentados por Godoy, conclui-se que as habitações indígenas se dispunham em semicírculo, uma ao lado da outra e no centro delas (ocara) havia reuniões para realização de rituais e festas. No interior das ocas tinham redes e deixavam um fogo acesso para aquecer, repelir insetos e assar alimentos. 
No caso dos Kaingang utilizavam vários tipos de habitações, mas dentre elas, as subterrâneas e as moradias da superfície foram bem usadas no momento em que ocorreu o contato com os brancos. Suas residências eram cobertas de palmeiras, onde dormiam e preparavam as refeições e assim como os Guaranis, mantinham um fogo acesso no interior das ocas. Suas moradias eram construídas entre os campos do cerrado e das florestas de araucárias. Os Kaingang eram caçadores e pescadores, mas cultivavam mandioca, milho e batata doce, além de plantar algodão e tabaco. Também se alimentavam de insetos, moluscos e mel. Outro alimento fundamental era a pinha dieta básica dos Jês meridionais. Eles tinham como de costume andar nus e raspavam o centro da cabeça e tiravam todos os pelos do corpo. 
Já os Guaranis, por ser de uma cultura ribeirinha, preferiam erguer suas moradias nas matas ou florestas próximas ao rio, pois se acredita que durante a dispersão pelo território brasileiro em busca da chamada terra sem males, se utilizavam dos rios através de canoas para se deslocarem. A caça e a pesca eram atividades fundamentais, mas tinham como tradição a agricultura, portanto plantavam mandioca (produção de farinha, beijus e bolos) e para complementar a alimentação comiam também insetos, larvas, mel, palmito e raízes moles. Os Guaranis andavam nus, se pintavam com uma mistura de óleo vegetal e urucum para se proteger do sol e insetos, também se enfeitavam com penas de pássaros. 
Conclui-se que a história de Descalvado não começa com a ocupação dos primeiros colonizadores, pois não podemos desconsiderar a existência de povos indígenas que já aqui habitavam. Muitos dessas sociedades nativas, para escapar da escravização e dizimação, fugiam e se deslocavam a procura de uma terra sem males. E mesmo com o desenvolvimento do café na região muitos foram subjugados e exterminados. Atualmente no estado de São Paulo, há reservas indígenas e algumas delas habitadas por Guaranis, Terena e Kaingang. 
	
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
PAGANOTTO, Alessandra. Guaranis e Kaingangues: os primeiros habitantes das terras descalvadenses. In PAGANOTTO, Alessandra; PRATTA, Marco Antônio (org.). Cento e oitenta anos de história: Descalvado sob várias perspectivas. São José do Rio Preto: CM&N, 2012, páginas 24 – 37.