Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Roberto Guedes de Nonohay Projeto em produtos e serviços Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Entender a organização do processo de produção de produtos. � Entender a organização do processo de serviços. � Analisar o modelo das filas. Introdução Antes de qualquer produção ou operação ser iniciada é preciso saber exatamente o que vai ser oferecido aos consumidores. Isso significa determinar os detalhes de cada produto ou serviço, quais serão suas principais características e como serão controladas. Neste texto, você irá estudar os projetos de produtos e serviços. Projeto em produtos A primeira coisa que você faz ao pensar em montar uma empresa é determinar qual produto/serviço será oferecido aos consumidores. Quais são suas princi- pais características, qual será o seu formato e, principalmente, qual vai ser o principal diferencial em relação aos produtos/serviços que estão no mercado. O produto deve ser concebido primeiramente de maneira abstrata, ou seja, por meio da criatividade e da imaginação. Normalmente, o empreendedor se dá conta de uma necessidade ou fica insatisfeito com um produto/serviço que usa ou que precisa usar. A partir disso, percebe que pode adicionar caracterís- ticas novas ou melhoradas ao produto/serviço. Analise o exemplo da Figura 1. A Nohbo é uma empresa americana criada por um jovem empreendedor que tinha 16 anos quando criou a empresa e o conceito do produto. A ideia dele era criar um xampu que fosse menos agressivo ao ambiente. Ele então contratou um químico para verificar a viabilidade de produção do seu produto. O Nohbo é um xampu que, em vez de ser entregue na forma líquida, vem na forma de uma pequena bola, conforme a figura mostra. Isso é feito por meio de um processo químico específico, realizado por uma máquina especializada. A empresa utiliza embalagens totalmente biodegradáveis e a quantidade de xampu que está na bola é a quantidade suficiente para que uma pessoa possa lavar seu cabelo. A história da Nohbo é parecida com a da grande maioria das novas em- presas ou novos produtos. Vamos analisar em mais detalhes como isso ocorre. Primeiramente, conforme você já aprendeu, uma pessoa tem uma ideia que pode vir de uma necessidade (perda de emprego, renda extra, oportunidade, etc.) ou de uma insatisfação (problema com produto/serviço, característica que não está presente no produto/serviço, etc.). Ao se dar conta disso, a pessoa pensa em algo que possa ser produzido/oferecido para sanar essa necessidade/ insatisfação. Ela então pensa, nos mínimos detalhes, quais serão as principais características do produto/serviço que precisa oferecer. O fundador da Nohbo estava preocupado com a gigantesca quantidade de embalagens de plástico de xampu que são jogadas no lixo todo o ano. Sua ideia foi de criar uma marca de xampu que não tivesse esse impacto no meio ambiente. Ele desenhou um projeto no qual tentou visualizar cada parte compo- nente de seu produto, no máximo de detalhes que foi possível. Uma vez que o conceito do produto foi determinado, ele buscou auxílio de uma pessoa para determinar quais são as necessidades produtivas e processuais para que o produto saia do papel e se torne realidade. Para a Nohbo, a escolha foi pela produção de embalagens biodegradáveis e um processo químico específico que transforma o xampu em pó e, por meio de uma máquina, consegue deixá- -lo na forma de uma pequena bola. Figura 1. Exemplos dos produtos Nohbo. Fonte: Nohbo (2016). Determinar o projeto de produto é o primeiro e mais importante passo para qualquer trabalho em Administração da Produção e Operações. Sem saber qual é o produto que será oferecido, não há como determinar que processo ele irá seguir no processo produtivo, qual será seu custo e preço de venda estimados, qual será a estratégia da produção e de marketing para produzir e Administração da produção60 vender o produto, necessidades de investimento de capital para o desenvolvi- mento e operação da empresa, etc. Alguns projetos de produtos são, em teoria, mais simples, ou seja, exigem menos passos que outros. Veja então um exemplo de um produto que normalmente tem alguns passos e projetos a mais que o exemplo da Nohbo. Um dos grandes marcos e um sonho comum na vida de uma pessoa é a casa própria. Antes de o primeiro tijolo ser colocado na obra, diversos projetos e uma série de planejamentos são necessários para que a construção possa ser iniciada. Uma série de projetos (estrutural, arquitetônico, hidráulico, elétrico) deve ser realizada. Neles estarão todas as informações referentes às estruturas externa e interna do empreendimento. Quantos serão os ambientes, qual o tamanho de cada um deles, onde estarão os canos de água e de esgoto, por onde passarão os fios elétricos, onde estarão as janelas, etc. Esses projetos servirão como base para o orçamento de capital que deve ser investido na obra. Qual a quantidade de tijolo, argamassa, fios, canos, lâmpadas, tomadas, necessidade de pessoal. Somente após a aprovação desses projetos é que serão determinados os processos produtivos que serão utilizados. Esses projetos, pela legislação brasileira, devem ser submetidos e aprovados pelo governo municipal. Uma vez que a obra esteja finalizada, agentes da prefeitura fazem uma inspeção para determinar se a obra está de acordo com o que foi proposto e se atende de fato à legislação. Projetos de produtos são essenciais. Muitas vezes, na fase de projeto, você nota que um produto não será viável ou que a característica inovadora que inicialmente se pensava será possível de alcançar. Colocar a ideia no papel es- clarece diversos pontos que, na mente e na abstração do empreendedor, talvez ainda não estejam bem delineados. É importante fazê-lo no maior nível de detalhes possível. Mas hoje não basta ter uma ideia inovadora. É necessário pensar qual o impacto ecológico que o produto terá. Projetos ecológicos Todo o processo de produção é sujo, de uma maneira ou de outra. Ou seja, todo o esforço para se produzir ou oferecer um produto agride o meio am- biente de alguma forma, em maior ou menor grau. É muito importante que se pense quais são os principais pontos críticos que podem ser observados na hora de projetar um produto. O ideal é você considerar o seguinte: 61Projeto em produtos e serviços As fontes dos materiais. Como as matérias-primas são obtidas e qual o impacto ambiental de sua extração/produção. Quantidade e tipo de material rejeitado. Toda produção gera rejeitos. De que forma ele será tratado/reutilizado? Quais as fontes de energia utilizadas. Processos produtivos consomem muita energia, de onde a empresa supre suas necessidades energéticas? O ciclo de vida do produto. Isso determina o uso de matéria-prima e prin- cipalmente a taxa de descarte do produto após o fim do uso. O descarte do produto. Muitos produtos podem ser muito agressivos ao meio ambiente após sua vida útil terminar. Produtos eletrônicos, cartuchos de impressora, etc. devem ter uma destinação diferente de outros produtos. Um bom projeto de produto pode ser determinante para fazer economia e também para auxiliar a empresa a atingir os objetivos estratégicos. Projeto em serviço Serviço é algo intangível, ou seja, não pode ser tocado. Projetar um produto normalmente requer a utilização de plantas e especificações de engenharia para sua produção. Muitas vezes, o processo produtivo de um produto é feito afastado do cliente. O cliente não observa normalmente o que acontece ao longo do processo produtivo. Uma das grandes diferenças para o projeto de serviços é que o serviço tem um contato muito maior com o consumidor. En- quanto cortamos o cabelo, estamos vendo, durante todo o processo, o que o profissional está fazendo. O termo visibilidade do processo deve estar sempre na mente de quem está projeto o serviço. A Figura 2 mostra um exemplo de um serviço e quais processostêm mais interação com o cliente. Administração da produção62 Figura 2. Exemplo da visibilidade de um serviço. Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston (2009). A linha de interação é um ponto muito importante. Cruzar essa linha sig- nifica que o cliente está em contato direto com a prestação do serviço. É importante que o treinamento de atendimento ao cliente seja reforçado nesse ponto. Qualquer erro ou problema é percebido imediatamente pelo consu- midor. Essa é uma situação que se chama alto grau de contato com o cliente. Teoricamente, esses processos são mais difíceis de serem controlados do que processos com baixo grau de contato. Jacobs e Chase (2009) dão o exemplo de uma agência bancária. Nela existem processos que podem ter altos e baixos graus de contato com o cliente. Preenchimento de documentos e propostas de empréstimo exigem alto grau de contato. Saques e depósitos em caixas eletrô- nicos exigem baixo grau de contato. A Figura 3 mostra a Matriz de projeto do sistema de serviços; nela é pos- sível ver, com base nas oportunidades de vendas e na eficiência da produção, quais os tipos de contato possíveis com o cliente. O centro protegido é fisi- camente separado do cliente, o sistema permeável é penetrável pelo cliente via telefone ou contato presencial e o sistema reativo é penetrável e reativo às exigências dos clientes (JACOBS; CHASE, 2009). 63Projeto em produtos e serviços Figura 3. Matriz de projeto do sistema de serviços. Fonte: Jacobs e Chase (2009, p. 124). Grau de contato cliente/provedor do serviço Centro protegido (nenhum) Sistema permeável (algum) Sistema reativo (muito) Baixo Eficiência da produção Oportunidades de vendas Alto BaixoAlto Contato via correio Internet e tecnologia local Adaptação total ao cliente pelo contato face a face Contato via fone Face a face, com especificações com restrição Face a face, com poucas especificações Diferentes serviços e atividades exigem diferentes níveis de contato com o cliente. Filas de espera Quando se oferece um serviço, especialmente com alto grau de contato com o cliente, é inerente que as filas sejam um fator de preocupação para a gerência. A Administração de Produção e Operações lida, de forma diária, com o di- lema de oferecer os produtos/serviços com a maior qualidade e menor custo possível. Isso também significa um trade-off entre os custos de oferecimento de postos de atendimento ou quaisquer outras maneiras de atendimento rápido da demanda dos serviços. O exemplo que mais se usa quando se explica a teoria das filas de espera é o de um banco. É comum, especialmente em certos momentos do mês, que existam filas consideráveis para utilizar o caixa em um banco. Esse cenário é mais comum em dias de vencimento de contas ou em dias de saques de bene- fícios, normalmente no final do mês ou por volta do dia 10 de cada mês. Em outras épocas do mês, o fluxo de pessoas pode ser menor. Sempre haverá dois Administração da produção64 lados para essa questão. O lado do cliente, que deseja um atendimento mais rápido, normalmente exige diversos caixas e gerentes à disposição. O lado do banco deve balancear o custo do oferecimento dessa posição de atendimento, de forma que os clientes sejam atendidos, sem ociosidade da posição e pre- juízo das atividades do banco. Um exemplo dos componentes das filas é demonstrado na Figura 4. Figura 4. Componentes de um sistema de filas. Fonte: Jacobs e Chase (2009, p. 127). Chegadas dos clientes Fila de espera Atendentes Saída Sistema de Atendimento A entrada do sistema é a chegada dos clientes. Após a sua chegada ao sis- tema, os clientes serão atendidos de acordo com o tamanho da fila já existente e a quantidade de atendentes que estão disponíveis para realizar o serviço desejado. Uma vez que o serviço tenha sido prestado, os clientes saem do sistema. As filas podem ser curtas ou longas, dependendo da taxa de chegada dos clientes ao sistema. No âmbito de uma população urbana, existe a possibili- dade de a fonte de clientes ser finita ou infinita. Fontes finitas normalmente se referem a um grupo limitado de clientes que podem vir a utilizar o ser- viço. Uma vez que o serviço para membros dessa população seja realizado, a probabilidade de nova utilização é reduzida. Nesse tipo, o tamanho das filas tende a ser menor justamente pelo tamanho reduzido e pela forma limitada de utilização do serviço. A população infinita se caracteriza por ter uma popu- lação grande o suficiente para que a utilização do serviço não venha a afetar a probabilidade de reuso do serviço. Você precisa determinar a taxa de chegada dos clientes para programar a quantidade de atendentes disponíveis de modo a tornar a fila equilibrada. O 65Projeto em produtos e serviços equilíbrio se dá com um tamanho de fila aceitável (para a empresa e para o cliente) e os custos de disponibilidade dos atendentes. A Figura 5 demonstra as diferentes possibilidades de chegada dos clientes ao sistema. Figura 5. Chegada dos clientes às filas. Fonte: Jacobs e Chase (2009, p. 130). Controlável Incontrolável Único Lote Constante Exponencial ou Poisson Outra Paciente (na fila e esperando) Impaciente Padrão Tamanho da chegada Distribuição Grau de paciência Chega, olha e vai embora Chega, espera um pouco, depois vai embora As chegadas podem obedecer a uma distribuição constante, exponencial ou outra (distintas maneiras de calcular a probabilidade de chegada de clientes ao início do processo). Pode seguir um padrão controlável ou não. Pode ter chegada única (cliente a cliente) ou por lote (avião chegando de uma viagem internacional, por exemplo). Você também deve levar em consideração o grau de paciência do cliente. Ao manter um registro metódico do seu padrão de filas, uma empresa pode tentar prever, por meio de diversos modelos mate- máticos, uma estimativa de taxa de chegada, segmentada pelas características das chegadas e dos clientes. Isso pode auxiliar a empresa a programar horá- rios de pico onde as posições de atendimento devem ser reforçadas de modo a atender um pico de taxa de chegada. Jacobs e Chase (2009) citam alguns fatores que influenciam o sis- tema de filas: a extensão (intimamente ligada à capacidade finita ou infi- nita da população); o número de filas (fila única, como para a entrada em um avião, ou várias filas como em supermercados); a disciplina da fila (a organização do atendimento da fila). Esses fatores determinam a taxa de atendimento dos clientes que entram no sistema. A conjunção desses fatores, Administração da produção66 somada à preparação da empresa para o surgimento e gerenciamento das filas, compõem parte muito importante do atendimento ao cliente. Um cliente mal atendido pode preferir escolher seus serviços de outra fonte, reduzindo assim as chances de que volte para a empresa. Por outro lado, um bom atendimento (e um tempo aceitável na fila) fará o cliente voltar a comprar da empresa. Ao projetar um serviço, uma empresa deve ter claramente um modelo de filas de espera e um planejamento para gerenciá-la da melhor maneira, con- siderando tanto o atendimento célere dos clientes quanto o balanceamento de custos para a sua operação. Consulte exemplos de modelagem de filas (JACOBS; CHASE, 2009, p 136, exemplo 5.1). 1. O que é um projeto ecológico? a) É um projeto de produto/ser- viço que leva em consideração aspectos socioambientais b) É um projeto de produto como qualquer outro c) É um projeto de serviço como qualquer outro d) É um projeto que visa sanar problemas ecológicos de uma empresa e) É a gestão de projetos voltada para a ecologia 2. O que é um projeto de produto? a) É um projeto que tenta gerenciar a visibilidade do produto b) É um projeto que tenta minimizar o grau de contato com o cliente c) É um projeto que concebe nos mínimos detalhes todos os aspectos de um produto d) É um projeto que concebe nos mínimos detalhes todos os aspectos de um serviço e)É um projeto que visa prever a taxa de chegada de clientes 3. O que é um projeto de serviço? a) É um projeto que concebe nos mínimos detalhes todos os aspectos de um serviço b) É um projeto que tenta gerenciar a visibilidade do produto c) É um projeto que visa prever a taxa de chegada de clientes d) É um projeto que tenta minimizar o grau de contato com o cliente e) É um projeto que concebe nos mínimos detalhes todos os aspectos de um produto 4. O que é a teoria das filas? a) É a contagem estatística da média de pessoas que ficam na fila à espera de um serviço b) É uma teoria que busca entender 67Projeto em produtos e serviços JACOBS, F. R.; CHASE, R. B. Administração da produção e de operações: o essencial. Porto Alegre: Bookman, 2009. NOHBO. Site. [S.l.]: Nohbo, [2016]. Disponível em: <https://nohboball.com/>. Acesso em: 03 set. 2016. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3. ed. Rio de Janei- ro: Atlas, 2009. Leituras recomendadas ANTUNES, J. et al. Sistemas de produção: conceitos e práticas para projeto e gestão da produção enxuta. Porto Alegre: Bookman, 2008. PAIVA, E. L.; CARVALHO JR., J. M.; FENSTERSEIFER, J. E. Estratégia de produção e de opera- ções: conceitos, melhores práticas, visão de futuro. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. o comportamento das filas quando do oferecimento de um serviço c) É a tentativa de controlar a taxa de chegada de clientes ao sistema d) É a tentativa de controlar a taxa de saída dos clientes do sistema e) É a tentativa de controlar as posi- ções de atendimento do sistema 5. O que é grau de contato com o cliente? a) É o contato que o cliente tem ao manusear o produto b) São as atividades que ficam visíveis para o consumidor c) É a quantidade de posições de atendimento disponíveis no sistema d) É o contato direto que o cliente tem com o serviço oferecido pela empresa e) É igual ao grau de paciência dos clientes na fila Administração da produção68 Conteúdo:
Compartilhar