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Teorias
Antropológicas
Teorias
Antropológicas
Te
or
ias
 A
ntr
op
oló
gic
as
Juarez Tadeu de Paula Xavier
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-3173-3
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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mais informações www.iesde.com.br
Juarez Tadeu de Paula Xavier
Teorias Antropológicas
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
X19t
 
Xavier, Juarez Tadeu de Paula
 Teorias antropológicas / Juarez Tadeu de Paula Xavier. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2012. 
 218p. : 28 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-3173-3
 
 1. Antropologia. 2. Etnologia. 3. Teoria do conhecimento. I. Título. 
12-7192. CDD: 306
 CDU: 316.7
03.10.12 18.10.12 039631 
__________________________________________________________________________________
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mais informações www.iesde.com.br
Sumário
Voo panorâmico da “aventura antropológica” | 9
Introdução | 9
Campos de estudo da Antropologia | 10
Polos de estudo da Antropologia | 11
Teorias Antropológicas | 11
Antropologias | 17
Considerações finais | 18
A formação da literatura antropológica | 25
Expansão Marítima | 26
Diversidade humana e cultural | 27
Luzes científicas sobre o debate da diversidade humana e cultural | 32
Considerações finais | 34
Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência | 43
Homens de Ciência | 44
Evolução como paradigma – Darwin e o conceito de homem | 45
As leis antigas – Henry James Summer Maine | 46
Teoria evolucionista na sociedade – Herbert Spencer | 47
A evolução da cultura – Edward Burnett Tylor | 49
Os estágios da sociedade humana – Lewis Henry Morgan | 49
O ramo de ouro: magia, religião e ciência – James George Frazer | 52
Considerações finais | 53
Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas | 63
Antropologia Difusionista | 64
Conceitos difusionistas | 65
Escola alemão-austríaca | 67
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Escola inglesa | 71
Escola norte-americana: Franz Boas (1858-1942) – teórico do Relativismo Cultural | 72
Considerações finais | 73
Antropologia: objeto e metodologia de investigação | 81
Método científico | 82
Émile Durkheim e o método sociológico | 83
As regras do método sociológico | 86
Marcel Mauss e a dádiva | 88
Considerações finais | 90
Antropologia Funcionalista: a função das instituições 
na manutenção da sociedade | 99
Bronislaw Malinowski (1884-1942) – o trabalho de campo e a etnografia | 101
Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955) – estudos comparativos | 104
Edward Evan Evans-Pritchard (1902-1973): 
espaços ecológicos e os conflitos como parte integrante da sociedade | 106
Raymond Willian Firth (1901-2002) – Antropologia como interface da economia | 107
Herman Max Gluckman (1911-1975) – Antropologia situacional e as relações de divisão e fusão | 109
Victor Turner (1920-1983) – Antropologia como performance dos dramas sociais | 110
Edmund Leach (1910-1989) – precariedade e fugacidade do equilíbrio social | 111
Considerações finais | 112
Escola antropológica do 
Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos | 117
Ruth Fulton Benedict (1887-1948) – Antropologia e os padrões culturais dos povos | 119
Margaret Mead (1901-1978) – A Antropologia como vocação científica e política | 122
Melville Jean Herskovitz (1895-1963) – a Antropologia do endoculturalismo | 124
Ralph Linton (1893-1953) – cultura e personalidade | 126
Ruth Landes (1908-1991) – narrativas etnográficas da experiência de campo | 128
Roger Bastide (1898-1974) – interpenetrações das civilizações | 129
Fernando Fernándes Ortiz (1881-1969) – transculturação | 130
Considerações finais | 131
A escola antropológica do Estruturalismo francês | 137
Claude Lévi-Strauss (1908) – o Estruturalismo | 140
Considerações finais | 146
A Antropologia Interpretativa ou Hermenêutica | 151
Antropologia Interpretativa: o conceito | 152
Descrição densa X descrição superficial | 153
Clifford James Geertz (1926-2006) – uma nova luz sobre a Antropologia | 155
Nova luz sobre a Antropologia | 158
Considerações finais | 160
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Antropologia Pós-Moderna ou Crítica | 169
Novos cenários | 170
Esboço das correntes pós-modernas | 171
James Clifford (1945) – interfaces da Antropologia com a Literatura | 173
Michael Taussig (1940) – Antropologia e xamanismo | 176
Considerações finais | 178
Antropologia Urbana – o antropólogo e a cidade | 185
Estado da arte nas cidades contemporâneas | 186
Cidade em foco | 187
A produção da globalização e as cidades | 188
Diferenças territoriais e reorganização das cidades | 189
Considerações finais | 195
Antropologia Visual e a descrição etnográfica | 203
Centralidade da imagem | 203
Modelos de descrição etnográfica | 204
Roland Barthes (1915-1980) – Antropologia e a mensagem fotográfica | 207
Considerações finais | 210
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Apresentação
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss recorreu com frequência à metáfora 
da carta de baralho para explicar a inversão de perspectiva proposta pela 
metodologia estruturalista. Para ele, o homem se assemelha a um jogador com 
as cartas que não inventou, já que o jogo é um dado da história e da civilização. 
A distribuição das cartas é independente da sua vontade. As regras também 
já foram definidas. Cada jogador interpreta e rearranja as cartas segundo seu 
propósito, criatividade e inventividade.
A metáfora é a mais adequada para se compreender as opções que foram feitas 
para a elaboração deste livro.
A Antropologia é como um jogo completo de cartas de baralho. Suas diversas 
correntes teóricas e escolas são os naipes que organizam em grandes blocos suas 
“afinidades eletivas”. Os baralhos são as metódicas e abordagens adotadas.
Neste livro, as teorias e escolas foram divididas em quatro naipes: o primeiro, 
a gênesis da disciplina (que se ocupou dos relatos etnográficos dos viajantes); 
o segundo, a construção do objeto/sujeito do “pensar” e “fazer” antropológicos 
(que se ocupou dos esforços metodológicos que deram feição à disciplina); o 
terceiro, a consolidação da disciplina (que se ocupou da especificidade do estudo 
do homem, no sentido lato da expressão e de suas relações materiais e imateriais); 
e o quarto naipe, que se ocupou das reflexões e rupturas epistemológicas nos 
fundamentos da Antropologia.
Cada um desses naipes conceituais exercitou suas habilidades com as cartas/
metódicas de forma singular, no tocante ao conceito de cultura e civilização, à 
pesquisa de campo, à abordagemdos indivíduos investigados, ao mecanismo 
de capturação das informações, à forma de organização dos dados e às suas 
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interpretações e compreensões. No mesmo naipe, registram-se divergências e 
polaridades nas formas de distribuição das cartas e nos seus rearranjos criativos.
A opção foi, dentro desse grande jogo de cartas, identificar os arranjos que 
dialogaram e dialogam – pela convergência ou divergências – entre si. Autores/
jogadores que, mesmo com distribuições diferentes, guardaram ou guardam uma 
semelhança, muitas vezes tênue, com as estratégias gerais do jogo.
Este livro tem uma estratégia de jogo. E, é claro, o autor rearranjou as cartas 
segundo suas próprias “afinidades eletivas”, mas com narrativas amplas e atuais 
– inclusive nos textos complementares, referências e bibliografia –, para que 
aqueles que são convidados para esse jogo intelectual possam, conforme sua 
criatividade, reorganizar as cartas dessa extraordinária aventura – que nunca 
cessa – de compreender as razões e emoções que impulsionam mulheres e homens 
a rabiscarem cotidianamente as histórias de seus sonhos, desejos e realizações.
Senhoras e senhores, façam seu jogo, como convidou-nos o velho mestre francês.
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Voo panorâmico da 
“aventura antropológica”
Juarez Tadeu de Paula Xavier*
Introdução
A Antropologia é a ciência que estuda o homem, no sentido lato da expressão (gênero humano). 
Em sua feição científica, ela surge na segunda metade do século XIX, na esteira do desenvolvimento das 
Ciências Sociais. Desde então, constituiu um amplo leque de paradigmas – metodologias de abordagem, 
de pesquisa e de interpretação – que formam as chamadas Teorias Antropológicas Clássicas – as pionei-
ras – e as Contemporâneas (ou Modernas), que estudam e interpretam as dimensões biológicas, culturais 
e sociais do ser humano.
A Antropologia (anthropos, pessoa/homem; logos, razão) é a ciência centrada no ser humano e 
em suas realizações tangíveis e intangíveis – material e imaterial –, no espaço histórico e no eixo do 
tempo, focada no estudo do homem e nos seus feitos sociais e culturais.
O estudo do multiverso – universo material e universo imaterial – do homem atribuiu à Antropo-
logia três aspectos fundamentais para o seu campo de pesquisa e estudo: o estudo do homem na qua-
lidade de elemento integrante de grupos organizados, organizações e formas coletivas de ação social; 
o estudo da totalidade do homem como um ser histórico, com suas crenças, usos e costumes, filosofia, 
linguagem e representações; e o estudo do conhecimento psicossomático do homem e de sua evolução.
Segundo Laplantine, “só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa 
que objetive levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade” (1988, p. 16). 
A Antropologia é o estudo do homem por inteiro, em todas as sociedades, em todas as suas dimensões 
e épocas.
* Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação e Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM/USP) – linha 
de pesquisa Comunicação e Cultura. Líder do grupo de pesquisa “Laboratório de Observação de Mídias Radicais”, credenciado no CNPq. 
Pesquisador do universo cultural afrodescendente. Jornalista e professor universitário.
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10 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Campos de estudo da Antropologia
Como ciência, a Antropologia tem dois braços de estudos: a Antropologia Física (Biológica) e a 
Antropologia Cultural.
A Antropologia Física estuda a natureza do homem, suas origens e evolução, estrutura anatômi-
ca, processos fisiológicos e características raciais, antigas e modernas. Divide-se em:
Paleontologia Humana:::: (palaios, antigo; onto, ser; logos, estudo) ou Paleoantropologia – 
estuda a origem da evolução humana dos primatas ao homem moderno. As fases da evolução 
humana são: 
Australopithecus:::: (austral, sul; pithecus, macaco) – das espécies Africanus, Robustus, Anamensis, 
Afarensis, Boisel
Homo habilis::::
Homo erectus::::
Homo sapiens primitivo::::
Homo sapiens::::
Homo sapiens sapiens::::
Somatologia:::: (somato, corpo humano; logos, estudo) – estuda as variedades humanas (tipos 
sanguíneos, metabolismo, adaptação);
Raciologia:::: (raça, etnia; logos, estudo) – estuda a história racial do homem, suas misturas e 
características físicas;
Antropometria:::: (anthropos, homem; metria, medida) – estuda as medidas do corpo humano 
(crânio e ossos).
A Antropologia Cultural é o campo mais amplo dos estudos antropológicos. Ela estuda as culturas 
humanas no tempo e no espaço, seus desdobramentos, suas formas de construções simbólicas e suas 
representações. Seu campo de pesquisa se divide em:
Arqueologia:::: (archaîos, antigo; logos, estudo) – ramo que estuda as culturas remotas, sub-
dividida em Arqueologia Clássica, que estuda as antigas civilizações letradas (Egito, Grécia, 
Mesopotâmia), e Antropologia Arqueológica, que estuda os primórdios da cultura das popula-
ções extintas (Paleolítico – de 500 000 a 10 000 anos –, Mesolítico – 12 000 a 10 000 anos – e 
Neolítico – 10 000 anos)1.
Etnografia:::: (éthnos, povos; graphein, escrever) – ramo da ciência da cultura que descreve as 
sociedades humanas.
Etnologia:::: (éthnos, povos; logos, estudo) – ramo da ciência da cultura em que os pesquisadores 
utilizam os dados coletados pelos etnógrafos.
Linguística:::: – ramo que estuda a diversidade da língua humana (ciência da linguagem).
1 Paleolítico (Idade da Pedra Lascada – antiga); Mesolítico (Idade da Pedra “Média” – período intermediário); Neolítico (Idade da Pedra Polida 
nova).
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11|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Folclore:::: – ramo que estuda as manifestações espontâneas da cultura de grupos urbanos e 
rurais, conjunto das tradições, conhecimentos, crenças, lendas de um povo, expressos em seus 
hábitos e costumes cotidianos.
Antropologia Social:::: – ramo que estuda os processos culturais e sociais de uma sociedade ou 
instituição.
Cultura e Personalidade:::: – ramo que estuda as inter-relações entre a cultura e as personali-
dades.
Polos de estudo da Antropologia
Como ciência que estuda o ser humano e suas produções materiais e imateriais, nos aspectos 
físicos e culturais, a Antropologia debruça-se sobre cinco polos principais de estudos:
Antropologia Biológica:::: – é o estudo das variações das características físicas e biológicas do 
homem, nos eixos de espaço e tempo, as relações morfológicas e o meio (geológico, geográfico 
e social) e a evolução dessas particularidades.
Essa parte da Antropologia, longe de consistir apenas no estudo das formas de crânios, mensurações do esqueleto, 
tamanho, peso, cor da pele, anatomia comparada das raças e dos sexos, interessa-se em especial – desde os anos 1950 
– pela genética das populações, que permite discernir o que diz respeito ao inato e ao adquirido. (LAPLANTINE, 1988, 
p. 17)
Antropologia Pré-Histórica:::: – é o estudo do homem por meio dos vestígios materiais enter- 
rados no solo (ossos e marcas humanas). “O especialista em pré-história recolhe, pessoalmente, 
objetos do solo. Ele realiza um trabalho de campo, como o realizado na Antropologia Social na 
qual se beneficia de depoimentos vivos” (LAPLANTINE, 1988, p. 18).
Antropologia Linguística:::: – é o estudo da diversidade das línguas humanas em dois aspectos:
etnolinguísticas:::: (como os homens pensam e vivem) – estudo dos textos escritos e orais; 
etnociência::::(como os homens interpretam seu próprio saber e saber-fazer).
Antropologia Psicológica :::: – é o estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo 
humano; estuda a mente e os processos mentais e sociais do ser humano em sociedade.
Antropologia Social e Cultural:::: (ou Etnografia) – é o estudo do modo de produção econômica, 
das formas de produção técnica, da organização social e da cultura, dos sistemas de 
conhecimento de sua difusão, do sistema de parentesco, da língua, das formas de produção 
artística, da psicologia social, das crenças e da religião.
Teorias Antropológicas
As Teorias Antropológicas – Clássicas e Contemporâneas (Modernas) – construíram seus legados 
científicos a partir da segunda metade do século XIX. Elas sucederam-se na linha do tempo, ampliaram 
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12 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
e consolidaram paradigmas fundamentais – modelos e formas de abordagens, estudos e observações – 
para a interpretação dos modos de vida – biológico, social e cultural – do homem.
Nessa faixa de tempo, as teorias convergiam e coincidiram em diversos aspectos metodológicos 
e conceituais, divergiam e se afastaram em diversos outros pontos e juntaram-se em aspectos pontuais. 
A consolidação da disciplina experimentou arranjos conceituais, contradições teóricas, revisões e 
ampliações de abordagens e interpretações, como as demais disciplinas das Ciências Sociais (Sociologia, 
História, Filosofia e Línguas).
Os principais centros de elaboração teórica e conceitual – Inglaterra, França, Estados Unidos, 
Alemanha – ampliaram as possibilidades de estudos e interpretações das produções, históricas e con-
temporâneas dos diversos grupos humanos (isolados ou em conjunto), em todos os continentes (Europa, 
América, África, Ásia e Oceania), e em grupos sociais com grandes diversidades culturais e organizativas.
Em consequência desse processo, produziu-se um amplo painel com as várias manifestações 
humanas, pontilhadas pela diversidade nas formas de saber, saber-fazer e ser da humanidade.
Esse processo não se deu de forma linear e reta. As várias “escolas” retomavam, ampliavam, 
revisavam e reinventavam novas formas do olhar antropológico, abordagens e interpretações. Na 
arquitetura geral das teorias, entretanto, elas podem ser alinhadas, de forma geral, na seguinte linha do 
tempo, a partir do século XVI: 
1. Literatura “etnográfica” da diversidade e alteridade cultural; 
2. Evolucionismo Social; 
3. Difusionismo; 
4. Escola Sociológica Francesa; 
5. Funcionalismo Britânico; 
6. Culturalismo Norte-Americano; 
7. Estruturalismo; 
8. Antropologia Interpretativa; 
9. Antropologia Pós-Moderna ou Crítica.
Para efeitos didáticos, essa linha é adotada como “modelo teórico” de apresentação dos para-
digmas das escolas, que formam as Teorias Antropológicas, sem, entretanto, caracterizá-la como uma 
“forma congelada”, como uma linha reta.
Articulação do olhar “etnográfico”
Como ciência, a Antropologia é filha do século XIX. Porém, antes dessa fase, registram-se várias 
iniciativas de crônicas “etnográficas” feitas por viajantes, guerreiros, religiosos, exploradores, desde a 
Antiguidade clássica. Na Grécia antiga, as crônicas de Heródoto (século V a.C. – 485 [?]-420) registram suas 
observações sobre os costumes, comportamentos, hábitos e usos, produção material e representação 
imaterial dos povos visitados pelo pensador grego. Mas a produção dos viajantes do século XVI, com as 
descobertas de novos povos e “mundos”, trouxe a temática da alteridade e diversidade humanas para o 
palco central das narrativas, nos primórdios e início da reflexão antropológica.
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13|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
As cartas, crônicas e relatos comerciais dos viajantes pintam painéis da diversidade humana em 
vários pontos do mundo. Missionários, militares e, acima de tudo, os administradores descrevem os povos 
e suas produções, com variados graus de precisão. Registram-se as qualidades da terra, sua fauna e flora; 
a topografia (descrição minuciosa de uma localidade) das costas e do interior; o sistema de parentesco e 
as formas de organização política, econômica, cultural e religiosa dos “povos do novo mundo”.
A Carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) – escritor português que exerceu a função de escrivão 
da armada do navegador Pedro Álvares Cabral (1467 [1468]- 1520 [1526]) –, que narra a chegada dos 
portugueses ao Brasil, é um modelo típico desses rudimentos do discurso etnográfico.
Datada de 1500, do Porto Seguro da Ilha de Vera Cruz, sexta-feira, “primeiro dia de maio”, a carta 
descreve o impacto que a nova paisagem humana causou aos navegadores portugueses, quando eles 
fizeram o primeiro contato com os habitantes locais:
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, benfeitos. Andam nus, sem ne-
nhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar 
o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento 
duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de 
dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte 
que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber. (CAMINHA, 1500)
Pero Vaz de Caminha descreve a topografia da costa brasileira, a fauna e as riquezas da natureza, 
os modos e costumes dos habitantes locais, suas formas de organização social, cultural e religiosa e suas 
relações com os navegadores. A riqueza de detalhes, a precisão das descrições, o esquadrinhamento da 
localidade conferem ao relato status etnográfico que permitiu, mais tarde, a ocupação de amplas faixas 
de terra no novo território.
Antropologia Evolucionista Social
No início da jornada da Antropologia como ciência, predominou a Teoria do Evolucionismo 
Social. O declínio das explicações teológicas sobre o homem e a natureza, pressuposto do Iluminismo2, 
tonificou a procura pelas explicações científicas.
A principal característica da Teoria Evolucionista é a sistematização do conhecimento das socie-
dades “primitivas”, de primeira origem, dos primeiros tempos. Eram tidas como estágios inferiores do 
desenvolvimento alcançado pelas sociedades “civilizadas”, avançadas nos planos técnico, social e cientí-
fico: todas as formas de organização das condições materiais e culturais dos homens passariam, neces-
sariamente, dos estágios primitivos aos civilizados.
Os teóricos do Evolucionismo formularam o conceito de unidade psíquica do homem, em estágios 
diferentes, entre os “primitivos” e os “civilizados”: os grupos étnicos das diversas áreas geográficas do 
planeta faziam parte da grande família humana, mas se encontravam em fases distintas de evolução e 
desenvolvimento. Segundo Laplantine,
[...] o Evolucionismo encontrará sua formulação mais sistemática e mais elaborada na obra de Morgan3 e particularmente 
em ancient society (sociedade antiga), que se tornará o documento de referência para a imensa maioria dos antropólogos 
2 Movimento surgido na França do século XVII que defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica, religiosa, que dominava a Europa. 
Segundo os filósofos iluministas, essa forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade.
3 Morgan, Lewis H. La Société Archaïque. Paris: Anthropos, 1971.
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14 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
do final do século 19, bem como na lei deHaeckel4. [...] a ontogênese reproduz a filogênese: ou seja, o indivíduo 
atravessa as mesmas fases que a história das espécies. [...] Disso decorre a identificação [...] dos povos primitivos aos 
vestígios da infância da humanidade. (LAPLANTINE, 1988, p. 65-66)
Morgan conceituou três estágios de evolução da humanidade: 
selvageria;::::
barbárie;::::
civilização. ::::
Na base dessa teoria, floreceu e etnocentrismo5 (predominância civilizatória de um grupo humano 
em relação a outro). No caso específico, da civilização europeia em relação às demais.
Antropologia Difusionista
A Teoria da Antropologia Difusionista reage ao etnocentrismo da Teoria da Antropologia Evolucio-
nista Social. Ela procura compreender a natureza das culturas de cada povo, da origem a sua extensão, de 
um grupo humano para outro. A corrente explica o desenvolvimento cultural pelo processo de difusão 
de aspectos culturais, formas culturais, de uma cultura para outra.
Os diversos povos tomam de empréstimo aspectos culturais fundamentais de outros e os adaptam 
às suas particularidades, o que provoca a evolução da cultura e explica a diversidade das manifestações 
culturais. Os grupos humanos distintos absorvem “aspectos culturais” de um outro grupo, como uma 
tendência humana.
Os antropólogos difusionistas substituem o termo raça pelo cultural e se dividem em três escolas 
teóricas: a inglesa, a alemão-austríaca e a norte-americana.
Na escola alemã destacaram-se os antropólogos Fritz Graebner, Friedrich Ratzel, Léo Frobénius, 
Wilhelm Schmidt; na escola inglesa, Elliot Smith, J. Perry e W. R. R. Rivers. A escola inglesa ficou conhe-
cida pelo nome de hiperdifusionista pelo fato de alguns dos seus teóricos levantarem a hipótese de 
que todas as invenções do homem têm origem na civilização egípcia. Na escola norte-americana o 
destaque é o antropólogo Franz Boas (1848-1942)
Seus elementos básicos são a reconstituição histórica – do passado e do presente –, e o intenso 
trabalho de campo, com a coleta sistemática de dados primários, de dados colhidos em primeira mão.
Um dos principais teóricos do Difusionismo foi o geógrafo e etnólogo alemão Friedrich Ratzel 
(1844-1904), “pai do conceito espaço vital”.
Antropologia da Escola Sociológica Francesa
A Escola Sociológica Francesa, ainda em parte submersa do universo cultural do século 
XIX, apresenta duas características fundamentais que contribuem para a consolidação da ciência 
antropológica: a definição dos fenômenos sociais como objetos de investigação socioantropológica, e 
4 Ernest Heinrich Philipp August Haeckel (1834-1919), naturalista alemão.
5 Conceito que considera as normas e valores – sociais e culturais – da própria sociedade ou cultura como base de avaliação e “julgamento” 
de todas as demais culturas e sociedades.
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15|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
o “salto quântico”, a grande contribuição, a definição das regras do método sociológico de investigação. 
As obras de Durkheim6 e , mais tarde, as obras de Marcel Mauss7 são decisivas para a elaboração dessas 
características conceituais.
No campo da Escola Sociológica Francesa, em relação ao aspecto metódico, diz Laplantine:
É preciso apreendê-lo totalmente [o fenômeno social], isto é, de fora como uma “coisa”, mas também de dentro como 
uma realidade vivida. É preciso compreendê-lo alternadamente tal como o percebe o observador estrangeiro (o etnó-
logo), mas também tal como os atores sociais vivem. [...] o que caracteriza o modo de conhecimento próprio das ciên-
cias do homem é que o observador-sujeito, para compreender seu objeto, esforça-se para viver nele mesmo a experi-
ência deste, o que só é possível porque esse objeto é, tanto quanto ele, sujeito. (LAPLANTINE,1988, p. 91)
Antropologia Funcionalista
Com os dois pés fincados no século XX, a Antropologia Funcionalista inaugura uma nova fase 
de observação do olhar antropológico (intenso trabalho de campo), com a adoção da observação 
participante, quando o pesquisador submerge no oceano cultural da população estudada; desenvolve o 
modelo etnográfico clássico, a monografia, e estuda, de forma sistematizada e global, os conhecimentos 
de uma dada cultura. Há assim uma ruptura epistemológica, uma ruptura na forma de construir o 
conhecimento, no campo da ciência antropológica, quando o pesquisador procura conhecer as sutilezas 
e particularidades da cultura que ele se propõe a compreender, a estudar.
Essa escola dá ênfase ao estudo das instituições, formas de organizações sociais e culturais e das 
suas funções para a manutenção do conjunto cultural, da totalidade da cultura de um determinado 
povo.
Polonês radicado na Inglaterra, Bronislaw Malinowski (1884-1942) foi um dos principais protago-
nistas da Escola Funcionalista. Malinowski encontra-se entre os precursores do trabalho de campo, fora 
dos gabinetes, no fazer antropológico. Ele radicalizou no conceito de compreensão por dentro de uma 
cultura observada; rompeu com a especulação distante e instaurou a observação participante – quando 
o antropólogo olha de perto a cultura estudada –; ele tira seu modelo de estudo (o funcionalismo) das 
ciências naturais, como a Biologia, e estuda o homem nas dimensões social, psicológica e biológica. Sua 
obra Os Argonautas do Pacífico Ocidental, de 1922, é considerada o primeiro grande estudo etnográfico 
de peso.
Antropologia Culturalista Norte-Americana
A Escola Antropológica Norte-Americana pesquisa, de modo especial, a identificação dos patterns 
of culture (padrões culturais). Ela procura as normatizações do desenvolvimento das culturas.
Franz Boas (1858-1942) foi o principal expoente dessa escola. A exemplo de Malinowski, Boas 
desenvolveu um intenso trabalho de campo. O antropólogo se detinha no detalhe dos detalhes, para 
fazer uma transcrição meticulosa da realidade.
6 Émile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores da Sociologia moderna. Durkheim, E. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: 
Martin Claret, 2001.
7 Marcel Mauss (1872-1950), sociólogo e antropólogo francês. Mauss, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Edusp, 1974.
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16 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Essa escola defende que as culturas, de maneira geral, são diversas, mas têm características 
comuns, padrões culturais. Esses padrões são resultados do agrupamento de complexos culturais. O 
padrão é uma norma regularizadora que estabelece os valores de aceitação e rejeição, dentro de uma 
determinada cultura. Diz Ruth Benedict (1989, p. 60), uma das principais expoentes dessa escola, que:
[...] essa elaboração da cultura num padrão coerente não se pode ignorar como se fosse um pormenor sem importância. 
O conjunto, como a ciência está a afirmar insistentemente em muitos campos, não é apenas a soma de todas as suas 
partes, mas o resultado de um único arranjo e única inter-relação das partes, de que resultou uma nova identidade [...]. 
O Culturalismo Norte-Americano exerceu influência no campo das Ciências Sociais do Brasil. 
Gilberto Freire (1990-1987), autor de Casa Grande e Senzala, foi discípulo de Franz Boas e parte 
considerável de sua abordagem da cultura brasileira teve como inspiração as teorias desenvolvidas pelo 
pesquisador alemão, radicado nos Estados Unidos.
Antropologia Estruturalista
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss foi um dos principais articuladores da Escola Atropo-
lógica Estruturalista. Na década de 1940, Lévi-Strauss pesquisou os princípios da organização da mente 
humana. Seu objetivo foi estudar as regras estruturantes das culturas presentes na mente humana.
Nessa linha de pesquisa, o antropólogo francês percorreu os caminhos das teorias do parentesco, 
da lógica do mito, daschamadas classificações primitivas e da relação natureza versus cultura.
Para Lévi-Strauss, o Estruturalismo concebe a existência de um certo número de materiais culturais 
sempre idênticos, como as “cartas de baralho” e o “caleidoscópio” – duas de suas metáforas preferidas 
– que podem ser classificadas como invariantes. As diferentes possibilidades de combinações dessas 
invariantes são ilimitadas. Elas constituem “leis universais que regem as atividades inconscientes do 
espírito” (LÉVI-STRAUSS in LAPLANTINE, 1988, p. 138).
Em um caleidoscópio, a combinação de elementos idênticos sempre dá novos resultados. Mas é porque a história 
dos historiadores está presente nele – nem que seja na sucessão de chocalhadas que provocam as reorganizações da 
estrutura – e as chances para que reapareça duas vezes o mesmo arranjo são praticamente nulas. (LÉVI-STRAUSS apud 
LAPLANTINE, 1988, p. 138)
Antropologia Interpretativa
No meado da década de 1960, o antropólogo norte-americano Clifford Geertz (1926-2006) 
desenvolveu a Teoria da Antropologia Interpretativa. Geertz problematiza o estudo antropológico ao 
propor uma “leitura da leitura que os ‘nativos’ fazem de suas próprias culturas”. Ele passa a discutir o 
papel político e ideológico da Antropologia e de sua escrita sobre os diversos povos.
O autor passa a estudar a cultura como hierarquia de significados (rede de significados tecida 
pelos antropólogos) e a busca por uma descrição densa, intensa, do universo cultural dos povos.
Em Chicago [anos 1960] – àquela altura eu começara a lecionar e agitar – teve início e começou a se difundir um 
movimento mais geral [...]. Alguns, lá e em outros centros, batizaram esse desenvolvimento, ao mesmo tempo teórico 
e metodológico, de “antropologia simbólica”. Mas eu, encarando tudo isso como empreendimento essencialmente 
hermenêutico, um esclarecimento e definição, e não como uma metáfrase ou decodificação, e pouco à vontade com as 
misteriosas e cabalísticas implicações de “símbolo”, preferi ”antropologia interpretativa”. (GEERTZ, 2001, p. 27)
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17|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Antropologia Pós-Moderna ou Crítica
Nos anos 1980, autores como James Clifford, Georges Marcus, Michel Fischer, Richard Price e 
Michel Taussig desenvolveram a Teoria da Antropologia Pós-Moderna (Crítica). A observação crítica 
desses antropólogos centrava-se nos recursos retóricos presentes no modelo textual das etnografias 
contemporâneas. Eles propõem uma mudança profunda na relação do observador com o observado, 
pedra de toque do estudo antropológico. Os autores propõem a relativização da autoridade 
do antropólogo, e de seu discurso; eles politizam a relação do antropólogo com a população 
observada.
Essa escola considera a cultura como um processo polissêmico (plural, múltiplo), com diversas 
possibilidades de interpretação. Dessa forma, a etnografia é uma representação polifônica – em várias 
direções – da polissemia cultural, instrumento da crítica cultural: a cultura não tem compreensões 
únicas, unilaterais, unívocas e lineares.
Antropologias
Na atualidade, as narrativas antropológicas focam suas observações em aspectos centrais das 
sociedades contemporâneas, nos feitos e representações da vida moderna: Antropologia Urbana, 
Antropologia Política, Antropologia Visual, Antropologia Multirracial, entre outras abordagens 
possíveis.
Antropologia Urbana
A Antropologia Urbana estuda a dinâmica urbana da sociedade atual:
sua forma de organização, a distribuição populacional, formas de organização da ocupação ::::
urbana, a cidade, as práticas culturais na cidade, a cidade e sua história – a vida cotidiana, 
moradia e a vizinhança; 
práticas de lazer – o tempo sagrado; ::::
apropriação do espaço por grupos diferenciados – os cenários, os atores; ::::
imagens da cidade – representações do espaço urbano.::::
Antropologia Política
A Antropologia Política estuda a natureza e as formas das organizações políticas, desde as socie-
dades antigas até as atuais; os processos de formação dos sistemas políticos; as formas de ritualização 
do poder político; a história e perspectivas dos sistemas políticos (realeza, poder divino, o colonialismo); 
as relações do poder com o sistema simbólico (poder, cultura, sistema de comunicação social).
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18 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Antropologia Visual
A Antropologia Visual visa ao estudo da produção de imagens e de suas implicações culturais 
na sociedade contemporânea: linguagens, meios de comunicação visual (fotografia, vídeo, televisão, 
cinema), informação visual urbana (outdoor, pichação, muralismo) e as mídias radicais urbanas.
Antropologia das Sociedades Multirraciais
A Antropologia das Sociedades Multirraciais estuda aspectos teóricos e empíricos das relações 
sociais inter-raciais numa dada sociedade: a construção social multirracial, pluralidade biológica e 
cultural; tolerância e diversidade; racismo e cidadania; conflitos e confrontos raciais; raça (etnia, cultura, 
civilizações, etnocentrismo, preconceito, racismo e discriminações); multiculturalismo; integracionismo; 
ações afirmativas; globalização e identidades.
Considerações finais
As Teorias Antropológicas sucederam-se na linha do tempo, desde meados do século XIX, e multi-
plicaram as possibilidades de compreensão integral do homem, e suas produções materiais e culturais.
Elas se constituíram em paradigmas – formas de abordagem metodológicas e epistemológicas 
– e em um movimento contínuo formularam teses, antíteses e sínteses teóricas e conceituais para a 
compreensão da natureza do ser humano.
Esse movimento global deu-se em razão da complexidade da natureza humana e permite ao 
antropólogo contemporâneo compreender o passado, estudar o presente e imaginar o futuro.
Texto complementar
Relaxe. Somos todos mestiços
E isso só traz vantagens, afirma o cientista que é o maior estudioso das diásporas humanas
(DORIA, 2007)
O antropólogo Darcy Ribeiro não viveu para saber, mas a premiada ginasta Daiane dos Santos 
parece personagem saída de seus livros: mestiça, uma brasileira ideal daquelas definidas antes de 
Darcy por Gilberto Freyre, por Sérgio Buarque de Holanda, é caso de estudo. Nos números coletados 
de seu DNA pelo professor mineiro Sérgio Danilo Pena a pedido da BBC Brasil, deu que Daiane é 
40,8% europeia, 39,7% africana, 19,6% ameríndia.
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19|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
A antropologia brasileira estudou por muitos anos essa mistura de povos até chegar à famosa 
conclusão de Darcy – “ser mestiço é que é bom” – mas é só de pouco tempo para cá que as ciências 
biológicas vêm dizer em detalhes exatamente como ela se dá. O estudo da origem genética dos 
povos começou nos anos 1950, na Europa, realizado por um jovem médico italiano criado nos anos 
do fascismo. Luigi Luca Cavalli-Sforza, entrevistado pelo Aliás, não apenas inventou uma disciplina 
científica. Aos 85 anos, ele é um dos mais importantes e prolíficos cientistas vivos.
Um estudioso nos moldes renascentistas, no sentido de que busca informação aproximando 
áreas de conhecimento que não costumam se encontrar. Por exemplo: antropologia, genética e 
matemática. Com amplo domínio das três disciplinas, após um estudo coletando amostras genéticas 
de povos em todo o mundo, Cavalli-Sforza pôde traçar a história daquilo que batizou “a grande 
diáspora humana”.
Nascemos, o Homo sapiens, na África Oriental. Por mais de metade da existência humana, 
permanecemos lá – e aí nos aventuramos para longe. Do Oriente Médio fomos para a Rússia; de lá, 
uma parte foi para aÁsia e outro grupo, mais tarde, para a Europa. Da Ásia, outro ramo seguiu para 
a América. Assim, em algumas dezenas de milhares de anos, fomos lentamente ganhando novos 
traços. Olhos puxados aqui, pele esbranquiçada ali, pernas mais longas, torsos mais fortes. O próprio 
europeu já é mestiço – dois terços asiático, um terço africano.
As técnicas do professor Cavalli-Sforza, aplicadas no Brasil, revelam aquilo que ainda nos causa 
surpresa: mestiço não tem cara. Se parecemos brancos ou negros ou mulatos, índios ou não, essa 
aparência não diz o que somos. “O Brasil teve a boa sorte de não ver o racismo”, diz o velho cientista 
genovês. “Essa é uma herança dos portugueses”, completa, ecoando Darcy. Sim, ser mestiço é bom. 
A mistura melhora o povo – dá aquilo que os geneticistas chamam de “vigor híbrido”.
1. Ser mestiço é que é bom, como dizia Darcy Ribeiro? Talvez seja surpreendente para 
algumas pessoas que a aparência física, como cor da pele, não sejam bons indícios da herança 
genética. Os brasileiros estão certamente entre os povos mais misturados do planeta, embora não 
sejam os únicos. A diferença é que nenhum dos outros grupos mestiços forma um povo tão vasto. 
O Brasil teve a boa sorte de não ver o racismo prosperando, como costuma acontecer noutros cantos. 
Isso provavelmente vem de uma herança portuguesa, povo que já demonstrava predisposição pela 
mistura racial desde os tempos de suas primeiras colônias, na África. O estudo de nossas origens 
genéticas apenas confirma o que já estava claro para bons observadores: a mistura entre povos e 
a produção daquilo que nós geneticistas chamamos de híbridos não traz qualquer desvantagem 
do ponto de vista genético. Até melhora, traz uma vantagem naquilo que chamamos de “vigor 
híbrido”.
2. Ainda é possível dizer que existem raças humanas? As diferenças entre povos de locais 
geográficos distintos são claramente visíveis, caso de cor da pele e tamanho e formato das partes do 
corpo. Essas características refletem adaptações ao clima local que surgiram após a espécie humana 
se originar na África Oriental, há relativamente pouco tempo (não mais que 100 ou 150 mil anos, 
período bastante curto na escala evolutiva) e, naturalmente, após deixar a África, há coisa de 50 
ou 60 mil anos. De qualquer forma, essas diferenças são triviais em todos os aspectos essenciais. 
A grande maioria das diferenças genéticas se encontra entre um indivíduo e outro, jamais entre 
um povo e outro. Falando em números, mais de 90% das diferenças genéticas se dão entre duas 
pessoas de um mesmo povo. Apenas 10% da variação se dá entre, digamos, europeus e asiáticos, 
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20 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
entre africanos e americanos nativos. Isso acontece porque a nossa é uma espécie muito jovem e 
ainda não houve tempo evolutivo para nos diferenciarmos. Quer dizer: não existem raças distintas 
entre os homens.
3. A ideia de etnia ainda serve para explicar algo a nosso respeito? A utilidade do conceito 
de “etnia” depende de sua definição. Para mim, diferenças étnicas são as diferenças entre os povos, 
tanto genéticas quanto culturais. As distinções culturais são compostas pelo que aprendemos 
na sociedade em que somos criados. É natural que tenhamos dificuldades na hora de entender 
se um comportamento particular é determinado genética ou culturalmente. Por exemplo: o 
comportamento criminoso é determinado pelos nossos genes ou pela nossa cultura? Está claro 
que em grande parte o que determina é a cultura. Mas é difícil excluir de todo a tendência inata 
em alguns casos raros. É aí que o conceito de “etnia” nos ajuda. Ele nos permite deixar para lá a 
questão de se algo é cultural ou genético, principalmente nos casos em que a ciência não tem ainda 
a capacidade de definir.
4. Que outras pistas a genética pode oferecer a respeito de nossa história humana? Em 
geral, os linguistas têm uma profunda dificuldade de alcançar um consenso em uma das questões 
mais importantes de sua disciplina, que é a de se a linguagem surgiu uma única vez, ou se teve 
múltiplas origens. Isso acontece porque a maioria desses especialistas não tem interesse em estudar 
línguas de forma comparada. Como geneticista, estou convencido de que houve uma única origem 
para todas as línguas faladas atualmente. Todos os humanos vivos descendem daquele grupo rela-
tivamente pequeno que viveu na África Oriental há 100 mil anos. Essa tribo cresceu numericamente 
e se expandiu pelo resto do mundo, da África para o Oriente Médio, então para a Ásia e Europa. 
Por definição, tribos falam a mesma língua, e a linguagem, por conta de seu gigantesco potencial 
de comunicação, há de ter sido uma força importante sem a qual a grande migração que levou o 
homem a todos os cantos do planeta não teria sido possível. Todos temos a mesma capacidade 
intelectual de adquirir essa técnica de comunicação que é a língua. Ela, junto com nossa capacidade 
de inventar novas máquinas, são as características que nos diferenciam dos outros animais. Embora, 
sempre é bom lembrar, essa é uma questão de graus. Animais também se comunicam e inventam 
ferramentas. A diferença na habilidade é que é tremenda.
5. O estudo das origens dos povos pode auxiliar na resolução de conflitos políticos? Nas 
questões de terra, como os embates entre judeus e palestinos, não adianta saber quem estava 
lá primeiro. A propriedade de terras tem origem histórica, a maior parte das propriedades foi 
adquirida de forma violenta em guerras e, mesmo em tempos de paz, não é raro que propriedades 
sejam conquistadas por meios desonestos. No caso dos bascos, o problema sequer é de quem 
chegou primeiro. Eles são um povo muito, muito antigo. Sua língua pertence à família de línguas 
que se espalhou por todo o mundo antes das ondas migratórias que trouxeram as línguas faladas 
atualmente na Europa. Ainda há idiomas “primos” do basco que sobrevivem em muitos lugares, 
como no Cáucaso, na China e até mesmo entre grupos de índios americanos. Em geral, as sociedades 
humanas tentam desenvolver meios para minimizar os conflitos, mas ainda temos muito a caminhar 
até chegarmos a um acordo que leve à paz e à justiça social que desejamos.
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21|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Atividades
1. Na Antropologia, o treinamento do olhar é um dos exercícios mais importantes da observação 
participante – trabalho de campo. Saber olhar e discernir a anatomia, as formas e as cores dos 
objetos e sujeitos é a antessala da etnografia. Desenvolva uma pesquisa bibliográfica tendo como 
foco principal o conceito de etnografia e de observação participante. Após a pesquisa procure 
identificar os principais elementos culturais da sua cidade. Faça um pequeno relatório com as 
seguintes observações:
a) Os pioneiros da cidade.
b) A principal atividade econômica.
c) Os principais recursos naturais da região.
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22 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
2. A Antropologia é o estudo das manifestações materiais e imateriais de um povo. As manifestações 
culturais permitem conhecer melhor os costumes, hábitos, crenças e valores de um povo. Na sua 
região, procure identificar:
a) Qual é a principal manifestação cultural da região?
b) Quais são as principais características?
c) Como você define a participação da comunidade nessa manifestação?
3. Que teoria inaugura a Antropologia como ciência, em que época isso ocorre, qual sua principal 
característica e que conceito de homem foi formulado por ela?
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23|Voo panorâmico da “aventuraantropológica”
Referências
BENEDICT, R. Padrões da Cultura. Lisboa: Livros do Brasil, 1989.
_____. O Crisântemo e a Espada (1946). São Paulo: Perspectiva, 2006.
BOAS, F. Primitive Art. Nova York: Capitol, 1951. 
_____. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
CAMINHA, P. V. de. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: <www.historianet.com.br/conteu-
do/default.aspx?codigo=552>. Acesso em: 20 ago. 2012.
CLIFFORD, J. A Experiência Etnográfica. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998.
_____. Dilemas de la Cultura. Barcelona: Gedisa, 2001.
CLIFFORD, J.; MARCUS, G. E. Writing Culture: the poetics and politics of ethnography. Berkeley: Univer-
sity of California Press, 1986.
DORIA, P. Relaxe: somos todos mestiços. Disponível em: <http://txt.estado.com.br/suplementos/
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GEERTZ, C. A Interpretação da Cultura. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
_____. O Saber Local – novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 1998. 
LAPLANTINE, F. A Descrição Etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004.
MALINOWSKI, B. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
MARCUS, G. E.; FISCHER, M. Anthropology as Cultural Critique: an experimental moment in the hu-
man sciences. Chicago: University of Chicago, 1999. 
RATZEL, F. Geografia Dell’Uomo: antropogeografia. Milano: Fratelli Bocca, 1914. 
SMITH, G. E. The Ancient Egyptians and the Origin of Civilization. London: Harper, 1923.
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24 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Gabarito
1. 
a) Nomes e atividades desenvolvidas pelos primeiros ocupantes da localidade (registrados e 
documentados ou registros de crença populares).
b) Mineração, pesca, agrária, comércio, pecuária, área remanescente de quilombo, área 
remanescente de aldeias indígenas.
c) Rio, mar, floresta, lagoa, serra.
2. 
a) Festas religiosas (Juninas ou S. Benedito, S. Bárbara), Festas Cívicas (Independência, Proclamação 
da República, Abolição da Escravidão).
b) Religiosa, militar ou civil; turística ou econômica; feriado nacional ou local; de uma comunidade 
étnica ou da população em geral.
c) Participação ativa (por quê?) ou participação parcial (por quê?).
3. Com a Teoria do Evolucionismo Social foram realizadas as primeiras experiências científicas 
da Antropologia a partir da segunda metade do século XIX. A Teoria do Evolucionismo Social 
sistematizou o conhecimento do desenvolvimento das sociedades dos estágios primitivos aos 
civilizados, e seus teóricos formularam o conceito de unidade psíquica do homem.
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A formação da literatura 
antropológica
No século XVI, os povos europeus deram início a uma das maiores aventuras humanas de todos 
os tempos: a Expansão Marítima. O crescimento das economias europeias e de seu comércio empurrou 
navegadores, comerciantes, aventureiros, administradores, religiosos e militares para além dos horizontes 
culturais e humanos do velho continente.
Ao tropeçarem em novas terras, os aventureiros entraram em contato com novos povos, novas 
paisagens, novas ecologias e novas culturas. Primeiro, o espanto; depois, a tentativa de desvendá-los.
O encontro da alteridade cultural e humana está nos primórdios da construção do discurso antro-
pológico, do estudo da complexidade da criação humana e de suas produções materiais e imateriais.
Foram artífices dessa carpintaria antropológica, em momentos distintos, Pero Vaz de Caminha1 
– escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral – autor da Carta do Descobrimento do Brasil, século XVI; 
Hans Staden2, autor de Duas Viagens ao Brasil, século XVI; Jean de Léry3, autor de Viagem à Terra do Brasil, 
século XVI; Jean Baptiste Debret4, autor de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, século XIX.
Cada um, a seu modo e tempo, descreveu a fauna, a flora e a topografia do “Novo Mundo”. Essa 
imagem construída correu o imaginário coletivo europeu e ajudou a desenhar a arquitetura de uma 
nova ciência social, séculos depois, chamada Antropologia.
1 Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escritor português nomeado escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral. Autor da carta considerada a 
certidão de nascimento do Brasil.
2 Hans Staden (1525-1579), aventureiro alemão, participou de combates na Capitania de Pernambuco e na Capitania de São Vicente contra 
corsários franceses e seus aliados indígenas. Foi capturado pelos Tupinambás, quase executado e devorado por eles. Resgatado retornou à 
Europa, onde relatou suas aventuras pelo Novo Mundo no livro conhecido como Duas Viagens ao Brasil publicado em 1557 em Marburgo, na 
Alemanha.
3 Jean de Léry (1534-1611) missionário, pastor e escritor europeu, aderiu à Reforma e tornou-se membro da Igreja Reformada de Genebra 
durante a fase inicial da Reforma Calvinista. Foi integrante de um grupo de ministros e artesãos protestantes em uma viagem ao Forte Coligny, 
núcleo inicial da França Antártica, que tentaria ser estabelecida no Rio de Janeiro. Junto com seu grupo foi expulso e acusado de heresia. 
Escapando de ser preso e da consequente execução, conseguiu regressar à Europa e começou a escrever suas experiências brasileiras, que 
seriam publicadas em Histoire d’un voyage fait en la terre du Brésil, autrement dite Amérique (1578), cuja versão para o português, de Alencar 
Araripe e Sérgio Milliet, teve o nome de “Viagem à terra do Brasil”.
4 Jean Baptiste Debret (1768-1848), pintor e desenhista francês, membro da missão de artistas franceses solicitada por D. João VI, que chegou 
ao Brasil em 1816 e ficou até 1831 dedicando-se à pintura e ao magistério artístico. Regressou à França e publica em Paris no período de 1834 
a 1839 Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, uma série de gravuras sobre aspectos, paisagens e costumes do Brasil.
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26 | A formação da literatura antropológica
Expansão Marítima
A Revolução Comercial dos séculos XV e XVI, antessala da Revolução Industrial que caracterizaria 
o século XVIII, impulsionou a expansão ultramarina europeia. A acumulação de capitais, recursos 
materiais e desenvolvimento técnico e científico legaram aos europeus as condições favorecedoras 
dessa expansão.
Os diversos fatores históricos do período, como a centralização do poder nas mãos de um 
governante (no caso, o rei) e a canalização dos recursos da classe emergente (a burguesia) permitiram 
o direcionamento de recursos materiais, econômicos e humanos para a empreitada da navegação 
transcontinental. Atrás de matéria-prima, compradores e novos produtos, as naus europeias cruzaram 
os mares, para muito além de suas costas e paisagens.
No alicerce dessa empreitada, encontra-se a capacidade de concentração e mobilização dos 
recursos sociais disponíveis à época, a revolução tecnocientífica do Renascimento europeu5, a retomada 
da iniciativa do comércio após o período de dominação árabe6, a busca de novos recursos materiais 
(ouro, prata, especiarias) e, acima de muitos dos fatores anteriores, a expansão da fé católica, depois da 
expulsão dos mulçumanos dos territórios europeus, no final do século XV.
Os portugueses foram os pioneiros entre os pioneiros. A centralização do poder político em 
Portugal, o domínio de técnicas avançadas de navegação, sua forte presença nas rotas comerciais e de 
trocas, a liquidez de recursos financeiros auferidos no comércio e a posição geográfica estratégica deram 
aos portugueses grande vantagem, em relação aos demais povos europeus, em especial, os espanhóis.
A principal base científica da expansão ultramarina portuguesa foi a Escola de Sagres7. Num curto 
espaço de tempo, a Escola deEstudos Náuticos, fundada pelo Infante Dom Henrique, transformou-se no 
mais importante centro de estudos e pesquisas das ciências marítimas.
Na Escola de Sagres desenvolveram-se instrumentos e recursos técnicos imprescindíveis para a 
aventura náutica lusitana. Além de sua famosa Junta de Cartógrafos – responsáveis pelo esquadrinha-
mento dos mares nos mapas náuticos portugueses, planos de navegação com extraordinária precisão 
para a época –, os portugueses aprimoraram a bússola, o astrolábio – instrumento legado aos portugue-
ses pelos sábios árabes que ocuparam o território durante séculos, a ampulheta – relógio de areia –, os 
portulatos – livros com descrições precisas das regiões conhecidas – o Quadrante e as técnicas de cons-
trução naval, com o desenvolvimento da caravela. Sem os domínios e conhecimentos técnicos desses 
instrumentos, a aventura portuguesa de além-mar seria uma empreitada passível de fracasso.
O desenvolvimento das caravelas foi um grande salto à frente dado pelos mestres carpinteiros 
portugueses. Essa navegação era capaz de transportar de 20 a 100 homens, com áreas específicas para 
o depósito de alimentos e de armas, e para os alojamentos dos marinheiros e dos capitães. A grande 
inovação técnica da caravela foi a utilização de velas triangulares em mar aberto. A técnica permitiu à 
navegação deslizar em zigue-zague, independentemente da força e da direção do vento.
5 Renascimento europeu foi o movimento cultural que ocorreu no século XVI no norte da Europa e marcou o final da Idade Média e o início da 
Idade Moderna. Fez parte das transformações culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas que caracterizaram a transição do Feudalismo 
para o Capitalismo.
6 A dominação árabe teve início em 756 com a tomada da Península Ibérica, constituindo-se inicialmente num emirado politicamente 
independente, ainda que reconhecendo a supremacia do Califado de Bagdá. Período considerado símbolo da proposta de diálogo 
intercultural e inter-religioso, estendeu-se durante oito séculos até a reconquista cristã do reino de Granada em 1492 resultando na expulsão 
dos muçulmanos seguida da expulsão dos judeus.
7 A Escola de Sagres foi fundada em 1417 pelo Infante Dom Henrique, que pretendia tornar mais eficiente o empreendimento marítimo- 
-mercantil. Representa a mudança radical e definitiva do rumo da expansão ultramarina.
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27|A formação da literatura antropológica
A Escola de Sagres deu aos portugueses uma vantagem que só depois seria alcançada pelos 
espanhóis na corrida ultramarina.
Após a expulsão moura – final do século XV – os reis católicos Fernando e Isabel8 deram início às 
grandes navegações espanholas. Os monarcas forneceram suportes econômicos, logísticos, técnicos e 
humanos para que o navegador Cristóvão Colombo9 desse início à viagem que o levaria, supostamente, 
às Índias.
Colombo navegou em direção ao oeste até encontrar as Antilhas. Mais tarde, o navegador chegou 
às ilhas de Cuba, El Salvador e Santo Domingo.
Com o ingresso dos espanhóis à empresa da navegação, acirraram-se os conflitos europeus 
para além-mar. Os governos português e espanhol disputavam palmo a palmo cada pedaço de terra 
e recursos encontrados no “Novo Mundo”. Sob a autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana, a 
intensificação dos conflitos levou os países a assinarem um acordo que passou para a história como o 
“Tratado de Tordesilhas10”, que procurou disciplinar as disputas advindas dos encontros de novas terras 
e riquezas.
As duas nações ibéricas lançaram mão sobre as terras e riquezas nas Américas, África e Ásia.
Mais tarde, Inglaterra, França e Holanda lançaram-se à aventura ultramarina e provocaram a 
ruptura do antigo domínio dos dois povos pioneiros das empreitadas no além-mar.
Diversidade humana e cultural
A expansão dos quadrantes conhecidos do mundo provocou uma profunda ruptura nas 
identidades dos povos europeus. As diversas culturas europeias deram um padrão de comportamento 
e atitude ante o mundo, que comportavam algumas semelhanças. Os povos encontrados no “Novo 
Mundo” tinham peles diferentes, costumes distintos, comportamentos sociais desconhecidos, formas 
de organização religiosa “estranha” para os olhares dos recém-chegados. Para os europeus, os novos 
povos não tinham organização do estado, da economia, da cultura, do poder político e militar e, acima 
de tudo, de religião, se comparado às instituições europeias.
A grade mental do europeu passa a ser ocupada por uma nova visão de homem e das formas de 
organização das suas atividades tangíveis e intangíveis.
O encontro de novos povos e cultura provocou um profundo estranhamento na mentalidade dos 
povos europeus.
O antropólogo Darcy Ribeiro (1995, p. 48) descreve da seguinte maneira o contraste provocado 
no encontro entre índios11 e europeus:
O contraste não podia ser maior, nem mais infranqueável, em incompreensão recíproca. Nada do que os índios tinham 
ou faziam foi visto com qualquer apreço, senão eles próprios, como objeto diverso de gozo e como fazedores do que 
8 O título de reis católicos é o nome pelo qual ficou conhecido o casal composto pela rainha Isabel I de Castela e o rei Fernando II de Aragão, 
que unificaram os reinos ibéricos no país que se tornou Espanha.
9 Cristóvão Colombo (1451-1506) foi um navegante genovês que descobriu a América a serviço da Espanha.
10 Tratado de Tordesilhas: tratado assinado em 1494 por Portugal e Espanha que dividia o “Novo Mundo” em duas partes: as terras a leste 
pertenciam a Portugal e as terras a oeste pertenciam à Espanha.
11 Ao chegarem às Américas, os europeus imaginavam que tinham alcançado a Índia, por essa razão deram aos povos encontrados no “Novo 
Mundo” o nome de índios.
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28 | A formação da literatura antropológica
não entendiam, produtores do que não consumiam. O invasor, ao contrário, vinha com as mãos cheias e as suas naus 
abarrotadas de machados, facas, facões, canivetes, tesouras, espelhos e, também, miçangas cristalizadas em cores 
opalinas. Quanto índio se desembestou, enlouquecido, contra outros índios e até contra seu próprio povo, por amor 
dessas preciosidades! Não podendo produzi-las, tiveram que encontrar e sofrer todos os modos de pagar seus preços, 
na medida em que elas se tornaram indispensáveis. Elas eram, em essência, a mercadoria que integrava o mundo índio 
com o mercado, com a potência prodigiosa de tudo subverter. Assim se desfaz, uniformizado, o recém-descoberto 
Paraíso Perdido.
Em tudo eram diferentes os costumes dos europeus e o dos habitantes das novas terras, os índios 
americanos.
Nesse período, a Antropologia Espontânea – narrativa e relato (cartas, diários, relatórios) – eram 
feitos pelos missionários, viajantes, comerciantes, exploradores, militares e administradores das novas 
terras.
Descreviam-se as riquezas da terra, a diversidade e exuberância da fauna e flora, a multiplicidade 
de formas da topografia, as anatomias, formas, gostos, modelos, jeitos e traços dos povos “descobertos” e 
as suas crenças e valores éticos e morais. Esses foram os primeiros relatos “etnográficos” com os registros 
das diversidades e alteridades humanas e culturais.
A carta do escrivão Pero Vaz de Caminha dá uma visão de como se articulavam as primeiras litera-
turas antropológicas, inauguradas com a descrição de formas e costumes de outros povos. O confronto 
de costumes e crenças merece a atenção escrupulosa dos narradores de então.
Caminha descreve-lhes as formas:
[...] os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e 
rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espéciede 
cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria 
o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não o 
era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a 
levantar.
Os costumes e modos:
[...] então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não 
eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes mandou pôr por baixo das cabeças 
seus coxins; e o da cabeleira esforçava-se por não a quebrar. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, 
quedaram-se e dormiram.
E, principalmente, práticas e costumes religiosos:
[...] enquanto estivemos à missa e à pregação, seria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos como a de ontem, 
com seus arcos e setas, a qual andava folgando. E olhando-nos, sentaram-se. E, depois de acabada a missa, assentados 
nós à pregação, levantaram-se muitos deles, tangeram corno ou buzina, e começaram a saltar e dançar um pedaço. 
E alguns deles se metiam em almadias – duas ou três que aí tinham – as quais não são feitas como as que eu já vi; 
somente são três traves, atadas entre si. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam não se afastando quase 
nada da terra, senão enquanto podiam tomar pé. (CAMINHA, 1500)
Na mesma linha descritiva avança o navegador Américo Vespúcio12. Ele registra com precisão 
etnográfica seu percurso até as novas terras, suas fauna e flora, seus povos e seus costumes.
Vespúcio narra as formas e feições dos nativos:
12 Américo Vespúcio (1454-1512), italiano, navegador e mercador. Foi o primeiro a constatar que as recém-descobertas terras do Novo Mundo, 
que receberam o nome de América em sua homenagem, constituíam um continente e não parte da Ásia.
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29|A formação da literatura antropológica
Têm os cabelos negros e crescidos; são ágeis e fáceis no andar e nos jogos, e de mui belas feições, as quais contudo a si 
próprios desfiguram, furando as faces, os lábios, as ventas e as orelhas. E não se creia que os buracos sejam pequenos ou 
tenham apenas um, pois vi muitos com sete, cada um dos quais tão grandes como um abrunho. Tapam estes buracos 
com bonitas pedras azuis de mármore, cristalinas ou de alabastro, e com ossos alvíssimos e outros objetos elaborados 
segundo seu uso, que é insólito e monstruoso. Homens há que levam nas faces e lábios sete pedras, cada uma de meta-
de da palma da mão de comprido. Não sem admiração, muitas vezes achei pesarem essas sete pedras dezesseis onças, 
além das que trazem pendentes de três buracos nas orelhas. (VESPÚCIO, 2007)
Dos hábitos culturais:
[...] não se dão à caça; penso que porque havendo aí muitas sortes de animais, maxime leões e ursos e muitas cobras e 
outros bichos hórridos e disformes, e porque os bosques são extensos e as árvores muito grandes, não ousam arriscarem- 
-se nus e sem comprimento a tantos perigos. (VESPÚCIO, 2007)
Das terras:
[...] a terra daquelas regiões é fértil e amena, de muitos montes e morros, e infinitos vales, e regada de grandes rios 
e fontes, coberta de extensos bosques, densos e apenas penetráveis, e povoada copiosamente de feras de todas as 
castas. Nela nascem, sem cultura, grandes árvores, as quais produzem frutos deleitosos, e de proveito ao corpo e nada 
nocivos, e nenhuns frutos são parecidos com os nossos. Produzem-se inumeráveis gêneros de árvores e raízes, de que 
fabricam pão e ótimos mingaus, além de muitos grãos ou sementes não semelhantes aos nossos.
E das riquezas naturais:
[...] as pérolas abundam nesta região, como em outro lugar escrevi. Seria demasiado prolixo e descomedido se quisesse 
dar conta uma por uma de todas as coisas dignas de notícia e das numerosas espécies e multidão de animais. E verda-
deiramente creio que o nosso Plínio não conseguiu tratar da milésima parte dos animais, nem dos papagaios e outros 
pássaros, os quais, naqueles países, são de formas e cores tão variadas, que o artista Policleto não conseguiria pintá-los. 
Todas as árvores tão odoríferas, e produzem gomas ou óleos, ou algum outro licor, cujas propriedades todas, se fossem 
conhecidas, não duvido que andaríamos todos sãos. E por certo que se o paraíso terreal existe em alguma parte da 
terra, creio que não deve ser longe destes países, ficando situado ao meio dia, com ares tão temperados, que nem no 
inverno gela, nem no verão faz calor. (VESPÚCIO, 2007)
São esses relatos e narrativas que foram o chassi das narrativas antropológicas primordiais, pré- 
-científicas; da antropologia “espontânea”. Se ela é uma constante desde os tempos antigos, nos relatos e 
histórias dos viajantes da Antiguidade, essas narrativas do século XVI tomam novas formas e contornos, 
com o advento da aventura ultramarina. O contato com povos diferentes, com costumes, hábitos e 
formas de organização da vida material e imaterial distintas das dos europeus, em escala até então 
pouco experimentada, impulsionou a reflexão sobre o homem e seus feitos.
Estavam dadas assim, com o encontro de dois mundos distintos, as bases para a reflexão da natu-
reza humana dos novos povos e novos mundos encontrados.
Para o antropólogo Laplantine (1987, p. 37), esse encontro é a gênese da “reflexão antropológica”. 
Ele destaca uma questão central do contato com a alteridade, do confronto visual com a diferença: 
os novos povos descobertos pelos navegadores pertencem à humanidade? A reposta a essa questão 
fundamenta-se, à época, nas escritas religiosas. A questão é colocada dentro dos seguintes parâmetros: 
O selvagem tem alma? O pecado original também lhes diz respeito? (LAPLANTINE, 1987, p. 37-38).
Na busca de resposta a essa questão, na metade do século XVI, a arena da polêmica é ocupada 
por dois dos maiores polemistas do período. Em defesa da natureza humana dos índios encontra-se o 
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30 | A formação da literatura antropológica
missionário dominicano Bartolomeu de Las Casas13; no lado oposto, na defesa da negação da natureza 
humana dos indígenas encontra-se o jurista Juan Ginés de Sepúlveda14.
Las Casas acentua as realizações humanas desses povos. O missionário compara, para fortalecer 
seu argumento, as realizações dos povos encontrados com os povos europeus, e conclui, em alguns 
aspectos, com a superioridade dos primeiros em relação aos segundos:
Àqueles que pretendem que os índios são bárbaros, respondemos que essas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, 
senhores e uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa [...]. Nós mesmos fomos piores, no tempo 
de nossos ancestrais e sobre toda a extensão de nossa Espanha, pela barbárie de nosso modo de vida e pela depravação 
de nossos costumes. (LAS CASAS apud LAPLANTINE, 1987, p. 38-39)
O missionário dominicano15 terá, mais tarde, papel decisivo na escravização dos africanos, negan-
do-lhes a mesma natureza humana atribuída aos nativos americanos.
Na outra linha da contenda, posiciona-se o jurista Sepúlveda. Sua arguição tem caminho oposto 
ao de Las Casas. De forma enfática, nega aos nativos qualquer possibilidade de natureza humana e 
defende, sem cerimônia, a submissão dos indígenas aos europeus:
Aqueles que superam os outros em prudência e razão, mesmo que não sejam superiores em força física, aqueles 
são, por natureza, os senhores; ao contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo que tenham as forças 
físicas para cumprir todas as tarefas necessárias, são por natureza servos. [...] E se eles recusarem esse império, pode- 
-se impô-lo pelo meio das armas e essa guerra será justa, bem comoo declara o direito natural que os homens 
honrados, inteligentes, virtuosos e humanos dominem aqueles que não têm essas virtudes. (SEPÚLVEDA apud 
LAPLANTINE, 1987, p. 39)
Não se furta a esse debate da época uma figura importante na colonização do Brasil, o padre 
Manoel da Nóbrega16. Segundo Darcy Ribeiro (1995), Nóbrega, em 1558, defende um plano de 
colonização que implica a eliminação dos nativos, ou escravização dos que não forem eliminados. 
Ribeiro dá ênfase à “eloquência espantosa” de Nóbrega para pôr fim à antropofagia17: era necessário 
dar fim “a boca infernal de comer a tantos cristãos”.
Se S. A. [Sua Alteza] os quer ver todos convertidos, mande-os sujeitar e deve fazer estender aos cristãos por a terra 
dentro e repartir-lhes os serviços dos índios àqueles que os ajudarem a conquistar e senhoriar como se faz em outras 
terras novas [...]. Sujeitando-se o gentio, cessarão muitas maneiras de haver escravos mal havidos e muitos escrúpulos, 
porque terão os homens escravos legítimos, tomados em guerra justa e terão serviços de avassalagem dos índios e a 
terra se povoará e Nosso Senhor ganhará muitas almas e S. A. terá muita renda nesta terra porque haverá muitas cria-
ções e muitos engenhos, já que não haja muito ouro e prata [...] (NÓBREGA in RIBEIRO, 1995, p. 50-51)
Segundo Darcy Ribeiro (1995), essa polarização sobre a natureza humana do indígena no Brasil 
vai perdurar durante um longo tempo, no início da ocupação territorial. Ela se expressará em conflitos 
pontuais entre os projetos de ocupação e a política dos jesuítas.
Apesar de o projeto jesuítico de colonização do Brasil nascente ter sido formulado sem qualquer escrúpulo humanitário, 
tal foi a ferocidade da colonização leiga, que estalou, algumas décadas depois, um sério conflito entre os padres da 
13 Bartolomeu de Las Casas (1472-1566) era espanhol e frei dominicano que converteu-se à causa da evangelização pacífica dos índios, 
denunciando os abusos cometidos e dedicando-se à defesa da vida, da liberdade e dignidade do índio.
14 Juan Ginés de Sepúlveda (1490-1573), jurista espanhol, baseava em Aristóteles a fundamentação teórica para sua tese de escravidão 
natural dos índios.
15 Las Casas, é certo, tendo aconselhado primeiramente a introdução de negros nas Índias, caiu depois em si, vendo a injustiça com que 
os tomavam os portugueses. Porque, diz “la misma razón es de ellos que de los índios”. Contudo, a História de las Índias, onde figura essa 
retratação, apesar de ter circulado logo em manuscritos, só encontraria seu primeiro impressor três séculos após a morte de Las Casas. De 
qualquer modo, sua denúncia do tráfico e escravidão dos negros não encontrou a larga ressonância que tivera a campanha pela liberdade dos 
índios” (HOLANDA, 2000, p. 375).
16 Padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) foi um sacerdote jesuíta português, chefe da primeira missão jesuítica à América.
17 Antropofagia é o ato de consumir uma parte, várias partes ou a totalidade de um ser humano.
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31|A formação da literatura antropológica
Companhia [de Jesus]18 e os povoadores dos núcleos agrário-mercantis. Para os primeiros, os índios, então em declínio 
e ameaçados de extinção, passaram a ser criaturas de Deus e donos originais da terra, com direito a sobreviver se 
abandonassem suas heresias para incorporarem ao rebanho da Igreja, na qualidade de operários da empresa colonial 
recolhidos às missões [jesuíticas]19. Para os colonos, os índios eram um gado humano, cuja natureza, mais próxima de 
bicho do que de gente, só os recomendava à escravidão. (RIBEIRO, 1995, p. 53)
Dessa forma, no início do debate da natureza humana emanada da alteridade e diversidade cul-
tural e humana, o núcleo central da discussão é de ordem religiosa, entre os que praticam a religião 
cristã e os outros, destituídos da prerrogativa humana delegada pela religião.
A esse respeito, Holanda (2000) dirá:
Não parece excessivo, pois, dizer que muitos dos antigos missionários do Brasil que, agindo embora à maneira de Frei 
Bartolomeu de Las Casas, deveriam parecer-se um pouco, no seu pensar, com Ginés de Sepúlveda, o acre opositor 
do Apóstolo das Índias [Las Casas] e partidário do Campelle intrare até o extremo da violência intolerante contra os 
bárbaros americanos. Assim é de crer que veriam no gentio muito mais o “perro cochino” do que o “bom selvagem”. 
(HOLANDA, 2000, p. 378)
Tangencial à discussão da natureza humana dos indígenas, outro debate aflora dos textos e nar-
rativas do período dessa Antropologia “espontânea”: a natureza da terra (flora, fauna, riquezas natu-
rais, clima e condições humanas). Algumas narrativas apontam a natureza degradante das novas terras, 
impróprias para o desenvolvimento das potencialidades humanas. Outras, pelo contrário, destacam a 
natureza generosa da terra e de suas condições, comparadas ao paraíso terrestre.
Dentro do universo dessas duas visões, a natureza humana era pendular: ora uma natureza boa 
com pessoas de segunda qualidade, ora uma natureza má com pessoas de primeira qualidade.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda (2000) registrará as diversas visões do paraíso que circu-
laram entre as narrativas dos primeiros períodos da colonização das Américas.
Uma visão nostálgica do paraíso:
[...] de uma parte, a polêmica dirigida contra a miséria do tempo presente, amparada no louvor e nostalgia de um pas-
sado venturoso e idílico, iria aparentemente favorecê-la. Essa polêmica sabe-se que é de todos os tempos, mas quando 
se torna singularidade viva é nos tempos medievais, dando causa até as fórmulas estereotípicas com a do ubi sunt, de 
que a balada mais célebre de François Villon é exemplo ilustre, mas não o único. (HOLANDA, 2000, p. 229)
E outra visão corrompida:
[...] por outro lado, a ideia da corrupção desse nosso mundo e da natureza, em consequência do Pecado e da Queda, 
acha-se implantada em todo o sentimento e pensamento cristão, e deita claramente raízes nas Sagradas Escrituras. 
Não custaria distingui-las já no Gênesis, quando alude à maldição divina lançada sobre a própria terra, que passaria 
agora a dar cardos e abrolhos. E ainda, para também recorrer ao Novo Testamento, naquele passo da Epístola dos 
Romanos (8:22), onde está dito que toda a criação, e não somente a espécie humana, “geme e padece até hoje”, por 
culpa do primeiro homem. (HOLANDA, 2000, p. 229)
Essas visões distintas da natureza e do homem é a grade de fundo que permeia todo o debate da 
diversidade humana e cultural, antes do Iluminismo20. O debate estava preso à concepção religiosa de 
mundo. Navegantes, militares, administradores e, acima dos demais, os religiosos sacavam dos textos 
18 A Companhia de Jesus foi criada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola com o objetivo de combater o Protestantismo e por meio de seus 
missionários espalhar a fé cristã.
19 As missões jesuíticas funcionavam como pequenas colônias independentes subordinadas diretamente à Igreja Católica. Seus missionários, 
os padres jesuítas, eram os responsáveis pela evangelização e catequização dos povos colonizados.
20 Iluminismo é o nome do movimento surgido na França do século XVII e que defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que 
dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, essa forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas 
em que se encontrava a sociedade. Os pensadores que defendiam esses ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado 
adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem.
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32 | A formação da literatura antropológica
sagrados às bases de suas arguições para explicar as diferenças da natureza humana, explicitadapelo 
encontro entre os povos e culturas do velho mundo com os povos e cultura dos novos mundos.
Ora, sucede que o paraíso terrestre é, pela sua própria essência, inatingível aos homens, ou, na melhor hipótese, só 
pode, talvez, ser alcançado à custa de ingentes e sobre-humanos esforços. De fato, só com o declinar do mundo 
medieval é que a ideia da corrupção e da degenerescência da natureza poderá afetar mais vivamente aqueles para 
quem a salvação eterna se torna, cada vez mais, um ideal longínquo e póstumo. Ao mesmo tempo irá esbater-se pouco 
a pouco, embora teoricamente ainda válida, a crença de que o Céu, um Céu sempre mais distante, cuida de interferir a 
todo o momento nos negócios profanos. (HOLANDA, 2000, p. 230)
A Antropologia aguardará ainda a emancipação do debate sobre o homem e suas realizações 
da esfera religiosa para a esfera científica das explicações teológicas para as compreensões da razão 
humana. Os séculos seguintes – XVII e XVIII – serão atravessados por essa polêmica, intensificada desde 
o período em que os europeus aportaram numa nova paisagem humana e ecológica.
Luzes científicas sobre o debate 
da diversidade humana e cultural
Nos séculos que se seguiram às grandes navegações, paulatinamente, o debate da natureza 
humana e das suas realizações migrou do universo do sagrado para o universo da Ciência. Ante a nova 
realidade apresentada, a Ciência tateava explicações plausíveis, racionais e reais para a diversidade 
humana e cultural. Esse tema será o epicentro das discussões humanísticas, inaugurada pelo Iluminismo. 
Aos poucos, saem da arena da polêmica os teólogos, que são substituídos pelos filósofos dos séculos 
XVII e XVIII.
Essa migração prepara a estrada pela qual desfilaram, no século seguinte, as primeiras teorias 
científicas dos descolamentos humanos nos eixos do espaço e do tempo, e a mensuração de suas reali-
zações materiais e imateriais, que receberá o nome de Antropologia.
Lilia Moritz Schwarcz (1993) considera o debate da diversidade como sendo central nesse período. 
A antropóloga destaca o papel desempenhado pelo Iluminismo nesse período.
Segundo Schwarcz:
Herdeira de uma tradição humanista, a reflexão sobre a diversidade se torna, portanto, central quando, no século XVIII, 
a partir dos legados políticos da Revolução Francesa e dos ensinamentos do Iluminismo, estabelecem-se às bases filo-
sóficas para se pensar a humanidade enquanto totalidade. Pressupor a igualdade e a liberdade como naturais levava 
à determinação da unidade do gênero humano e a certa universalização da igualdade, entendida como um modelo 
imposto pela natureza. A igualdade de princípios era inscrita na constituição das nações modernas, delegando-se às 
“diferenças” um espaço “moralmente neutro” (DUMONT, 1966, p. 322). Afinal, os homens nascem iguais, apenas sem 
uma definição completa da natureza. (SCHWARCZ, 1993, p. 44-45)
Dá-se um salto extraordinário, em relação ao período anterior. O Iluminismo lança luzes diferentes 
no debate sobre a diferença humana e cultural. Procuram-se, não mais nos textos sagrados, mas nas 
reflexões teóricas e conceituais, as respostas para tamanha diversidade e alteridade.
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33|A formação da literatura antropológica
No campo científico, desdobram-se várias teorias que procuram dar conta da complexidade 
humana: surge o conceito de raça, as explicações da origem humana pelo monogenismo21 ou poligenis-
mo22 até se chegar à evolução como paradigma, modelo do desenvolvimento humano.
No novo debate inaugurado pelo Iluminismo tomam assento duas das principais figuras de proa 
da filosofia ocidental: o genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e o alemão Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel (1770-1831).
No itinerário desse debate, Rousseau elabora o conceito-chave de sua teoria: a perfectibilidade 
humana. Segundo o filósofo, em liberdade, os homens seriam capazes de resistir aos ditames da natureza, 
uma especificidade humana, estatuto da condição humana, em contato direto com a natureza ou com 
a civilização.
Nessa linha, Rousseau desenvolve o conceito do bom selvagem. Ao erigir essa figura, o genebrino 
não exaltou a animalidade do selvagem, mas a sua humanidade ante o civilizado. Para ele, a civilização 
é a responsável pela degeneração das relações morais. As regras morais e a etiqueta podem esconder as 
formas mais vis e egoístas da natureza humana. Diferente seria a vida do homem primitivo.
O primitivo seria feliz por viver em conformidade com suas necessidades inatas: seria autossufi-
ciente em sua existência isolado na floresta. O homem natural é dotado de livre-arbítrio e do sentido de 
perfeição. Nessa fase de sua existência, o homem primitivo vive sua idade do ouro, “a meio caminho da 
brutalidade das etapas anteriores e a corrupção das sociedades civilizadas” (ROUSSEAU, 1987, p. XIII).
Pergunto qual das duas – a vida civil ou a natural – é mais suscetível de tornar-se insuportável. À nossa volta vemos 
quase somente pessoas que se lamentam de sua existência, inúmeras até que dela se privam assim que podem... 
Pergunto se algum dia se ouviu dizer que um selvagem em liberdade pensa em lamentar-se da vida e querer morrer. 
Que se julgue, pois com menos orgulho, de que lado está à verdadeira miséria. (ROUSSEAU, 1775/1978, p. 251 apud 
SCHWARCZ, 1993, p. 45)
Em Introdução à História da Filosofia (1816), Hegel mostra como a Filosofia está ligada à história, 
ao desenvolvimento do acontecer histórico. Hegel pinta, com cores carregadas, uma imagem negativa 
da América do Sul em relação à América Norte. Aos continentes africano e asiático, o pensador alemão 
reserva uma imagem ainda mais degradante: imagem paralisada em sua natureza hostil, e incapaz de 
participar da História Universal da Humanidade.
A diferença entre os povos africanos e asiáticos, por um lado, e os gregos e romanos e modernos, por outro, reside pre-
cisamente no fato de que estes são livres e o são por si; ao passo que aqueles o são sem saberem que o são, isto é, sem 
existirem como livres. Nisso consiste a imensa diferença das suas condições. Todo o conhecimento e cultura, a ciência 
e a própria ação não visam a outro escopo senão a exprimir de si o que é em si, e desse modo a se converter em objeto 
de si mesmo. (HEGEL, 1980, p. 335)
Numa única penada, Hegel divide as realizações dos africanos e asiáticos (Novo Mundo) de um 
lado e dos gregos e romanos (Velho Mundo), de outro. Ele saca do universo do conhecimento, da cultura 
e da ciência, os povos incorporados à sinfonia da humanidade, com o advento das grandes navegações.
Abre-se a brecha no campo da Ciência para se questionar a natureza humana desenvolvida ou 
atrasada, com fortes conotações pré-concebidas.
Laplantine (1987, p. 45) observa essa carga preconceituosa:
21 Monogenismo é a teoria que considera todas as raças humanas provenientes de um tipo único primitivo.
22 Poligenismo é a teoria que considera que as diferentes raças humanas derivariam de diferentes espécies primitivas.
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34 | A formação da literatura antropológica
Tudo, na África, é nitidamente visto sob o signo da falta absoluta: os “negros” não respeitam nada, nem mesmo eles pró-
prios, já que comem carne humana e fazem comércio da “carne” de seus próximos. Vivendo em uma ferocidade bestial 
inconsciente de si mesma, em uma selvageria em estado bruto, eles não têm moral, nem instituições sociais, religião ou 
estado. Petrificados em uma desordem inexorável, nada nem mesmo as forças da colonização, poderá nunca preencher 
o fosso que os separa da história universal da humanidade.
As reflexões dos dois pensadores atualizam, no século XVIII, os debates dos séculos anteriores. 
Estes, com a marca da racionalidade e dos pressupostoscientíficos; aqueles com a marca da explicação 
teológica sobre a diversidade e alteridade humana e cultural.
Rousseau, na sua argumentação, lança mão de uma unidade humana, distorcida depois com a 
cultural e o advento da propriedade privada. O bom selvagem é aquele que possui o livre arbítrio e, 
longe das amarras da civilização, constrói seu universo de representações, pois está sob a égide da 
“perfectibilidade humana”.
Hegel, na linha da Fenomenologia do Espírito (1807), divide a humanidade entre os possuidores 
de cultura e aqueles que se encontram à margem dessa civilização. Os primeiros seriam os herdeiros dos 
legados dos gregos e dos romanos; os segundos, dos africanos e asiáticos, povos recém-incorporados 
ao universo das civilizações europeias. Dessa forma, segundo o autor, eles estariam fora do pensamento, 
da ciência e da cultura.
A grande diferença da polêmica tratada por esses dois pensadores do século XVIII em relação à 
polêmica dos séculos anteriores é a reivindicação dos estatutos científicos do debate.
Aos poucos, a concepção de homem e das suas ações históricas deixou as fronteiras da Teologia 
e ingressa no campo das Ciências.
Essa transição das compreensões da natureza e diversidade humanas do universo teológico para 
o científico é a pedra angular da nova ruptura provocada no campo da Antropologia, que passa de 
espontânea para a arena das Ciências Sociais, com o advento do século XIX.
Considerações finais
O período da pré-história da Antropologia percorreu um longo trajeto, do século XVI aos séculos 
XVII e XVIII. Na primeira fase, a Antropologia Espontânea era um exercício de aventureiros e viajantes. 
Seus registros minuciosos descreveram com precisão etnográfica os costumes, hábitos, crenças, 
produção, forma de circulação e consumo dos novos povos encontrados com o advento das grandes 
navegações.
Nos seus primórdios, as construções teóricas para explicar a diversidade e alteridade humana e 
cultural baseavam-se nos textos sagrados, nas Escrituras Sagradas. Nessa fase, colocou-se uma questão 
essencial: a natureza divina dos novos povos. A resposta a essa pergunta foi crucial para o desdobra-
mento cultural e humano desses povos, na África, América e Ásia.
Com o Iluminismo, procuram-se nas concepções científicas as explicações sobre a natureza 
humana e suas implicações históricas. A existência dos homens e de suas realizações deve justificativas 
não mais à fé teológica, mas à razão científica.
Essa é a antessala da experiência que permitirá, nos séculos seguintes, à Antropologia firmar-se 
como ciência social e definir seus campos de pesquisa, suas metódicas e seus paradigmas científicos.
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35|A formação da literatura antropológica
Texto complementar
Américo Vespúcio (em italiano Amerigo Vespucci) (1454-1512). Mercador, navegador, cosmógrafo 
e explorador. Viajou pelo Novo Mundo escrevendo sobre essas terras a Ocidente da Europa. Vespúcio 
encarregou-se em Sevilha do aprovisionamento de navios para a segunda e a terceira viagens de 
Cristóvão Colombo.
Mundus Novus
(VARNHAGEN, 2007)
Há dias lhe escrevi extensamente acerca do meu regresso das terras novas, que, na frota a 
expensas deste Sereníssimo rei de Portugal, corremos e descobrimos; as quaes terras nos deve ser 
permitido chamar Novo Mundo, porque, entre os nossos maiores, não houve o menor conhecimento 
de que fossem habitadas, e, para todos que ouvirem, será uma novidade. E, entretanto, esta opinião 
vai além da dos antigos, pois, deles, a maior parte dizia que, além da equinocial, para a banda do 
meio-dia, não existia terra continental, mas somente o mar Atlântico, e os que afirmaram haver aí 
terra negaram que fosse habitada de racionais. Mas, o ser esta opinião falsa e a contrária verdadeira, 
se provaram nesta minha última viagem, pois naqueles meridianos encontrei terra continental 
habitada de mais povos e animais que a nossa Europa e a Ásia ou África, e os ares mais temperados e 
amenos que em qualquer outra região conhecida, conforme direi, tratando do que vi ou ouvi digno 
de notar neste Novo Mundo e segundo se verá mais abaixo.
Aos 14 de maio de 1501 partimos de Lisboa por ordem do dito rei, com três navios, em busca 
das novas terras austrais. Com viagem feliz, navegamos, de contínuo, dez meses para as bandas do 
sul, pela forma seguinte. Fizemos caminho pelas ilhas, antes ditas Fortunadas, e que hoje se dizem 
Grã-Canárias, que ficam no terceiro clima e confins do ocidente povoado. Depois corremos, pelo 
oceano, todo o litoral africano e parte do etíope, até o promontório chamado de Etíope por Ptolo-
meu; o qual agora, pelos nossos, se diz Cabo Verde e pelos etíopes Bezeguiche, e a região Mandinga, 
em 14.º ao norte da equinocial, habitada por pretos. [...]
[...] No dia 17 de agosto de 1501 surgimos na costa daquela terra, agradecendo a Deus, com 
solemnes preces, e celebrando uma missa cantada, a qual terra reconhecemos não ser ilha, mas sim 
um continente, pois corremos ao longo do seu litoral, sem a rodear, e era povoada de inúmeros 
habitantes e de muitas sortes de animais silvestres, que não se encontram nos nossos países, e 
muitas outras coisas nunca de nós vistas, que seria longo de referir. Muito devemos à clemência de 
Deus, que nos fez aportar naquela região, porque já nos faltava água e lenha, e poucos dias mais 
poderíamos aturar no mar. Por isso a ele honra e glória em ação de graças.
[...] Andaríamos vagos e errantes, se não nos valêssemos dos nossos instrumentos de tomar a 
altura – o quadrante e o astrolábio, bem conhecidos. E assim, desde então, todos nos fizeram muita 
honra, e lhes provei que, sem conhecimento da carta de navegar, não há disciplina que valha para a 
navegação, a não ser pelos mares já pelos mesmos indivíduos muito navegados.
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36 | A formação da literatura antropológica
[...] Uma parte deste continente jaz na zona tórrida, ao sul da equinocial desde o oitavo grau. 
Tanto ao longo dele navegamos que, passado o trópico de Capricórnio, chegamos à altura de 
cinqüenta graus, na distância de dezessete e meio do circulo antártico. E do que vi e investiguei 
da natureza daquelas gentes, dos seus costumes e trato, da fertilidade da terra, da salubridade dos 
ares, da disposição do céu e dos corpos celestes, e, especialmente das estrelas fixas da oitava esfera, 
nunca aos nossos maiores vistas ou tratadas, passarei a dar conta.
Começarei pela gente. Foi tanta a multidão dela, mansa e tratável, que encontramos naquelas 
regiões, que, como diz o Apocalipse, não se pôde contar. Os de um e outro sexo andam nus, sem 
cobrir nenhuma parte do corpo, como saem dos corpos das mães, e assim vão até a morte. Têm 
os corpos grandes e robustos, bem dispostos e proporcionados, de cor tirante a vermelha, o que, 
segundo creio, lhes procede de serem tintos pelo sol, andando nus.
Têm os cabelos negros e crescidos; são ágeis e fáceis no andar e nos jogos, e de mui belas 
feições, as quais contudo a si próprios desfiguram, furando as faces, os lábios, as ventas e as orelhas. 
E não se creia que os buracos sejam pequenos ou tenham apenas um, pois vi muitos com sete, cada 
um dos quais tão grandes como um abrunho. Tapam estes buracos com bonitas pedras azuis de 
mármore, cristalinas ou de alabastro, e com ossos alvíssimos e outros objetos elaborados segundo 
seu uso, que é insólito e monstruoso. Homens há que levam nas faces e lábios sete pedras, cada uma 
de metade da palma da mão de comprido. Não sem admiração, muitas vezes achei pesarem essas 
sete pedras dezesseis onças, além das que trazem pendentes de três buracos nas orelhas.
Mas este uso é somente dos homens. As mulheres não furam as faces, mas somente as orelhas.
Outro costume têm extravagante,e que parece incrível: que as mulheres, sendo libidinosas, 
fazem inchar o membro de seus maridos tanto, que parecem brutos, e isto por meio de certo arti-
fício e mordedura de uns bichos venenosos, por cujo motivo muitos deles o perdem e ficam como 
eunucos.
Não possuem panos de lã nem de linho, nem mesmo de algodão; porque os não necessitam, 
nem têm bens de propriedade; porém tudo lhes é comum. E vivem juntos, sem rei nem império, e 
cada qual é senhor de si.
Tomam tantas mulheres quantas querem, e o filho se junta com a mãe, e o irmão com a irmã, e 
o primo com a prima, e o caminhante com a que encontra. Basta à vontade para matrimoniarem, no 
que não observam ordem alguma. Além disso, não possuem templos nem leis, nem são idólatras. 
Que mais direi? Vivem secundum naturam, e se pode conceituar de epicureos mais que de estóicos. 
Não há entre eles comerciantes nem comércio. Guerreiam-se entre si, sem arte nem ordem. Os mais 
velhos, com alguma parcialidade obrigam a quanto querem os jovens, e os levam à guerra, na qual 
se matam cruamente; e aos que cativam não poupam as vidas senão para que os sirvam toda a vida, 
ainda que a outros comem, sendo certo que é entre eles a carne humana manjar comum; e se há 
visto haver o pai comido mulher e os filhos. E um conheci eu, a quem falei, que se gabava de haver 
saboreado trezentos corpos humanos, e até estive vinte e sete dias em certa povoação, onde vi 
dependurada pelas habitações carne humana salgada, como entre nós se usa com o toucinho e a 
chacina de porco.
Digo mais: até se admiram de como nós não comamos os nossos inimigos, nem façamos uso 
de sua carne, que dizem saborosíssima. Suas armas são arcos e flechas; e, quando se afrontam em 
ação não cobrem nenhuma parte do corpo para defender-se, e nisto são semelhantes aos animais. 
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37|A formação da literatura antropológica
Procuramos dissuadi-los quanto nos foi possível destes bárbaros costumes, e eles nos prometeram 
deixá-los.
As mulheres vão nuas, e conquanto libidinosas, como disse, são assaz belas e bem formadas; e 
pasmoso nos pareceu que, entre as que vimos, nenhuma se notava que tivesse os peitos caídos; 
e as que já haviam parido, pela forma do ventre e sua contração, não se diferençavam das virgens, e 
se lhes semelhavam nas outras partes do corpo, do que por decênencia deixo de ocupar-me; mas 
quando podiam tratar com os nossos cristãos, impelidas pelo desejo, não tinham o menor pudor.
Vivem cento e cinqüenta anos e raras vezes adoecem. E se adoecem, a si próprios se curam 
com certas raízes de plantas. Eis quanto de mais notável entre eles observei. Os ares aí são tempera-
dos e bons; e, pelo que pude deduzir de suas narrações, não há pestes nem doenças provenientes 
da corrupção do ar, e, se não morrem de morte violenta, vivem larga vida; segundo creio, porque 
sempre aí predominam os ventos austrais, e principalmente o que denominamos euro ou aquilão.
Deleitam-se na pesca, e o mar é aí mui próprio para ela, porque é copioso em toda sorte de 
peixes.
Não se dão à caça; penso que porque havendo aí muitas sortes de animais, maxime leões e 
ursos e muitas cobras e outros bichos hórridos e disformes, e porque os bosques são extensos e as 
árvores muito grandes, não ousam arriscar-se nus e sem comprimento a tantos perigos.
A terra daquelas regiões é fértil e amena, de muitos montes e morros, e infinitos vales, e regada 
de grandes rios e fontes, coberta de extensos bosques, densos e apenas penetráveis, e povoada 
copiosamente de feras de todas as castas. Nela nascem, sem cultura, grandes árvores, as quais 
produzem frutos deleitosos, e de proveito ao corpo e nada nocivos, e nenhuns frutos são parecidos 
com os nossos. Produzem-se inumeráveis gêneros de árvores e raízes, de que fabricam pão e ótimos 
mingaus, além de muitos grãos ou sementes não semelhantes aos nossos.
[...] As pérolas abundam nesta região, como em outro lugar escrevi. Seria demasiado prolixo e 
descomedido se quisesse dar conta uma por uma de todas as coisas dignas de notícia e das numerosas 
espécies e multidão de animais. E verdadeiramente creio que o nosso Plínio não conseguiu tratar da 
milésima parte dos animais, nem dos papagaios e outros pássaros, os quais, naqueles países, são de 
formas e cores tão variadas, que o artista Policleto não conseguiria pintá-los. Todas as árvores tão 
odoríferas, e produzem gomas ou óleos, ou algum outro licor, cujas propriedades todas, se fossem 
conhecidas, não duvido que andaríamos todos sãos. E por certo que se o paraíso terreal existe em 
alguma parte da terra, creio que não deve ser longe destes países, ficando situado ao meio dia, com 
ares tão temperados, que nem no inverno gela, nem no verão faz calor.
[...] Após estas vêm duas, cuja semi-periferia tem doze graus e meio, e com ela se vê outro canopo 
claro. Seguem mais seis estrelas formosíssimas e claríssimas entre outras da oitava esfera, que, na 
superfície do firmamento, têm no diâmetro da periferia trinta e dois graus, e são acompanhados 
de um canopo escuro de imensa grandeza, que se vê na via láctea, e quando se acham na linha do 
meio-dia apresentam esta figura:
[...] Naquele hemisfério vi coisas não de acordo com as razões dos filósofos. Perto da meia-noi-
te, foi visto o arco-íris brilhar, não só por meus olhos, como por todos os nautas. Igualmente vimos à 
lua nova no dia da conjunção com o sol. Todas as noites percorrem naquele céu inúmeros vapores 
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38 | A formação da literatura antropológica
e flamas ardentes. Disse hemisfério, ainda que, com respeito a nós, não o seja mui rigorosamente, 
mas só para que nos entendamos.
[...] E o dito baste quanto a cosmographia.
Tais foram as coisas mais notáveis que vi nesta minha última viagem, que denomino Jornada 
Terceira, pois as outras duas foram as viagens que para o ocidente fiz por mandado do Sereníssimo 
rei de Hespanha, nas quais assentei, dia por dia, todas as coisas admiráveis e mais de notar do sublime 
Creador, nosso Deus, para, quando tenha tempo, me dedicar a coligir todas estas singularidades e 
maravilhas, escrevendo, geográfica ou cosmograficamente, um livro, para que minha memória passe 
à posteridade, e se conheça o imenso certifício de Deus Onipotente, em parte dos antigos ignorado 
e de nós conhecido. Pelo que rogo a Deus clementíssimo que me prolongue os dias de vida, a fim 
de que com saúde e a sua boa graça possa realizar este desejo e boas disposições. As outras duas 
Jornadas as reservo; e restituindo-me este Sereníssimo rei a terceira, regressarei tranquilamente à 
pátria, conferindo com os peritos, e com auxílio e animação dos amigos, espero que poderei levar 
a cabo estes intentos. Peço desculpa de não lhe enviar esta derradeira Jornada, conforme prometi 
na minha última. É disso causa o não haver podido conseguir a sua restituição deste Sereníssimo 
rei. Penso fazer ainda uma quarta viagem; e já dois navios estão para isso armados, e a promessa 
feita para eu ir, pelo sul, rumo de África, em busca de novas regiões no oriente. E nessa nova viagem 
muito penso realizar em louvor de Deus e utilidade do seu reino, e honra da minha velhice, e nada 
mais espero senão a ordem do mesmo Sereníssimo rei. Deus nisso permita o que creia melhor, e o 
que for resolvido constará.
“O tradutor Giocondo (Jocundus) verteu a presente epístola do italiano em latim, para que os 
latinos reconheçam quantas coisas admiráveis se viram nesta viagem, e se reprima a audácia dos 
que pretendam perscrutar o erro e a magestarle, e saber mais do que é lícito; quando, havendo 
tanto tempo que começou o mundo, é desconhecida a vastidão da terra e quanto ela contém -Deus 
louvado.”
Atividades
1. A expansão ultramarina promove o encontrodo “Novo Mundo”, provocando nos europeus a 
necessidade de reflexão sobre a alteridade humana e cultural. Por que isso ocorre?
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39|A formação da literatura antropológica
2. No início do século XVI surge a Antropologia Espontânea – relatos que noticiaram o “Novo Mundo”. 
De que tratavam as narrativas feitas pelos navegadores, missionários e administradores das novas 
terras?
3. Comente a visão de homem que emergiu do debate dos teólogos sobre a diversidade humana e 
cultural no século XVI.
4. Como o Iluminismo influenciou o debate sobre a natureza humana e sua diversidade?
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40 | A formação da literatura antropológica
Referências
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HOLANDA, S. B. de. Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. 
São Paulo: Brasiliense; PubliFolha, 2000.
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ROUSSEAU, J.-J. Do Contrato Social: ensaios sobre a origem das línguas. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 
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Nova Cultural, 1999.
SCHWARCZ, L. K. M. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-
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_____. Negras Imagens: ensaio sobre Cultura e Escravidão no Brasil. In: SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. da 
S. (Orgs.). Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 1996.
_____. As teorias raciais, uma construção histórica de finais do século XIX. O contexto brasileiro. In: 
SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. da S. (Orgs.). Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 
1996.
_____. Mercadores do espanto: a prática antropológica na visão travessa de Clifford Geertz. In: Revista 
de Antropologia, São Paulo, v. 44, n. 1, 2001. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=S003477012001=000100012). Acesso em: 20 ago. 2012.
VARNHAGEN, F. A. de. Cartas de Amerigo Vespucci. Revista Trimensal do Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro, n. 41, p. 20-31, 1878. Disponível em: <http://us.geocities.com/josarielcastro /
mundusno.html>. Acesso em: 20 ago. 2012.
VESPÚCIO, A. Mundus Novus. Disponível em: <http://us.geocities.com/josarielcastro/mundusno.html>. 
Acesso em: 20 ago. 2012.
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41|A formação da literatura antropológica
Gabarito
1. A expansão marítima propicia a chegada dos europeus ao “Novo Mundo” e o contato com seus 
habitantes. Esses povos encontrados eram diferentes em tudo. Seus costumes e comportamentos 
provocaram profunda ruptura nas identidades dos povos europeus que compreendiam um 
padrão de comportamento ante o mundo. Essa ruptura promove a necessidade de desvendar 
tamanhas diferenças apresentadas pelos novos povos.
2. A Antropologia espontânea se ocupava da descrição da riqueza das terras, da fauna e flora, da 
topografia, dos povos e seus costumes. Foram os primeiros registros etnográficos da diversidade 
humana e cultural.
3. O confronto de costumes e crenças entre os europeus e os povos do “Novo Mundo” impulsionou 
a reflexão sobre a natureza humana desses novos povos. Baseados na concepção religiosa de 
mundo, os europeus buscavam nas escrituras sagradas a resposta para a questão polêmica do 
período: o povo selvagem tem alma?
 De um lado a defesa da natureza humana do índio, e do outro a negação da natureza humana dos 
indígenas e a defesa de sua submissão aos europeus.
4. Com o Iluminismo surge uma nova visão sobre o debate da natureza humana e suas realizações. 
As diferenças humanas e culturais passam a ser compreendidas pelo universo da ciência e não 
mais pelo universo teológico. Os teólogos que antes polemizavam acerca da diversidade e da 
alteridade são substituídos pelos filósofos nos séculos seguintes.
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42 | A formação da literatura antropológica
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Evolucionismo Social: 
o ingresso da Antropologia 
na Era da Ciência
O Evolucionismo Social deu o passaporte de ingresso da Antropologia no reino das Ciências 
Sociais.
No século XIX, ao dar início ao processo de sistematização das informações e conhecimentos 
sobre os povos “primitivos”, essa escola lança as bases para a procura de explicações e compreensões 
do homem, não mais pela teologia, pela religião, mas pela via das Ciências Sociais, dos dados colhidos, 
sistematizados e racionalmente informados.
Na nova fase das relações econômicas entre países europeus e “Novo Mundo”, o colonialismo1, 
estreitam-se as relações entre os povos. Compreender os povos e os “novos mundos” tornou-se uma tarefa 
imprescindível para a empreitada colonialista de ocupação e de exploração dos novos territórios.
Mudou o contexto geopolítico. A fase é a da conquista colonial, resultado da divisão do mundo 
operada no final do século XIX, com a Conferência de Berlim2, em 1885, que fatia a África entre as diversas 
potências europeias.
Não se tratava mais de descrever a fauna e a flora, mas de compreendê-las: desenvolver as 
melhores formas e mecanismos de explorá-las economicamente.
Saem de cena os missionários e religiosos e entram os administradores coloniais. Os primeiros 
tinham os textos sagrados como orientação; os segundos, as planilhas de custos e benefícios.
1 Colonialismo é a teoria e prática de colonização que tem como objetivo a apropriação de terras e organização do poder formal ou informal 
de domínio do grupo imigrante sobre o grupo nativo usando a força ou a superioridade econômica.
2 A Conferência de Berlim foi realizada no período de novembro de 1884 a fevereiro de 1885 com o objetivo de resolver os conflitos entre as 
potências europeias colonizadoras, estabelecendo regras de ocupação da África, que até 1914 permaneceu dividida entre Inglaterra, França, 
Espanha, Itália, Bélgica, Portugal e Alemanha.
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44 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Os administradores coloniais faziam o senso criterioso dos povos, dos recursos naturais e 
econômicos, da fauna e, fundamentalmente, das formas de relacionamento dos povos colonizados: 
organização do sistema de parentescos, estrutura da organização litúrgica e sacerdotal, mecanismos de 
organização social e o papel da cultura no sistema de organização da sociedade.
Esses dados tornavam-se informações logísticas fundamentais para as ações desenvolvidas pelas 
metrópoles nas colônias das Américas, África, Ásia e Oceania.
O processamento dessas informações nos gabinetes dos eruditos dos países colonizadores deu 
a infraestrutura conceitual para a elaboração do Evolucionismo Social. O deslocamento do homem no 
espaço e no tempo e suas realizaçõesnessas respectivas etapas projetaram o conceito de evolução, da 
espécie e de suas sociedades.
Na esteira dessa reflexão, o conceito de selvagem é substituído pelo de primitivo; esboça-se a noção 
de unidade psíquica do homem; determina-se a escala de evolução e desenvolvimento das sociedades 
primitivas em direção às civilizadas; estudam-se as origens do homem e de suas formas de organização 
social e cultural; intensificam-se os estudos comparativos do sistema de parentesco, das formas de 
organização religiosa e social, e, como parte fundamental dessa transição conceitual, substitui-se o 
conceito de raça, numa determinada fase dessa escola, pelo de cultura.
Ao afirmar que todas as formações sociais humanas tinham origens remotas e caminhavam no mesmo sentido, na 
direção do progresso, os evolucionistas pensavam que os australianos haviam parado num estágio “primitivo” e os 
ingleses avançados para um estágio “civilizado”. É claro que quem pensava assim eram os ingleses, que em plena época 
da rainha Vitória3, o século XIX, a Era Vitoriana, espalhavam militarmente seu império pelo mundo inteiro. Também 
podiam pensar assim norte-americanos e outros europeus que se sentiam fazendo parte de uma civilização absoluta, 
para eles, a melhor definição. (ROCHA, s/d, p. 23)
Essa transição dramática da literatura antropológica para a constituição do saber antropológico 
é um ponto de inflexão e uma ruptura profunda na forma de estudar e perceber o homem e suas reali-
zações nos eixos do espaço e do tempo. Com essas mudanças, um mundo fenece e um outro nasce de 
suas brumas, embalado pela Ciência.
O desenvolvimento das relações comerciais, a expansão ultramarina, a Revolução Industrial, o 
Iluminismo, as Revoluções Americana e Francesa deram o impulso necessário para esse parto.
Homens de Ciência
O cenário da Antropologia como ciência é ocupado por Homens de Ciência; cientistas que se 
debruçaram sobre os dados coletados em campo, por terceiros, e se dedicam a montar um painel 
compreensível no tabuleiro do quebra-cabeça antropológico.
Destacaram-se nessa tarefa Charles Robert Darwin (A Origem das Espécies, 1859), Henry Summer 
Maine (Ancient Law, 1861), Herbert Spencer (Princípios de Biologia, 1864), Edward Burnett Tylor (A Cultura 
3 A rainha Vitória (1819-1901) sucedeu seu tio, o rei Guilherme IV, no trono do Reino Unido em 1837. Recebeu o título de imperatriz da Índia 
com a incorporação da Índia ao Império Britânico em 1877. Seu reinado foi o mais longo da história, durou 64 anos, e ficou conhecido como 
a Era Vitoriana, considerada o auge da Revolução Industrial inglesa e do Império Britânico com a conquista de territórios na África e na Ásia e 
com o acontecimento de significativas mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais.
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45|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Primitiva, 1871), Lewis Henry Morgan (A Sociedade Primitiva, 1877) e James George Frazer (O Ramo de 
Ouro, 1890).
Esses cientistas sociais deram liga às informações dispersas e abundantes que brotavam das 
colônias. Sistematizaram, organizaram e construíram narrativas lógicas, nas dimensões de espaço e 
tempo, reconstituindo a trajetória dos povos colonizados.
A noção de evolução é um marco fundamental para o pensamento antropológico. Vai aparecer como ideia básica para 
toda uma grande fase da Teoria Antropológica e, na história dos saberes sobre os seres humanos, tem um lugar de des-
taque, quase que como uma âncora, para os trabalhos e estudos que procuravam fazer da Antropologia uma ciência. 
Assim, a diferença que se travestia em espanto e perplexidade, nos séculos XV e XVI, encontra, nos séculos XVIII e XIX, 
uma nova explicação: o outro é diferente porque possui diferente grau de evolução. (ROCHA, s/d., p. 21-22)
A noção de progresso tornou-se fundamental. O eixo do tempo e do espaço passa a ser funda-
mental, quando se crê na unidade básica da espécie, como se projetava na época. A direção é a de um 
estágio inferior para um estágio superior; de um primitivo para um evoluído.
Evolução como paradigma – 
Darwin e o conceito de homem
A evolução se instala como paradigma, como modelo de compreensão e explicação do homem e 
de suas realizações. A publicação da obra de Darwin dá um grande impulso nessa direção.
As máximas de Darwin transformaram-se, aos poucos, em referência obrigatória, significando uma reorientação teórica 
consensual. Nas palavras de Hofstadter4: “se muitos descobrimentos científicos afetaram profundamente maneiras de 
viver, nenhum teve tal impacto em formas de pensar e crer...O Darwinismo forneceu uma nova relação com a natureza 
e, aplicado a várias disciplinas sociais – Antropologia, Sociologia, História, Teoria Política – formou uma geração social- 
-darwinista. (SCHWARCZ, 1993, p. 55)
O naturalista britânico inicia seus estudos em 1831, no campo da Medicina e Teologia. Durante 
cinco anos, participou da expedição científica a bordo do barco Beagle. Darwin, em campo, acumula 
uma enorme massa de informações sobre as espécies animais. Esse trabalho de Darwin é uma das 
singularidades de sua elaboração conceitual, num momento em que as reflexões sobre o homem e 
suas realizações eram obra de gabinete, documental, relatorial.
Em sua obra principal A Origem das Espécies, Darwin formula a teoria da evolução das espécies, via 
seleção natural: no processo, ocorrem com os indivíduos variações úteis na luta pela existência; essas 
variações transmitem-se, reforçadas, aos descendentes. Com base nessas observações, elabora a teoria 
evolucionista.
Segundo essa concepção, as espécies sucedem-se, umas às outras, por evolução contínua, 
permanente, com a sobrevivência dos mais aptos e fortes. Darwin exercerá forte influência na literatura 
científica depois de sua obra.
4 Richard Hofstadter (1916-1970) foi historiador norte-americano e professor da Univeridade de Columbia em Nova York (EUA).
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46 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Segundo a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz:
[...] não são poucas as interpretações de A Origem das Espécies que desviam do perfil originalmente esboçado por Charles 
Darwin, utilizando as propostas e conceitos básicos da obra para a análise do comportamento das sociedades humanas. 
Conceitos como “competição”, “seleção do mais forte”, “evolução” e “hereditariedade” passaram a ser aplicados aos mais 
variados ramos do conhecimento: na Psicologia [...]; na Linguística [...]; na Pedagogia [...]; na Literatura Naturalista [...] 
Sociologia Evolutiva [...] história determinista [...] esfera política [...]. (SCHWARCZ, 1993, p. 56)
Darwin apimenta o debate quando apresenta sua ideia mais polêmica: a da origem do homem. 
Segundo o naturalista britânico, o homem não é produto da criação divina e nem fruto de várias origens. 
Ele enfatiza que o homem e o macaco têm origem comum; têm o mesmo antepassado. Esse conceito 
passou a ser fundamental no estudo do desenvolvimento humano. A Antropologia Física tem esse 
conceito como pano de fundo dos seus estudos. A Paleontologia – um dos campos da Antropologia 
Física – estuda o desenvolvimento humano, desde os seus primórdios até os tempos atuais.
Na época, essa teoria causou um grande desconforto para Darwin. Diversos setores da academia 
e, em especial, dos segmentos religiosos combateram apaixonadamente essa visão. Na sociedade 
vitoriana, submersa em valores conservadores e com os tentáculos coloniais por todos os continentes, 
os conterrâneos de Darwin se levantam contra esse argumento.
Com sua teoria, Darwin põe um ponto-final no debate travado entre os teóricos monogenistas 
(crença numa única fonte de origem humana: os homens não são diferentes,mas desiguais) e os poli-
genistas (crença em várias fontes de origem humana: os homens são diferentes, portanto desiguais): o 
naturalista britânico afirmará que todos os homens descendem de uma única espécie e têm a mesma 
origem biológica.
As leis antigas – Henry James Summer Maine
Henry Maine foi um importante membro do Conselho Britânico do vice-rei da Índia, sob domínio 
da Inglaterra no período. Jurista e etnólogo, estudou as semelhanças entre o sistema legal de Roma, 
Índia e Irlanda, sociedades patrilineares, em sua obra principal Ancient Law (1861).
Nela, Maine argumenta que a forma de organização mais antiga de família era a forma patriarcal. 
Formulou, no desenvolvimento dos seus estudos, conceitos que foram incorporados ao repertório da 
ciência antropológica: agnação (reconhecimento da relação por descendência) e cognação (reconheci-
mento da relação por descendência de um mesmo pai e mesma mãe).
Segundo o etnólogo inglês, a humanidade, nos seus primórdios, em sua infância, não tinha 
nenhum tipo de ordenamento legal. Na sua primeira fase, o homem não foi capaz de elaboração de 
uma legislação que regulasse suas formas de convivência. Sua forma de relação se dava por intermédio 
do status, quando as relações se limitavam à família e a supremacia era do varão mais velho. Mais tarde, 
essa relação se transforma em “contrato”, estabelecido nas sociedades desenvolvidas.
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47|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Maine utiliza-se do mesmo modelo elaborado pelos seus contemporâneos: há uma origem de um 
dado fenômeno, no caso as Leis, que se desenvolve por etapas anteriores, na infância da humanidade, 
até as fases mais desenvolvidas, nas sociedades civilizadas.
Teoria evolucionista na sociedade – Herbert Spencer
Herbert Spencer procurou aplicar as leis da evolução das espécies, desenvolvidas por Charles 
Darwin, a todos os níveis da atividade humana. Ele é considerado no campo das Ciências Sociais como 
o mais importante teórico do Darwinismo Social, mesmo nunca tendo usado esse termo para expressar 
suas ideias. Seu conceito básico se expressava na seguinte noção: “sobrevivência do mais apto”. Spencer 
considerava esse o núcleo das relações sociais, onde os mais aptos, no caso os europeus, sobreviveriam 
em relação aos demais povos. Para ele, esse processo seria o da “seleção natural”.
Graças a essas noções, Spencer é considerado o principal teórico do racismo “científico”, ou seja, 
a noção de que se pode comprovar a superioridade racial de um grupo em relação a outro, com base 
na ciência.
O teórico inglês defendia que a evolução era a lei fundamental do universo. Para ele, há uma fase 
nebulosa que dá origem ao sistema planetário e este, à Terra. Gradualmente surgem os continentes, 
mares, fauna e flora. Da vida rudimentar evolui-se para organismos mais complexos.
Spencer sintetiza em sua obra os principais legados da escola evolucionista: ciência como fator 
de generalizações e o estabelecimento de uma teoria geral, que parte de uma origem para etapas 
mais evoluídas. Suas ideias fundamentais expressam-se nas noções de uma evolução que parte do 
homogêneo (etapa incoerente e indefinida, característica das sociedades primitivas, para o heterogêneo 
(etapa definida e coerente, característica das sociedades civilizadas) da evolução. Assim, um grupo 
humano comum pode evoluir para direções distintas – primitiva ou civilizada – plena de estruturas 
diferentes e funções distintas. Dessa forma, a integração e a heterogeneidade progressiva aumenta a 
coerência do grupo social.
Sua equação da evolução implica o início de uma organização social vaga. Surgem convenções 
cada vez mais precisas que se transformam em costumes e, mais tarde, em leis, mais rígidas e especí-
ficas. Spencer aponta dois fatores essenciais à evolução: o extrínseco e o intrínseco. O primeiro seria 
composto pelo clima, solo, produção vegetal, fauna, entre outros; o segundo, pelos caracteres e dotes 
físicos, emocionais e espirituais do ser humano. Nessa relação, a sociedade seria como um grande orga-
nismo que tende para o equilíbrio e a interdependência entre as partes, inclusive entre os indivíduos. A 
cooperação passa a ser o objetivo da sociedade.
Spencer classificava as sociedades como: 
simples:::: – sociedade cooperativa e sem um órgão regulador;
composta:::: – os chefes são submetidos a um dirigente supremo;
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48 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
duplamente composta:::: – organização complexa onde os costumes evoluíram para leis escritas 
e codificadas, com a formação de castas e princípios religiosos; 
triplamente composta:::: – civilizações como as do Egito Antigo e do Império Romano.
Sua obra legou às Ciências Sociais diversos conceitos que ampliaram o repertório da Antropo-
logia: função social, controle social, instituição, estrutura social e, a exemplo de outros evolucionistas, 
ampliação do espectro de ação do método comparativo.
Herbert Spencer provocou na época forte impacto sobre a intelectualidade brasileira, que 
procurava desvendar os caminhos percorridos pela sociedade naquele momento. Duas figuras 
importantes do período – Euclides da Cunha5 e Silvio Romero6 – tinham em Spencer uma referência 
para suas reflexões sobre a composição e o caráter do povo brasileiro. Seus trabalhos eram divulgados 
e consumidos no centro da inteligência acadêmica nacional: as faculdades de Direito de São Paulo e 
do Recife e as de Medicina de Salvador e do Rio de Janeiro. O médico legista maranhense radicado na 
Bahia, Raimundo Nina Rodrigues7, lançará mão de muitos dos conceitos de Spencer, na leitura que fará 
da realidade sociocultural do país.
A antropóloga Lilia Moritz Schwarcz (1993, p. 25) destacará o papel desempenhado pela escola 
evolucionista na formação da intelectualidade nacional e de seus reflexos nas opções políticas adotadas 
naquele período, em especial às relacionadas às relações raciais:
Outros estabelecimentos ajudam a compor um panorama intelectual ainda mais diversificado. É o caso das faculdades 
de Direito de São Paulo e Recife, que, preocupadas com a elaboração de um código nacional, utilizavam, porém, 
interpretações diversas: enquanto em São Paulo majoritariamente adotavam-se modelos liberais de análise, no Recife 
predominava o social-darwinismo de Haeckel8 e Spencer. No campo da Medicina, o Instituto Manguinhos, liderado 
por Oswaldo Cruz9, transformava-se em um importante centro de pesquisas, principalmente no que se refere ao 
problema da febre amarela e da sanitarização das cidades. Destacada é também a atuação dos institutos históricos, 
que congregando a elite intelectual e econômica de diferentes províncias e profundamente vinculados ao monarca 
D. Pedro II, começavam a escrever a história oficial desse jovem país.
5 Euclides Rodrigues da Cunha (1866-1909) foi escritor, sociólogo, historiador, engenheiro e repórter jornalístico. Ficou internacionalmente 
famoso com a publicação do livro “Os Sertões” em 1902 pela Laemmert & Cia. Considerada uma das obras precursoras da Sociologia e da 
literatura modernista no Brasil, em que o escritor analisa os costumes e a religiosidade sertaneja, as características geológicas, botânicas, 
zoológicas e hidrográficas da região em que ocorreu a campanha de Canudos (1897) no nordeste da Bahia.
6 Silvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (1851-1914) foi crítico literário, poeta, filósofo e político. Participou ativamente da vida política 
e intelectual brasileira. Publicou A Filosofia no Brasil em 1878, o primeiro livro de história das ideias filosóficas no Brasil. Foi um dos membros 
fundadores da Academia Brasileira de Letras em 1897. Consideradoum dos responsáveis pela valorização das tradições populares retratadas 
em suas obras sobre folclore.
7 Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) foi médico legista, psiquiatra e antropólogo. Foi fundador da Antropologia Criminal brasileira, 
promoveu a nacionalização da medicina legal e dedicou-se a pesquisas sobre as origens étnicas da população e a influência das condições 
sociais e psicológicas sobre a conduta do indivíduo.
8 Ernest Heinrich Philipp August Haeckel (1834-1919) foi médico, naturalista alemão. Ajudou a popularizar o trabalho de Charles Darwin, 
sendo que seus principais interesses estavam nos processos evolutivos de desenvolvimento e na ilustração científica.
9 Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917) foi cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro. Foi pioneiro no estudo 
das moléstias tropicais no Brasil. Organizou o combate ao surto de peste bubônica (1899) em Santos e em outras cidades portuárias brasileiras, 
como também coordenou as campanhas de erradicação da febre amarela e da varíola (1903) no Rio de Janeiro. Fundou o Instituto Soroterápico 
Nacional transformado em Instituto Oswaldo Cruz.
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49|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
A evolução da cultura – Edward Burnett Tylor
Em sua principal obra, Primitive Culture (1871), o antropólogo britânico Edward Burnett Tylor 
desenvolve o que será considerado o primeiro conceito moderno de cultura. Com seus estudos Tylor 
passou a ser considerado o representante por excelência do Evolucionismo Cultural, por definir o campo 
científico das pesquisas antropológicas, baseadas nas teorias de Charles Darwin.
Segundo Tylor, havia uma base de funcionalidade para o desenvolvimento da sociedade e da 
religião. Para ele, essa base era universal e se estendia para todas as sociedades e formas de organização 
religiosa. O antropólogo inglês considerava o animismo10 – alma que anima todas as coisas – o primeiro 
estágio de todas as religiões.
Para ele, as forças da natureza sempre exerceram fascínio sobre os homens de todos os tempos. 
Os homens primitivos, por não compreenderem esses fenômenos, consideravam essas forças como 
deuses, capazes de intervir em suas vidas cotidianas e, portanto, deveriam ser adorados. Tylor via nessa 
forma de adoração o princípio do animismo e, por extensão, das religiões.
A experiência do sonho, doenças e morte levam o homem primitivo à crença da alma. Por 
analogia, essa crença se estende, mais tarde, aos animais e às plantas, que passam a ser vistos como 
seres animados por uma alma, segundo Tylor.
Seus estudos consolidam conceitos e ideias que se preservam como temas importantes nos 
estudos posteriores da Antropologia: a ideia da existência de almas imortais em homens, plantas e 
animais; divindades imortais ligadas a fenômenos da natureza (ar, água, terra e fogo); presença divina em 
todas as partes, graças ao animismo; visões, curandeiros, transe e feitiçaria, e a utilização de elementos 
da natureza nos cultos realizados ao ar livre.
Tylor não estava preocupado com as mudanças advindas do desenvolvimento. Seu foco era na 
sobrevivência de costumes e ritos antigos. A evolução da religião percorreu o seguinte caminho, com 
suas sobrevivências residuais: animismo, feiticismo, idolatria, politeísmo e monoteísmo.
No seu exercício etnográfico, estudou cerca de 350 culturas, à procura de normas no matrimônio 
e descendência nas relações de parentesco. Estudou comparativamente os sistemas de residências, para 
determinar os estágios da passagem das culturas matrilineares para as patrilineares, e as sobrevivências 
de costumes nas etapas posteriores.
A obra desse vigoroso estudioso da Antropologia influenciou o trabalho e estudos de Frazer.
Os estágios da sociedade humana – Lewis Henry Morgan
O advogado e mais tarde senador dos Estados Unidos da América (EUA), Lewis Henry Morgan, 
produziu um dos mais amplos painéis da evolução social, focado nas sociedades humanas. Em 1877, 
Morgan publicou Ancient Society. Apoiado na Teoria do Evolucionismo Biológico de Darwin, nessa obra, 
o autor traça o desenvolvimento das sociedades e culturas humanas, em três grandes fases distintas: a 
selvageria, a barbárie e a civilização. Para cada estágio, Morgan aponta um tipo especial de tecnologia 
10 Animismo é a manifestação religiosa que atribui alma a todos os elementos do cosmos, da natureza, a todos os seres vivos e a todos os 
fenômenos naturais, sendo todos esses passíveis de possuírem sentimentos, emoções, desejos e até mesmo inteligência.
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50 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
e seus impactos na forma de organização da sociedade. Sua obra marcou em profundidade, a exemplo 
de Darwin, o seu tempo e os trabalhos de diversos outros teóricos, nas várias áreas do conhecimento 
social.
Morgan desenvolveu inúmeras pesquisas de campo. Ele estudou diversos povos indígenas, em 
especial os iroqueses. Dessa pesquisa, o estudioso retirou grande quantidade de material para sua 
reflexão sobre a cultura – material e imaterial – dos índios. Seu trabalho de campo se estendeu para fora 
do território norte-americano, em diversas regiões. Com base nesses estudos, Morgan procura elaborar 
uma classificação universal do sistema de parentesco, e estabelecer uma conexão geral entre esses 
vários sistemas, em escala global.
Sobre a obra de Morgan, Friedrich Engels11 disse:
O grande mérito de Morgan é o de ter descoberto e restabelecido em seus traços essenciais esse fundamento pré- 
-histórico de nossa história escrita e de o ter encontrado, nas uniões gentílicas dos índios norte-americanos, a chave para 
decifrar importantíssimos enigmas, ainda não resolvidos, da história antiga da Grécia, Roma e Alemanha. Sua obra não 
foi trabalho de um dia. Levou cerca de 40 anos elaborando seus dados, até conseguir dominar inteiramente o assunto. E 
seu esforço não foi em vão, pois seu livro é um dos poucos de nossos dias que fazem época. (ENGELS, 1977, p. 8)
Em sua obra, Morgan procura ordenar o processo de desenvolvimento histórico do homem. Para 
cada etapa, com exceção da civilização, ele subdivide em inferior, médio e superior. A classificação está 
relacionada ao grau de desenvolvimento obtido pelo homem naquele estágio, quanto a sua capacidade 
de reprodução tecnológica de sua existência.
Para o autor, a habilidade de produção desempenha papel decisivo no grau de superioridade e 
domínio do homem sobre a natureza e suas condições de existência.
Estado selvagem
Fase inferior 
Essa é a fase da infância do gênero humano, segundo Morgan. Nela, os homens vivem em bosques, 
nas áreas tropicais e subtropicais. Vivem parte do tempo em árvores e parte desafiando o perigo entre 
os grandes animais selvagens. Seus alimentos são os frutos e raízes. O grande progresso registrado 
nessa fase foi o desenvolvimento da linguagem articulada. Morgan atribui a esse fato uma importância 
extraordinária, pois a partir dessa evolução, o homem cria e pode transmitir aos outros o fruto de sua 
criação. Essa fase durou milênios.
Fase média
Essa fase desdobra-se no Período Paleolítico – Idade da Pedra. Ela tem início com o consumo 
do peixe e da adoção de um dos maiores avanços registrados na história humana: o uso do fogo. Essa 
tecnologia permitiu ao homem autonomia e mobilidade no território. A partir desse advento, ele passou 
a seguir o curso dos rios e das costas marítimas. Esses recursos deram ao homem a possibilidade de 
se espalhar pelas diversas áreas da superfície da terra. Suas migrações deixaram marcas em todos os 
11 Friedrich Engels (1820-1895), filósofo alemão que junto com Karl Marx fundou o chamado Socialismo Científico ou Marxismo.Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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51|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
continentes. O domínio da tecnologia do fogo permitiu então o uso de outros tipos de alimentos: novas 
raízes, tubérculos farináceos e pequenas caças. Desenvolve-se a tecnologia das armas: clava e lança, 
instrumentos indispensáveis à sobrevivência. Segundo Morgan, em razão da escassez de alimentos, 
nessa época, deve ter se iniciado a antropofagia, que perdurou durante muito tempo.
Fase superior 
Essa fase tem início com a invenção do arco e da flecha, tecnologia a qual Morgan atribui grande 
significado. A partir da introdução dessa tecnologia, o homem passa a se alimentar regularmente e a 
estabelecer um certo grau de organização social e comunitária, já que o ofício da caça exige ação cole-
tiva e articulada. O desenvolvimento do arco, da corda, da fibra de cortiça, do cesto de cortiça ou junco, 
instrumentos de pedra polida (Período Neolítico) e da seta indicam um grau de maior complexidade 
nas faculdades mentais do homem selvagem. De nômade, o homem passa a se fixar em pequenas 
localidades, em pequenas aldeias. O fogo e o machado de pedra dão ao homem maiores condições de 
domínio da natureza.
A barbárie
Fase inferior 
Seu início dá-se com a introdução da tecnologia da cerâmica. Essa é a grande tecnologia 
do período, segundo Morgan. Ela permite o cozimento dos alimentos em fogo, sem as fragilidades 
dos cestos traçados. Com a barbárie, começam também as distinções de condições de vida entre os 
diversos povos dos continentes. Para Morgan, o traço singular desse período é a domesticação de 
animais e plantas. O continente oriental tinha diversos animais domesticáveis e cereais para o cultivo. 
O continente ocidental, a América, tinha um mamífero domesticável, a lhama, em uma parte de sua 
região Sul e o milho, como cereal cultivável. Graças a essas características naturais, o desenvolvimento 
dos dois hemisférios se dá de forma distinta.
Fase média 
Segundo Morgan, no Leste, essa fase começa com a domesticação de animais; no Oeste, com o 
cultivo de hortaliças, com a utilização da irrigação, tijolos crus e pedras de construção. Entre os índios, já 
na fase anterior da barbárie, havia o cultivo do milho e, talvez, da abóbora, do melão e outros alimentos 
cultiváveis. Vivia-se em casas de madeiras, com aldeias protegidas por paliçadas. Os chamados povos do 
Novo México (Pueblos) e os peruanos encontravam-se, na fase média da barbárie, com casas de pedras 
em formato de fortalezas; cultivavam plantações e irrigavam o milho e outros vegetais comestíveis. 
Segundo o autor, a conquista espanhola cortou o desenvolvimento autônomo desses povos. No Leste, 
essa fase começa com a domesticação de animais para o fornecimento de leite e carne. A formação de 
rebanhos levou à vida pastoril. Nessa fase, desaparece a antropofagia.
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52 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Fase superior
Essa fase inicia-se, segundo Morgan, com a fundição do ferro. Com a invenção da escrita alfabética 
e sua utilização para registros literários, passa-se para a fase da civilização. Nessa fase encontram-se os 
gregos da época clássica e heroica, as tribos ítalas anteriores à fundação de Roma, os germanos de 
Tácito, os normandos. Há uma grande revolução tecnológica no campo da agricultura, a invenção do 
arado de ferro, puxado por animais. Essa tecnologia permitiu o arado de grandes extensões de terra e 
o aumento extraordinário da produção da subsistência dos povos que a empregavam. Os bosques são 
derrubados e suas áreas ocupadas pelas pastagens e agricultura.
Essas condições aceleraram o crescimento da população, em pequenas e densas áreas; embrião 
das cidades modernas. Nessa fase registram-se grandes avanços tecnológicos, aperfeiçoados pelos 
gregos: foles de força, moinhos à mão, roda de olaria, preparação do azeite e do vinho, da produção 
artística em metais, transporte de guerra, construção de barcos, desenvolvimento da arquitetura, surgi-
mento das cidades amuralhadas e da Mitologia. Essa fase é fronteiriça à civilização, no painel histórico 
de Morgan.
Em traços gerais, segundo Engels, pode-se sintetizar os estágios definidos por Morgan da seguinte 
forma:
Estado selvagem – período em que predominam a apropriação de produtos da natureza, prontos para ser utilizados; 
as produções artificiais do homem são, sobretudo, destinadas a facilitar essa apropriação. Barbárie – período em que 
aparecem a criação de gado e a agricultura, e se aprende a incrementar a produção da natureza por meio do trabalho 
humano. Civilização – período em que o homem continua aprendendo a elaborar os produtos naturais, período da 
indústria propriamente dita e da arte. (ENGELS, 1977, p. 25)
O ramo de ouro: magia, religião e ciência – 
James George Frazer
O trabalho de James George Frazer, O Ramo de Ouro, é apontado como o que melhor sintetiza as 
pesquisas do século XIX, sobre as crenças e religiões. Ela é uma obra de referência no estudo dessa fase 
da Antropologia. Frazer é quem melhor sintetiza também o comportamento do homem de ciência da 
época. Seu contato com a realidade que estuda é epistolar, por carta, a distância. Teriam perguntado, 
certa vez, a ele se já tinha tido contato com um selvagem. Frazer responde: “Livra-me Deus de seme-
lhante atrocidade”.
Baseado nos relatos elaborados por administradores coloniais espalhados pelos quatro cantos 
do mundo, Frazer produziu uma obra extensa. Segundo informações da época, ele trabalhou por quase 
sessenta anos, doze horas por dia, numa biblioteca de 30 mil volumes.
Frazer procurou despertar no mundo acadêmico e social do seu tempo a necessidade e a 
importância da Antropologia como ciência. Seus doze volumes de estudos sobre a religião e a magia o 
credenciavam para a tarefa. O estudo começa em 1890 e termina em 1915.
Nele, o autor elabora a teoria da magia simpática – homeopática. Segundo ele, nesse tipo de 
magia, os ritos mágicos imitam o efeito que procuram produzir, por intermédio do simbolismo. Não há 
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53|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
propriamente a ocorrência do fenômeno, mas sua representação. Elaborou ainda a teoria da magia por 
contato, da relação direta: o vodu.
Frazer vai criticar duramente essas duas modalidades de magia que, segundo ele, são formas 
errôneas de estruturação do pensamento e a tentativa de produção de uma ciência bastarda e incapaz 
de dar explicações científicas sobre a realidade. O autor lança mão do método comparativo para estudar 
a magia e seus desdobramentos históricos.
Para o estudioso britânico, a religião e o animismo são movimentos puramente intelectuais. Seus 
aspectos sociais são secundários. A religião seria uma tentativa intelectual de explicar as ocorrências do 
mundo para os povos em estágios anteriores ao da civilização ocidental.
Segundo Laplantine (1987, p. 68), nessa obra monumental, Frazer
[...] retraça o processo universal que conduz, por etapas sucessivas, da magia à religião, e depois, da religião à ciência. “A 
magia”, escreve Frazer, “representa uma fase anterior, mais grosseira, da história do espírito humano, pela qual todas as 
raças da humanidade passaram, ou estão passando, para dirigir-se para a religião e a ciência”. Essas crenças dos povos 
primitivos permitem compreender a origem das “sobrevivências” (termo forjado por Tylor) que continuam existindo 
nas sociedades civilizadas. Como Hegel, Frazer considera que a magia consiste num controle ilusório da natureza, que 
se constitui num obstáculo à razão. Mas, enquanto para Hegel, a primeiraé um impasse total, Frazer a considera como 
religião em potencial, a qual dará lugar por sua vez à ciência que realizará (e está até começando a realizar) o que tinha 
sido imaginado no tempo da magia.
Na mesma pegada do Evolucionismo registrado na história do homem e das sociedades, Frazer 
coloca a magia na base da evolução que levará à religião – fase intermediária – e depois, à ciência, etapa 
superior das formas de explicação e compreensão da realidade circundante.
Considerações finais
Com o Evolucionismo Social, a Antropologia entra no universo das Ciências Sociais. A disciplina 
ganha status de ciência e passa a definir seu “objeto de estudo”, suas metodologias e técnicas de pesquisa.
Nessa caminhada, três aspectos se destacam nessa escola: 
sua experiência deu-se no quadro geral do colonialismo europeu nos países da África, Ásia e ::::
Américas; 
a escola instala o conceito de desenvolvimento como paradigma, como forma de compreensão ::::
do homem e de suas realizações no plano da cultura; 
ao considerar a “unidade histórica” do homem, em desenvolvimento de estado primitivo para ::::
o civilizado, a escola abre a porta para o que se denominará “racismo científico”.
O colonialismo europeu fincou seus tentáculos pelo mundo. Povos, nações, culturas e riquezas 
nacionais foram colocadas a serviço do desenvolvimento das nações europeias. Para exercer com efici-
ência seu poder, essas nações estudaram com empenho e afinco as formas de organizações dos países 
ocupados. Os conhecimentos desprendidos dos estudos antropológicos serviram para as dominações 
de diversos povos e culturas. Um dos grandes imperialistas da época, Cecil Rhodes, declarou certa vez: 
“Hei de conquistar todos os continentes e os planetas” (Schwarcz, 1996, p. 163), numa apologia direta à 
capacidade dos países ocidentais.
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54 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Os dados remetidos pelos administradores coloniais para os países de origem foram coletados 
e sistematizados por estudos do porte de Frazer. Por essa razão, uma das características centrais da 
Antropologia dessa época era o seu trabalho de gabinete, de escritório, de biblioteca. Apesar de Morgan 
e Darwin terem feito trabalho de campo, a maior parte dos estudos da época era feita a distância, sem 
um contato direto entre o pesquisador e os povos estudados.
Ao estabelecer o desenvolvimento como paradigma, como modelo de desenvolvimento dos 
fenômenos, a escola deu uma grande contribuição aos estudos da Antropologia. A Antropologia passou 
a estudar o desenvolvimento do homem e de suas realizações materiais e imateriais nos eixos do tempo 
e do espaço, da origem mais remota ao estado em que se encontrava num determinado momento 
de evolução. Os trabalhos de Darwin foram importantes para a consolidação e popularização dessa 
ideia. Antes do seu trabalho, como fator especial do século XIX e de suas realizações, o conceito já era 
debatido e assimilado. Mas, sem dúvidas, a obra do naturalista britânico contribuiu para a consolidação 
no imaginário social da época, dessa noção que passa a ser uma pedra fundante no edifício da ciência 
que despontava.
A Antropologia Cultural se consolida no quadro das referências científicas. O centro das atenções 
dos estudiosos era a cultura tomada sob o ângulo comparativo e evolucionista. Os dois conceitos centrais 
eram civilização e progresso. Todos os povos que compunham a grande família humana passariam, 
obrigatoriamente, pelos mesmos estágios de desenvolvimento e evolução, do primitivo ao civilizado.
Porém, como acentua Schwarcz (1993, p. 61), há um ponto de mudança nessa linha de raciocínio, 
que altera seu conceito e desemboca no racismo científico da época:
A antiga noção de “perfectibilidade” do século XVIII continua presente no século XIX, mas ganha uma acepção diversa. 
Nesse caso, implica pensar não em uma qualidade intrínseca do homem, mas em um atributo próprio das “raças civili-
zadas” que tendem à civilização. Por outro lado, o conceito ganha um sentido único e direcionado, já que parece existir 
só uma “perfectibilidade” possível, e da outra parte apenas a degeneração.
Essa ideia se desenvolve e ganha força entre a intelectualidade brasileira da época. Intelectuais 
como Francisco José Oliveira Viana12 (1883-1951), João Batista Lacerda13 (1846-1915), Raimundo Nina 
Rodrigues (1862-1906) e Herman von Ihering14 (1850-1930) sofrem grande influência desse conceito, e 
os importam para a leitura e compreensão da realidade brasileira.
O então diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, João Batista Lacerda, ao participar do I 
Congresso Internacional das Raças, realizado em julho de 1911, declara: “o Brasil mestiço de hoje tem no 
branqueamento em um século sua perspectiva, saída e solução” (SCHWARCZ, 1993, p. 11).
12 Francisco José de Oliveira Viana (1833-1951), sociólogo, advogado e escritor. Foi consultor jurídico do Ministério do Trabalho e ministro do 
Tribunal de Contas (1940). Sua obra, polêmica pela posição conservadora e por subestimar a presença do negro na formação social brasileira, 
foi considerada o marco de uma nova fase de interpretação dos estudos brasileiros.
13 João Batista de Lacerda (1846-1915), médico e cientista. Realizou estudos pioneiros sobre a composição do curare e o veneno de ofídeos e 
anfíbios. Conhecido pelos cientistas sociais principalmente por seu trabalho sobre o branqueamento da população brasileira apresentado em 
Londres durante o I Congresso Internacional das Raças em 1911.
14 Hermann Friedrich Albrecht von Ihering (1850-1930) jurista e médico alemão. Veio para o Brasil em 1880 e estabeleceu-se, inicialmente, na 
então província do Rio Grande do Sul. Dirigiu o Museu Paulista entre 1894 e 1915 onde reproduziu todos os traços de modelo de instituição 
europeia. Dedicou muitos estudos a fósseis moluscos, aos pássaros e à etnologia. Foi um dos principais teóricos sobre a relação entre evolução 
e paleogeografia na passagem do século XIX para o XX.
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55|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Esse conceito passa a dirigir a política de imigração que adotará o país, entre 1870 e 1930. No I 
Congresso Brasileiro de Eugenia15, realizado em 1929, o antropólogo Edgar Roquete Pinto16 apresentou 
o seguinte diagnóstico:
Diagrama de constituição antropológica das populações do Brasil, organizado segundo as 
estatísticas oficiais de 1872 a 1890, por Edgar Roquete Pinto.
Ano Brancos Negros Índios Mestiços Total
(S
CH
W
A
RC
Z,
 1
99
3,
 p
. 9
7)
1872 38,1% 16,5% 7% 38,4% 100
1890 44% 12% 12% 32% 100
1912 50% 9% 13% 28% 100
2012 80% 0% 17% 3% 100
Almejava-se uma sociedade cada vez mais branca. Os dados demográficos do IBGE17 não confir-
mam essa previsão. Pelo contrário.
Apesar desses aspectos, o Evolucionismo Social implicou mudanças conceituais na Antropologia 
e deu à disciplina o status científico que tem desde então. Dessa forma, estava aberta a porta para que 
a disciplina pudesse, sob o impacto dessas alterações, avançar para a conceituação de seu “objeto de 
pesquisa” e o desenvolvimento de sua metodologia.
Texto complementar
17 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, fundação pública federal criada em 1934 que tem atribuições ligadas às geociências e 
estatísticas sociais, demográficas e econômicas. Realiza e organiza informações, obtidas por meio de censos, destinadas aos órgãos federais, 
estaduais, municipais às instituições e público em geral.
15 Eugenia (bem nascer) foi o termo cunhado por Francis Galton (1822-1911), que influenciado pela teoria de seleção natural de Darwin, e 
convencido de que era a natureza que determinava as habilidadeshumanas e a hereditariedade era o principal fator da geração de patologias 
sociais e doenças, dedicou seus estudos científicos à melhora da espécie humana por meio da seleção artificial (casamentos seletivos). Atualmente 
diversos cientistas sociais apontam problemas éticos na eugenia que categoriza as pessoas como aptas ou não aptas para a reprodução.
16 Edgar Roquete Pinto (1884-1954) médico, professor, antropólogo e etnólogo brasileiro. Foi assistente de antropologia no Museu Nacional 
e pioneiro no registro de tomadas em close de fisionomias indígenas. Fundou em 1923 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora 
brasileira dedicada à divulgação da arte, cultura e educação. É considerado o pai da radiodifusão no Brasil.
Do holocausto nazista à nova eugenia no século XXI
(GUERRA, 2007)
Embora a produção da bomba atômica seja sempre lembrada como exemplo da ciência a 
serviço da destruição, há outro igualmente relevante: o desenvolvimento das teorias eugênicas e 
seu aproveitamento por movimentos raciais, culminando no Holocausto nazista na Segunda Guerra 
Mundial.
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56 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
A maioria dos geneticistas do século XXI, quando a genética é assunto rotineiro na mídia, pouco 
ou nada sabe sobre a história da eugenia. Conhecê-la, porém, é fundamental em face de situações 
concretas da atualidade, como fertilização in vitro, diagnósticos pré-natal e pré-implantação, aborto 
terapêutico e clonagem reprodutiva. Em vista das preocupações sobre a emergência de uma nova 
eugenia, é importante rever o passado e aprender com os erros cometidos.
O movimento eugênico
Quando em The Origin of Species, de 1859, Darwin propôs que a seleção natural fosse o pro-
cesso de sobrevivência a governar a maioria dos seres vivos, importantes pensadores passaram a 
destilar suas ideias num conceito novo – o Darwinismo Social.
Esse conceito, de que na luta pela sobrevivência muitos seres humanos eram não só menos 
valiosos, mas destinados a desaparecer, culminou em uma nova ideologia de melhoria da raça 
humana por meio da ciência. Por trás dessa ideologia estava sir Francis J. Galton, cujo nome é 
associado ao surgimento da genética humana e da eugenia.
Convencido de que era a natureza, não o ambiente, quem determinava as habilidades humanas, 
Galton dedicou sua carreira científica à melhoria da humanidade por meio de casamentos seletivos. 
No livro Inquiries into Human Faculty and its Development, de 1883, criou um termo para designar 
essa nova ciência: eugenia (bem nascer).
No início do século XX, quando as teorias de Darwin eram amplamente aceitas na Inglaterra, 
havia grande preocupação quanto à “degeneração biológica” do país, pois o declínio na taxa de 
nascimentos era muito maior nas classes alta e média do que na classe baixa. Para muitos parecia 
lógico que a qualidade da população pudesse ser aprimorada por proibição de uniões indesejáveis 
e promoção da união de parceiros bem-nascidos. Foi necessário, apenas, que homens como Galton 
popularizassem a eugenia e justificassem suas conclusões com argumentos científicos aparente-
mente sólidos.
As propostas de Galton ficaram conhecidas como “eugenia positiva”. Nos EUA, porém, 
elas foram modificadas, na direção da chamada “eugenia negativa”, de eliminação das futuras 
gerações de “geneticamente incapazes” – enfermos, racialmente indesejados e economicamente 
empobrecidos – por meio de proibição marital, esterilização compulsória, eutanásia passiva e, em 
última análise, extermínio.
Como salienta Edwin Black no livro A Guerra contra os Fracos, “os EUA estavam prontos para a 
eugenia antes que a eugenia estivesse pronta para os EUA”. O aumento no número de imigrantes no 
final do século XIX levou o grupo dominante no país, os protestantes cujos ancestrais eram oriundos 
do norte da Europa, a buscar motivos para exclusão. Encontraram terreno fértil na pseudociência 
da eugenia.
Os eugenistas usaram os últimos conhecimentos científicos para “provar” que a hereditariedade 
tinha papel-chave em gerar patologias sociais e doença. Os imigrantes tornaram-se alvos fáceis 
de defensores dessa nova “ciência”, que empregaram os achados do movimento eugênico para 
construir a imagem dos imigrantes como pessoas deformadas, doentes e depravadas, encontrando 
eco em seus contemporâneos nas Ciências Sociais e na Biologia, entre os quais a eugenia propagou- 
-se como algo considerado perfeitamente lógico.
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57|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
O racismo dos primeiros eugenistas norte-americanos não era contra não brancos, mas contra 
não nórdicos, e as doutrinas de pureza e supremacia raciais eram elaboradas por figuras públicas 
cultas e respeitadas. Quando as teorias de Mendel chegaram aos EUA, esses pensadores influentes 
acrescentaram um verniz científico ao ódio racial e social.
O líder do movimento eugenista dos EUA foi Charles Davenport, que dirigia o laboratório de 
Biologia do Brooklin Institute of Arts and Science, em Long Island, instalado em Cold Spring Harbor. 
Em 1903, obteve da Carnegie Institution o estabelecimento de uma Estação Biológica Experimental 
no local, onde a eugenia seria abordada como ciência genuína. Em seguida, juntou-se aos criadores 
de animais e especialistas em sementes da American Breeders Association, muitos deles convencidos 
de que o conhecimento mendeliano sobre gado e plantas era aplicável a seres humanos.
O próximo passo de Davenport foi identificar os que deveriam ser impedidos de se reproduzir. 
Em 1909 criou o Eugenics Record Office para registrar os antecedentes genéticos dos norte-americanos 
e pressionar por legislação que permitisse a prevenção obrigatória de linhagens indesejáveis. Para 
isso, o grupo concluiu que o melhor método seria a esterilização, e o estado de Indiana foi a primeira 
jurisdição do mundo a introduzir lei de esterilização coercitiva, logo seguido por vários outros 
estados. Desde o início, porém, o uso de câmaras de gás estava entre as estratégias discutidas para 
eliminação daqueles considerados indignos de viver.
Com o tempo, a eugenia passou a ser vista como ciência prestigiosa e conceito médico legítimo, 
disseminada por meio de livros didáticos e instituições de instrução eugenista. No primeiro Congresso 
Internacional de Eugenia, em 1912, líderes de delegações dos EUA e países europeus formaram 
o Comitê Internacional de Eugenia, que, posteriormente, deu origem à Federação Internacional 
de Organizações Eugenistas, cuja agenda política e científica era dominada pelos EUA, para onde 
eugenistas estrangeiros viajavam para períodos de treinamento em Cold Spring Harbor.
Na Alemanha, a eugenia norte-americana inspirou nacionalistas defensores da supremacia 
racial, entre os quais Hitler, que nunca se afastou das doutrinas eugenistas de identificação, 
segregação, esterilização, eutanásia e extermínio em massa dos indesejáveis, e legitimou seu ódio 
fanático pelos judeus envolvendo-o numa fachada médica e pseudocientífica.
Não houve apenas extermínio em massa de judeus e outros grupos étnicos. Em julho de 1933, 
foi decretada lei de esterilização compulsória de diversas categorias de “defeituosos” e, com o início 
da Segunda Guerra Mundial, os alemães considerados mentalmente deficientes passaram a ser 
mortos em câmaras de gás. Médicos nazistas realizavam experimentos em prisioneiros nos campos 
de concentração, e, em Auschwitz, Mengele dedicou-se ao estudo de gêmeos para investigar a 
contribuição genética ao desenvolvimento de características normais e patológicas – de 1 500 pares 
de gêmeos submetidos a suas experiências, menos de 200 sobreviveram.
A nova eugenia do séculoXXI
A revelação das atrocidades nazistas desacreditou a eugenia científica e eticamente, fez com 
que a palavra desaparecesse abruptamente do uso. No entanto, a eugenia não desapareceu, mas 
se refugiou em muitos casos sob o rótulo “genética humana”. O laboratório de Cold Spring Harbor 
é dirigido hoje por um dos descobridores da estrutura de dupla hélice do DNA, o geneticista 
James Watson, que vem propagando ideias claramente eugênicas. Avanços científicos vêm sendo 
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58 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
direcionados à identificação de “indesejáveis”, como a utilização de exames que detectam doenças 
genéticas por companhias de seguro e planos de saúde e o uso de bancos de DNA no controle de 
imigração.
À medida que diminui o número de filhos por casal, pressiona-se para que sejam cada vez mais 
perfeitos. Técnicas de diagnóstico pré-natal permitem detectar bebês com problemas genéticos, e 
embora a decisão sobre aborto terapêutico seja pessoal, difunde-se o conceito de que é cruel não 
levar em conta a qualidade de vida e que interrompê-la pode ser um ato de amor. Os pais também 
são levados a priorizar a qualidade de suas próprias vidas. Como saber, porém, o que faz com que a 
vida não mereça ser vivida ou não mereça ser cuidada?
Fertilização in vitro
Num futuro próximo, se a eugenia for além dos abortos terapêuticos para de fato projetar 
bebês que se beneficiem de todos os avanços da genética, provavelmente não fará sentido que a 
concepção ocorra da maneira tradicional, mas sim em clínicas de fertilização in vitro.
No final de sua vida, Galton escreveu um romance chamado Kantsaywhere, em que descrevia 
uma utopia eugênica. Após o exame de suas características genéticas, os habitantes de Kantsaywhere 
com material genético inferior eram destinados ao celibato em colônias de trabalho. Os que recebiam 
um “certificado de segunda classe” podiam se reproduzir “com reservas” e os bem qualificados eram 
encorajados a casar entre si. Em 1997, o filme Gattaca esboçava uma versão moderna de um paraíso 
eugênico em que a procriação ocorria por fertilização in vitro e só eram implantados embriões 
sem defeitos genéticos. Como salienta o geneticista Nicholas Gillham, Kantsaywhere e Gattaca são 
lugares semelhantes e as questões éticas levantadas são as mesmas – a diferença está em um século 
de avanços tecnológicos.
Andréa Trevas Maciel Guerra, médica geneticista, é professora titular do Departamento 
de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Atividades
1. Por que o Evolucionismo Social favoreceu o processo de colonização dos países do “Novo Mundo” 
pelas nações da Europa Ocidental?
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59|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
2. Com o ingresso da Antropologia na Era da Ciência surgem os cientistas sociais. Que papel 
desempenhavam esses “homens de ciência”?
3. O Evolucionismo Social, segundo a teoria de Morgan, divide em estágios o desenvolvimento das 
sociedades e culturas humanas. Quais são esses estágios e o que os diferencia?
4. Como a escola evolucionista colabora para o desenvolvimento da teoria do “racismo científico”?
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60 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Referências
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ECKERT, C.; ROCHA, A. L. C. da. As práticas políticas na escrita antropológica, etnografia em hipertextos 
e a produção de conhecimento em Antropologia. In: Iluminuras, (série do banco de imagens e efeitos 
visuais), número 85. Porto Alegre: Biev, PPGAS/UFRGS, 2006. 
_____. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. São Paulo: Global, s/d.
ENGELS, F. Obras Escolhidas. São Paulo: Alfa-Omega,1977, v. 3.
FRAZER, J. G. O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.
GUERRA, A. Do Holocausto Nazista à Nova Eugenia no Século XXI. Disponível em: <www.comciencia.
br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=8&id=44>. Acesso em: 20 ago. 2012.
HOFSTADTER, R. Social Darwinism in American Thought. Boston: Beacon Press, 1975.
MORGAN, L. H. La Société Archaïque. Paris: Antropos, 1971.
ROCHA, E. P. G. O que É Etnocentrismo. São Paulo: Círculo do Livro, s/d. v. 28. (Coleção Primeiros Passos).
SCHWARCZ, L. K. M. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-
1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
_____. Negras Imagens: ensaio sobre Cultura e Escravidão no Brasil. In: SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. da 
S. (Orgs.). Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 1996.
_____. As teorias raciais, uma construção histórica de finais do século XIX. O contexto brasileiro. In: 
SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. da S. (Orgs.). Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 
1996.
_____. Mercadores do espanto: a prática antropológica na visão travessa de Clifford Geertz. In: Revista 
de Antropologia, São Paulo, v. 44, n. 1, 2001. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=S003477012001=000100012). Acesso em: 20 ago. 2012.
SPENCER, H. Principles of Biology. London: W. Norgati, 1866.
TYLOR, E. B. Primitive Culture. Chicago: University of Chicago Press, 1958.
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61|Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
Gabarito
1. No século XIX, as potências europeias já tinham conhecimento da existência dos Novos Mundos 
e seus povos. Fez-se necessário, então, um projeto de ocupação e exploração econômica 
desses novos territórios. Nessa mesma época surge o Evolucionismo Social como ciência que 
estuda o deslocamento do homem no espaço e no tempo e suas realizações, o que permitiu a 
compreensão e o desenvolvimento de mecanismos eficientes de dominação desses novos povos 
e seus territórios.
2. A Antropologia Científica contava com os “Homens de ciência” que por meio da sistematização 
das informações coletadas pelos administradores coloniais, sobre os novos povos, estudavam o 
desenvolvimento do homem e de suas realizações materiais e imateriais nos eixos do tempo e 
do espaço. O conceito de evolução da espécie e de suas realizações é amplamente explorado nas 
teorias elaboradas sob a ótica do Evolucionismo Social, fundamental para a constituição do saber 
antropológico.
3. As teorias elaboradas na escola do Evolucionismo Social são apoiadas no conceito de evolução 
da espécie e de suas sociedades. Uma das teorias importantes que marca os estudos sobre o 
desenvolvimento das sociedades e culturas humanas é a do cientista Lewis Henry Morgan. 
Sua obra divide em estágios o desenvolvimento da sociedade humana: a selvageria, a barbárie 
e a civilização. A classificação de cada estágio está baseada na capacidade de reprodução 
tecnológica que garante ao homem superioridade e domínio sobre a natureza e suas condições 
de existência.
4. O conceito de “unidade histórica” do homem, desenvolvido na escola evolucionista, passou 
a expressar a ideia de que no processo de “seleção natural” os mais aptos – os europeus – 
sobreviveriam como um povo superior aos demais. Esse pensamento, o “racismo científico”, teve 
forte influência sobre a intelectualidade brasileira que estudava a formação da sociedade e as 
políticas adotadas para essa sociedade no século XIX.
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62 | Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência
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Antropologia Difusionista: 
a reação à racialização das 
relações humanas
A Escola Histórico-Cultural buscou estudar o desenvolvimento cultural como processo de difusão. 
Cronologicamente, essa escola surge nos círculos intelectuais da Áustria e da Alemanha, no final do 
século XIX. Um dos seus principais autores é o alemão Leo Frobenius.
Nessa linha de pesquisa, surgem os trabalhos do etnólogo Fritz Graebner1, que estudou dentro 
da mesma bitola conceitual o povo da Oceania. Esses estudos repercutem num dos principais centros 
de elaboração teórica da Europa: Viena. Lá, coração do debate intelectual da época, o padre Wilhelm 
Schmidt2 estudou a distribuição de grupos humanos em círculos culturais.
Ao lado de Berlim, Viena despontava como o centro de articulação dessa escola. A teoria do círculo 
cultural considera parte de seu universo: a distribuição geográfica, a história de desenvolvimento cultural 
de um determinado povo e o estudo estratificado dos elementos que compõem a cultura existente.
Esses conceitos migraram para os círculos intelectuais britânicos, sufocados pelo racismo acen-
tuado adotado pela escola do Evolucionismo Cultural, e encontraram, do outro lado do oceano, uma 
forte expressão nos trabalhos pioneiros e fundamentais para a Antropologia moderna, do norte-ameri-
cano de origem alemã, Franz Boas.
Esse é o caldo de cultura que embala a Escola Difusionista, guarda-chuva conceitual dessas três 
experiências intelectuais, dadas na Áustria e Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos da América. E como 
centro de unidade, a noção de um ponto original de cultura. Em diversos aspectos, há convergências e 
muitas divergências, características de várias outras escolas teóricas e conceituais.
1 Fritz Graebner (1877-1934), etnólogo alemão. Frequentou a Escola de Berlim de 1887 a 1895, especializou-se em culturas da Oceania e 
Austrália. Tornou-se conhecido por sua palestra Kulturkreise und kulturrschichten in Ozeanien apresentada na reunião de Antropologia, Etnologia 
e Pré-História da Sociedade de Berlim em 1905. Em seus estudos pretendiam estabelecer “círculos culturais” Kulturkreise.
2 Wilhelm Schmidt (1868-1954) foi um padre católico na Alemanha e um etnologista que estudou as religiões do mundo e escreveu 
extensamente sobre a sua inter-relação aplicando a ideia de círculo de cultura à escala mundial. Fundou a revista Anthropos em 1905 e criou 
sua própria versão do Kulturkriese.
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64 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Antropologia Difusionista
Os principais teóricos da Antropologia Difusionista objetivaram quebrar o conceito racista 
impregnado na Antropologia do final do século XIX e início do século XX.
Esse foi um traço comum em seus três núcleos de articulação: as escolas alemã-austríacas, inglesa 
e a norte-americana. Seus principais representantes foram os alemães Friedrich Ratzel e Leo Frobenius, 
os ingleses Elliot Smith, W. J. Perry e W. H. R. Rivers, e o norte-americano Franz Boas.
Para essa escola, a questão fundamental era a cultura, e não a raça, como fator determinante à 
diversidade cultural humana. Os fatores dessas singularidades deveriam ser procurados nos estágios 
da produção cultural de cada povo, e não na sua conformação racial, linha percorrida pelos trabalhos 
– no período anterior – desenvolvidos por Herbert Spencer (Princípios da Biologia, 1864), entre outros 
teóricos.
O nome difusionismo está ligado à difusão, à distribuição de elementos culturais de um centro 
para a periferia de uma área. Segundo seus teóricos, uma cultura teria origem num determinado ponto 
humano, e de lá teria se difundido para outras áreas culturais: de um ponto de origem, essa cultura se 
desdobra – difunde-se – para outras áreas humanas.
Cada grupo humano lança mão de aspectos, formas culturais que vão ao encontro dos seus 
interesses imediatos ou de sua ecologia humana3, de suas formas de organização do mundo material e 
imaterial.
Para tanto, em suas diversas modulações, a Escola da Antropologia Difusionista destaca três 
aspectos centrais da sua produção etnográfica antropológica: reconstrução sistemática da história dos 
povos estudados, destaque no trabalho de campo – no trabalho etnográfico de observação e registro 
de dados –, e a criteriosa coleta de dados primários.
Com a reconstrução histórica – linha do tempo – era possível refazer a trajetória do desdobra-
mento cultural de um ponto de origem aos estágios subsequentes. Na massa de elementos culturais 
disponíveis, procurava-se identificar os elementos primeiros dessa manifestação cultural e sua origem, 
da qual se desdobraram as demais manifestações, ou seja, identificação do ponto central do qual se 
originaram as demais formas, por difusão dos seus elementos culturais.
O trabalho de campo dava lastro a esse objetivo. Na observação direta dos fenômenos e nas suas 
comparações exteriores – forma – e interiores – essência – seria possível identificar esses elementos 
primários e seus fatores derivados.
A coleta de dados primários apresentaria ao antropólogo as informações culturais mais próximas 
de seus estados originários, com uma melhor identificação de aspectos primários e derivados. O trabalho 
de gabinete não daria ao antropólogo essa capacidade de observação de dados.
Essa escola marcou profundamente a tradição antropológica, ao procurar se esquivar dos estigmas 
preconceituosos presentes nas noções de raça. Ela reforça a tese da existência de uma família humana, 
com diversidades nas formas de reprodução de suas condições materiais e imateriais de vida. Apesar 
de pontos distintos de um centro intelectual para outro, formou-se uma noção comum da difusão da 
cultura de um ponto central de origem para outros pontos geográficos e humanos, por assimilação ou 
apropriação desses dados culturais por um ou diversos povos.
3 Ecologia humana é a relação do ser humano com seu ambiente natural. Para a sobrevivência e reprodução dos indivíduos é necessário um 
meio ambiente humano saudável que combine tanto elementos naturais (orgânicos e inorgânicos) quanto os culturais que dão suporte à vida 
humana nos diversos ambientes. O ser humano adapta-se ao meio ambiente (orgânica, física e mentalmente) possibilitando sua existência em 
todos os ambientes terrestres do planeta.
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65|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Conceitos difusionistas
A Escola Difusionista ampliou o campo lexical da Antropologia moderna. As diversas fontes de 
produção de sua área conceitual legaram aos estudos antropológicos um arsenal de ideias que alargou 
o repertório das Ciências Sociais, em especial nos Estudos Culturais.
A metáfora mais comum dessa escola é a da pedra no lago. Os difusionistas criaram a imagem de 
que uma cultura é como uma pequena pedra lançada num lago. Suas ondas vão se propagando de um 
centro pequeno que se alarga, permanentemente, até as suas margens, regionais ou globais.
Cada pequeno círculo formado significa uma cultura, com suas particularidades e especificidades, 
mas com partes da mesma onda original. Os anéis representariam experiências particulares de formas 
de apropriação da mesma “pedra” cultural.
Essa teoria traz embutida duas ideias fundamentais que opuseram os difusionistas aos evolucio-
nistas: a natureza da cultura e a unidade psíquica do ser humano.
Ao advogar a natureza como fonte “inspiradora” da diversidade cultural, os difusionistas deslocam 
o debate da área das relações raciais para o estudo da natureza cultural de cada povo. Esse deslocamento 
é fundamental para a compreensão de que não há raças superiores ou inferiores, mas povos e grupos 
humanos que são distintosna forma de apropriação, de retenção e utilização dos elementos culturais 
comuns. Cada forma de utilização desses recursos estava ligada à especificidade desse grupo em relação 
aos demais, detentores das mesmas raízes culturais.
Na mesma linha navega o conceito de unidade psíquica do ser humano. Os homens, segundo 
os difusionistas, têm as mesmas capacidades cognoscíveis, as mesmas competências de apreensão da 
realidade circundante. Os homens seriam assim parte da mesma família humana, com as mesmas com-
petências.
No fundamental, a distinção entre a escola evolucionista e a difusionista é a de que a primeira 
centra sua reflexão no conceito de que – aos poucos – os seres humanos constituíram diferenças raciais 
no seu processo de evolução. Os difusionistas explicam essa diversidade cultural pela forma com que os 
povos se apropriam de modos diferentes dos mesmos elementos culturais, mesmo compartilhando a 
mesma base psíquica de competências intelectuais, para a interpretação do mundo.
Entre os principais conceitos consolidados por essa escola estão: traços culturais; áreas e círculos; 
culturais aculturação; fusão e síntese culturais; hiperdifusionismo e relativismo cultural, culturalismo ou 
particularismo histórico.
Traços culturais:::: – os traços culturais são elementos que permitem identificar um fenômeno 
cultural comum em diversos povos. Essas são as marcas identificadoras da origem daquela 
manifestação cultural e indicam sua precedência e sua unidade original, a despeito da distância 
espacial entre os povos estudados.
Áreas culturais/círculos culturais:::: – as áreas culturais se constituem em centros de produção 
tecnológica e cultural, que servem de referência para as demais estruturas humanas que 
gravitam ao seu redor. Elas são pontos de referência para diversos povos humanos realizarem 
suas experiências culturais, na produção e reprodução de suas vidas materiais e imateriais. Os 
círculos culturais se ligam à metáfora da pedra jogada no lago, com sua repercussão em forma 
de anéis se ampliando; do centro para suas extremidades. Esses anéis são distintos a cada 
momento, porém com a mesma origem de difusão.
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66 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Aculturação:::: – o conceito de Aculturação explica o abandono de determinado traço cultural 
por outros traços, trazidos por outros povos. A aculturação se dá quando uma determinada 
cultura é substituída por outra, de fora para dentro, pela conquista ou ocupação de uma área 
ou território.
Fusão e Síntese Culturais:::: – a Fusão e Síntese Culturais ocorreriam graças ao contato dos 
diversos traços culturais entre os diversos povos que, ao se apropriarem desses traços, amarram- 
-nos com os seus traços originais, criando uma fusão ou síntese entre os novos e antigos 
traços. Além de conter elementos originários da cultura anterior, passariam a conter também 
os traços novos, transmitidos pelos contatos diretos ou indiretos com outras culturas.
Hiperdifusionismo:::: – o Hiperdifusionismo é um conceito que proclama a ideia de que a cul-
tura teve um único ponto de origem – distinto dos conceitos de círculos e áreas – e de lá se 
difundiu para toda a humanidade. Muitos difusionistas ingleses advogaram a tese de que toda 
cultura teria se originado no Egito Antigo.
Relativismo Cultural:::: – o conceito de Relativismo Cultural quebra a noção de culturas su-
periores versus culturas primitivas. Segundo os difusionistas, as culturas são relacionadas às 
especificidades apresentadas por um determinado povo, em relação a outro. A diversidade é 
explicada pela forma com que um povo se apropria de um certo traço cultural, sem que isso 
estabeleça uma relação de superioridade e inferioridade entre essas diversas formas de mani-
festações culturais. Essa noção ajuda a explicar os conceitos de Culturalismo – a cultura como 
centro das investigações da Antropologia – e Particularismo Histórico – a aplicação particular 
dada por determinado povo, num determinado período histórico, a um determinado “traço 
cultural”.
Esses movimentos de transferências de traços culturais – mitos e ritos – e tecnológicos – organiza-
ção tecnológica da reprodução das condições de vida – se dão, segundo os difusionistas, pela 
imitação:::: – quando um povo imita o sucesso de uma certa tecnologia, como a invenção da 
roda e sua difusão por diversos povos; 
negociação:::: – quando um povo em contato direto com o outro adota uma determinada tec-
nologia, em razão das relações culturais estabelecidas entre ambos, como a adoção de uma 
técnica de produção que amplia suas as relações comerciais; 
ocupação:::: militar – como as conquistas dos territórios do “Novo Mundo” pelos países euro-
peus, com a imposição dos seus costumes, hábitos e usos tecnológicos, a exemplo do que 
ocorreu no Brasil, com a chegada dos navegadores portugueses.
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67|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Escola alemão-austríaca
Friedrich Ratzel (1844-1904) – 
teórico do determinismo geográfico e do espaço vital
O geógrafo Friedrich Ratzel foi influenciado pela teoria darwinista da seleção natural. Professor na 
Universidade de Lípsia, na Alemanha, desenvolveu uma teoria baseada na concepção do determinismo 
geográfico.
Por essa visão, o homem vive condicionado pelas condições geográficas que o cercam; o meio 
físico – as condições físicas do solo, a vegetação, a ecologia e fauna, os aspectos climáticos: determinismo 
geográfico.
Ratzel explicava a diversidade das culturas com base na diversidade das condições físicas nas 
quais essas culturas se desenvolviam. As respostas e soluções dadas pelos homens, para cada condição 
física que os cercava, produziam um tipo diferente de manifestação cultural.
Esses princípios teóricos não se restringiram à Geografia. Mais tarde, o conceito de determinismo 
geográfico migrou para o campo da política. Nesse campo, a Geografia toma a feição de expansionismo 
territorial alemão, travestida pelo conceito de “espaço vital” (Lebensraum). Esse conceito serviu de justi-
ficativa para a ocupação da Polônia4, que deu início aos conflitos que arrastaram a Europa e o resto do 
mundo para a Segunda Guerra Mundial.
O geógrafo alemão viveu num período singular da história de seu país: tardias experiências 
capitalistas, diferentes da Inglaterra, e resquício de período feudal; poderes regionais, sem uma 
centralização administrativa; luta pela hegemonia entre a Prússia e a Áustria. A Alemanha atravessava 
o período de sua unificação5.
No campo da Geografia, a exemplo de outras Ciências Sociais, a disciplina experimentava sua 
transição para o campo da Ciência. No final do século XIX, a Geografia tinha dois vetores centrais: “geo-
grafia política-estatística” e a “geografia pura”.
A primeira se constituía, com base em um levantamento estatístico mais abrangente que permi-
tisse a constituição de um painel amplo e sistemático, tendo como sustentação analítica sua base terri-
torial. A segunda, na qual se filia Ratzel, sustenta-se numa unidade regional e registra os limites naturais 
do seu espaço físico, do qual deriva o conceito de “espaço vital”.
4 Em 1933, o líder do Partido Nazista da Alemanha, Adolf Hitler, estava determinado a transformar seu país na maior potência do mundo. 
Empenhou-se em rearmar, secretamente, o exército alemão, descumpriu as cláusulas do Tratado de Versalhes – que encerrou oficialmente 
a Primeira Guerra Mundial – e iniciou o avanço ao leste europeu. Hitler aproveitou-se do medo das potências capitalistas frente à revolução 
Comunista para fortalecer seu exército e, em setembro de 1939, invadiu a Polônia, que foi derrotada rapidamentee submetida a uma política 
de germanização. Começava a Segunda Guerra Mundial.
5 A unificação dos Estados germânicos – Alemanha – concretizou-se em janeiro de 1871 após um longo processo iniciado com as Revoluções 
em 1848, passando pela Guerra dos Ducados (1864), Guerra Austro-Prussiana (1866) e finalizado com a vitória da Prússia na Guerra Franco-
-Prussiana (1870-1871) formando o Segundo Reich alemão governado pela dinastia prussiana. A divisão política da Alemanha não mais 
ameaçava o projeto econômico germânico e, logo, a Alemanha se tornara uma das maiores potências europeias embalada pelo antigo desejo 
de unificação, pelo fato de todos falarem uma mesma língua e terem a mesma base cultural.
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68 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Num cenário de transformações políticas e sociais, a Geografia de Ratzel se destaca. Ela dá lastro 
para a emergência alemã, num quesito fundamental. A Alemanha tem uma entrada tardia no mundo 
capitalista e faltam-lhe as prerrogativas essenciais para sua expansão: possuir colônias, territórios e 
recursos naturais, diferentes da Inglaterra e da França. Sua concepção geográfica serviu como uma luva 
aos projetos de unificação de Otto von Bismarck6 (1815-1898), primeiro-ministro da Prússia e do Império 
Alemão.
Sua principal obra, Antropogeografia, fundante da Geografia Humana, foi publicada em 1882. 
Ratzel aplica fundamentos básicos da história ao universo da Geografia. O epicentro de suas reflexões são 
as condições determinantes da natureza sobre as condições de produção e reprodução das condições 
de vida do homem.
Essas condições circundantes desempenhariam papéis fundamentais na constituição de vida da 
humanidade, em seus diversos aspectos: físicos e psíquicos, na sua constituição física e nas suas repre-
sentações mentais e psicológicas. Segundo Ratzel, essas condições físicas e geográficas moldavam a 
anatomia cultural de uma determinada sociedade. Uma natureza rica geraria uma sociedade rica; uma 
natureza empobrecida geraria uma sociedade pobre.
Ratzel bebe na fonte teórica de Herbert Spencer. Para ele, o desenvolvimento social se asseme-
lhava a um organismo. Os homens se agrupavam em sociedades; estas se transformavam em Estados e, 
por fim, estes últimos se convertiam em organismos. Esse rastro da experiência social era determinado 
pelas condições geográficas dadas: solo, recursos naturais, condições de vida e reprodução das condi-
ções sociais.
A antropogeografia de Ratzel estuda as relações do homem com o meio ambiente. Para o teórico 
alemão, o território era a base da reprodução das condições de vida de um povo. O progresso impunha a 
necessidade de expansão territorial. Essa construção teórica dá como natural a instituição de um “espaço 
vital” para o desenvolvimento das potencialidades de um povo. Uma sociedade em desenvolvimento 
dependerá, cada vez mais, de recursos expandidos para assegurar seu desenvolvimento pleno e 
satisfatório, justificava Ratzel.
Diferente dos estudos geográficos anteriores, a Geografia de Ratzel dá destaque ao homem. 
Ela abre caminho para uma série de linhas possíveis de estudos, que favorecerão o desenvolvimento 
da Antropologia como ciência social relevante: aspectos históricos do desenvolvimento; espaços 
geográficos e desenvolvimento territorial; dispersão do homem pela terra e suas reproduções de forma 
de vida; distribuições humanas e culturais; isolamentos e mestiçagem; estudos das áreas ocupadas e da 
cultura desenvolvida numa localidade ou área geográfica.
No aspecto metódico, os estudos de Ratzel dão contribuições importantes ao legado antropoló-
gico. Ratzel concebe a Geografia como ciência empírica, prática, palpável. Suas técnicas de pesquisa e 
análise tinham, na observação direta, seu ponto de apoio para as descrições metódicas feitas, na linha 
do que preconiza a etnografia. A observação e a descrição são a base das sínteses feitas pelo geógrafo 
alemão, para muitos o precursor da visão ecológica do mundo.
A antropóloga Lilia Moritz Schwarcz destaca o papel da escola inaugurada por Ratzel no campo dos 
estudos sociais e sua influência em outras áreas das ciências humanas. Segundo Schwarcz (1993, p. 58):
6 Otto von Bismarck (1815-1898), político e diplomata, já havia sido primeiro-ministro na França e embaixador na Rússia quando retornou a 
Berlim em 1862 e foi nomeado primeiro-ministro da Prússia. Conservador, aristocrata e a favor de uma monarquia centralizada, defendia, com 
o nacionalismo e o militarismo, a unificação dos Estados germânicos. Com o apoio da alta burguesia modernizou o exército, criou políticas de 
guerras que auxiliaram na expansão do território prussiano até a efetiva unificação da Alemanha, em 1871, quando foi nomeado primeiro- 
-ministro do Império Alemão, o “Chanceler de Ferro” (1871-1890).
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69|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Paralelamente ao Evolucionismo Social, duas grandes escolas deterministas tornam-se influentes. Em primeiro lugar, 
as escolas deterministas geográficas, cujos maiores representantes, Ratzel e Buckle, advogavam a tese de que o desen-
volvimento cultural de uma nação seria totalmente condicionado pelo meio. Para os autores dessa escola era suficiente 
a análise das condições físicas de cada país – “dá-me o clima e o solo que lhe direi de que nação se fala” – para uma 
avaliação objetiva de seu “potencial de civilização”.
As teorias de Ratzel apresentavam as civilizações europeias como superiores às demais. Para ele, 
isso justificaria a imposição da dominação desses povos pelos europeus e a exploração de seus recursos 
naturais pelas potências europeias. O determinismo geográfico e a necessidade de ocupação do “espaço 
vital” para o desenvolvimento das potencialidades de um determinado povo são as bases teóricas con-
ceituais dos estudos desenvolvidos por Ratzel, no campo das Ciências Sociais, com forte influência nas 
Teorias Antropológicas.
Leo Frobenius (1873-1939) – a Antropologia como aventura humana
O antropólogo, etnólogo e explorador alemão Leo Frobenius desenvolveu um intenso trabalho 
de campo, tendo a Antropologia como forma de expressão da aventura humana. Seu foco de estudos 
foi a arte pré-histórica, a qual se tornou uma grande expressão mundial.
A Antropologia deve a Frobenius a ideia dos ciclos culturais. Segundo esse conceito, a frequência 
na associação dos elementos culturais permite a formação de um ciclo – um conjunto de determinados 
valores culturais, que parte de um ponto único dentro da área ocupada. A área ocupada por esses 
valores forma os círculos culturais. Esse conceito fez com que a obra do antropólogo alemão se tornasse 
uma referência para os estudos antropológicos posteriores.
Sobre o antropólogo alemão disse M. Amadou Mahtar M’Bow, diretor geral da Unesco7, no prefácio 
do monumental História Geral da África:
Durante muito tempo, mitos e preconceitos de toda espécie ocultaram ao mundo a verdadeira história da África. As 
sociedades africanas eram vistas como sociedades que não podiam ter história. Apesar dos importantes trabalhos 
realizados desde as primeiras décadas deste século [20] por pioneiros como Leo Frobenius, Maurice Delafosse8 e 
Arturo Labriola9, um grande número de estudiosos não africanos, presos a certos postulados, afirmavam que essas 
sociedades não podiam ser objeto de um estudo científico, devido, sobretudo, à ausência de fontes e de documentos 
escritos. (M’BOW, 1982, Prefácio)
Desde cedo, o antropólogo interessou-se pelo trabalho dos primeiros exploradores alemães dos 
territórios africanos. Frobenius desenvolveu intenso trabalho de campo e de organização dos seus 
resultados, nos museus etnográficosde Bremen, Basel e Leipzig.
Sua obra Origin of African Cultures (1898) significa uma mudança de vetor nos estudos da cultura 
dos povos africanos. Frobenius procurou demonstrar a lógica da organização cultural desses povos, 
o que – para alguns antropólogos – parecia irregular e ilógico. Frobenius buscou o sentido, a lógica, 
7 Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, fundada em 16 de novembro de 1945, promove a cooperação 
internacional nas áreas de educação, ciências, cultura e comunicação entre as Nações Unidas (193 Estados Membros e 6 Membros Associados) 
na África, nos Estados Árabes, na Ásia e Ilhas do Pacífico, na Europa, na América do Norte, na América Latina e no Caribe.
8 Maurice Delafosse (1870-1926), etnólogo francês. Administrador e estudioso colonial francês na África, trabalhou na descoberta de um fio 
histórico e de estruturas originais nas sociedades africanas.
9 Arturo Labriola (1873-1959), economista italiano e socialista de tendência sindicalista revolucionária, opunha-se à doutrina fascista regida 
por Benito Mussolini.
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70 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
a razão e as motivações contidas nessas expressões culturais. Dessa forma, abre-se espaço para outra 
experiência desenvolvida depois no campo da Antropologia: a etnociência10.
O antropólogo funda, na Alemanha, o Instituto de Pesquisas da África. Entre 1904 e 1935, Frobe-
nius desenvolveu inúmeras incursões no território africano. Desses estudos sobre as antigas expressões 
culturais e seus contatos com diversos povos, deduziu que havia uma origem comum entre os diversos 
povos africanos e povos de outras origens culturais, como os árabes.
Frobenius estudou os mitos, ritos e as pintura rupestres de diversos povos africanos. Como parte 
desse trabalho efetuado em terras africanas, colheu mitos cosmológicos e lendas culturais de povos 
do Zimbábue, Congo, Marrocos, Argélia, Líbia, Egito, Sudão e da África do Sul. Com esses estudos, 
Frobenius formulou um conceito que provocou impacto no campo dos estudos antropológicos: o 
conceito da continuidade das culturas. Esse conceito indicava o desdobramento de aspectos ou traços 
culturais comuns a diversos povos, desde uma origem até seu desdobramento posterior, pela difusão 
de aspectos fundamentais dessa cultura original.
Como consequência dessa elaboração, Frobenius conceituou os denominados círculos/áreas 
culturais. Por esse conceito, os povos constituem áreas em que partilham elementos e traços culturais, 
por difusão ou assimilação. Essas áreas comportam diversos povos, que têm um banco cultural comum, 
com conexões entre seus símbolos religiosos, estrutura mitológica e os aspectos culturais de suas 
produções artísticas.
Para divulgar seus estudos, Frobenius fundou uma revista (Paideuma11) e, na qualidade de diretor 
do Museu de Etnologia (1934, em Frankfurt, na Alemanha), apresentou aos europeus a sofisticada visão 
de mundo que se projetava a partir das produções artísticas africanas.
Para Ki-Zerbo, o trabalho desempenhado por Frobenius modifica a visão metodológica dos povos 
africanos:
[...] Ao mesmo tempo, pioneiros como Frobenius [...], que, sem preconceitos, haviam trabalhado na descoberta de 
um fio histórico e de estruturas originais nas sociedades africanas com ou sem Estado, continuavam seus esforços, 
retomados e aperfeiçoados por outros pesquisadores contemporâneos. (KI-ZERBO, 1982, p. 34)
Os trabalhos pioneiros de Leo Frobenius estenderam-se também ao campo da história. Muitos 
dos seus estudos deram bases à reconstrução histórica da trajetória de diversos povos africanos, estu-
dados pelo pensador alemão.
Para J. D. Fage, a contribuição de Frobenius para os estudos dos povos africanos é fundamental. 
Quando redigiu para a Unesco o texto A evolução da historiografia da África, Fage disse em uma nota de 
rodapé:
É impossível num artigo desta dimensão fazer justiça à grandeza da produção de Frobenius. Sua última obra síntese 
foi Kulturgeschichte Afrikas (Viena, 1933) e sua obra mais notável foi, provavelmente, a coleção em 12 volumes Atlantis: 
Volksmärchen und Wolksdichtungen Afrikas (Iena, 1921-1928). Mas cabe também mencionar os livros que relatam cada 
uma suas expedições, por exemplo, para os Iorubas e Mosso: Und Afrika Sprach (Berlin-Charlottenburg, 1912-1913). Ver 
a bibliografia completa em Freda Kretschmar, Leo Frobenius (1968). (FAGE, 1982, p. 56)
Leo Frobenius consolidou os conceitos de continuidade de cultura e áreas – círculos culturais e 
deu, assim, uma grande contribuição para a ampliação do repertório antropológico e para a superação 
da visão preconceituosa que ainda vigia no campo dos estudos da disciplina.
10 A etnociência é o estudo dos conhecimentos e percepções de qualquer sociedade sobre as diferentes áreas.
11 Paideuma (visualização da cultura como um ser vivo) é um conceito utilizado por Leo Frobenius inspirado em Paideia, que reúne as ideias 
de educação e de cultura em um só projeto. É também o nome dado à revista fundada por ele em 1921.
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71|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Escola inglesa
Na Inglaterra, o difusionismo assumiu uma característica peculiar. Como reação ao racismo mani-
festado por alguns teóricos do Evolucionismo Social, os difusionistas advogaram a ideia conceitual de 
que todas as culturas, e suas diversidades plásticas12 e de conteúdos, tiveram uma única origem, e de lá 
se difundiram para todos os quadrantes do planeta, de forma direta ou indireta. Entre seus principais 
protagonistas encontram-se William Halse Rivers Rivers, Grafton Elliot Smith e William James Perry.
Com nuances em suas concepções teóricas, todos foram difusionistas, na raiz da expressão, com 
a noção da necessidade de reconstrução histórica dos feitos dos povos estudados, e da magnitude 
(regional e material) da difusão cultural: hiperdifusionismo e heliocentrismo.
William Halse Rivers Rivers (1864-1922) – as reconstruções 
históricas dos povos estudados
O britânico William Halse Rivers Rivers desenvolveu atividades em três áreas: Medicina, Psicologia 
e Antropologia. Teve intensa atividade docente e lecionou no Guy’s Hospital, na capital inglesa, e 
na conceituada Universidade de Cambridge, onde desenvolveu pesquisas na área da Psicologia 
Experimental. Foi membro do Royal College of Physicians, em Londres.
Seus estudos foram realizados em diversas localidades do Império Britânico: Austrália (Estreito de 
Torres – 1898), Índia (1902) e Melanésia (1908 e 1914). Apesar das atividades desempenhadas no campo 
da Medicina, Rivers se destacou na Antropologia.
Uma de suas contribuições na área da Antropologia foi o empenho na reconstrução histórica dos 
povos estudados. Essa já era uma das atividades desempenhadas por antropólogos anteriores, mas 
Rivers dá seu pedaço de contribuição a essa metódica, que passará, no futuro, a ser uma das mecânicas 
científicas mais comuns aos difusionistas. Sua ruptura epistemológica deu-se em 1910, quando suas 
noções difusionistas tornam-se mais evidentes.
Reconhecido e laureado em diversas instituições de Ensino Superior, Rivers morre em 1922, 
depois de desempenhar destacado papel na Primeira Guerra Mundial. Suas principais contribuições 
na área da Antropologia foram: The Todas (1906), The History of Melanesian Society (1914) e Kinship and 
Social Organization (1914).
Grafton Elliot Smith (1871-1937) – teórico do Hiperdifusionismo
O australiano Grafton Elliot Smith formou-se em Medicina e se especializou em Anatomia. Sua 
maior contribuição ao estudo da Antropologia foi a Teoria do Hiperdifusionismo. Por essa teoria, todas 
as formas de manifestaçõese organizações das culturas derivariam de um mesmo local e povo, do qual 
se difundiria para toda a humanidade. Dessa forma, todas as manifestações culturais e suas múltiplas 
formas de organização teriam um ponto em comum, numa remota civilização, na Pré-História.
12 Diversidade plástica refere-se à variedade de imagens contruídas pelo homem utilizando-se de técnicas que manipulam materiais para dar 
formas e imagens que revelem uma concepção estética e poética em um dado momento histórico.
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72 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Seu primeiro campo de estudo foi o cérebro humano. Ao radicar-se em Londres, ele teve à sua 
disposição um dos principais centros de pesquisas “etnográficos” do seu tempo: O British Museum, onde 
catalogou a coleção de cérebros do museu. Mais tarde, lecionou no Egito, na Escola de Medicina do Cairo, 
onde adotou um método revolucionário na época para os estudos das múmias egípcias, o raio X.
Para o antropólogo britânico, ao adotar sua teoria do hiperdifusionismo, os principais fenômenos 
civilizatórios do megalítico teriam sua origem no Egito, o epicentro das civilizações modernas. Dessa 
região, esses fenômenos teriam se difundido para a Síria, Creta, África Oriental, sul da Arábia e para a 
região da Suméria.
Apesar das controvérsias provocadas pela teoria de Smith, ela procura eliminar a polêmica de que 
a diversidade cultural dos povos devesse ser medida por uma escala de superioridade e inferioridade 
raciais, já que todas as culturas teriam, supostamente, a mesma origem geográfica e humana.
William James Perry (1887-1949) – o teórico do Heliocentrismo
As teorias de William James Perry caminharam na direção das propostas por Smith, de quem foi 
colaborador nos estudos antropológicos da época.
Perry lecionou na University College, onde se notabilizou nos debates sobre a origem das culturas 
e sua diversidade plástica.
O centro da sua arguição era a de que o Egito foi, em um passado remoto, a origem de todas as 
manifestações culturais da humanidade. Suas principais obras enunciavam essa teoria e a sua contri-
buição dada aos estudos da religião: The Megalithic Culture of Indonesia (1918), The Children of the Sun: 
a Study in the Early History of Civilization (1923), The Origin of Magic and Religion (1923), The Growth of 
Civilization (1924), Gods and Men: The Attainment of Immortality (1927), e The Primordial Ocean: An Intro-
ductory Contribution to Social Psychology (1935).
Escola norte-americana: Franz Boas (1858-1942) – 
teórico do Relativismo Cultural
O antropólogo Franz Boas formou-se em Física – com sólida formação em Geografia – em 1881, 
na Universidade de Kiel. Seu doutorado intitulou-se “Contribuições para o entendimento da cor da 
água”. A inflexão de Boas para a antropologia deu-se num trabalho de campo, quando ele preparava um 
livro sobre psicofísica, sobre os esquimós. Esse trabalho foi como um rito de passagem da Física para a 
Antropologia, com a qual a disciplina ganhou muito.
Boas formou uma legião de antropólogos, que desenvolverão, mais tarde, a chamada Antropo-
logia Cultural Norte-Americana, da qual ele é considerado o “pai intelectual”: Margaret Mead, Melville 
Herkovits, Ruth Benedict. Faz parte dessa família intelectual, o sociólogo brasileiro, aluno de Boas, 
Gilberto Freire, autor de Casa Grande e Senzala.
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73|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Franz Boas emigrou com a família para os Estados Unidos da América em 1887, seis anos após 
se formar. Boas introduziu uma cunha diferenciadora no campo da Antropologia, no debate sobre as 
diferenças raciais. Opondo-se ao Evolucionismo Social, ele argumentará que os diversos povos constituí- 
ram experiências culturais, tão sofisticadas quanto as experiências dos povos europeus. O antropólogo 
advoga a tese da igualdade racial, infraestrutura conceitual da Antropologia Cultural contemporânea.
Para Boas, um grupo humano deve ser estudado dentro da singularidade da sua cultura, no 
seu universo cultural. Essas expressões culturais não poderiam ser consideradas inferiores, em relação 
às expressões culturais dos povos europeus (caucasianos). Boas propõe uma revisão na escalada 
civilizatória: o homem saiu da sua condição de selvagem e iniciou sua trajetória em direção à civilização, 
com uma conduta linear, obrigatória.
Para ele, a diversidade cultural se constitui na experiência própria da cada povo. Essas experiências 
são relativas entre os povos e não absolutas.
Segundo Boas, cada cultura é uma unidade integrada. Ela seria fruto de um desenvolvimento 
histórico peculiar, singular, relativo. Numa linha distinta da inaugurada pela Escola Difusionista Alemã, 
em especial, por Ratzel, Boas dá destaque à independência dos fenômenos culturais dos determinantes 
geográficos e das condições biológicas de cada grupo e experiência cultural. Para ele, a cultura se 
expressa na interação entre o indivíduo, de uma dada realidade sociocultural, com a sociedade, em sua 
dinâmica de desenvolvimento singular.
Com Boas inaugura-se uma nova etapa da Antropologia. A etnografia desencadeada por Boas 
não se contentava mais em acumular dados e informações de uma certa cultura. Sua etnografia buscava 
o sentido geral expresso nessa massa de dados etnográficos.
Ele é certamente um daqueles que mais contribui para esta mutação. Em suas pesquisas sobre os Kwakiutl e os Chinook 
do Canadá, ele mostra-nos que no campo tudo deve ser anotado: desde os materiais constituintes das casas até as 
notas das melodias que cantam os Esquimós, e isso até ao mais infinito detalhe. Ele considera que não existe objeto 
nobre nem objeto indigno da ciência e que, por exemplo, as piadas de um contador são tão dignas de interesse como a 
mitologia que exprime o patrimônio metafísico do grupo. A maneira, em particular, como a sociedade tradicional, pela 
voz dos mais modestos de entre eles, classificam suas atividades mentais e sociais, deve ser tomada em consideração. 
Boas, anuncia assim a constituição daquilo que chamamos hoje de “etnociências”. Enfim, ele é um dos primeiros a nos 
ter mostrado não apenas a importância, mas também necessidade, para o etnólogo, de ter acesso à língua da cultura 
na qual ele trabalha. As tradições que ele estuda não têm como lhe ser traduzidas. Ele deve recolhê-las ele mesmo na 
língua de seus interlocutores. (LAPLANTINE, 2004, p. 66)
Considerações finais
A Escola Difusionista guarda um lugar importante na linha de desenvolvimento das Teorias 
Antropológicas. Ela, em vários aspectos centrais, em especial em sua manifestação inglesa e norte- 
-americana, levanta-se contra o racismo intrínseco dos evolucionistas. Porém, no campo da experiência 
alemã, sobretudo com os trabalhos de Ratzel, o traço da suposta superioridade racial dos povos europeus 
em relação aos demais é nítido. A teoria do espaço vital, expressão de um momento da história alemã, 
torna-se argumento fundamental da ação dos alemães, para desencadear a Segunda Guerra Mundial.
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74 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
No aspecto conceitual, sua contribuição foi fundamental. A ideia de que as culturas se difundem 
a partir de um ponto de origem – uma pedra jogada na água de um lago – limita a noção de supe-
rioridade de uma cultura em relação à outra, na medida em que todas elas tiveram um denominador 
comum. Apesar dos excessos – todas as culturas derivam da experiência do Antigo Egito –, essa escola 
apresentou como singularidade o conceito de que cada cultura deve ser compreendida dentro desuas 
particularidades.
Ao se apropriarem de um determinado legado cultural – imitação, negociação, ou conquista militar 
–, os povos adotam esse legado de acordo com suas particularidades históricas. Essas singularidades 
fazem com que esses povos superem suas possíveis limitações físicas – geográficas, topológicas, 
climáticas e de recursos.
Por fim, as contribuições conceituais que a Escola Difusionista deu aos estudos da Antropologia 
marcaram, de forma decisiva, o desenvolvimento dessa ciência, em particular, nos estudos da cultura e 
de suas formas de manifestação. Nos campos específicos da etnociência, da etnografia e do trabalho de 
campo, muito se deve ao Difusionismo Cultural.
Texto complementar
Pode a Geografia determinar o desenvolvimento?
(GARDINI, 2007)
As teorias do determinismo geográfico que se difundiram entre os séculos XIX e XX procura-
vam afirmar que o desenvolvimento das nações e as características genéticas das diferentes cultu-
ras eram determinados por padrões geográficos. Na época, o principal argumento utilizado para 
basear as leis gerais do determinismo geográfico era a condição climática dos lugares. No entanto, 
outros elementos da geografia física ganharam status científico, tais como a posição e localização 
da rede hidrográfica, o desenho dos litorais, a qualidade do solo e a morfologia do relevo, sendo 
usados para esboçar algumas teorias nesse período.
Na relação entre determinismo geográfico e desenvolvimento dos Estados deve-se considerar a 
questão da divisão territorial do trabalho. De acordo com Antonio Carlos Robert de Moraes, professor 
de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), existe uma lógica que ainda não se quebrou, 
que começa com a concentração dos principais países capitalistas no Hemisfério Norte. Citando 
Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior, Moraes lembra que a ideia da colônia de 
exploração se assenta num meio tropical que é o meio complementar ao meio europeu. Em função 
disso, criam-se certos mecanismos e sociabilidades que serão determinantes de posições que até 
hoje persistem. “Acontece que hoje o próprio controle das técnicas e das matrizes tecnológicas 
segue essa divisão territorial do trabalho. Se buscarmos saber onde é a pátria de uma multinacional, 
antes de tudo, é onde estão os seus laboratórios. A área de produção pode se espalhar pelo mundo, 
mas os centros de inovação definem bem a nacionalidade das empresas”.
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75|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
A história do desenvolvimento das civilizações mostra que não é correto afirmar que antes da 
chegada dos homens “civilizados”, das latitudes mais altas, os povos dos trópicos eram “subdesen-
volvidos ou pobres”. Afinal, que argumentos sustentariam a veracidade dessa afirmação? Muitos 
estudos mostram que as técnicas desenvolvidas pelas culturas dos trópicos eram bastante desen-
volvidas para a época, muitas delas superiores às dos povos de clima temperado. Os ideais europeus 
tornaram-se o modelo de desenvolvimento para o mundo e subjugaram os demais. A partir disso, 
difundiu-se a ideia da indolência entre os povos localizados na faixa da linha do equador, e usaram- 
-se argumentos pseudocientíficos como localização e incidência dos raios solares na superfície da 
terra para justificar a dominação.
“Não há fatores climáticos que determinam o fato de um país ser rico ou pobre”, afirma a 
professora de Climatologia da Universidade Estadual de Campinas, Luci Hidalgo Nunes. Para ela, 
as relações de poder são estabelecidas no âmbito político e não climático, com base, entre outros 
fatores, no domínio de recursos naturais, mutáveis historicamente. “O recurso energético, de enorme 
relevância, ilustra bem isso: historicamente as nações de maior poderio dominavam, também, os 
recursos energéticos. O carvão, por exemplo, foi fundamental para a ascensão do Império Britânico, 
cujo declínio coincide com uma série de circunstâncias, entre as quais a substituição da matriz 
energética pelos combustíveis fósseis, e a consequente substituição do poderio britânico pelo 
norte-americano”, afirma a geógrafa.
Paulo César da Costa Gomes, professor de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(UFRJ), defende que não há uma relação direta entre as condições geográficas e o tipo de desen-
volvimento de uma nação. “Não há um padrão, nenhuma regularidade, quanto mais uma determi-
nação”. Em seu livro Geografia e Modernidade, ele explica que o determinismo na geografia não se 
define apenas como uma metodologia que conduz à verdade, mas também como um instrumento 
de previsão. “Ao antecipar os resultados, o determinismo permite uma ação no mundo. Assim, sob 
essa forma, a ciência deixa de ser expectadora da realidade para se tornar o meio fundamental de 
intervenção”, diz ele.
O professor da UFRJ levanta uma questão complexa envolvendo a ciência e o determinismo. 
Em seu livro, citando Lewthwaite, afirma que “a formulação de leis e padrões implica inevitavelmente 
uma aceitação do determinismo”. Nesse sentido, é possível questionar se a geografia (e a ciência em 
geral) ainda estaria vestindo a camisa do determinismo.
Gomes afirma que não. Uma coisa é criar padrões regulares, a outra é ficar esperando que esses 
padrões regulares ofereçam sempre as mesmas respostas. “É verdade que a ciência procura essa 
possibilidade de formalizar problemas, mas não obrigatoriamente que esses problemas sejam en-
carados na forma de causa e efeito de determinação”, explica. Segundo ele, a palavra determinismo 
já está muito estigmatizada no meio científico. Raramente as pessoas usam o verbo determinar em 
suas pesquisas, preferindo outro: influenciar. Assim, as características geográficas não “determina-
riam” o desenvolvimento de um povo, mas sim o “influenciaria”.
Mesmo assim, revela Gomes, “está se provando a determinação, pois sempre que houver uma 
determinada causa esta terá um efeito. No final, somos muito mais positivistas do que gostaríamos. 
Está todo mundo perseguindo um modelo com essa objetividade e com esse poder de previsibilidade, 
esperando que isso possa estabelecer uma ciência normativa, capaz de gerar leis em que a gente 
possa antecipar o resultado. O sonho ainda é um sonho positivista, infelizmente”, completa.
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76 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
Atualidades do determinismo geográfico
Atualmente, grande parte dos pesquisadores nega a validade das teses do determinismo 
geográfico, seja no estudo sobre o desenvolvimento de um território, seja no comportamento das 
culturas.
Para Antonio Robert de Moraes, da USP, os argumentos do determinismo geográfico não 
ajudam a explicar a complexa interação entre os elementos que formam o espaço geográfico. “Hoje 
não existe mais uma corrente unicamente determinista, mas a questão da posição e da situação 
ainda permanece no pensamento geopolítico quando se fala em vantagens competitivas. De 
alguma maneira, está se aceitando que há fatores, não determinantes, mas que ajudam do ponto 
de vista comercial, os tipos de produção. Hoje em dia esse tipo de posição é bastante atenuada”.
Luci Nunes explica que o determinismo climático que caracterizou a escola do pensamento 
geográfico no final do século XIX não foi elaborado por climatologistas, mas sim por geopolíticos, 
como o geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904). Diferentemente daquela época, “hoje, a 
climatologia geográfica preocupa-se com o entendimento dos processos atmosféricos (tempo e clima) 
e seus impactos, avaliando tendências quanto à variabilidade espaço-temporal”, explica ela. “Trata- 
-se de questões efetivamente científicas, aplicáveis e prementes,cujos resultados têm contribuído 
para a construção de um conhecimento atrelado às verdadeiras necessidades de um mundo em 
profunda transformação e desestruturação socioambiental”, conclui a professora.
As ideias do determinismo geográfico, ainda segundo Luci Nunes, utilizavam o argumento de 
que “as mudanças na pressão atmosférica – mais rápidas e comuns nos climas temperados – favore-
ceriam um raciocínio também mais rápido e claro”. Um argumento totalmente desprovido de base 
científica, usado para um propósito expansionista das nações europeias, como explica a professora 
da Unicamp. Mesmo assim as ideias do determinismo geográfico e a influência do clima tomaram 
corpo no século XX, influenciando outras áreas da ciência, como a medicina, por exemplo.
No artigo “Determinismo geográfico”, Fernando G. Sampaio, professor da Organização de 
Estudos Científicos da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia, ao citar o estudo intitulado 
“Climatologia médica”, de Adalberto Serra1, mostra como se deu a disseminação das teses do 
determinismo geográfico nas outras ciências. No artigo ele afirma que “Claro está que à maior 
produção de energia na zona fria corresponderá maior cota de trabalho útil, pois a eficiência do motor 
humano é mais ou menos fixa (25%). Haverá, desse modo, nas faixas temperadas maior atividade 
e mais alta civilização pelo menos no aspecto de riqueza e produtividade. Segundo as pesquisas, a 
temperatura média deve ser inferior a 18° e superior a 3° para um bom índice de civilização”.
Expoentes do determinismo geográfico
O determinismo geográfico ganhou grande impulso com as ideias de Ratzel, que foram 
empregadas para a reunificação alemã e também para justificar o processo neocolonialista na África. 
O geógrafo alemão desenvolveu o conceito de espaço vital, utilizado pelos alemães na tentativa de 
expandir seu território. “De fato, Ratzel não foi um representante típico do determinismo. Ele nunca 
afirmou isso de uma forma mecânica em seus tempos de universidade”, explica Gomes da UFRJ. 
1 IBGE. Boletim Geográfico, n.° 240, maio de 1974. p. 89-107.
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77|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
A associação que Ratzel procurou fazer foi entre a nação e uma determinada quantidade de superfície 
com recursos necessários para a manutenção ou para o desenvolvimento daquela cultura. “Ratzel 
utilizava muito mais a metáfora do organismo vivo, essa ideia organicista, ou seja, o povo e seu solo 
formam um todo. Então o povo não pode sobreviver sem uma determinada quantidade de solo”, 
completa Gomes.
Para Moraes, Ratzel não é o cara-chave do determinismo geográfico, apesar de muito associado 
a isso. “O cara chave se chama Carl Ritter (1779-1859). Ele sim foi um determinista por excelência”. 
De acordo com o professor da USP, Ritter fez uma lei das costas dos litorais onde ele relacionava 
o desenvolvimento dos países com a existência de litorais recortados. “Os lugares onde tivessem 
litorais muito retilíneos, não seriam pendentes ao desenvolvimento”, explica.
Para saber mais
GOMES, P. C. da C. Geografia e Modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000.
RITTER, C. A Organização do Espaço na Superfície do Globo e sua Função na Evolução Histórica. 
Disponível em: <http://ivairr.sites.uol.com.br/ritter.htm>.
Atividades
1. Comente as ideias sobre a natureza da cultura e a unidade psíquica do ser humano na Antropologia 
Difusionista.
2. Qual o conceito de “determinismo geográfico”?
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78 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
3. Quais as características da Escola Difusionista Inglesa?
4. Na Escola Difusionista Norte-Americana o teórico Franz Boas formulou o conceito de Relativismo 
Cultural. Quais os fundamentos desse conceito?
Referências
BOAS, F. Primitive Art. Nova York: Capitol, 1951. 
_____. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
FAGE, J. D. Evolução da historiografia da África. In: KI-ZERBO, J. (Org.). História Geral da África: I. Meto-
dologia e pré-história da África. São Paulo: Ática: Unesco, 1982. 
FROBENIUS, L.; FOX, D. C. A Gênese Africana: contos, mitos e lendas da África. São Paulo: Landy, 2005.
GARDINI, A. Pode a Geografia Determinar o Desenvolvimento? Disponível em: <http://www.com-
ciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=26&id=301>. Acesso em: 20 ago. 2012.
_____. Nova Luz Sobre a Antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
GRAEBNER, F. Die Methode der Ethnologie. Heidelberg: Winter, 1911.
KI-ZERBO, J. (Coord.) et al. História Geral da África: metodologia e pré-história da África. São Paulo: 
África; Unesco, 1982.
LAPLANTINE, F. A Descrição Etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004.
M’BOW. A.-M. Prefácio. In: KI-ZERBO, J. História Geral da África: Metodologia e pré-história Geral da 
África. São Paulo: África; Unesco, 1982. 
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79|Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
PIRES, R. Fotografia e Antropologia Visual. Disponível em: <www.mnemocine.com.br/galeria/rodri-
gopires/antropo.htm>. Acesso em: 20 ago. 2012.
RIVERS, W. H. R. História e etnologia. In: OLIVEIRA, R. C. de. A Antropologia de Rivers. Campinas: Uni-
camp, 1991.
SCHWARCZ, L. K. M. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-
1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
_____. Negras Imagens: ensaio sobre Cultura e Escravidão no Brasil. In: SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. da 
S. (Orgs.). Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 1996.
_____. As teorias raciais, uma construção histórica de finais do século XIX. O contexto brasileiro. In: 
SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. da S. (Orgs.). Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 
1996.
_____. Mercadores do espanto: a prática antropológica na visão travessa de Clifford Geertz. In: Revista 
de Antropologia, São Paulo, v. 44, n. 1, 2001. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=S003477012001=000100012). Acesso em: 20 ago. 2012.
SCHMIDT, W. Origin an Growth of Religion. Nova York: Dial Press, 1931.
SMITH, G. E. The Ancient Egyptians and the Origin of Civilization. London: Harper, 1923.
Gabarito
1. Os teóricos difusionistas consideravam a cultura como fator determinante da diversidade cultural 
humana e que os grupos humanos possuiam as mesmas raízes culturais, não havendo, então, 
raças superiores ou inferiores e sim povos distintos nas formas de apropriação dos elementos 
culturais. E os seres humanos em todos os povos têm as mesmas capacidades e competências.
2. O teórico Friedrich Ratzel considerava que as condições do meio em que viviam determinavam 
a constituição física e as representações mentais e psicológicas dos homens, explicando assim a 
diversidade de culturas entre os povos.
3. A Escola Difusionista Inglesa, reagindo ao racismo do Evolucionismo Social, defendia que todas as 
culturas teriam a mesma origem geográfica e humana, o Egito.
4. O difusionista Franz Boas considerava em seus estudos a particularidade histórica de cada povo 
estudado. Defendeu que cada cultura se desenvolve de maneira singular em cada grupo humano 
que deve ser estudado em seu universo cultural sem que essa diversidade de culturas caracterize 
uma superioridade racial. 
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80 | Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas
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Antropologia: 
objetoe metodologia 
de investigação
A Escola Sociológica Francesa desempenhou um papel importante na consolidação da Antropo-
logia como parte integrante das Ciências Sociais. Ela delimitou a anatomia, as feições e os instrumentos 
que deram cientificidade ao fazer sociológico e, por extensão, antropológico.
Os principais protagonistas dessa Escola – Émile Durkheim e Marcel Mauss – procuraram definir 
os fenômenos sociais como objetos de investigação científica – socioantropológica – e estabelecer as 
regras e normas do método sociológico da disciplina: instrumentos teóricos e conceituais para as inves-
tigações no universo das relações sociais e de seus fenômenos.
Essa mudança nos procedimentos de pesquisas e estudos dos fenômenos sociais se dá na virada 
do século, e a França – pelas razões históricas que atravessava, no continente, em especial, graças às 
suas relações conflituosas com Inglaterra e Alemanha – é o palco dessa inflexão teórica: derrota de 
Sedan1, em 1.º de setembro de 1870; capitulação diante das tropas alemãs, 28 de janeiro de 1871; a 
insurreição da Comuna de Paris2, de 18 de março a 28 de maio de 1871; a proclamação da III República3, 
a emergência do movimento operário (criação da Confédération Générale du Travail – CGT) a 4 de 
1 A Batalha de Sedan aconteceu em 1.º de setembro de 1870, durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) – oposição francesa à unificação 
alemã – entre o exército do Imperador da França Napoleão III e um conjunto de estados germânicos liderados pela Prússia. Essa batalha 
resultou na derrota do exército francês e na captura de Napoleão III que, desacreditado pelos franceses, deixou de ser imperador.
2 Comuna de Paris (18 de março a 28 de maio de 1871) foi um governo revolucionário da classe operária em Paris, resultado da luta da 
classe operária francesa contra a dominação política da burguesia agravada pela derrota da França na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). 
A Comuna de Paris foi a primeira revolução comunista da história e é considerada uma referência na história dos movimentos populares e 
revolucionários.
3 A III República Francesa foi instituída em setembro de 1870 após a derrota do Imperador Napoleão III na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). 
Manteve-se até 1940 com a derrota da França para a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. A III República foi inicialmente conservadora, passou 
pelo fracasso da restauração monarquista adotando leis constitucionais (1875) até a conclusão de um programa de reformas democráticas 
com relações políticas exteriores como foi o “entente cordial” com a Inglaterra (1904) pelo empreendimento da expansão colonial.
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82 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
setembro de 1871; a instituição do divórcio – debate que se estende de 1882 a 1884, e a instituição da 
educação laica, desvinculada da religião.
Durkheim e seus discípulos desenvolveram pesquisas centradas nas representações coletivas 
da sociedade. Eles estudaram as formas das relações sociais e suas etapas de desenvolvimento. 
Apontaram as formas de solidariedade social – orgânica e mecânica. Estudaram as formas elementares 
das organizações religiosas. Empenharam-se na compreensão da teoria do conhecimento e na busca 
da definição do fato social total – articulação biológica, psicológica e sociológica – nas trocas e nas 
relações recíprocas, como base de sustentação da vida social. Seus trabalhos subsidiaram a ampliação 
do espectro de estudos da Antropologia, como parte dessa área científica, determinando o método de 
estudo comparativo, como fator singular entre as Ciências Sociais.
Graças ao empenho e à envergadura dos trabalhos científicos de Durkheim e Mauss, a Escola 
Sociológica Francesa foi de fundamental contribuição à Antropologia como ciência respeitada e como 
disciplina científica relevante. Esses cientistas sociais também foram responsáveis pela formação de 
uma geração de antropólogos que deixou raízes profundas no desenvolvimento desse campo de 
conhecimento das Ciências Sociais.
Método científico
As ciências levaram um bom tempo para consolidar uma métrica de organização dos seus estudos. 
O método científico atravessou uma larga avenida conceitual até cristalizar-se como instrumento de 
investigação científica. Em sua origem, método significa meta (ao longo de), e hodós (via, caminho, 
estrada). Método é a ordem, a organização dada a uma investigação, para desvendar as realidades 
contidas num determinado fenômeno. É o estudo feito pela ciência para alcançar um fim determinado, 
ou verdade com validade científica – em determinadas condições – uma forma racional de agir e de 
adequar os meios e fins, evitando tropeços característicos do acaso.
A consolidação do método científico traz uma questão nova para o debate: até então, a Filosofia 
havia se preocupado com o ser. Com a evolução das ciências na Idade Moderna4, coloca-se a questão 
do conhecer. Inauguram-se os debates sobre a Teoria do Conhecimento, a Epistemologia5. Passa-se a se 
preocupar com o sujeito cognoscente (o sujeito que conhece), como também com o objeto cognocísvel 
(a realidade externa ao sujeito).
Entre os pensadores que se envolvem na busca da métrica científica dos seus estudos, encontra- 
-se o francês René Descartes6, figura de proa que exercerá influência sobre Durkheim, mais tarde. 
4 Idade Moderna é o período histórico que vai do século XV ao XVIII e destaca-se por ter sido um “período de transição”. Época marcada pela 
substituição do modo de produção feudal pelo modo de produção capitalista e pelo advento do experimentalismo científico – o homem, 
senhor do mundo, pode manipulá-lo à vontade.
5 Epistemologia, também conhecida como Teoria do Conhecimento, é a ciência que estuda a origem, a estrutura e os métodos adequados 
para a aquisição e a validação do conhecimento.
6 René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, cientista e matemático francês. É conhecido como o “pai da filosofia moderna”. Obteve 
reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria – geometria analítica. Criador do médoto cartesiano que consiste 
no Ceticismo Metodológico – duvida-se de cada ideia que pode ser duvidada – , e também na realização de quatro tarefas básicas para o 
estudo do fenômeno ou coisa estudada: verificar, analisar, sintetizar e enumerar todas as conclusões e princípios, a fim de manter a ordem do 
pensamento.
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83|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
Descartes elabora – no século XVII – como ponto de partida da sua forma de filosofar a “dúvida metódica”. 
Ela é um artifício que desarticula uma ideia e se propõe a rearticular tudo de novo.
Com o tempo, formalizaram-se as áreas das ciências formais (Matemática e Lógica), as ciências da 
natureza (Física, Química, Biologia, Geologia, Geografia Física) e as ciências humanas (Psicologia, Socio-
logia, Economia, História, Geografia Humana, Linguística, Antropologia, entre outras).
O método científico experimental passa a se caracterizar pelas etapas da observação (observação 
criteriosa e rigorosa, precisa, metódica e orientada para a explicação racional dos fatos), hipótese7 [hypó 
– debaixo de, sob – e thésis – proposição] (organização dos fatos de acordo com uma ordem provisória); 
experimentação (estudos dos fenômenos em condições determinadas pelo cientista) e a generalização 
(estabelecimento das relações constantes, leis teóricas).
Nas Ciências Sociais a elaboração do método deu-se depois das demais ciências, quando elas se 
desligam da Filosofia, em razão do impacto do desenvolvimento das ciências da natureza.
A primeira ciência humana a desenvolver um método foi a Economia. No século XVIII, Adam 
Smith foi o primeiro a explicar como funcionavao sistema econômico, em termos matemáticos, e suas 
consequências sociais. Mais tarde, o método se estende para as demais Ciências Sociais: na Sociologia, 
Augusto Comte8 a designa como uma ciência positiva, a ciência dos fatos sociais, das instituições, dos 
costumes e das crenças sociais. Émile Durkheim tenta fazer da Sociologia uma disciplina objetiva, 
colocando como meta central o método sociológico e a consideração dos fatos sociais como “coisas” que 
possam ser estudas e pesquisadas. Max Weber9 enfatiza a necessidade de usar o método da compreensão, 
em oposição ao critério da explicação. Desse trio de ferro das Ciências Sociais, Émile Durkheim irá dirigir 
suas energias intelectuais na direção da constituição do método sociológico e de suas implicações nas 
Ciências Sociais. Durkheim é considerado um dos pais formadores da disciplina sociológica e exerce 
uma forte influência nas gerações futuras de estudiosos e pesquisadores da realidade social.
Émile Durkheim e o método sociológico
David Émile Durkheim (1858-1917) é um dos principais protagonistas da Sociologia. Muitos o 
consideram o “pai da Sociologia” moderna. Durkheim soube alinhar como poucos na história da disci-
plina o rigor da pesquisa empírica – prática – com a reflexão sociológica – teórica.
De família rica, Durkheim formou-se em Direito e Economia, apesar de todo seu trabalho estar 
direcionado para a Sociologia. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento do método 
na área das Ciências Sociais.
7 Há várias formas de se formular uma hipótese científica, entre elas: a indução (generalização de casos diferentes e particulares), o raciocínio 
hipotético-dedutivo (formulação de uma hipótese e verificação das consequências que são tiradas dela) e analogia (quando estabelece relações 
de semelhança entre os fenômenos). Para ter valor científico, a hipótese deve ser passível de verificação prática, empírica.
8 Isidore Auguste Marie Xavier Comte (1798-1857) foi um filósofo francês. Precursor do Positivismo, que é uma corrente sociológica conhecida 
como a afirmação social das ciências experimentais, propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando qualquer 
possibilidade de interferência teológica ou metafísica. Seu método consiste na observação, levando em consideração as particularidades do 
fenômeno – para cada fenômeno um modo de observação diferente.
9 Max Weber (1864-1920) foi um sociólogo alemão. A sua concepção de uma sociologia abrangente partia do conceito de conduta social, 
o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade. Para Weber, o método deve enfatizar o papel 
ativo do pesquisador em face da sociedade; as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de ações individuais e só existe ação social, 
quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações com os demais.
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84 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
Segundo Laplantine (1987, p. 88), Durkheim demonstra preocupações distintas das da etnologia 
e da etnografia, nos seus primeiros estudos. Porém, com a publicação de As Formas Elementares da Vida 
Religiosa (1912), o teórico francês revê suas posições, “considerando que é não apenas importante, mas 
também necessário estender o campo das investigações da Sociologia aos materiais recolhidos pelos 
etnólogos nas sociedades primitivas” .
Sua preocupação maior é mostrar que existe uma especificidade do social, e que convém consequentemente emanci-
par a Sociologia, ciência dos fenômenos sociais, dos outros discursos sobre o homem, e , em especial, do da Psicologia. 
Se não nega que a ciência possa progredir por seus confins, considera que na sua época é vantajoso para cada disciplina 
avançar separadamente e construir seu objeto. “A causa determinante de um fato social deve ser buscada nos fatos 
sociais anteriores e não nos estados da consciência individual.
Para Durkheim, o social tinha predominânica sobre o individual, a irredutibilidade do social aos 
indivíduos. Segundo ele, a consequência dessa irredutibilidade implica observar os fatos sociais como 
“coisas”, que só poderão ser explicadas quando relacionadas a outros fatos sociais. Ao elaborar essa con-
cepção, Durkheim dá à Sociologia autonomia ao constituir um objeto de estudo próprio, que a emanci-
pará das explicações históricas, geográficas, psicológicas e biológicas da época.
Esse pensamento durkheimiano [...] vai por meio de suas novas exigências metodológicas renovar profundamente 
a epistemologia das ciências humanas da primeira metade do século XX, ou mais exatamente das ciências sociais 
destinadas a se separar destas. Vai exercer uma influência considerável sobre a pesquisa antropológica, particularmente 
na Inglaterra e evidentemente na França, o país de Durkheim, onde, ainda hoje, nossa disciplina não se emancipou 
realmente da Sociologia. (LAPLANTINE, 1987, p. 89)
Durkheim reivindica um comportamento ético irrestrito por parte do pesquisador. Para o pesqui-
sador francês, ao mergulhar num estudo, o estudioso deve abandonar suas ideias pré-concebidas, pre-
conceituosas. Oracy Nogueira vai “flexibilizar” essa posição de Durkheim. Para Nogueira, o pesquisador 
carrega na sua mochila conceitual suas prenoções, ao fazer suas opções.
Na realidade, os passos do método científico indicados não se delimitam rigidamente. Assim, a própria formulação das 
questões iniciais, mesmo que se acate ao extremo o preceito de Durkheim (1858-1917), segundo o qual o investigador 
deve pôr de lado todas as suas prenoções, implica hipóteses que vão influenciar a própria seleção dos dados. (NOGUEIRA, 
1973, p. 76)
Mais adiante:
Embora os sociólogos e antropólogos tanto tenham insistido, principalmente a partir das publicações dos trabalhos de 
Durkheim, sobre a necessidade de evitar que as prenoções, as expectativas e preferências do investigador interfiram 
nos resultados das investigações, no campo das diversas ciências sociais, temos de reconhecer que ninguém pode 
lançar-se a um campo de estudos sem levar, desde o início, pelo menos algumas hipóteses, embora ainda obscuras, mal 
delineadas, não formuladas de um modo explícito. (NOGUEIRA, 1973, p. 84)
Nas Ciências Sociais, o método histórico-comparativo equivale ao método experimental, das 
ciências da natureza. Durkheim (apud NOGUEIRA, 1973, p. 80) previu três tipos de fatos possíveis do 
método:
fatos pertencentes a uma só e única sociedade; ::::
fatos pertencentes a diversas sociedades do mesmo tipo; ::::
fatos tomados a diversos tipos sociais distintos. ::::
O trabalho de Durkheim em erigir um método de pesquisa na área das Ciências Sociais foi funda-
mental para o desenvolvimento ulterior da Antropologia. Ele contribuiu com a formação da anatomia 
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85|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
tanto da disciplina – objeto e metódica de abordagem – como com a construção do ethos profissional 
do estudioso e pesquisador das Ciências Sociais.
Em sua obra, Durkheim persegue esse caminho. Suas principais obras são: Da Divisão Social do 
Trabalho (1893), As Regras do Método Sociológico (1895); O Suicídio (1897); As Formas Elementares da 
Vida Religiosa (1912). Durkheim fundou uma das revistas que mais contribuíram para a consolidação das 
Ciências Sociais, no mundo inteiro: L´année Sociologique (1896).
Em linhas gerais, Durkheim parte do princípio de que o homem é um animal selvagem, que se 
tornou sociável. Ele foi capaz de aprender hábitos e costumes para poder conviver com o seu grupo 
social. Esse processo de aprendizado no grupo social Durkheim denominará como “socialização”. 
A consciência coletiva se forma durante esse processo. Nessa relação,surgem os objetos do estudo 
sociológico, os “fatos sociais”.
Para Durkheim, esses “fatos sociais” precisam atender a três características básicas: generalidade, 
exterioridade e coercitividade. Os comportamentos das pessoas ocorrem independente de suas von-
tades pessoais. As métricas delineadoras desses comportamentos é algo que já estava lá antes deles 
e continuará depois. O desenvolvimento do método extraído, em grande parte, das ciências naturais, 
visava revelar as leis que regem o comportamento social e direcionam os “fatos sociais”.
A lógica é simples: se tudo em uma dada sociedade está interligado, cada pequena alteração 
nesse conjunto afeta a sociedade, afeta suas instituições e provoca uma anomia10 em suas relações. 
As instituições, segundo Durkheim, cumprem um papel de manter a organização do grupo e atender 
suas necessidades. Elas operam contra as mudanças e agem para manter a ordem social, sendo assim, 
na essência, instâncias conservadoras, independente de sua natureza: familiar, escolar, governamental, 
religiosa ou policial.
A anomia surge quando há um problema nessas relações sociais; quando a sociedade adoece. 
Para Durkheim, essa doença da sociedade provoca uma patologia social. Essa doença é considerada, 
pelo autor francês, como uma inimiga mortal da sociedade. A Sociologia seria, então, a forma de diag-
nosticar e superar esses efeitos anômalos da patologia social.
Em paralelo à Biologia, Durkheim entendia que o papel do sociólogo seria o de compreender essa 
realidade, diagnosticá-la para ajudar a sociedade a superar essa anomalia, essa doença social. Caberá 
a cada membro da sociedade, por intermédio do sistema de direitos e deveres, zelar pela preservação 
da coesão e da saúde da sociedade e de seus membros. Essa solidariedade social pode ter duas formas 
diferentes: uma orgânica e outra mecânica. Na primeira, os indivíduos são solidários devido às suas 
semelhanças; a educação é difusa, sem a figura do mestre; não há reciprocidade nas relações. Na 
segunda, os indivíduos estão ligados à sociedade, sem intermediários; formam um conjunto mais ou 
menos organizado com valores comuns e têm formas coletivas de solidariedade.
Para Durkheim, era necessário elaborar um método para que fosse possível, sob a ótica científica, 
observar, descrever e classificar a realidade social. Ele se lança a essa tarefa na sua vida acadêmica como 
docente (ministra aula de Pedagogia e Ciência Social na Faculté de Lettres de Bordeaux, de 1887 a 1902), 
como pesquisador e como editor de revista da área das Ciências Sociais (L´Année Sociologique, 1896).
10 Anomia é um termo cunhado por Émile Durkheim em seu livro O Suicídio (1897) para descrever um estado de desordem, ausência de leis 
e normas sociais.
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86 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
As regras do método sociológico
No livro As Regras do Método Sociológico (1895), Durkheim procura elaborar um instrumento que 
permita às Ciências Sociais o rigor da pesquisa observado em outras áreas. Ele parte do pressuposto de 
que a sociedade já dispõe de uma ciência que a estuda, mas que está submersa, ainda, nas fumaças do 
preconceito. Logo no primeiro parágrafo, Durkheim trata dessa questão:
O tratamento científico dos fatos sociais é tão pouco habitual que algumas das proposições contidas neste livro correm 
o risco de surpreender o leitor. Todavia, se existe uma ciência das sociedades, é de esperar que ela não se limite a ser 
paráfrase de preconceitos tradicionais, e, sim, que mostre as coisas de maneira diferente da encarada pelo vulgo; pois 
o objetivo de toda ciência é descobrir, e toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões formadas. É preciso 
que o sociólogo tome resolutamente o partido de não se intimidar com os resultados alcançados pelas pesquisas, 
quando metodicamente conduzidas, a menos que, em Sociologia, se conceda ao senso comum uma autoridade de que 
há muito tempo não goza nas outras ciências e que, aliás, não vemos de onde lhe poderia provir. Se é próprio de um 
sofista buscar o paradoxo, fugir dele quando imposto pelos fatos indica um espírito sem coragem e sem fé na ciência. 
(DURKHEIM, 1985, p. 15)
Logo de cara, Durkheim aponta a magnitude do projeto a que se propôs: elaborar um método 
para o estudo das sociedades, com um rigor que se assemelha ao adotado pelas ciências da natureza. 
Ele indica a necessidade de um método que vá além da observação ligeira e superficial. Para ele, em 
ciência, “deve se desconfiar sempre das primeiras impressões”. O método permite ao cientista social 
mergulhar na natureza dos fenômenos e estudá-los.
Durkheim não considerava seu método revolucionário. Num certo sentido, aponta que ele é até 
conservador, “pois considera os fatos sociais como coisas cuja natureza não é passível de modificação 
fácil” (DURKHEIM, 1985, p. 17). O centro da preocupação de Durkheim nessa obra era a extensão da base 
racionalista de observação do mundo para a área das Ciências Sociais:
Estender à conduta humana o racionalismo científico é, realmente, nosso principal objetivo, fazendo ver que, se a anali-
sarmos no passado, chegaremos a reduzi-la a relações de causa e efeito; em seguida, uma operação não menos racional 
a poderá transformar em regras de ação para o futuro [...] (DURKHEIM, 1985, p. 17)
Nessa obra, Durkheim acentua a irredutibilidade do social em relação ao individual. A explicação do 
que é o fato social toma todo o primeiro capítulo. Depois de exemplificar a experiência de uma criança11 
numa dada sociedade, o autor enfatiza:
É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então 
ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das 
manifestações individuais que possa ter12. (DURKHEIM, 1985, p. 11)
No capítulo II, Durkheim vai tratar das regras relativas à observação dos fatos sociais. Nele, o autor 
Durkheim estipula a regra fundamental: tratar os fatos sociais como coisas; isso porque:
são os :::: data imediatos da ciência, enquanto ideias, a partir das quais se acredita que eles se 
desenvolvem, não são dadas diretamente;
apresentam todos os caracteres da coisa.::::
11 “[...] A pressão de todos os instantes que sofre a criança é a própria pressão do meio social tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão de 
que tanto os pais quanto os mestres não são senão representantes e intermediários”. (DURKHEIM, 1985, p. 5)
12 Nota do autor: “Este parentesco estreito entre a vida e a estrutura, entre o órgão e a função, pode ser facilmente estabelecido em Sociologia 
porque, entre os dois termos extremos, existe toda uma série de intermediários imediatamente observáveis, mostrando o laço que há entre eles. 
A Biologia não tem o mesmo recurso. Mas é permitido crer que as induções da primeira destas ciências, a tal respeito, são aplicáveis à outra e que, 
nos organismos como nas sociedades, não existem entre as duas ordens de fatos senão diferenças de grau”. (DURKHEIM, 1985, p. 11)
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87|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
E todavia os fenômenos sociais são coisas e devem ser tratados como coisas. Para demonstrar essa proposição não é 
necessário filosofar sobre a natureza deles, discutir as analogias que apresentam como os fenômenos dos reinos infe-
riores. Basta constatar que são eles os únicos datum [dado] oferecidos aos sociólogos. Na verdade, é coisa tudo que é 
dado, tudo que se oferece ou antes se impõe à observação. Tratar fenômenos como coisas é tratá-los na qualidade de 
data que constituem o ponto de partida da ciência. Os fenômenos sociais apresentam incontestavelmente tal caráter. 
[...] somente depois de tersubido até suas fontes, poderemos saber de onde provêm. (DURKHEIM, 1985, p. 24)
Além desse aspecto, Durkheim destacará a necessidade de se observar o fenômeno de fora, do 
seu exterior e em seu conjunto:
Nunca tomar por objeto de pesquisa senão um grupo de fenômenos previamente definidos por certos caracteres 
exteriores que lhe são comuns, e compreender na mesma pesquisa todos aqueles que correspondam a esta definição. 
(DURKHEIM, 1985, p. 30-31)
No capítulo seguinte – regras relativas entre o normal e o patológico –, Durkheim desenha o 
que é uma sociedade normal – sem anomalia – e o que é uma sociedade doente – com patologias. 
A analogia é feita com um sistema biológico. Durkheim aponta duas ordens de fatos sociais: os que são 
normais – como deveriam ser – e os que deveriam ser diferentes do que são, os fenômenos patológicos. 
Para ele, os dois fenômenos têm a mesma natureza, mas têm duas variedades diferentes. Durkheim 
questiona se a ciência tem instrumentos que permitam distinguir essa diferença.
Durkheim dá então três regras que cercam ainda mais o fato social: 
um fato social é normal para um tipo social determinado, considerado numa fase determinada ::::
de seu desenvolvimento, quando se produz na média das sociedades dessa espécie, conside-
radas na fase correspondente de sua evolução; 
pode-se verificar os resultados do método procedente fazendo ver que a generalidade do ::::
fenômeno se prende às condições gerais da vida coletiva no tipo social considerado; 
essa verificação é necessária quando o fato social se liga a um aspecto social que ainda não ::::
cumpriu sua evolução integral.
Durkheim arremata:
[...] O dever do homem de estado não é mais empurrar violentamente as sociedades para um ideal que lhe parece 
sedutor, mas seu papel é o de médico: por meio de uma boa higiene, previne a eclosão das doenças, e, quando estas 
declaram, procura saná-las13. (DURKHEIM, 1985, p. 65)
Na obra, Durkheim define as regras relativas à constituição dos tipos sociais:
As sociedades serão a princípio classificadas segundo o grau de composição que apresentam, a partir da base constituída 
pela sociedade perfeitamente simples, de segmento único no interior destas classes, distinguir-se-ão as variedades 
diferentes, segundo se produza ou não uma coalescência completa dos segmentos iniciais. (DURKHEIM, 1985, p. 74-75)
E as regras relativas à explicação dos fatos sociais, Durkheim defende que “quando, pois, procu-
ramos explicar um fenômeno social, é preciso buscar separadamente a causa eficiente que produz e a 
função que desempenha” (DURKHEIM, 1985, p. 83).
Por fim, para definir as regras relativas à administração da prova: “Por conseguinte, não se pode 
explicar um fato social de alguma complexidade senão sob a condição de seguir-lhe o desenvolvimento 
integral através de todas as espécies sociais” (DURKHEIM, 1985, p. 121).
13 Nota do autor: “Da teoria desenvolvida neste capítulo se deduziu algumas vezes que, segundo nossas ideias, a marcha ascendente da 
criminalidade no decorrer do séc. XIX era fenômeno normal. Nada está mais longe do que realmente pensamos. Muitos fenômenos que 
indicamos a propósito do suicídio (ver Le suicide, p. 420 e seguintes) tendem, ao contrário, a fazer crer que tal desenvolvimento é, em geral, 
mórbido. Todavia, poderia ser que um certo acréscimo de determinadas formas de criminalidade fosse normal, pois cada estado de civilização 
possui a criminalidade que lhe é própria. Mas a esse respeito não é possível formular senão hipóteses”. (DURKHEIM, 1985, p. 65)
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88 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
Na conclusão de seu trabalho, Durkheim explicita o propósito de sua reflexão:
[...] A Sociologia não é, pois, o anexo de nenhuma outra ciência; constitui ela mesma uma ciência distinta e autônoma, 
e o sentimento do que a realidade social apresenta de especial é até de tal modo necessário ao sociólogo que somente 
uma cultura especialmente sociológica pode prepará-lo para compreender os fatos sociais. [...] Quando uma ciência 
está nascendo somos realmente obrigados, para construí-la, a nos referir aos únicos modelos que existem, isto é, às 
ciências já formadas. [...] Todavia, uma ciência não pode considerar-se como definitivamente constituída senão quando 
tiver conseguido formar uma personalidade independente. Pois não tem razão de ser senão quando apresenta como 
objeto uma ordem de fatos que as outras não estudam. (DURKHEIM, 1985, p. 126-127)
Durkheim perseguiu uma lógica inquebrantável para construir um método de pesquisa que 
pudesse revelar para os estudiosos da área das Ciências Sociais a complexidade dos fatos sociais e 
suas implicações no conjunto da sociedade. Ao colocar Descartes na linha do seu horizonte intelectual 
– Um princípio cartesiano era que, na cadeia das verdades científicas, o primeiro elo desempenha papel 
preponderante – Durkheim aplica com rigor o método na pesquisa que fará sobre As Formas Elementares 
de Vida Religiosa. Logo no início do livro, ao definir o seu objeto de pesquisa, o autor francês anuncia:
Neste livro, propomo-nos estudar a religião mais primitiva e mais simples que se conheça atualmente, analisá-la e 
tentar explicá-la. Dizemos de um sistema religioso que é o mais primitivo que nos é dado observar, quando preenche 
as duas condições seguintes: em primeiro lugar, é preciso que se encontre em sociedade cuja organização não seja 
ultrapassada por nenhuma outra em simplicidade, além disso, é preciso que seja possível explicá-lo sem fazer intervir 
nenhum elemento tomado de religião anterior. (DURKHEIM, 1989, p. 29)
Esse esforço de aprimorar uma metodologia de pesquisa na área das Ciências Sociais e de pro-
curar definir o objeto de pesquisa dessas ciências abriu uma extraordinária porta para as pesquisas 
posteriores. Mais tarde, um assistente e sobrinho de Durkheim, Marcel Mauss, de posse desse arsenal 
teórico e conceitual, tornar-se-á o “pai da Antropologia francesa” e formará uma excepcional geração de 
antropólogos.
Marcel Mauss e a dádiva
Marcel Mauss (1872-1950) fez parte da Escola Sociológica Francesa, numa posição privilegiada. 
Sobrinho de Durkheim, pôde acompanhar o desenvolvimento do método sociológico proposto pelo tio 
de dentro do círculo intelectual criado pelo sociólogo francês. Mauss teve uma vida e uma participação 
intensa nos momentos fundamentais da vida francesa na virada do século, até o final da Segunda 
Grande Guerra.
Aos 21 anos, formou-se em Filosofia pela Universidade de Bourdeaux. Nesse período, envolveu- 
-se com o Partido Operário Socialista Francês. Em 1895, Mauss funda a Liga Democrática das Escolas. 
Colaborou com importantes publicações da área das Ciências Sociais, como O Futuro Social e Revista 
Internacional de Economia e História e Filosofia. Entre os anos de 1898 e 1913, sucedeu a Durkheim na 
publicação da revista L´année Sociologique. Mauss ajudou a fundar o jornal A Humanidade, ligado aos 
comunistas franceses.
Intelectual de grande erudição, Mauss falava doze línguas, entre elas inglês, alemão, russo, sâns-
crito e céltico. Com a sua intensa produção, é considerado como o principal fundador da Antropologia 
francesa. No período em que foi professor de História das Religiões dos Povos Não Civilizados, na École 
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89|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
Pratique des Hautes Études, colaborou com a criação do Instituto de Etnologia da Universidade de Paris. 
Lá, teve como alunos, entre outros, Marcel Griaule, Michel Leiris, Roger Bastide, Louis Dumont e Claude 
Lévi-Strauss. Bastide14 e Lévi-Strauss15 terão papel decisivo na fundação das Ciências Sociais brasileiras, 
mais tarde. Apesar dessa intensa produção, Mauss nuncafez trabalho de campo. Sua produção era emi-
nentemente intelectual, uma Antropologia de gabinete.
Bom leitor e de extraordinária memória, Mauss explorou diversos campos para a elaboração de 
seus estudos, tais como etnologia, ciências das religiões, Filosofia, Psicologia, Direito, Economia Política, 
Literatura mundial e Ciências Exatas.
Mauss parte do conceito de Durkheim – fato social como coisa, objeto de estudo – e introduz 
no conceito o aspecto simbólico. Para ele, os fatos sociais totais exprimem as instituições religiosas, 
jurídicas, morais, econômicas, os fenômenos estéticos e morfológicos.
Uma das suas mais difundidas e importantes obras é o Ensaio sobre a Dádiva (1924). Nela, Mauss 
faz um estudo comparativo de diversas religiões do mundo, tendo como fio condutor a noção de aliança. 
Segundo Mauss, a aliança é um produto da dádiva; tanto as alianças matrimoniais como as políticas, as 
religiosas, as econômicas, as jurídicas e diplomáticas e as alianças pessoais.
Entre as dádivas, Mauss inclui os presentes, mas também as visitas, festas, comunhões, esmolas, 
heranças e várias prestações, serviços e tributos. Dessa forma, a constituição da vida social é um eterno 
dar e receber. Essa permanente troca tece as relações sociais, num permanente sistema de comunicação 
física, mas também simbólica. Mesmo nas visitas, segundo Mauss, há essa troca simbólica: ao receber 
alguém, o dono da casa torna-se anfitrião, mas cria a possibilidade de, num futuro, vir a ser hóspede 
desse que hoje é seu hóspede. Assim, a dádiva é um ato espontâneo, mas simultaneamente obrigatório, 
numa dada sociedade.
Segundo Marcos Lanna (2000), as maiores contribuições dadas pelo ensaio foram: 
mostrar que fatos das mais diferentes civilizações revelam que trocar é mesclar almas, permi-::::
tindo a comunicação entre os homens, a intersubjetividade e a sociabilidade; 
essas regras manifestam-se simultaneamente na moral, na literatura, no Direito, na religião, na ::::
Economia, na política, na organização do parentesco e na estética. A troca é, dessa forma, um 
fato social total; 
as trocas são simultaneamente voluntárias e obrigatórias;::::
Mauss propõe um método comparativo que pressupõe uma sociologia.::::
Nessa obra, depois de percorrer várias experiências de trocas, por diversas civilizações, Mauss 
conclui que o estudo da circulação de riqueza oferece uma base para a comparação inicial entre dife-
rentes sociedades e permite uma passagem entre o estudo da sociedade ocidental e o de outras. Na 
sociedade moderna, a dádiva está embutida na compra e na venda. Assim, Mauss indica que o trabalho 
é sempre uma dádiva em qualquer sociedade.
14 Roger Bastide (1898-1974) foi um sociólogo francês que chegou ao Brasil em 1938 como membro da delegação de professores europeus 
e ocupou a cátedra de sociologia do quadro docente do Departamento de Ciências Sociais da recém-criada Universidade de São Paulo. 
Desenvolveu sua carreira acadêmica a partir dos estudos sobre os índios e os negros, principais grupos enfocados pela Antropologia brasileira.
15 Claude Lévi-Strauss nasceu em 1908 na Bélgica, é antropólogo, professor e filósofo. Foi professor de Sociologia na Universidade de São 
Paulo entre 1934 e 1937. Durante sua permanência no Brasil realizou expedições entre os povos indígenas Bororo, os Kadiwéu e os Nambikwara, 
tornando-se etnólogo a partir desses estudos.
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90 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
Segundo Mauss, seguindo a pegada de Durkheim, há uma origem religiosa na noção de valor 
econômico: “as diversas atividades econômicas são impregnadas de ritos e mitos e guardam um caráter 
cerimonial obrigatório” (MAUSS, 1974, p. 171). Na reta final do ensaio, Mauss destaca a importância 
do estudo do concreto e a necessidade de ter a etnografia como base para os estudos, pois permite 
desvendar as singularidades e particularidades contidas na realidade.
Mauss arrasta para a área da Antropologia os conceitos de noções desenhados por Durkheim. Em 
especial, o conceito de fato social total. Seu trabalho procura consolidar a autonomia da Antropologia 
ante a Sociologia, não mais como uma ciência anexa. Para ele, o lugar da Sociologia é na Antropologia, 
e não o inverso, como pensava Durkheim. Com isso, deu uma contribuição decisiva para a consolidação 
do fazer antropológico.
Um dos conceitos maiores forjados por Marcel Mauss é o do fenômeno social total, consistindo na integração dos 
diferentes aspectos (biológico, econômico, jurídico, histórico, religioso, estético...) constitutivo de uma dada realidade 
social que convém apreender em sua integridade. “Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente”, 
escreve ele, “é preciso que os sociólogos se esforcem em recompor o todo”. Ora, prossegue Mauss, os fenômenos sociais 
são “antes sociais, mas também conjuntamente e ao mesmo tempo fisiológicos e psicológicos”. Ou ainda: “O simples 
estudo desse fragmento de nossa vida que é nossa vida em sociedade não basta”. Não se pode, ainda, afirmar que 
todo fenômeno social é também um fenômeno mental, da mesma forma que todo fenômeno mental é também um 
fenômeno social, devendo as condutas humanas ser apreendidas em todas as suas dimensões, e particularmente em 
suas dimensões sociológica, histórica e psicofisiológica. (LAPLANTINE, 1987, p. 90)
Considerações finais
A Escola Sociológica Francesa desempenhou um importante papel na história das Teorias 
Antropológicas. Os trabalhos de Émile Durkheim e de Marcel Mauss contribuíram para a definição da 
metódica do trabalho do antropólogo e para a definição do seu objeto e estudo de pesquisa.
A definição do fato social – total – e a adoção do método comparativo deram à Antropologia 
bases teóricas e conceituais sólidas para o seu desenvolvimento posterior. Centro desses estudos é a 
tentativa de definir o homem16 e suas realizações17 no espaço e no tempo, parte das atribuições da 
aventura antropológica.
No exercício da construção do método, a Escola Sociológica Francesa legou o conceito de 
fato social total, a importância da etnografia para a construção de grandes quadros comparativos, a 
utilização do recurso comparativo para a leitura de realidades complexas, a adoção da busca da origem 
dos fenômenos como forma de compreendê-los, a definição do fato social como “coisa” cognoscível e o 
16 Há nele dois seres: um ser individual que tem a sua base no organismo e cujo círculo de ação encontra-se, por isso mesmo, estreitamente 
limitado, e um ser social que representa em nós a mais alta realidade, na ordem intelectual e moral, que possamos conhecer pela observação, 
ou seja, sociedade. Essa dualidade da nossa natureza tem como consequência, na ordem prática, a irredutibilidade do ideal moral ao móbil 
utilitário, e, na ordem do pensamento, a irredutibilidade da razão à experiência individual. À medida que participa da sociedade o indivíduo 
vai naturalmente além de si mesmo, seja quando pensa, seja quando age (DURKHEIM, 1989, p. 46).
17 A conclusão geral desse livro é que a religião é coisa eminentemente social. As representações religiosas são representações coletivas que 
exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir que surgem unicamente no seio dos grupos reunidos e que se destinam a suscitar, 
a manter, ou a refazer certos estados mentais desses grupos. Mas então, se as categorias são de origem religiosa, devem participar da natureza 
comum a todos os fatos religiosos: também elas seriam coisas sociais, produtos do pensamento coletivo. No mínimo – pois no estado atual 
dos nossos conhecimentos nessas matérias, devemos guardar-nos de qualquer tese radical e exclusiva – é legítimo supor que elas sejam ricas 
em elementos sociais (DURKHEIM, 1989, p. 38).
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91|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
papel cognoscente do pesquisador: definição do seu comportamento moral, ético e deontológico ante 
o fazer antropológico. Assim, além da definição do objeto da pesquisa e da metódica de abordagem, 
a Escola Sociológica Francesa avançou para o estudo das relações epistemológicas, das formas de 
produção de conhecimento do real.
Sua importância foi tão expressiva que ela formou uma das mais importantes gerações de antro-
pólogos, a partir dos anos 1950, e que tiveram, em momentos diversos, papel destacado no desenvolvi-
mento das Ciências Sociais no Brasil, em especial, Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss.
Texto complementar
Dom e reciprocidade
(REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 2007)
O Ensaio sobre a Dádiva: forma e razão da troca em sociedades arcaicas, de 1924, do sociólogo 
francês Marcel Mauss (1872-1950), foi o ponto de partida para que pesquisadores discutissem sobre 
Estado, tributos, mercado, esfera econômica e direitos humanos no simpósio “Dom e reciprocidade 
nas políticas públicas”, na 58.ª Reunião Anual da SBPC.
Mauss analisou sistemas de troca nas sociedades e como eles constroem as relações entre os 
indivíduos. O antropólogo Marcos Lanna, da Universidade Federal de São Carlos (SP), destacou as 
três obrigações interligadas na tese de Mauss: dar, receber e retribuir o dom, que pode ser material 
ou imaterial. “No ato da troca, há inalienabilidade, no sentido de que as pessoas vão com as coisas 
que passam, a ponto de não ficar claro quem é o sujeito, quem é o objeto da troca; se é a pessoa que 
vai com a coisa ou vice-versa”, explicou Lanna.
A sociedade é circulação, para Mauss, pois demonstra que parte de tudo aquilo que passa fica. 
Cada objeto pode ser mais ou menos alienável, e cada troca pode transferir mais ou menos direitos 
e significar, em cada caso, maior ou menor superioridade do doador em relação ao receptor.
“No ensaio sobre a dádiva, Mauss cunha a noção de fato social total, mostrando o caráter inte-
grado dos aspectos econômicos, políticos, religiosos, lúdicos, estéticos (entre outros) da vida social, 
assim como a inter-relação entre História, Sociologia e a dimensão físico-psicológica”, descreveu 
Lanna.
Estado e mercado
Uma questão implícita no Ensaio sobre a dádiva é a da possibilidade de uma nova sociedade. A 
proposta de Mauss é a de uma convivência entre Estado e mercado, na qual o mercado não destrua 
o Estado. “Ao contrário, a convivência deve ocorrer de tal forma que o Estado englobe o mercado”, 
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92 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
disse Lanna. Mauss demonstra ainda que tanto o Estado quanto o mercado são transformações 
lógicas e históricas do que ele chama de “dom”, entendido como forma elementar da vida social. 
Do dom se desenvolve lógica e historicamente a mercadoria, forma fundamental não de toda a vida 
social, mas da capitalista. “A mercadoria seria menos elementar ou universal que o dom, pois este 
funda toda a vida social, e a mercadoria o capitalismo”, concluiu.
De acordo com Lanna, também o Estado não seria uma instituição universal; se constituiria a 
partir de uma forma de dom, os tributos. “Podemos, assim, em uma perspectiva maussiana, definir 
a figura do Estado pela prerrogativa de tributar. Em resumo, tributo e mercadoria são formas passí-
veis de dom, transformações lógicas e históricas da dádiva, manifestações institucionais, concretas 
e particulares de um princípio abstrato universal”, afirmou.
Trocas econômicas
A socióloga Cécile Raud Mattedi, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), falou sobre 
reciprocidade na esfera econômica e sua interligação com o mercado. Segundo ela, hoje as redes 
sociais são vistas como estruturas fundamentais dos mercados e o lugar por excelência onde a reci-
procidade pode ser exercida.
Em seu Ensaio sobre a Dádiva, Mauss abordou a questão da reciprocidade e observou a pre-
sença constante de um sistema de reciprocidade em todas as sociedades humanas. “Portanto, o 
sistema de dádivas enraíza as trocas econômicas nas relações sociais e participa da manutenção da 
coesão social”, explicou Mattedi. A socióloga discutiu a tripla obrigação de dar, receber e retribuir: 
“Por que se dá? Por que é preciso aceitar os presentes? Por que não se pode deixar de retribuí-los?”. 
Segundo ela, há, por um lado, a interpretação formalista de que há obrigação e interesse econômico. 
Os investimentos materiais têm em vista um proveito social, como prestígio ou poder. Por outro 
lado, há a interpretação “indígena”, na qual o que obriga a retribuição é “o espírito da coisa dada”. 
Para Mauss, a obrigação de retribuir é a mais intrigante das três. “Certos bens nunca deixam de per-
tencer a seus detentores iniciais, são bens inalienáveis. Por isso Mauss afirma que é preciso retribuir 
ao outro aquilo que é, na realidade, parcela de sua natureza e substância”, afirmou a socióloga.
Entretanto, as ideias de Mauss não ficaram livres de críticas. O antropólogo francês Alain 
Testart (1945-) criticou Mauss por não separar dádiva e troca não mercantil. A categoria da troca 
foi subdividida por Testart em dádiva, troca mercantil e troca não mercantil. Dádiva é cessão de um 
bem que implica renúncia de qualquer direito sobre o bem, ou contrapartida. Na troca mercantil, 
os parceiros não precisam manter entre si relação social além da troca, predominando a questão do 
valor, enquanto a troca não mercantil só pode ocorrer em um quadro de relações pessoais anteriores. 
Mattedi considera essa distinção útil para se pensar nas relações econômicas modernas.
Reciprocidade e mercado
A questão da dádiva foi retomada pelo filósofo húngaro Karl Polanyi (1886-1964), em A Grande 
Transformação, publicada em 1944.
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93|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
“Nessa obra, o pensador considera a reciprocidade como um dos princípios de regulação das 
atividades de produção e distribuição de bens e serviços, ao lado da economia doméstica (de sub-
sistência), da redistribuição e da troca mercantil”, contou a socióloga da UFSC.
Polanyi criou o conceito de embeddedness (encaixe), segundo o qual as relações econômicas 
estão encaixadas nos sistemas sociais. Para o pensador, a reciprocidade predomina nas economias 
primitivas, em que bens e serviços são trocados segundo normas sociais. Já na troca mercantil, que 
se tornou predominante na sociedade moderna, a produção e o consumo dependem do preço, 
fixado de acordo com a lei da oferta e procura.
Nessa troca, diferentes unidades econômicas estão integradas pelo funcionamento de uma 
instituição separada (disembedded) das outras relações sociais (políticas, religiosas ou de parentesco). 
Já a redistribuição caracteriza as sociedades antigas: de castas ou estratos sociais, submetidas a um 
Estado que centraliza uma parte dos recursos oriundos de tributos para redistribuí-los aos membros 
da sociedade.
De acordo com a socióloga, durante a maior parte da história da humanidade, os sistemas eco-
nômicos se organizaram a partir de uma combinação entre os princípios da economia doméstica, 
da reciprocidade e da redistribuição. Com o fim do feudalismo na Europa ocidental, emergiu a eco-
nomia regulada pelo mercado. A busca do lucro veio substituir a busca da subsistência e se tornou 
importante com a afirmação do capitalismo. “O sistema capitalista exige a presença de condições 
institucionais específicas, como a propriedade privada dos meios de produção – capital, terra, tra-
balho. Só nesse quadro é que se pode falar de motivações utilitaristas da ação econômica, que não 
são naturais, mas resultantes de instituições particulares”, relatou Mattedi.
Açãoeconômica situada socialmente
Em um texto de 1985, Economic action and social structure. The problem of embeddedness, pio-
neiro da chamada “nova sociologia econômica”, o sociólogo norte-americano Mark Granovetter 
retomou a noção de embeddedness, defendendo a ideia de inserção da economia nas instituições 
sociais. “Isso significa que os indivíduos não agem de modo autônomo, mas que suas ações se 
inserem em sistemas concretos, contínuos, de relações sociais, ou seja, em redes sociais”, destacou 
Mattedi. Mas Granovetter rejeitou a diferenciação de Polanyi entre sociedades tradicionais, com 
economia inserida, e sociedade moderna, com economia autônoma.
Um estudo de Granovetter sobre o mercado de trabalho demonstrou que as redes sociais 
facilitam a circulação de informações e asseguram a confiança ao limitar os comportamentos 
oportunistas. “Desde então, análises recentes no quadro da nova sociologia econômica empenham- 
-se em mostrar que muitas ações econômicas modernas estão inseridas em redes de relações sociais, 
ou seja, que mercado e reciprocidade continuam interligados ainda hoje”, apontou a pesquisadora 
da UFSC.
Tais análises confirmam estudos sobre experiências atípicas de industrialização nas décadas 
de 1960 e 1970, inicialmente na Itália, que revelaram a eficiência econômica de redes de pequenas 
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94 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
empresas localizadas no mesmo território e especializadas em um mesmo setor. Para a socióloga, 
essas noções evidenciam a eficácia das relações não exclusivamente mercantis entre os atores sociais 
para valorizar as riquezas disponíveis “Nesse quadro, as relações econômicas não são regidas por 
uma lógica mercantil pura; estão enraizadas em redes sociais e se caracterizam ao mesmo tempo 
pela cooperação e pela competição”, afirmou.
Arranjos produtivos locais
Mattedi destacou o processo de reterritorialização das atividades econômicas e o crescimento 
das políticas industriais locais. Ela explicou que a passagem de uma lógica de setor a uma lógica 
de território pretende suscitar ou incrementar a cooperação entre os diversos atores locais. 
“O objetivo dessas políticas é articular melhor as empresas com seu ambiente, com outras empresas 
e centros de ensino ou administração pública”, disse. No Brasil, a instituição de um grupo de trabalho 
permanente para arranjos produtivos locais, composto por 33 instituições governamentais e não 
governamentais, é um exemplo dessa lógica.
A socióloga destacou que os autores da nova sociologia econômica redescobriram no fenô-
meno do mercado o que Mauss identificou no fenômeno do dom, ou seja, que não faz sentido 
distinguir entre egoísmo e altruísmo. Ela concluiu que mais do que reconhecer que o mercado seria 
uma transformação lógica e histórica do dom, esses autores apontam para a interpenetração entre 
reciprocidade e mercado.
Reciprocidade e direitos humanos
A socióloga Flávia de Mattos Motta, da UFSC, fez pesquisas entre os chamados “nativos” de 
Florianópolis (designação que distingue os que nasceram na cidade daqueles identificados como 
“pessoal de fora”). A discussão teórica dessa pesquisa se desenvolveu em dois eixos: gênero e 
reciprocidade. “Analisando gênero, família e relações entre nativos e pessoal de fora, procuramos 
demonstrar que, no contexto estudado, gênero está englobado no princípio de reciprocidade que 
ordena as relações sociais.”
Motta contou que durante sua pesquisa um rapaz de 19 anos foi preso por ter estuprado vio-
lentamente uma turista que voltava da praia. Ele a atacou, espancou-a, estuprou-a, roubou seu 
relógio e a deixou sem sentidos na areia. A socióloga disse que assim que soube do crime, enquanto 
tentava assimilar a transformação do rapaz em estuprador, lhe veio à mente a história do capitão 
Cook (o navegador inglês James Cook, morto em 1779 em confronto com nativos do Havaí por não 
saber observar as regras de reciprocidade dos havaianos), que se tornou uma espécie de paradigma 
na Antropologia, especialmente para a discussão da reciprocidade. “Será que quando os ‘nativos’ 
não matam o capitão Cook, eles estupram suas filhas?”, questionou Motta.
Como qualquer caso de estupro, esse é um caso de dominação masculina. Entretanto, para 
Motta, o fato permite refletir sobre outras dominações além das de gênero. “Quando um nativo 
excluído, pobre e negro violenta uma turista branca pertencente a uma classe que representa tudo 
o que o primeiro não tem acesso, o problema extrapola as relações pessoais, autorizando-nos a 
refletir sobre o que nele há de simbólico”, observou Motta. Ela ressaltou que essa linha de análise 
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95|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
não pretende obliterar análises de gênero – sobretudo as relações de poder e a violência contra a 
mulher como parte das relações de dominação – mas quer demonstrar o que esse crime revela 
a respeito das consequências da exclusão social conhecida pelas camadas pobres de Florianópolis, 
incluindo “nativos”.
Motta destacou que a troca não implica necessariamente igualdade entre os que trocam. “A 
troca pode ser violentamente extorquida se não é aceita de comum acordo ou se uma das partes se 
sente permanentemente lesada”, completou. Ela sugeriu que o que faz com que a dádiva se trans-
mute em violência é a lógica da reciprocidade que rege as relações sociais em dado contexto. “Se 
considerarmos que o homem inventou a dádiva como alternativa à guerra ou à violência, parece 
lógico supor que a quebra da dádiva, da tríplice obrigação de dar, receber e retribuir, conduza à 
guerra ou à violência”, afirmou.
Dádiva e violência são dois estados diferentes, mas, com base em sua pesquisa, a socióloga 
considera que ambos são regidos pela lógica da reciprocidade. “Então, importa menos decidir se 
violência é dádiva do que constatar que, como a dádiva, a violência – ao menos em certos contextos, 
como o campo que pesquisamos assinala – responde à lógica da reciprocidade, ou seja, obedece 
ao sistema dar-receber-retribuir”, disse Motta. Mas, para ela, esse caso de estupro, mesmo visto pela 
lógica da reciprocidade, não encerra o “ciclo da dádiva”. Ao contrário, ele exige um contradom. Ela 
chegou a tal conclusão a partir de depoimentos de conhecidos do jovem estuprador, que disseram 
que ele devia pagar pelo crime tanto com reclusão, conforme determinou o juiz, quanto com 
sujeição ao mesmo suplício de sua vítima, de acordo com o código informal dos apenados por 
crimes de estupro.
Na opinião de Motta, esse caso dá visibilidade a determinada dimensão das relações entre 
nativos e estrangeiros no cenário paradisíaco das praias de Florianópolis: a dimensão violenta dessas 
relações, que envolvem aspectos de raça, cultura, classe e gênero. “A partir daí se descortinam 
elementos comuns a estudos que se detêm sobre a sociedade brasileira de classes: exclusão, direitos 
humanos, violência, raça e educação.” A socióloga acredita que, em casos como o que apresentou, 
é preciso deixar de lado aspectos mais aparentes e investir em uma análise mais arriscada (mas não 
menos instigante), que leve em conta questões simbólicas.
Atividades
1. Por que a Escola Sociológica Francesa foi importante para a consolidação da Antropologia como 
Ciência Social?
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96 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
2. Comente o papel das instituições na sociedade segundo a teoria de Émile Durkheim.
3. Qual o conceito de “fato social total” formulado por Marcel Mauss?
4. Que fatos históricos ocorreram na França, no final do século XIX, que influenciaram a elaboração 
teóricade Émile Durkheim?
Referências
DESCARTES, R. Discurso do Método. Rio de Janeiro: Edição de Ouro, s/d.
DURKHEIM, É. As Regras do Método Sociológico. 12. ed. São Paulo: Nacional, 1985.
_____. As Formas Elementares da Vida Religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Paulinas, 
1989.
_____. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2001.
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97|Antropologia: objeto e metodologia de investigação
LANNA, M. Nota sobre Marcel Mauss e o Ensaio sobre a Dádiva. Disponível em: <www.scielo.br/scie-
lo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782000000100010>. Acesso em: 20 ago. 2012.
_____. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1987.
LAPLANTINE, F. A Descrição Etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004.
MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. In: MAUSS, Marcel. 
Sociologia e Antropologia. São Paulo: Edusp, 1974. v. 2.
NOGUEIRA, O. Pesquisa Social: introdução às suas técnicas. 2. ed. São Paulo: Nacional, 1973.
REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 58. Cadernos SBPC. Disponível em: <http://sbpcnet.org.br/arquivos/
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XAVIER, I. D. W. Griffith. São Paulo: Brasiliense, 1984.
_____. Cinema: revelação e engano. In: NOVAES, A. et al. O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 
1988.
XAVIER, J. T. de P. Limites conceituais no estudo das religiões afro-descendentes. In: Racismo no Brasil: 
percepções da discriminação e do preconceito. São Paulo: Perseu Abramo, 2005.
Gabarito
1. Na Escola Sociológica Francesa foram desenvolvidas pesquisas centradas nas representações 
coletivas da sociedade. A realização desses estudos definiu os fenômenos sociais como objeto de 
investigação socioantropológico e também a metodologia a ser utilizada na formulação da teoria 
do conhecimento.
2. Para Émile Durkheim, as instituições – familiares, escolares, governamentais, religiosas ou policiais 
– cumprem a função de manter a ordem social preservando as normas e leis que regem as relações 
sociais. A ausência dessas normas sociais provoca a anomia, que compromete a coesão e a saúde 
da sociedade e de seus membros.
3. O conceito de “fato social total”, formulado por Marcel Mauss, consiste na articulação biológica, 
psicológica e sociológica nas relações sociais. Essa articulação possibilita um permanente sistema 
de comunicação física e simbólica constituindo o fundamento da vida social.
4. No final do século XIX, os reflexos dos conflitos políticos e sociais – a derrota de Sedan, a Comuna 
de Paris, a III República, os movimentos operários, a instituição do divórcio e a instituição da 
educação laica – que passaram a fazer parte da história da França, influenciaram sobremaneira 
os estudos de Émile Durkheim, que, preocupado com as questões sociais da época, centrou suas 
pesquisas nas representações coletivas da sociedade.
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98 | Antropologia: objeto e metodologia de investigação
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Antropologia Funcionalista: 
a função das instituições na 
manutenção da sociedade
Os antropólogos Bronislaw Malinowski, Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard, Raymond Firth, Max 
Gluckman, Victor Turner e Edmund Leach são apontados como os principais protagonistas da Teoria 
Antropológica denominada Funcionalismo, cujo epicentro foi a Inglaterra, por isso a denominação de 
Funcionalismo Britânico como marca distintiva dessa escola.
Segundo a Teoria Funcionalista, as instituições sociais e os valores culturais devem ser compre-
endidos e explicados de acordo com as funções desempenhadas dentro do sistema social e cultural, 
no seu conjunto. A presença em cada sociedade, de costumes e hábitos, instituições e crenças devem 
ser explicadas por um estudo e pesquisa que estabeleçam os propósitos, individuais e coletivos, que a 
determina.
Em comum, esses teóricos desenvolveram uma metódica que, de uma certa forma, deu liga às 
diversas experiências realizadas sob o guarda-chuva conceitual do Funcionalismo, tais como: desenvol-
vimento da etnografia clássica (monografia); ênfase ao trabalho de campo (observação participante), e 
sistematização do conhecimento cultural acumulado.
Seus trabalhos desenvolvidos no século XX versaram sobre a cultura, vista como totalidade das 
relações sociais e o estudo das instituições e das suas funções para a manutenção da totalidade cultural.
A teoria do Funcionalismo Antropológico Britânico tem quatro características singulares de suas 
experiências e das marcas deixadas por ela na disciplina: 
foi uma experiência com características :::: antievolucionistas; 
caracterizou-se como uma teoria :::: antidifusionista; 
tem, como sua marca mais decisiva, o intenso trabalho de campo, de :::: observação participante 
do antropólogo na sociedade estudada (etnografia); 
teve uma forte conotação de :::: antropologia social, de estudo das relações sociais numa dada 
sociedade.
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100 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Essas características foram destacadas no estudo comparativo feito pelo antropólogo francês 
François Laplantine, entre as particularidades das escolas antropológicas francesa, britânica e norte- 
-americana.
Para Laplantine, a Antropologia Britânica caracteriza-se como antievolucionista, em contraponto à 
escola Evolucionista, que teve como uma de suas pernas conceituais a Inglaterra. O antropólogo aponta 
dois dos principais protagonistas do Funcionalismo como articuladores dessa visão antievolucionista, 
Malinowski e Radcliffe-Brown:
[...] é uma Antropologia antievolucionista, que se constituiu desde Malinowski em oposição a uma compreensão 
histórica social (reconstruções hipotéticas dos estágios, indo das sociedades “primitivas” às “civilizadas”, bem como 
a abordagem da historiografia). [Ela] Dedica-se preferencialmente à investigação do presente a partir de métodos 
funcionais (Malinowski), e, em seguida, estruturais (Radcliffe-Brown): uma sociedade deve ser estudada em si, 
independentemente de seu passado, tal como se apresenta no momento no qual observamos. O modelo pode, 
portanto, ser qualificado de sincrônico1, enquanto a pesquisa baseia-se no levantamento da totalidade dos aspectos 
que constituem uma determinada sociedade: a monografia.2 (LAPLANTINE, 1987, p. 98)
Para o antropólogo francês, a escola Funcionalista, em diversos aspectos conceituais, opõe-se à 
escola Evolucionista, que tem na reconstrução histórica das experiências estudadas dos povos um dos 
seus pontos de apoio fundamentais.
Laplantine destaca também seu componente antidifusionista:
[...] é uma antropologia antidifusionista, o que a opõe à antropologia americana, a qual se preocupa em compreender 
o processo de transmissão dos elementos de uma cultura para outra. Para a maioria dos pesquisadores ingleses, 
uma sociedade não deve ser explicada nem pelo que herda de seu passado, nem pelo que empresta a seus vizinhos. 
(LAPLANTINE, 1987, p. 98)
Para Laplantine, os funcionalistas rompem com uma das características centrais dos difusionistas, 
representada pela metáfora da pedra lançada no lago em que suas ondas se propagam em círculos, como 
as culturas, partindo de um ponto central, e se propagando para os povos vizinhos ou conquistados 
militarmente.
Laplantine destaca o epicentro do trabalho dos Funcionalistas que é a pesquisa de campo. Nesse 
quesito, a contribuição dos funcionalistas será decisiva para a construção do imaginário social sobre 
o trabalho do antropólogo. O trabalho de campo, a pesquisa de observação participante,é, provavel-
mente, a imagem mais forte no imaginário social do trabalho da Antropologia. O cinema explorou essa 
imagem da disciplina antropológica3.
[...] é uma antropologia de campo, que se desenvolve muito rapidamente, a partir do início do século, com Malinowski 
e, antes, com Radcliffe-Brown, o qual é, mais ainda que Malinowski, um dos pais fundadores de quem a maioria dos 
antropólogos britânicos contemporâneos se considera sucessora. Esse caráter empírico (observação direta de uma 
determinada sociedade, a partir de um trabalho exigindo longas estadias no campo) e indutivo da prática dos antropó-
logos ingleses apoia-se numa longa tradição britânica [...] (LAPLANTINE, 1987, p. 98-99)
1 O modelo sincrônico de análise compreende que só após entender como a cultura atua é que se pode refletir sobre suas alterações. Para 
tanto é necessário um estudo minucioso da sociedade em sua contemporaneidade, de suas instituições e das relações que estas mantêm no 
interior do próprio grupo.
2 Dissertação minuciosa de um assunto único. O economista francês Pierre-Guillaume Frédéric Le Play (1806-1882) foi o autor de Les Ouvriers 
Européens em 1855, a primeira monografia publicada, e descrevia o gênero de vida e o orçamento de uma família-padrão da classe operária. 
Le Play já utilizava o método desde 1930 e foi uma grande influência no desenvolvimento da Sociologia aplicada devido às metodologias 
propostas para o estudo de fenômenos sociais.
3 Indiana Jones, personagem criado por Steven Spielberg e George Lucas para as telas de cinema, é professor e arqueólogo que viaja pelo 
mundo enfrentando grandes perigos para descobrir fatos e resgatar objetos importantes da História. A Arqueologia é uma ciência pertencente 
à Antropologia e estuda as manifestações materiais das sociedades utilizando técnicas e métodos comuns às Ciências Sociais.
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101|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Por fim, Laplantine destaca o caráter social da Teoria Funcionalista:
[...] é uma Antropologia social que, ao contrário da antropologia americana, privilegia o estudo da organização dos siste-
mas sociais em detrimento do estudo dos comportamentos culturais dos indivíduos. (LAPLANTINE, 1987, p. 9)
Em linhas gerais, pode-se dizer que a teoria da Antropologia Funcionalista estuda a cultura em sua 
totalidade, focada no papel que as instituições desempenham e nas funções exercidas por elas para a 
manutenção da sociedade.
Bronislaw Malinowski (1884-1942) – 
o trabalho de campo e a etnografia
Um dos protagonistas mais importantes dessa escola foi o anglo-polonês Bronislaw Malinowski, 
que dominou o cenário antropológico de 1922, quando veio à luz sua obra mais famosa (Os argonautas 
do Pacífico Ocidental), até 1942, quando morreu.
A obra de Malinowski é um marco na história da Antropologia, como ciência. Ele contribuiu 
sobremaneira para a consolidação da imagem social do antropólogo, como pesquisador e estudioso de 
campo, submerso no coração da realidade cultural do povo estudado.
Malinowski contribuiu em quatro dimensões decisivas para a Antropologia moderna: 
a Antropologia como sendo o espaço privilegiado do trabalho de campo; ::::
ruptura com a reconstituição especulativa da trajetória dos povos;::::
modelo de estudo tirado das Ciências Biológicas, ::::
articulação dos aspectos sociais, psicológicos e biológicos dos homens.::::
O antropólogo levou às últimas consequências sua teoria da necessidade de compreensão “por 
dentro” do universo dos povos estudados. Se não foi o primeiro a fazer pesquisas de campo, Malinowski 
radicaliza sua experiência de observação participante, do trabalho do antropólogo, no local onde se 
desdobra a aventura humana.
Malinowski compreendia como fundamental o estudo da mentalidade dos povos pesquisados 
e da necessidade de ir ao encontro do universo das mulheres e homens que pertencem a uma cultura 
diferente da do Ocidente, das sociedades europeias. Para ele, diferente de seus antecessores, era funda-
mental pegar um único fenômeno e desvendá-lo, pedaço por pedaço, até chegar a uma compreensão 
do conjunto daquela sociedade. Um objeto aparentemente simples era o portal para a compreensão do 
universo cultural de uma determinada cultura. Foi o que ele fez ao estudar a canoa trobriandesa.
Segundo Malinowski, as sociedades deveriam ser estudadas em sua totalidade, tal como funcionam 
no exato momento em que o antropólogo as observa. Com isso, ele rompe com as experiências 
especulativas sobre a reconstrução histórica e as geografias especulativas, representadas, segundo ele, 
pelo Difusionismo. O antropólogo se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada 
sociedade, de cada cultura.
Malinowski tira das Ciências Biológicas seu modelo de estudo, na mesma linha anteriormente 
percorrida por Émile Durkheim. Para o Funcionalismo,
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102 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
[...] o indivíduo sente um certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente como função a de satisfazer 
à sua maneira essas necessidades fundamentais. Cada uma realiza isso elaborando instituições (econômicas, políticas, 
jurídicas, educativas...), fornecendo respostas coletivas organizadas, que constituem, cada uma a seu modo, soluções 
originais que permitem atender a essas necessidades. (LAPLANTINE, 1987, p. 81)
O modelo baseado nas ciências da natureza permitiu ao Funcionalismo, para Malinowski, a 
coerência interna necessária para o estudo das conexões existentes entre as diversas instituições e suas 
respostas às necessidades concretas de cada grupo humano.
O teórico abre a porta para o estudo multidisciplinar do homem. Segundo ele, a sociedade 
funcionava como um organismo. Mais do que um fundamento para o conhecimento daquele grupo 
humano, o modelo permitia conhecer o próprio funcionamento da sociedade estudada. Mais do que um 
recurso epistemológico, o modelo permitia observar cada instituição, e como elas funcionavam numa 
determinada sociedade. Por isso, as motivações sociais, psicológicas e biológicas tornam-se fatores 
fundamentais do estudo de um grupo humano. Nessas circunstâncias, surge a técnica da observação 
participante.
Malinowski procura reviver os sentimentos dos seus interlocutores, com sua intensa participação, 
na qualidade de antropólogo, no universo cultural dos povos estudados, para compreender e compar-
tilhar as razões interiores e emotivas dos povos e suas culturas.
Segundo Laplantine (1987), Malinowski foi provavelmente o personagem mais controvertido da 
história da Antropologia. Para o antropólogo francês, a obra de Malinowski foi controvérsia por duas 
razões: Malinowski opunha-se à visão dos antropólogos sobre a “civilização industrial” como sendo a mais 
evoluída forma de organização da sociedade e a rigidez do seu modelo de estudo, o Funcionalismo.
Laplantine observa que os antropólogos da Era Vitoriana identificavam-se totalmente com as 
chamadas “civilizações industriais”, da qual faziam parte. Para eles, as sociedades “primitivas” eram expe-
riências aberrantes. Malinowski nada na contramão dessa compreensão. Para ele, a Antropologia supõe 
uma identificação com a alteridade4, com a diferença, com a pluralidade. Essas sociedades não podem 
mais ser vistas como experiências anteriores à civilização, mas como formas contemporâneas, autên-
ticas e originais. As aberrações, para Malinowski, não são as chamadas sociedades primitivas, mas as 
sociedades ocidentais: uma inversão completa no campo da teoria antropológica da época.
Outro aspecto dessa controvérsia, segundo Laplantine, é a rigidez do modelo Funcionalista inau-
gurado porMalinowski. Para o antropólogo francês, o modelo idealizava as sociedades tradicionais. Elas 
seriam sociedades estáveis, sem conflitos, equilibradas, com instituições capazes de atender às necessi-
dades dos seus componentes. Laplantine identifica dois problemas que advêm dessa compreensão: 
como explicar as mudanças sociais, no quadro de estabilidade na qual se encontra a sociedade ::::
tradicional;
como dar conta do disfuncionamento e da patologia cultural. ::::
Esses são os calcanhares de Aquiles da teoria de Malinowski, segundo Laplantine.
Malinowski parte para generalizações polêmicas, com as formulações das “leis científicas da 
sociedade”, a partir da observação intensa das relações humanas feitas num pequeno arquipélago do 
Pacífico. Para Laplantine, “a Antropologia Vitoriana era a justificativa do período da conquista colonial”. 
4 Alteridade (em latim, alterĭtas: ser o Outro). A percepção e aceitação dos valores do Outro, a qualidade do que é Outro. Na concepção 
antropológica a existência do homem social só é possível mediante o contato com o Outro, e assim, reconhecer que somos uma cultura 
possível entre outras culturas.
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103|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
A experiência monográfica e histórica projetada pelo Funcionalismo “passa a ser a justificativa de uma 
nova fase do colonialismo” (LAPLANTINE, 1987, p. 83-84).
Esses dois aspectos, a contramão da visão de Malinowski em relação aos seus pares na Inglaterra 
e suas generalizações rígidas, tornaram sua obra controvérsia e polêmica. Mas essas controvérsias não 
foram suficientes para apagar a contribuição dada pelo antropólogo anglo-polonês aos estudos da 
Antropologia e à constituição do seu status na área das Ciências Sociais.
Os Argonautas do Pacífico Ocidental (1922)
Os Argonautas do Pacífico Ocidental é uma obra fundamental na história da Antropologia. Nela, 
Malinowski inaugura, de forma sistemática, a teoria da observação participante e a técnica da etnografia.
Em Os Argonautas, Malinowski reconstrói a organização social dos habitantes das Ilhas Trobriand, 
próxima à Nova Guiné. Os povos dessas ilhas possuíam um sistema de troca intertribal, Kula, que tinha 
um profundo impacto nas suas relações sociais e na forma de organização de suas vidas. Para o antropó-
logo, a troca de objetos rituais respondia a uma necessidade cultural do grupo humano Trobriand.
Malinowski dá ênfase ao aspecto científico da pesquisa. Ele advoga que o pesquisador deve 
ser “imparcial e franco”, nas suas observações e registros, detalhados e precisos. Para o antropólogo, 
alguns princípios científicos tornam-se imprescindíveis na pesquisa de campo: o pesquisador deve 
ter objetivos científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia moderna; o pesquisador deve se 
colocar em condições de realizar sua pesquisa, de forma objetiva, e viver em meio aos povos estudados; 
o pesquisador deve aplicar métodos particulares para a coleta, manipulação e estabelecimento dos 
dados colhidos em campo.
Malinowski insistiu na necessidade de o pesquisador, em campo, impulsionado pela teoria, 
distinguir o pesquisador do teórico. Ele colocou como epicentro do trabalho de campo a descrição da 
organização social, de forma clara, precisa e nítida, com a definição das “leis” e o registro das regularidades 
de todos os fenômenos culturais observados.
O pesquisador deve buscar todos os fatos e aspectos concretos dos fenômenos observados, em 
todas as suas dimensões, pelo método indutivo5 e, a partir dessa metódica, formular as inferências.
Malinowski utiliza-se, na organização dos dados obtidos em campo, de diagramas6 e quadros 
sinóticos7 para reduzir a informação à sua essencialidade. Para ele, era fundamental e indispensável o 
registro meticuloso e detalhado das observações feitas em campo, para a reconstrução das instituições 
e, a partir delas, compreender suas funções na preservação da totalidade cultural daquele povo.
Malinowski formulará um conceito capaz de encapsular os fenômenos que não podem ser 
capturados por perguntas do pesquisador, mas que são importantes para a compreensão daquele grupo 
humano: “Imponderáveis da vida real”. Na observação atenta da rotina de trabalho, cuidados com o 
corpo, maneiras de comer e preparar as refeições, os pesquisadores encontrariam esses “imponderáveis” 
fundamentais para a reconstrução das relações sociais do grupo.
5 O método indutivo de investigação científica, criado pelo filósofo britânico Francis Bacon (1561-1626), consiste na observação de casos 
particulares partindo de premissas menores até chegar a conclusões generalizadas que são apenas prováveis.
6 Diagramas são representações gráficas de determinado conceito, ideia muito utilizada nas áreas do conhecimento humano.
7 Quadro sinótico é uma técnica de redução de texto que consiste na organização de dados essenciais sobre um objeto de pesquisa, proposta 
de visão sintética, já acrescido de notas para elaboração de um quadro.
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104 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Para ele, os fatos devem falar por si. A observação do comportamento do grupo ligou Malinowski 
às explicações psicológicas, além das sociais e biológicas. Para o antropólogo, o pesquisador deve se 
imiscuir na forma de pensar e sentir dos povos estudados. Por isso, para desvendar esse universo, o pes-
quisador deve conhecer a língua dos povos, para compreender a magnitude de seus mitos e ritos.
Segundo Malinowski, a etnografia objetiva a apreensão do ponto de vista dos povos estudados, 
sua relação com a vida e suas instituições e compreender o universo cultural, a visão de mundo desses 
povos. Foi essa a empreitada que ele se propôs ao mergulhar na singularidade das formas de troca dos 
povos das Ilhas Trobriand.
Nessa obra, Malinowski põe em prática a observação participante. Ele rompe, dessa forma, com o 
seu mestre, Frazer, que fazia suas reconstruções a partir do seu gabinete de trabalho. Para ele, era funda-
mental ao pesquisador se impregnar da mentalidade de seus interlocutores, e esforçar-se para pensar 
na língua deles, para apreender sua visão de mundo. Segundo Laplantine (1987), ao propor esse exer-
cício de radicalidade em direção a alteridade, Malinowski ensinou aos antropólogos o “olhar”. Ser antro-
pólogo é mais do que entrevistar os informantes, mas penetrar no âmago do seu universo cultural.
Em “Os Argonautas”, Malinowski transcende a prática antropológica anterior como registro de 
fenômenos exóticos e secundários, pois,
[...] para alcançar o homem em todas as suas dimensões, é preciso dedicar-se à observação de fatos sociais aparente-
mente minúsculos e insignificantes, cuja significação só pode ser encontrada nas suas posições respectivas no interior 
de uma totalidade mais ampla. [...] Malinowski mostra que estamos frente a um processo de troca generalizado, irredu-
tível à dimensão econômica apenas, pois nos permite encontrar os significados políticos, mágicos, religiosos, estéticos 
do grupo inteiro. (LAPLANTINE, 1987, p. 84-85)
Nessa obra, Malinowski reconstitui a existência de homens e mulheres, nas suas vidas cotidianas e 
hábitos, por meio de suas relações e experiências pessoais. Além de exercitar com maestrias fundamentais 
para o futuro da Antropologia instrumentos como a observação participante e a etnografia, Malinowski 
utilizou a fotografia, abrindo caminho para o que modernamente se chama “Antropologia audiovisual”. 
Malinowski com toda a controvérsia de sua produção foi um antropólogo além do seu tempo.
Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955) – 
estudos comparativos
Alfred Reginald Radcliffe-Brown foi aluno de W. H.R. Rivers, um dos grandes antropólogos britâni-
cos, no tempo em que estudou na Universidade de Cambrigde. Seus interesses nas pesquisas de campo 
foram variados e múltiplos. Radcliffe-Brown desenvolveu pesquisas nas Ilhas Andaman (1906-1908) e 
na Austrália Ocidental (1910-1912). Como docente da disciplina, ministrou aula na África do Sul (1920- 
-1925), na Austrália (1925-1931), nos Estados Unidos da América (1931-1937), na Inglaterra (1937-1946) 
e no Brasil (1942-1944). Por onde passou, deixou uma legião de discípulos e sua marca de intelectual.
Para o antropólogo inglês, a função das instituições desempenha papel decisivo na preservação 
da vida social, em sua totalidade. É um elemento fundamental para a manutenção das estruturas e para 
a unidade funcional do sistema. Segundo Radcliffe-Brown, a soma da ideia de sistema com a soma da 
ideia de estrutura resultam na ideia de processo de vida social. A vida social é um emaranhado de ações 
e interações de seres humanos, que ocupam lugar na estrutura social.
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105|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Em sua obra Estrutura e Função na Sociedade Primitiva, Radcliffe-Brown define a função:
O conceito de função [...] implica, pois, a noção de uma estrutura constituída de uma série de relações entre entidades, 
sendo mantida a continuidade da estrutura por um processo vital constituído das atividades integrantes [...] pela 
definição aqui dada, função é a contribuição que determinada atividade proporciona à atividade total da qual é parte. 
(RADCLIFFE-BROWN, 1973, p. 223-224)
O funcionamento se desenvolve por intermédio das atividades dos indivíduos, individuais ou 
coletivas. A função de uma atividade, a parte que ela desempenha na vida social, contribui para a 
manutenção da continuidade, perenidade, da estrutura social. A função não deve ser usada no sentido 
de “intenção”, “finalidade” ou “significado”. A função é o que sustenta a estrutura social, a coesão dentro 
de um sistema de relações sociais. Para ele, a magia tinha a função de atuar como um mecanismo de 
solidariedade social, numa determinada sociedade.
Ele estuda a magia do ponto de vista da sociedade e não do ponto de vista da Psicologia, como 
fez Malinowski. Mas, a exemplo de Malinowski, para Radcliffe-Brown a sociedade é análoga a um orga-
nismo. Para se distinguir de Malinowski, sua concepção antropológica recebe o nome de “Estrutural- 
-Funcionalista”. Porém, ambos fizeram estudos sincrônicos: tentaram compreender e explicar as culturas 
com base nos seus estados atuais, sem referências ao passado.
Segundo o antropólogo, há condições necessárias para a existência das sociedades humanas. A 
pesquisa científica é capaz de compreender e estudar essas necessidades. Entretanto, ele descartava o 
rótulo de funcionalista, pois a Antropologia escapava de todo o enquadramento de escola, como ramo 
das ciências naturais.
Em muitas das suas elaborações conceituais, Radcliffe-Brown se aproxima de Durkheim, mas em 
outras, suas críticas ao mestre francês são evidentes. Radcliffe-Brown critica a concepção de patologia social 
de Durkheim. Para ele, a patologia social não pode ser estudada como perturbação da atividade social.
Porém, assim como Durkheim, Radcliffe-Brown entendia que os desejos individuais poderiam ser 
contrários às necessidades sociais e a tendência era entrar em conflitos com a sociedade. Para o antropó-
logo inglês, a cultura subordina cada indivíduo às necessidades de uma entidade superior, a sociedade.
Ele resgata os conceitos gregos de eunomia (saúde) e dysnomia (doença) sociais. Com base nesses 
conceitos, o antropólogo britânico argumenta que a patologia social não pode ser estudada de forma 
científica, como advogava Durkheim, pois as estruturas sociais poderiam ser alteradas ou até mesmo 
serem absorvidas como parte integral de uma organização social mais ampla e vasta.
Radcliffe-Brown argumentará que a patologia social não pode ser investigada sob a ótica da Bio-
logia, pois a sociedade se distingue dos animais, já que estes morrem, e aquela, não. Portanto, consi-
derar a sociedade como um organismo que, em caso de anomalia, deveria ser tratada, parecia para 
Radcliffe-Brown uma impossibilidade científica, dada a capacidade de transformação das sociedades.
A Antropologia Social deveria se ocupar da investigação dos casos concretos, observáveis. 
Segundo Radcliffe-Brown, a Antropologia não tinha instrumentos para estudar a cultura, que surgia 
para o antropólogo inglês como uma abstração, e não como algo concreto, como realidade factual.
O antropólogo inglês dá ênfase ao estudo comparativo, como método imprescindível da Antro-
pologia. Para exemplificar sua concepção, ele adota a figura do pássaro como modelo. Ele apontava que 
muitas sociedades de lugares distintos da Terra adotavam a domesticação de pássaro. Os pássaros e suas 
divisões, por vezes, eram usados para explicar o mundo concreto dos seres humanos e suas relações. 
Para Radcliffe-Brown, conhecer as semelhanças e diferenças estruturais existentes na sociedade, assim 
como no universo dos pássaros, seria indispensável ao estudo científico das sociedades humanas.
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106 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
O gavião-real e o corvo são aves usadas pelos nativos australianos para representar a divisão 
social interna. Radcliffe-Brown aponta para o fato de que em diversas lendas contadas pelos nativos o 
gavião-real e o corvo aparecem como oponentes em um conflito. Já nas regiões da América, as divisões 
sociais se apresentavam como aves semelhantes e de cores distintas. O autor destaca que essas dis-
tinções não implicam conflitos entre as partes representadas. Os conflitos registrados não têm relação 
direta com a divisão simbólica.
O objetivo último do estudo comparativo era a compreensão das instituições que formavam 
cada sociedade particular, a avaliação das leis gerais de funcionamento de cada um desses sistemas 
orgânicos e a comparação sistemática entre eles.
As pesquisas e estudos de Radcliffe-Brown se aclimataram perfeitamente às condições históricas 
pelas quais passava a Grã-Bretanha. Seus estudos tiveram um valor prático imponderável, pois seriam 
úteis para a administração colonial britânica, ao fornecer bases científicas, para o controle e a educação 
dos povos colonizados pelos ingleses.
Edward Evan Evans-Pritchard (1902-1973): 
espaços ecológicos e os conflitos como 
parte integrante da sociedade
O antropólogo britânico Edward Evan Evans-Pritchard estudou História Moderna na London School 
of Economics and Political Science. Evans-Pritchard lecionou Sociologia africana e Antropologia na Uni-
versidade de Oxford, de 1948 a 1970, e formou uma geração inteira de antropólogos e estudiosos, como 
Carmelo Lisón Tolosana, um dos pais da moderna Antropologia sociocultural na escola espanhola.
Entre as suas obras mais importantes encontra-se Os Nuer: uma descrição do modo de subsistência 
e das instituições políticas de um povo nilota que trata dos pastores do Sudão, considerados pelo autor 
como uma sociedade acéfala, sem lideranças, e de anarquia “ordenada”; Bruxaria, Oráculos e Magia entre 
os Azande (1950), povo do Sudão Meridional.
Evans-Pritchard distancia-se de Malinowski e Radcliffe-Brown, por defender uma antropologia 
histórica. Para ele, a linha do tempo é um fator importante no campo de estudo dos povos e das suas 
manifestações.
Nesses trabalhos, o autor procurou traduzir para o mundo ocidental o universo de ritos, hábitos 
e costumes dos povos africanos, estudados por ele. Na sua obra “Bruxaria, oráculo e magia entre os 
Azande”, Evans-Pritchard define da seguinteforma sua linha de estudos:
[...] uma tentativa de tornar compreensíveis uma série de crenças. Todas elas estranhas à mentalidade de um inglês 
contemporâneo, mostrando como constituem um sistema de pensamento inteligível relacionado com as atividades 
sociais, a estrutura social e a vida do indivíduo. (EVANS-PRITCHARD, 1978, p. 97)
Evans-Pritchard não havia demonstrado interesse no estudo da bruxaria, mas em suas próprias 
palavras, “os Azande tinham, de forma que tive que me deixar guiar por eles” (EVANS-PRITCHARD, 1978, 
p. 97).
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107|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
O antropólogo inglês cunhou um conceito importante dos seus estudos nas terras africanas: 
espaços ecológicos. Por esse conceito, Evans-Pritchard designava os aspectos físicos e geográficos da 
região. Para os Nuer o acesso à água era um critério importante para a definição dos pontos de referência, 
e da posição do agrupamento humano, organização do espaço, dentro de seu território.
Para a definição dos espaços ecológicos dos Nuer, a topografia – aspectos físicos e geográficos 
– era comutada no cálculo para estabelecer a distância entre os diversos espaços e localidades, e suas 
relações recíprocas.
Segundo Evans-Pritchard (1974, p. 109),
[...] a comunidade de uma aldeia que tem água permanentemente disponível em suas proximidades está numa posição 
muito diferente daquela que tem que viajar durante a estação seca para obter água, pastagens e pesca. Um cinturão de 
tsé-tsé8 cria uma barreira intransponível, estabelecendo grande distância ecológica entre os povos separados por [...] e a 
presença ou ausência de gado entre os vizinhos dos Nuer determina, da mesma maneira, a distância ecológica entre eles 
e os Nuer [...] A distância ecológica, nesse sentido, é uma relação entre comunidades definidas em termos de densidade 
e distribuição, e com referência à água, vegetação, vida animal e dos insetos etc.
Para o estudioso, outro aspecto importante é a compreensão de como os espaços ecológicos são 
fundamentais para explicar as noções de espaço e tempo dos povos Nuer, e o seu papel para a compre-
ensão do seu sistema social:
Sua ecologia limita e de outras maneiras influencia suas relações sociais, mas o valor dado às relações ecológicas é 
igualmente significante na compreensão do sistema social, que é um sistema dentro do sistema ecológico, em parte 
dependente deste e em parte tendo existência própria. [...] (EVANS-PRITCHARD, 1974, p. 94)
No estudo sobre os povos Nuer, Evans-Pritchard distancia-se de Radcliffe-Brown, no que se refere 
ao registro de conflitos na sociedade. Para Radcliffe-Brown, o conflito é uma forma estruturante do 
pensamento. Já para Evans-Pritchard, o conflito é algo que existe efetivamente na sociedade. Em sua 
obra, ele disserta sobre as vendetas, que são situações em que um grupo procura ressarcimento por um 
homicídio, contra um dos seus membros. Para ele, as vendetas são situações de conflitos intertribais e, 
em muitos casos, podem levar à guerra.
A vendeta é uma instituição social cujo propósito é punir atos que se reconheçam como infração a 
uma lei. A vendeta seria uma forma de preservação da coesão social: “o temor de provocar uma vendeta 
é, com efeito, a mais importante sanção legal dentro de uma tribo e a principal garantia da vida e da 
propriedade do indivíduo” (EVANS-PRITCHARD, 1978, p. 162).
Raymond Willian Firth (1901-2002) – 
Antropologia como interface da economia
O antropólogo neozelandês Raymond Willian Firth radicou-se na Inglaterra, a partir dos anos 1930. 
A exemplo de outros antropólogos da época, lecionou na London School of Economics, centro intelectual 
pelo qual se doutorou. Seus objetos de pesquisa foram as chamadas economias primitivas, sobre as 
8 Tsé-tsé é uma mosca hematófaga, Glossina, que transmite por meio de sua picada a Doença do Sono – Tripanossomíase africana humana. 
Doença parasitária, prevalentes na África na forma de epidemia, evolui em dois estágios – sangue e sistema nervoso central – com o avanço 
gradual do distúrbio do sono até o estado de estupor permanente.
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108 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
quais se debruçou, sob a orientação, no início de sua carreira acadêmica, de Bronislaw Malinowski, do 
qual foi discípulo. Suas principais obras são: The Primitive Economics of the New Zealand Maor (1929); 
Tikopia Ritual and Belief (1930); Art and Life in New Guinea (1936); We, the Tikopia: A Sociological Study 
of Kinship in Primitive Polynesia (1936); Human Types: An Introduction to Social Anthropology (1938); 
Primitive Polynisean Economy (1939); Malay Fisherman: Their Peasant Economy (1946); Elements of Social 
Organization (1951); Two Studies of Kinship in London (editor) (1956); Men and Culture: An Evaluation of the 
Work of Bronislaw Malinowski (1957); Social Change in Tikopia: Re-study of a Polynesian Community After a 
Generation (1959); History and Traditions of Tikopia (1961); Essays on Social Organization and Values (1964); 
Themes in Economic Anthropology (1967); Rank and Religion in Tikopia: Asyudy in Pollynesian Paganism 
and Conversion to Cristianity (1970); Symbols: Public and Private (1973).
Uma das singularidades da produção intelectual de Firth é a articulação da análise econômica 
com a antropologia. Para ele, a economia, centro de suas preocupações, era uma espécie de ciência de 
ligação; ou seja, a economia dava a base de compreensão das relações culturais e sociais de um deter-
minado grupo humano. Ela possui, segundo o autor, “princípios de aplicação universais”, e seus aspectos 
estão presentes em todas as formas de organização social.
Firth desenvolveu o conceito de organização social, com a possibilidade de o estudo antropo-
lógico ser aprofundado em uma cultura particular, para a observação do seu sistema social total, para 
analisar seu funcionamento e a preservação do sistema. Para o campo da antropologia, ao ampliar o 
conceito de organização social, Firth consolidou a Teoria Funcionalista e antecipou, em muitos aspectos, 
o conceito estruturalista de estudo antropológico.
O papel desempenhado no Instituto Real de Antropologia conferiu-lhe prestígio e o título de 
Cavaleiro da Coroa Britânica.
Em uma de suas obras mais destacadas, que teve o prefácio assinado pelo seu mestre Bronislaw 
Malinowski, Nós, os Tikopia: um estudo sociológico do parentesco na Polinésia primitiva (1938), Raymond 
Firth faz um trabalho de campo de caráter monográfico. O autor estuda o sistema de parentesco, um 
dos temas mais recorrentes da Antropologia da época.
Nesse estudo, Firth observa o impacto que a instalação da Igreja Anglicana9 teve naquela comu-
nidade e em sua dinâmica de organização sociocultural. Ele destaca que, apesar desse contato com o 
mundo branco, os nativos locais continuam Tikopia. Apesar do contexto adverso, o antropólogo cons-
tata que as relações de parentesco foram preservadas, e foram indispensáveis para a manutenção da 
organização social tradicional.
Para ingressar nesse universo, Firth lança mão da metáfora culinária: “Como um gourmet 
caminhando em volta de um banquete servido à mesa, saboreia antecipadamente a qualidade que irá 
apreciar inteiramente mais tarde” (1998, p. 24). Nos três primeiros capítulos, o antropólogo descreve 
suas impressões sobre esse banquete antropológico e sobre o papel de campo que o antropólogo deve 
cumprir e sua metodologia de trabalho.
O autor descreve sua admiração ao povo sobre o qual vai construir sua narrativa antropo-
lógica, com base no conceito elaborado pelo seu mestre, a observação participante. Firth destaca a 
9 Igreja Anglicana é a igreja cristãoficial na Inglaterra. Em 1534, durante a Reforma Protestante, o rei Henrique VIII separou-se da Igreja 
Católica Romana, definitivamente, a Igreja da Inglaterra que nunca havia se conformado com a dominação Romana. Tem em sua forma de 
culto litúrgico influências da Igreja Católica Romana e das Igrejas Protestantes e também uma organização hierárquica com bispos, por isso 
conhecida também como Igreja Episcopal. Em diversas partes do mundo as Igrejas Anglicanas se tornaram autônomas, formando províncias 
anglicanas nacionais ou regionais que juntas formam a Comunhão Anglicana Mundial.
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109|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
necessidade de se conviver com os habitantes, conhecer-lhes os hábitos e língua, sem abrir mão do 
rigor científico.
A partir daí, Firth dá a contextualização – histórica e geográfica – do estudo, e lança as bases para 
o seu exercício etnográfico, com a descrição minuciosa e precisa das relações de parentesco dos Tikopia, 
para, a partir desse ponto, ater-se às questões gerais da organização social do grupo. No final da obra, 
Firth destaca os mecanismos da conformação do indivíduo à sociedade, por intermédio de rituais de 
iniciação e do casamento.
Para Firth, a unidade de parentesco desse povo não é a linhagem, mas a casa (paito): agrupa-
mento de várias famílias nucleares. Um conjunto de casas forma um clã10, formas de organização das 
relações econômicas e sociais entre as casas. Essa organização define as relações políticas e religiosas, 
baseadas no poder de um chefe e um totem11 ancestral. Essas relações definem as alianças estabelecidas 
por esse povo.
Seguindo o modelo clássico do Funcionalismo, Firth, nessa obra, parte do estudo do parentesco, 
das relações de casamento, das relações entre as casas e clãs, para o estudo de suas funções na sociedade 
total e de suas atribuições na manutenção da sociedade. Isso, sem abrir mão da observação participante 
na comunidade e do rigor científico da Antropologia.
Herman Max Gluckman (1911-1975) – 
Antropologia situacional e as relações de divisão e fusão
Herman Max Gluckman nasceu na África do Sul, Joanesburgo. Apesar disso, por se opor ao 
regime do Apartheid12 que vigorava no país, preferiu a cidadania britânica e nesse país desenvolveu 
suas atividades acadêmicas.
Ele estudou na Universidade de Oxford, por onde se doutorou. Nessa instituição, foi aluno de 
Evans-Pritchard e de Radcliffe-Brown. O antropólogo fez estudos de campo no seu país natal e em 
Zâmbia, com os povos Lozi e Tonga.
10 Clã constitui-se num grupo de pessoas, consanguíneas ou não, e é definido pela descendência de um ancestral comum. Em geral, o 
parentesco difere da relação biológica, visto que esta também envolve adoção, casamento e supostos laços genealógicos. Na maioria dos clãs 
seus membros não podem casar-se entre si. Alguns clãs possuem um líder oficial, tal como um chefe, matriarca ou patriarca. Dependendo das 
regras e normas de parentesco que regem a sociedade onde se inserem, os clãs são patrilineares, seus membros são vinculados à linhagem 
masculina; matrilineares; seus membros são vinculados à linhagem feminina, e “bilaterais”, todos descendem do ancestral maior, tanto da 
linhagem masculina quanto feminina.
11 Totem, palavra derivada de “dodaim”, significa aldeia ou residência de um grupo familiar. É um símbolo – objeto, animal ou planta – cultuado 
como um deus e em torno dele é organizada uma sociedade.
12 Regime do Apartheid foi uma política de segregação racial definida pelos colonizadores europeus na África do Sul em 1902 após a Guerra 
dos Bôeres. O decreto do “Ato de Terras Nativas” – os negros deveriam viver em reservas especiais, não poderiam comprar terras fora da 
área delimitada – o que garantia mão de obra barata para os latifundiários brancos, e as Leis do Passe – que exigia dos negros passaporte 
para poderem se locomover dentro do território para obter emprego, pretendiam manter o domínio sobre a população nativa. Em 1948, o 
regime do Apartheid consolidou-se com o controle hegemônico da política do país pelos Afrikaaners (de origem holandesa). Mesmo com a 
organização, mobilização e as manifestações da população durante os anos, somente em 1989 começaram as negociações para a libertação 
de Nelson Mandela e para a legalização do CNA – Congresso Nacional Africano e de todos os grupo contrários ao Apartheid. Em 1990 é abolido 
o regime segregacionista, mas a economia sul-africana ainda revela que a desiguladade racial persiste.
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110 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Com o tempo, Gluckman começa a questionar os pressupostos teóricos de seus professores e 
mestres, em especial no tocante à capacidade de estudo das sociedades modernas pelo método estru-
tural-funcionalista. Para o autor, os conflitos e competição entre os indivíduos dessas sociedades não se 
enquadravam no modelo teórico do Funcionalismo.
Gluckman lança mão do método de estudo centrado nas situações sociais concretas e específicas. 
Ele passou a fazer estudos de casos e análise das interações entre atores sociais. Assim, para cada forma 
de organização social, Gluckman apontava funções distintas: nas sociedades modernas, o direito asse-
gurava a garantia da ordem social; já nas sociedades tradicionais, essa função era exercida pelo ritual.
No seu trabalho de campo desenvolvido na África, Gluckman estudou as relações entre os 
africanos nativos e os europeus. Observou a criação de uma única comunidade com modos específicos 
de comportamentos. Para Gluckman, com a teoria da fricção, certificou-se uma realidade empírica – 
real, concreta – moldada segundo uma dinâmica de conflitos regulamentares, conduzido pelos grupos 
étnicos opostos. O conflito assume um papel de centralidade nas relações sociais. Na mesma linha, segue 
a observação sobre as relações interdependentes entre os grupos e o caráter dinâmico das alianças 
estabelecidas e as oposições existentes entre os grupos. As relações de divisão e fusão constatadas nessa 
sociedade cindida pelos conflitos raciais são inerentes a todas as estruturas sociais, segundo Gluckman. 
Essa dinâmica é condicionada pelas relações situacionais, na qual cada divisão e fusão se dão.
A análise situacional proposta por Gluckman permite que das ocorrências que não se repetem 
sejam retirados elementos estruturais e comportamentais dos indivíduos, como atores sociais. Ou seja, 
não apenas nas ocorrências frequentes encontram-se elementos importantes para o estudo das rela-
ções sociais de divisão e fusão, registradas entre grupos étnicos distintos, que compartilham o mesmo 
espaço.
Victor Turner (1920-1983) – 
Antropologia como performance dos dramas sociais
Victor Turner, nascido na Escócia, radicou-se nos Estados Unidos da América, onde desenvolveu 
seus principais trabalhos, nos campos do ritual e do simbolismo, a partir da década de 1960. Turner, a 
exemplo de outros antropólogos da Escola Funcionalista, desenvolveu estudos de campo na África, 
entre os Ndembu, na Zâmbia. Com base na abordagem processual – em desenvolvimento – Turner 
estudou os símbolos e rituais desse povo, tendo como método a etnografia de estudo de casos.
Nos aspectos conceituais, seu trabalho centrou-se em quatro eixos temáticos: 
1. rituais com significados sociais codificados; 
2. o efeito profundo dos códigos sociais sobre a mente dos povos; 
3. o teatro como padrão repetitivo do conjunto das atividades sociais;
4. a noção de que a liminaridade seja a forma de como as pessoas vão para além de suas limitações. 
Esses quatro eixos temáticos atuam como pano de fundo das reflexões teóricas e conceituais dos 
estudos de Turner.Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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111|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Victor Turner – tendo como tela suas densas experiências etnográficas na África – põe em 
suspeição a fixidez e coerência dos sistemas sociais que brotam dos estudos antropológicos. Ele foca 
suas observações nas ocorrências descontínuas, ambíguas, mescladas e indeterminadas nos aspectos 
processuais cotidianos. Nessas circunstâncias, surge a noção de performance13 em rituais, gêneros 
artísticos, formas culturais e microinterações da vida cotidiana.
Com o conceito de performance, Turner desloca a noção de cultura como resposta preestabelecida 
pela estrutura social. Ele focará sua observação no construtivismo social, agenciamento, historicidade das 
práticas sociais, com suas descontinuidades, fluidez e intersubjetividade.
Os “dramas sociais”, segundo Turner, são comuns nas sociedades e representam performances 
que permitem revelar os porões da estrutura social. A raiz do teatro encontra-se nos dramas sociais. 
Dessa forma, as potencialidades da comunidade podem ser exploradas, com seus valores e crenças. 
Eles podem ser dessacralizados e representados, para que se possam encontrar soluções para tais 
conflitos. Os dramas sociais são os confrontos que ameaçariam a norma estabelecida, eles apresentam 
qualidades teatrais e uma forma estrutural de etapas.
Para Turner, a Antropologia da Performance é uma parte fundamental da Antropologia Experi-
mental, já que toda a “performance cultural” – cerimônias, carnaval, poesia – são explicações da vida 
cotidiana.
Turner defende que, em determinadas circunstâncias, há uma mudança no status dos rituais. 
Segundo ele, o processo de separação da vida cotidiana faz com que uma sociedade fique em “estado 
intermediário”, como nos “rituais de inversão de status” caracterizados pelo exercício coletivo da autori-
dade ritual dos grupos subalternos socialmente em relação aos seus “superiores” no plano da sociedade, 
onde estes são insultados ou até maltratados fisicamente, o que caracteriza a ocorrência da “antiestru-
tura”: mudanças efetivas nos valores e na organização da estrutura social, com processos corretivos, 
compensatórios, para retomar a ordem habitual do cotidiano.
Edmund Leach (1910-1989) – 
precariedade e fugacidade do equilíbrio social
O antropólogo inglês Sir Edmund Leach foi aluno de Bronislaw Malinowski, na London School of 
Economics. Optou pela Antropologia depois que realizou o trabalho de campo na Birmânia (os povos 
Kachin). Leach critica um dos alicerces do Funcionalismo, o chamado “equilíbrio social estrutural”.
Para o antropólogo inglês, “o equilíbrio social” é sempre precário e fugaz, quando critica o conceito 
de Radcliffe-Brown de equilíbrio relativo. Utilizou como metódica o estudo de casos, dentro de uma 
perspectiva histórica. Seus objetos de pesquisa foram os mitos e os ritos, tendo em mira as relações 
políticas e sociais. Leach foi presidente da Royal Anthropological Institute no início dos anos 1970 (1971-
-1975), quando procurou disseminar os estudos e conceitos fundamentais da Antropologia Social.
13 A performance é uma linguagem artística que apresenta ligações com o teatro e, em algumas situações, com a música, poesia, o vídeo. De 
acordo com Victor Turner, performance é uma forma de “expressão” que completa a experiência. A palavra deriva do francês parfournir, que 
significa “completar” ou “realizar inteiramente”.
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112 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Na sua obra mais popular – Sistemas Políticos da Alta Birmânia: um estudo da estrutura social Kachin 
– Leach critica a ideia estrutural-funcionalista de sistemas sociais estáticos e homogêneos, em especial 
o conceito de equilíbrio estático. Segundo ele, as sociedades reais não podem estar em equilíbrio, pois 
as “unidades sociais” estudadas mostravam-se com grandes variedades de tamanho e indicavam insta-
bilidades. Leach interessou-se pelos processos de mudanças estruturais nas sociedades estudadas.
As críticas de Leach a muitas das ideias conceituais do estrutural-funcionalismo, como a questão 
do equilíbrio e da homogeneidade, permitiram avançar para o mapeamento das diversas mudanças 
culturais registradas pela Antropologia nos últimos anos.
Considerações finais
A Teoria Antropológica Funcionalista deu grandes contribuições à disciplina da Antropologia. 
Duas contribuições foram decisivas para o desdobramento dessa área de estudos das Ciências Sociais: a 
observação presente, o estudo in loco dos povos, e a elaboração da narrativa monográfica. A observação 
presente pôs o antropólogo em contato com os seus objetos e sujeitos de estudo. Esse contato com a 
realidade colocou o pesquisador no coração das relações sociais e culturais dos povos, sem o ranço do 
preconceito da visão de superioridade que caracterizou o período anterior da disciplina.
A narrativa monográfica permitiu ao pesquisador focar sua observação num tema, com a 
verticalização de sua observação e descrição – detalhadas, precisas, cirúrgicas, atentas – das ocorrências 
registradas no campo de pesquisa.
Ao se concentrar nos estudos das funções exercidas numa dada sociedade para a preservação do 
todo social, o Funcionalismo rompeu com a noção de evolução linear do primitivo para o civilizado. O 
método permitiu observar os valores intrínsecos das instituições na sociedade estudada. Nessa linha, 
desdobrou-se em Antropologia Social, de estudo das relações sociais numa sociedade determinada.
Apesar do seu modelo rígido, no início de sua construção conceitual, suas contribuições 
alargaram o espectro da ciência, em diversas direções: o trabalho de campo etnográfico, o estudo 
monográfico, a pesquisa da sociedade no estágio no qual ela se encontrava no momento do estudo, os 
estudos comparativos das funções observadas, a identificação de espaços ecológicos e suas influências 
no sistema social, a observação das dinâmicas de conflito no coração da sociedade, a interface da 
Antropologia com a Economia, os aspectos situacionais das relações de divisão e fusão, as performances 
dos dramas sociais, a consolidação do estudo de caso e a fugacidade e precariedade do equilíbrio das 
relações sociais.
Além desses aspectos teóricos, o Funcionalismo teve na figura de Bronislaw Malinowski, por mais 
de 20 anos, uma personagem emblemática. Sua atuação em campo contribuiu para a consolidação no 
imaginário social da figura do antropólogo como aventureiro das Ciências Sociais, imagem explorada 
pelo cinema.
O Funcionalismo tirou a Antropologia dos gabinetes. Com essa escola, a Antropologia foi a campo 
e reinventou seus métodos de trabalho e multiplicou seus objetos e sujeitos de pesquisa e, ao estudar a 
cultura na sua totalidade, abriu caminho para a escola de que desenvolverá a partir dos anos 1930, nos 
Estados Unidos da América, o Culturalismo Norte-Americano.
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113|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Texto complementar
Bronislaw Malinowski (1884-1942)
(LAPLANTINE, 2004, p. 67-68)
Boas pretendia elaborar relatórios exaustivos, e muitos de seus sucessores nos Estados 
Unidos (Kroeber, Murdock...) aplicam-se a estabelecer correlações ente o maior número possível de 
variáveis. Essa maneira de proceder é particularmente aberrante aos olhos de Malinowski. Segundo 
ele, convém, pelo contrário, e ele dá o exemplo, mostrar a partir de um só costume, e até de um só 
objeto (por exemplo, a canoa trobriandesa) aparentemente muito simples, que é toda a sociedade 
que se manifesta. Instaurando uma rupturacom a história conjetural (a reconstituição especulativa 
dos estádios), mas também com a geografia especulativa (a Teoria Difusionista, que tende, no 
começo do século XX, a substituir o evolucionismo, e postula a existência de centros de difusão 
da cultura, que se transmitiria por meio de empréstimos às outras culturas, Malinowski considera 
que uma sociedade deve ser estudada como uma totalidade, exatamente como ela funciona no 
momento em que é observada. Podemos medir o caminho percorrido desde Frazer, portanto mestre 
de Malinowski. Quando perguntavam ao primeiro por que é que ele não ia visitar as sociedades a 
partir das quais ele tinha construído sua obra, ele exclamava: “Deus me livre!” Os Argonautas do 
Pacífico Ocidental, no entanto, publicados apenas poucos anos depois da publicação de Rameau 
d’Or, e prefaciado, nota-se, pelo próprio Frazer, procede de forma rigorosamente inversa. Por um 
lado a etnologia torna-se, uma das primeiras vezes, uma atividade “ao ar livre” desenvolvida, por 
assim dizer, em direto “dentro de uma natureza vasta, virgem e aberta”. Por outro lado ela consiste 
em analisar de maneira intensiva e contínua uma microssociedade sem se referir à sua história.
Se a obra (e a própria personalidade) de Malinowski foi uma das mais controversas de toda 
a história da Antropologia, o certo é que o que lhe devemos permanece ainda hoje considerável. 
Tendo compreendido que a única maneira de conhecer os outros é partilhando suas existências, 
ele inventou literalmente e colocou em prática pela primeira vez a observação participante, dando- 
-nos o exemplo do que deve ser o estudo intensivo de uma sociedade que nos é estranha. O fato 
de efetuar uma estada de longa duração, impregnando-se da mentalidade de seus hóspedes e 
esforçando-se por pensar em sua própria língua, pode parecer banal hoje. Não era o caso nos anos 
1914-1920 em Inglaterra, e ainda menos em França. Malinowski ensinou-nos o olhar. Deu-nos o 
exemplo do que devia ser uma pesquisa de campo, que não tem mais nada a ver com a atividade de 
uma “inspector” questionando um “informador”.
Enfim, uma das grandes qualidades de Malinowski, é sua faculdade em restituir a existência 
desses homens e mulheres que apenas podem se tornar conhecidos por meio de uma relação e 
experiência pessoais. Mesmo quando ele estuda as instituições, nunca são para ele abstrações 
reguladoras na vida de autores anônimos. Em Os Argonautas do Pacífico Ocidental, como em Jardins 
de Coral, ele faz reviver para nós esse povo trobriandês que jamais poderíamos confundir com 
qualquer outra população. Ora, essa exigência de levar avante um projeto científico sem renunciar à 
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114 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
sensibilidade artística é talvez a principal característica da Antropologia. Malinowski não nos ensinou 
unicamente a ver, mas também a descrever o que vemos: as cenas da vida cotidiana com seu relevo 
e sua cor. Desse ponto de vista Os Argonautas parecem-me exemplares. É um livro escrito num estilo 
magnífico que aproxima seu autor de um outro Polonês que, como ele, viveu na Inglaterra e que 
se exprimia em inglês: Joseph Conrad, e que anuncia as mais belas páginas de Tristes Trópicos de 
Lévi-Strauss.
Atividades
1. De acordo com a Teoria Funcionalista Britânica, como se desenvolveu o estudo antropológico no 
século XX?
2. Qual a contribuição do teórico Bronislaw Malinowski na história da Antropologia moderna?
3. Comente as características antievolucionista e antidifusionista da Antropologia Funcionalista.
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115|Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
4. Qual a importância do estudo comparativo no trabalho desenvolvido por Radcliffe-Brown?
Referências
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um povo nilota. São Paulo: Perspectiva, 1974. 
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1998.
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Tribal Africa. Londres: Cohen & West, 1963.
_____. O material etnográfico na antropologia social inglesa. In: GUIMARÃES, Alba Zaluar (Org.). Des-
vendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
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MALINOWSKI, B. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
PRITCHARD, E. Bruxaria, Oráculo e Magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
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_____. The Anthropology of Performance. Nova York: PAJ Publications, 1988.
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116 | Antropologia Funcionalista: a função das instituições na manutenção da sociedade
Gabarito
1. A Escola Antropológica Funcionalista priorizou o estudo da organização dos sistemas sociais. 
Seus teóricos, por meio da observação participante e da narrativa monográfica, desenvolveram 
pesquisas sobre a função das instituições na manutenção da totalidade cultural numa dada 
sociedade e seus esforços estavam em compreender de forma sincrônica e explicar cientificamente 
o universo cultural dos povos estudados.
2. O antropólogo Bronislaw Malinowski sistematizou a observação participante e a técnica etnográfica 
na Escola Funcionalista. Seus estudos compreendiam as motivações sociais, psicológicas e 
biológicas de um grupo humano, exigiam que o pesquisador em campo exercitasse o “olhar” para 
apreender a visão de mundo dos povos estudados e, de forma imparcial, procede-se o registro 
detalhado e verdadeiro de suas observações, o que contribuiu para a construção do trabalho 
antropológico no imaginário social.
3. Na Teoria Funcionalista, as sociedades devem ser estudadas em sua totalidade, na forma como 
se apresentam no momento da observação e independentes dos processos de transmissão 
de elementos culturais que tenham ocorrido no passado, contrapondo-se, assim, às visões 
evolucionistas e difusionistas na Antropologia.
4. Segundo o teórico Radcliffe-Brown, a Antropologia Social deveria estudar casos concretos 
das sociedades humanas conhecendo suas semelhanças e diferenças estruturais por meio da 
pesquisa científica. E o método do estudo comparativo permitia a compreensão das instituições, 
a identificação das leis de funcionamento e a comparação sistemática das organizações sociais.
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Escola antropológica do 
Culturalismo Norte-Americano 
e seus desdobramentos
Ruth Benedict (Padrõesde Cultura, 1934), Margareth Mead (Sexo e Temperamento em Três Sociedades 
Primitivas, 1935), Melville Herskovitz (Antropologia Cultural, 1949), Ralph Linton (Cultura e Personalidade, 1945), 
Ruth Landes (A Cidade das Mulheres, 1947), nos Estados Unidos da América; Roger Bastide (O Candomblé da 
Bahia, 1958), na França; e, Fernando Ortiz, (Del Fenómeno de la “transculturación” y de su Importancia en Cuba, 
1983), em Cuba, são os principais articuladores da Escola Antropológica do Culturalismo Norte-Americano, 
que teve esse país como ponta do iceberg conceitual dessa matriz teórica.
Esses antropólogos provocaram um realinhamento no campo da disciplina, ao dar ênfase ao 
estudo comparativo (deslocando a questão central da raça para a cultura produzida pelos povos), à 
busca de leis que caracterizavam o desenvolvimento das culturas estudadas, o estudo das relações 
existentes entre esse desenvolvimento cultural e a personalidade dos indivíduos em sociedade.
A partir dos trabalhos de campo de Franz Boas, na década de 1930, essa escola passou a pesquisar 
os chamados padrões culturais das sociedades. Esses padrões seriam os marcadores da produção 
cultural de um determinado povo, sem índice de superioridade entre um grupo humano e outro, com 
marcadores culturais distintos.
O Culturalismo marca um campo de delimitação com o racismo exercitado na Antropologia, num 
passado ainda recente. Seus pressupostos conceituais desarticulam a noção de superioridade racial ou 
cultural, e destacam a singularidade da prática cultural dos povos.
Ao percorrer esse caminho, a Escola da Antropologia Cultural abre novas perspectivas e possibi-
lidades de estudos culturais, na Antropologia, com as múltiplas possibilidades de conceituação, estudo 
e pesquisa de campo, nas diversas formas de organização social, que caracterizam a produção e repro-
dução das condições de vida da humanidade.
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118 | Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
A Antropologia Cultural significou uma mudança consistente na metódica, abordagem, objetos e 
sujeitos da Antropologia, ao ocupar o espaço da reflexão conceitual da Antropologia Social.
Essa mudança teve dois vetores importantes. Primeiro, ela deu autonomia à disciplina, que se 
viu independente da Sociologia, como forma de observação dos fenômenos das Ciências Sociais; 
e, segundo, desloca seu foco de observação para o indivíduo, para o comportamento individual, 
importantes indicadores dos aspectos culturais de um povo (artesanato, produção artística, produção 
de artefatos religiosos e de práticas sociais, como a caça e a pesca).
Das experiências anteriores, até pela força da presença intelectual de Franz Boas, a Antropologia 
Cultural incorpora os procedimentos teóricos do trabalho de campo, do método etnográfico e da análise 
comparativa.
O método comparativo foi utilizado não para as pesquisas dos sistemas e das relações sociais, 
mas para os estudos dos comportamentos particulares e singulares, as formas de pensar, trabalhar e 
entreter de homens e mulheres de um determinado grupo humano.
Os recursos conceituais são utilizados para o estudo do conjunto dos comportamentos – saber, 
saber-fazer, ser – característicos de um grupo humano, com especificidades adquiridas nos processos 
de aprendizagem e transmissão – de uma geração à outra – numa determinada sociedade.
Laplantine destaca três características que dão contornos à fisionomia teórica dessa escola. 
Segundo o antropólogo francês, a Antropologia Cultural observa a originalidade do fazer cultural de 
um povo, e as suas descontinuidades em relação ao tempo e ao espaço:
A Antropologia Cultural estuda os caracteres distintivos das condutas dos seres humanos pertencendo a uma mesma 
cultura, considerada como uma totalidade irredutível à outra. Atenta às descontinuidades (temporais, mas sobretudo 
espaciais), salienta a originalidade de tudo que devemos à sociedade à qual pertencemos. (LAPLANTINE, 1987, p. 121)
A segunda marca singularizadora apontada por Laplantine é quanto à forma de condução da 
pesquisa, focada na observação direta dos atos e ações dos membros da sociedade estudada:
Ela [A teoria da Antropologia Cultural] conduz essa pesquisa a partir da observação direta dos comportamentos 
dos indivíduos, tais como se elaboraram em interação com o grupo e o meio no qual nascem e crescem esses 
indivíduos. Procurando compreender a natureza dos processos de aquisição e transmissão, pelo indivíduo, de uma 
cultura, sempre singular (a forma como estão não apenas informa, mas modela o comportamento dos indivíduos, 
sem que estes o percebam), encontra várias preocupações comuns aos psicólogos, psicanalistas e psiquiatras [...] 
(LAPLANTINE, 1987, p.122)
Quanto a essa segunda característica, Laplantine sinaliza dois aspectos finais: a utilização de mo-
delos conceituais dessas disciplinas, bem como suas técnicas de investigação, e “a partir dos anos 1930”, 
a colaboração pluridisciplinar da Antropologia com essas áreas do conhecimento, que formou a deno-
minada expressão “cultura e personalidade”.
E finalmente, para Laplantine, a terceira marca distintiva é que a Antropologia Cultural: “[...] estu-
da o social em sua evolução, e particularmente sob o ângulo dos processos de contato, difusão, intera-
ção e aculturação, isto é, de adoção (ou imposição) das normas de uma cultura por outra” (LAPLANTINE, 
1987, p. 122).
A Escola da Antropologia Cultural teve uma intensa produção conceitual, entre o final dos anos 
1920 e os anos 1950, com desdobramentos pontuais posteriores. Apesar das diversas obras e aborda-
gens, ela teve um núcleo denso que “não atribuiu à natureza o que diz respeito à cultura”; não considerou 
como universal o que era relativo, como observou Laplantine (1987, p. 123).
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119|Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
Esse núcleo denso assegurou o eixo central da teoria: a compreensão da diversidade (multiplici-
dade e pluralidade) da cultura, tanto nos aspectos singulares dos traços comportamentais dos mem-
bros de um determinado grupo, quanto na totalidade da “personalidade cultural” do grupo.
A Antropologia Cultural parte do pressuposto de que a variação cultural pode ser encontrada em 
cada um dos aspectos das atividades cotidianas dos indivíduos, tais como nas relações religiosas, nas 
formas de hospitalidade, nas formas das etiquetas sociais, nos comportamentos sexuais da sociedade, 
e nas formas de relações públicas.
O peso da cultura não se manifesta apenas nas formas diversificadas de comportamentos e atividades facilmente locali-
záveis de uma sociedade para outra (como a alimentação, o habitat, a maneira de se vestir, os jogos...), mas também nas 
estruturas perceptivas, cognitivas e afetivas, constitutivas da própria personalidade [...] (LAPLANTINE, 1987, p. 125)
Nessa linha de abordagem caminham duas antropólogas norte-americanas que desempenharam 
papéis fundamentais na Antropologia Cultural: Margareth Mead e Ruth Benedict. Ambas estudaram 
os comportamentos desviantes de indivíduos em sociedades tradicionais. A primeira pesquisou duas 
populações vizinhas da Nova Guiné (1969), consideradas opostas em seus comportamentos (ternos e 
violentos); a segunda, os índios Pueblos do Novo México (1950).
Em seu estudo no Novo México, Ruth Benedict usa os conceitos sociedade “apoloniana1”, e socie-
dade “dionisíaca2”, para contrapor os índios do Novo México à exaltação e rivalidade permanente que os 
habitantes da Ilha Dobu mantêm entre si.
Ruth Benedict elabora o conceito de “arco cultural”. Segundo ela, cada cultura valoriza um pedaço 
desse arco e o utiliza conforme seu desejo.
[...] O que caracteriza umadeterminada sociedade é uma “configuração cultural”, uma lógica que se encontra ao mesmo 
tempo na especificidade das instituições e na dos comportamentos. Toda cultura persegue um objetivo, desconhecido 
dos indivíduos. Cada um de nós possui em si todas as tendências, mas a cultura à qual pertencemos realiza uma seleção. 
As instituições (e, em especial, as instituições educativas: famílias, escolas, ritos de iniciação) pretendem – inconsciente-
mente – fazer com que os indivíduos se conformem aos valores próprios de cada cultura. (LAPLANTINE, 1987, p. 127)
A Antropologia Cultural dará à disciplina novas formas de abordagens, novos objetos e sujeitos 
de investigação antropológica, mas, acima de tudo, legará à Antropologia as noções irredutíveis da 
pluralidade, diversidade e multiplicidade da cultura – nas formas com que homens e mulheres constroem 
suas vidas materiais e imateriais –, sem os conceitos de superioridade racial ou cultural presentes nos 
estágios anteriores das Ciências Sociais, em geral, e na Antropologia, em particular.
Ruth Fulton Benedict (1887-1948) – 
Antropologia e os padrões culturais dos povos
A antropóloga norte-americana Ruth (Fulton) Benedict formou-se pela Universidade de 
Columbia. Na instituição, ela foi aluna do formador de antropólogos Franz Boas, seu orientador e mestre 
1 Relativo a Apolo, na mitologia grega filho de Zeus e considerado o Deus que transmitia aos homens os segredos da vida e da morte; também 
cultuado como símbolo de beleza, pureza e perfeição. A organização apoloniana tem natureza harmoniosa, racional e planejada.
2 Relativo a Dionísio, na mitologia grega filho de Zeus com uma mortal. Considerado Deus da música e do vinho, impulsivo, excessivo, 
transbordante e amável com aqueles que partilhavam a adoração ao êxtase, ao erotismo e às orgias, mas profundamente cruel trazendo 
loucura e destruição para aqueles que o desprezavam.
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120 | Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
nas pesquisas de campo. Benedict teve papel destacado na consolidação dos conceitos teóricos da 
Antropologia Cultural.
Ruth Benedict obteve seu PhD3 em 1923, sob orientação de Boas, com a tese The Concept of the 
Guardian Spirit in North America. Nessa época, ela tornou-se docente da Universidade de Columbia 
(1923-1931) e editou um importante periódico dessa linha de orientação da Antropologia: Journal of 
American Folk-lore (1924-1939).
Na linha aberta por Boas, Ruth Benedict posiciona-se academicamente contra as noções racistas 
da Antropologia anterior. Em seus estudos, ela indica a independência dos conceitos de raça, linguagem 
e cultura. Dessa forma, dissocia-se do campo que argumentava ser a raça um dos pressupostos do 
desenvolvimento cultural de um determinado povo. Benedict, assim como Boas, fecha a porta da 
Antropologia para a noção de superioridade de uma raça em relação à outra. Sua concepção original 
contribuiu para ampliar os horizontes da Antropologia como Ciência Social.
Em 1934, vem à luz uma das suas mais importantes obras: Padrões de Cultura (Patterns of Culture), 
obra fundamental para o desenvolvimento e consolidação dos conceitos teóricos da Antropologia 
Cultural.
No livro, Benedict defende o conceito de modelos culturais. Nele, a autora apresenta a cultura 
como algo dinâmico, baseada na ideia de totalidade cultural. Para Ruth, há traços característicos nas 
formas de produção cultural dos povos. Os indivíduos dessas formas de organização social devem se 
adaptar a esses modelos culturais.
Ela destaca dois modelos de organização cultural dos povos: o padrão apolíneo (equilibrado, 
harmonioso, ordenado, conformista, com tendência para a arte) e o padrão dionisíaco (violento, 
desordenado, conflituoso, com tendência para a guerra).
Dividido em três partes, o livro apresenta conceitos novos para a Antropologia da época. No 
primeiro capítulo, a autora apresenta o problema da pesquisa e dá ênfase aos aspectos centrais de seus 
trabalhos, em especial às questões da diversidade das culturas e de suas integrações.
Para demonstrar a magnitude da diversidade cultural dos povos, Benedict cita um provérbio dos 
índios Digger, narrado por um de seus informantes de campo: “No princípio, Deus deu um vaso a cada 
povo, um vaso de barro, e por este vaso bebiam a sua vida. Todos enchiam o seu vaso mergulhando-o na 
água. Mas os vasos eram diferentes. O nosso quebrou-se; desapareceu” (BENEDICIT, 1989, p. 34).
Para ela, os povos lançavam mão de aspectos culturais relevantes para a reprodução de suas vidas 
materiais e imateriais. Não havia superioridade entre uma forma e outra de organização cultural, mas 
aspectos importantes para determinados povos.
A diversidade das culturas resulta não apenas da facilidade com que as sociedades elaboram ou repudiam aspectos 
possíveis da existência. É devida ainda mais a um complexo entretecimento de feições culturais. A forma final de qualquer 
instituição tradicional vai, como dissemos, muito além do impulso humano original. Em grande parte essa forma final 
depende do modo como essa feição se fundiu com outras de diferentes campos da experiência. (BENEDICT, 1989, p. 49)
Para Benedict, as fusões das feições culturais consolidavam um “fenômeno universal”. Dessa 
forma, imaginar uma cultura “pura”, no sentido de não estar tingida por outra experiência cultural é uma 
3 PhD é a expressão abreviada do inglês americano Doctor of Philosophy que significa Doutor em Filosofia. Até o século XIX, os títulos de doutora-
mento só poderiam ser concedidos em Teologia, Direito ou Medicina. Em 1861, a University Friedrich Wilhelm, em Berlim, foi a primeira a conceder o 
grau a estudos das ciências da humanidade, o que aconteceu também em 1900 nos Estados Unidos e depois em 1917 no Reino Unido. 
É um avançado grau acadêmico exigido na carreira de professor universitário ou investigador científico. No Brasil equivale ao Doutorado.
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121|Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
impossibilidade, no arco cultural dos povos. O resultado desse processo é a integração das culturas, em 
diversos espaços humanos.
Benedict aprofunda, na segunda parte do livro, em um espaço geográfico restrito, um estudo 
comparativo de três povos:
Escolhi três civilizações primitivas4 para as descrever com certa pormenorização. Um pequeno número de culturas 
tomadas como organizações coerentes de comportamento, e mais instrutivo do que muitas, afloradas apenas nos 
seus pontos salientes. A relação de motivações e de propósitos com diferentes aspectos de comportamento cultural, 
no nascimento, na morte, na puberdade e no casamento, nunca pode ser esclarecida por uma revista que abranja o 
mundo. Devemos limitar-nos à tarefa menos ambiciosa da compreensão multilateral de algumas culturas. (BENEDICT, 
1989, p. 70)
Na parte final do livro, Benedict enfatiza que sociedade e indivíduos não são antagônicos, mas 
interdependentes.
Não há, propriamente, antagonismo entre o papel da sociedade e o papel do indivíduo. Uma das mais desnorteadoras 
falsas concepções devidas a esse dualismo próprio do século XIX, foi a ideia de que o que se tirava à sociedade dava-se 
ao indivíduo, e o que se tirava ao indivíduo dava-se à sociedade. Filosofias da liberdade, credos políticos de laissez- 
-faire5, revoluções que apearam dinastias, tudo isso se fundou nesse dualismo. O conflito em Teoria Antropológica entre 
a importância do padrão de cultura e a do indivíduo é apenas um aspecto insignificante dessa concepção fundamental 
da natureza da sociedade. (BENEDICT, 1989, p. 276-277)
Benedict dirá que sociedade e indivíduos não são antagônicos, pois a cultura fornece a matéria- 
-prima deque os indivíduos fazem a sua vida, material e imaterial.
Em Padrões de Cultura, Benedict destaca que cada cultura tem suas formas próprias de conceber 
seu ordenamento moral e ético. Esses ordenamentos só poderão ser compreendidos se forem estudadas 
as culturas desses povos como um todo, em seu conjunto e relações. Esses valores são importantes para 
os povos que os detêm. Para a autora, a moralidade de um povo é relativa ao seu universo cultural. Esses 
valores pertencem (Padrões Culturais) a sistemas coerentes e lógicos, com significados para esses po-
vos, por mais que destoem dos valores culturais dos ocidentais. Portanto, devem ser respeitados, como 
parte do grande arco de cultura da humanidade, sem hierarquização entre as culturas dos diferentes 
povos.
Ruth Benedict esteve entre os diversos intelectuais recrutados pelo governo dos Estados Unidos 
da América na mobilização de esforços para a Segunda Grande Guerra Mundial. No fogo da batalha, 
Benedict elabora o texto As raças da Humanidade (1945), com o objetivo de combater as noções de 
superioridade racial impregnadas no discurso nazista. O texto é um libelo contra a intolerância racial. 
Nele, Benedict fala da diversidade humana e dos encontros e misturas raciais produzidos pelo movimento 
da humanidade, em diversas partes do mundo.
Outra obra que faz parte desse esforço da sociedade norte-americana para a mobilização da 
guerra é o clássico O Crisântemo e a Espada, de 1946. O texto é um amplo estudo da sociedade e da 
cultura do Japão.
4 Os povos estudados por Ruth Benedict na pesquisa citada são os povos do Novo México (Índios Pueblo, do Sudeste), os Dabu (Ilha Dobu da 
Costa Sudeste da Nova Guiné Oriental) e os da Costa do Noroeste da América (do Pacífico ao Estreito de Puget).
5 Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa “laissez faire, laissez aller, laissez passer”, que significa “deixai fazer, deixai ir, 
deixai passar” . A expressão refere-se a uma ideologia econômica que surgiu no século XVIII, com o iluminista Barão Charles de Montesquieu 
(1689-1755) que defendia a existência de mercado livre nas trocas comerciais internacionais. O comércio internacional isento de impostos 
alfandegários traria maiores benefícios para as nações envolvidas do que a proteção da produção nacional, e por isso a utilização desse 
conceito é polêmica, pois pode significar benefício para alguns e prejuízo para outros.
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122 | Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
Ruth Benedict produz o que se denomina “Antropologia a distância”, exercitada no período 
anterior à etnografia, quando os antropólogos praticavam a “Antropologia de gabinete”. Ela radiografa 
a cultura do Japão por intermédio da literatura, dos jornais, revistas, filmes, arquivos e entrevistas com 
imigrantes japoneses. Nesse estudo a distância, a antropóloga pesquisa os padrões culturais dos povos 
em conflito, para compreender suas fragilidades e vulnerabilidades.
Benedict compreendeu o papel fundamental do Imperador do Japão para a cultura popular e 
para o imaginário social daquele país e orientou o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt6 
a permitir a continuidade do governo imperial, no período pós-rendição militar. Para ela, essa perma-
nência daria coesão à sociedade e permitiria a reconstrução do país, com menos grau de resistência por 
parte da sociedade japonesa.
Ruth Benedict manteve suas atividades acadêmicas, ao final da guerra, até a sua morte, em 1948. 
A exemplo de seu mestre, Franz Boas, ela ajudou a formar uma das mais brilhantes gerações de antro-
pólogos do pós-guerra.
Margaret Mead (1901-1978) – 
A Antropologia como vocação científica e política
A antropóloga norte-americana Margaret Mead formou-se em Antropologia no Barnard College 
(Nova York). Desenvolveu sua pesquisa de pós-graduação na Universidade de Columbia. Seu primeiro 
livro – Coming of Age in Samoa (1928) – é fruto de uma longa pesquisa de campo feita nessa pequena ilha 
do sudoeste central do Oceano Pacífico. Na região, Mead estudou as influências biológicas e culturais 
no comportamento dos adolescentes da comunidade.
A partir desses primeiros estudos, os trabalhos de Mead passaram a ter forte influência na Escola 
Culturalista e no universo da produção acadêmica. Seus trabalhos seguintes – Growing up in New Guinea 
(1930) e Sex and Temperament (1935) – estudam o papel determinante da cultura na formação dos 
valores – moral, ético e aspectos deontológicos – e na conduta social junto ao grupo.
Um dos seus trabalhos de campo de maior destaque foi o realizado com o antropólogo Gregory 
Bateson – seu marido na época –, em Bali. Dessa pesquisa de campo resultaram mais de 38 mil foto-
grafias, consolidando uma metódica nova de capturação das informações antropológicas em campo: a 
possibilidade de se fazer o registro fotográfico – Balinese Character: a photographic analysis (1941). Essa 
experiência pioneira deitou profundas raízes no campo de estudos da Antropologia Visual.
Sua gama de interesse se estendeu para o estudo da sociedade norte-americana no pós-guerra. 
Entre suas pesquisas estavam a educação, as formas de organização dos jovens, os comportamentos 
sexuais, as formas e normas das condutas sociais, os direitos das mulheres e a ecologia, novamente 
como pioneira de um campo específico de estudo e atuação política.
6 Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), foi presidente dos Estados Unidos da América (1933-1945), realizando quatro mandatos. Durante 
seu governo enfrentou o período da Grande Depressão (a Crise de 1929, pior e mais longo período de recessão econômica do século XX) e foi 
responsável pela entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial (1939). Recuperou os EUA após a Crise de 1929 criando melhores 
condições de vida e trabalho aos norte-americanos e favorecendo a construção do país como grande potência.
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123|Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
Mead lecionou na Universidade de Columbia e atuou no American Museum of Natural History. Em 
1979, um ano após a sua morte, ela foi homenageada com a horária Presidential medal to Freedom, 
em razão dos seus estudos acadêmicos e de suas posições políticas, em defesa da liberdade e da luta 
contra o racismo na sociedade norte-americana.
Marcantes no trabalho de Margaret Mead foram os seus esforços de colocar à disposição do leitor 
comum suas reflexões e estudos no campo da Antropologia. Segundo suas palavras, seu objetivo central 
era dar às pessoas ferramentas teóricas e conceituais que permitissem a elas compreender o mundo e as 
suas possibilidades de ações nesse mundo real. Para ela, a Antropologia deveria servir para melhorar 
“a raça humana”. Mead advogava que as civilizações antigas tinham muito o que ensinar às modernas, 
em relação aos seus valores e formas de relacionamento coletivo. Por isso, escreveu, refletiu e militou 
em favor da liberdade sexual, dos direitos das mulheres e da igualdade racial.
Margaret Mead criticou os cientistas que se colocavam à margem das reflexões contemporâneas da 
sociedade. Para ela, um dos problemas da ciência é que ela aponta para certos aspectos negativos da reali-
dade, de forma simplificada. Segundo Mead, muitos cientistas e docentes evitavam a reflexão profunda, 
com respostas simples, curtas e grosseiras, para questões complexas, amplas e sofisticadas.
A antropóloga norte-americana advogava que a cultura é uma lente pela qual homens e mulheres 
enxergam a realidade social. Há, segundo Mead, múltiplas possibilidades de observação do mundo, 
dependendo da maneira como a pessoa foi ensinada para vê-lo, pensá-lo e experimentá-lo, e das suas 
reais condições étnicas(cor da pele e condições raciais), regionais (local de nascimento), e climáticas. 
Esses fatores mudam as perspectivas com as quais as pessoas veem o mundo e interagem com ele.
Em seu livro Sexo e Temperamento7, Margaret Mead põe em prática muita de suas concepções 
sobre o papel social da Antropologia. A obra tornou-se uma referência cultural, fora dos círculos 
acadêmicos. Nela, Mead expõe os resultados de seu trabalho de campo na Nova Guiné, sobre as formas 
de relacionamento sexual e os respectivos papéis desempenhados por homens e mulheres daquela 
comunidade.
Segundo Mead, as culturas Arapesch e Mundugomor não estabeleciam padrões distintos nos 
aspectos sentimentais para homens e mulheres. Existe um tipo de personalidade e temperamento, 
aprovado por todos os membros da sociedade, o que permite, segundo Mead, afirmar que a cultura 
Arapesch caracteriza-se como uma sociedade maternal, com comportamentos dóceis. Já entre os 
Mundugomor o comportamento era agressivo e incentivado pelo grupo social, tanto por homens como 
por mulheres. “Entre os Arapesh e os Mundugomor, os homens e as mulheres possuem idealmente a 
mesma personalidade social, ao passo que entre os Tchammbuli suas personalidades se opõem e se 
completam” (MEAD, 1969, p. 255).
Para Mead, é o meio social que modela a personalidade das pessoas, e não o código genético. 
Segundo a antropóloga, se forem retirados alguns ornamentos culturais aos homens e mulheres, tem-
se o mesmo animal. Mead reafirma que é a sociedade a responsável por fazer crescer as mulheres como 
elas são, e faz as mulheres atuarem como mulheres e os homens atuarem como homens.
Mead defende a existência de três tipos distintos de culturas: a pós-figurativa, a cofigurativa e a 
prefigurativa. Cada uma implica um tipo diferente de organização cultural dos homens e mulheres no 
grupo.
7 Da comparação entre três culturas (Arapesh, Mundugomor e Tchammbuli) que compartilhavam de uma organização social semelhante, 
Mead destaca que em duas delas (as duas primeiras mencionadas) a cultura não estabelece um padrão sentimental distinto para homens e 
mulheres.
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124 | Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
A primeira configura uma sociedade em que a criança aprende com os mais velhos. O acervo 
cultural é tido como definitivo e não há questionamentos críticos. Na segunda, há o predomínio do 
modelo de aprendizado junto com os seus próprios pares. Mead dá o exemplo dos filhos de imigrantes 
que aprendem mais com os colegas do que com os pais. Na terceira, são os adultos que aprendem com 
os jovens.
Margaret Mead indica que nas sociedades desenvolvidas e modernas coexistem as três formas de 
organização da cultura. Mas há uma forte tendência da cultura prefigurativa, em razão das mudanças 
tecnológicas e da ciência, em que as gerações mais jovens têm maior domínio das informações técnicas 
atualizadas, e tendem a ensinar mais sobre tais tecnologias do que aprender.
Margaret Mead teve papel destacado na Escola Culturalista pelas pesquisas realizadas e pelos 
seus posicionamentos ante os problemas concretos do seu tempo, em relação ao comportamento 
sexual, aos direitos das mulheres e a luta contra o preconceito racial. Ela exerceu a Antropologia como 
vocação científica – compreensão dos complexos mecanismos sociais que configuram os compor-
tamentos do grupo – e como vocação política – a Antropologia como instrumento de mudanças na 
realidade social do seu tempo.
Melville Jean Herskovitz (1895-1963) – a Antropologia 
do endoculturalismo
O antropólogo norte-americano Melville Jean Herskovitz teve, em sua formação, forte influência 
do antropólogo Franz Boas, durante seu período de estudo nas Universidades de Chicago (1920) e 
Columbia (1923). Herskovitz lecionou Antropologia desde 1927. O antropólogo desenvolveu pesquisas 
etnográficas de campo no Suriname, Haiti, Trinidad e Tobago, Brasil e em diversos países africanos, onde 
realizou suas mais importantes pesquisas.
Seu principal campo de pesquisa foi o universo cultural de raízes africanas: The American Negro: 
A study in racial crossing (1928) – estudo antropológico cultural dos negros americanos, identificados 
como um grupo cultural distinto; Daomé (1938); The Myth of the Negro Past (1941); Man and His Works 
(1949; reeditada em 1955 como Antropologia Cultural); Franz Boas (1953 ); Dahomean Narrative: a cross 
– cultural analysis (1958, com sua esposa, Frances S. Herskovitz); The Human Factor in Changing Africa 
(1962), e suas pesquisas sobre Antropologia Econômica (Economic Anthropology: a study in comparative 
economics, 1952).
Para Herskovitz, a cultura origina-se de fatores ligados ao homem, como o meio ambiente, a 
Psicologia, a Sociologia, a Antropologia e a História. Esses fatores contribuem com a formação da cultura 
em uma determinada sociedade.
A exemplo de outros membros dessa escola, Herskovitz defende que essa cultura deve ser apre-
endida, de modo estruturado e dinâmico, por seus integrantes. Dessa forma, há um acúmulo cultural de 
saberes – saber, saber-fazer e ser – abertos aos aperfeiçoamentos contínuos, que são imprescindíveis 
para a adaptação ao ambiente, mesmo quando não são perceptíveis.
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O antropólogo norte-americano distribuía a cultura em quatro instâncias: a cultura material e 
suas sanções; as instituições sociais; o homem e o universo; a estética e a linguagem. Nessas dimensões, 
estariam enfeixadas todas as possibilidades de produção e reprodução cultural das vidas materiais e 
imateriais dos homens em sociedade.
Para ele, uma cultura pode ser modificada de duas formas: contato com outro sistema cultural 
ou por via da dinâmica cultural interna do grupo. Herskovitz identifica esse processo como aculturação, 
sistematizado num documento denominado Memorando para o Estudo da Aculturação, produzido por 
ele em 1936.
Nesse memorando, Herskovitz define aculturação como um conjunto de fenômenos, resultantes 
do contato contínuo e direto entre grupos de culturas distintas. Esses contatos com o tempo provocam 
mudanças nos modelos culturais (padrões culturais) de um ou dos dois grupos. Herskovitz advogava 
que os sistemas culturais estão em mudanças contínuas, por intermédio de reelaborações, tensões 
internas ou acomodações, e não estáticos, paralisados e ossificados.
Dessas pesquisas de campo, Herskovitz tirou os elementos fundamentais da conceituação de re-
lativismo cultural. A teoria elaborada por Franz Boas na década de 1930 – portanto, ainda submersa no 
caldo de cultura da superioridade racial e cultural – defende que nenhuma cultura pode ser considera-
da superior em relação à outra. Cada cultura deve ser entendida dentro do seu universo cultural, sem 
comparação entre elas, pois cada uma responde ao contexto que a forjou.
Herskovitz emprega o conceito de endoculturação como sendo processo de aprendizagem e edu-
cação desde a infância. Para ele, esse processo estrutura o condicionamento da conduta, do comporta-
mento das relações, que dão estabilidade e constância à cultura de um determinado grupo humano.
Os elementos de um grupo social recebem os valores – crenças, comportamentos, modos de 
vida, visão de mundo, aspectos cosmológicos, valores éticos – do grupo social ao qual estão ligados. 
Essa transmissão de valores modela os comportamentos dos seus membros. A sociedade não tolera o 
desvio desses comportamentos. Todos os atos, comportamentos, regras e valores do grupo são contro-
lados pela sociedade e pelas suas relações. Assim, Herskovitz analisava o papel da endoculturação em 
um determinado grupo social.
Herskovitz também teveintenso destaque político. Em 1947, logo depois da Segunda Grande 
Guerra, o antropólogo apresentou à Organização das Nações Unidas (ONU) uma recomendação para 
que fossem respeitadas as culturas dos diferentes povos do mundo, sem o traço e ranço da suposta 
superioridade cultural do Ocidente, em relação aos demais povos do planeta.
Para Herskovitz, ao aceitar a tarefa da Antropologia como instrumento para a busca do lugar ocu-
pado pelo homem no mundo, o relativismo cultural surge como um passo importante na direção dessa 
vocação da disciplina e na consolidação do respeito à diferença e a pluralidade cultural dos povos.
Segundo o antropólogo norte-americano, os padrões culturais são como contornos adquiridos 
pelos membros de uma cultura. Há, nesse universo cultural, coincidências de padrões individuais de 
conduta, manifestos por esses membros da sociedade, que dão liga ao modo de produção e reprodução 
da vida da comunidade, com coerência, sentido de continuidade e de forma diferenciada. O padrão 
cultural é um comportamento generalizado, com regras e condutas, aceitas ou rejeitadas, pelos 
membros de uma determinada forma de organização social.
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Para Herskovitz, os padrões têm dois significados complementares: 
forma:::: – quando diz respeito às características dos elementos (casas cobertas de telhas e não 
de madeiras ou palhas);
psicológico:::: – quando se refere à conduta das pessoas (comer de garfo e faca e não com 
pauzinhos, à moda oriental).
O antropólogo norte-americano teve intensa troca de informações com o estudioso do negro 
brasileiro Arthur Ramos8. Durante um longo período, os dois pesquisadores do universo negro desen-
volveram uma ativa troca de informações. O Brasil era encarado como um laboratório racial, com fortes 
traços da miscigenação, distintos dos Estados Unidos e de outros países do mundo. Essa característica 
deslocou para o país olhares de vários pesquisadores das ciências sociais. O interesse pelos estudos 
culturalistas estreitou os laços de estudos desses pesquisadores, na década de 1930.
Herskovitz e Ramos trocaram as primeiras correspondências entre os anos 1935 e 1941. Em 1941, 
os dois pesquisadores estiveram juntos na Northwestern University, quando Arthur Ramos acompanhou 
durante dois meses o seminário sobre aculturação, apresentado por Herskovitz. Entre os anos 1941 e 
1942, o antropólogo norte-americano desenvolveu pesquisa de campo no Brasil. Os dois pesquisadores 
trocam correspondências até 1949, ano da morte do pensador brasileiro. Em muitos pontos, as obser-
vações desses estudiosos convergiam, em outros divergiam, mas mantiveram o prumo no campo da 
pesquisa da antropologia cultural como linha de suas pesquisas.
Por essa via, a presença do pensamento de Herskovitz no universo intelectual brasileiro é 
expressiva e, assim como Boas no passado, influenciou parte do pensamento antropológico brasileiro 
em relação aos estudos de caráter cultural.
Ralph Linton (1893-1953) – cultura e personalidade
Ralph Linton foi um dos mais importantes antropólogos norte-americanos no século XX. No 
início da década de 1910, estudou na Swarthmore College. Na juventude, durante um acampamento, 
apaixonou-se pela Arqueologia. Graduou-se em Educação e mais tarde obteve seu mestrado na Uni-
versidade da Pensilvânia. Desenvolveu estudos na Universidade de Columbia e depois ingressou na 
Universidade de Harvard.
Entre os anos de 1925 e 1927, Linton realizou pesquisas em Madagascar, onde desenvolveu 
importantes estudos etnográficos. Como resultado desses trabalhos de campo, Linton foi convidado a 
suceder Boas na direção do Departamento de Antropologia da Universidade de Columbia, em 1937.
Depois da Segunda Grande Guerra, Linton foi para a Universidade de Yale. Nessa instituição, lecio-
nou de 1946 a 1953. Em Yale, Linton deu continuidade às suas produções sobre cultura e personalidade 
até o final de sua vida.
8 Arthur Ramos de Araújo Pereira (1903-1949) foi um médico psiquiatra, psicólogo social e antropólogo brasileiro. Considerado um dos 
maiores cientistas da humanidade, publicou em 1934 O Negro Brasileiro, assumiu a cátedra de Psicologia Social e foi consagrado o pai da 
Antropologia Brasileira. Fundou a Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnografia do Rio de Janeiro e, no fim dos anos 1940, assumiu a 
direção do departamento de Ciências Sociais da Unesco em Paris, cargo que exerceu até sua morte.
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Sua principal obra foi o estudo publicado em 1936: O Homem: uma introdução à antropologia. 
Nele Linton apresenta suas ideias centrais sobre o homem e sua trajetória na linha do tempo e no 
espaço, desde os seus primórdios.
Ralph Linton definiu cultura como herança social. Para ele, os fatos culturais são frutos das 
necessidades humanas biológicas (alimentação, habitação, vestuário), sociais (organização social, 
organização política, ensino) e psíquicas (crenças, valores estéticos, representações, pensamentos). Essa 
cultura modela o homem na sua experiência de construção material e imaterial da vida.
Logo no início do livro, Linton diz:
Muitos pormenores acerca da origem e desenvolvimento do homem são ainda desconhecidos; mas que nossa espécie 
evoluiu a partir de alguma forma inferior de vida, já não é posta em dúvida por quem quer que esteja familiarizado com 
os fatos [...] A não ser que a ciência toda esteja em erro, não somos anjos decaídos, mas animais aperfeiçoados. E é nessa 
crença que o cientista baseia suas esperanças no futuro da nossa espécie. (LINTON, 1976, p. 23)
Dessa forma, Linton apresenta sua concepção de ser humano, sobre a qual deitará uma ampla 
gama de reflexão, que atravessa os conceitos de raça, sociedade, família, casamento, tribo, estado, indi-
víduos, história, até aportar nos conceitos de cultura e personalidade.
Nesse par de conceitos, Linton apresenta sua concepção de homem e cultura em uma determi-
nada sociedade:
Há indubitavelmente uma relação íntima entre essa configuração da personalidade e a cultura da sociedade a que o 
indivíduo pertence. Na medida em que constitui alguma coisa mais que uma abstração feita pelo investigador, a cul-
tura só existe no espírito dos indivíduos que compõem uma sociedade. Suas qualidades provêm das personalidades 
desses indivíduos e da sua interação. Inversamente, a personalidade de cada um dos indivíduos existentes no interior 
da sociedade desenvolveu-se e funciona em associação constante com sua cultura. As personalidades afetam a cultura 
e a cultura afeta a personalidade. Da influência exercida no desenvolvimento da cultura por certas personalidades, já 
tratamos de considerar as dinâmicas da mudança cultural. Neste capítulo nos limitaremos ao outro lado da questão, 
isto é, à possível influência da cultura sobre a personalidade. (LINTON, 1976, p. 460-461)
No seu trabalho, Linton consolida a visão da importância do papel da cultura na formação dos 
grupos sociais. Para ele, a cultura é um agregado de subculturas, uma forma singular de vida de um 
grupo menor, dentro de uma relação social ampla. Essas subculturas têm níveis diferentes de conflitos 
pontuais – com a cultura mais ampla e com outras subculturas –, no entanto, elas se mantêm coesas 
entre si. Para Linton, essas subculturas não têm valor conotativo de superioridade e inferioridade entre 
si. Elas são distintas devido ao nível de organização interna e da estrutura de seus elementos. Elas não 
estão, segundo Linton, necessariamente ligadas a um espaço geográfico, em especial.
Para Linton, as culturas são formadas por regras e normasde comportamentos ou costumes (valores 
e crenças). Ele classifica essas regras em três grupos distintos, de acordo com o nível de participação 
– obrigatória e facultativa – dos indivíduos: as universais – regras dirigidas a todos os membros da 
comunidade; as especialidades – focadas em grupos menores de indivíduos; e as alternativas – facultadas 
a alguns dos indivíduos do grupo social.
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128 | Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
Ruth Landes (1908-1991) – 
narrativas etnográficas da experiência de campo
A antropóloga norte-americana Ruth Landes estudou na prestigiosa Universidade de Columbia, 
em Nova York. A fim de desenvolver pesquisa de campo, rumou para o Brasil em 1938 para estudar as 
relações raciais do país, como parte dos seus estudos de doutorado. O foco da sua pesquisa deu-se na 
Bahia, onde trabalhou com Edson Carneiro e, em 1939, foi expulsa pela polícia política do Estado Novo9 
pelo seu envolvimento com as religiões afrodescendentes10.
Publicou, em 1947, sua principal obra, A cidade das Mulheres, em que destaca o papel das mulheres 
no candomblé brasileiro. Nesse período, a antropóloga manteve contato com as principais figuras 
culturais do universo negro baiano, como a Iyalorixá Menininha do Gantois11 e o Babalawo Martiniano 
do Bonfim12.
No prólogo do livro, Ruth Landes apresenta a métrica do seu trabalho de campo e sua filiação à 
Antropologia Cultural, conduzida pelos principais articuladores dessa linha antropológica.
O material para este livro foi colhido durante uma pesquisa antropológica de campo na Bahia e no Rio de Janeiro, em 
1938 e 1939, generosamente apoiada pelo Conselho de Pesquisas em Ciências Sociais da Universidade de Columbia 
e dirigida pelo Departamento de Antropologia da Universidade. Muitas pessoas, de diversas maneiras, ajudaram, de 
todo coração, com orientações, conselhos e críticas indispensáveis. Nos Estados Unidos a Dra. Ruth Benedict e o Dr. 
Franz Boas, da Universidade de Colúmbia, já falecidos, deram-me simpatia e apoio seguros. Igualmente amáveis e 
instrutivos foram [...] a Dra. Margaret Mead, do Museu Americano de História Natural [...]. No Brasil, [...] Édison Carneiro 
[...] (LANDES, 2002, p. 33)
A partir daí, Landes passeia pelo multiverso cultural da religião afrodescendente – o destaque do 
papel das mulheres nessa estrutura religiosa, as particularidades das formas de organização litúrgicas, 
9 Estado Novo foi o período da história republicana brasileira em que Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e instaurou uma ditadura 
(1937). Ele determinou o fechamento do Congresso Nacional e extinção dos partidos políticos, outorgou uma nova Constituição, que lhe 
conferia o controle total do poder executivo e contava com a censura aos meios de comunicação realizada pelo Departamento de Imprensa e 
Propaganda (DIP). O regime de governo do Estado Novo teve seu fim em 1945, quando o então presidente Getúlio Vargas foi deposto.
10 As religiões afrodescendentes têm sua matriz identitária na cosmovisão africana. No Brasil, a partir do século XVI, com a chegada de africanos 
escravizados das nações Nagô, Jeje e Bantu, para além das proibições e perseguições históricas, estruturaram-se formas de manifestações 
religiosas, como o Candomblé Ketu e o Candomblé Angola, que preservam a ritualística e a visão de mundo das culturas de suas nações africanas 
de origem.
11 Maria Escolástica da Conceição Nazareth (1894-1986), brasileira da cidade de São Salvador na Bahia. Iniciada no Candomblé Ketu e filha de 
Oxum. Descendente de nigerianos e neta de D. Maria Júlia da Conceição Nazareth, fundadora do Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê (1849) que recebeu 
o popular nome de Terreiro do Gantois, pois as terras onde foi construído foram compradas de um francês conhecido como Senhor Gantois. 
Mãe Menininha tinha 28 anos de idade quando assumiu a função de dirigente e a cadeira de Iyalorixá do Candomblé do Gantois, considerada 
jovem, por sua idade cronológica, em relação às sacerdotisas de outros terreiros recebeu o apelido de Menininha. Foi uma das Iyalorixás mais 
importantes da Bahia e do Brasil, reconhecida como referência religiosa, também pelo enfrentamento a perseguições policiais violentas que 
reprimiam o culto aos Orixás e como defensora da história da cultura negra por meio da preservação dos primeiros terreiros de Candomblé 
em Salvador o Engenho Velho e a Casa Branca.
12 Martiniano Eliseu do Bonfim (1859-1943), brasileiro de São Salvador da Bahia, foi filho de pais africanos que compraram suas alforrias 
no Brasil. Também conhecido como Ojeladê, nome dado por seus pais ao nascer e que após sua morte integrou-se à hierarquia de alguns 
terreiros de culto aos ancestrais na Ilha de Itaparica, foi enviado por seu pai para estudar a língua ioruba e as tradições africanas em Lagos, na 
Nigéria (1875) onde viveu durante onze anos e recebeu o título de Babalawo (sacerdote no culto a Ifá). Voltando a Salvador, tornou-se um dos 
líderes religiosos que exerceu grande influência na comunidade baiana e sempre manteve estreita ligação com destacados intelectuais. Por 
seus conhecimentos, seu imenso prestígio e saber religioso. Martiniano foi um membro muito influente dos candomblés da Bahia, desde os 
fins do século XIX. Babalawo e conselheiro – nas mais antigas e prestigiosas casas de santo, colaborou com Mãe Aninha na estruturação dos 
Ministros de Xangô no Ilê Axé Opo Afonjá onde também recebeu o honroso título de Ajimudá. Participou da organização da União de Seitas 
Afro-Brasileiras no segundo Congresso Afro-Brasileiro, realizado em Salvador, em janeiro de 1937.
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129|Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
o matriarcado e as relações de gênero, a forma de culto no Brasil e o impacto da escravidão no universo 
feminino.
Ao chegar à Bahia, Landes não oculta o impacto que a cidade provocou em sua percepção e a 
ruptura epistemológica provocada pela chegada do etnógrafo ao campo de pesquisa:
Era manhã cedo, num domingo quente, de céu claro, e a cidade de dois andares da Bahia – a Cidade do Salvador – 
estendia-se branca e ofuscante acima das águas. Estivadores negros se aglomeravam nas docas, esperando o navio 
atracar. Senti-me completamente suspensa no espaço, no tempo, nos pensamentos. Quão longe, quão longe estava 
isto dos livros, da biblioteca e mesmo das salas de aula de Fisk! (LANDES, 2002, p. 45)
Nessa obra, Landes exercita a técnica da etnografia com maestria, com tudo que o pacote tem 
direito – pesquisas de campo e diários de campo (registros antropológicos do pesquisador em campo; 
espaço da memória social e da construção da subjetividade) –, para o registro da alteridade e pluralidade 
cultural.
O livro é escrito na contramão do que vigia nas Ciências Sociais da época, em especial no Brasil. 
Landes contribui, no campo da disciplina, com a revitalização da construção narrativa da Antropologia, 
com as digitais da pesquisa de campo, perspectiva do estudo comparativo, a sensibilidade para a 
questão da mulher e pelo papel do indivíduo na construção do conhecimento.
Em suma, parece que o favoritismo de fundo sexual dos senhores do Novo Mundo se combinou com os precedentes 
culturais da África para elevar o status das mulheres escravas no Hemisfério Ocidental, em especial, nas sociedades de 
origem católica-mediterrânica, atingindo o auge no Brasil, onde tanto brancos quanto negros mantiveram significa-
tivos contatos com a África Ocidental. A tendência se estabeleceu firmemente nas instituições e no pensamento do 
povo, e assim continua. Contudo, a classe média emergente de colored por toda parte se bate conscientemente pelos 
valores da sociedade dominante, embora certos eruditosacreditem que os celebrados valores populares das mulheres 
negras do Brasil tenham funcionado insensivelmente para liberalizar a posição social das mulheres brancas brasileiras. 
(LANDES, 2002, p. 352)
Na época da publicação, seu trabalho foi duramente criticado por Herskovitz e Arthur Ramos, por 
considerá-lo um mero registro de viagem. Mas, para muitos, Landes foi criticada pelas suas opções em 
registrar aspectos culturais ligados às mulheres, à sexualidade e às relações raciais.
Roger Bastide (1898-1974) – 
interpenetrações das civilizações
O sociólogo francês Roger Bastide foi um dos professores convidados para ajudar na criação da 
Universidade de São Paulo (USP), em 1938. Bastide foi o responsável pela cátedra de Sociologia da recém 
instituição, onde formaram-se importantes intelectuais brasileiros, entre eles Florestan Fernandes, 
Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza, Maria Isaura P. de Queiroz, Fernando Henrique Cardoso e 
Otávio Ianni. No Brasil, o sociólogo francês estudou as religiões afrodescendentes como o candomblé 
baiano. Muitas de suas obras importantes versam sobre o universo negro e a presença africana na 
construção da civilização brasileira, foco das pesquisas antropológicas do período.
Bastide estuda o sincretismo e a herança africana, nas artes e religião. Suas primeiras investidas 
docentes deram-se no campo da estética sociológica e da pesquisa sobre a arte brasileira. Ele estuda 
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130 | Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
o barroco – a obra de Aleijadinho13 – e a poesia afro-brasileira. Em 1945, publica Imagens do Nordeste 
Místico em Branco e Preto, sobre sua primeira viagem pelo Brasil.
Na década de 1960, Bastide publica uma obra focada diretamente nas religiões afrodescendentes: 
Religiões Africanas no Brasil, em que exercita os pressupostos teóricos da Sociologia da religião.
O sociólogo apresenta dois conceitos importantes para a leitura da presença africana na 
miscigenada cultura brasileira: o “princípio de corte” e as “interpenetrações de civilizações”, para a 
compreensão da heterogeneidade cultural do país. Segundo Bastide, que substitui paulatinamente 
o termo sincretismo por interpenetração, as religiões afrodescendentes mantinham os pés em dois 
mundos: o africano e o europeu, em razão do princípio de corte, que assegurava a preservação de suas 
características originais.
Sobre esses conceitos, Bastide disse, na introdução de O Candomblé da Bahia:
Não negamos o interesse de todos esses estudos (as pesquisas anteriores, como a de Melville Jean Herskovitz). Nossa 
tese principal14 foi consagrada ao problema das transformações, das interpenetrações e das metamorfoses resultantes 
do contato entre civilizações. Mas, mesmo que os traços de “culturas” africanas tenham sofrido modificações, na 
verdade, o candomblé deixa de constituir um sistema harmonioso e coerente de representações coletivas e de gestos 
rituais [...]. (BASTIDE, 2001, p. 24)
Segundo Bastide, para os estudos das sobrevivências africanas na civilização brasileira, não bastava 
fazer o trabalho etnográfico de descrição dos ritos ou citar nomes das divindades. Era necessário, sem 
o obstáculo da tendência de reinterpretar os dados segundo a mentalidade ocidental, compreender a 
“epistemologia afro-americana”, ou o sistema de construção do conhecimento do mundo, característico 
dessa civilização.
Com o objetivo de compreender a magnitude da epistemologia africana no Brasil, Bastide teve 
uma intensa produção bibliográfica, tendo o negro como o foco de seus trabalhos: Psicanálise do Cafuné 
(1941); Imagens do Nordeste Místico em Branco e Preto (1945); O Candomblé da Bahia (1958); Sociologia 
do Folclore Brasileiro (1959); As Religiões Africanas no Brasil (1971); Estudos Afro-brasileiros (1973) e As 
Américas Negras (1974).
Fernando Fernándes Ortiz (1881-1969) – 
transculturação
Fernando Ortiz foi um pioneiro dos estudos das civilizações africanas em Cuba. Ortiz estudou 
o arco da produção cultural afro-cubana, em suas múltiplas dimensões, da culinária, passando pelos 
instrumentos musicais – tambores – até os ritos religiosos africanos.
13 Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), escultor, brasileiro de Minas Gerais. Filho de mãe africana escravizada e pai português que o alforriou 
ao nascer e lhe ensinou arquitetura e a arte de esculpir. Aleijadinho é considerado o maior expoente do estilo barroco mineiro e das artes 
plásticas no Brasil colonial. Em 1777 começou a desenvolver uma doença degenerativa dos membros que comprometeu os movimentos das 
mãos e por isso ficou conhecido como Aleijadinho.
14 A tese principal do autor, defendida na Universidade de Paris para obter o grau de Doctorat d’État, foi consagrada ao estudo das 
interpenetrações de civilizações e a segunda tese, “a pequena tese”, e esta ora introduzida, sobre o candomblé baiano de rito nagô. (N.T.) 
(BASTIDE, 2001, p. 23).
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131|Escola antropológica do Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos
Fernando Ortiz, filho de pai espanhol e mãe cubana nasceu em Havana, em 1881. Cresceu entre 
Cuba e Espanha, onde se graduou e doutorou-se em Direito.
Ortiz manteve contato direto com os conceitos produzidos na fornalha da Antropologia Cultural. 
Trocou correspondência com Herskovitz sobre a natureza dos encontros culturais na Ilha Caribenha.
Nesse exercício conceitual, cunhou a expressão transculturalismo como um fenômeno social 
importante para a compreensão da heterogeneidade cultural cubana.
Segundo Ortiz, o neologismo “transculturação” era para substituir, na terminologia sociológica, 
o conceito de “aculturação”, compreendido por ele como o trânsito de uma cultura para outra e suas 
implicações sociais.
Transculturação expressa os variados fenômenos que se originaram em Cuba, por meio de 
complexos processos de transmutações de culturas, que atravessavam todas as manifestações culturais 
do país: econômica, política, social, jurídica, religiosa, ética, artística, psicológica, sexual, entre outros 
aspectos da vida cubana.
Segundo Ortiz, a história de Cuba era a história de intricados momentos de transculturação, 
do índio, desaparecido sob o impacto da cultura espanhola; dos imigrantes brancos espanhóis, sob 
o impacto da miscigenação da nova cultura do Novo Mundo; dos negros africanos, sob o impacto do 
novo ecossistema cultural.
Entendemos que o vocabulário transculturação expressa melhor as diferentes fases do processo de transição de uma 
cultura para outra, porque esse não se consiste somente em adquirir uma cultura distinta, que é o que a rigor indica o 
termo anglo-saxônico aculturação; o processo implica também necessariamente a perda, o desenraizamento de uma 
cultura anterior, o que se poderia dizer uma desculturação parcial, além da criação de novos fenômenos culturais que 
podem ser denominados de neoculturação [...] (ORTIZ, 1993, p. 148)
Segundo Ortiz, a orquestração desse processo chama-se transculturação. Para explicar o conceito, 
Ortiz formula uma metáfora culinária: o ajiáco (guisado com tempero de pimentão), cozido cubano, no 
qual vários pedaços são cozidos, com a dissolução de alguns e a permanência de outros. A cultura 
transcultural cubana – de trocas culturais entre os diversos povos – é um cozido com todos os elementos 
em processo de mudança e transformação, misturando-se em um caldo sintético.
A metáfora expressa a realidade de culturas multiculturais, onde predomina o encontro de várias 
matrizes civilizatórias, em processo permanente de troca de elementos culturais, com ressemantizações 
e reinvenções permanentes.
Considerações finais
A Teoria da Antropologia Cultural expandiu o repertório conceitual das Ciências

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