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RESENHA “Escolarizando o Mundo: O Último Fardo do Homem Branco” Schooling the World: The White Man's Last Burden. Escolarizando o Mundo: O Último Fardo do Homem Branco. Direção: Carol Black. Produção: Neal Marlens, Jim Hurst e Mark Grossan. Lost People Films, 2010. 65 min. O documentário “Escolarizando o Mundo: O Último Fardo do Homem Branco” aborda a escolarização tradicional promovida pelo modelo ocidental como instrumento de unificação e homogeneização cultural. Dirigido e editado por Carol Blanck, o filme é uma coprodução americana e indiana que conta com a participação de diversos convidados, entre eles, o antropólogo e etnobotânico Wade Davis (National Geographic Society) e da linguista Helena Norberg-Hodge (The International Society for Ecology and Culture (ISEC)). O filme tem início com uma perspectiva histórica que analisa a imposição da escolarização como método de doutrinação e dominação iniciada pelos Estados Unidos e Inglaterra durante o período colonial. Os atuais projetos de escolarização foram retratados na cidade de Ladakh, situada no sudeste da Ásia, onde vivem populações tradicionais que mantem vivas sua língua original, suas atividades de subsistência agrícola, religião e cultura. De modo semelhante ao que ocorreu durante colonização do período colonial, o filme mostra como a educação ocidental leva à destruição do modo de vida tradicional, à perda da diversidade cultural e dos valores familiares e à homogeneização cultural. Nos argumentos apresentados pelo documentário, o sistema educacional moderno é mostrado como um instrumento de inserção dos educandos na economia global, estimulando sucesso material e o consumismo. A imposição da cultura ocidental prepara o aluno para a utilização de produtos de uma cultura urbana, tornando o “educado” despreparado para viver no seu ambiente de origem, afastando-o se sua cultura tradicional, além de criar um sentimento de inferioridade. Em oposição, são apresentados como argumentos a favor da educação a eliminação da pobreza e o desenvolvimento dos educandos. Esses são apoiados por grandes corporações urbanas e organizações não governamentais, como a ONU. O documentário de Carol Blanck apresenta uma diferente visão sobre a educação, http://jimhurstmedia.com/ http://jimhurstmedia.com/ http://www.localfutures.org/ http://www.localfutures.org/ apresentando seus aspectos negativos, descontruindo a visão atualmente aceita da educação como forma de ascensão social e de desenvolvimento humano. Ao ignorar as diferenças culturais ou individualidades, não permitindo que elas existam ou se expressem, a educação pode potencializar as diferenças no ambiente escolar, provocando o sentimento de inferioridade do educando ou levando a sua perda de identidade e ao esquecimento da sua própria cultura. A “Educação para todos”, programa apresentado pelo filme sancionado pelos governos mundiais, surge com o principal objetivo de erradicar a pobreza global. Aos educandos deste programa, representados pela população indiana, são impostos valores, normas e o idioma da sociedade moderna ocidental. Eles são estimulados e preparados para o competitivo e escasso mercado de trabalho indiano. A potencialização das diferenças pode ser evidenciada quando os indivíduos “educados” são inseridos na cultura urbana em empregos de baixo prestígio social, com baixos salários ou não conseguem empregos nas grandes cidades, estando também despreparados para sobreviver no seu ambiente de origem. O documentário utiliza como recurso belas imagens das paisagens do Himalaia e o retrato da pobreza e violência das grandes cidades ocidentais para estabelecer o contraste entre os modos de vida das populações tradicionais e ocidentais. Esse recurso, tendo como modelo o sistema de escolarização de Ladakh, apresenta a educação como método de enculturação, doutrinação e dominação social. O sistema atual de educação unificada tende a levar a homogeneização cultural e a diversos outros aspectos negativos ressaltados pelo documentário. Contudo, especialmente em regiões que vivem em extrema pobreza, a escola também pode surgir como mecanismos de igualdade social e de oportunidades. O filme “Escolarizando o Mundo” apresenta uma nova forma de pensar a escola e a necessidade da escolarização, baseada no sistema de escolarização existente no distrito Ladakh. Ele apresenta contra-argumentos ao atual projeto global de “Educação para todos” descontruindo a ideia comumente aceita da educação como o melhor mecanismo para a redução da pobreza e desigualdade social. O documentário propõe que as individualidades e diferenças culturais sejam pensadas, para que a escola não seja instrumento da imposição de modos de vida considerados superiores e ameace a existência de diferentes culturas.
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