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Camila B. Zanetti Tuberculose DEFINIÇÃO: é uma doença crônica granulomatosa necrosante causada pelo bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) Mycobacterium tuberculosis, ou pela M. africanum e M. bovis. Por serem bacilos de difícil coloração, utiliza-se a técnica Ziehl-Nielsen. O local mais comum afetado pela doença é o pulmão (ápice pulmonar [região mais aerada] – bacilos são aeróbios estritos), e os locais extrapulmonares mais comuns são linfonodos, pleura, ossos e articulações. *M. bovis (TB ganglionar e extrapulmonar) – comunidades que consomem leite não pasteurizado. TRANSMISSÃO: A TB é transmitida indivíduo-indivíduo por meio da inalação de núcleos de gotículas infecciosas de Pfluger (núcleo de Wells - gotículas contaminadas com o bacilo) aerossolizadas pelos pacientes com TBP. A maior transmissibilidade está relacionada a cavitação, carga bacilar, característica e vigor da tosse. A sobrevivência do bacilo está relacionada a pouca ventilação e baixa exposição a luz solar. Tempo de exposição infectante é de 100-200 horas (contato domiciliar) e a transmissão diminui após 2 semanas de tratamento. Os portadores das formas transmissíveis de TB laríngea e pulmonar com baciloscopia positiva no escarro são chamados de bacilíferos. Pacientes com baciloscopia negativa com TRM ou cultura positiva tem infectividade menor. A TB extrapulmonar não é infectante. *N95 filtra particular abaixo de 5 micra (isolamento de aerossóis). FISIOPATOLOGIA: os bacilos alcançam os alvéolos pulmonares e são fagocitados pelos macrófagos, podendo se proliferar dentro deles (pois a resposta imune específica não está desenvolvida). Os macrófagos medeiam a resposta inflamatória, apresentando o antígeno, liberando interleucinas e ativando os linfócitos CD4, desenvolvendo, assim, uma resposta imune humoral mediada pelos linfócitos. A resposta imune humoral irá tentar controlar a proliferação dos bacilos nos macrófagos e controlar o desenvolvimento da doença. Neste momento, a primo-infecção pode evoluir para 3 condições: cura (quando a resposta imune controlou a proliferação bacilar e conseguiu mata-los); infecção latente (a resposta imune específica controlou a infecção, impedindo-a de desenvolver, no entanto esse estado está mantido graças a resposta imune, existindo bacilos latentes, que não proliferam mais, mas estão viáveis); tuberculose doença (quando a resposta imune humoral desenvolvida não é capaz de controlar a proliferação dos bacilos, podendo este ganhar a corrente sanguínea/linfática/brônquica e desenvolver a TB). O desenvolvimento da TB doença irá depender da carga de bacilos e da eficácia de sua resposta imune humoral. Granuloma caseoso: é um aglomerado de bacilos de tuberculose viáveis e sob controle da resposta imune do organismo (impedindo sua proliferação e evolução para uma TB doença). Em 95% dos casos a infecção é controlada e é formado o granuloma (nódulo de Ghon). Camila B. Zanetti FORMAS DE APRESENTAÇÃO: • TUBERCULOSE PRIMÁRIA: é a primo-infecção pelo bacilo da TB cuja resposta imune específica não foi capaz de controlar a infecção bacilar e o quadro evoluiu para a doença tuberculose. Ocorre em 5-10% nos pacientes imunoincompetentes. Mais comum entre crianças de 2-12 anos, com evolução insidiosa. Quadro clínico se assemelha a uma síndrome gripal (febre baixa, tosse seca, inapetência) e o quadro pulmonar é variável (pode haver creptações e sibilos focais). Afeta os linfonodos torácicos, causando adenopatia hilar ou mediastinal. Em geral é auto limitada (dias-meses). Complicações como atelectasia pulmonar (compressão brônquica devido ao aumento do linfonodo) e evolução para formas graves da doença → miliar e meningoencefálica (não vacinados para BCG e imunossuprimidos) podem ocorrer na TB primária. • TUBERCULOSE MILIAR: é uma TB primária com evolução grave. Ocorre, em geral, em pacientes com imunodepressão grave e em crianças (< 2 anos não vacinadas para BCG) e é decorrente de uma disseminação hematogênica do bacilo da tuberculose. A doença mostra um comprometimento multinodular pulmonar e tem uma evolução grave que, se não tratada precocemente, pode levar ao óbito. • TUBERCULOSE NO IMUNOSSUPRIMIDO: em pcts com SIDA, transplantados e doenças linfoproliferativas pode haver o desenvolvimento de uma tuberculose grave (apresentação variada com o grau de imunossupressão) caracterizada pelo aparecimento de lesões exsudativas (pneumonia tuberculósica). Pode acometer qualquer segmento pulmonar e, radiologicamente, é caracterizada por infiltrados alveolares e cavitações. • TUBERCULOSE PÓS PRIMÁRIA: tuberculose do adulto (forma crônica de apresentação da doença). É a forma que, em grande parte, leva a transmissão da doença para a população. É decorrente de uma reativação de um foco latente (liquefação caseosa → disseminação broncogênica do bacilo) devido a uma diminuição da resposta imune ou uma reinfecção. Acomete mais o ápice pulmonar (região mais aerada) – opacidade e cavitações. - Apresentação clínica: tosse crônica (seca ou produtiva), hemoptoicos, febre baixa (vespertina), sudorese noturna e emagrecimento. - Apresentação radiológica: infiltrados pulmonares (apicais) e cavitações. • TUBERCULOSE EXTRA PULMONAR: a TB é uma doença sistêmica e, a partir do momento que o bacilo entra na corrente sanguínea ele pode atingir diversos órgãos do organismo. P. ex. pleura (HIV-), linfonodos (HIV+), articulações, meninges, pericárdio, ossos (coluna – mal de POTT) cérebro, rins, intestino e genitália. A TB pleural tem como principal característica a formação de um derrame pleural. RISCO RELATIVO: População indígena (3x), HIV+ (28x), egressos do sistema prisional (28x) e população moradora de rua (56x). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: tosse crônica (em geral, produtiva), febre baixa (vespertina), astenia/hipoxeria e perda ponderal, adenomegalias, hemoptoicos, sudorese noturna. DIAGNÓSTICO: ✓ Radiológico: Rx de tórax – cavidades, nódulos, consolidações, massas, velamento intersticial, derrame pleural, alargamento do mediastino, fibrose (sequela); TC de tórax – cavitação e nódulos centrolobulares com padrão de árvore em brotamento. ✓ Bacteriológico – confirmação da TB: detecta a presença do bacilo no escarro (baciloscopia direta – 2 amostras ao despertar) ou no lavado broncoalveolar. Pode ser feito o escarro induzido (através da nebulização). Camila B. Zanetti ✓ Cultura do escarro (padrão ouro): permite a identificação do tipo do bacilo e a sensibilidade ao tratamento. Limitação → 2-8 semanas. Indicada em casos de - retratamento (pós cura ou abandono), HIV+, população de risco, suspeito de TB (clínica e radiológica) com baciloscopia negativa, suspeita de resistência. ✓ TRM (teste rápido molecular – PCR): amplificação e detecção de ácidos nucleicos do M. tuberculosis. Resultados rápidos e elevado valor preditivo positivo. Não utilizado para controle de tratamento (apenas se suspeitar de resistência). ✓ Anatomopatológico: através de fragmentos de tecidos biopsiados. ✓ PPD (prova tuberculínica): inoculação intradérmica de frações proteicas do M. tuberculosis. É um exame utilizado especialmente para triagem, pois indica contato prévio, não distinguindo um infectado sadio de um portador da doença. Paciente classificado como: não reator ou não infectado (0-4mm), reator fraco (5-9mm), reator forte (>10mm). TRATAMENTO: tem como objetivo a redução rápida da transmissão da doença (fase de ataque) e a cura (fase de manutenção). • ESQUEMA BÁSICO: todos os casos de TB (exceto a forma meningoencefálica), incluindo recidivas e retorno pós abandono. FASE DE ATAQUE: 2 MESES (2RHZE) FASE DE MANUTENÇÃO: 4 MESES (4RH) Rifampicina (R) Isoniazida (H) Pirazinamida (Z) Etambutol (E) Rifampicina (R) + Isoniazida (H) • ESQUEMA PARA MENINGOENCEFALITE: tratamento de manutenção deve ser estendido para 10 meses (10RH). Associar corticoide oral (prednisona1mg/kg/dia). • TUBERCULOSE MULTIRESISTENTE (TBMR): resistência a pelo menos Rifampicina e Isoniazida. Deve ser feito cultura e teste de sensibilidade. Utilizar drogas de segunda linha por no mínimo 18 meses pós negativação da cultura. • TB/HIV: o HIV aumenta muito o risco da doença pela TB (devido a redução da resposta imune do organismo). Sempre realizar cultura e sensibilidade. Sempre dar prioridade para o tratamento da TB (iniciar o tratamento da TB e, após 2-4 semanas, iniciar a terapia antirretroviral). • TB EM GESTANTES: repor vitamina B6 - Piridoxina (Pirazinamida ↓ vit. B6) pelo risco de crise convulsiva no RN. • TB EM DIABÉTICOS: substituir hipoglicemiante oral por insulina. • TB EM RENAL CRÔNICO: RHZ normalmente e, evitar E e S se clearence de creatinina <30ml/min. Efeitos adversos do tratamento da tuberculose: ✓ Hepatotoxicidade. ✓ Neuropatia periférica. ✓ Hiperuricemia. ✓ Diminuição da acuidade visual. ✓ Intolerância gastrointestinal. Camila B. Zanetti • TB EM HEPATOPATAS CRÔNICOS: se TGO e TGP > 3x VN (valor normal), utilizar drogas não hepatotóxicas (E, Estreptomicina e quinolonas). Se TGO e TGP < 3x VN, esquema normal com monitorização rigorosa da função hepática. • HEPATOTOXICIDADE: paciente que desenvolveu uma hepatopatia decorrente do tratamento da tuberculose. Se TGO e TGP > 3x VN, suspensão do tratamento e reintrodução de drogas uma a uma (R, H e E). QUIMIOPROFILAXIA: pode ser realizada na tuberculose latente em pacientes que estejam realizando tratamento com imunossupressores ou que sejam imunodeprimidos. O pct deve ser assintomático e com um Rx de tórax normal (sempre afastar o diagnóstico de TB doença). Utilizado a Isoniazida (5-10mg/kg, max. 300mg/dia). VACINAÇÃO BCG: protege contra formas graves da doença, mas não evita a infecção. Feita em RN na maternidade (> 2kg), RN de mães com SIDA e crianças soropositivas para HIV assintomáticas. Contraindicações - RN < 2kg, uso de imunossupressores, adultos HIV, crianças sintomáticas pra TB e pcts portadores de imunodeficiências primárias.
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