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Página 1 de 10 Atividade Avaliativa A1 Nota:____________ 7º Semestre | Turma: DIR4AN-BUB | Sala: 211 Disciplina: Direito Processual Penal II Professor: Luiz Roberto Cicogna Faggioni Componentes do grupo: Larissa Dicmann Ballo RA. 81713559; Matheus Dutine de Melo RA. 817115281; Natanael Rodolfo Piauhy de Oliveira RA. 81715773. Página 2 de 10 1. Sim. A gravação ambiental é considerada prova lícita e amplamente aceita no âmbito do processo penal, quando gravada por um dos interlocutores da conversa, mesmo que não haja conhecimento da gravação pelo outro, desde que não exista, ali, sigilosidade. No caso em epígrafe, trata-se de advogado instruindo testemunhas a mentir em juízo. Dessa forma, não estamos diante de situação em que o sigilo das conversas, garantido aos advogados pelo art. 7º da Lei nº 8.906/94, incida, vez que tal prerrogativa somente se aplica quando estiver caracterizada a relação advogado e cliente, o que não é o caso, levando em consideração que a aludida conversa se deu entre o advogado Luciano e as testemunhas. Esse entendimento já foi confirmado em julgamento sob a sistemática da repercussão geral pelo Supremo Tribunal Federal, e é com base nesse entendimento que a jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça decide, in verbis: Como visto, na linha do entendimento esposado pelo magistrado, a hipótese parece ser de gravação ambiental, entendida como aquela efetivada por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro, cuja legalidade é amplamente admitida pelos Tribunais Superiores, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversa. PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. (...) 3. Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal firmado sob a sistemática da repercussão geral, "é lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro" (RE n. 583.937 QO-RG, Relator Ministro CEZAR PELUSO, julgado em 19/11/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-237 de 18/12/2009) [...] No caso em apreço há de se considerar, além da probabilidade de tratar-se a hipótese de gravação ambiental, como já mencionado alhures, a inexistência de provas indubitáveis de que a conversa estava acobertada pelo sigilo profissional, já que, a priori, não se tem notícia de que Valmira de Freitas Santos e Larisse Batista Silvestre dos Santos eram suas clientes, ou de que lá teriam ido para contratar os seus serviços. Destarte, inviável o trancamento da ação penal na via estreita do mandamus, por depender a análise definitiva acerca da licitude ou ilicitude da prova produzida de dilação probatória. Ante o exposto, acolhido o parecer ministerial de cúpula, denego a ordem impetrada. É como voto. Goiânia, 11 de julho de 2019. (fls. 150-157) II. Licitude de gravação ambiental feita por um dos interlocutores A Página 3 de 10 irresignação da defesa não prospera. Com efeito, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme em salientar que gravação ambiental realizada por um dos interlocutores é lícita como meio de prova em processo penal. A propósito: [...] 1. A gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o consentimento da outra parte, quando não restar caracterizada violação de sigilo, é considerada prova lícita. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2. A Lei n.º 9.296/96, que disciplina a parte final do inciso XII do art. 5.º da Constituição Federal, não se aplica às gravações ambientais. 3. Em recente assentada, por ocasião do recebimento da denúncia nos autos da APn n.º 707/DF, a Corte Especial deste Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a gravação clandestina feita por um dos participantes da conversa é válida como prova para a deflagração de persecução criminal. 4. Reconhecida a legalidade da prova contra a qual se insurgem os recorrentes, não há falar em ausência de justa causa para a ação penal. 5. Recurso improvido. (RHC n. 34.733/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª T., DJe 19/8/2014) [...] 5. É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro (RE 583937 QO-RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 19/11/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe - 237 DIVULG 17/122009 PUBLIC 18/12/2009). 6. A gravação de diálogo pelo cliente com seu advogado, para defesa de direito próprio, não configura prova ilícita ou violação ao sigilo profissional. Precedentes. 7. Recurso em Habeas Corpus improvido. (RHC n. 48.397/RJ, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, 6ª T., DJe 16/9/2016) Na espécie, observo que o querelado, advogado, foi gravado enquanto tinha conversa ríspida com duas interlocutoras - que não eram suas clientes -, que entregaram a gravação ao querelante, gravemente ofendido em sua honra, conforme verifica-se da queixa-crime de fls. 14-22. Portanto, é o caso de afastar a alegada nulidade da prova, até porque não há no caso relação advogado-cliente a ser protegida. III. Dispositivo À vista do exposto, com base no art. 34, XX, c/c o art. 246, ambos do RISTJ, nego provimento ao recurso. Publique-se. Intimem-se. Brasília/DF, 18 de março de 2020. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ. 1 Como se extrai do trecho sublinhado acima, na realidade até mesmo o sigilo profissional pode ser relativizado, sob a ótica do Princípio da Proporcionalidade, vez que quando destinada a defesa de direito próprio, a jurisprudência entende cabível a interceptação ambiental como prova lícita para o caso de cliente que grava conversa com seu advogado sem o consentimento desse último. Assim é também o que ensina a doutrina de Guilherme Nucci: 1 (STJ - RHC: 123917 GO 2020/0033279-8, Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Publicação: DJ 24/03/2020). Página 4 de 10 “Pacificado é o entendimento dos Tribunais Superiores no sentido de que a gravação ambiental realidade por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro não é, para fins penais, considerada prova ilícita. Não tendo o colóquio o caráter de sigilosidade, pode ser registrado sem que um dos participantes tenha conhecimento de tal, autorizando-se a utilização desta prova, lícita, em qualquer processo” 2 Tal é o entendimento sobre a interceptação ambiental, pelo fato de ela não ser regulada pela Lei nº 9.296/96, que tratou por regulamentar o inciso XII do artigo 5º da CF. A referida lei disciplina a interceptação telefônica, que não se confunde com a primeira. Dessa maneira, a interceptação telefônica é, via de regra, prova ilícita, quando não há o permissivo jurisdicional. No entanto, para o caso da interceptação ambiental, como no caso em tela, a regra é justamente o inverso. As interceptações ambientais são plenamente aceitas como provas lícitas, exceto nos casos em que for maculado o sigilo existente na conversa (sigilo esse que, conforme jurisprudência sublinhada anteriormente, vem sendo também relativizado, tendo os tribunais alargado o cabimento da interceptação ambiental no rol das provas lícitas). Tal entendimento tem por núcleo o Princípio da Proporcionalidade, que como ensina Pedro Lenza: “... o princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade, em essência, consubstancia uma pauta de natureza axiológica que emana diretamente das ideias de justiça, equidade, bom senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excesso, direito justo e valore afins; precede e condiciona a positivação jurídica, inclusive de âmbito constitucional; e, ainda, enquanto princípio geral o direito, serve de regra de interpretação para todo o ordenamento jurídico: Trata-se de princípio extremamente importante, em especial na situação de colisão entre valores constitucionalizados. Como parâmetro, podemos destacara necessidade de preenchimento de três importantes elementos: Necessidade: por alguns denominada exigibilidade, a adoção da medida que possa restringir direitos só se legítima se indispensável para o caso concreto e não se puder substitui-la por outra menos gravosa; 2 (NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Comentado, Rio de Janeiro: Editora Forense, 13ª ed., 2014, p.326). Página 5 de 10 Adequação: também chamado de pertinência ou idoneidade, quer significar que o meio escolhido deve atingir o objetivo perquerido; Proporcionalidade em sentido estrito: sendo a medida necessária e adequada, deve-se investigar se ao ato praticado, em termo de realização do objetivo pretendido, supera a restrição a outros valores constitucionalizados. Podemos falar em máxima efetividade e mínima restrição.” 3 Daí é que surge o fundamento constitucional que permite tal efeito ao instituto da interceptação ambiental. Acerca, ainda, do princípio da proporcionalidade, podemos ver claramente sua aplicação prática a partir da seguinte ementa, contendo lições da ilustre professora Ada Pellegrini Grinover, in verbis: PROCESSO - DELITO FORMAL QUE SE CONSUMA COM A GRAVE AMEAÇA - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS – GRAVAÇÃO AMBIENTAL – PROVA LÍCITA – DESNECESSÁRIO O RESULTADO MATERIAL VISADO PELO AGENTE – RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. 1. As declarações espontâneas apresentadas perante a autoridade policial(fls.105/107), aliadas às transcrições da gravação feita do diálogo da co-ré com a apelada, captada pela primeira interlocutora, dão conta da autoria e da materialidade do crime capitulado no artigo 344 do Código Penal por parte da apelada. 2. A prova obtida mediante gravação ambiental, tida pela defesa como prova ilícita, há que ser considerada como hábil e boa quando se presta a demonstrar ao juiz a verdade real. Embora haja vedação expressa e categórica na carta constitucional (art. 5º, inc. LVI) acerca da admissão processual de prova ilícita, referida proibição é abrandada quando analisada à luz do princípio da proporcionalidade, pelo qual caberá ao juiz, diante de cada caso em análise, ponderar os valores em jogo e verificar se é mesmo preferível que um crime fique impune a reconhecer eficácia à prova que o desvendou, tendo sido esta obtida com infringência à norma de direito material ou processual. 3. Nesse sentido tem se posicionado a maior parte da doutrina e, inclusive, a Ilustre Professora Ada Pellegrini Grinover, quando ensina que referido princípio integra o direito constitucional brasileiro, de modo que pode ser aplicado pelo intérprete da Constituição. 4. Ademais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem se posicionado pela licitude da prova consistente em gravação de conversa por um dos locutores que se vê envolvido nos fatos, como ocorreu na espécie. 4 3 (LENZA, Pedro, Direito constitucional esquematizado, São Paulo: Saraiva, 21ª ed., 2017, p.166 e 167). 4 STJ, Relator Ministro O. G. Fernandes. REsp. nº 1.113.734 – SP (2009/0073629-9). Página 6 de 10 Por fim, corroborando as teses aqui levantadas, diz Norberto Avena sobre a admissibilidade das provas derivadas de interceptações ambientais sem o consentimento: “Em nível de Constituição Federal, não existe tutela direta das interceptações ambientais lato sensu, diferentemente das interceptações telefônicas, nas quais existe tutela específica, embora parcial (não abrange as gravações), no art. 5º, XII. Deste modo, a questão relacionada à licitude ou ilicitude dos registros ambientais de sons e imagens deve ser analisada, unicamente, frente à regra do art. 5º, X, da Carta Magna, que incorpora proteção genérica à intimidade, dispositivo este que, ao contrário do que ocorre no citado inciso XII, não ressalva a possibilidade de ordem judicial como forma de possibilitar a violação da privacidade. Neste contexto, é de se indagar: as formas ambientais de registro importam, indistintamente e em qualquer caso, na violação ao direito à intimidade tutelado pela Constituição Federal no art. 5º, X? A resposta afigura-se negativa. Na atualidade, é consolidado o entendimento no sentido de que nenhuma das formas de interceptações ambientais lato sensu importa, necessariamente, em violação ao direito da intimidade. Até pode ser que haja essa violação, mas isso não é considerado a regra, e sim a exceção. Sendo assim, vale dizer, sendo regra que interceptações ambientais lato sensu não importam, de per si, em afrontamento ao art. 5º, X, da CD, quando importariam elas em violação ao direito da intimidade a ponto de tornar ilícitas as provas então obtidas? Em duas circunstâncias: 1) Quando forem realizadas em ambiente no qual exista expectativa de privacidade. [...] 2) Quando praticadas com violação de confiança decorrente de relações interpessoais (motivada pela amizade, pelo parentesco, pelo casamento etc.) ou de relações profissionais (v.g., advogado e cliente, psicólogo e paciente, padre e confidente etc.). [...] Em ambas as situações, impõe-se considerar ilícita a prova resultante das gravações ambientais em virtude de terem sido obtidas mediante violação de confiança, vale dizer, conduta jamais esperada pelo narrador, para quem se gerou sentimento de profunda decepção com a conduta de seu interlocutor. Inclusive, de nada resolveria a existência de ordem judicial autorizando os registros ambientais, tendo em vista que o dispositivo da Constituição Federal afrontado foi o art. 5º, X, que se repisa, não ressalva a possibilidade de autorização do juiz. Cabe ressaltar que, no segundo caso ventilado, a quebra do sigilo ainda seria mais grave, uma vez que às pessoas que sabem do fato em razão da profissão, função, ofício ou ministério incide o dever de sigilo. A propósito, examinando caso concreto que envolvia o registro de diálogo mantido entre advogado e respectivo cliente, materializando-se a prática de um crime perpetrado por este último, decidiu o STJ que “conversa pessoal e reservada entre advogado e cliente tem toda a proteção da lei, porquanto, entre outras reconhecidas garantias do advogado, está a inviolabilidade de suas comunicações” (HC 59.967/SP, DJ, 25.09.2006 5 5 (AVENA, Norberto, Processo penal: esquematizado, Rio de Janeiro: Forense, 6ª ed., 2014, p.481 a 483). Página 7 de 10 2. A lei tratou por estabelecer para que seja decretada a prisão preventiva a necessidade de haver prova de que se restou praticado um ilícito, o indício claro de quem o teria praticado e a necessidade de haver perigo em deixar o infrator da lei em liberdade, como garantia de conservar a ordem pública, econômica ou assegurar a aplicação da lei penal. Pois bem, dessa forma, resta claro que tal medida só pode vir a ser empregada nos casos em que a gravidade do ilícito seja tamanha que gere uma tensão de periculosidade na sociedade. No caso em epígrafe, o senhor Antônio de Souza não cometeu nenhum crime que gere impactos relevantes na sociedade, como se constata da análise do caso, que denota que houve a falsificação e utilização de documentos públicos no intuito de fazer com que o aquele recebesse a herança do senhor Ricardo de Souza. O Desembargador Guilherme Nucci assim ensina em sua doutrina: “Um furto simples não justifica histeria, nem abalo à ordem, mas um latrocínio repercute, negativamente, no seio social, demonstrando que as pessoas honestas podem ser atingidas, a qualquer tempo, pela perda da vida, diante de um agente interessado no seu patrimônio, gerando, em muitos casos, intranquilidade” 6 Nesse diapasão, já se pronunciou a jurisprudência, in verbis: “É providência acautelatória, inserindo-se no conceito de ordem pública, visando não só prevenir areprodução de fatos criminosos, mas acautelar o meio social e a própria credibilidade da Justiça, em face da gravidade do crime e de sua repercussão, convindo a medida quando revelada pela sensibilidade do juiz à reação do meio à ação criminosa.” 7 6 (NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Comentado, Rio de Janeiro: Editora Forense, 13ª ed., 2014, p.581). 7 (TJSP, HC 288.405-3, Bauru, 3.ª C., rel. Walter Guilherme, 10.08.1999, v.u.). Página 8 de 10 “O paciente fora indiciado pela prática dos crimes previstos nos arts. 213 e 214, c/c art. 224, a [os arts. 214 e 224 do Código Penal foram revogados pela Lei 12.015/2009, embora o seu conteúdo tenha sido incorporado p e l o art. 213], todos do Código Penal, acusado, juntamente com “N. B.”, de haver explorado sexualmente, de forma sistemática, crianças do Município de Águas Formosas-MG, mediante o pagamento de módicas quantias em dinheiro e pequenos agrados. (...) Ora, em casos tais, a custódia se faz necessária não só para prevenir a prática de novos crimes, mas também como meio de acautelar a própria credibilidade da justiça, em razão da gravidade dos delitos e sua repercussão social.” 8 Ademais, superadas tais questões quanto a gravidade do crime cometido, há outros fatores que devem sempre serem sopesados quando se discute medida coercitiva tão drástica, como a probabilidade do sujeito tornar a cometer delitos. Debruçando-nos sobre o caso concreto, constatamos que o senhor Antônio é réu primário, exerce trabalho remunerado e possui residência no mesmo município onde tramita o IP. Tais fatores são importantíssimos, pois deflagram a periculosidade do agente, demonstrando que a medida acautelatória cogitada é deveras incongruente. Guilherme Nucci nos ensina que: “... é indiscutível poder ser decretada a prisão preventiva daquele que ostenta, por exemplo, péssimos antecedentes, associando-se a isso a crueldade particular com que executou o crime. Confira-se na jurisprudência: STJ: ‘A prisão preventiva, devidamente justificada, objetiva, sobretudo, resguardar a ordem pública, retirando do convívio social aquele que, diante dos meios de execução utilizados nas práticas delituosas, demonstra ser dotado de alta periculosidade, Precedentes citados: HC 118.578-SP, DJe 30.03.2009, RHC 23.426-SP, DJe 09.03.2009 e AgRg no HC 105.357-AL, DJe 20.10.2008” (RHC 24.453-SP, 6.ª T., rel. Og Fernandes, 07.05.2009, v. u.); ‘Demonstrando o magistrado de forma efetiva a circunstância concreta ensejadora da custódia cautelar, consistente na possibilidade de a quadrilha em que, supostamente se inserem os pacientes, vir a cometer novos delitos, resta suficientemente justificada e fundamentada a imposição do encerramento provisório como forma de garantir a ordem pública’ (HC 30.236-RJ, 5.ª T., rel. Felix Fischer, 17.02.2004, v.u., DJ 22.03.2004, p. 335); TJSP: “A periculosidade do réu evidenciada pelas circunstâncias em que o crime foi cometido basta, por si só, para embasar a custódia cautelar no resguardo da ordem pública, sendo irrelevante a primariedade, os bons antecedentes e a residência fixa” ((HC 412.323-3/4, São 8 (TJMG, HC 1.0000.05.417037-8/000, 1.ª C., rel. Edelberto Santiago, 15.03.2005, v.u.). Página 9 de 10 José do Rio Preto, 3.ª C. Extraordinária, rel. Marcos Zanuzzi, 13.03.2003, v.u., JUBI 82/03). Em suma, extrai-se da jurisprudência o seguinte conjunto de causas viáveis para autorizar a prisão preventiva, com base na garantia da ordem pública: a) gravidade concreta do crime; b) envolvimento com o crime organizado; c) reincidência ou maus antecedentes do agente e periculosidade; d) particular e anormal modo de execução do delito; e) repercussão efetiva em sociedade, gerando real clamor público. O ideal é a associação de, pelo menos, dois desses fatores.” 9 Assim, vez que não resta maculada a ordem social ou econômica, dado o cometimento do crime pelo réu, não havendo perigo iminente gerado pelo exercício de seu estado de liberdade, bem como inexistem maus antecedentes que dariam indícios de que o referido poderia oferecer riscos, não se vislumbra aqui a viabilidade e sequer a necessidade da decretação da prisão preventiva de Antônio de Souza. Cumpre-nos fazer, por derradeiro, uma observação: Diz expressamente o art. 282, §6º, do CPP que só haverá a decretação da prisão preventiva quando não cabível nenhuma das medidas cautelares previstas no art. 319 do referido código OU quando não cabível a substituição da prisão por uma dessas medidas, o que não é o caso. Em conformidade com o exposto, é o entendimento atual praticado pelo STJ, in verbis: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FRAUDE À LICITAÇÃO. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. CORRUPÇÃO ATIVA. LAVAGEM DE DINHEIRO. PRISÃO PREVENTIVA. ART. 312 DO CPP. DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA EXTREMA. PROVIDÊNCIAS CAUTELARES DIVERSAS. ART. 319 DO CPP. ADEQUAÇÃO E SUFICIÊNCIA. COAÇÃO ILEGAL DEMONSTRADA. RECURSO PROVIDO. 1. A prisão somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar e quando realmente se mostre necessária e adequada às circunstâncias em que cometido o delito e às condições pessoais do agente. Exegese do art. 282, § 6º, do CPP. 2. Evidenciado que a finalidade almejada quando da 9 (NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Comentado, Rio de Janeiro: Editora Forense, 13ª ed., 2014, p.581 e 582). Página 10 de 10 ordenação da preventiva pode ser atingida com a aplicação de medidas cautelares alternativas, como ocorre na espécie, presente o constrangimento ilegal apontado na inicial. 3. Observado o binômio proporcionalidade e adequação, infere-se, diante das particularidades do caso concreto, ser devida e suficiente, para garantir a ordem pública e afastar o risco de reiteração delitiva por parte do recorrente, a imposição de medidas cautelares diversas da prisão. 4. Recurso provido para revogar a prisão preventiva do recorrente, mediante a imposição das medidas alternativas previstas no art. 319, incisos i, iv, v, vi e viii, e no art. 320, ambos do CPP, proibindo-se-o de firmar qualquer tipo de contrato com o poder público e arbitrando-se fiança no valor de 50 (cinquenta) salários mínimos, estendendo-se os efeitos desta decisão aos demais corréus integrantes do "núcleo de operadores" da organização criminosa combatida e que se encontram em idêntica situação processual à do ora recorrente, na forma do artigo 580 do Código de Processo Penal. 10 Caso o juiz da causa entenda que seja necessária alguma medida preventiva, deverá, dada a baixa gravidade do delito cometido no caso em tela em comparação com outros, empregar o art. 319 do CPP, e não o art. 312. Dessa forma, reitere-se o dito supra, a opinião aqui exalada é pela impossibilidade da decretação da prisão preventiva. 10 (STJ - RHC: 89651 PI 2017/0243332-0, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 26/06/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 29/06/2018)
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