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Universidade Estácio de Sá Curso de Psicologia | Macaé Estágio Supervisionado Específico em Processos Clínicos Clínica Psicológica Existencial Profa. Ana Lúcia Couto 2019.2 O G r i t o – E d v a r d M u n c h ( 1 8 9 3 ) TEXTO-BASE Ana Lúcia Azeredo Couto I. Breves apontamentos sobre a atuação do analista Em seu livro, Monique Augras1 traz uma importante reflexão acerca do psicodiagnóstico na clínica existencial. Não se trata de um enquadramento em um quadro nosológico, pois isso acabaria por restringir as possibilidades do ser, em vez de ampliá-las. O psicodiagnóstico, segundo a autora, fundamenta-se na fenomenologia da situação, configurando-se, portanto, em “psicodiagnóstico situacional”, que consiste numa aproximação compreensiva do modo de existir do Dasein em determinada situação de sua existência. Partindo dessa aproximação compreensiva, Ana Maria Feijoo2 apresenta alguns posicionamentos existenciais comuns nas pessoas que buscam terapia e sugere possibilidades de atuação do analista, condizentes com as especificidades de cada situação: ▪ Culpa existencial – o existente mostra em seu discurso a culpa existencial através da lamentação de possibilidades que não foram escolhidas, da seguinte forma: “Ah! Seu eu tivesse...” A queixa fica em torno do que se abriu mão em algum momento da vida. A culpa existencial aprisiona o existente aos acontecimentos passados, impedindo-o de se lançar par ao futuro. O psicoterapeuta mobiliza o cliente à responsabilidade pela escolha e também clarifica para ele que, enquanto se lamenta, permanece na mesma escolha. ▪ Medo existencial – expresso pelo cliente através da paralisação no presente. Acreditando não escolhendo, crê que não corre risco. O psicoterapeuta atua mantendo a angústia frente ao que provoca medo, confrontando o cliente com os dados de sua existência. ▪ Angústia existencial – sentimento de estranheza, da inquietude, onde se fala: “um não sei o quê”, que traz o “querer-ter-consciência”. O cliente se sabe escolhendo, porém se justifica pelo medo, pelo pânico, pelo outro que impede. Sente como se sua liberdade não lhe pertencesse, embora sabendo se sua pertença. O psicoterapeuta atua mantendo a angústia frente àquilo que sustenta a questão, não facilitando a fuga para o impessoal. 1 Augras. M. O ser da compreensão: fenomenologia da situação de psicodiagnóstico. Petrópolis: Vozes, 1978. 2 Feijoo, A. M. A escuta e a fala em psicoterapia: uma proposta fenomenológica-existencial. SP: Vetor, 2000. ▪ Perda no impessoal – perde-se o próprio referencial (heterorreferência). O discurso compõe-se pela incapacidade de tomar decisões: pergunta sempre ao outro sobre como deve agir. Sente-se perturbado pelas observações do outro a seu respeito. Sente-se feliz frente ao elogio do outro e infeliz frente à crítica. A perda do próprio referencial é revelada pelo pleno desconhecimento do seu projeto, dos próprios referenciais. O existente fica à mercê do que lhe dizem, das normas que lhe são impostas. Perde-se no mundo, não sabe o que é seu e o que é do outro. O psicoterapeuta pode atuar de forma a buscar – com seu cliente – seus referenciais, o que lhe é próprio. Deve cuidar para que não indique qualquer caminho ao cliente, mesmo que este insista que direções lhe sejam indicadas. ▪ Rigidez frente ao próprio referencial – neste caso, o existente perde-se em si mesmo e desconsidera o mundo ao seu redor (autorreferência). Vive tão autocentrado que considera um grande erro qualquer situação que se oponha ao que acredita. As relações de convivência se dão na forma de desconfiança e indiferença. Liga-se apenas a si próprio. No discurso, coloca-se sempre o centro, utilizando demais o pronome “eu” e afirmando que todos estão errados ou que são contra ele ou nutrem por ele grande inveja. O psicoterapeuta deve apresentar uma postura de aceitação, tentando astutamente descentrar o referencial do cliente na sua própria ação. ▪ Projeto de aprovação por parte do outro (medo da solidão) - o discurso do cliente revela-se de forma reticente, pois espera conhecer um pouco mais do outro para poder mostrar-se de acordo com a expectativa daquele com quem se relaciona. Neste caso, a publicidade como modo de ser do impessoal obscurece a existência. Nos primeiros contatos, a ansiedade é sua marca registrada, parecendo inseguro e frágil. Na tentativa de escapar à solidão, o outro pode se tornar uma necessidade, imprescindível para que sua vida tenha continuidade. Neste caso, o existente é capaz de abrir mão de seus referenciais. Embora conhecendo seus valores e seu projeto, seu sentido maior é escapar à solidão. O psicoterapeuta deve clarificar e atuar de forma atenta, pois se deixar transparecer suas expectativas, é segundo tais expectativas que o cliente vai se revelar. ▪ Minimização do sofrimento – a minimização do sofrimento aparece no relato do cliente através da evitação ou distorção da realidade. Na linguagem vem “não é bem assim”, “não é tão ruim como parece”. Justifica o “não observar bem” pela falta de tempo, pelo medo de ser injusto, enfim, não há tempo nem espaço para ver o que acontece. Muitas vezes minimizar a dor consiste em uma estratégia de alívio. No entanto, fugir deste sentimento implica em não assumir a si mesmo. O terapeuta pode manter a angústia frente ao sofrimento, a fim de que o cliente tenha oportunidade de se confrontar com os dados de sua existência. ▪ Maximização do sofrimento – nesta situação, o cliente mostra autopiedade, ampliando seu sofrimento com os “olhos da imaginação”. O psicoterapeuta deve pontuar o exagero, rompendo com os “olhos da imaginação, trazendo à tona as incoerências. ▪ Não aceitação dos próprios limites – o cliente mostra-se insatisfeito com suas condições, sejam financeiras, intelectuais, sociais, físicas ou motivacionais. Luta a fim de tornar-se aquilo que sua originalidade não permite. O psicoterapeuta amplia a consciência desta vivência desesperada em que o existente se debate contra si mesmo. Depois, mostra-lhe como sua luta torna-se vazia. Por fim, deve proceder de forma que o cliente se esmere no polimento de seus ângulos e deixe de tentar limá-los, na medida em que se aceite em sua originalidade. ▪ Projeto idealizado de si mesmo – não aceita cometer erros, equivocar-se. Está-no-mundo para realizar-se com perfeição, tendo de dar conta de todas as possibilidades. Acredita que assim não ficará em débito embora, com relação ao passado, sinta-se sempre em débito. Muitas vezes, aquele que assim se encontra chega ao psicólogo com pretensões de curar-se, tornando-se perfeito, inatingível, infalível, não vulnerável. Quer tornar-se um ente. O psicoterapeuta vai conduzir o cliente a uma situação que atinja o sentido do ser que lhe é mais próprio: vulnerabilidade, abertura, morte e imperfeição. ▪ Falatório – o cliente perde-se no falatório. Fala de tudo e de todos, mas não fala de si mesmo. O terapeuta vai buscar na tagarelice de seu cliente aquilo que lhe é mais próprio. ▪ Não-liberdade – transfere toda a responsabilidade de sua vida ao outro, ao acaso, a Deus, à energia do mundo. O psicoterapeuta pode atuar, pouco a pouco, apontando suas escolhas, com muito cuidado para que o cliente não oponha resistência. Conforme salienta Tereza Erthal3, não existem técnicas específicas da clínica existencial. Esse tipo de abordagem é aberta a técnicas de outras terapias. Contudo, a autora alerta que é preciso cautela na escolha das técnicas. Essas devem contribuir para elucidar os modos de existência do cliente e refletir com ele o que o impede de aceitar suas possibilidades. Ou seja, as técnicas devem estar, sobretudo, a serviço da liberdade do cliente. O analista deve ter a capacidade para tolerar as incertezas da própria existência e do processo terapêutico. Há, acima de tudo, a necessidade de vivenciar os preceitos filosóficosfundamentais que orientam sua abordagem psicoterápica. É fundamental não trazer para a sessão questões pré-determinadas que possam atrapalhar o acolhimento do analisando. O analista apresenta-se como um facilitador da tomada de consciência do cliente sobre os dados de sua existência e não como alguém que o orienta e direciona. Suas intervenções devem ser guiadas por um olhar que ultrapasse os limites predeterminados e impostos. Devem revelar os pontos que sinalizam uma forma inautêntica de adaptar-se à vida, identificando os indicadores que restringem as possibilidades de existir. Ao fazer isso, a existência e tudo o que lhe é mais próprio será des-velado. Em vez de criar rotas de fuga para a angústia do cliente, as intervenções devem propiciar a manutenção da angústia, permitindo sentir a vida tal como ela se manifesta no presente, com seus prazeres e desprazeres, com suas alegrias e tristezas, dúvidas e incertezas. Na relação terapêutica, um grande desafio refere-se à tarefa de o analista lembrar-se de vários detalhes que o cliente comunica no decurso de meses e anos, sem confundi-los com material produzido por outros clientes. A forma de 3 Erthal, T. C. Terapia vivencial: uma abordagem existencial em psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1999. lidar com tantas informações rejeita o emprego de recursos como anotações ou gravações durante o atendimento. De acordo com Sigmund Freud, em seu texto “Recomendações aos médicos que exercem a Psicanálise” (1912), a técnica consiste, simplesmente, em não dirigir o foco para algo específico e em manter a mesma ‘atenção uniformemente suspensa’ em face de tudo o que se manifesta durante a relação entre terapeuta e cliente. Pois assim que alguém concentra a atenção, começa a selecionar o material que lhe é apresentado, fixando num ponto e negligenciando outros. Não se deve esquecer que o que se escuta, na maioria, são coisas cujo significado só é identificado posteriormente. Importante salientar que a regra de se manter uniformemente atento a tudo constitui a contrapartida necessária da exigência feita ao cliente, de que comunique tudo o que lhe ocorre, sem crítica ou seleção. Consideramos que, tanto o psicodiagnóstico quanto as técnicas utilizadas, devem fundamentar-se em dois métodos: o método fenomenológico-hermenêutico, proposto por Heidegger, e o método regressivo-progressivo, defendido por Sartre. Através do método fenomenológico-hermenêutico, o analista aproxima-se compreensivamente do mundo do analisando, tomado em sua dimensão concreta e temporal. Com isso, evita interpretações, explicações e previsões e disponibiliza-se serenamente para o emergente. Através do método regressivo-progressivo, o analista debruça-se sobre o ser em sua temporalidade e engendra um movimento analítico-regressivo, ou seja, regressão à história do sujeito para atingir a compreensão do seu ser-no-mundo. Em seguida, há o movimento progressivo-sintático, que se movimenta do passado ao presente, numa tentativa de ressignificar o presente a fim de projetar-se mais livremente no futuro. Este método busca uma maior compreensão da história do cliente. O contexto histórico e social em que viveu e vive são importantes na compreensão de sua existência, da mesma forma que o momento atual ajuda a compreender sua história. Na clínica existencial, a “alta” resulta de uma construção conjunta entre analista e analisando. As últimas sessões devem permitir a ambos reavaliar o processo terapêutico. Cabe indagar: O processo promoveu alguma mudança significativa no modo de o analista compreender a si mesmo e ao mundo? Que mudanças são essas? Como essas mudanças têm afetado sua relação consigo mesmo e com o mundo que o cerca? Há ainda algo a transformar? Quais são as possibilidades reais de transformação daqui para frente? II. Orientações básicas sobre a entrevista inicial A primeira entrevista pode ser uma situação vivenciada como ameaçadora, tanto para o cliente quanto para o terapeuta. Para o cliente, porque se vê no lugar de expor-se para uma pessoa estranha, sem a certeza de que isso lhe trará benefícios. Para o terapeuta, quando se sente pressionado a responder ao pedido de ajuda de forma resolutiva. Nesse caso, a exigência de “ter que dar uma resposta ou uma solução imediata” pode levá-lo a assumir comportamentos pouco eficazes, como fazer muitas perguntas ou aconselhar. Esses comportamentos se constituem em um mecanismo de defesa para encobrir o medo de ser visto como incompetente. A entrevista inicial começa de forma não-estruturada e tem por objetivo estimular o cliente a falar livremente de si. Para encorajá-lo a se expressar, pode-se perguntar, por exemplo: “O que faz você procurar uma psicoterapia?” ou “Em que posso ajudá-lo?”. O entrevistador reflete o que ouve, pergunta com cuidado e tenta reconhecer os sentimentos do entrevistado em relação aos dados de sua existência. O terapeuta deve estar atento ao modo de chegada do cliente à consulta (por si mesmo, enviado por alguém ou a conselho de alguém etc); ao tipo de relação que o cliente procura estabelecer com o seu terapeuta; às queixas iniciais verbalizadas, em particular, à maneira pela qual ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido). Um clima de confiança proporcionado pelo entrevistador facilita que o cliente revele seus pensamentos e sentimentos sem tanta defesa, portanto, com menos distorções. Um segundo momento da entrevista deve ser dedicado a esclarecimentos acerca de aspectos como horários, duração das sessões, honorários e formas de pagamento, enfim, todos os itens incluídos no contrato. A seguir, são apresentadas algumas recomendações que devem ser aplicáveis na entrevista: (1) o entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva; (2) o entrevistador não deve completar as frases do entrevistado; (3) deve-se evitar perguntas que induzam respostas do tipo “sim” ou “não”; (4) o entrevistador não deve interromper o fluxo do pensamento do entrevistado; (5) o silêncio é uma expressão não-verbal que muitas vezes comunica bem mais que as palavras, portanto, deve ser respeitado e abordado conforme a situação; (6) o término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social, sem nenhuma relação com os problemas discutidos; (7) recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido ao final entrevista. III. Breves notas sobre as intervenções do analista Em seu livro “A Escuta e a Fala em Psicoterapia”, Ana Maria Feijoo (2000) apresenta um rico repertório de intervenções na prática terapêutica. A intervenção do analista buscará ampliar no cliente o clamor de sua consciência com relação à sua liberdade, à responsabilidade, à aceitação de riscos. Algumas das intervenções possíveis serão aqui descritas: a) Fala exemplificadora – o terapeuta pede ao cliente que exemplifique como o que está relatando acontece em outras situações ou, se for o caso, o próprio terapeuta exemplifica, através daquilo que já sabe de relatos anteriores. Cliente: Eu acho que não sei me relacionar direito com as pessoas. Sou frio, não consigo expressar sentimento algum. Terapeuta: Você poderia me dar um exemplo em que você se percebeu frio com alguém? b) Fala exploradora do cotidiano – a partir da exploração do cotidiano, o terapeuta busca que o cliente identifique os fatos que desencadearam um determinado modo de sentir as coisas ou de agir. Cliente: Fui a uma festa, eu não sei o que me deu, acabei ficando com uma menina. Terapeuta: Relata pra mim como aconteceu. c) Fala inquisitiva – quando o terapeuta faz perguntas sobre o fato, as intenções ou os sentimentos implicados em um determinado relato. Cliente: Quando ela perguntou, eu neguei. Terapeuta: Negou ou quê? Cliente: Que eu tinha traído ela. Terapeuta: O que te fez negar? Cliente: se ela descobre, a gente termina. Terapeuta:e o que pode acontecer se vocês terminarem? d) Fala clarificadora – o cliente traz um relato e, junto com ele, a emoção. O terapeuta clarifica para o cliente a emoção que percebe no seu relato. A fala clarificadora pode ser formulada como pergunta ou como afirmativa. Cliente: Eu não estou me identificando com Engenharia. Gostaria de fazer Psicologia. Mas se eu fizer isso, meus pais vão morrer de decepção. Terapeuta: Então, para não decepcionar seus pais, você prefere se manter num curso com o qual não se identifica. e) Fala refletora de conteúdo verbal – o cliente traz um relato e o terapeuta o sintetiza. A fala refletora também pode ser formulada como pergunta ou como afirmativa. Cliente: Eu não vou decidir nada, acho melhor ficar do jeito que estou. O que tiver que acontecer, vai acontecer. Terapeuta: Você acha que já está tudo predefinido, que não há decisões a fazer? f) Fala refletora de conteúdo não-verbal – quando se mostra ao cliente sua postura fisionômica ou corporal frente a uma determinada situação, oposta ao que é verbalizado por ele. Cliente: Minha chefe me demitiu, aquela vadia. E agora, como vou pagar minhas contas? (Ao mesmo tempo que relata, mostra-se de forma risonha) Terapeuta: Interessante, você lamenta a demissão e ao mesmo tempo está sorrindo). g) Fala reveladora de contradições – o terapeuta revela contradições no discurso do cliente. Cliente: Meu marido não me deixa em paz. Vigia tudo o que faço e controla o tempo todo o que eu faço. Nunca posso fazer nada sem a permissão dele. E o sexo? Quando ele chega do trabalho, acha que eu tenho que estar prontinha para ele, mesmo quando eu não estou com vontade. Terapeuta: E o que acontece quando ele te procura e você não está com vontade? Cliente: Quando eu não quero, não quero. Ele fica esbravejando, mas se eu não estou com vontade, não tem jeito. Dorme cada um pra um lado. Terapeuta: Parece que, por mais que no teu pensamento, seu marido exerça um controle sobre você o tempo todo, na verdade, há momentos em que você faz imperar sua vontade. h) Fala promotora de responsabilidade – a responsabilidade é uma questão crucial a ser trabalhada na psicoterapia de base existencial, considerando-se que o cliente é o único que pode decidir sobre si próprio e nunca as situações ou pessoas envolvidas decidirão por ele. Mesmo quando atribui a terceiros ou ao impessoal a decisão, ainda assim está sendo responsável. Cliente: Se não fosse ele, minha vida seria um mar de rosas. Terapeuta: E o que você pode fazer para que sua vida seja um mar de rosas? i) Fala focalizadora do aqui-e-agora – o cliente vive com o terapeuta uma situação que também é vivida com os demais. O terapeuta traz a situação no presente, a partir do que está acontecendo. Cliente: Eu sou muito inseguro. Tudo o que eu faço eu preciso saber opinião dos outros. O que você acha que eu posso fazer pra ficar mais autoconfiante? Terapeuta: Você está solicitando minha opinião, assim como faz com todos os outros. j) Fala esclarecedora de núcleo comum – o terapeuta levanta diferentes situações em que a forma de atuar do cliente se repete, buscando com ele sua responsabilidade pelo seu acontecer. Cliente: Gostaria que meu sócio saísse. Não quero mais trabalhar com ele. Cliente: Parece que em muitas situações de sua vida você quer que os outros decidam por você. k) Fala provocativa – quando o psicoterapeuta estrutura sua fala de forma a provocar uma reestruturação emocional do cliente. Cliente: Falei alto, fiquei irritado. E não vejo vantagem nenhuma em mostrar minha irritação. Terapeuta: Parece que você insiste em querer mostrar o que na verdade não é. l) Fala desafiadora – quando o cliente insiste em atuar no mundo para evitar correr risco, o terapeuta busca saber o que pode acontecer se o cliente correr o risco. Cliente - Meus relacionamentos não dão certo. Eu sempre passo uma imagem falsa de mim mesmo. Terapeuta – O que pode acontecer se você se mostrar como é? m) Fala definidora – a fala se revela na impessoalidade, através de expressões do tipo “ninguém”, “todo mundo”, “sempre”, “nunca”. Cliente: Todo mundo fica contra mim. Terapeuta: Que, especificamente? Cliente: Meu pai, meus irmãos... todos sempre me criticam. Terapeuta: Em que situação eles te criticam? Cliente: Quando eu não estou com vontade de ir pra igreja, quando eu falo que quero trocar de emprego. n) Busca do centro de referência – o terapeuta atua no sentido de ajudar o cliente a considerar seus próprios critérios e a diferenciá-los dos critérios das pessoas que lhe são significativas. Busca-se a diferenciação do seu ser-próprio do ser do outro. Cliente: Meus pais dizem que eu devo ficar no país, meus amigos dizem que vai ser ótimo eu passar esses meses fora. Terapeuta: E você, o que diz? ANEXO 1 Sugestões de filmes Melancholia (Lars von Trier, 2011) A vila (M. Nighnt Shyamalan, 2004) Abril Despedaçado ( Walter Salles, 2001) O show de Truman (Peter Weier, 1988) Gênio Indomável (Gus van Sant, 1997) A excêntrica família de Antônia (Marleen Gorris, 1995) Sugestões de leitura ANGERAMI, V. A. Psicoterapia Existencial. SP: Thomson Learning Brasil, 2007. CALLIRARIS, C. Cartas a um jovem terapeuta. RJ: Elsevier, 2008. CANCELLO, L. A. G. O fio das palavras: um estudo de psicoterapia existencial. SP: Summus, 1991. ERTHAL, T. C. S. Trilogia da existência: teoria e prática da psicoterapia vivencial. Curitiba: Appris, 2013. ESCUDERO, R. A importância da reflexão ontológica acerca do morrer para a psicologia clínica. Dissertação de Mestrado. RJ: Universidade Federal Fluminense, 2004. FEIJOO, A. M. L. C. A escuta e a fala em psicoterapia: uma proposta fenomenológica-existencial. RJ:Vetor, 2000. FEIJOO, A. M. L. C. Fundamentos Fenomenológico-Existenciais para a clínica psicológica. Anais. Simpósio de Psicologia Fenomenológico-Existencial. Belo Horizonte: Fundação Guimarães Rosa, 2008. FEIJOO, A. M. L. C. A clínica psicológica em uma inspiração fenomenológica-hermenêutica. Estudos e Pesquisas em Psicologia. UERJ, v. 12, n.3, 2012. FEIJOO, A. M. L. C. Existência & Psicoterapia: da psicologia sem objeto ao saber fazer na clínica psicológica existencial. RJ: IFEN, 2017. YALOM, I. Os Desafios da terapia. RJ: Ediouro, 2007. YALOM, I. O carrasco do amor. RJ: Ediouro, 2012. ANEXO 2 _____________________________________________________________________________________ Orientações para preenchimento de Prontuário OBSERVAÇÃO: ABRIR PRONTUÁRIO APENAS APÓS O PRIMEIRO ATENDIMENTO No item: Queixa inicial e observação da demanda subjacente Após o primeiro atendimento, descrever a queixa inicial do analisando (o que o levou à terapia). Após o período avaliativo (quatro primeiras sessões), o analista pode acrescentar sua observação sobre a questão subjacente (Tab 1). No item: Procedimentos e recursos utilizados durante o processo de avaliação psicodiagnóstico A cada semana, o analista deverá escrever: 1ª Semana – Data ___/____/____ Síntese: ▪ Avaliação psicodiagnóstica: entrevista individual fenomenológica, não-diretividade e atenção flutuante. ▪ Questões abordadas: ................................................................................................ ▪ Postura do analisando: informar sobre comportamentos, humor e posicionamento existencial (Tab. 2). ▪ Atuação do analista: (Tab. 3) Obs: A estrutura acima deve ser repetida nas quatro sessões dedicadas à avaliação psicodiagnóstica. No item: Estratégias para o atendimento psicoterápico Esta página só deverá ser preenchida a partir da quinta sessão. O analista deverá escrever: 5ª Semana – Data ___/____/____ Síntese: ▪ Atendimento psicoterápico fenomenológico-existencial. ▪ Questões abordadas: ................................................................................................▪ Postura do analisando: informar sobre comportamentos, humor e posicionamento existencial (Tab. 2). ▪ Atuação do analista: (Tab. 3) No item: Prognóstico e previsão de encerramento Síntese: O analista deve informar se o processo psicoterapêutico foi interrompido (e por qual motivo), concluído ou se será continuado. (Não trabalhamos com previsão de encerramento). _________________________________________________________________________ Observação: Se o paciente ou analista faltar, registre a semana e informe: falta do paciente/analista (com ou sem justificativa) TABELA 1 Questões subjacentes A. AMEAÇA DE PERDA DO SENTIDO DA VIDA B. CULPA EXISTENCIAL C. DIFICULDADE EM LIDAR COM A RESPONSABILIDADE PELAS PRÓPRIAS ESCOLHAS D. DIFICULDADES DE AUTO-ACEITAÇÃO E. MEDO DA MORTE F. MEDO DA SOLIDÃO G. NECESSIDADE DE ACEITAÇÃO H. PERDA DO SENTIDO DA VIDA TABELA 2 Posicionamento do analisando AUTORREFERÊNCIA FALATÓRIO CULPA EXISTENCIAL MAXIMIZAÇÃO DO SOFRIMENTO MEDO DA MORTE NÃO-LIBERDADE (MÁ FÉ) MEDO DA SOLIDÃO MINIMIZAÇÃO DO SOFRIMENTO PERDA NO IMPESSOAL|HETERORREFERÊNCIA PROJETO IDEALIZADO DE SI TABELA 3 Atuação do analista ACOLHIMENTO AMPLIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA SOBRE LIMITES EXISTENCIAIS BUSCA DE REFERENCIAIS PRÓPRIOS CLARIFICAÇÃO DAS EXPECTATIVAS OU ANSEIOS DO CLIENTE CLARIFICAÇÃO DE UM PADRÃO EXISTENCIAL | POSICIONAMENTO REPETITIVO DESCENTRALIZAÇÃO DO REFERENCIAL DO CLIENTE PARA OUTROS REFERENCIAIS. EVITAÇÃO DA FUGA PARA O IMPESSOAL EXPLORAÇÃO DA VIVÊNCIA EXISTENCIAL ATRAVÉS DE ATITUDE INQUISITIVA EXPLORAÇÃO DA VIVÊNCIA EXISTENCIAL ATRAVÉS DE FALA EXEMPLIFICADORA EXPLORAÇÃO DA VIVÊNCIA EXISTENCIAL ATRAVÉS DE FALA EXPLORADORA FOCALIZAÇÃO NO AQUI-E-AGORA MANUTENÇÃO DA ANGÚSTIA | CONFRONTAÇÃO COM OS DADOS DA EXISTÊNCIA MOBILIZAÇÃO DE RESPONSABILIDADES PROVOCAÇÃO DE POSSIBILIDADES EXISTENCIAIS PROVOCAÇÃO DE REESTRUTURAÇÃO EMOCIONAL REFLEXÃO DE CONTEÚDO NÃO-VERBAL REFLEXÃO DE CONTEÚDO VERBAL REVELAÇÃO DE SITUAÇÕES CONFLITIVAS/CONTRATIDÓRIAS
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