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A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA PENA DE MORTE THE (UN)CONSTITUTIONALITY OF DEATH PENALTY RESUMO O objetivo do presente trabalho, o qual possui caráter bibliográfico, consiste na realização de uma abordagem dissertativa sobre a pena de morte no Brasil, no Direito Constitucional Brasileiro. Tenciona-se, ainda, realizar algumas observações acerca da existência de uma proteção ao direito à vida, com seu consentimento constitucional na possibilidade de guerra anunciada. Dando continuidade à pesquisa, será realizada uma breve análise sobre a evolução da pena de morte no Brasil, iniciando pela Constituição Brasileira de 1824, percorrendo o período após a Era Vargas em 1946 e, findando com a Constituição Federal Brasileira de 1988. Pretende-se ainda trazer argumentos a favor e contra à pena de morte e algumas considerações sobre a Constituição Americana. PALAVRAS-CHAVE: Pena de Morte, Código Penal, Direito Constitucional, Direito à Vida, Constituição Federal Brasileira. ABSTRACT This bibliographic work, the objective is to create an approach to the death penalty in Brazilian Constitutional Law System. Moreover, to bring some observations about the existence of the right to life protection with its constitutional consent in declared war case. Carrying on the search, it will be presented a brief analysis about the evolution of death penalty in Brazil, starting with the Constitution of 1824, showing Vargas era in 1946, and current Federal Constitution of Brazil, pros and cons arguments about the death penalty and some considerations about American Constitution. KEY-WORDS: Death Penalty, Penal Code, Constitutional Law, Right to Life, Brazilian Federal Constitution. 2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este trabalho, de caráter bibliográfico, tem por objetivo realizar uma aborda- gem dissertativa sobre a sobre “A (In)Constitucionalidade da Pena de Morte”. A base teórica do trabalho estará ancorada nas Teorias do Direito Constitucional de autores como: Fernando Barcellos de Almeida (1996), Zulmar Fachin (2008), Pedro Lenza (2015), Norberto Bobbio (1992) e na Constituição Federal Brasileira de 1988. Inicialmente, pode-se dizer que entre os direitos fundamentais garantidos pelo sistema jurídico brasileiro, encontramos o direito à vida, assegurado como Cláusula Pétrea na Constituição Federal Brasileira de 1988 e positivado como direito fundamental, com o intuito de proteger todas as pessoas. A pena de morte sempre existiu entre os seres humanos. Ainda que tenha sido utilizada por muitas sociedades no decorrer dos tempos, e apesar de em algumas ela ainda permanecer, traz em si muitos paradoxos, gerando diversas demandas com relação aos seus fins e a sua efetividade. Finalmente, neste trabalho serão expostos, ainda, alguns pontos sobre o conceito de pena de morte, sobre o que é vida, sobre a história da Pena de Morte nas Constituições Brasileiras desde os tempos do Império e sobre os Direitos Fundamentais do Cidadão, garantidos pela Constituição de 1988 e, dando continuidade a pesquisa, será realizada uma breve análise sobre a evolução da pena de morte no Brasil, iniciando pelo Código Penal de 1830, percorrendo o período após Era Vargas em 1946, e findando com a Constituição Federal Brasileira de 1988, de modo a traçar um comparativo com relação à Constituição Americana. 1 CONCEITO DE PENA DE MORTE A pena de morte, também chamada “pena capital”, consiste na sentença de execução aplicada pelo Estado, sob autoridade do poder judiciário, na qual se condena a morte o réu que cometeu, ou seja, suspeito de ter cometido um crime considerado grave e justo de ser punido com a morte. Em nossos dias, a maioria dos países, tal como o Brasil, admite este tipo de pena somente em casos especiais, como os casos de guerra declarada. Não é possível encontrar dados históricos acerca da origem desta pena. Contudo, se nos reportarmos ao século XVII a.C., período em que vigorava, na 3 Antiga Mesopotâmia, “o Código Hamurabi”, notaremos, em uma das cláusulas da “Lei de Talião”, a previsão de aplicação da pena de morte para os crimes considerados hediondos na época e como forma de vingança por parte de pessoas lesadas. A título de exemplo, se uma pessoa era morta por homicídio, um parente ou pessoa próxima da vítima poderia vingá-la matando seu assassino, era o chamado “olho por olho e dente por dente”. Para Bobbio (1992, p. 161): Jamais se pôs em dúvida que, entre as penas a infligir a quem violou as leis da tribo, ou da cidade, ou do povo, ou do Estado, estivesse também a pena de morte, ou mesmo que a pena de morte fosse a rainha das penas, aquela que satisfazia ao mesmo tempo as necessidades de vingança, de justiça e de segurança do corpo coletivo diante de um dos seus membros que se havia corrompido. Atualmente, os Estados Unidos, junto com o Japão, são os únicos países democráticos a continuar com esta pena em seu ordenamento jurídico. No mais, esta pena somente vigora ainda em países não democráticos. No próximo tópico trabalharemos o conceito de vida. 2 O QUE É VIDA? A palavra vida (derivada do latim “vitae”) por possuir ampla definição, permite diversos conceitos. Pode fazer referência a um sistema do qual todo ser vivo faz parte; como também ao período que compreende desde a concepção até a morte de um organismo. De acordo com o dicionário Aurélio, vida seria: “o período de tempo que decorre desde o nascimento até a morte dos seres”. Nas palavras de Almeida (1996, p.54): Vida em sentido geral é o conjunto de propriedades e qualidades graças às quais animais e plantas, ao contrário de organismos mortos ou da matéria bruta, se mantém em contínua atividade, manifestada em funções orgânicas, tais como o metabolismo, o crescimento e a reação a estímulos, a adaptação ao meio e a reprodução. Já, em sentido filosófico, o conceito de vida está ligado à questão existencial, pois, mesmo que não seja esta a questão central da filosofia, ela está presente em 4 sua base, visto que nos leva a questionar nossa existência de modo a abrir-nos perspectivas de esperança e de construção de sentidos. Há também filósofos que atribuem uma definição negativa ao conceito de vida, como por exemplo, o francês Gerald Legran, que nos diz: “vida é o conjunto de forças que resistem à morte”. Portanto, analisando as palavras do autor, pode-se inferir que vida e morte se contrapõem, mas ambas estão no mesmo plano. 3 HISTÓRICO DA PENA DE MORTE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO A pena de morte no Brasil teve início quando o país ainda era colônia de Portugal, e dependia das Ordenações Portuguesas, e entre elas encontrava a pena de morte. No ano de 1822, com a Proclamação da Independência, a pena de morte passou a fazer parte do Código Penal em 1830. Logo após a proclamação da República em 1889, e a publicação do novo Código Penal em 1890, a pena de morte foi extinta, e permitida na Lei Militar apenas no período de guerra. Contudo, apesar de ter permanecido no ordenamento jurídico brasileiro até o início do período republicano, Dom Pedro II, antes da queda do Império, garantiu que esta não mais fosse aplicada, findando, assim, um período de mais de três séculos de morticínios. Nas palavras de Silva (2006, p. 01): Falar sobre pena de morte no Brasil significa, equivocadamente, um retorno ao período imperial brasileiro. Os ecos dos ideais liberais republicanos, sacralizados com a Constituição de 1891, talvez ainda estejam presentes no ideário brasileiro acerca da pena capital; prova disso é que a lembrança mais recorrente de um caso de condenação à morte no Brasil é o do fazendeiro Manoel de Motta Coqueiro, retrato de um erro judiciário, que foi celebrizado pelo livro “Motta Coqueiro ou a pena de morte”, de José do Patrocínio, publicado em 1877. No Brasil, outro caso muito famoso decondenação à morte foi de Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como “Tiradentes”, na época somente ele confessou ter se envolvido na Inconfidência Mineira. Após julgado e condenado, Tiradentes foi sentenciado à morte em praça pública por meio da forca. Esse acontecimento ficou marcado na história brasileira como cruel. 5 3.1 Constituição de 1824 Outorgada em 25 de março de 1824, esta constituição teve grande influência da francesa de 1814. Nela, não estavam previstas as penas cruéis como, a tortura, os açoites, a marca com ferro quente e todas demais penas assim consideradas, e instituiu a igualdade entre os cidadãos. Essas mudanças foram as primeiras alterações ocorridas após a Independência do Brasil. Nas palavras de Tucunduva (1976, p. 33): Dentre os direitos públicos subjetivos, sobreleva o que consta do item 19, do artigo 179: "Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas cruéis". Assim, pelo menos à primeira vista, estava virtualmente abolida a pena de morte, cruel, porque executada mediante enforcamento. Ao positivar em seu texto a garantia dos mais variados direitos exaltados no Brasil, a primeira Constituição, publicada em 1824, garantiu de maneira explícita a revogação das penas cruéis, as quais até então vigoravam no ordenamento jurídico português sob o qual estava subordinado o país em seu período colonial. Bittencourt (2013, p. 196) apud Neder (2009, p. 80) afirma que: “a pena de morte visava predominantemente produzir efeitos inibidores-repressivos dissuasórios. A sua aplicação, contudo, incidia mais sobre os crimes de lesa- majestade; vale dizer, crimes políticos”. 3.2 Código Imperial Criminal de 1830 Em 1830 foi criado o Código Criminal do Império, que anulava a legislação penal colonial e mudava as concepções de crimes para o Brasil. Com a publicação desta nova legislação, a pena de morte tornou-se novamente legalizada no Brasil. A pena de morte legalizada neste código era restrita aos escravos rebelados. Na época o país vivia uma onda de revoluções, desordem e agitação social, tudo por conta da presença dos portugueses, da escravidão e do racismo. Nesta legislação, a execução da pena de morte ocorria somente através da forca. Os crimes previstos de pena de morte eram o de insurreição de escravos, homicídio qualificado e latrocínio. 6 3.3 Constituição de 1891 Com a promulgação constituição de 1891, o Código Penal Brasileiro sofreu uma reformulação, de modo a garantir a abolição total da pena de morte, salvo apenas em caso de guerra declarada. Sendo que, jamais poderia ser aplicada aos crimes comuns. Nesse período também, com a Constituição Federal de 1891, inicia-se uma divergência nunca antes questionada, pois o discurso da humanização das penas é impetrado através de uma maior atenção e valorização das garantias individuais. 3.4 Constituição de 1934 A criação de uma Nova Constituição, com 187 artigos, foi divulgada no dia 16 de julho de 1934. Revolucionários vitoriosos à época passam o governo para Getúlio Vargas, o chefe da revolução vitoriosa. Essa constituição proibiu também a pena de morte, deixando a questão somente em caso de guerra, ressalvando quando for com país estrangeiro. 3.5 Constituição de 1937 Em 1937, foi outorgada no dia 10 de novembro a quarta Constituição Brasileira, conhecida como “A Polaca”, devido a suposições de que a mesma foi inspirada na Carta Magna vigente na Polônia. Ela trouxa trouxe as garantias das anteriores, mas quebrou uma tradição das demais, além de tratar da legalidade da pena de morte somente em caso de guerra declarada, trazia também a sua legitimidade para os seguintes crimes: 1. Tentar submeter o território da Nação, ou parte dele, à soberania de Estado estrangeiro; 2. Tentar, com o sem auxílio ou subsidio do estado estrangeiro ou organização de caráter internacional, contra a unidade de Nação, procurando desmembrar o território sujeito a soberania; 7 3. Tentar por meio de movimento armado, o desmembramento do território nacional, desde que para reprimi-lo se torne necessário proceder a operação de guerra; 4. Tentar, com auxilio ou subsidio de Estado estrangeiro ou organização de caráter internacional, a mudança da ordem política ou social estabelecida na Constituição; 5. Tentar subverter por meios violentos a ordem política e social, com o fim de apodera-se do Estado para o estabelecimento da ditadura de uma classe social; de homicídio cometido por motivo fútil e com extremos de perversidade. Como podemos notar, nesta Constituição, o Congresso Nacional se preocupou muito com a segurança nacional, sobretudo com a possibilidade de uma invasão por parte de um Estado estrangeiro e de uma possível ditadura interna. Porém, o legislador foi além, tratando o homicídio por motivo fútil como sendo um crime passível de pena de morte. Embora a Constituição trouxesse essa previsão, neste período, não houve nenhuma execução de pena de morte, fosse por crime de homicídio ou contra segurança nacional. 3.6 Constituição de 1946 Ao final dos anos 40, com o fim da Era Vargas, a ascensão do General Gaspar Dutra ao poder e a redemocratização do Estado Brasileiro, houve a promulgação de uma nova Constituição da República, a qual segundo Fachin (2008, p. 90): Proibiu a pena de banimento, de confisco e de caráter perpétuo e manteve a abolição da pena de morte em tempos de paz, condicionando-a somente a casos de guerra declarada, e prevendo, ainda, o mandado de segurança e o habeas corpus. 3.7 Constituição de 1967 Após várias emendas e inúmeros Atos Inconstitucionais Complementares, a Constituição Brasileira de 1946 ficou de tal modo “desfigurada”, que o Presidente da República se viu obrigado a conferir poderes constituintes aos membros do Legislativo, a fim de prover o país de uma nova Constituição. 8 Nesta Constituição, vemos o retorno, em termos gerais, à antiga tradição jurídica brasileira, tratando da pena de morte somente em caso de guerra declarada. Recordemos aqui o que dispunha a primeira redação da Constituição Federal Brasileira de 1967: “Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento nem de confisco. Quanto à pena de morte, fica ressalvada a legislação militar aplicada somente em caso de guerra externa”. (art. 153, § 11) Contudo, como será tratado a seguir, mais uma vez a tradição jurídica brasileira sofreu solução de continuidade no que diz respeito a pena máxima, com a publicação da Emenda Constitucional de 1969, ocorrida no período ditatorial. 3.8 Emenda Constitucional de 1969 (Período Ditatorial) Embora a jurisdição brasileira sempre fosse contrária a pena de morte, ou a prisão perpétua, salvo em caso de guerra declarada, em 05 de setembro de 1969 é publicado o Ato Institucional 14/1969, através do qual o artigo 153, § 11 da Constituição Federal de 1967 passou a vigorar com a seguinte redação: Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo nos casos de guerra externa psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva nos termos que a lei determinar. Esta disporá também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao Erário, ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou emprego na Administração Pública, Direta ou Indireta. De acordo com Fachin (2008, p. 94): O Ao Institucional 14/1969 passou a admitir a pena de morte, de prisão perpétua, de banimento e de confisco para as hipóteses de guerra externa, psicológica adversa, revolucionária ou subversiva. O Ato Institucional, assinado pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, revogou parcialmente o artigo 153, § 11 da Constituição de 1967, que proibia a pena de morte. Era como se os subscritores doato estivessem investidos de poder constituinte. De acordo com Tucundava (1976, p.41), a referida emenda constitucional previa a pena de morte para os seguintes crimes: 1. Entrar em entendimento ou negociação com Governo estrangeiro a fim de provocar guerra ou atos de hostilidades contra o Brasil. Se os atos de 9 hostilidade forem desencadeados; 2. Tentar, com ou sem auxilio estrangeiro, submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou soberania de outro país, ou suprimir ou pôr em perigo a independência do Brasil. Se, da tentativa, resultar morte: 3. Aliciar indivíduos de outra nação para que invadam o território brasileiro, seja qual for o motivo ou pretexto. Verificando-se a invasão; 4. Comprometer a Segurança Nacional, sabotando quaisquer instalações militares, navios, aviões, material utilizável pelas Forças Armadas, ou, ainda, meios de comunicação e vias de transporte, estaleiros, portos e aeroportos, fábricas, depósitos ou outras instalações, nesse crime seria aplicado à pena de morte se houvesse morte em decorrência da sabotagem; 5. Exercer violência de qualquer natureza, contra Chefe de Governo estrangeiro, quando em visita ao Brasil ou de passagem pelo território brasileiro. Se da violência resultar lesão corporal ou morte; 6. Promover insurreição armada ou tentar mudar, por meio violento, a Constituição, no todo ou em parte, ou a forma de governo por ela adotada. 7. Praticar atos destinados a provocar guerra revolucionária ou subversiva. Se, em virtude deles, a guerra sobrevém; 8. Assaltar, roubar ou depredar estabelecimento de crédito ou financiamento, qualquer que seja a sua motivação. Se, da prática do ato, resultar morte; 9. Devastar, saquear, assaltar, roubar, sequestrar, incendiar, depredar ou praticar atentado pessoal, ato de massacre, sabotagem ou terrorismo. Se, da prática do ato, resultar morte; 10. Impedir ou dificultar o funcionamento de serviços essenciais, administrados pelo Estado ou executados mediante concessão, autorização ou permissão. Se, da prática do ato, resultar morte 11. Matar, por motivo de facciosismo ou inconformismo político-social, quem exerça autoridade ou estrangeiro que se encontrar no Brasil, a convite do Governo Brasileiro, a serviço de seu país ou em missão de estudo; 12. Exercer violência, por motivo de facciosismo ou inconformismo político-social, contra quem exerça autoridade. Se da violência resultar morte 13. Exercer violência, por motivo de facciosismo ou inconformismo político-social, contra estrangeiro que se encontre no Brasil, a serviço de seu país, em missão de estudo ou a convite do Governo brasileiro. Se da violência resultar 10 morte; 14. A paralisação de serviços públicos, ou atividades essenciais e ao ódio ou à discriminação racial; 15. Perturbar, mediante o emprego de vias de fato, ameaças, tumultos ou arruídos, sessões legislativas, judiciárias ou conferências internacionais, realizadas no Brasil. Se resultar morte. 4. OS DIREITOS DO CIDADÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 4.1 A Pena de Morte O constituinte de 1988 tornou indubitável que não há qualquer chance de se criar à pena de morte nas leis brasileiras, preservando, esta probabilidade, tão so- mente, para os casos de guerra declarada. É claramente perceptível que, ao vedar a pena morte em nossa Constituição, o legislador ordinário, teve por base o princípio da dignidade humana e o princípio do direito à vida, os quais são considerados como características de um Estado So- cial Democrático de Direito. Estes princípios são conceituados como universais, de- vido à sua proteção na Carta Universal de Direitos Humanos, escrita no ano de 1948. Sendo positivado como cláusula pétrea, o direito à vida tutelou o impedimento, preventivo, do legislador ordinário instaurar a pena de morte como regra no ordenamento jurídico Brasileiro. Em 1988, logo após a promulgação da nova Constituição Federal, o então Deputado Federal Amaral Netto apresentou a Proposta de Emenda à Constituição 01/1988, na qual sugeriu a inclusão da pena de morte no Brasil. Todavia a proposta foi declarada inconstitucional, devido ao artigo 60 § 4º, inciso IV, que estipula os direitos e garantias individuais como cláusulas pétreas, vedando assim qualquer possibilidade de discussão acerca do assunto. 4.2 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana O supracitado princípio tem por objetivo a proteção de todos os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, positivados na Constituição Federal de 1988, 11 como, o direito à vida, à saúde, à integridade física, dentre outros direitos essenciais para que uma pessoa tenha uma vida digna. Vale ressaltar que este princípio também atua na esfera penal, pois ao mes- mo tempo em que é dever do Estado punir um agente de conduta delituosa é seu dever, também, promover a ressocialização deste agente para que ele retorne a so- ciedade, sem ofertar perigo. Desta maneira, se o Estado não busca oferecer vias para ressocialização ao agente delituoso, e, ao contrário, impõem-lhe a pena de morte, estará se omitindo em seu dever para com a sociedade. 4.3 O Direito à Vida A Constituição Federal, em seu artigo 5º legitimou o direito à vida, colocando- o como um direito fundamental a brasileiros e estrangeiros que estejam residindo no país. Este direito pode ser desdobrado em duas partes: 1 – Direito de não ser morto, portanto continuar vivo; 2 – Direito à uma vida diga. Acerca disso Pedro Lenza (2015 p. 1154 – 1155) nos diz que: Em decorrência do seu primeiro desdobramento (direito de não se ver privado da vida de modo artificial), encontramos a proibição da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, inciso XIX. Assim, mesmo por emenda constitucional é vedada a instituição da pena de morte no Brasil, sob pena de se ferir a cláusula pétrea do artigo 60, § 4º, inciso IV. (...) Quanto ao segundo desdobramento, ou seja, o direito a uma vida digna, a Constituição garante as necessidades vitais básicas do ser humano e proíbe qualquer tratamento indigno, como a tortura, penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc. 5 ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRA A PENA DE MORTE A polêmica relacionada à colocação ou não da pena de morte no ordenamento jurídico brasileiro, tem sido fruto de muitas discussões e falta de consenso. Existem argumentos que a justificam, como também os que a condenam. Embora todos estejam muito bem fundamentos, acabam sempre indo de encontro 12 com questões morais do ser humano, o que culmina na falta de uma conclusão esclarecedora sobre o assunto. 5.1 Argumentos a favor da pena de morte 1. Alguns defensores da instituição desta pena alegam que muitos indivíduos são irrecuperáveis, por isso, representam um perigo constante para a sociedade, como por exemplo, aqueles que cometem crimes bárbaros que geram grande comoção popular e que, na maioria das vezes, não se mostram arrependidos. 2. A pena de morte não se configuraria como uma injustiça em caso de julgamento errado, visto que quando há dúvidas que não são sanadas no júri, é vedada a sua aplicação. 3. Sua aplicação seria a única forma de impossibilitar novos delitos por parte de criminosos com elevado grau de periculosidade. Em outras palavras, uma maneira de “acabar de uma vez por todas” com os atos desses criminosos, pois, mesmo que apareçam outros, aquele que cometeu determinado delito não mais o cometerá. 5.2 Argumentos contra a pena de morte 1. A aplicação desta pena seria uma “maneira disfarçada” da sociedade ou dos prejudicados se vingarem dos criminosos, o que configuraria um ato de repulsão para reprimir outro ato reprovável. 2. Depois de aplicada, esta pena não tem como ser corrigida. Se após a sua execução surgirem novas provas atestando a inocênciado condenado, não será possível retroagir a sentença e nem pagar a devida indenização pelo erro cometido àquele que foi condenado injustamente. 3. Esta pena é injusta, pois coloca fim a vida do criminoso, sem antes lhe dar a chance de arrepender-se de seus erros e se ressocializar. Todo criminoso deve ter no mínimo uma chance de provar que o sistema prisional regenerou sua vida. 13 6 CONSTITUIÇÃO AMERICANA Nos Estados Unidos, o Congresso Nacional ou qualquer Legislação Estadual pode pedir a pena de morte, por assassinato ou outros crimes capitais. Os estados da Federação Americana possuem autonomia para realizarem execuções. Por isso que em alguns Estados encontramos a pena de morte como sendo legal no ordenamento jurídico enquanto em outros não. A Constituição Americana, diferente da Constituição Brasileira, dá autonomia aos Estados para tomarem este tipo de decisão. A Constituição Nacional Americana define limites somente com relação aos tipos de crimes aos quais que podem ser aplicados à pena de morte, sendo que cada vez mais vem sendo reduzido pela Suprema Corte America os crimes pelos quais as pessoas que cometem podem ser sentenciadas a pena de morte. Pode-se dizer que esta redução é uma tendência atual, pois muitos Estados não somente estão delimitando os crimes aos quais pode ser aplicada a pena capital, como também estão abolindo a pena de morte. Na República Americana, houve e ainda há uma grande disputa nos tribunais sobre a legalidade da pena de morte. A mais importante discussão é sobre a 8ª emenda constitucional, a qual faz parte do Bill of Rights (Declaração de Direitos, assinada em 1689). Essa emenda é que trata sobre os absurdos cometidos por parte do Estado, como por exemplo, impor fianças abusivas, penas cruéis e desnecessárias, até mesmo tortura. A mais relevante disputa sobre o tema ocorreu em 1972, no caso Furman versus Gerorgia: a Suprema Corte decidiu na época que a pena de morte era inconstitucional porque feria a 8ª emenda constitucional. A decisão foi apertada, foram 5 votos a favor e 4 contra. Dessa forma, a pena de morte foi suspensa até o ano de 1976, quando a Suprema Corte voltou a decidir favorável a pena de morte, alegando que a mesma não feria a 8ª emenda. Vale ressaltar que a 5ª e 14ª emendas constitucionais americanas tem grande repercussão na Suprema Corte America, sendo, também, objeto de disputas sobre a legalidade ou não da pena de morte. Até a década de 60, as emendas constitucionais 5, 8 e 14, eram interpretadas de maneira fria, de modo que a pena de morte era vista como legal dentro do ordenamento jurídico Americano. A Constituição Americana não permite que os Estados façam acordos internacionais de direitos humanos, somente o Presidente da República pode 14 assinar um acordo desse tipo, com a aprovação de no mínimo 2/3 do Senado Americano. Portanto, o ordenamento jurídico americano não faz nenhuma referência às Leis Internacionais dessa espécie. Diante do exposto, quando comparadas as Constituições Brasileira e Americana, fica claramente perceptível que a Constituição Americana dá autonomia aos Estados da Federação para legislarem cada qual à sua maneira, motivo pelo qual os mesmos possuem poderes para decidirem sobre a legalidade ou não da pena de morte. Já a Constituição Brasileira, permite aos Estados terem suas próprias Constituições, porem, as mesmas devem respeitar e estão subordinadas a Constituição Federal (princípio da “simetria constitucional”). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a realização da pesquisa, foi possível verificar que a pena de morte, quando era permitida no Brasil, acarretou no cometimento de inúmeras injustiças, principalmente contra os negros, escravos, os menos favorecidos e a minoria. Nos países que adotam esse tipo de pena, os estudos e pesquisas mostram que a mesma não reduz a violência nem o custo do Estado em manter o réu no sistema carcerário. Nos Estados Unidos, é fato comprovado que, aplicar a prisão perpétua é mais barato que colocar o réu no corredor da morte, sendo que chega a levar longos anos para que o Estado alcance a execução do detento através do processo legal, onde advogados e o Estado, através do Ministério Publico, travam longas batalhas jurídicas a altos custos. No Brasil, qualquer possibilidade de implantação desta pena é de caráter inconstitucional, mas, ainda sim, em nossos dias existe uma grande pressão social por parte da sociedade e por algumas correntes políticas que ainda insistem em ludibriar a população afirmando que é possível implantar tal pena em nosso país. E, foi partindo deste ponto, que esta pesquisa analisou a impossibilidade constitucional de criação desta pena no ordenamento jurídico brasileiro dos dias de hoje. Assim sendo, qualquer debate sobre este tema torna-se impróprio, visto que é vedada na nossa Constituição Federal a aplicação da pena de morte. Tal vedação é uma garantia individual, prevista no artigo 5º, inciso XLVII, e está positivada como cláusula pétrea, não permitindo qualquer alteração ou abolição por meio de Processo Constituinte. De maneira que só seria possível sua implantação no Brasil 15 através de uma revolução ou um golpe, com o uso da força e, com o rompimento da atual Constituição por meio da promulgação ou da imposição de uma nova Constituição Federal. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria Geral dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1996. AMARAL, Ariel Carneiro. Pena de Morte. Disponível em: <http://carneiro.jusbrasil.com.br/artigos/111686526/pena-de-morte>. Acesso: 15. Mai. 2019. AWAD, Fahd. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Disponível em: < http://www.upf.br/seer/index.php/rjd/article/viewFile/2182/1413>. Acesso: 15. Mai. 2019. BITTENCOURT, Daniela Almeida. A previsão constitucional da pena de morte no Brasil e suas implicações no atual contexto global em prol dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=1e747ddbea997a1b>. Acesso: 15. Mai. 2019. BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 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