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Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) INTRODUÇÃO Preparo dental • Tratamento biomecânico de lesões que comprometem os tecidos den- tais, permitindo que o remanes- cente dental receba uma res- tauração que o proteja, seja resis- tente e previna reincidência de cárie; • Devolve estética e função ao dente acometido. Legenda: Preparo dental Classe I de Black. Preparo protético • Processo de desgaste seletivo de esmalte e/ou dentina em quan- tidade e locais pré-determinados; • Cria espaços para prótese indivi- dual ou retentor de próteses fixas ou removíveis; • Segue passos operatórios pré- estabelecidos, com instrumentais selecionados e específicos para cada caso. Legenda: Preparo protético no ILS. Restauração Direta • Restauração confeccionada direta- mente na boca do paciente, não necessitando de sessões clínicas e etapa laboratorial adicionais; • Como exemplos, temos as restau- rações em amálgama, as quais necessitam de um preparo retenti- vo para se manterem na estrutura dental (não apresentam adesão química com o dente), e algumas restaurações em resina. Legenda: Preparo dental Classe II de Black. Notar a convergência das faces Vestibular e Lingual para a Oclusal. Restauração Indireta • Restauração confeccionada indire- tamente na boca do paciente, e necessita de sessões clínicas e eta- pa laboratorial adicionais; • O preparo deverá ser expulsivo, permitindo que o protético consi- ga remover a restauração do tro- quel, e seu término com eixo de inserção único, para evitar criação de eixos de rotação; Legenda: em A), o preparo apresenta um único eixo de inserção. • Além de permitir a remoção da restauração do troquel, a expulsi- vidade do preparo também im- pacta a retenção e estabilidade da prótese. PRINCÍPIOS BIOMECÂNICOS DOS PREPAROS DENTAIS COM FINALIDADE PROTÉTICA Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS Preservação da estrutura dentá- ria 1. Desgaste excessivo pode gerar danos: • Hipersensibilidade térmica pela exposição dos túbulos dentinários; • Inflamação e/ou necrose pulpar pela proximidade do tecido dentá- rio com a polpa. • Inclinação excessiva pode sacrifi- car a retenção e resistência da pró- tese; • Preparos curtos podem sacrificar a estabilidade da prótese. Fatores que levam ao comprometi- mento pulpar: a) Preparo cavitário inadequado, como a exposição pulpar iatrogê- nica; b) Evolução do processo carioso; c) Traumas com exposição pulpar; d) Materiais restauradores com manipulação inadequada, como a não neutralização do eugenol no cimento de óxido de zinco e eugenol (substância irritativa para a polpa). 2. Realizar desgastes seletivos das faces dos dentes: • De acordo com a necessidade esté- tica e funcional da prótese plane- jada. A preservação da estrutura dentária não se dá apenas por evitar o desgaste: a) Planejamento da restauração para reforço e proteção da estrutura dental remanescente; b) Odontologia minimamente inva- siva X Suficientemente invasiva. Preservação do periodonto e es- truturas adjacentes • O periodonto é a base para a este- tica, função e contorno da denti- ção. • A reabilitação deve trazer ou manter a saúde do periodonto. • Melhores resultados dependem das margens dos preparos: a) Terminações regulares; b) Posição com melhor acesso para o controle do biofilme. Tipos de Preparo: 1. Supra-sulculares: o preparo não adentra o sulco gengival. Mais fácil de higienizar, moldar e pos- sui melhor justeza de adaptação. 2. Intra-sulculares: o preparo se situa dentro do sulco gengival. Para realiza-lo e para a moldagem, é necessário o uso de fio retrator. • Razões para o término intra- sulcular: a) Estéticas: quando se utiliza coroas metalocerâmicas com cintas metálicas; b) Mecânicas: quando em dentes curtos, representa maior área de dente preparado para maior retenção e estabilidade; c) Quando houver acometimento dessa região por cáries ou términos de restaurações antigas. 3. Sub-sulculares: nunca devemos realizar esse tipo de preparo → fator etiológico de periodontite: • Invasão do espaço biológico: inflamação gengival, reabsorção Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) da crista óssea alveolar e formação de bolsa periodontal; • Na invasão do espaço biológico: a) Realizar aumento de coroa clínica; b) Caso afete o dente de forma irre- versível, estudar a possibilidade de extração dentária. Obs.: Quanto mais profundo o término: - Maior dificuldade de moldagem; - Maior dificuldade de adaptação das peças protéticas; - Maior dificuldade de higienização. PRINCÍPIOS MECÂNICOS Retenção • Propriedade de resistir ao deslo- camento no sentido contrário do seu eixo de inserção, quando submetido às forças de tração; • É dada pelas superfícies interna e externas; • Fatores: 1. Grau de conicidade do preparo: • Dentes com coroa clínica curta necessitam de uma menor con- vergência para permitir retenção adequada; • Dentes com coroa clínica longa permitem uma maior convergên- cia (permitir não quer dizer necessitar). - Quanto mais cônico o preparo, menor a retenção, e maior o desgaste do dente; 2. Área de superfície do preparo: • Quanto maior a área de superfície do preparo, maior a retenção da peça protética. • Quanto maior a coroa clínica, maior a superfície de contato e maior retenção da peça protética. - Caixas e sulcos favorecem o prognóstico, pois aumentam a superfície do preparo; a) Único eixo de inserção: caixas e sulcos; b) Múltiplos eixos de inserção: au- sência de caixas e sulcos. - Além disso, quanto maior o diâmetro do preparo, maior é a retenção. 3. Área de cimento sob efeito de cisa- lhamento: • 2 superfícies, paralelas ou ligeira- mente paralelas, do preparo, que podem ser internas ou externas; • A resistência ao cisalhamento é dada por paredes opostas; Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) • A maior resistência ao cisalha- mento ocorre quando a peça pro- tética apresenta eixo de inserção único; • A altura do preparo interfere na retenção: - Quanto maior a altura, maior a retenção e menor é a força de cisalhamento. • Preparo com maior diâmetro tem maior retenção que um preparo estreito de mesma altura. 4. Aspereza da superfície do dente: Retenções nos preparos (sulcos) X Microrretenção mecânica (adesão química); • Projeção do cimento nas irregular- dades microscópicas: a) O cimento de fosfato de zinco tem imbricamento mecânico com a superfície do dente e a peça protética; b) Já os cimentos resinosos neces- sitam de microrretenções criadas pelo condicionamento ácido da estrutura. 5. Formas auxiliares de retenção: • Caixas, sulcos, canaletas e conduto para pino intrarradicular; • Função: limitar o deslocamento da peça protética. Resistência • Habilidade do preparo de previ- nir o deslocamento da restaura- ção; • O dente está sujeito a diversas forças de direções e magnitudes diferentes; • A peça protética deve suportar as forças para não fraturar, deformar ou deslocar. Estabilidade da peça é a capacidade do material resistir às forças mastigatórias sem deformar. O material deve apresentar espessura uniforme para tanto. • Fatores relacionados: 1. Ação de Alavanca: • As forças durante a mastigação têm sentido apical, em direção paralela ao longo eixo do dente; • Essas forças podem produzir esforços de tensão e cisalhamento, provocado pelo efeito de alavanca no dente; • O efeito de alavanca faz com que ocorra deslocamento das prótesescimentadas, quando a força passa fora da área de superfície do preparo, ou quando ocorre flexão da estrutura metálica. • Alavanca interfixa: pior tipo. Legenda: em B), é demonstrado o efeito da alavanca interfixa, o qual causa deslocamento da peça protética. Pode-se reparar em A) que a força aplicada não causa deslocamento. - Quanto mais longe do fulcro as for- ças de resistência, maior a vantagem mecânica. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) 2. Magnitude e direção da força: • Forças de grande intensidade e direcionadas lateralmente, como ocorre nos pacientes que apresen- tam bruxismo, podem causar des- locamento da restauração. 3. Relação largura/altura: • Como dito anteriormente, prepa- ros mais baixos apresentam menor resistência, enquanto pre- paros mais altos apresentam maior resistência; • Peças protéticas mais grossas, apresentam menor resistência; • Usualmente, utiliza-se peças protéticas de 2mm de espessura, pois apresentam boa resistência; - Porém, nesses casos, se a Largura for maior que a Altura, a resistência será menor. - A altura deverá ser mais ou menos igual à largura. Obs.: em dentes curtos, confeccionar sulcos e canaletas para aumentar a resistência. 4. Conicidade X Resistência: • Quanto maior a conicidade, menor a resistência, também já mencionado anteriormente. Rigidez estrutural • A peça protética deve ter espes- sura suficiente de acordo com o material selecionado; • O preparo deve fornecer a quan- tidade de desgaste suficiente que atenda às demandas do material; • Desgastes seletivos: desgastes estéticos e funcionais da restau- ração. Fatores que melhoram a rigidez estru- tural: a) Redução oclusal; b) Bisel da cúspide funcional (VIPS): - Superiores: cúspide lingual; - Inferiores: cúspide vestibular; c) Redução axial; Durabilidade da estrutura da restauração • É imprescindível respeitar os princípios biomecânicos, pois eles geram longevidade à restauração; • A estrutura do dente deve ser removida até obter adequado volume para o material restau- rador. • Possibilidades de falha na durabi- lidade da restauração: a) Falta ou excesso de redução oclusal; b) Falta ou excesso de redução axial; c) Falta de reforço das estruturas. Integridade marginal • Objetivos da restauração cimenta- da: a) Estar bem adaptada ao término: apresentar justeza de adaptação; Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) b) Linha mínima de cimento. • Para isso ocorrer, deve apresentar: a) Término cervical plano e bem polido; b) Términos preferencialmente su- pra-sulculares; c) Bom afastamento gengival no ato da moldagem; d) Modelos de trabalho bem feitos. • Desajustes do término ou falta de adaptação marginal geram: a) Impacção alimentar; b) Retenção de biofilme; c) Doença periodontal; d) Recidivas de cárie; e) Perda do trabalho. Rotação ao redor do eixo verti- cal • Coroa sob forças horizontais recebe torque (movimentos no eixo vertical e no eixo horizontal). PRINCÍPIOS ESTÉTICOS • Buscar referências que auxiliem no direcionamento do caso; • A composição do sorriso consi- derado belo, atraente e saudável depende do equilíbrio entre: a) Forma e função (muito impor- tante); b) Simetria; c) Lábios; d) Gengiva; e) Os referenciais devem atender aos requisitos funcionais. • O preparo dental é de importância fundamental para a aplicação desses princípios. • São eles: 1. Plano horizontal; 2. Linha média; 3. Linha dos zêniths gengivais; 4. Linha alta do sorriso; 5. Longo eixo dos dentes; 6. Proporção dental; 7. Pontos de contato. Tipos de término cervical: 1. Ombro ou degrau 90º • Tipo de terminação utilizado anti- gamente para a confecção de coroas de porcelana e coroas meta- locerâmicas, pois necessitavam de maior espessura para dar resistên- cia; Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) • Caiu em desuso, por seu comportamento crítico quanto à precisão de adaptação e escoa- mento do cimento. 2. Ombro arredondado: • Indicada para coroas totalmente cerâmicas; • Maior desgaste na região cervical, o que proporciona maior resis- tência e linha de preparo bem definida; • Esse preparo diminui a concen- tração de tensões e permite melhor escoamento do cimento. 3. Ombro (degrau 90º) biselado 45º • Término indicado para coroas metalocerâmicas; • O bisel melhora a adaptação marginal e inserção da coroa; • Desvantagem: maior remoção de tecido dental. 4. Ombro biselado 45º arredonda- do: • Término indicado para coroas metalocerâmicas; • Ângulo áxio-cervical arredon- dado, com bisel; • O bisel melhora a adaptação marginal e inserção da coroa. 5. Chanfro a) Chanfro ou côncavo raso: • Muito empregada para termina- ções de preparo; • Término indicado para coroas totalmente metálicas, preparo lingual de dentes posteriores e facetas; • Obtém-se margem fina com míni- mo desgaste e espessura sufi- ciente para a resistência do material; b) Chanfro ou côncavo largo: • Término indicado para restau- rações totalmente cerâmicas: possibilita menor discrepância marginal e permite melhor escoa- mento do cimento; • O término em chanfro largo tem linha de terminação nítida, promove melhor distribuição de tensões e possibilita obtenção de contornos adequados (vestibular, cevrical e proximais). Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) c) Chanfro ou côncavo biselado 45º: • Término indicado para coroas metalocerâmicas; • Término bastante semelhante à terminação em ombro, porém mais largo. 6. Chanfrete: • Término confeccionado subgengi- valmente; • Término semelhante ao chanfro raso; • Indicado quando houver cárie ou outro tipo de perda de estrutura dental subgengival prévia, prin- cipalmente por LCNC (Lesões Cervicais não Cariosas); • Se estende à uma localização mais apical, e pode envolver cemento. 7. Ombro inclinado ou 135º • Término indicado para coroa total metalocerâmica; • A terminação do bisel forma um ângulo obtuso de 135º com a parede axial do preparo, e pode ser estendida até a região intra- sulcular: em casos de dentes com comprometimento periodontal e/ou recessão gengival. 8. Lâmina de faca ou Linha Zero • Término muito indicado para elementos dentários com grande estrangulamento cervical ou dentes pilares de prótese fixa com comprometimento do periodonto; • Propicia margem mais fina de preparo; • Tomar cuidado para que a linha de contorno esteja bem definida e para que a restauração não apre- sente sobrecontorno. REFERÊNCIAS • Shillinburg: Fundamentos dos Preparos Dentários para Restau- rações Metálicas e de Porcelana, Edição do Estudante, Capítulo 1. • Pagani, Clovis: Preparos dentá- rios: ciência e arte, Edição 1 (2014), Capítulo 3.
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