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Super Cirurgia Cirurgia do Estomago AulA 1 15ª edição Capítulo ANATOMIA, FISIOLOGIA E HISTOLOGIA DO ESTÔMAGO Capítulo 1 Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 20152 Anatomia Órgão em forma de J, que faz a comunicação en- tre o esôfago e o duodeno. Durante a quarta semana de gestação, o estô- mago se origina do intestino anterior e cresce até a sétima semana, quando adquire forma semelhante ao estômago do adulto, com rotação para a esquerda de 90º. Em virtude da rotação gástrica, os troncos va- gais, que originariamente eram à direita e à esquer- da do esôfago, assumem posição posterior e ante- rior, respectivamente. Partes do estômago Cárdia: localiza-se logo abaixo da junção gastro- esofágica. Contém glândulas submucosas. Fundo: fica acima da linha horizontal que passa acima da junção GE. Corpo: dois terços proximais; é a área entre fun- do e antro. Antro: terço distal; a porção terminal do antro é mais estreita e conhecida como piloro. Começa na incisura angular e vai até o piloro. Incisura angular: depressão externa na curva- tura menor. Ângulo de Hiss: ângulo entre a face lateral esquerda do esôfago e o início da curvatura gástri- ca maior. Fundo Corpo Cárdia Grande curvatura Parte pilórica Antro pilórico Antro pilórico Piloro Pequena curvatura Incisura angular Figura 1.1 Anatomia do estômago normal: normalmente, parte pi- lórica e o antro pilórico são denominados simplesmente como antro. Fundo Piloro Antro Corpo Mucosa Figura 1.2 Mucosa do estômago. Figura 1.3 SEGD: demonstração da incisura angular (seta) na porção distal da pequena curvatura do estômago. Vascularização A irrigação arterial provém primordialmen- te do tronco celíaco. A artéria gástrica esquerda ori- gina-se do tronco celíaco e irriga a porção superior di- reita do estô mago. A artéria gástrica direita origina-se da artéria he pática, dirige-se ao longo da pequena cur- vatura e irriga a porção inferior direita do estômago. O fundo é suprido pelas artérias gástricas curtas que se originam da artéria esplênica. A grande curvatura tem sua porção superior irrigada pela artéria gastroepiploica esquerda, que se ori gina da artéria esplênica, e a porção inferior recebe san gue pela artéria gastroepiploica direita, que se origina da artéria hepática. As veias gástricas direita e esquerda dre nam a pequena curvatura dire- tamente à porta, as veias gástricas curtas drenam o fundo gástrico e a veia gastroe piploica esquerda drena a parte superior da grande curva tura, desembocando na veia esplênica. A veia gastroepi ploica direita drena a parte inferior da grande curvatura para a veia me- sentérica superior. A drenagem linfática é paralela ao suprimento arterial. 1 Anatomia, fisiologia e histologia do estômago 3 Tronco celíaco A. gástrica esquerda A. gástrica direita A. hepática própria Aa. gástricas curtas A. gastroepiploica esquerda A. gastroepiploica direita Aa. pancreatoduodenais superiores Aorta abdominal A. hepática comum A. esplênica Figura 1.4 Artérias do estômago. V. cava inferior Veia porta V. gástrica esquerda V. gástrica direita V. gástricas curtas V. gastroepiploica esquerda V. gastroepiploica direita Figura 1.5 Veias do estômago. Esfíncteres EEI: zona muscular de alta pressão, que relaxa permitindo que o alimento chegue até o estômago; quando contraído, evita refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. Piloro: esfíncter muscular bem definido, que controla a saída de alimentos do estômago para o duo- deno, bem como previne refluxo. Inervação Parassimpática: nervo vago: a) nervo vago esquerdo – anterior ao esôfago. Fornece ramos à porção anterior do estômago, junto à curvatura gástrica menor (nervo de Latarjet); ramo hepático ao fígado; vesícula e árvore biliar. O nervo de Latarjet emite seis ramos para o estômago, junto à in- cisura angular, os quais são conhecidos como “pata de corvo” ou “pata de ganso” (Pinotti, 1993); b) nervo vago direito – posterior ao esôfago. Inerva a porção posterior do estômago (nervo de La- tarjet posterior) e dá ramo celíaco para o pâncreas, in- testino delgado e cólon direito. Tronco vagal esquerdo: anterior Tronco vagal direito: posterior Simpática: via nervos esplâncnicos maiores (6º ao 10º), que terminam no gânglio celíaco; as fibras pós-gangliônicas seguem ao longo das artérias gástri- cas. O simpático, de modo geral, modula a fisiologia secretora e motora do estômago. Ramo hepático do tronco vagal anterior Plexo hepático Ramo vagal anterior Ramos celíacos do n. vago Ramo gástrico anterior principal Gânglios celíacos Plexo das aa. gastroepiploicas Figura 1.6 Inervação do estômago. Existem duas regiões motoras, uma das quais é proximal, com a função de reservatório, que se rela- xa ao receber o bolo alimentar, em coordenação com o esôfago. A região proximal compreende o fundo gás- trico e parte (1/3) do corpo. Contrações musculares “esvaziam” a região pro- ximal, enviando o seu conteúdo para a região distal (a outra região motora). Esta tem a função de triturar os alimentos sólidos e, por meio de ondas peristálticas, enviá-los junto com os líquidos para o duodeno. Essas ondas peristálticas têm um centro de coordenação de- nominado marca-passo. As partículas sólidas só passam para o duodeno quando têm diâmetro inferior a 1 mm. O tempo médio de esvaziamento de uma refeição é de 60 minutos. A inervação vagal (parassimpática) através da acetilcolina promove a contração gástrica, enquanto a inibição da função motora é proporcionada pela inervação simpáti- ca (catecolaminas). A regulação da função pilórica é dada pelo sistema purinérgico (trifosfato de adenosina). O vago, principal via eferente entre o sistema nervoso central e o estômago, disciplina as contrações do estômago proximal, regula a pressão intragástrica e organiza as contrações do estômago distal, estas me- diante o comando do marca-passo gástrico. As secções vagais (vagotomias) alteram a motricidade gástrica. Os hormônios digestivos também têm ação so- bre a motilidade gástrica. A gastrina liberada na mu- cosa antral e duodenal aumenta a capacidade do es- tômago proximal no seu relaxamento receptivo. No estômago distal, aumenta a motilidade sem aumentar o esvaziamento para sólidos. Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 20154 Drenagem linfática Os vasos ou condutos linfáticos do estôma- go originam-se primariamente na mucosa gástrica (lâmina própria) e se reúnem na submucosa sob a forma de plexo, de maneira semelhante ao que ocorre com os plexos arterial e venoso da submu- cosa. A partir desse plexo submucoso formam- -se canalículos mais calibrosos que atravessam a túnica muscular e drenam na rede subserosa que cobre toda a superfície gástrica. Essas duas redes (plexos) constituem o sistema linfático intrínseco do estômago. A partir do plexo subseroso, esse sistema se comunica com o sistema linfático extrínseco, formado por condutos ainda mais calibrosos que acompanham os ramos arteriais do estômago, de- sembocando, conforme a zona gástrica considera- da, em linfonodos situados ao nível dos seus qua- tro pedículos arteriais. Segundo Coller et al., a superfície gástrica (pa- redes) pode ser dividida em quatro zonas, sob o pon- to de vista da distribuição linfática. Essas zonas são delimitadas por uma linha que parte do piloro, se- guindo o eixo mediano do órgão, até atingir a cárdia, dividindo o estômago em duas metades iguais; ou- tra linha, vertical, partindo da incisura angularis em direção à metade da grande curvatura, divide essas duas metades em quatro segmentos ou zonas, a sa- ber: zonas I e II, que representam os dois quadrantesesquerdos – inferior e superior; e zonas III e IV, que correspondem aos quadrantes direitos, respectiva- mente, superior e inferior. Os linfáticos do quadrante inferior direito drenam para os linfonodos suprapilóricos (zona IV), localizados ao nível da artéria gástrica direita; os do quadrante superior direito (zona III) drenam no grupo nodal do tronco celíaco. A drenagem do quadrante inferior esquerdo (zona I) faz-se para os linfonodos do grupo subpilórico, ao nível da artéria gastroepiploica direita e parte superior da cabeça do pâncreas (grupo suprapancreático); e, finalmente, os linfáticos do quadrante superior esquerdo (zona II) drenam para os linfonodos pan- creatoesplênicos, localizados ao nível do hilo es- plênico e da cauda do pâncreas. Essa distribuição esquemática não é rígida, pois, na realidade, existe comunicação franca en- tre os linfáticos de uma zona com os de outra, de modo que parte da linfa de um território pode drenar para linfonodos de outro território e, as- sim, sucessivamente. Figura 1.7 Distribuição linfática do estômago. Divisão do estômago em áreas ou zonas conforme esquema de Coller. Fisiologia e histologia Camadas: serosa, muscular, submucosa e mu- cosa. Das camadas musculares: a interna é oblíqua; a média é circular; e a externa é longitudinal. Epitélio: cilíndrico simples com glândulas cárdi- cas, fúndicas e pilóricas. Células parietais ou oxínticas: secretam HCI e fator intrínseco. Estão no fundo e no corpo (mnemô- nica: PaFuCo). Células principais ou zigomáticas: secretam pepsinogênio. Estímulos colinérgicos, secretina e gastrina estimulam as células principais (mnemônica: CoSeGa). Grelina A grelina é um peptídeo de 28 aminoácidos pruduzido predominantemente pelas células endó- crinas da mucosa oxíntica do estômago, com quan- tidades substancialmente menores derivadas do intestino, pâncreas e outros órgãos. A remoção da parte produtora de ácido do estômago reduz a gre- lina circulante em torno de 80%. A grelina parece estar sob controle endócrino e metabólico, tem um ritmo diurno, provavelmente tem uma participação na resposta neuroendócrina e metabólica a altera- ções no estado nutricional e pode ser um hormônio anabólico importante. Estudos recentes têm relatado, além disso, que a grelina influencia o sistema sinalizador de insulina, implicando a grelina na homeostase da glicose. A gre- lina exógena reduz a secreção de insulina e tem efeitos poderosos nas células das ilhotas, sugerindo que a gre- lina endógena pode contribuir para o controle fisioló- gico de insulina e liberação de glucagon. 1 Anatomia, fisiologia e histologia do estômago 5 Em voluntários humanos, a administração de grelina aumenta o apetite e a ingestão de alimento. Curiosamente, em pacientes que se submeteram a derivação gástrica, os níveis de grelina são 77% inferiores aos dos controles obesos operados, um achado não observado após outras formas de cirurgia antiobesida- de. Embora o mecanismo responsável pela supressão dos níveis de grelina após derivação gástrica não seja conhecido, esses dados sugerem que a grelina pode ser responsiva ao fluxo normal de nutrientes por meio do estômago. Depressão gástrica (fovéola) Células mucosas do colo Células mucosas superficiais Células parietais Células principais Istmo Colo G lâ nd ul a ox ín tic a Base (fundo) Células endócrinas Figura 1.8 Representação diafragmática da glândula gástrica oxíntica. Pico de acidez gástrica: uma hora após as refeições. Motilidade São três as fases da secreção gástrica: Fase cefálica: estímulo vagal diretamente sobre as células parietais (secreção ácida) e liberação de gastrina, que é o mais potente estimulador da secreção gástrica. Fase gástrica: distensão mecânica do antro promove secreção gástrica com estímulo adicional à liberação de gastrina. Fase intestinal: é mediada pela gastrina e outras substâncias humorais, quando da passagem do bolo alimentar para o duodeno. A secreção gástrica é inibida quando há suficiente acidificação antral por inibição da secreção de gastrina e por mecanismo nervoso. Os hormômios intestinais, secretados em resposta à acidificação ou pela presença de aminoácidos e lípides no duodeno, também inibem a secreção ácida, sendo os responsáveis a secretina, a colecistocinina, o VIP, o polipeptídio inibidor gástrico (GIP) e o glucagon. Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 20156 4 3 2 9 8 10 19 17 14 7 612 11 13 15 16 5 18 1 2A Figura 1.9 Irrigação arterial das vísceras abdominais superiores. 1- Tronco celíaco 2- Gástrica esquerda 2A- Ramo anterior 3- Frênica inferior esquerda 4- Gástricas curtas 5- Gastroepiploica esquerda 6- Gastroepiploica direita 7- Gástrica direita 8- Hepática comum 9- Esplênica 10- Gastroduodenal 11- Cólica média 12- Pancreaticoduodenais posterior e anterior (superior e inferior) 13- Mesentérica superior 14- Pancreática superior (dorsal) 15- Pancreática inferior (transversal) 16- Pancreática maior 17- Cística 18- Hepática direta 19- Hepática esquerda Capítulo câncer gástrico Capítulo 2 Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 20158 Introdução A distribuição mundial do CG é muito variável, sendo sua incidência alta no Japão, na China, no Chi- le, em alguns países do Leste Europeu e em algumas regiões da América Latina. No Brasil, o CG é a segun- da causa de morte entre homens e a quinta entre mu- lheres. O número de casos novos estimados em 2006 é de 14.970 entre homens e 8.230 nas mulheres, que correspondem a um risco estimado de dezesseis ca- sos novos a cada 100 mil homens e nove para cada 100 mil mulheres. Observam-se diferenças regionais da distribui- ção desta neoplasia no país. Considerando-se o total de tumores, exceto os de pele não melanoma, o cân- cer de estômago em homens é o segundo mais fre- quente nas regiões Norte (11/100.000) e Nordeste (9/100.000). Nas regiões Sul (23/100.000), Sudeste (20/100.000) e Centro-Oeste (13/100.000), é o ter- ceiro mais frequente. Para as mulheres, é o terceiro mais frequente na região Norte (6/100.000). Na re- gião Nordeste, é o quarto mais frequente (5/100.000). Nas demais regiões, Centro-Oeste (6/100.000), Su- deste (11/100.000) e Sul (11/100.000), é o quinto mais frequente. Alguns aspectos interessantes sobre o carci- noma gástrico: Incidência em declínio. 650 mil mortes/ano em todo o mundo. 70% dos casos observados acima dos 50 anos. Mais frequente em negros. Homens > Mulheres, 3:2. Representa 10% do total de casos de câncer em todo o mundo. Localização anatômica Canal pilórico e antro 35%-50% Corpo 15%-30% Cárdia 30%-40% Atenção: A localização no cárdia tem aumentado de incidên- cia, mas é ainda a região antropilórica a mais acometida. Tabela 2.1 Etiopatogenia Evidências de estudos patológicos e epide- miológicos têm sido fornecidas para um modelo humano de carcinogênese gástrica com as seguin- tes etapas sequenciais: Gastrite crônica Atro�a gástrica Metaplasia intestinal Displasia Carcinoma invasor Figura 2.1 As etapas pré-malignas de gastrite e atrofia têm sido liga- das ao excesso de ingestão de sal e à infecção pelo H. pylori. Biologicamente, o sal causa replicação celular excessiva, evento bem conhecido covmo fator de alto risco de câncer, causa da potencialização da ação de carcinogênios, bem como do potencial para aumento da taxa de mutações endógenas. Os efeitos agudos das soluções concentradas de sal levam à lesão da mucosa, a qual, por sua vez, estimula os mecanismos de repa- ro associados a alterações inflamatórias. Uma dieta excessivamente salgada induz atrofia em animais de experimentação e associa-sea alterações atróficas na mucosa gástrica humana. Como a infecção pelo H. pylori tipicamente permanece ativa pela vida toda, se não erradicada com terapia adequada, o micro-organismo passa a ser fon- te de inflamação ativa, durando décadas. Embora os efeitos do micro-organismo sobre o microambiente da cavidade gástrica não sejam completamente enten- didos, um aumento da replicação celular e uma cons- tante atração dos neutrófilos são eventos suspeitos de potencial carcinogênico. É certo que a infecção pelo H. pylori seja, pelo menos, um marcador para aumento do risco de carcinoma gástrico, sendo que a ligação é muito forte para doença maligna do tipo intestinal de Lauren e altamente sugestiva para o tipo difuso. Também os pólipos gástricos são suspeitos de poder degenerar em carcinoma. São de especial importância os pólipos neoplásicos de mucosa gástrica, que represen- tam 10% dos pólipos gástricos e são produto de prolife- ração celular (adenomas tubulares ou adenomas vilosos) com características benignas (pelo menos inicialmente). Eles têm um risco global de 50% a 60% de vir a sofrer transformação maligna, e quando maiores que 2 cm apresentam graus variáveis de displasia e atipia celular e frequentemente já mostram focos de car- cinoma. Por outro lado, são inócuos os pólipos gástricos mais comuns (90%), os hiperplásicos (inflamatórios). Es- ses não comportam qualquer potencial maligno, pois são lesões não neoplásicas de mucosa gástrica que resultam de resposta inflamatória regenerativa exagerada. Entretan- to, pode-se observar uma frequência extremamente alta desses pólipos em estômagos ressecados por carcinoma (20% a 28%). Talvez a razão disso esteja nas comprovadas associações entre carcinoma e gastrite crônica e entre esta 2 Câncer gástrico 9 e os pólipos hiperplásicos. Isto é: estômago cronicamente inflamado é terreno fértil para gastrite crônica e também para carcinoma. Dessa forma, a constatação da presença de pólipos hiperplásicos na endoscopia deve alertar para a procura minuciosa de carcinomas. Condições que intercorrem com teor de ácido clorí- drico diminuído no estômago, como a gastrite crônica, a anemia perniciosa e a presença de coto gástrico re- sidual resultante de gastrectomia parcial estão associa- das com maior risco de câncer gástrico. A gastrite crônica cursa com extensa metaplasia intestinal da mucosa gás- trica, que constitui a base para as alterações displásicas e, no longo prazo, induzem o aparecimento do carcinoma gástrico do tipo intestinal de Lauren. Os portadores de anemia perniciosa oriunda de atrofia de mucosa gástrica (que é substituída por metaplasia de mucosa intestinal) têm prevalência de adenoma e carcinoma gástricos três a quatro vezes maior que a população normal. Tem-se demonstrado a participação de vá- rios genes na carcinogênese gástrica, seja por mutação (ras, APC, p53), deleção (APC, p53, DCC, E-caderina), transcrição anormal (CD44) ou am- plificação (erbB, C-erbb2, K-sam, c-met). Mutações do gene p53 estão entre as mais comumente encon- tradas nos tumores humanos. O gene p53 atua no ci- clo celular, interrompendo a divisão celular e estimu- lando a apoptose quando há um dano no DNA celular durante a replicação. É, por isso, denominado o guar- dião do genoma. Tal função é perdida por mutações de ponto ou deleção do gene alelo. Muitos estudos têm demonstrado aumento da expressão do p53 ou sua mutação no CG. Etiologia e fatores de risco Alimentos defumados ou compostos de nitrosamina. Dieta pobre em proteínas e vitaminas. Fumo (1,5%-3%) e álcool. Fator genético: Grupo sanguíneo A (risco 10%-20% > que a população geral). Anemia perniciosa (20x > que a população geral). Acloridria e gastrite atrófica. Pólipos gástricos (pólipos adenomatosos – ocorrência no estômago de 10%-20%; pólipos > 2 cm, 40% de risco de ma- lignização; pólipos < 2 cm, 1,5% de risco). Gastrite atrófica crônica, embora associada com câncer gástrico, parece não ser condição precursora direta. Úlcera gástrica crônica, risco menor que 1% de desenvol- ver carcinoma, não é considerada como fator de risco real. Etiologia e fatores de risco Cirurgia gástrica prévia, as ressecções gástricas para do- ença benigna estão associadas com o aumento do risco de câncer gástrico, principalmente associado à cirurgia Billroth II (gastrectomia com anastomose jejunal). Risco de 5% geral- mente após 15 anos da cirurgia inicial. A etiologia provável parece estar associada à gastrite crônica secundária às secre- ções biliares pancreáticas e intestinais (risco de 1:5-3 vezes > estômago não operado). Helicobacter pylori – 60%-80% dos casos de câncer gástrico es- tão associados a Helicobacter pylori e parece que o papel da bac- téria estaria associado ao seu potencial inflamatório, levando à proliferação epitelial, ao erro mitótico, à mutação celular e, final- mente, ao câncer. Os portadores de H. pylori com CagA (proteí- na associada com citotoxicidade) apresentam maior risco. Fatores familiares – pais e filhos de pacientes com CG têm chance duas vezes maior de desenvolver câncer gástrico. Nível socioeconômico – o risco de CG é inversamente pro- porcional ao nível socioeconômico, e ests situação parece ser independente do tipo de ocupação profissional. Gastrite de Ménétrier: gastrite hipertrófica* Tabela 2.2 *Não é consenso. Anatomia patológica Classificação microscópica Classificação de Lauren: (1965) Categoriza os cânceres gástricos em dois tipos básicos: Tipo intestinal, aspectos semelhantes à mucosa do ID, localização preferencial no antro, não está associa- do a grupos sanguíneos, maior incidência em homens idosos e predomina em população de alto risco. Cor- responde à forma mais comum de CG. Geralmente são bem diferenciados, papilíferos, tubulopapilífe- ros ou tubulares, isto é, são compostos por proliferação de glândulas tubulares simples ou ramificadas. Estroma rico em capilares sanguíneos e especialmente nas lesões elevadas particularmente quando predomina a diferen- ciação papilífera, o que explica a frequência de metásta- ses hematogênicas nessa forma. Os carcinomas precoces tipo I, IIa + IIc frequen- temente são de padrão intestinal. Tipo difuso, de ocorrência menor que a for- ma intestinal, localizado principalmente no fundo gástrico, acomete indivíduos mais jovens, um pouco mais frequente nos homens, e pode estar associado ao grupo sanguíneo A. Aparentemente não guarda re- lação com gastrite atrófica, é um tumor pouco diferen- ciado, não há identificação de formação glandular, é composto de células em anel de sinete, difunde-se mais frequentemente por contiguidade ou por via Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201510 linfática. Possui pior prognóstico do que a forma intestinal. O evento carcinogênico principal é a perda de expressão da E-caderina, uma impor- tante proteína de superfície celular responsável por conexões intracelulares e manutenção da or- ganização tissular epitelial. Classificação da Sociedade Japonesa de Endoscopia Digestiva Câncer gástrico precoce O conceito de neoplasia gástrica precoce refere- -se àquele que não penetra além da mucosa ou sub- mucosa, NA PRESENÇA OU NÃO DE METÁSTASE LINFONODAL. O câncer gástrico precoce, com base no aspecto endoscópico, é classificado em três tipos principais e três subtipos: Tipo I – tipo protruso, que se apresenta como crescimento nodular ou papilar. Tipo II – ainda subdividido em: IIA – aparece como elevação plana, que causa espes- samento discreto da mucosa normal duas vezes ou mais. IIB – aparece como lesão plana no nível da muco- sa não neoplásica. IIC – apresenta-se como plano, superficial e dis- cretamente deprimido. Tipo III – caracteriza-se por escavações seme- lhantes a úlceras, que podem ser tomadaspor úlceras benignas. Existem formas macroscópicas combinadas, das quais as mais frequentes são: Tipo IIc + III Tipo IIa + IIc I - PolipoideTIPO I TIPO II TIPO III TIPO III + IIc TIPO IIc + III TIPO IIa + IIc Tipos mistos III - Ulcerado IIa IIb IIc{ IIa - Superficial elevadoIIb - Superficial planoIIc - Superficial deprimido Figura 2.2 CGP: câncer gástrico precoce. Figura 2.3 Lesão tipo I (elevada). Figura 2.4 Lesão tipo IIa (plana elevada). Figura 2.5 Lesão tipo IIb (plana). 2 Câncer gástrico 11 Figura 2.6 Lesão tipo IIc (plana deprimida). Classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS, 1990) Baseia-se nos padrões de crescimento distin- tos do câncer: papilar, tubular, mucinoso, anel com sinete, adenoescamoso, indiferenciado e não classi- ficado. Esse sistema designa graus aos adenocarci- nomas, baseados no grau de semelhança com tecido intestinal metaplásico em tipos bem, moderada- mente ou pouco diferenciados. Forma tubular ou tubulopapilífera (pa- drão foveolar) – Neoplasia com túbulos ou papilas revestidas por epitélio colunar de citoplasma claro, sem borda em escova, muito semelhante à célula da fovéola gástrica. Esse padrão é mais frequente nas lesões precoces elevadas ou planas da cárdia e corpo alto. Quando predomina a diferenciação papilífera, há acentuada angiogênese. Forma microtubular – Nessa variedade, há proliferação de túbulos de pequeno calibre revestidos por células cúbicas, também pequenas, com pouco ci- toplasma e núcleo relativamente grande, redondo e hipercromático. Uma ou outra célula pode exibir se- creção aparentando célula em anel de sinete. De regra, desperta reação desmoplásica acentuada. Forma mucinosa mucocelular (células em anel de sinete) – É a forma mais comum dentre as neoplasias de padrão gástrico. A célula em anel de sinete pode se apresentar em diferentes estádios de diferenciação: desde uma forma plasmocitoide, relati- vamente pequena, com citoplasma PAS-positivo, até a forma clássica em anel de sinete, Alcian blue positivo. Tipos celulares intermediários são comuns, nos quais o citoplasma contém uma mistura de mucina neutra (PAS positivo) e mucina ácida (Alcian blue positivo). Os carcinomas precoces com depressão, tipo llc, IIc + III ou III, costumam ter este padrão histológico, sendo que nas formas iniciais sofrem uma sequência de erosões e reparações com tendência à reação des- moplásica. Pode ocorrer também invasão de espaços linfáticos, favorecendo a propagação para a submucosa e muscular própria. Quando isso acontece, pode haver áreas de diferenciação microtubular ou muconodular. Forma mucinosa muconodular – Esse padrão pode ser considerado uma variante do mucocelular (células em anel de sinete), quando ele deixa de ser intramucoso. Nessa variante, o muco é predominante- mente extracelular, alojado em lacunas do interstício, sob forma de alvéolos ou nódulos de muco com peque- no contingente mucocelular. A superficie de corte tem aspecto gelatinoso. Adenocarcinoma pouco diferenciado Nessa variedade, na qual as células neoplásicas estão dispostas em cordões ou trabéculas de espessu- ras variadas, havendo áreas de esboço tubular ou pe- quenos agrupamentos, uma ou outra célula apresenta secreção no citoplasma. São neoplasias de difícil defi- nição quanto ao padrão histogenético, e são mais fre- quentes em áreas de mucosa não intestinalizada. Carcinoma indiferenciado ou anaplásico É a forma mais rara no estômago, sendo cons- tituída por proliferação difusa de células de padrão germinativo sem nenhum grau de diferenciação. Em espécimes obtidos por biópsia endoscópica, merece diagnóstico diferencial com certos linfomas malig- nos e melanoma amelanótico, sendo muitas vezes necessário estudo imuno-histoquímico para se defi- nir a origem. Carcinoma neuroendócrino Neoplasia pouco diferenciada, porém com arqui- tetura insular ou trabecular, lembrando tumor carci- noide, podendo ser de padrão medular ou esquirroso. Os estudos imuno-histoquímico ou ultraestrutural auxiliam na diferenciação da natureza neurosecretora. Classificação de Broders (1942) A classificação de Broders utiliza o grau de dife- renciação celular independentemente do aspecto ma- croscópico ou da história clínica. (atenção: esta classi- ficação pode ser utilizada para outros carcinomas) Grau I: arranjo celular semelhante ao de glân- dulas gástricas normais; entretanto, as células apre- sentam núcleos com dimensões maiores. (25% de células indiferenciadas) Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201512 Grau II: as células apresentam uma arquitetura glandular, porém não se encontram alinhadas. (50% de células indiferenciadas) Grau III: as células apresentam menor tendência à formação glandular com grande variação no tamanho de seus núcleos. (75% de células indiferenciadas) Grau IV: não existe formação glandular. Há a presença de células em anel de sinete e células gigan- tes. (100% de células indiferenciadas) Classificação do câncer gástrico avançado O aspecto macroscópico do câncer gástrico avan- çado forma a base da classificação de Borrmann: Tipo I – polipoide (carcinoma polipoide solitá- rio circunscrito), sobrevida em cinco anos de 38%. É pouco comum em nosso meio, não atingindo 2%. Tipo II – fungoide ou ulcerado (elevação mar- ginal semelhante a uma parede e bordas nítidas), so- brevida em cinco anos de 34%. Sua frequência gira em torno de 15%. Tipo III – ulcerado e infiltrante (carcinoma) parcialmente ulcerado com elevação marginal e pro- pagação parcialmente difusa, forma mais comum, sobrevida em cinco anos de 19%. Em nosso meio, é o tipo mais frequente, ocorrendo em torno de 50% dos casos. Tipo IV – infiltrativo difuso (carcinoma difu- so), linite plástica. Juntamente com o tipo III, incide nas faixas etárias mais baixas que as dos tipos I e II. Sua frequência está em torno de 20%, sendo mais co- mum no sexo feminino. Tipo V – câncer gástrico, cuja definição não se encaixa em nenhuma das descritas acima. Borrmann I - Lesão polipoide ou vegetante, bem delimitada. Borrmann III - Lesão ulcerada in�ltrativa em parte ou em todas as suas bordas. Borrmann IV - Lesão difusamente in�ltrativa, não se notando limite entre o tumor e a mucosa normal. Borrmann II - Lesão ulcerada, bem delimitada, de bordas elevadas. Figura 2.7 Classificação macroscópica de Borrmann. Manifestações clínicas A dor abdominal no CG costuma ser constante, sem irradiação e não aliviada com a ingestão de ali- mento. Alguns pacientes relatam alívio temporário da dor com o uso de bloqueador H2 ou inibidores de bomba de prótons. Episódios de hemorragia digestiva e complicações como perfuração são incomuns, embo- ra anemia ferropriva por perda crônica de sangue nas fezes seja comum. O exame físico dos pacientes com CG precoce nada apresenta de anormal. Nas formas avançadas encontram-se caquexia, icterícia e palidez cutaneo- mucosa. A doença metastática é vista nos órgãos ad- jacentes (gânglios, fígado, cólon e pâncreas). Gânglio de Virchow-Troiser (adenopatia supraclavicular es- querda), sinal de Irish (gânglio axilar esquerdo) pra- teleira de Blummer (metástase no fundo de saco de Douglas), metástase ovariana (Tu de Krukenberg), sinal de Sister Mary Joseph (metástase umbilical) são achados de doença avançada, da mesma forma que a presença de ascite. Mais raramente, pode-se observar na evolu- ção do CG manifestações paraneoplásicas: anemia hemolítica microangiopática, glomerulonefrite mem- branosa, ceratose seborreica (sinal Leser-Trélat), CID, dermatomiosite e acantose nigricans (esta última é a paraneoplasia mais frequentemente observada, caracteriza-se por espessamento e escurecimento da pele, com aspecto liso e simé- trico, que aparecem em áreasintertriginosas). Sinais e sintomas no CG Perda de peso 70%-80% Dor abdominal 70% Náuseas 34,3% Anorexia 32,0% HDA 26,1% Disfagia* 20,2% Plenitude pós-prandial 17,5% Dor tipo úlcera 17,1% Massa palpável 30%-50% Tabela 2.3 *A disfagia ocorre particularmente quando há invasão do cárdia ou do esôfago distal; alguns autores denominam esta condição de pseudoacalasia. Propagação do câncer gástrico Extensão direta aos órgãos adjacentes. Linfática. Hematogênica. Implante peritoneal. 2 Câncer gástrico 13 Diagnóstico O aspecto mais importante é um alto índice de suspeição. Exames laboratoriais inespecíficos na fase inicial são normais, no entanto, na evolução, podem- -se observar: 1– anemia (42% dos casos), na maioria dos casos hipocrômica e microcítica, quando associada à anemia perniciosa ou gastrite atrófica um componente macro- cítico é observado; 2– sangue oculto na fezes (40% dos casos); 3– hipoproteinemia (26% dos casos); 4– alterações das provas de função hepática (26% dos casos), particularmente, elevação da fosfatase al- calina e Gama GT; 5– gastrina sérica elevada, geralmente associada à hipocloridria; 6– no futuro, os níveis séricos de pepsinogênio A e C em combinação com a soropositividade de H. pylo- ri poderão se constituir numa forma de rastreamento de lesões pré-malignas de estômago. Marcados tumorais CA 19-9 O antígeno carboidrato (CA 19-9) de superfície das células tumorais é um ligante para a eselectina e participa da adesão das células neoplásicas às células endoteliais, facilitando a ocorrência de metástases he- matogênicas. É uma glicoproteína de peso molecular de 210 kd, cujas elevações séricas podem ocorrer em pacientes com câncer colorretal, de pâncreas e de estô- mago, podendo ser usado para monitorar o diagnósti- co e a evolução terapêutica. Estudos recentes demons- traram a correlação desse marcador com prognóstico após ressecção cirúrgica. CA 72 (tag 72-4) Glicoproteína associada a tumores, proveniente de tecidos epiteliais. O CA 72-4 está raramente au- mentado em outras doenças não neoplásicas; entre- tanto, não apresenta especificidade para órgão ou te- cido. Apresenta sensibilidade e especificidade ao redor de 50% para o câncer gástrico. CEA (Antígeno carcinoembrionário) Este antígeno foi clonado em 1987 e parece ser importante na adesão intercelular e diferenciação celular in vitro. Está elevado em 10% a 30% dos pa- cientes com câncer gástrico, apresentando, portanto, baixa sensibilidade e especificidade como marcador tumoral. Elevações do CEA foram descritas como as- sociadas ao tamanho tumoral, profundidade de inva- são, metástases linfonodais, peritoneal e hepáticas e estádio. Níveis elevados do CEA associam-se com pior prognóstico, especialmente em pacientes nos estádios I e II da doença. Diagnóstico de imagem Seriografia Esôfago Gastroduodenal (SEGD) A SEGD com duplo contraste (bário e ar am- biente) é capaz de diagnosticar o CG em 80%-99% dos casos. Aspectos radiológicos que sugerem CG rigidez parcial ou completa da parede gástrica; úlcera com base elevada e rígida, com nicho ulceroso situado para dentro do contorno do estômago; cratera ulcerosa assimétrica, amputação com distorção e obliteração das pregas mucosas; irregularidade da mucosa com perda da distensibilidade; pregas alargadas; massa polipoide. Figura 2.8 Carcinoma gástrico: falha de enchimento e rigidez da pa- rede do corpo e antro gástrico (SEGD). Figura 2.9 Úlcera gástrica maligna: o nicho ulceroso não se projeta do lúmen do estômago. Observar que há amputação das pregas mu- cosas (SEGD). Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201514 Figura 2.10 Câncer gástrico infiltrativo difuso – linite plástica (SEGD). Figura 2.11 Câncer gástrico infiltrante de antropiloro com obstrução gástrica (SEGD). Endoscopia digestiva alta Padrão-ouro para o diagnóstico, quando a EDA é associada a múltiplas biópsias e são retirados pelo menos dez fragmentos para exame histológico, com o material retirado das bases e do fundo da lesão. De acordo com Tytgat e Dekker, a sensibilidade des- se procedimento é em torno de 99,8% dos casos. O uso de escovado protegido por bainha, embora uti- lizada, não oferece maior ganho sobre a citologia esfo- liativa. A localização mais comum do câncer gástrico é na mucosa da transição do corpo com o antro na pe- quena curvatura (incisura angularis). O aprimoramento tecnológico recente, utilizan- do imagens digitais de alta definição, facilitou a de- tecção do ACG precoce. O mais importante durante a endoscopia é identificar as alterações mínimas de cor, relevo ou do padrão da microvasculatura que são as primeiras alterações que ACG precoce pode apresen- tar. A utilização da cromoendoscopia ajuda elucidar as características de uma lesão precoce. O corante mais utilizado, pela sua praticidade e eficácia, e o índigo car- mim (0,5%) que é um corante de contraste. Novas tec- nologias vêm sendo utilizadas para o aprimoramento do diagnóstico do ACG precoce, em especial para o seu estadiamento, ajudando a definir o tipo de tratamen- to a ser realizado. Dentre estas tecnologias estão as cromoscopias ópticas ou virtuais (NBI – Narrow Band Imaging, FICE – Flexibe Spectral Color Enhancement e I-Scan), Infrated Fluorescence Endoscope, Micro- endoscopia Confocal e a utilização da Tomografia de Coerência Óptica. Natureza da lesão Benigna Maligna Contorno Regular Irregular Fundo Limpo Necrótico Bordas Planas Elevadas Pregas Convergentes Amputadas Ilhas mucosas Ausentes Presentes Erosões da borda Presentes Ausentes Pregas com: fusão, baquete- amento, afilamento (lápis) Ausentes Presentes Tabela 2.4 Ultrassonografia endoscópica Objetivos: estudo da parede gástrica (infiltração tumoral): acurácia de 86%; avaliação das adenomegalias (acurácia de 70%); invasão de estruturas circunjacentes; método de melhor acurácia para determinar ex- tensão locorregional do câncer gástrico. 2 Câncer gástrico 15 Figura 2.12 EDA. A: câncer gástrico polipoide localizado próximo à incisura angular. B: câncer gástrico exofítico comprometendo a maior parte da circunferência da porção antropilórica. Figura 2.13 Ecoendoscopia mostrando imagem de tumor infiltrante (T) no fundo gástrico, que penetra todas as paredes do estômago. EUS Hiperecoica Hiperecoica Hiperecoica Hipoecoica Hipoecoica Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa 1º 2º 3º 4º 5º Figura 2.14 Representação esquemática das camadas ecográficas da parede gástrica. EUS: ultrassonografia endoscópica. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa T1 Figura 2.15 Representação esquemática de neoplasia T1. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa T2 Figura 2.16 Representação esquemática de neoplasia T2. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa T3 Figura 2.17 Representação esquemática de neoplasia T3. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa órgão vizinho T4 Figura 2.18 Representação esquemática de neoplasia T4. Ultrassonografia abdominal Na investigação de metástases intra-abdominais. Tc de abdome A tomografia computadorizada é o método por imagem mais eficiente para diagnóstico de comprometimento extragástrico, principal- mente na detecção de metástases hepáticas e esplênicas. Esse método substitui com vantagem as imagens obtidas pela ultrassonografiaconvencional, principalmente em relação às metástases hepáticas. Além disso, quando há suspeita de comprometimen- to pulmonar, a ultrassonografia é de pouca utilidade. Isso também ocorre quando se objetiva investigar a ressecabilidade e a invasão de órgãos adjacentes, principalmente o pâncreas. Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201516 Com a evolução dos equipamentos e o surgi- mento da tomografia espiral, a acurácia aumentou e passou-se a tentar avaliação mais precisa dos tumores, principalmente no que diz respeito à invasão da pare- de em profundidade (T). Nos estudos iniciais, não se conseguiu avaliar as lesões T1. Entretanto, a acurácia para as lesões T2, T3 e T4 foi de 67%, 70% e 100%, respectivamente. A injeção de água na luz gástrica as- sociada a cortes mais finos e reconstruções tridimen- sionais torna o método mais eficiente. A acurácia para o item T está em torno de 77%, e o índice de subesta- diamento, em tomo de 19%. Laparoscopia O método laparoscópico tem-se mostrado supe- rior à tomografia computadorizada na avaliação pré- -tratamento do CG, principalmente em metásta- se peritoneal, já que esse exame permite conhecer o estado linfonodal perigástrico, a invasão de órgãos vizinhos, como fígado, pâncreas, mesocólon transver- so, braços do pilar diafragmático, a presença de me- tástases hepáticas periféricas e o estado da dissemi- nação peritoneal; operacionaliza, ainda, a colheita de material para exames histopatológico e citológico. A laparoscopia é utilíssima como método de exclusão de pacientes com carcinomatose, porém sem obstrução ou sangramento gástrico, antecipadamente candida- tos ao tratamento cirúrgico por laparotomia. Ultrassonografia laparoscópica (USL) O acréscimo da USL para o estadiamento la- paroscópico melhorou parcialmente a ausência de sensibilidade tátil do cirurgião nesse procedimento, aprimorando a detecção de lesões não superficiais, au- mentando a exatidão de rastreamento de lesões M1 e introduzindo recursos de avaliação de T e N, o que per- mite melhor avaliação segundo o sistema TNM num único procedimento. Pode-se obter ótima discrimina- ção das camadas da parede gástrica com os transduto- res disponíveis. PET/CT A tomografia com emissão de pósitrons (PET/ CT), ainda é considerado método experimental no estadiamento do câncer gástrico, e tem mostrado valor na predição de resposta precoce após quimio- terapia neoadjuvante. Estadiamento O estadiamento é clínico, subsidiário e cirúrgico. O estadiamento clínico permite confirmar CG avança- do. A presença de ascite e icterícia caracteriza o compro- metimento metastático hepático e peritoneal, respecti- vamente. A presença do gânglio supraclavicular esquerdo ou gânglio de Virchow é frequentemen- te diagnosticada no CG avançado. A propedêutica subsidiária empregada para o es- tadiamento do CG segue também as vias de dissemi- nação da neoplasia gástrica, isto é, contiguidade, con- tinuidade, hematogênica e linfática. O raio X de tórax, a tomografia computadorizada de abdome e pelve e a laparoscopia são exames importantes. Atualmente, novos e sofisticados exames, principalmente os de imagem, estão sendo introduzidos no estadiamento do câncer. A ecoendoscopia, PET scan, endoscopia virtual e a ressonância magnética necessitam de mais estudos para efetivamente serem indicadas de rotina no estadiamento. A extensão do comprometimento do câncer é o fator determinante no tratamento e, consequente- mente, no prognóstico. Várias são as classificações de estadiamento, porém as classificações propostas pela Sociedade Japonesa de Câncer Gástrico e pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) são as mais em- pregadas. Ambas aplicam o TNM (T para infiltração tumoral na parede gástrica, N para linfonodos e M para metástases), mas com conceitos diferentes. O uso de diferentes classificações e, por conseguinte, de di- ferentes estadiamentos tem explicado taxas de sobre- vida discordantes para um mesmo estádio da doença. Classificação TNM Tumor primário (T) Tx Tumor primário não pode ser acessado TO Sem evidência de tumor primário Tis Carcinoma in situ: tumor intraepitelial sem invasão da lâmina própria T1 Tumor invade a lâmina própria, a muscular da mucosa ou a submucosa T1a Tumor invade a lâmina própria ou a muscular da mu- cosa T1b Tumor invade a submucosa T2 Tumor invade a muscular própria * T3 Tumor penetra no tecido conjuntivo da subserosa sem invadir peritônio visceral ou estruturas adjacentes T4 Tumor invade a serosa (peritônio visceral) ou estru- turas adjacentes T4a Tumor invade a serosa (peritônio visceral) T4b Tumor invade estruturas adjacentes Linfonodos regionais (N) NX Linfonodos regionais não podem ser acessados N0 Sem evidência de metástase em linfonodos N1 Metástase em 1 a 2 linfonodos regionais N2 Metástase em 3 a 6 linfonodos regionais N3 Metástase em 7 ou mais linfonodos regionais N3a Metástase em 7 a 15 linfonodos regionais N3b Metástase em 16 ou mais linfonodos regionais 2 Câncer gástrico 17 Classificação TNM (cont.) Metástase à distância (M) M0 Sem evidência de metástase à distância M1 Metástase à distância Grau histológico GX Grau não pode ser acessado G1 Bem diferenciado G2 Moderadamente diferenciado G3 Pouco diferenciado G4 Indiferenciado Tabela 2.5 *Tumor pode penetrar na muscular própria com ex- tensão para ligamentos gastrocólico ou gastro-hepático ou para o pequeno ou grande omentos, sem perfuração do peritôneo visceral que recobre essas estruturas, Nesse caso, o tumor é T3. Se houver perfuração de peritõneo visceral que recobre os ligamentos gástricos ou emento o tumor é T4. Estádio anatômico / grupo prognóstico Estádio 0 Tis N0 M0 Estádio IA T1 N0 M0 Estádio IB T2 N0 M0 T1 N1 M0 Estádio IIA T3 N0 M0 T2 N1 M0 T1 N2 M0 Estádio IIB T4a N0 M0 T3 N1 M0 T2 N2 M0 T1 N3 M0 Estádio IIIA T4a N1 M0 T3 N2 M0 T2 N3 M0 Estádio IIIB T4b N0 M0 T4b N1 M0 T4a N2 M0 T3 N3 M0 Estádio IIIC T4b N2 M0 T4b N3 M0 T4a N3 M0 Estádio IV Qualquer T Qualquer N M1 Tabela 2.6 Estadiamento do câncer gástrico. Os coletores linfáticos do estômago se dividem em seis zonas ou estações, denomina dos paragástri- cos ou perigástricos Zona I – paracárdicos: Ia- direitos; Ib- esquerdos. Zona II – gástricos superiores: situados na peque- na curvatura, entre os folhetos do pequeno omento. Zona III – subpilóricos: localizados abaixo do piloro. Zona IV – gástricos inferiores: situados na gran- de curvatura, entre os folhetos do grande omento. Zona V – gastrolienais: situados ao longo do liga- mento gastrolienal e os localizados no hilo esplênico. Zona VI – pancreatolienais: localizados junto aos vasos do baço e na borda inferior e faces anterior e posterior do corpo e cauda pancreáticos. Se dividirmos o estômago em três terços – su- perior, médio e inferior – poderemos ter uma ideia aproximada da provável propagação linfática do tu- mor para as seis zonas mencionadas. Os cânceres do terço inferior se propagam para os coletores linfáticos gástricos superiores, subpilóricos e gástricos inferio- res. Quando o tumor se localiza no terço médio, as metástases ganglionares podem ocorrer para todas as seis zonas de coletores linfáticos. Finalmente, no caso de câncer situado no terço superior, o mais comum é a ocorrência de comprometimento dos paracárdicos, gástricos inferiores e gastrolienais. A própria escola japonesa, mais modernamente, demonstrou que o câncer gástrico poderia acomodar 16 grupos de coletores linfáticos. Estes seriam: os da arcada marginal das curvaturas do estômago os situ- ados a mais de 3 cm da parede gástrica, como aqueles junto aos pedículos hepáticos e lienais e aqueles ain- da mais distantes (N3). Estesúltimos compreendem os coletores ao longo das artérias mesentérica, cólica e aórtica. Quando o crescimento das células neoplásicas do estômago se faz dentro do ducto linfático, podemos ter acometimento de gânglios mais distantes. Exemplo tí- pico é o gânglio de Virchow na região supraclavicular esquerda, também conhecido como sinal de Troisier. A Sociedade Japonesa de Pesquisa do Câncer Gástrico, no I Congresso Mundial de Câncer Gástrico em Kyoto, em 1995, classificou os linfonodos regio- nais do estômago nas seguintes estações. 1– Cárdicos direitos. 2– Cárdicos esquerdos. 3– Ao longo da pequena curvatura. 4– Ao longo da grande curvatura. 4sa– Ao longo dos vasos breves. 4sb– Ao longo dos vasos gastrepiploicos es- querdos. 4d– Ao longo dos vasos gastrepiploicos direitos. 5– Suprapilóricos. 6– Infrapilóricos. 7– Ao longo da artéria gástrica esquerda. 8– Ao longo da artéria hepática comum. 8a– Grupo ântero superior. 8p– Grupo posterior. Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201518 9– Em volta do tronco celíaco. 10– No hilo esplênico. 11– Ao longo da artéria esplênica. 12– No ligamento hepatoduodenal. 13– Na superfície posterior da cabeça do pâncreas. 14– Na raiz do mesentério. 14A– Ao longo da artéria mesentérica superior. 14V– Ao longo da veia mesentérica superior. 15– Ao longo dos vasos cólicos médios. 16– Em volta da aorta abdominal. 16a1– No hiato aórtico. 16a2– Ao redor da aorta abdominal (da margem superior do tronco celíaco até a margem inferior da veia renal esquerda). 16b1– Ao redor da aorta abdominal (da margem inferior da veia renal esquerda até a margem superior da artéria mesentérica inferior). – Ao redor da aorta abdominal (da margem su- perior da artéria mesentérica inferior até a bifurca- ção aórtica). 17– Na superfície anterior da cabeça do pâncreas. 18– Ao longo da margem inferior do pâncreas. 19– Infradiafragmáticos. 20– No hiato esofágico do diafragma. 105– Paraesofágico no tórax superior. 106– Traqueais no tórax. 107– Na bifurcação da traqueia. 108– Paraesofágicos no tórax médio. 109– No hilo pulmonar. 110– Paraesofágicos no tórax inferior. 111– Supradiafragmáticos. 112– Mediastinais posteriores. 12a 12p 8p 12b 8a5 13 6 17 13 15 4d 16 16 9 9 9 7 3 19 1 2 20 111 110 11p 16 18 16 14v 14a 4d 4d 4sb 4sb 4sa 11d 10 10 Figura 2.19 Localização das estações linfonodais. 6 5 8 3 4d 4d 4sb 4sb 4sa 9 7 3 1 2 2 Figura 2.20 Estações linfonodais perigástricas. Figura 2.21 Divisão esquemática da topografia do câncer gástrico. Diferentemente das normas da UICC, em que a topografia do tumor primário dentro do estômago não é considerada, aqui o estômago é dividido em três partes caracterizadas por letras: U (upper), M (midd- le), L (lower), E e D se há comprometimento esofágico e/ou duodenal respectivamente. Quando o tumor invade mais de uma dessas porções, considera-se a região mais fortemente comprometida, seguido das me- nos invadidas. Exemplo: ML, UML. T1a T1b T2b T3 T4 T2a Mucosa: < 5% Submucosa: 20% Muscular própria: 40% Subserosa: 70% Serosa: 90% Figura 2.22 Relação entre profundidade da infiltração do tumor na parede gástrica e a consequente metastatização linfonodal do câncer gástrico. Tratamento A cirurgia (gastrectomia com esvaziamento lin- fonodal) sempre foi considerada o procedimento pa- drão para tratamento do câncer gástrico. Padronização cirúrgica A incisão é mediana xifoumbilical, que raramen- te necessita ser prolongada inferiormente. Alguns autores recomendam a toracolaparotomia à esquerda para a gastrectomia total. 2 Câncer gástrico 19 Após cuidadoso inventário da cavidade peritoneal, não se tendo detectado metástases a distância, a cirur- gia indicada para os tumores do antro gástrico é a gastrectomia subtotal. Utilizamos a rececção tipo D2 (a mais frequentemente utilizada), ou seja, remoção dos dois epíplos junto com o tumor e retirada de todos os co- letores linfáticos perigástricos e ainda aqueles situados até 3 cm do estômago. Estes são: os situados ao longo da ar- téria hepática, os do tronco celíaco e ao longo da artéria mesentérica superior. A reconstrução mais utilizada atualmente é a Y de Roux, com a anastomose jeju- nojejunal situada a 60 cm da anastomose gastroje- junal, para prevenção do refluxo biliopancreático, que pode levar à gastrite alcalina. Existem autores que preferem a reconstrução à Billroth II. Não se deve utilizar a reconstrução à Billroth I, pois, em caso de duodeno com infiltração tumoral, e mesmo se houver recidiva da neo- plasia, poderá ocorrer obstrução da zona da anastomose. Para os tumores do corpo e fundo gástrico utiliza-se a gastrectomia total com reconstrução à Y de Roux, também com distância de 60 cm entre as duas anastomoses. Quando o tumor situa-se na cár- dia ou invade o esôfago distal, a gastrectomia total deve compreender também a ressecção do segmento distal do esôfago. Basicamente, há a necessidade de se ter uma margem de segurança de 5 cm como critério geral para as ressecções. Para os doentes com câncer gástrico precoce, a referida margem de segurança pode ser de 2 cm. A esplenectomia não é mais definida como um procedimento coadjuvante de rotina para a gastrectomia para o câncer. Portanto, a ressecção local de órgão, especial- mente do baço, pâncreas ou cólon transverso, somen- te deve ser executada quando necessária para se obter uma ressecção R0 (ressecção completa com margens negativas). A ressecção R1 indica uma ressecção com doença microscópica residual (margens positivas) e, R2, doença macroscópica residual. Dissecções D1,D2 e D3 Tipo de dissecção linfonodal Descrição D1 Remoção da parte envolvida do estômago (gas- trectomia subtotal ou total) incluindo pequeno e grande omento, ressecção apenas dos linfo- nodos perigástricos. Ressecção de baço e cauda de pâncreas, apenas se envolvidos D2 Ressecção da bursa omental, parte do mesocólon transverso e dissecção completa dos pedículos vasculares do estômago. Remoção das estações 1 a 11 inclui as estações linfonodais 10 e 11, even- tualmente esplenectomia e/ou pancreatectomia distal D3 Linfadenectomia superextendida: inclui esta- ções 1 a 16, com remoção dos linfonodos na porta hepatis e periaórticos Tabela 2.7 Critérios de ressecabilidade A ressecabilidade deve respeitar dois princípios básicos: de um lado, a morbimortalidade e, de outro, o comprometimento maior ou menor dos órgãos ad- jacentes e a presença ou não de metástases. Assim, os pacientes cujo estado geral caracterize um risco cirúr- gico razoável e portadores de tumores que não atinjam muitos órgãos vizinhos e nem tenham metástases a distância devem ser considerados ressecáveis. Carcinomas são considerados irressecáveis se houver evidência de envolvimento peritoneal, metás- tases à distância ou doença localmente avançada, com invasão de estruturas vasculares. Porém, ressecções com margens positivas são aceitáveis para paliação sintomática ou de sangramento. Nesses casos, gas- troenteroanastomose, gastrostomia ou jejunostomia também devem ser consideradas como alternativas. Neoplasia gástrica: margens cirúrgicas Nos casos de CaG precoce, bastam 2 cm de margem de segu- rança, isto é, de tecido macroscopicamente livre de neoplasia; Tumores avançados = 5 cm. Estudos detalhados, sugeriram, entretanto, o alargamento desta margem para 6 a 8 cm, o que, em muitos casos, levaria à gastrectomia total “de príncipe”. Tabela 2.8 Linfadenectomia Uma questão sempre mais polêmica é a estensão de dissecação linfonodal: D1, D2 ou D3 (Tabela 9.7) A JapaneseResearch Society for the study of gastric cancer (JRSGC) forneceu diretrizes para tratamento cirúrgico e análise patológica padrão. De acordo com essas recomen- dações, 16 diferentes compartilhamentos linfonodais são identificados no estômago. Em geral, a estação de linfodontos perigátricos ao longo das pequenas (estações 1, 3, 5) e grandes (estações 2, 4, 6) curvaturas são grupo N1, enquanto os linfonodos ao longo da artéria gástri- ca esquerda (estações 9), artéria esplênica (estações 10 e 11) são grupo N2, e outras estações 13 a 16: linfonodos posteriores à cabeça do pâncreas, mesentéricos, meso do cólon transverso, paraóticos são N3 e N4. As dissecções alargadas D2 ou maiores sempre foram mais populares no Japão. Entretanto, na últi- ma década, esse tipo de abordagem cirúrgica se tor- nou mais frequente também em países ocidentais. Há grande variabilidade na morbimortalidade e evolução reportadas em pacientes submetidos à D2, provavel- mente resultado de diferentes “definições” de D2 e di- ferentes níveis de experiência dos serviços de cirurgia. A conclusão dos autores foi de D2 estar associado a menor taxa de recorrência locorregional e menor taxa de mortes relacionadas ao câncer gástrico, porém com maior morbimortalidade em mãos experientes e servi- ços expecializados este efeito adversos é minimizado. Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201520 Resultado do tratamento cirúrgico A sobrevida de 5 anos dos doentes gastrectomi- zados por câncer gástrico depende, principalmente, da profundidade da lesão na parede do estômago e da presença de gânglios metastáticos. Outros aspectos também têm grande influência no resultado da cirurgia, como o tipo macroscópico da lesão (classificação de Borrmann) e o grau de diferen- ciação celular (classificação de Broders). O tipo histo- lógico não tem grande influência na sobrevida desses pacientes, embora o tipo anel em sinete apresente re- sultado um pouco menos favorável. A sobrevida média de 5 anos, segundo relato da literatura nacional e estrangeira, varia de 100% para as lesões da mucosa até valores inferiores a 10%, para os casos de neoplasia localizados na serosa. Nos casos em que não há comprometimento ganglionar, a sobre- vida atinge cifras de até 70%, contra 18% de sobrevida nos casos de invasão ganglionar extensa. As lesões vegetantes e ulceradas (tipos I e II de Borrmann) têm sobrevida de 40% a 70%, enquanto as lesões infiltrativas, ou seja, tipos III e IV de Borrmann ou ditas difusas por Lauren, apresentam sobrevida ao redor de 25%. A classificação TNM, que engloba a profun- didade da lesão na parede gástrica (T), a metástase ganglionar (N) e as metástases a distância (M), tor- na-se assim o grande referencial para as consi- derações a respeito da sobrevida dos pacientes gastrectomizados por câncer gástrico. Por esses dados, os pacientes do estádio I apresentam sobrevi- da de 70%, os do estádio II, 25%, e os do estádio III, apenas 8%. Pacientes do estádio IV não atingem os 5 anos de sobrevida. Outros aspectos que devem ser considerados dentro do resultado da cirurgia radical para o câncer do estômago são: a extensão da gastrectomia, as res- secções mais extensas e as ressecções das metástases a distância. A sobrevida é menor na gastrectomia total que na parcial; isto se deve à maior morbimortalidade da ressecção total do estômago. Além disso, compa- ram-se aqui pacientes com patologia em graus dife- rentes. Quanto às ressecções mais ampliadas, como a pancreatectomia parcial envolvendo a cauda pancreá- tica associada à esplenectomia, essas também têm di- fícil avaliação, pois são utilizadas em lesões mais avan- çadas e têm grau de mortalidade maior. Além disso, a ressecção do baço diminui a competência imunológica do paciente, o que interfere na sobrevida. Outro as- pecto negativo da esplenectomia, que tem sido indica- do nas neoplasias situadas na parte alta da grande cur- vatura gástrica, é a diminuição da defesa imunológica na luta do organismo contra a evolução da doença. Embora a cirurgia deva ser paliativa nos casos de pacientes com metástases a distância (cérebro, os- sos, pulmões e fígado), alguns preconizam a ressec- ção de metástases hepáticas isoladas (os resultados são variados). Mucosectomia Para os tumores precoces ou superficiais do es- tômago, aqueles limitados à mucosa e/ou submucosa gástrica, a gastrectomia ainda é a modalidade mais utilizada, embora, em casos selecionados, tumores muito pequenos, menores que 1 a 2 cm, não ulcerados, T1N0M0, bem diferenciados, a mucosectomia endoscó- pica pode ser indicada com sobrevida superior a 80%. Complicações da ressecção mucosa endoscópica São raras as complicações da mucosectomia endoscópica quando os critérios absolutos de cura são obedecidos. As mais graves complicações descritas foram: hemorragia, perfuração e ressec- ção incompleta. A maioria dos casos de hemorragia exibe sangra- mento discreto, autolimitado, muitas vezes parando espontaneamente, não demandando maiores cuida- dos. Hemorragias mais significativas foram anotadas em 2% a 4% dos casos, sendo que menos de 1% deles necessitou de transfusão de sangue. A maioria dos sangramentos ativos é controla- da com terapêutica endoscópica, sendo que as técni- cas mais usadas são: a terapêutica injetora, o heater probe, o clipe hemostático e a coagulação com plasma de argônio. O paciente raramente apresenta dor durante a mucosectomia. Quando isso ocorre, pode ter havido queimadura transmural ou mesmo perfuração do ór- gão; nas ressecções que obedecem aos critérios abso- lutos, a perfuração é muito rara, ocorrendo em frações de 1% dos casos. A ressecção endoscópica dá origem a uma úlce- ra, que geralmente chega até o plano muscular do es- tômago; essa úlcera artificial geralmente cicatriza no primeiro mês de tratamento e até mesmo sem trata- mento com bloqueador da bomba de prótons. A ressecção endoscópica completa do câncer precoce do estômago foi alcançada de 65% a 93% nas grandes séries japonesas de mucosectomia. As lesões que correm o maior risco de ressecções incompletas são as maiores que 2 cm de diâmetro e as localizadas na pequena curvatura do corpo e no terço proximal do estômago, principalmente as justacárdicas. 2 Câncer gástrico 21 Cirurgias paliativas A paliação tem como objetivo diminuir os sinto- mas e o desconforto do paciente, além de vencer situ- ações de obstruções. A gastrenteroanastomose é utili- zada quando há obstrução do piloro. Nas obstruções da cárdia, utiliza-se a gastrostomia, para que o pa- ciente possa ser alimentado. Alguns têm preconizado, também, anastomoses entre o esôfago e o estômago ou entre o esôfago e o jejuno, com a mesma finalidade. Outra cirurgia paliativa usada para qualquer tipo de obstrução, seja da cárdia, seja do piloro, é a jejunostomia. Esta também tem a finalidade de alimentar o paciente, ne- cessitando, no entanto, alguns cuidados, pois exige certa adaptação do doente à dieta introduzida diretamente no jejuno. A dieta enteral, também possível através de son- das, na maioria das vezes é a dieta à base de soja. A palia- ção clínica é feita com o objetivo da melhora clínica geral do paciente. Assim, na maioria das vezes é composta da reidratação, transfusões sanguíneas e de plasma, infusão de eletrólitos e de vitaminas, entre outras medidas. Complicações A mais temida complicação da cirurgia do câncer gástrico é a fístula da anastomose, que ocorre em 3% a 21% dos pacientes. Esse tipo de complicação é de difícil tratamento e prolonga o tem- po de recuperação. Complicações frequentes são as de origem pulmonar e infecciosa. Outros tipos de compli- cações relacionam-se às síndromes pós-gastrectomias que já foram abordadas em capítulo específico. Quimioterapia neoadjuvante Otratamento neoadjuvante está indicado em pa- cientes com doença localmente avançada (DLA). A DLA é definida como tumores T3/T4 ou N1 potencialmente ressecáveis sem metástases à distância, identificadas em métodos de imagem ou laparoscopia. O racional para o tratamento neoadjuvante está pautado em vários benefí- cios advindos dessa modalidade. Esse tipo de tratamento possibilita redução em tamanho dos tumores facilitando posterior cirurgia com maior índice de ressecções “R0”, teoricamente trata pre cocemente as possíveis micro- metástases ocultas, propicia seleção dos pacientes real- mente passíveis de ressecção cirúrgica poupando aqueles que apresentam progressão de doença no curso da te- rapia neoadju vante, possibilita avaliação de resposta ao tratamento empregado ao vivo, além de permitir maior tolerabili dade ao tratamento quimioterápico, antes do trauma cirúrgico. Como desvantagens deve ser conside- rada uma eventual perda da chance cirúrgica e a ansieda- de em postergar a etapa cirúrgica do tratamento. Vários pequenos estudos de fase II com diferentes regimes qui- mioterápicos, baseados em platina, reportaram respos- tas na faixa de 34 a 60% e elevados índices de ressecção R0. Um pequeno estudo randomizado holandês avaliou 59 pacientes distribuídos em dois braços: cirurgia apenas ou quimioterapia pré-operatória com FAMTX (5-FU/ do- xorubicina/ metotrexate) por quatro ciclos. O estudo não demonstrou benefício em ressecabilidade ou aumento de sobrevida, apesar de merecer várias ponderações desde o pequeno número da amostra até o regime quimioterápi- co utilizado, não sendo conclusivo para o esclarecimento da questão. Em 2006, o Dr. David Cunningham publicou os resulta dos do estudo multicêntrico MAGIC (Médical Research Council Adjuvant Gastric Infusional Chemo- therapy), até o momento o mais importante estudo fase III em neoadjuvância. Esse estudo, com 503 pacientes com diagnóstico de adenocarcinoma gástrico ou de jun- ção esofagogástrica (JEG), estádio ≥ II, sem evidências de metástases à distância ou com DLA, que foram rando- mizados para cirurgia apenas ou quimioterapia perio- peratória, com objetivo primário de avaliar sobrevida global. O regime quimioterápico escolhido foi o ECF (epi- rubicina/cisplatina e fluorouracil infusional), que já ha- via demonstrado superioridade quando comparado com FAMTX para tratamento da doença avançada. Os pacien- tes recebiam três ciclos antes e três ciclos após a cirurgia. A maioria dos pacientes (86/0) completou o tratamento quimioterápico pré-operatório planejado; 91% foi sub- metido à cirurgia e 65% fez quimioterapia após cirurgia com 75% desses, tendo completado os três ciclos planeja- dos. Esse estudo demonstrou vantagem para o grupo de quimioterapia perioperatória em aumento de sobrevida global mediana de 24 meses versus 20 meses, e em so- brevida, em 5 anos, de 36% versus 23%, com diferenças estatisticamente significativas. Desde então, o tratamen- to pré-operatório em pacientes com estádio ≥- II ou DLA vem sendo fortemente estimulado e considerado padrão. Quimioterapia adjuvante Atualmente, poder-se-ia indicar o tratamento qui- mioterápico adjuvante em pacientes portadores de carci- nomas gástricos adequadamente operados do ponto de vista de radicalidade, e com fatores de alto risco de recor- rência da doença (acometimento de serosa, doença volu- mosa e acometimento linfonodal, pelo menos). Dois gru- pos de alto risco estão sendo propostos: sexo feminino e lesões Borrmann tipo IV. Os esquemas mais utilizados são 5FU+ leucovorin e o esquema com mitomicina C em atas doses com intervalo de seis semanas, por quatro ciclos. O papel da radioterapia no tratamento do adeno- carcinoma gástrico permanece incerto. A sua principal indicação fica para os doentes com doença em estádio não precoce em que haja necessidade de redução tu- moral e para os quais o tratamento operatório não é suficiente para garantir a cura. A radioterapia também é utilizada, em pacientes com sangramento. Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201522 A associação quimioreadioterapia neo e adjunta- mente são possibilidades terapêuticas para casos sele- cionados mas não isentos de alta toxicidade. Critérios de mau prognóstico Borrmann III e IV. Tumor de cárdia. Tumor > 2 cm. Envolvimento ganglionar satélite. Invasão da serosa. Grau de diferenciação do tumor. A taxa de sobrevida em cinco anos depende do envolvimento ou não de gânglios linfáticos adjacentes. Caso haja envolvimento desses gânglios, a taxa de so- brevida em cinco anos fica em torno de 15%. As taxas de recorrência após a gastrectomia permanecem em alta, variando de 40% a 80%, com a maior parte das recor- rências sendo documentadas nos primeiros três anos. Os locais mais comuns de recorrência locorregional são o remanescente gástrico na anastomose e no leito gás- trico e nos linfonodos regionais. Ocorre disseminação hematogênica para o fígado, pulmão e osso. Todos os pacientes devem ser acompanhados sistematicamente. Pelo fato de a maioria das recor- rências ocorrer nos primeiros três anos, os exames de vigilância são mais frequentes nos primeiros anos. O acompanhamento deve incluir uma história comple- ta e um exame físico a cada quatro meses durante um ano, então a cada seis meses por dois anos e, então, anualmente. Os exames laboratoriais, incluindo o hemograma completo e os testes de função hepática, devem ser obtidos conforme clinicamente indicados. Muitos clínicos realizam radiografias de tórax, TC do abdome e da pelve rotineiramente, enquanto outros obtêm estudos apenas quando existem suspeitas clí- nicas de uma recorrência. A endoscopia anual deve ser considerada em pacientes que se submeteram à gas- trectomia subtotal. Neoplasias metastáticas Câncer de mama. Melanoma. Câncer de pulmão. Hepatocarcinoma. Câncer de esôfago. As imagens descritas na SEGD como lesões em alvo ou em olho de boi (massa submucosa com uma úlcera ou umbilicação central) são principalmente vis- tas no melanoma e linfoma gástricos. O sarcoma de Kaposi pode se mostrar dessa forma. Os implantes na superfície serosa do estômago não são considerados metástases gástricas. Outros tumores malignos Carcinoide gástrico Tumor sólido, envolvendo mucosa e submucosa, geralmente único, sem predileção por uma área gás- trica específica. É tumor neuroendócrino derivado das células enterochromaffin-like (ECL). Características de benignidade ou malignida- de, às vezes, só são definidas após o aparecimento de metástases. Os tumores malignos possuem baixo grau de malignidade, com sobrevida superior a dez anos, em muitos casos. Os carcinoides gástricos são classificados em três tipos: Tipo I: são 70% de todos os carcinoides gástri- cos. Pacientes que apresentam gastrite atrófica (ane- mia perniciosa, por exemplo) do estômago proximal, com redução da produção de ácido e hipergastrinemia compensatória. Os elevados níveis de gastrina esti- mulam a proliferação de células neuroendócrinas na lâmina própria da mucosa gástrica, dando origem, em geral, a vários carcinoides, menores de 10 mm. En- doscopicamente, são lesões amareladas, de consistên- cia aumentada, às vezes erroneamente identificadas como submucosas. Na verdade, são subepiteliais. São de crescimento lento. Metástases ocorrem em menos de 10% dos casos. Tipo II: associam-se a pacientes portadores da síndrome de Zollinger-Ellison ou neoplasia endócrina múltipla tipo I. São menos de 5% de todos os carcinoi- des gástricos. Tem comportamento biológico seme- lhante àqueles do tipo I. Tipo III: são chamados de esporádicos, pois não estão presentes anemia perniciosa ou tumores produtores de gastrina. São cerca de 25% dos carci- noides gástricos. Apresentam comportamento mais agressivo, com metástaseslocais ou hepáticas em até 60% dos pacientes operados. A síndrome carci- noide é rara, mas possível nesse tipo de carcinoide, quando da presença de metástase hepática ou mas- sas volumosas. Há casos de sobreposição dos tipos de carcinoide gástrico. Assim, tem sido sugerida a utilização do grau histológico, do tamanho da lesão, da contagem do nú- mero de mitoses e reação para Ki-67, como marcado- res de comportamento biológico da lesão. A apresentação clínica dos carcinoides gástricos é variável. Em geral, ela é caracterizada por manifes- tações inespecíficas, como dor abdominal, dispepsia, anemia e hemorragias gastrointestinais. Contudo, muitas vezes, o diagnóstico do tumor representa um achado durante a realização de endoscopia digestiva alta por diversos motivos. Quando presentes, as ma- nifestações clínicas podem ser secundárias aos efeitos 2 Câncer gástrico 23 mecânicos ou neuroendócrinos do tumor. Em raras ocasiões, pode ocorrer síndrome de ZE, síndrome de Cushing, síndrome carcinoide clássica ou atípica, pela produção de histamina, peptídios relacionados à bra- dicinina ou outras substâncias. A síndrome carcinoide, que ocorre em apenas 0,5 a 11% dos pacientes com carci- noide gástrico, sua forma clássica, associada com carcinoides do intestino delgado médio e terminal, é mediada pela liberação de 5-hi- droxitriptamina (serotonina; 5-HT), enquanto a síndrome carcinoide atípica, com manifestações clínicas mais intensas e relacionadas a tumores de células-ECL, está associada à produção de 5-hidro- xitriptofano, que não é convertido em serotonina pela deficiência da enzima dopa-descarboxilase. Esta última, que ocorre, principalmente, nos car- cinoides gástricos do tipo II, é caracterizada por rubor cutâneo generalizado, vermelho rutilante e prolongado, edema facial, lacrimejamento, cefaleia, broncoespasmo e telangiectasias. O tipo e os mar- cadores acima mencionados devem ser utilizados ao se indicar a ressecção endoscópica do carcinoide gástrico com fins de cura. Assim, sugere-se que le- sões do tipo I ou II de até 10 mm, sem invasão da muscular própria, possam ser manejadas através da ressecção endoscópica. Por outro lado, aquelas me- dindo entre 10 e 20 mm, desde que de baixo grau, sem invasão angiolinfática, com baixo número de mitoses e baixo índice de proliferação podem ser tratadas da mesma maneira. O tratamento dos tumores carcinoides do tipo III é baseado na ressecção cirúrgica da lesão, através de gastrectomia total ou subtotal, associada à ressec- ção linfonodal, semelhante ao tratamento do adeno- carcinoma gástrico. O emprego de análogos da soma- tostatina já se mostrou capaz de reduzir o tamanho das lesões, mas não há comprovação do impacto so- bre a sobrevida. Na vigência de doença metastática, o emprego dos análogos da somatostatina é de grande utilidade, particularmente nos pacientes com síndrome carci- noide. Antagonistas dos receptores da 5-HT, como ondansetron ou ciproeptadina, também já foram utilizados nesse contexto. A quimioterapia sistêmica está indicada na presença de metástases de tumores do tipo III pouco diferenciados. Estudos com radio- terapia em tumores sintomáticos metastáticos ou irressecáveis também têm sido relatados, com boa tolerância dos pacientes. Nos casos de metástases hepáticas, ligadura ou embolização da artéria hepá- tica com partículas de Gelfoam, associada à quimio- terapia, pode provocar regressão tumoral em mais de 70% dos casos. Tipos de tumores carcinoides do estômago Caracterís- ticas Tipo I Tipo II Tipo III Doenças associadas Gastrite crô- nica atrófica autoimune e anemia perni- ciosa Síndrome de Zollinger-Elli- son e neopla- sia endócrina múltipla tipo I Nenhuma Proporção dos tumores 80% 5% 15% Localização Fundo Fundo (even- tualmente no antro) Antro e fundo Número e tamanho Múltiplos, < 1 cm Múltiplos, < 1 cm Solitários, 2 a 5 cm Hipergastri- nemia Presente Presente Ausente Secreção ácida Reduzida Aumentada Normal Teste da secretina Negativo Positivo Negativo Metástases < 2% 10 a 30% 50 a 100% Prognóstico Bom Bom Ruim Tabela 2.9 Linfoma O conceito do linfoma MALT surgiu em 1983, quando lsaacson e Wright observaram que alguns linfomas de baixo grau de malignidade do trato gastrointestinal apresentavam aspecto histológi- co semelhante ao encontrado nas placas de Peyer do intestino delgado. Propuseram, então, que es- ses linfomas poderiam corresponder a uma varian- te tumoral de tecido linfoide associada à mucosa e que esse tipo de neoplasia poderia se desenvolver em locais “permeáveis” da mucosa e que estivessem em contato direto com antígenos do ambiente ex- terno. Assim, surgiu o conceito de MALT (mucosal associated lymphoid tissue – tecido linfoide associa- do à mucosa), posteriormente ampliado para outros órgãos, como glândula tireoide, glândulas salivares, pulmões e anexos oculares. Curiosamente, os linfomas MALT surgem em ór- gãos que normalmente não apresentam tecido linfoide, mas a sua instalação é, em geral, precedida por doenças autoimunes, como tireoidite de Hashimoto, síndrome de Sjögren e, no estômago, pela infecção pelo Helico- bacter pylori. A maioria dos linfomas primários de estô- mago é considerada MALT, podendo ou não apresentar evolução para linfoma de alto grau de malignidade. Cirurgia do estômago SJT Residência Médica - 201524 Classificação histológica dos linfomas primários e secundários do trato gastrointestinal Linfoma de células B MALT de baixo grau MALT de alto grau – com ou sem evidência de componente de baixo grau Doença imunoproliferativa do intestino delgado Linfoma de baixo grau, misto, com alto grau Linfoma de células do manto Linfoma tipo Burkitt Outros tipos de linfomas de baixo ou alto grau correspon- dendo a equivalentes nos linfonodos Linfoma de células T Enteropatia associada aos linfomas de células T Outros tipos não associados à enteropatia Tabela 2.10 Etiologia e epidemiologia O sítio primário extranodal mais comum para os linfomas de células B é o trato gastroin- testinal, sendo que o estômago é o órgão mais frequentemente envolvido. Os linfomas MALT do estômago correspondem a apenas 2%-8% de todos os tumores gástricos malignos, e estudos recentes têm demonstrado que a sua incidência está aumentando. É atualmente considerado resultado da resposta à infecção pelo H. pylori, pois a bactéria é encontrada em mais de 90% dos casos desse tumor. O H. pylori é uma bactéria microaerofílica unipolar, multiflagelada e espiral que coloniza a superfície luminal do epitélio gástrico. Apresenta capacidade de sobreviver em ambiente ácido devido à secreção de enzimas como a urease, que eleva o pH do microambiente que circun- da a bactéria. O H. pylori é geneticamente muito diverso como resultado de mutações de ponto, mosaicismo, po- limorfismo de alguns genes e rearranjos cromossômicos, constituindo diferentes cepas que infectam, simultanea- mente, indivíduos da mesma família. As cepas do H. pylo- ri podem ser subdivididas de acordo com a alta expressão das proteínas CagA (cytotoxin associated gene A) e VacA (vacuolating cytotoxin A). Em geral, as cepas tipo I são CagA e VacA positivas, e as tipo II CagA e VacA negativas. Até o momento, sabe-se que as cepas tipo I estão signi- ficativamente mais associadas a gastrite, úlcera péptica e carcinoma. Provavelmente, também devem existir cepas associadas ao desenvolvimento do MALT gástrico. Os linfomas de Burkitt do estômago estão as- sociados às infecções pelo vírus Epstein-Barr, como ocorre em outras localizações. O linfoma de Burkitt é muito agressivo e tende a afetar uma população mais jovem do que os outros tipos de linfomas gástricos. O Burkitt é mais encontrado na cárdia
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