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A Prova Emprestada

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A Prova Emprestada 
2.1. Conceito 
Prova emprestada é aquela que, não obstante ter sido produzida em outro processo, é deste 
transferida para demanda distinta, a fim de produzir nesta os efeitos de onde não é 
originária. 
Nesse sentido leciona a doutrina de Moacyr Amaral Santos: 
“Muito comum é o oferecimento em um processo de provas produzidas em outro. São 
depoimentos de testemunhas, de litigantes, são exames, traslados, por certidão, de uns 
autos para outros, com o fim de fazer prova. Tais são as chamadas provas emprestadas, 
denominação consagrada entre os escritores e pelos tribunais do país. É a prova que “já 
foi feita juridicamente, mas em outra causa, da qual se extrai para aplicá-la à causa em 
questão”, define Benthan.”[1] 
Entende-se assim, como o material probatório produzido num processo e conduzido a 
outro, situação que gera infindáveis discussões no âmbito jurídico, eis que, segundo alguns 
doutrinadores, a utilização vulneraria os princípios do contraditório, devido processo legal, 
bem como feriria os princípios do juiz natural, da oralidade e imediação. 
Assim leciona Fredie Didier Jr sobre a matéria: “Prova emprestada é a prova de um fato, 
produzida em um processo, seja por documentos, testemunhas, confissão, depoimento 
pessoal ou exame pericial, que é trasladada para outro processo, por meio de certidão 
extraída daquele”.[2] 
A prova produzida ingressa em outro processo sob a forma documental, cuja força 
probatória será valorada pelo juiz, que não está adstrito a dar-lhe idêntico valor ao que teve 
nos autos em que foi produzida. 
Não se deve olvidar sobre a conveniência do traslado de provas de um processo a outro, de 
tal sorte, que há o prestígio dos princípios da celeridade bem como da economia 
processual, a fim de se evitar repetição desnecessária de atos processuais já esgotados com 
o aproveitamento de provas pretéritas. Imperiosa, entretanto, quando tais provas diante 
das circunstâncias fáticas não puderem ser colhidas no atual processo e, forem 
indispensáveis. 
2.2. A Prova Emprestada no Código de Processo Civil de 73 
No Código de Processo Civil de 1973, a prova emprestada, conforme já referido é 
considerada como prova atípica, sendo admitida, entretanto, como meio probatório de 
utilização moralmente legítimo. 
Com efeito, segundo estabelece o art. 332 do CPC[3], o convencimento do juiz pode ser 
construído a partir de prova produzida e transportada de outra demanda. 
A previsão contida no dispositivo acima não sofreu qualquer influência em razão do Código 
Civil trazer, em seu art. 212, os meios de prova admissíveis pelo ordenamento jurídico 
pátrio. Com efeito, a enumeração lá contida, da mesma forma que acontecia com a 
legislação civil revogada, é tida como apenas exemplificativa e não taxativa. 
A razão de ser do art. 332 do CPC é de garantir a utilização de todo instrumento 
probatório, ainda que não encontre previsão na legislação processual, mas que, segundo a 
lição de Antonio Carlos de Araujo Cintra, “seja idôneo para demonstrar ou para apurar a 
veracidade de alegações de fatos relevantes para a justa decisão da causa.”4 
Importante consignar, que a admissão de meios probatórios atípicos (como os indícios, 
presunções e a própria prova emprestada) foi uma inovação trazida pelo CPC de 1973 em 
relação ao seu antecessor, que não possuía disposição semelhante. 
Nesse ponto, muito bem destaca Humberto Theodoro Júnior, a lei processual civil atual, 
neste ponto, “mostrou-se consentâneo com as tendências que dominam a ciência 
processual de nossos dias, onde, acima do formalismo, prevalece o anseio da justiça 
ideal, lastreada na busca da verdade material, na medida do possível.”[4] 
No entanto, não é toda e qualquer transferência de elementos probatórios produzidos em 
um processo e transferidos para outro que se enquadra dentro daquilo que se costuma 
conceituar de prova emprestada; é o caso, por exemplo, da prova obtida no juízo 
deprecado, conforme bem destaca Eduardo Cambi: 
“Assim, não integra a noção de prova emprestada a prova produzida no juízo deprecado, 
porque este juízo é um prolongamento de primeiro (v.g., a testemunha, não residente no 
juízo em que se processa a demanda, por não estar obrigada a sair da sua residência, 
presta depoimento no foro onde mora e seu depoimento é considerado como se fosse 
prestado perante o juiz da causa)”.[5] 
Através de atos processuais desta espécie cria-se “um intercâmbio e uma colaboração 
entre dois juízos para que o processo tenha seu devido andamento”[6] sem que isso se 
consubstancie em situação que envolva a utilização da prova emprestada. 
Atualmente, à luz do vigente CPC de 73, a Doutrina e os Tribunais tem admitido a Prova 
Emprestada, desde que respeitado o princípio do contraditório. 
Dessa forma, havendo identidade de relação fática e tratando-se das mesmas partes é 
possível ao Magistrado, utilizar-se da Prova Emprestada, que tenha sido produzida em 
outro processo o que é comumente visto, nos casos de prova pericial ou ainda, de provas 
orais. 
O Magistrado nesses casos, não fica adstrito a aceitar a prova que tenha sido produzida em 
outro processo, o que, todavia, tendo a ser recomendável, tendo em vista o princípio da 
economia processual, sem esquecer, entretanto, de atentar ao princípio do contraditório. 
Dessa forma, verifica-se que apesar do CPC de 73 não dispor expressamente sobre a 
legalidade da prova transladada de outro feito, com a evolução natural do nosso direito, a 
mesma foi sendo aceita em muitos casos e aplicada, sempre em consonância com os 
princípios constitucionais da nossa Constituição Federal. 
2.3. A Prova Emprestada no Novo CPC 
De acordo com o Novo CPC, a Prova Emprestada deixou de ser considerada como prova 
atípica, para ser introduzida como prova típica, encontrando previsão legal em seu artigo 
372. 
Nesse sentido, colaciona-se o dispositivo supramencionado: 
Art. 372. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, 
atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório. 
Verifica-se pelo dispositivo acima, que o Novo CPC, condiciona a prova emprestada ao 
princípio do contraditório, ou seja, as partes devem ser ouvidas, devem ter o direito de se 
manifestar sobre a prova emprestada. A parte prejudicada pela prova deve ser ouvida 
também, a fim de que verifique a sua concordância com a utilização ou não desta. 
Segundo o entendimento do STJ, as partes de ambos processos, tanto o da origem como o 
de destino da prova emprestada, não precisam ser necessariamente as mesmas, para a sua 
utilização. 
Todavia, consoante os recentes julgados do nosso Tribunal de Justiça, para a 
admissibilidade da prova emprestada, é necessário que, dentre outros fatores, haja 
identidade de partes entre o processo que pretende ela ser utilizada, sob pena de ofensa ao 
princípio do contraditório. Assim, verifica-se que o nosso TJRS, já vem aplicando o 
dispositivo constante no artigo 372 do Novo CPC, que passará a ter vigência a partir de 
2016: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. COBERTURA DE 
SINAL DE TELEFONIA. PERÍCIA. PROVA EMPRESTADA. Das circunstâncias segundo as 
quais inexiste identidade de partes entre a demanda originária e a demanda atual, não se 
justifica o deferimento de prova pericial emprestada em respeito aos princípios do 
contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. (Agravo de Instrumento nº 
70065363004, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Cini 
Marchionatti, Julgado em 04/08/2015) 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROVA EMPRESTADA. PROCESSO SEM 
PARTICIPAÇÃO DO RECORRENTE. IMPOSSIBILIDADE. OFENSA AO 
CONTRADITÓRIO. Para que seja admitida a prova emprestada, é necessário que, dentre 
outros fatores, haja identidade de partes entre o processo em que se pretende seja ela 
utilizada e aquele no qual foi ela produzida, sob pena de ofensa ao princípio do 
contraditório. Não aceitando o Estado a utilização do laudo pericial produzidono outro 
processo, do qual não participa, não é possível sua utilização como prova emprestada. 
Precedentes desta Corte. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO. 
(Agravo de Instrumento Nº 70066166612, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Almir Porto da Rocha Filho, Julgado em 07/10/2015) 
Nesse sentido, importante frisar o ensinamento de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de 
Andrade Nery que lecionam acerca da Prova Emprestada ao dizer que: “a condição mais 
importante para que se dê validade e eficácia à prova emprestada é sua sujeição às 
pessoas dos litigantes, cuja consequência primordial é a obediência ao contraditório. Vê-
se, portanto, que a prova emprestada do processo realizado entre terceiros é res inter 
alios e não produz nenhum efeito senão para aquelas partes”.[7] 
Tal entendimento, apenas foi introduzido em nossa legislação, pois já havia sendo há 
muito tempo admitido e aplicado por nosso Tribunais. 
Atualmente, mesmo na vigência do Código de 73, a doutrina e os Tribunais, consoante já 
exposto, admitem a prova emprestada, desde que respeitado o princípio do contraditório. 
No Novo Código, tal entendimento encontra uma disposição expressa, o que poderá 
ensejar futuramente, em uma maior quantidade de casos, em que utilizando-se a prova 
transladada de outro feito, serão julgados de forma mais célere. 
Ademais, à primeira vista, o empréstimo da prova do processo penal, por exemplo, para o 
processo civil, poderá também se aceito, eis que a disposição contida no artigo 372, apenas 
dispõe a respeito da prova produzida em “outro processo”, não fazendo distinção entre as 
esferas civil e penal. 
Dessa forma, verifica-se que com o Novo Código houve um avanço, uma positivação da 
possibilidade de se admitir a prova emprestada. 
3. Conclusão 
De todo exposto, verifica-se que o Novo CPC trouxe um avanço no tocante a prova 
emprestada, antes considerada como ilícita pela Legislação de 73. 
Ocorre que com o passar dos anos e com a evolução do nosso Direito, verifica-se que a 
possibilidade de transladar uma prova advinda de outro processo, atendendo 
principalmente os princípios constitucionais do contraditório e, principalmente a 
economia processual, tornou-se mais do que eficaz. 
Assim, acredita-se que na prática, com o advento do Novo Código, aplicando-se de forma 
mais frequente, acarretará em um processo mais célere, pois dispensaria como nos casos 
de prova pericial, uma nova perícia e todos os procedimentos que a envolvem e que 
acabam por dificultar o regular andamento do feito. 
Por fim, acredito que não deve apenas ser observado o contraditório, conforme prevê a 
disposição contida no artigo 372 do CPC/15, devendo o Magistrado observar as demais 
garantias constitucionais, dentre elas a proibição de prova ilícita. 
Referências 
SANTOS, Moacyr Amaral. Prova Judiciária no Cível e Comercial. 2 ed. São Paulo: Max 
Limonad, 1952. p. 293. 
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do processo e processo 
de conhecimento. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2006, p.523. 
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. vol. I. 47 ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2007. p. 481. 
CAMBI, Eduardo. Ob. cit. p. 53. 
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Ob. cit. p. 292. 
[1] SANTOS, Moacyr Amaral. Prova Judiciária no Cível e Comercial. 2 ed. São Paulo: Max 
Limonad, 1952. p. 293. 
[2] DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do processo e 
processo de conhecimento. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2006, p.523. 
[3] Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados 
neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a 
defesa. 
[4] JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. vol. I. 47 ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2007. p. 481. 
[5] CAMBI, Eduardo. Ob. cit. p. 53. 
[6] JÚNIOR, Humberto Theodoro. Ob. cit. p. 292. 
[7] NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil 
Comentado. 11ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p. 632

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