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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC CURSO DE PSICOLOGIA PSICOLOGIA HOSPITALAR 8º PERÍODO – PROF. VÂNIA PEREIRA PSICOPATOLOGIA NO HOSPITAL GERAL No hospital geral o psicólogo irá se deparar com diversas patologias originadas ou desencadeadas pelo processo de hospitalização. Todos assumem a mesma identidade de pacientes, tornam-se fragilizados, perdem a autonomia, estão vulneráveis e com medo de morrer, enfim, se encontram em campo fértil para os transtornos mentais. 1. DELIRIUM O Delirium afeta de 10 a 45% de paciente hospitalizados, com idade avançada, portadores de doenças crônicas ou que são submetidos a cirurgias. Refere-se ao chamado “estado confusional agudo”. Pode ser definido como uma síndrome clínica, caracterizada principalmente pelo rebaixamento no nível de consciência. De apresentação clínica bastante diversificada, sendo por isto, de difícil diagnóstico. Por isto, é necessário um bom preparo dos profissionais de saúde para identificarem esse quadro confusional nos pacientes. Principais sinais e sintomas De acordo com o CID-10, as diretrizes clínicas para o diagnóstico de um quadro confusional de delirium, estão baseadas na presença de: ● Comprometimento do nível da consciência (da distrabilidade ao coma) e atenção (capacidade reduzida para direcionar, focar, manter e mudar o foco de atenção). ● Comprometimento generalizado do funcionamento cognitivo - Distúrbios da percepção, incluindo distorções, ilusões e alucinações - Distúrbio da capacidade de abstração e compreensão - Delírios pouco estruturados e fugazes - Dificuldade para aprender informações novas e relativa preservação da memória remota - Desorientação em tempo, e ocasionalmente, local e pessoa. ● Comprometimento da atividade psicomotora (aumento ou redução, com alterações imprevisíveis). ● Comprometimento do ciclo do sono-vigília (insônia e reversão do ciclo). ● Transtornos emocionais (depressão, medo, irritabilidade, euforia, apatia e perplexidade) ● Início abrupto dos sintomas. ● Flutuação de intensidade dos sintomas durante o dia e de um dia para o outro. ● Quadro clínico de duração limitada , em geral de dias a semanas, podendo chegar até seis meses. 1 Algumas dicas para avaliar défcits de atenção na prática: ● Solicitar ao paciente que faça contagem regressiva a partir de 20. ● Pedir que diga os meses do ano de trás para frente. ● Pedir que soletre uma palavra de trás para frente. Exame clínico e diagnóstico: Devido à atenção do paciente com delirium estar totalmente dispersa, durante o exame clínico, há necessidade das perguntas serem feitas repetidamente, às vezes em alto e bom som. Pode ser muito difícil conseguir manter com o paciente uma conversação normal. O diagnóstico deve ser feito com base nas características apresentadas acima. Razões mais comuns para a ocorrência do Delirium no hospital: ● A iatrogenia por medicamentos facilitadores de delirium. ● A falha no reconhecimento precoce do estado confusional. ● Atitudes errôneas ou negligentes no cuidado de idosos. ● A redução de funcionários habilitados no cuidado de idosos. Fatores etiológicos: Na maioria das vezes o delirium tem várias causas, que indicam a presença de disfunção fisiológica importante. Alguns fatores podem ser apontados como a causa do delirium, entre eles: ● Idade avançada ● Lesão cerebral prévia ● Comprometimento cognitivo ● Privação do sono ● Distúrbio sensorial ● Imobilização ● Desidratação ● Desnutrição ● Uso de sonda urinária ● Prescrição de três ou mais medicamentos Prognóstico e manejo: Neste contexto, o psicólogo tende a se sentir impotente, pois o tratamento é basicamente medicamentoso. Sendo um profissional da saúde mental, deve ficar atento aos sinais que indicam um quadro de delirium nos pacientes hospitalizados, para auxiliar a equipe na melhoria geral do paciente. O apoio psicológico é importante tanto durante, quanto após o delirium, apoiando a família, indicando alguém com mais condições para acompanhar o paciente, seja na família ou na equipe de enfermagem, que tranqüilize e dê segurança ao paciente. Após o delirium, o psicólogo pode ajuda-lo a compreender as experiências vividas, orientando sobre o quadro ocorrido. 2 2. DEPRESSÃO Transtornos depressivos formam o grupo de diagnósticos mais prevalentes no hospital geral, correspondem de 20 a 60¨% dos pacientes internados. Nos serviços gerais de saúde, a depressão em geral, não é reconhecida, diagnosticada, nem tratada. Isto ocorre devido às queixas do paciente deprimido, que geralmente são somáticas, como dores diversas e mal estar indefinido. Além de comprometer o estado de saúde do paciente hospitalizado, este pode tornar-se hostil, pouco colaborativo com a equipe, demonstrando falta de esperança, sentimento de culpa, idéias autodepreciativas e falsas crenças negativas. Indivíduos deprimidos têm visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro. A associação de transtornos depressivos com outras condições clínicas pode ocorrer sob diversas modalidades: 1. Reação de ajustamento com humor depressivo: A reação de ajustamento é uma síndrome parcial de um transtorno específico de humor, que está entre o normal e um transtorno depressivo maior. Seus sintomas são indiferenciados, combinados com preocupações excessivas, ansiedade e insônia. 2. Depressão secundária: Ocorre devido às alterações fisiológicas de alguma condição médica. Aparece no paciente, independente do significado que este dá ao adoecer e à hospitalização. É um tipo de depressão causada por alteração física. 3. Transtorno depressivo induzido por medicamentos: As drogas podem interferir na neurotransmissão e na fisiologia cerebral, produzindo sintomas depressivos. 4. Episódio depressivo: Nesta modalidade, o paciente já tem o transtorno depressivo, que pode ter sido desencadeado ou agravado pela doença e hospitalização. Não é apenas uma condição de reação de ajustamento à doença. 5. Condição médica desencadeada por transtorno depressivo: Aqui, o transtorno depressivo pode desencadear uma doença física, como o infarto agudo do miocárdio, por exemplo. O aumento do tônus simpático e a diminuição da variabilidade da freqüência cardíaca que aumentam o risco de um infarto, são fatores associados à depressão. Importante: essas modalidades podem aparecer isoladamente ou associadas umas às outras, por isto sua delimitação é bastante difícil. Sinais e sintomas: ● Perda de interesse pelas pessoas ● Pessimismo ● Desânimo ● Indecisão ● Irritabilidade 3 ● Labilidade emocional ● Anedonia (perda de prazer e motivação) Diagnóstico: É preciso considerar os seguintes aspectos: ● Avaliar o nível de consciência do paciente. Um erro comum decorre da confusão entre a disforia e a irritabilidade dos quadros iniciais de delirium e o humor depressivo. ● Verificar a presença de sintomas cognitivos da depressão (culpa, sensação de desamparo, prejuízo da auto-imagem, ideação suicida) ● Verificar a presença de anedonia. Se a principal alteração do humor for apatia, pode indicar a existência de transtorno orgânico do humor. ● Sintomas somáticos não devem ser computados se a doença física e a hospitalização os justificarem. Se forem devido à depressão, ocorrem em intensidade desproporcional ao esperado pela condição física. ● Antecedentes pessoais e familiares de depressão. ● Presença de patologia orgânica precisa ser cuidadosamente investigada, pois interfere no tratamento, que deve abranger terapia medicamentosa e psicossocial. 3. REAÇÃO DE AJUSTAMENTO São comumente encontradas no hospital geral, embora muitas vezes não sejam identificadas. São alterações emocionais que acometem os indivíduos, em conseqüência de seus esforços adaptativos a uma mudança significativa em sua vida. A principal característica é o desenvolvimento de um quadro psico-emocional significativo,em resposta a um ou mais estressores identificáveis. Ocorre em 5% dos pacientes internados. No CID-10, é caracterizado entre os transtornos de humor, com acentuado sofrimento, excedendo o que seria esperado pela natureza do estressor, resultando em prejuízo significativo no funcionamento social ou profissional. Sinais e sintomas: ● Humor deprimido ● Ansiedade ● Preocupação ● Sentimentos de incapacidade em adaptar-se ● Sensação de perspectivas sombrias do futuro ● Dificuldade no desempenho da rotina diária ● Em crianças, poder-se observar comportamentos regressivos. Diagnóstico: O transtorno de ajustamento pode apresentar sintomas depressivos e ansiosos. Para fazer o diagnóstico diferencial, deve-se levar em conta o fator causador dos sintomas, relacionados à internação. Se surgiram após a internação (reação de ajustamento) ou se foram desencadeados por ela (doença pré existente). Tratamento: Em geral, o tratamento da reação de ajustamento é realizado com abordagem psicoterápica, auxiliando o paciente a desenvolver recursos internos para lidar com o 4 fator estressor de forma adaptativa. Em alguns casos, pode-se usar terapia medicamentosa, se os sintomas não regredirem com o apoio psicológico. 4. TRANSTORNOS DE ANSIEDADE A ansiedade é um sentimento normal, faz parte da vida de todas as pessoas, porém cada um experimenta de forma única e pessoal. Funciona como um sinal de alerta, é sentida como uma ameaça de perigo iminente. A ansiedade considerada normal, é aquela suportável e tem caráter passageiro. Pode até melhorar o desempenho global da pessoa e estimular a criatividade e a cooperação. Sinais e sintomas: ● Medo ● Apreensão ● Mal estar ● Desconforto ● Insegurança ● Estranheza do ambiente ou de si mesmo ● Sensação muito freqüente de que algo desagradável pode acontecer Sintomas somáticos: ● Sensação de falta de ar ● Respiração curta ● Aperto no peito ● Ondas de calor ● Calafrios ● Formigamento ● Tremores ● Náusea A ansiedade patológica distingue-se da normal por quatro critérios: ● Autonomia: ocorrência espontânea, sem causa aparente, ou se a causa existe, a reação de ansiedade é desproporcional. ● Intensidade: elevada, relacionada com o nível de sofrimento e com a capacidade individual de tolerá-la. ● Duração: mantida ou recorrente. ● Comportamento: mal adaptado, com prejuízo global do funcionamento. No hospital geral, a ansiedade manifestada pelos pacientes geralmente não é patológica, está relacionada ao momento de vida atual e às mudanças ocorridas após a hospitalização. Pode representar uma reação psicológica do paciente à doença, ao ambiente hospitalar ou um transtorno psiquiátrico preexistente, que tem como principal sintoma a ansiedade. Dentre os principais transtornos de ansiedade encontrados no hospital geral, estão: o transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, reação aguda ao estresse e transtorno de estresse pós-traumático. 5 4.1. TRANSTORNO DO PÂNICO O transtorno do pânico é caracterizado por crises que se desencadeiam de maneira súbita, com ansiedade intensa, sensação de perda de controle e morte iminente, tendo seu pico máximo nos primeiros dez minutos da crise. Os ataques são recorrentes e podem se apresentar associados a outros sintomas físicos, como dor no peito, falta de ar, tontura etc.Os pacientes desenvolvem muito medo de terem outro ataque e evitam lugares onde os ataques aconteceram. O diagnóstico deve levar em consideração as condições clínicas que podem possivelmente provocar os mesmos sintomas, bem como avaliar antecedentes pessoais de transtornos de ansiedade ou episódios parecidos que tenham acontecido antes do período de hospitalização. 4.2. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA O transtorno de ansiedade generalizada é basicamente uma preocupação ou ansiedade excessiva, com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível da ansiedade observada, prejudicando de forma considerável o desempenho global da pessoa. O paciente tende a ser uma pessoa tipicamente preocupada e nervosa, constantemente irritada, não consegue relaxar, como se estivesse sempre em alerta. Pode apresentar sintomas físicos como: cefaléia, taquicardia, diversas perturbações do sono e/ou insônia. Nos pacientes hospitalizados, os sintomas são agravados, mas a tendência à preocupação constante já existia antes da internação. 4.3 REAÇÃO AGUDA AO ESTRESSE A reação aguda ao estresse, segundo o CID-10, é um transtorno transitório que ocorre na pessoa, seguido a um estresse físico e/ou psíquico excepcional, e que desaparece habitualmente em algumas horas ou dias. A ocorrência e a gravidade são influenciadas por fatores individuais e pela capacidade do sujeito de superar o traumatismo. Os sintomas são variados e compostos por um estado de ansiedade intensa, com agitação, tremores, choro, desespero, além de dificuldade para manter a atenção ou integrar estímulos. Este pode ser seguido por um distanciamento do ambiente, tomando a forma de um estupor dissociativo ou uma agitação com hiperatividade. Os sintomas se manifestam habitualmente nos primeiros minutos que seguem a ocorrência do estímulo ou do acontecimento estressante e desaparecem no espaço de dois ou três dias. Frequentemente, após algumas horas, os sintomas já diminuíram. 4.4. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO O transtorno de estresse pós-traumático constitui uma resposta retardada a uma situação ou evento estressante, de natureza excepcionalmente ameaçadora ou 6 catastrófica, e que seria capaz de provocar perturbação emocional na maioria das pessoas. Certos traços de personalidade ou antecedentes emocionais, podem diminuir a tolerância individual para a ocorrência da síndrome ou agravar sua evolução, mas esses antecedentes não são suficientes para explicar a ocorrência do transtorno. Os sintomas incluem crises de ansiedade frente a uma situação que lembre o ocorrido, pesadelos, insônia e outros distúrbios do sono. É natural o surgimento de fobias específicas, perdas sociais, prejuízo no trabalho, sentimentos de culpa, inferioridade, depressão e irritabilidade. Diagnóstico dos transtornos de ansiedade Antes de se pensar uma avaliação longa e exaustiva do paciente, deve-se priorizar seu estado clínico. Geralmente se faz uma breve entrevista inicial e as informações complementares são obtidas com a equipe médica, familiares e com o próprio paciente, num momento posterior. Segundo Botega (2002), o diagnóstico deve: ● Considerar sintomas, sinais, curso e intensidade ● Identificar padrão de ansiedade ● Encontrar elementos que possam ter desencadeado a ansiedade ● Pesquisar possíveis condições clínicas que geram ansiedade como sintoma ● Avaliar ocorrências na evolução clínica, como piora ou descompensação ● Investigar transtornos de ansiedade ● Observar condições adversas no ambiente hospitalar. Tratamento O tratamento dos transtornos de ansiedade deve ser farmacológico e psicoterápico. O objetivo do apoio psicológico é basicamente o alívio do sofrimento do paciente, diminuição de fantasias de morte, contribuindo para o fortalecimento de defesas psíquicas, para que possa lidar de maneira adaptativa com os fatores geradores de ansiedade. A abordagem focal é útil, sendo importante evitar interpretações elaboradas que possam quebrar as defesas psicológicas do paciente, para que não se sinta ainda mais vulnerável e desprotegido. Deve-se utilizar técnicas psicológicas que restabeleçam a confiança do paciente, a capacidade de pensar e tomar decisões, contribuindo para que reassuma a autonomia sobre a própria vida. 5. AGITAÇÃO PSICOMOTORA A agitação psicomotora no hospital geral é bastante freqüente, por isto, deve ser avaliada de forma adequada, proporcionando melhor tratamento do paciente. Sintomas ● Alteração da psicomotricidade (agitação,podendo evoluir para comportamento violento) ● Desorientação do psiquismo (excitação mental) ● Comprometimento da capacidade crítica do paciente. 7 Algumas causas da agitação psicomotora ● Síndromes psicorgânicas (delirium, demência) ● Quadros paranóides ● Síndromes catatônicas ● Quadros histéricos ● Síndromes fóbico ansiosas ● Transtornos de personalidade ● Transtornos mentais decorrentes do uso de drogas ● Intoxicação ou abstinência de drogas ou álcool ● Transtornos mentais na infância (déficit de atenção e hiperatividade, transtornos invasivos do desenvolvimento, transtornos de conduta na infância, retardo mental) ● Epilepsia ● Reação ao estresse interpessoal ● Distúrbios metabólicos (hipoglicemia, hiperglicemia) ● Infecções, hipertireoidismo, uremia, insuficiência hepática) ● Intoxicações Intervenção O papel do psicólogo na atenção ao paciente com agitação psicomotora, envolve a compreensão dos mecanismos psíquicos e dinâmicos tanto do paciente, quanto da instituição. Sua atuação é limitada, pois manter um diálogo sem que o paciente esteja medicado é totalmente desaconselhável. Deve esclarecer à família e à equipe sobre as razões pelas quais o quadro clínico se estabelece e a melhor conduta terapêutica. Muitas vezes essa orientação é feita com o psiquiatra, pois é o profissional apto a medicar e conduzir o tratamento da agitação psicomotora. 6. INSÔNIA É caracterizada pela queixa de dificuldade para iniciar ou manter o sono, ou pela sensação de ter um sono não reparador. As causas da insônia são muitas, porém as relacionadas ao processo de adoecimento e hospitalização incluem: ● ambiente não familiar ao paciente ● ruídos constantes ● cama desconfortável ou barulhenta ● sondas urinárias, soros ● ser acordado à noite para medicações ● medo e ansiedade ● espera por resultado de exames ● alterações emocionais pelo adoecimento e hospitalização. Diagnóstico e tratamento É necessário fazer uma avaliação da história de sono anterior à hospitalização. Se as queixas surgiram após a internação, é importante a avaliação de um psiquiatra, 8 que decidirá a necessidade de prescrever medicamentos específicos para o sono, visando melhorar a qualidade de vida do paciente neste período. 7. SOMATIZAÇÃO A somatização é freqüente no hospital geral, onde o paciente manifesta seu sofrimento psíquico através de queixas físicas. A complexidade do fenômeno requer que muito ainda seja aprendido, para que seu tratamento possa ser melhorado, bem como, suas condições de vida. Diagnóstico As queixas são múltiplas e difusas, expressas em relatos como: “sou nervoso”, “sinto agonia”, “sinto tudo”. São pessoas que procuram especialistas de diversas áreas, inconformados com os resultados negativos dos exames, sendo que não tiveram alívio de sua sintomatologia. Na prática, são pacientes encaminhados aos ambulatórios de saúde mental, sob diagnóstico de poliqueixosos, somatizadores crônicos ou doentes psicossomáticos. No hospital geral, só deve ser feito o diagnóstico, se não forem encontrados achados clínicos que possam explicar as queixas do paciente. Tratamento e conduta As estratégias terapêuticas são diversas e devem ser estabelecidas ao se analisaras possíveis causas da somatização. É necessário uma avaliação psicológica. Geralmente, são pacientes que têm resistência em aceitar o tratamento e reconhecer a esfera emocional no processo de adoecimento. Nos serviços de saúde mental tendem a se tornar dependentes de psicofármacos e a responderem apenas parcialmente às abordagens psicoterápicas usuais. O tratamento consiste em escutar suas queixas, e juntamente com o médico, mostrar que os exames clínicos estão normais e que não apresenta doença grave. É importante que o médico demonstre reconhecer seu sofrimento, abrindo a possibilidade de que fale sobre suas angústias e sofrimento emocional. Assim, o clínico o ajuda aos poucos, a reconhecer a relação entre sintomas físicos e dificuldades emocionais, viabilizando seu encaminhamento para a saúde mental. O psicólogo pode contribuir com o médico, que tem o vínculo com o paciente, para que possa lidar com os aspectos emocionais próprios de cada paciente. 8. TENTATIVA DE SUICÍDIO No hospital geral, é comum que casos de tentativas de suicídio sejam encarados como de pouca gravidade, porém, é importante conhecer a forma como essa patologia se apresenta. Algumas pessoas sofrem de transtornos mentais graves, outras têm suporte psicossocial restrito, por isto, é necessário que haja compreensão da situação do paciente por parte da equipe, para que seja possível ajuda-lo em seu sofrimento. 9 A tentativa de suicídio pode ser uma fuga de algum problema enfrentado pelo paciente, um pedido de ajuda (mesmo que de forma inadequada) mediante um sofrimento intenso. Seja o suicídio concretizado ou não, a equipe precisa estar atenta aos casos em que o risco dele acontecer são maiores. Avaliação clínica Desde o início do atendimento, é preciso buscar estabelecer um vínculo com o paciente, que garanta sua confiança, colaboração, num momento em que geralmente se mostra hostil e não está disposto a colaborar. O profissional deve começar com perguntas abrangentes, sem direcioná-las ao assunto, incentivando o paciente a falar livremente, principalmente sobre suas emoções, sentimentos e motivações. Como fazer perguntas sobre ideação suicida? Botega (2002) apresenta alguns questionamentos que facilitam a conversa com o paciente: 1. Tem obtido prazer nas coisas que tem realizado ultimamente? 2. Sente-se útil na vida que está levando? 3. Sente que a vida perdeu o sentido? 4. Tem esperança de que as coisas vão melhorar? 5. Pensou que seria melhor morrer? 6. Teve pensamentos de por fim à vida? 7. São idéias passageiras ou persistentes? 8. Pensou em como tiraria a vida? 9. Já tentou ou chegou a fazer algum preparativo? 10. Tem conseguido resistir a esses pensamentos? 11. É capaz de se proteger e retornar para a próxima consulta? 12. Tem esperança de ser ajudado? É preciso que o profissional esteja atento ao momento adequado para fazer essas perguntas, pois o paciente pode recuar ainda mais quando questionado em momento inadequado. Os pacientes que pensam em se suicidar dão indicativos de que estão com essas idéias em mente. De acordo com a escala Beck (1994, in Botega, 2002), algumas circunstâncias que sugerem alta probabilidade de que o paciente esteja com ideação suicida são: ● Comunicação prévia de que iria se matar ● Mensagem ou carta de despedida ● Providências finais (contas bancárias, testamentos etc) antes do ato ● Planejamento detalhado ● Precauções para que o ato não fosse descoberto ● Ausência de pessoas por perto para que pudessem socorrer ● Não procurar ajuda logo após a tentativa de suicídio ● Método violento, ou uso de drogas mais perigosas ● Crença de que o ato seria irreversível e letal ● Afirmação clara de que queria morrer 10 ● Arrependimento por ter sobrevivido. A escala de Buglass e Horton (1974, in Botega, 2002) consegue prever até 48% de casos em que a tentativa de suicídio se repetirá: ● História prévia de hospitalização por auto-agressões ● Tratamento psiquiátrico anterior ● Internação psiquiátrica anterior ● Transtorno de personalidade anti-social ● Alcoolismo, drogadição ● Não estar vivendo com a família. Não se pode generalizar, mas é importante que a equipe esteja atenta a esses detalhes em casos de pacientes com tentativas de suicídio. Cuidados durante a internação Diante de pacientes hospitalizados com ideação suicida, algumas precauções devem ser tomadas: ● Remoção de objetos perigosos que estejam ao alcance do paciente ● Colocá-lo em leito de fácil observação pela enfermagem, de preferência em andar térreo ou com proteção nas janelas. ● Enfatizar o risco de suicídio tanto no prontuário, quanto nasanotações da enfermagem. ● Acompanhamento constante do estado mental do paciente. É fundamental que o psicólogo ou psiquiatra orientem à equipe sobre como proceder com o paciente, enfatizando o caráter assistencial que deverá acompanhar o seu suporte. O contato pessoal freqüente com o paciente, deve ser como forma de apoio, e não de intrusão, vigilância ou recriminação. A atenção deve ser redobrada em períodos de troca da enfermagem, no momento da alta hospitalar, na primeira semana após a internação e no primeiro mês após a alta. Botega (2002) afirma que metade dos suicídios entre os pacientes inernados, acontecem quando vão para casa em caráter temporário. Tratamento É necessário tratamento psiquiátrico específico. A psicoterapia deve ser orientada para as circunstâncias pessoais e sociais que colocam o paciente em risco. A atenção ao paciente suicida deve ser flexível, diretiva, oferecendo apoio e acompanhamento. 11 12
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