Buscar

psicopatologia no hospital geral - psi hosp - abr 20

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC 
CURSO DE PSICOLOGIA 
PSICOLOGIA HOSPITALAR 
8º PERÍODO – PROF. VÂNIA PEREIRA 
 
 
PSICOPATOLOGIA NO HOSPITAL GERAL 
 
No hospital geral o psicólogo irá se deparar com diversas patologias originadas 
ou desencadeadas pelo processo de hospitalização. Todos assumem a mesma identidade 
de pacientes, tornam-se fragilizados, perdem a autonomia, estão vulneráveis e com 
medo de morrer, enfim, se encontram em campo fértil para os transtornos mentais. 
 
1. DELIRIUM 
 
O Delirium afeta de 10 a 45% de paciente hospitalizados, com idade avançada, 
portadores de doenças crônicas ou que são submetidos a cirurgias. Refere-se ao 
chamado “estado confusional agudo”. 
Pode ser definido como uma síndrome clínica, caracterizada principalmente pelo 
rebaixamento no nível de consciência. De apresentação clínica bastante diversificada, 
sendo por isto, de difícil diagnóstico. Por isto, é necessário um bom preparo dos 
profissionais de saúde para identificarem esse quadro confusional nos pacientes. 
 
Principais sinais e sintomas 
 
De acordo com o CID-10, as diretrizes clínicas para o diagnóstico de um quadro 
confusional de delirium, estão baseadas na presença de: 
● Comprometimento do nível da consciência (da distrabilidade ao coma) e 
atenção (capacidade reduzida para direcionar, focar, manter e mudar o foco de 
atenção). 
● Comprometimento generalizado do funcionamento cognitivo 
- Distúrbios da percepção, incluindo distorções, ilusões e alucinações 
- Distúrbio da capacidade de abstração e compreensão 
- Delírios pouco estruturados e fugazes 
- Dificuldade para aprender informações novas e relativa preservação da memória 
remota 
- Desorientação em tempo, e ocasionalmente, local e pessoa. 
● Comprometimento da atividade psicomotora (aumento ou redução, com 
alterações imprevisíveis). 
● Comprometimento do ciclo do sono-vigília (insônia e reversão do ciclo). 
● Transtornos emocionais (depressão, medo, irritabilidade, euforia, apatia e 
perplexidade) 
● Início abrupto dos sintomas. 
● Flutuação de intensidade dos sintomas durante o dia e de um dia para o outro. 
● Quadro clínico de duração limitada , em geral de dias a semanas, podendo 
chegar até seis meses. 
 
1 
 
 
 
Algumas dicas para avaliar défcits de atenção na prática: 
● Solicitar ao paciente que faça contagem regressiva a partir de 20. 
● Pedir que diga os meses do ano de trás para frente. 
● Pedir que soletre uma palavra de trás para frente. 
 
 
Exame clínico e diagnóstico: 
 
Devido à atenção do paciente com delirium estar totalmente dispersa, durante o 
exame clínico, há necessidade das perguntas serem feitas repetidamente, às vezes em 
alto e bom som. Pode ser muito difícil conseguir manter com o paciente uma 
conversação normal. O diagnóstico deve ser feito com base nas características 
apresentadas acima. 
 
Razões mais comuns para a ocorrência do Delirium no hospital: 
● A iatrogenia por medicamentos facilitadores de delirium. 
● A falha no reconhecimento precoce do estado confusional. 
● Atitudes errôneas ou negligentes no cuidado de idosos. 
● A redução de funcionários habilitados no cuidado de idosos. 
 
Fatores etiológicos: 
 
Na maioria das vezes o delirium tem várias causas, que indicam a presença de 
disfunção fisiológica importante. Alguns fatores podem ser apontados como a causa do 
delirium, entre eles: 
● Idade avançada 
● Lesão cerebral prévia 
● Comprometimento cognitivo 
● Privação do sono 
● Distúrbio sensorial 
● Imobilização 
● Desidratação 
● Desnutrição 
● Uso de sonda urinária 
● Prescrição de três ou mais medicamentos 
 
Prognóstico e manejo: 
 
Neste contexto, o psicólogo tende a se sentir impotente, pois o tratamento é 
basicamente medicamentoso. Sendo um profissional da saúde mental, deve ficar atento 
aos sinais que indicam um quadro de delirium nos pacientes hospitalizados, para 
auxiliar a equipe na melhoria geral do paciente. 
O apoio psicológico é importante tanto durante, quanto após o delirium, 
apoiando a família, indicando alguém com mais condições para acompanhar o paciente, 
seja na família ou na equipe de enfermagem, que tranqüilize e dê segurança ao paciente. 
Após o delirium, o psicólogo pode ajuda-lo a compreender as experiências 
vividas, orientando sobre o quadro ocorrido. 
2 
 
 
2. DEPRESSÃO 
 
Transtornos depressivos formam o grupo de diagnósticos mais prevalentes no 
hospital geral, correspondem de 20 a 60¨% dos pacientes internados. 
Nos serviços gerais de saúde, a depressão em geral, não é reconhecida, 
diagnosticada, nem tratada. Isto ocorre devido às queixas do paciente deprimido, 
que geralmente são somáticas, como dores diversas e mal estar indefinido. 
Além de comprometer o estado de saúde do paciente hospitalizado, este pode 
tornar-se hostil, pouco colaborativo com a equipe, demonstrando falta de esperança, 
sentimento de culpa, idéias autodepreciativas e falsas crenças negativas. Indivíduos 
deprimidos têm visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro. 
A associação de transtornos depressivos com outras condições clínicas pode 
ocorrer sob diversas modalidades: 
 
1. Reação de ajustamento com humor depressivo: 
A reação de ajustamento é uma síndrome parcial de um transtorno específico de 
humor, que está entre o normal e um transtorno depressivo maior. Seus sintomas são 
indiferenciados, combinados com preocupações excessivas, ansiedade e insônia. 
 
2. Depressão secundária: 
 Ocorre devido às alterações fisiológicas de alguma condição médica. Aparece no 
paciente, independente do significado que este dá ao adoecer e à hospitalização. É um 
tipo de depressão causada por alteração física. 
 
3. Transtorno depressivo induzido por medicamentos: 
As drogas podem interferir na neurotransmissão e na fisiologia cerebral, produzindo 
sintomas depressivos. 
 
4. Episódio depressivo: 
Nesta modalidade, o paciente já tem o transtorno depressivo, que pode ter sido 
desencadeado ou agravado pela doença e hospitalização. Não é apenas uma condição 
de reação de ajustamento à doença. 
 
5. Condição médica desencadeada por transtorno depressivo: 
Aqui, o transtorno depressivo pode desencadear uma doença física, como o 
infarto agudo do miocárdio, por exemplo. O aumento do tônus simpático e a diminuição 
da variabilidade da freqüência cardíaca que aumentam o risco de um infarto, são fatores 
associados à depressão. 
 
Importante: ​essas modalidades podem aparecer isoladamente ou associadas 
umas às outras, por isto sua delimitação é bastante difícil. 
 
Sinais e sintomas: 
● Perda de interesse pelas pessoas 
● Pessimismo 
● Desânimo 
● Indecisão 
● Irritabilidade 
3 
 
● Labilidade emocional 
● Anedonia (perda de prazer e motivação) 
Diagnóstico: 
É preciso considerar os seguintes aspectos: 
● Avaliar o nível de consciência do paciente. Um erro comum decorre da confusão 
entre a disforia e a irritabilidade dos quadros iniciais de delirium e o humor 
depressivo. 
● Verificar a presença de sintomas cognitivos da depressão (culpa, sensação de 
desamparo, prejuízo da auto-imagem, ideação suicida) 
● Verificar a presença de anedonia. Se a principal alteração do humor for apatia, 
pode indicar a existência de transtorno orgânico do humor. 
● Sintomas somáticos não devem ser computados se a doença física e a 
hospitalização os justificarem. Se forem devido à depressão, ocorrem em 
intensidade desproporcional ao esperado pela condição física. 
● Antecedentes pessoais e familiares de depressão. 
● Presença de patologia orgânica precisa ser cuidadosamente investigada, pois 
interfere no tratamento, que deve abranger terapia medicamentosa e 
psicossocial. 
 
3. REAÇÃO DE AJUSTAMENTO 
 
São comumente encontradas no hospital geral, embora muitas vezes não sejam 
identificadas. São alterações emocionais que acometem os indivíduos, em conseqüência 
de seus esforços adaptativos a uma mudança significativa em sua vida. 
A principal característica é o desenvolvimento de um quadro psico-emocional 
significativo,em resposta a um ou mais estressores identificáveis. Ocorre em 5% dos 
pacientes internados. 
No CID-10, é caracterizado entre os transtornos de humor, com acentuado 
sofrimento, excedendo o que seria esperado pela natureza do estressor, resultando em 
prejuízo significativo no funcionamento social ou profissional. 
 
Sinais e sintomas: 
● Humor deprimido 
● Ansiedade 
● Preocupação 
● Sentimentos de incapacidade em adaptar-se 
● Sensação de perspectivas sombrias do futuro 
● Dificuldade no desempenho da rotina diária 
● Em crianças, poder-se observar comportamentos regressivos. 
 
 Diagnóstico: 
O transtorno de ajustamento pode apresentar sintomas depressivos e ansiosos. 
Para fazer o diagnóstico diferencial, deve-se levar em conta o fator causador dos 
sintomas, relacionados à internação. Se surgiram após a internação (reação de 
ajustamento) ou se foram desencadeados por ela (doença pré existente). 
 
 ​Tratamento: 
Em geral, o tratamento da reação de ajustamento é realizado com abordagem 
psicoterápica, auxiliando o paciente a desenvolver recursos internos para lidar com o 
4 
 
fator estressor de forma adaptativa. Em alguns casos, pode-se usar terapia 
medicamentosa, se os sintomas não regredirem com o apoio psicológico. 
4. TRANSTORNOS DE ANSIEDADE 
 
A ansiedade é um sentimento normal, faz parte da vida de todas as pessoas, 
porém cada um experimenta de forma única e pessoal. Funciona como um sinal 
de alerta, é sentida como uma ameaça de perigo iminente. 
A ansiedade considerada normal, é aquela suportável e tem caráter 
passageiro. Pode até melhorar o desempenho global da pessoa e estimular a 
criatividade e a cooperação. 
 
Sinais e sintomas: 
● Medo 
● Apreensão 
● Mal estar 
● Desconforto 
● Insegurança 
● Estranheza do ambiente ou de si mesmo 
● Sensação muito freqüente de que algo desagradável pode acontecer 
 
Sintomas somáticos: 
● Sensação de falta de ar 
● Respiração curta 
● Aperto no peito 
● Ondas de calor 
● Calafrios 
● Formigamento 
● Tremores 
● Náusea 
 
A ansiedade patológica distingue-se da normal por quatro critérios: 
● Autonomia: ​ocorrência espontânea, sem causa aparente, ou se a causa 
existe, a reação de ansiedade é desproporcional. 
● Intensidade:​ elevada, relacionada com o nível de sofrimento e com a 
capacidade individual de tolerá-la. 
● Duração:​ mantida ou recorrente. 
● Comportamento:​ mal adaptado, com prejuízo global do funcionamento. 
 
No hospital geral, a ansiedade manifestada pelos pacientes geralmente não é 
patológica, está relacionada ao momento de vida atual e às mudanças ocorridas 
após a hospitalização. 
Pode representar uma reação psicológica do paciente à doença, ao ambiente 
hospitalar ou um transtorno psiquiátrico preexistente, que tem como principal 
sintoma a ansiedade. 
Dentre os principais transtornos de ansiedade encontrados no hospital geral, 
estão: o transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, reação 
aguda ao estresse e transtorno de estresse pós-traumático. 
 
 
5 
 
 
 
4.1. TRANSTORNO DO PÂNICO 
 
O transtorno do pânico é caracterizado ​por crises que se desencadeiam de 
maneira súbita, com ansiedade intensa, sensação de perda de controle e 
morte iminente​, tendo seu pico máximo nos primeiros dez minutos da crise. 
Os ataques são recorrentes e podem se apresentar associados a outros 
sintomas físicos, como dor no peito, falta de ar, tontura​ etc.Os pacientes 
desenvolvem ​muito medo​ de terem outro ataque e evitam lugares onde os 
ataques aconteceram. 
O diagnóstico deve levar em consideração as condições clínicas que podem 
possivelmente provocar os mesmos sintomas, bem como avaliar antecedentes 
pessoais de transtornos de ansiedade ou episódios parecidos que tenham 
acontecido antes do período de hospitalização. 
 
4.2. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA 
 
O transtorno de ansiedade generalizada é basicamente uma preocupação ou 
ansiedade excessiva, com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível da 
ansiedade observada, prejudicando de forma considerável o desempenho global da 
pessoa. 
O paciente tende a ser uma pessoa tipicamente preocupada e nervosa, 
constantemente irritada, não consegue relaxar, como se estivesse sempre em alerta. 
Pode apresentar sintomas físicos como: cefaléia, taquicardia, diversas perturbações do 
sono e/ou insônia. 
Nos pacientes hospitalizados, os sintomas são agravados, mas a tendência à 
preocupação constante já existia antes da internação. 
 
4.3 REAÇÃO AGUDA AO ESTRESSE 
 
A reação aguda ao estresse, segundo o CID-10, é um transtorno transitório que 
ocorre na pessoa, seguido a um estresse físico e/ou psíquico excepcional, e que 
desaparece habitualmente em algumas horas ou dias. A ocorrência e a gravidade são 
influenciadas por fatores individuais e pela capacidade do sujeito de superar o 
traumatismo. 
Os sintomas são variados e compostos por um estado de ansiedade intensa, com 
agitação, tremores, choro, desespero, além de dificuldade para manter a atenção ou 
integrar estímulos. Este pode ser seguido por um distanciamento do ambiente, tomando 
a forma de um estupor dissociativo ou uma agitação com hiperatividade. 
Os sintomas se manifestam habitualmente nos primeiros minutos que seguem a 
ocorrência do estímulo ou do acontecimento estressante e desaparecem no espaço de 
dois ou três dias. Frequentemente, após algumas horas, os sintomas já diminuíram. 
 
4.4. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO 
 
O transtorno de estresse pós-traumático constitui uma resposta retardada a uma 
situação ou evento estressante, de natureza excepcionalmente ameaçadora ou 
6 
 
catastrófica, e que seria capaz de provocar perturbação emocional na maioria das 
pessoas. 
Certos traços de personalidade ou antecedentes emocionais, podem diminuir a 
tolerância individual para a ocorrência da síndrome ou agravar sua evolução, mas esses 
antecedentes não são suficientes para explicar a ocorrência do transtorno. 
Os sintomas incluem crises de ansiedade frente a uma situação que lembre o 
ocorrido, pesadelos, insônia e outros distúrbios do sono. É natural o surgimento de 
fobias específicas, perdas sociais, prejuízo no trabalho, sentimentos de culpa, 
inferioridade, depressão e irritabilidade. 
 
 Diagnóstico dos transtornos de ansiedade 
 
Antes de se pensar uma avaliação longa e exaustiva do paciente, deve-se 
priorizar seu estado clínico. Geralmente se faz uma breve entrevista inicial e as 
informações complementares são obtidas com a equipe médica, familiares e com o 
próprio paciente, num momento posterior. 
Segundo Botega (2002), o diagnóstico deve: 
● Considerar sintomas, sinais, curso e intensidade 
● Identificar padrão de ansiedade 
● Encontrar elementos que possam ter desencadeado a ansiedade 
● Pesquisar possíveis condições clínicas que geram ansiedade como sintoma 
● Avaliar ocorrências na evolução clínica, como piora ou descompensação 
● Investigar transtornos de ansiedade 
● Observar condições adversas no ambiente hospitalar. 
 
Tratamento 
 
O tratamento dos transtornos de ansiedade deve ser farmacológico e 
psicoterápico. O objetivo do apoio psicológico é basicamente o alívio do sofrimento do 
paciente, diminuição de fantasias de morte, contribuindo para o fortalecimento de 
defesas psíquicas, para que possa lidar de maneira adaptativa com os fatores geradores 
de ansiedade. 
A abordagem focal é útil, sendo importante evitar interpretações elaboradas que 
possam quebrar as defesas psicológicas do paciente, para que não se sinta ainda mais 
vulnerável e desprotegido. 
Deve-se utilizar técnicas psicológicas que restabeleçam a confiança do paciente, 
a capacidade de pensar e tomar decisões, contribuindo para que reassuma a autonomia 
sobre a própria vida. 
 
5. AGITAÇÃO PSICOMOTORA 
 
A agitação psicomotora no hospital geral é bastante freqüente, por isto, deve ser 
avaliada de forma adequada, proporcionando melhor tratamento do paciente. 
 
Sintomas 
● Alteração da psicomotricidade (agitação,podendo evoluir para 
comportamento violento) 
● Desorientação do psiquismo (excitação mental) 
● Comprometimento da capacidade crítica do paciente. 
7 
 
 
 
 
Algumas causas da agitação psicomotora 
● Síndromes psicorgânicas (delirium, demência) 
● Quadros paranóides 
● Síndromes catatônicas 
● Quadros histéricos 
● Síndromes fóbico ansiosas 
● Transtornos de personalidade 
● Transtornos mentais decorrentes do uso de drogas 
● Intoxicação ou abstinência de drogas ou álcool 
● Transtornos mentais na infância (déficit de atenção e hiperatividade, 
transtornos invasivos do desenvolvimento, transtornos de conduta na 
infância, retardo mental) 
● Epilepsia 
● Reação ao estresse interpessoal 
● Distúrbios metabólicos (hipoglicemia, hiperglicemia) 
● Infecções, hipertireoidismo, uremia, insuficiência hepática) 
● Intoxicações 
 
Intervenção 
 
O papel do psicólogo na atenção ao paciente com agitação psicomotora, envolve 
a compreensão dos mecanismos psíquicos e dinâmicos tanto do paciente, quanto da 
instituição. Sua atuação é limitada, pois manter um diálogo sem que o paciente esteja 
medicado é totalmente desaconselhável. Deve esclarecer à família e à equipe sobre as 
razões pelas quais o quadro clínico se estabelece e a melhor conduta terapêutica. Muitas 
vezes essa orientação é feita com o psiquiatra, pois é o profissional apto a medicar e 
conduzir o tratamento da agitação psicomotora. 
 
6. INSÔNIA 
 
É caracterizada pela queixa de dificuldade para iniciar ou manter o sono, ou pela 
sensação de ter um sono não reparador. As causas da insônia são muitas, porém as 
relacionadas ao processo de adoecimento e hospitalização incluem: 
● ambiente não familiar ao paciente 
● ruídos constantes 
● cama desconfortável ou barulhenta 
● sondas urinárias, soros 
● ser acordado à noite para medicações 
● medo e ansiedade 
● espera por resultado de exames 
● alterações emocionais pelo adoecimento e hospitalização. 
 
Diagnóstico e tratamento 
 
É necessário fazer uma avaliação da história de sono anterior à hospitalização. 
Se as queixas surgiram após a internação, é importante a avaliação de um psiquiatra, 
8 
 
que decidirá a necessidade de prescrever medicamentos específicos para o sono, visando 
melhorar a qualidade de vida do paciente neste período. 
 
7. SOMATIZAÇÃO 
 
A ​somatização é freqüente no hospital geral, onde o paciente manifesta seu 
sofrimento psíquico através de queixas físicas. A complexidade do fenômeno requer 
que muito ainda seja aprendido, para que seu tratamento possa ser melhorado, bem 
como, suas condições de vida. 
 
Diagnóstico 
 
As queixas são múltiplas e difusas, expressas em relatos como: “sou nervoso”, 
“sinto agonia”, “sinto tudo”. São pessoas que procuram especialistas de diversas áreas, 
inconformados com os resultados negativos dos exames, sendo que não tiveram alívio 
de sua sintomatologia. 
Na prática, são pacientes encaminhados aos ambulatórios de saúde mental, sob 
diagnóstico de poliqueixosos, somatizadores crônicos ou doentes psicossomáticos. 
No hospital geral, só deve ser feito o diagnóstico, se não forem encontrados 
achados clínicos que possam explicar as queixas do paciente. 
 
Tratamento e conduta 
 
As estratégias terapêuticas são diversas e devem ser estabelecidas ao se 
analisaras possíveis causas da somatização. É necessário uma avaliação psicológica. 
Geralmente, são pacientes que têm resistência em aceitar o tratamento e reconhecer a 
esfera emocional no processo de adoecimento. Nos serviços de saúde mental tendem a 
se tornar dependentes de psicofármacos e a responderem apenas parcialmente às 
abordagens psicoterápicas usuais. 
O tratamento consiste em escutar suas queixas, e juntamente com o médico, 
mostrar que os exames clínicos estão normais e que não apresenta doença grave. É 
importante que o médico demonstre reconhecer seu sofrimento, abrindo a possibilidade 
de que fale sobre suas angústias e sofrimento emocional. 
Assim, o clínico o ajuda aos poucos, a reconhecer a relação entre sintomas 
físicos e dificuldades emocionais, viabilizando seu encaminhamento para a saúde 
mental. 
O psicólogo pode contribuir com o médico, que tem o vínculo com o paciente, 
para que possa lidar com os aspectos emocionais próprios de cada paciente. 
 
 
8. TENTATIVA DE SUICÍDIO 
 
No hospital geral, é comum que casos de tentativas de suicídio sejam encarados 
como de pouca gravidade, porém, é importante conhecer a forma como essa 
patologia se apresenta. 
Algumas pessoas sofrem de transtornos mentais graves, outras têm suporte 
psicossocial restrito, por isto, é necessário que haja compreensão da situação do 
paciente por parte da equipe, para que seja possível ajuda-lo em seu sofrimento. 
9 
 
A tentativa de suicídio pode ser uma fuga de algum problema enfrentado pelo 
paciente, um pedido de ajuda (mesmo que de forma inadequada) mediante um 
sofrimento intenso. Seja o suicídio concretizado ou não, a equipe precisa estar atenta 
aos casos em que o risco dele acontecer são maiores. 
 
Avaliação clínica 
 
Desde o início do atendimento, é preciso buscar estabelecer um vínculo com o 
paciente, que garanta sua confiança, colaboração, num momento em que geralmente 
se mostra hostil e não está disposto a colaborar. 
O profissional deve começar com perguntas abrangentes, sem direcioná-las ao 
assunto, incentivando o paciente a falar livremente, principalmente sobre suas 
emoções, sentimentos e motivações. 
 
Como fazer perguntas sobre ideação suicida? 
 
Botega (2002) apresenta alguns questionamentos que facilitam a conversa com o 
paciente: 
1. Tem obtido prazer nas coisas que tem realizado ultimamente? 
2. Sente-se útil na vida que está levando? 
3. Sente que a vida perdeu o sentido? 
4. Tem esperança de que as coisas vão melhorar? 
5. Pensou que seria melhor morrer? 
6. Teve pensamentos de por fim à vida? 
7. São idéias passageiras ou persistentes? 
8. Pensou em como tiraria a vida? 
9. Já tentou ou chegou a fazer algum preparativo? 
10. Tem conseguido resistir a esses pensamentos? 
11. É capaz de se proteger e retornar para a próxima consulta? 
12. Tem esperança de ser ajudado? 
 
É preciso que o profissional esteja atento ao momento adequado para fazer essas 
perguntas, pois o paciente pode recuar ainda mais quando questionado em momento 
inadequado. 
Os pacientes que pensam em se suicidar dão indicativos de que estão com essas 
idéias em mente. De acordo com a escala Beck (1994, in Botega, 2002), algumas 
circunstâncias que sugerem alta probabilidade de que o paciente esteja com ideação 
suicida são: 
 
● Comunicação prévia de que iria se matar 
● Mensagem ou carta de despedida 
● Providências finais (contas bancárias, testamentos etc) antes do ato 
● Planejamento detalhado 
● Precauções para que o ato não fosse descoberto 
● Ausência de pessoas por perto para que pudessem socorrer 
● Não procurar ajuda logo após a tentativa de suicídio 
● Método violento, ou uso de drogas mais perigosas 
● Crença de que o ato seria irreversível e letal 
● Afirmação clara de que queria morrer 
10 
 
● Arrependimento por ter sobrevivido. 
 
 
 
 
A escala de Buglass e Horton (1974, in Botega, 2002) consegue prever até 48% 
de casos em que a tentativa de suicídio se repetirá: 
 
● História prévia de hospitalização por auto-agressões 
● Tratamento psiquiátrico anterior 
● Internação psiquiátrica anterior 
● Transtorno de personalidade anti-social 
● Alcoolismo, drogadição 
● Não estar vivendo com a família. 
 
Não se pode generalizar, mas é importante que a equipe esteja atenta a esses 
detalhes em casos de pacientes com tentativas de suicídio. 
 
Cuidados durante a internação 
 
Diante de pacientes hospitalizados com ideação suicida, algumas precauções 
devem ser tomadas: 
● Remoção de objetos perigosos que estejam ao alcance do paciente 
● Colocá-lo em leito de fácil observação pela enfermagem, de preferência 
em andar térreo ou com proteção nas janelas. 
● Enfatizar o risco de suicídio tanto no prontuário, quanto nasanotações da 
enfermagem. 
● Acompanhamento constante do estado mental do paciente. 
 
É fundamental que o psicólogo ou psiquiatra orientem à equipe sobre como 
proceder com o paciente, enfatizando o caráter assistencial que deverá acompanhar o 
seu suporte. 
O contato pessoal freqüente com o paciente, deve ser como forma de apoio, e não de 
intrusão, vigilância ou recriminação. 
A atenção deve ser redobrada em períodos de troca da enfermagem, no momento 
da alta hospitalar, na primeira semana após a internação e no primeiro mês após a alta. 
Botega (2002) afirma que metade dos suicídios entre os pacientes inernados, acontecem 
quando vão para casa em caráter temporário. 
 
Tratamento 
 
É necessário tratamento psiquiátrico específico. A psicoterapia deve ser 
orientada para as circunstâncias pessoais e sociais que colocam o paciente em risco. A 
atenção ao paciente suicida deve ser flexível, diretiva, oferecendo apoio e 
acompanhamento. 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
 
 
 
12

Continue navegando