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Desafios da Escola para a Educação Inclusiva


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OS DESAFIOS DA ESCOLA FRENTE À PROPOSTA DE 
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PAPEL DO PROJETO 
POLÍTICO PEDAGÓGICO 
Robenilson Nascimento dos Santos
1
 
 
RESUMO 
Nesse artigo discute-se o papel do Projeto Político Pedagógico enquanto elemento 
constitutivo do planejamento escolar para a efetivação do processo de inclusão 
educacional dos estudantes com deficiência. A reflexão tem como objetivo destacar a 
importância desse documento, da elaboração à implementação, no sentido de criação de 
um contexto escolar favorável ao acesso educacional destes alunos. 
 
Palavras-chave: Projeto Político Pedagógico - Inclusão - Estudantes com Deficiência. 
 
ABSTRACT 
This article discusses the role of political pedagogical project while constituent element 
of the school planning for the realization of the process of educational inclusion of 
students with disabilities. This reflection has as aim to highlight the importance of this 
document, the drawing the implementation in the direction of creating a school context 
favorable acess educational of these students. 
 
Keywords: Political Pedagogical Project - Inclusion - Students with diasbilities. 
 
 
INTRODUÇÃO 
Embora não seja de sua exclusiva responsabilidade, a escola tem papel 
fundamental na garantia do acesso à educação de qualidade aos alunos com deficiência. 
Nessa perspectiva, cumpre à comunidade escolar, de maneira crítica e sistemática, 
conjugar esforços e desenvolver ações no sentido de criar condições que possibilitem o 
desenvolvimento educacional desses sujeitos. 
 
1
 Mestre em Educação e Contemporaneidade pela UNEB/PPGEDUC. Professor do Programa de Pós-
Graduação da Unidade Nacional de Ensino Superior Integrado – UNESI. E-mail: robenilson@gmail.com 
Entrelaçando - Revista Eletrônica de Culturas e Educação 
Caderno Temático VI: Educação Especial e Inclusão 
Nº. 8 p. 71-81, Ano IV (Junho/2013) ISSN 2179.8443 
 
 
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A vasta produção legislativa, dispondo sobre a inclusão educacional de alunos 
com deficiência, ainda não resultou em mudanças concretas na maioria das escolas 
públicas. Um dos principais entraves para a transformação dessa realidade é que o 
conhecimento produzido nas pesquisas científicas sobre educação especial e o 
arcabouço legislativo supramencionado, que até então são de domínio de especialistas, 
instituições ligadas à educação especial e de movimentos sociais das pessoas com 
deficiência, ainda não se constitui objeto de reflexão por parte considerável dos 
professores. Além disso, em seu processo de formação inicial, pouco ou nada lhes são 
apresentados pelos currículos sobre o tema. Uma parcela expressiva dos docentes das 
escolas públicas não possui nem mesmo noções básicas acerca das necessidades 
específicas sobre o trabalho pedagógico com alunos que apresentam algum tipo de 
deficiência, a exemplo de conhecimentos, ainda que superficiais, sobre o método 
Braille, Língua Brasileira de Sinais, estratégias didáticas adequadas, dentre outros. É 
pertinente ressaltar, no entanto, que há profissionais que recorrem a cursos de extensão 
e especialização que de modo geral abordam o tema de forma fragmentada e 
descontextualizada. 
O Projeto Político Pedagógico (PPP) enquanto elemento constitutivo do 
planejamento escolar e norteador do fazer pedagógico do professor tem papel 
fundamental para efetivação da inclusão educacional dos estudantes com deficiência e 
pode contribuir para o desenvolvimento de condições favoráveis no interior da escola, 
para materialização desta proposta. 
Construir o PPP, além de ser um compromisso da escola com a qualidade da 
educação na medida em que sistematiza as intenções da prática pedagógica é também o 
cumprimento de um dispositivo legal. A Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional (LDB) define no Artigo 12, como incumbência dos 
estabelecimentos de ensino, a elaboração e execução de sua proposta pedagógica, 
indicando no Artigo 14, como princípio da gestão democrática, a participação de toda a 
comunidade escolar nesse processo. 
O propósito desse trabalho é analisar o papel do Projeto Político Pedagógico no 
que se refere ao acesso dos alunos com deficiência à escola, evidenciando a importância 
desse documento enquanto elemento constitutivo do planejamento escolar para este fim. 
Está dividido em três tópicos: no primeiro expõe-se, em linhas gerais, o debate sobre 
educação inclusiva, apresentando o estágio atual da discussão. No tópico seguinte 
apresenta-se uma reflexão sobre o trabalho educativo escolar enquanto atividade 
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sistemática e planejada concentrando-se esforços no sentido de demonstrar a 
importância do PPP na criação de um contexto favorável à inclusão educacional dos 
estudantes com deficiência e em seguida são feitas breves considerações finais. 
 
 
CONSIDERAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA 
 
O movimento internacional pela inclusão das pessoas com deficiência nos 
diversos segmentos da sociedade ganhou visibilidade nos anos de 1990 constituindo-se 
objeto de estudo no âmbito acadêmico, presente nas pautas de discussões de 
organizações governamentais e não-governamentais, o que resultou na elaboração de 
políticas públicas e projetos sociais que englobam: esporte, lazer, cultura, mercado de 
trabalho, condições de acessibilidade nos espaços urbanos e logradouros públicos a 
informação e a comunicação e notadamente à educação. 
No Brasil a proposta de educação inclusiva é influenciada pela publicação de 
inúmeros documentos internacionais com destaque para Declaração de Jomtien (1990) e 
Declaração de Salamanca (1994), mencionadas em textos oficiais e produções 
científicas sobre o assunto, principalmente a Declaração de Salamanca, por abordar de 
forma mais ampla as necessidades educacionais especiais incluindo aí os diversos tipos 
de deficiência. Os documentos oficiais assumem o discurso de uma educação inclusiva, 
uma escola para todos, aberta à diversidade. 
Esse novo contexto de educação dos estudantes com deficiência teve como 
importante marco na esfera das políticas públicas, a promulgação da Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional 9.394/96, complementada por outros dispositivos legais e 
documentos orientadores, tais como: Decreto 3.298/99; Adaptações Curriculares - 
Estratégias para Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (1999); 
Diretrizes Nacionais Para a Educação Especial na Educação Básica (2001); Plano 
Nacional de Educação Lei 10.172/2001, e mais recentemente a Política Nacional de 
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva publicada em janeiro de 2008. 
Esses documentos, em linhas gerais, discorrem sobre o papel do poder público em 
assegurar o acesso e permanência das pessoas com deficiência à escola e as condições 
necessárias para o pleno desenvolvimento desses educandos, como por exemplo: 
professores devidamente preparados, metodologias adequadas, materiais didáticos 
adaptados, espaço físico que permita a plena mobilidade, etc. 
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 Partindo da crítica à proposta de integração que se baseava no modelo médico, 
estudiosos da inclusão analisam a deficiência inserida no contexto social, defendendo 
mudanças no sistema educacional. Mantoan (2003) pontua que para transformar a 
escola em uma perspectiva inclusiva, faz-se necessário repensá-la tendo como ponto 
central o ensino para todos; reestruturá-la pedagogicamente com base nos princípios do 
diálogo, da cooperação, da solidariedade, da criatividade e do espírito crítico, 
fundamentos indispensáveis para uma verdadeira cidadania; liberdade para aprender e 
ensino não segregativo; valorização e formação continuadados professores para que 
possam estar aptos para atender a diversidade da sala de aula. 
Stainback e Stainback (1999), discorrendo sobre os fundamentos do ensino 
inclusivo, defendem que a escola deve estar preparada para acolher a diversidade 
humana, suas várias culturas e necessidades. Esses autores analisam o ensino inclusivo 
em uma perspectiva que transcende à problemática da deficiência. Carvalho (2006) 
considera as barreiras atitudinais um dos mais fortes obstáculos à inclusão escolar de 
educandos com deficiência, embora compreenda que esse processo esteja em 
desenvolvimento. 
Oliveira e Amaral (2004), analisando as políticas públicas de educação especial e 
a partir de uma pesquisa sobre sua implementação em uma escola regular, observam que 
a inclusão não se efetiva apenas através da inserção de alunos com deficiência, sem que 
lhes sejam disponibilizadas as condições necessárias ao seu desenvolvimento 
educacional. Ressaltam a importância de professores capacitados e conscientes do 
paradigma da inclusão, das questões concernentes aos educandos com deficiência. As 
autoras consideram que a construção de uma escola inclusiva está diretamente 
relacionada a uma sociedade que também seja inclusiva, que reconheça todos como 
sujeitos de direito. Concluindo a análise, destacam a importância do comprometimento 
do poder público na consolidação de sistemas educacionais inclusivos que, além do 
discurso, destine os investimentos necessários para sua implementação. 
Ross (1999) compreende que o processo de inclusão não é apenas importante para 
os estudantes com necessidades educativas especiais, mas também para os demais 
alunos, que juntos aprenderão a valorizar as diferenças. A escola cumpre assim o papel, 
juntamente com a comunidade, de encarar o desafio de superar modelos 
segregacionistas e educar todas as crianças no mesmo ambiente. 
 
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O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO COMO GUIA DE INTERVENÇÃO 
PARA INCLUSÃO EDUCACIONAL DOS ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA 
 
 
O trabalho pedagógico devido à sua complexidade e natureza específica pressupõe 
intencionalidade. Enquanto atividade humana efetiva é eivado de significado e, por 
conseguinte, tem um fim a atingir. Portanto a reflexão crítica e sistemática deve 
preceder à ação pedagógica lhe conferindo um caráter teleológico, isto é, consciente e 
intencional. Uma concepção teórico-crítica e finalidades devem fundamentar a ação 
educativa que se propõe transformadora; a intervenção na realidade social requer 
necessariamente uma compreensão sobre sua dinâmica, isto é, os aspectos que 
condicionam o seu funcionamento. Porém, processos de mudança não são 
materializados somente a partir do entendimento da realidade, mas, sobretudo com 
ações concretas, ou seja, uma prática consciente com vistas à transformação, conforme 
observa Vasconcellos: 
Neste sentido, deve ficar claro que o projeto em si não transforma a 
realidade; não adianta ter planos bonitos, se não tivermos bonitos 
compromissos, bonitas condições de trabalho sendo conquistadas, e 
bonitas práticas realizadas. O que vai, de fato, orientar a prática é a 
teoria incorporada pelos sujeitos. Por isto, não adianta ter um belo 
texto, mas que não corresponde ao movimento conceitual do grupo. 
(VASCONCELLOS, 2009, p. 45) 
 
 
Para Vasquez (1977), apenas a teoria não contribui para uma real transformação 
do mundo, devendo para tanto ser assimilada, pelos agentes que irão promover através 
de suas ações as mudanças, o que requer necessariamente um trabalho de educação de 
conscientização, leitura crítica da realidade e apropriação teórica com o objetivo de 
organizar concretamente as condições efetivas para transformação. Escreve o autor: 
A teoria em si – nesse como em qualquer outro caso – não transforma 
o mundo. Pode contribuir para sua transformação, mas para isso tem 
que sair de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assimilada 
pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal 
transformação. (VASQUEZ, 1977, p. 206-207). 
 
 
 
É através do PPP que a escola expressa a intencionalidade do seu trabalho 
pedagógico, na medida em que apresenta sua concepção de educação e o modelo de 
cidadão que pretende formar, estabelece objetivos e prevê ações. Enfim, sistematiza o 
que a comunidade escolar almeja para a instituição. 
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O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com 
um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. 
Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto 
político por estar intimamente articulado ao compromisso 
sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população 
majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do 
cidadão para um tipo de sociedade... (VEIGA, 1998, p. 13) 
 
 
Veiga (1998) observa que uma ação educativa transformadora, deve alicerçar-se 
em pressupostos teóricos progressistas, que partindo da realidade social possibilitem um 
salto qualitativo ao processo educacional. Os pressupostos aos quais a autora se refere 
como norteadores do Projeto Político Pedagógico são: filosóficos, sociológicos, 
epistemológicos, didático/metodológicos. Assim, cabe a instituição escolar expressar 
sua compreensão de ser humano e de sociedade, e consequentemente o paradigma 
educacional que defende e pretende adotar, ressaltando seu compromisso com a 
mudança e com o modelo de educação emancipador. Cumpre à escola a assunção de 
uma postura crítica e participativa no que concerne à produção do conhecimento, 
observando as especificidades dos estudantes, respeitando os diversos contextos sociais 
e históricos que estão intimamente relacionados com o processo ensino-aprendizagem, 
preservando a relação teoria-prática. E por fim, em uma perspectiva interdisciplinar, a 
escola deve sistematizar o processo ensino-aprendizagem, de maneira a possibilitar o 
desenvolvimento educativo do aluno, utilizando-se de métodos e técnicas de ensino, 
incentivando as relações solidárias e o exercício da democracia. 
Os alunos com deficiência em decorrência do comprometimento sensorial, físico 
ou intelectual, necessitam de que a escola a partir da compreensão de suas 
especificidades promova mudanças tais como: adaptações curriculares, estratégias 
diversificadas de aprendizagem, novos formatos de avaliação, estrutura física adequada 
oferecendo melhores condições de acessibilidade dentre outras que favoreçam o 
processo de escolarização desses estudantes. 
Essas questões precisam ser urgentemente consideradas, pois toda escola que se 
pretende inclusiva, deve apresentar proposições no sentido de contribuir para 
concretização desse ideal. Um passo deveras importante nessa direção é a construção de 
um Projeto Político Pedagógico progressista e emancipador que além de outras questões 
relativas à diversidade, aborde a realidade educacional dos educandos com deficiência, 
visando a um salto qualitativo de maneira a operacionalizar as transformações 
necessárias para esse fim. 
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O caráter progressista e emancipador do Projeto Político Pedagógico remetem 
necessariamente à construção coletiva através do envolvimento de todos: professores, 
estudantes, direção, coordenação pedagógica e representantes da comunidade na qual a 
escola está inserida que coletivamente definirão o futuro da instituição, seus objetivos e 
as ações a serem empreendidas. 
O Projeto Político Pedagógico expressa a identidade da escola, não existindo um 
modelo definido, todavia em seu processo de construção, de maneira geral são 
observadas três etapas que devem estar dialeticamente articuladas: diagnóstico, marco 
referencial ou quadro teórico e proposta de ação. Poucassão as instituições escolares 
que nas discussões desses três momentos consideram os aspectos relativos aos alunos 
com deficiência matriculados. Diante desse fato cabe questionar: trata-se de desinteresse 
dos profissionais de educação ou fragilidade das políticas públicas com a falta de 
iniciativas para envolver a comunidade escolar com essa problemática? 
Ao firmar seu compromisso com o modelo educacional atento à diversidade, a 
escola deve contemplar no processo de construção do Projeto Político Pedagógico nos 
três atos acima mencionados, elementos que possibilitem uma prática pedagógica que 
atenda às necessidades educacionais dos alunos com deficiência. 
Na primeira etapa na qual são levantadas as questões sobre o contexto externo e 
interno da escola, abordando os aspectos político, social, econômico e histórico, quando 
se descreve a realidade no tocante à população alvo, recursos humanos, práticas 
pedagógicas, situações problemas, dentre outras, deve ser incluída na pauta de discussão 
o acesso educacional de pessoas com deficiência, apresentando-se dados sobre o 
número de alunos matriculados quando houver, a série em que se encontram, qual o tipo 
de deficiência e suas necessidades. 
Ao definir o quadro teórico que norteará a prática pedagógica, é importante que o 
projeto expresse um entendimento sobre a categoria inclusão, tematizando 
especificamente a realidade dos alunos com deficiência fundamentando-se na 
legislação. É necessário um estudo sobre as peculiaridades do processo ensino-
aprendizagem desses educandos, a fim de que a inclusão não se constitua apenas em 
uma formalidade, obedecendo tão somente a preceitos legais de obrigatoriedade da 
matrícula. 
Na proposta de ação, a escola deve apresentar seu posicionamento sobre o acesso 
dos estudantes com deficiência, uma vez que é nessa etapa que o projeto descreve como 
serão operacionalizadas as intenções de mudança. Em virtude de possuírem 
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determinadas especificidades esses educandos necessitam de intervenções pedagógicas 
diferenciadas, previstas na proposta de ação, que facilitem seu desenvolvimento 
educacional o que habilitará os professores, enquanto mediadores diretos do processo 
ensino-aprendizagem uma prática pedagógica, criando situações didáticas de modo a 
atingi-los, elaborando novos formatos de avaliação condizentes com suas 
especificidades. 
 As atividades sugeridas na proposta de ação, sobretudo aquelas que envolvem 
toda comunidade escolar, como gincanas, comemoração de datas cívicas, dentre outras, 
devem ser planejadas e devidamente adaptadas de maneira a possibilitar a participação 
dos estudantes com deficiência, cabendo à coordenação pedagógica supervisionar e 
observar se no decorrer da execução essa interação está sendo efetiva. 
Como já salientado, grande parte dos profissionais de educação não possuem 
conhecimentos básicos sobre o processo educativo dos alunos com deficiência. Assim, é 
imprescindível o envolvimento dos professores especialistas e das instituições de apoio 
no suporte tanto na elaboração como na execução do Projeto Político Pedagógico, 
orientando sobre as particularidades de cada tipo de deficiência. A atuação dos 
professores especialistas na escola e a articulação da escola com as instituições de apoio 
devem ser objeto de reflexão no Projeto Político Pedagógico, almejando um trabalho 
mais sistemático induzindo a escola a assumir mais efetivamente o seu papel na 
inclusão educacional desses estudantes. 
 O PPP não transformará de forma imediata as precárias condições educacionais 
ainda vivenciadas pelos alunos com deficiência, entretanto na medida em que aborda a 
questão, inicia-se um processo de tomada de consciência. O Projeto Político 
Pedagógico por si só não opera mudanças. Há que se associar à sua construção coletiva 
a vivência cotidiana e participação de toda a comunidade escolar, para que não se 
transforme apenas num simples exercício burocrático atendendo a recomendações 
legais, conforme análise realizada por Ferreira e Ferreira (2007): 
Por outro lado, embora a existência de um projeto pedagógico 
próprio possa ser um aspecto importante para favorecer a inclusão do 
aluno com deficiência na escola e na sala de aula regular, o que temos 
percebido é que este projeto é mais uma peça burocrática que foi 
construída por força da lei, num sistema educacional que não 
desenvolveu autonomia pedagógica nem autonomia administrativa, 
por efeito de políticas centralizadoras que, portanto, não capacitou os 
educadores na elaboração de projetos, nem na utilização destes ao 
administrar o processo educacional. (FERREIRA E FERREIRA, 
2007p. 32) 
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O Plano de Desenvolvimento Escolar (PDE) vem nos últimos anos sendo adotado 
como principal diretriz orientadora do processo de organização e gestão escolar, 
assumindo um perfil estratégico empresarial, conduzindo a escola em conformidade 
com a lógica racionalista do mercado, secundarizando, ou até mesmo, substituindo o 
Projeto Político Pedagógico, conforme sinaliza MELO (2000): 
Por isso o projeto político pedagógico, espaço privilegiado para a 
escola se definir em seus objetivos, sua organização e forma de 
gestão, não encontra ressonância na gestão compartilhada. Sumária e 
sutilmente, sem ser descartado de todo, ele é secundarizado e 
substituído, em grande escala, pelo famoso Plano de Desenvolvimento 
Escolar (PDE). Trata-se de um plano de metas, calcado no 
pragmatismo dos resultados estatísticos e na paranoia da otimização e 
da eficiência a qualquer custo (MELO, p. 246-7). 
 
 
Embora não consideremos o PDE como modelo de planejamento mais adequado 
por privilegiar os aspectos tecno-burocráticos em detrimento do político-pedagógico, 
ainda assim, é pertinente que em sua elaboração, sejam consideradas as demandas dos 
estudantes com deficiência, sendo previstos os recursos necessários, para aquisição de 
materiais específicos, formação continuada de professores, dentre outros. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O esforço empreendido neste artigo teve como objetivo demonstrar brevemente a 
importância do Projeto Político Pedagógico no processo de inclusão educacional efetiva 
dos estudantes com deficiência, partindo do princípio da gestão democrática e 
construção coletiva deste documento, de maneira a envolver todos os segmentos da 
comunidade escolar. 
Inúmeras pesquisas no campo da educação especial têm demonstrado que, no 
tocante à inclusão dos estudantes com deficiência na escola, ainda pode ser evidenciada 
uma contradição: o vasto arcabouço legislativo em vigor contrasta com o cotidiano 
escolar marcado por um contexto adverso que dificulta e em alguns casos impossibilita 
o acesso e permanência desses educandos. 
O Projeto Político Pedagógico que considera a diversidade presente na escola é 
um instrumento eficaz de superação dos desafios para uma educação equânime que 
respeite e valorize as diferenças. 
 
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