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Homofobia e Preconceito: A Violência Contra a Diferença

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Introdução
Muitos instrumentos, ao longo dos anos, foram criados para garantir a integridade física e moral do ser humano, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a declaração da UNESCO. No entanto, em pleno século 21 ainda se assiste cenas de barbárie praticadas contra o homem, além da perversa violação de seus direitos fundamentais.
A prática da discriminação contra grupos minoritários, como se pôde observar, vem acompanhando fielmente a evolução científica e tecnológica da humanidade de forma a poder emprestar à violência contra essas minorias, um caráter de requinte e glamour.
O fenômeno da homossexualidade, nesse contexto, figura como razão maior para essa prática perversa discriminatória que vem alcançando uma dimensão maior como o atentado contra a vida.
A rejeição à homossexualidade tornou-se um evento verificado em todas as classes sociais orientadas, principalmente pelas instituições religiosas que, de acordo com alguns autores, isso se deve ao fato de a igreja se sentir sempre contrariada e, até hoje, ameaçada com relação ao seu poder e monopólio.
A questão da homossexualidade testemunhou ao longo da história os mais diversos momentos sociais e, ao se aproximar da contemporaneidade se tornou motivo de preocupação, do lado da igreja por ter lhe outorgado um caráter satânico, do lado da sociedade por ter lhe emprestado um caráter promíscuo opcional, motivo porque se acredita que essa diferença tem que ser punida e banida da terra como se fosse possível, e é isso que caracteriza de forma trágica a outra face do preconceito em razão da orientação sexual.
No Brasil, a violência praticada contra homossexuais é alarmante, revelando um número assustador de crimes praticados, nos últimos anos, contra essa população e, não é de graça que o país tornou-se um cenário marcado pelo antagonismo de papéis sociais/sexuais e onde a violência manifesta contra os diferentes encontra sua razão maior na própria sociedade que determina ser normal e aceitável o homem que privilegia uma conduta excessivamente machista, tendo que agir como homem e se relacionar apenas com mulher para não fugir à condição de normalidade.
O Brasil desponta, de acordo com estudos realizados, como campeão mundial em homicídios de homossexuais, onde, para cada cinco gays ou transgêneros mortos no mundo, quatro são brasileiros, o que coloca o país no topo dos países mais homofóbicos do mundo.
Não aceitar a diferença significa perpetuar a violência e gerar uma violência maior em nome do preconceito. O Estado e a sociedade, portanto, devem contribuir para melhorar as condições de vida dessa população historicamente marcada pelos males sociais, dentre eles a repressão aos portadores desse fenômeno.
É necessário promover um combate ao preconceito que alcançou todos os quadrantes da terra e buscar exercitar a cidadania homossexual que tem sua base fundamentada na cidadania do país.
1. Visão Conceitual da Homossexualidade
Uma das mais importantes instituições sociais que caracteriza uma sociedade é a família cujo papel é de grande importância e significado para o homem e além de ser o lugar que se constitui o centro dos laços afetivos e onde se estabelecem as condições que vão propiciar o ambiente ideal para o desenvolvimento. Mesmo apresentando características diferentes e certas peculiaridades, a instituição familiar se fez presente em todas as sociedades humanas.
Nesse contexto, o surgimento de novos paradigmas das relações familiares sugere uma reavaliação dos conceitos ainda em vigor e uma análise mais cuidadosa sobre a idéia central de família, conceito que vem muito sofrendo alterações dramáticas, especialmente, desde 1945, final da Segunda Guerra Mundial.
Com a evolução histórica, a constituição familiar sofreu alterações significativas. A família constituída naturalmente pela figura do casal “homem e mulher”, nos dias atuais não tem mais esta estrutura. No entanto, a família, qualquer que seja o seu modelo, continua sendo o referencial mais importante para a construção do homem, além de fundamento universal de todas as sociedades humanas, mesmo que constituídas por fatores divergentes.
Mesmo sendo levadas em consideração as mudanças ocorridas no contexto social, não importando sequer os fatores relevantes que impulsionaram tais mudanças, a questão da homossexualidade ainda enfrenta preconceito, deixando apenas de ser tratada como um assunto proibido, passando a ser debatido, embora de forma limitado.
Por mais que se queira negar a existência de tal fenômeno torna-se impossível, levando em consideração que a homossexualidade existe desde que o “mundo é mundo”, por isso, buscava-se uma tutela jurídica e aceitação como entidade familiar.
A homossexualidade é um sentimento não diferente do amor e da virtude, como pontua Rodrigues (2004, p. 35): “A homossexualidade sempre acompanhou a história da humanidade, havendo registro deste tipo de comportamento sexual até mesmo entre os povos selvagens e, na natureza, entre os animais”.
Já para a Igreja a homossexualidade recebeu um tratamento perverso por ser considerada extremamente nociva e durante a Inquisição, muitos homossexuais foram condenados à fogueira e submetidos a vários outros tipos de violência em razão de suas orientações sexuais, não havendo, para isso, diferença de sexo. Nesse ambiente, notadamente marcado pelo antagonismo de papéis sociais/sexuais, a violência desponta contra os homossexuais em razão da sociedade determinar o certo e o normal, que o homem aja como homem, que o homem se relacione apenas com a mulher e vice-versa, caso contrário fica demonstrada uma situação de anormalidade.
Nesse sentido, e de a cordo com Rios (2001, p. 279-280): “no Brasil, a cada três dias, uma pessoa é morta por razões homofóbicas, ou seja, pelo ódio por sua orientação sexual (LGBT)”.
Essa realidade não mudou, pelo contrário, aumentou assustadoramente essa estatística. No dia 14-02-2014, o Jornalista Edson Sardinha, no site jornalístico do Congresso em Foco do UOL fez a seguinte reportagem sobre a pesquisa feita sobre a homofobia no Brasil:
Pelo menos 312 gays, lésbicas e travestis brasileiros foram assassinados em 2013, média de um homicídio a cada 28 horas, revela pesquisa feita pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). A entidade estima que 99% dos crimes foram motivados por homofobia. Apesar de apontar uma queda de 7,7% em relação a 2012, quando foram registradas 388 mortes, a pesquisa destaca que o número de assassinatos de homossexuais cresceu 14,7% nos últimos quatro anos. (SARDINHA, 2014)
Segundo o estudo, o Brasil segue como campeão mundial em homicídios de homossexuais:
De cada cinco gays ou transgêneros assassinados no mundo, quatro são brasileiros. E os dados reunidos neste começo de ano apontam tendência de piora no quadro: em janeiro, 42 homossexuais foram assassinados, ou seja, um a cada 18 horas.
Ainda de acordo a pesquisa os estados de Pernambuco e São Paulo, foram os estados que apresentaram o maior número de mortes provocadas pela homofobia. Com relação a outros estados a pesquisa mostra que Roraima e Mato Grosso, proporcionalmente perigosos. Na região norte do País, Manaus aparece com 12 crimes e Cuiabá foram as capitais com maior número de crimes homofóbicos. O Nordeste aparece como a região mais violenta para esse segmento, com quarenta e três por cento dos assassinatos, seguido pelo Sudeste e pelo Sul com trinta e cinco por cento. O estado brasileiro que não registrou crime contra os homossexuais foi o Acre.
Este cenário de tanta violência contra a diferença coloca o Brasil no topo dos países mais homofóbicos do mundo. Nesse sentido, vale aqui lembrar que na construção da civilização várias foram as personalidades históricas e homossexuais que atuaram nessa construção, tanto nas artes, ciência, política, religião, filosofia e etc., e que fizeram presentes em suas obras o fenômeno ou menções a ele.
No entanto, historicamente, a compreensão da homossexualidade foi extremamente prejudicada por influência de valores desprovidos de senso científico, mesmo tendo a medicinaavançado e reconhecendo a homossexualidade não mais como doença, fortemente embasados no senso comum e em postulados religiosos, o que contribuiu para o incentivo à construção da cultura do ódio em relação aos homossexuais, refletindo sobre a postura social e legal em relação aos diferentes.
Não resta dúvida que são muitas as dificuldades pelas quais passam esses indivíduos no Brasil e no mundo. Não aceitar a diferença significa perpetuar a violência e gerar uma violência maior em nome do ódio e do preconceito. O Estado e a sociedade podem contribuir para melhorar as condições de vida da população LGBT historicamente marcada por um conjunto de males sociais.
2. Homossexualidade como Fenômeno Patológico
O século XIX, com a evolução do pensamento humano, o homem aos poucos foi se aproximando e valorizando a racionalidade e se distanciando da religiosidade exageradas.
Durante muito tempo foram apresentadas várias teorias a respeito do assunto. Dentre os estudos apresentados pode-se destacar o do médico legal Dr. Gomes (1985, p. 412) que apresentou uma diferença de forma extremamente didática a respeito do homossexualismo masculino e feminino:
O homossexualismo masculino é também chamado uranismo (congênito) e pederastia embora este último termo rigorosamente signifique amor pelas crianças. Todavia, o uso emprega a palavra pederasta para traduzir o coito anal entre homens. Sodomia ou pedicação é o coito anal com mulher. A distinção entre pederastas ativos e passivos não é obrigatória. A regra é que as práticas sejam alternadas. Muitos pederastas não chegam ao coito anal; limitam-se ao perienal, à masturbação recíproca, a carinho no leito. (...) O homossexualismo feminino comporta tripartição didática: ou as honossexuais se atritam os órgãos sexuais em práticas recíprocas (tribadismo); ou praticam a sucção do clitóris, alternativamente (safismo ou lesbismo); ou se masturbam reciprocamente. A palavra lesbismo deriva de Lesbos, ilha onde antigamente vivia um grupo de mulheres homossexuais chefiado pela poetisa SAFO, que deu origem ao outro nome da perversão – safismo.
A homossexualidade ao ser tratada como uma patologia, impôs aos seus portadores tratamentos extremamente desumanos, tendo como espectador o Estado que a tudo assistia sem a menor interferência, apenas preocupado em testemunhar a cura e, de braços cruzados presenciava o tratamento que variava entre terapias de choques convulsivos, lobotomia e terapias por aversão. (Vechiatti, 2008).
A idéia de que o homossexualismo era realmente uma patologia durou muito tempo e, no ano de 1992 sofreu uma alteração, de acordo com um estudo elaborado por Chiarini Júnior (2004, p.1). Sobre o tema, o autor diz:
Em decorrência da não caracterização da homossexualidade como doença, o termo homossexualismo deixou de constar nos diagnósticos da CID-10, pois, o sufixo "ismo" que significa doença, foi substituído por "dade" que designa modo de ser. Segundo os médicos o homossexualismo não pode mais ser “... Sustentado enquanto diagnóstico médico. Isto porque os transtornos dos homossexuais realmente decorrem muito mais de sua discriminação e repressão social derivados do preconceito do seu desvio sexual. Desde 1991, a Anistia Internacional considera violação aos direitos humanos a proibição da homossexualidade.
Mesmo que se tenha excluído o caráter patológico da homossexualidade, o assunto continua, até hoje, sendo um grande desafio para os profissionais da psicanálise, que tentam compreender o processo psíquico do homem.
Com o propósito de coibir o preconceito, por meio de práticas terapêuticas para a cura do homossexualismo, o Conselho Federal de Psicologia baixou a Resolução 489/2006, que veda qualquer conduta que discrimine, o individuo, por parte de psicólogos e assistentes sociais, em razão da orientação sexual, na prática de suas funções.
As investigações das causas biológicas da homossexualidade não param, pelo contrário foram intensificadas.
A Medicina Psiquiátrica deu início à qualificação do comportamento do homem cujo desejo sexual era direcionado a alguém do mesmo sexo como vício, perversão, degeneração e patologia.
Para César Lombroso, o criminologista italiano, o argumento por ele apresentado, era de que a homossexualidade representava um estágio de desenvolvimento mais baixo do que os heterossexuais, os homossexuais não podiam se responsabilizar pelo seu fracasso, no entanto, deveriam ficar restritos a asilos, em razão do perigo que representavam para a sociedade. (TORRÃO FILHO, 2000).
As buscas pela cura para a homossexualidade não pararam por ai, em 1962, na Alemanha, o médico Roeder apresentou uma técnica cirúrgica cujo processo era provocar uma lesão do lado direito do cérebro do homossexual o que, também, resultou em fracasso.
No século XX, a homossexualidade era compreendida como uma doença mental e uma inversão anormal de papeis.
Para Oliveira (2002, p.42): ..] o discurso psiquiátrico do século XX, sobre a homossexualidade sempre foi tida como uma inversão sexual isto é, uma anomalia psíquica, mental ou de natureza constitucional, um distúrbio da identidade ou da personalidade que podia chegar à psicose e que, não raro, conduzia ao suicídio. Mas, sobretudo, a inversão foi tida como uma inversão dos papéis e funções sexuais, do masculino para o feminino e vice-versa.
Os esforços empregados por determinados segmentos sociais como forma de contribuição para que a homossexualidade seja vivida de forma natural é muito grande, e foi neste cenário apaziguador que a Organização Mundial de Saúde (OMS), em seu décimo processo classificatório de doenças – CID-10, no ano de 1993, fez a inclusão do item Transtornos Psicológicos e de Comportamento Associados ao Desenvolvimento e Orientação Sexual. Nesse documento não há nada nomeando como patologia a escolha sexual de objeto. Para se constituir como patologia, só no caso de oferecer sofrimento e desconforto pessoal ao sujeito.
3. Conselho Federal de Psicologia e a Resolução nº 001/99
O Conselho Federal de Psicologia, em sua Resolução nº 001/99, determina normas de atuação para os profissionais no que diz respeito à questão da orientação sexual, estabelecendo que os profissionais não colaborarão com situações e serviços que sugira tratamento e cura das homossexualidades, já que a homossexualidade não é uma doença, distúrbio nem perversão.
Sabe-se, hoje, que a homossexualidade não se constitui em transtorno médico ou psiquiátrico, mas um aspecto da condição humana naturalmente comum no mundo, que juntamente por meio do tempo, produto de fatores biológicos, psicológicos e sociais inter-relacionados origina-se à identidade pessoal e ao comportamento interpessoal.
Para Vechiatti (2008, p. 532-533):
[...] considerando que essas pessoas só atingirão a felicidade por meio do exercício da parentalidade, então esta se afigura como um direito humano fundamental, decorrente do princípio da dignidade da pessoa humana. Ressalte-se, ainda, que esse direito fundamental é um direito de personalidade de todas as pessoas (donde, obviamente, também das pessoas homossexuais), que, como dito, só serão plenamente felizes se puderem ter filhos ou adotar uma criança ou um adolescente. Afinal, se determinada pessoa só puder atingir a felicidade pelo exercício da parentalidade, então esta é uma faculdade que lhe deve ser garantida como sucedâneo da dignidade humana constitucionalmente consagrada, que garante a todos o direito à felicidade. Assim, negar o direito à parentalidade a determinado grupo de pessoas é uma verdadeira agressão psicológica a estes, pois essa negação impossibilita que eles alcancem a felicidade plena, que inequivocadamente afronta os princípios da dignidade da pessoa humana (que garante o direito à felicidade) e de igualdade (que proíbe discriminações arbitrárias como essa).
Graças às pesquisas realizadas em torno da homossexualidade, a princípio encarados com incompreensão e falta de créditos, embora se reconheça a existência de um enorme caminho pela frente em termos de estudos, tem-se pelo menos, a garantiade que foram esboçadas cuidadosamente as linhas mestras do conhecimento ao redor de tão ricas e multifacetadas expressões da sexualidade do homem.
Dentro dessa perspectiva, o que cada pessoa faz, principalmente, no âmbito de sua vida privada, só pertence a ela, cabendo a nós, como cidadãos e membros de uma sociedade, respeitar as diferenças enriquecedoras que transformam o ser humano em algo extremamente maravilhoso.
4. Visão Histórica da Homossexualidade e a Construção do Preconceito
Explicar a homossexualidade não é uma tarefa fácil, mesmo porque sua compreensão é até hoje objeto de estudo. No entanto, na década de 1950, de acordo com estudos realizados como aponta Giddens (apud Pinho, 2010, p. 12), a homossexualidade era compreendida, em grande parte da literatura médica, como “uma patologia, ou seja, um distúrbio psicossocial, um desvio, uma perversão”. No entanto, a discussão em torno do tema continua viva e permeada, na maioria das vezes, de violência e não menos atentados contra a vida dos portadores da diferença.
Para melhor compreender a história desse grupo social que nutre afeto pelos seus iguais é importante fazer uma viagem a determinados momentos da história das civilizações, onde o homem iniciou e desenvolveu sua prática sexual e como esse comportamento foi aceito pela sociedade e pelas diversas instâncias culturais desses povos. Para tanto, é necessário trazer outras áreas do conhecimento e seus especialistas, que se reportaram ao assunto em seus estudos e pesquisas.
Historicamente, a homossexualidade foi tratada com naturalidade, chegando a ser vista em algumas culturas antigas, como se verá mais adiante, como um ato sagrado, principalmente no período da Pré-História.
Nesse momento histórico, o primitivismo em que as tribos dão início à construção social, a homossexualidade foi considerada, dentro desses grupos, como uma conduta normal, além de representar papel fundamental no rito da sexualidade do homem, de acordo com Talavera (2004, p. 65) se tratava da “inseminação homossexual ritualizada dos meninos que, transcorrida a infância, eram separados das mães e retirados da ‘casa das mulheres’, para dormir com o pai na casa dos homens [...].”
Essa prática foi alimentada por muito tempo pelas sociedades antigas, independentemente de sua cultura, credo ou religião, como se pode observar, de acordo com a história que tanto no Império Romano como na Grécia Antiga de acordo com Dias (2006, p. 25): “na Grécia, o livre exercício da sexualidade – verdadeiro privilégio dos bem-nascidos – fazia parte do cotidiano de deuses, reis e heróis”.
Para os gregos, o exercício das relações homossexuais tinha um significado maior, além de seu caráter pedagógico, visto que era por meio delas que se transmitiam aos jovens aprendizes ensinamentos, com o objetivo de prepará-los para a vida social e política, representava também, de acordo com Dias (2006, p. 25): “um estágio de evolução da sexualidade, das funções definidas para os gêneros e para as classes”.
Essa transmissão era feita pelos mentores e esses escolhiam seus pupilos por meio de seus critérios particulares, para a iniciação na vida adulta, para tanto, recebiam os ensinamentos sobre a arte da guerra, dos jogos e da política, tornando-se a partir daí, preparados para desempenhar papéis de grande relevância na sociedade grega.
No entanto, para que os jovens fizessem a iniciação para a vida adulta, tivessem acesso ao conhecimento, e esse necessário para torná-los jovens, bem treinados para a guerra e mais aptos à política, historicamente tinham que manter relações com homens mais velhos.
Como se pode observar a importância dada à homossexualidade, principalmente, na Grécia foi tanta que se dizia ter sido a ela atribuídas, de acordo com Correia (apud Silva Júnior, 2010, p.69): “características como a intelectualidade, estética corporal e ética comportamental, sendo por muitos, considerada mais nobre do que o relacionamento heterossexual.”
A prática heterossexual, de acordo com Dias (2006, p. 26) aparecia:
Como uma preferência de certo modo inferior e reservada à procriação”, enquanto que a homossexualidade era admitida como “instituição pedagógica ou ritual iniciatório” importante e necessário para transmissão dos ensinamentos por meio das gerações.
No Império Romano, de acordo com Dias (2006), a homossexualidade era concebida de forma natural, no entanto, se alimentava preconceito contra o agente passivo da relação, levando-se em conta, para os romanos, o fato de que a passividade sexual estava intimamente relacionada a impotência política, por isso, essa condição, além de discriminada era passiva de penalidade, inclusive a classe social que se dispunha a tais práticas era formada, na maioria das vezes, por indivíduos excluídos da estrutura do poder, tais como as mulheres e escravos.
Historicamente, na sociedade romana, os valores que envolviam a sexualidade e a moralidade possuíam um padrão com inúmeras variáveis. De acordo com Talavera (2004, p. 70):
Para assegurar afeição, respeito e fidelidade, os romanos constituíam família com a escolha de uma esposa [...]”, mas, todavia, “[...] se desejassem intempestividade, paixão e volúpia, escolhiam um garoto, tal qual os efebos que eram escolhidos pelos aristocratas e preceptores gregos.
Havia, tanto para a sociedade grega como para a sociedade romana uma compreensão da homossexualidade, embora considerada como sendo algo natural, possuía aspectos distintos. Para os gregos a relação homossexual representava um processo educativo, onde os jovens aprendizes eram iniciados por homens mais velhos, o que representava uma honra para eles ao ser escolhidos pelos mestres, não havendo preconceito quanto ao agente passivo da relação. Já para os romanos a passividade estava intimamente ligada à idéia de fraqueza, de incapacidade política e carência de poder, é onde residia o preconceito, na figura passiva da união.
Para outras sociedades antigas, como a Suméria, a Mesopotâmia, a China, Índia da Antiguidade, assim como o Império Islâmico, de acordo com Talavera (2004, p. 65) o autor evidencia que o amor entre pessoas do mesmo sexo era respeitado e honrado, portanto, um elo forte entre os pares e legalmente amparado como se pode ver, pelo famoso Código de Hamurabi, de acordo com Talavera (2004, p. 66) quando diz:
O Código de Hamurabi, conjunto de leis babilônicas de 1750 a. C., considerava a homossexualidade como sinal de virilidade. Há documentos egípcios de 500 anos antes de Abraão, que revelam práticas homossexuais não somente entre os homens, mas também entre deuses como Horus e Seth. Certamente, houve variações no tocante à interpretação da homossexualidade, cada tempo com sua experiência singular, mas invariavelmente com o mesmo direcionar do desejo: o igual.
O que se pode observar é que a prática homossexual se fez presente em todas as fases históricas e nos ramos de todas as atividades humanas, tendo, em cada momento e lugar significação própria, em relação à cultura de cada povo.
Torna-se, portanto, de grande importância analisar o fato de que a palavra homossexualidade não teve, ao longo de sua história, a mesma designação e vocábulo como ocorre na realidade da idade contemporânea como relata Darte (2008, p. 3):
A prática homossexual era um modelo comum em diversas tribos pré-históricas e em povos como os egípcios, os gregos, os romanos e os indianos. Havia uma adoração à sedução de um jovem, ao culto da prostituição masculina, ao falo. Porém a visão da sociedade quanto à identidade sexual começou a mudar quando a igreja relacionou a moralidade com a conduta sexual, criando uma tradição que proibia qualquer forma de relação sexual que não fosse entre homem e mulher com o objetivo da procriação, assim como Adão e Eva.
A homossexualidade nas civilizações primitivas, como já mencionado, foram aceitas e tiveram relevante papel na estrutura social, no entanto, no início da Era Cristã, a prática homossexual passa a ser considerada uma transgressão à ordem natural, devendo, por isso, ser fortemente repreendidae, de acordo com Dias (2006, p. 27) provém das religiões o preconceito contra a homossexualidade quando afirma: “A concepção bíblica busca a preservação do grupo étnico baseado no Gênesis e na história de Adão e Eva, de que a essência da vida é o homem, a mulher e sua família.”
Nesse contexto, se estabeleceu que a base do juízo condenatório, que considera a relação homossexual um pecado, vem da interpretação prevalente da doutrina cristã, o que de acordo com Rios (2001, p. 32):
Consoante tal tradição, tendo o ser humano sido criado à imagem e semelhança de Deus, mas corrompido pelo pecado original, seus atos devem-se conformar aos desígnios divinos mediante uma prática ascética dirigida à reconciliação com o Criador. Disto resulta, no plano sexual, uma moral cristã que enxerga no deleite dos prazeres carnais a tentação do abandono de Deus em favor do mundo temporal, visto como obstáculo à elevação espiritual do homem em direção à salvação eterna. Daí a restrição das atividades sexuais à reprodução, cujo âmbito adequado é a vida marital.
Com isso, o casamento passou a ser considerado uma solução Divina ao homem de forma a preservá-lo do “despudoramento” e da “libertinagem”. Nesse sentido, Dias (2006, p. 28) pontua que para a fé católica, a relação de prazer sem o caráter reprodutivo se constitui em pecado e afasta o homem do amor de Deus, por isso: “até hoje a masturbação e o sexo infértil são considerados antinaturais”.
O preconceito, com a influência religiosa, alcançou uma dimensão muito maior, principalmente, porque a Igreja, nesse caso, saia em defesa da preservação da humanidade e na prática sexual apenas, com o objetivo maior, a procriação, tornando essa posição da Igreja a precursora da disseminação da interpretação dada por ela às palavras bíblicas, conforme pontua Rios (2001) quando diz que a primeira nascente de condenação à homossexualidade é a bíblia, onde se pode encontrar em algumas passagens uma interpretação condenatória deste tipo de prática como no Antigo Testamento que menciona trechos do Gênesis, com relação a destruição de Sodoma e Gomorra.
A idéia defendida de que a Bíblia repudia o homossexualismo serve apenas como desculpa à aversão e à prática de atrocidades contra os homossexuais. No entanto, ao expressar sua opinião acerca do assunto, o padre católico Daniel A. Helminiak (apud Dias, 2006, p. 27) foi categórico ao afirmar que “a Bíblia não fornece qualquer base real para a condenação da homossexualidade”. Sendo assim, quanto à exegese bíblica com relação ao assunto da homossexualidade, há muita discussão sobre o que realmente diz a Bíblia a respeito, se condena a relação homoafetiva ou, se a Igreja Católica empresta uma interpretação errônea e proposital ao texto sagrado.
De acordo com Dias (2006) a Igreja Católica como forma de garantir a aceitação de seus dogmas e mandamentos, fazia uso da evangelização, porquanto, era com essa prática que se ditava a voz de Deus. A expressão vox Populi, vox Dei significava que qualquer atitude em desarmonia com a maioria estava em desarmonia com a vontade divina e, como consequência, as minorias deveriam ser castigadas por implícito atentado a Deus.
Com a Idade Média, o matrimônio e as relações heterossexuais são sacralizadas, neste sentido e, de acordo com Dias (2006, p. 28):
Somente as uniões sexuais devidamente sacramentadas seriam válidas, firmes, indissolúveis. O ato sexual foi reduzido a fonte de pecado. Deveria ser evitado sempre, exceto no matrimônio abençoado pela Igreja, única hipótese em que poderia ser praticado – assim mesmo em condições de máximo recato - e estritamente para cumprir o ditame ‘crescei-vos e multiplicai-vos’. A virgindade é cultuada como um estado mais abençoado do que o próprio casamento, e o sexo ligado ao prazer é associado à noção de pecado, mesmo dentro do matrimônio. A igreja rejeitou qualquer prazer ou sensualidade que pudessem ser atribuídos ao sexo marital, adotou a ideia de que o sexo estava estritamente ligado ao divino e ao sagrado.
A repressão contra os homossexuais alcançou um estágio maior com a Inquisição, que não só perseguia, mas penalizava ostensivamente quaisquer atos de heresia, como a sodomia, esta considerada como um dos crimes maiores e mais vil e sujo, além de responsável pela ira de Deus ao destruir Sodoma e Gomorra.
A Igreja em 1179, após o III Concílio de Latrão, converteu a homossexualidade em Crime de acordo com Dias (2006, p. 28), por acreditar que a homossexualidade afetava a fé cristã e, como forma de frear tais práticas.
Nos séculos XII e XIII as práticas de sodomia eram também consideradas como crime, contudo, foi com o primeiro código ocidental que a homossexualidade ganhou a mais severa penalização, quando o referido diploma legal prescreveu a pena de morte à prática homossexual, de acordo com Dias (2006).
Entre os séculos XIII e XIV surge a Inquisição, tribunal religioso criado na Idade Média pelo Papa Gregório IX com o propósito de condenar todos aqueles que eram contrários aos dogmas religiosos pregados pela Igreja Católica.
Com o declínio do poder religioso e o enfraquecimento dos laços entre o Estado e a Igreja, a rigorosa obediência às normas religiosas cedeu lugar à valoração do afeto, onde a orientação sexual perdeu o caráter de ilícita e a severa condenação que lhe fora imposta, o que para Silva Júnior (2010, p. 71):
O declínio da Igreja, a dessacralização do casamento oficializado pelo Estado e, em especial, com a valorização psicológica e jurídica do afeto, como fundamento primordial de uma sexualidade mais livre de restrições discriminatórias [...], a homofobia institucional e social diminuiu um pouco, e os homossexuais, mais destemidos, passam a se organizar, juridicamente, através de grupos de pressão voltados para a defesa dos seus direitos de cidadania [...]. Tal movimento libertário [...] ficou conhecido, nos Estados Unidos, pelo slogan ‘saindo do armário’ – uma resposta [...] à ação policial injustificada, arbitrária da histórica madrugada de 28.06.1969 [...]. Por isso, no dia 28 de junho, de todos os anos subsequentes, passou-se a comemorar, mundialmente, o Dia do Orgulho Gay, como sinônimo de conscientização crítico-transformadora e de respeito à diversidade sexual.
A separação entre Estado e Igreja, o surgimento de novas estruturas de convivência, a valorização do afeto e da pessoa humana, patrocinaram maior aceitação pela diferença. No entanto, os ditames da Igreja continuam vigentes até os dias atuais. Nesse sentido a Igreja, na encíclica Fides et Ratio, editada pelo papa João Paulo II, reitera que a Igreja só aprova as relações heterossexuais dentro do matrimônio.
O contexto histórico do preconceito contra a homossexualidade foi perversamente produzido pela Igreja e a criação de seus dogmas, levando-se em conta que até hoje a prática homossexual é considerada como um comportamento inaceitável, intolerável e contrário às leis da natureza e às leis do Criador e que, ainda, se encontra em total desacordo com a moral e os bons costumes.
Infelizmente, o preconceito contra o homossexual foi uma herança deixada por uma sociedade paternalista, onde a figura masculina assumiu papéis rígidos e não lhe era permitido demonstrar afeto, pois se entendia que esse tipo de demonstração torna a pessoa efeminada e, consequentemente, merecedora de desprezo, além de lhe expor ao ridículo.
No Brasil, com o propósito de combater o preconceito contra a orientação sexual, foi criado o Conselho Nacional de Combate à Discriminação, que é uma instância plural, com participação de várias instituições governamentais e não governamentais, cuja iniciativa é promover a cidadania homossexual, embasada, fundamentalmente, na ampliação e fortalecimento do exercício da cidadania no País.
Conclusão
O fenômeno da homossexualidade vem sofrendo enorme preconceito ao longo da história, essa não aceitação se deveu principalmente à igreja, que entendia o casamento como a única forma de perpetuar a espécie, passando a alimentar fortemente essa discriminação contra o homossexual, pois se acreditavaque essa prática podia interferir no propósito do criador.
De pecado à doença, a homossexualidade ganhou denominações que garantiram sua rejeição historicamente e, foi somente em 1995 que deixou de ser considerada uma doença e passou a ser algo natural. A separação da Igreja do Estado que se tornou um Estado laico permitiu que os homossexuais se tornar mais livres, o que não resta dúvida foram conquistas bastante expressivas e libertadoras, embora não tenham promovido a extinção do preconceito contra eles, mas que representou um quadro mais ameno com relação ao desrespeito e discriminação.
Ganhou legislação e direitos reconhecidos legalmente, embora não por unanimidade, pois ainda há quem tente negar-lhes o direito à cidadania, como se não fossem pessoas inseridas na classe de seres humanos e, portanto não merecedoras dos princípios democráticos presentes e expressos em nossa Constituição que diz “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, o que não é permitido distinção pela orientação sexual de cidadãos, até porque, o Brasil goza de um regime democrático, significando que a todos estão assegurados os princípios da dignidade, liberdade, igualdade e isonomia.
Baseados, então, nesses princípios, aos homossexuais são asseguradas a liberdade, a convivência em sociedade e a união estável com seus iguais.
A pesquisa realizada buscou “investigar as percepções (indicadores subjetivos) sobre o fenômeno de práticas sociais discriminatórias em razão da orientação sexual e da identidade de gênero das pessoas, bem como manifestações diretas e indiretas de atitudes preconceituosas”.
Intolerância Sexual é um termo que se refere ao conjunto de ações e ideias que privilegiam entes de determinado gênero (ou orientação sexual) em detrimento Em resumo, digamos que é a repulsa e o desrespeito a diferentes formas de expressão sexual e amorosa.
Mesmo com o crescimento da conscientização sexual, no Brasil foram assassinados 312 gays, lésbicas ou travestis em 2013, segundo a organização Grupo Gay da Bahia (GGB). Com esses números, o país tornou-se o lugar onde mais ocorrem assassinatos de homossexuais. Isso, de certa forma, reflete a intolerância sexual que a diversidade enfrenta.
Pesquisa publicada em março deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela que 59% afirmaram que ficam desconfortáveis ao ver um beijo gay em público. Entretanto, a metade concorda que os casais homossexuais devem ter direitos idênticos aos héteros. É aquele famoso paradoxo do “não tenho preconceito, mas não quero perto de mim”.
Os mais jovens mostram – através de pesquisas, opiniões em redes sociais, entre outros – serem mais tolerantes sexualmente, respeitando a homossexualidade bem mais que os mais velhos. A criminalização da homofobia, novas práticas educativas e o engajamento político seriam ótimas alternativas para o enfretamento desta problemática

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