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Técnicas de Condicionamento 1 ■ Objetivos Ao terminar este capítulo, você deverá ser capaz de • Examinar os papéis do fisioterapeuta esportivo e do preparador físico na garantia da boa forma física do atleta. • Identificar os princípios do condicionamento. • Defender a importância dos períodos de aquecimento e de resfriamento. • Avaliar a importância da força, da flexibilidade e da resistência cardiorrespiratória tanto para o desempenho atlético quanto para a prevenção de lesões. • Analisar técnicas e princípios específicos para melhorar a resistência cardiorrespiratória, a força muscular e a flexibilidade. • Discutir os testes de aptidão física e identificar testes específicos para avaliar os vários parâmetros desta. • Aplicar o conceito de periodização e identificar os vários períodos do treinamento em cada fase. ■ Sumário A relação entre os fisioterapeutas esportivos e os preparadores físicos 23 Princípios do condicionamento 23 Aquecimento e resfriamento 24 Resistência cardiorrespiratória 25 A importância da potência, resistência e força muscular 33 Para melhorar e manter a flexibilidade 46 Avaliação da aptidão física 55 A periodização do condicionamento 55 Resumo 57 ■ Palavras-chave princípio AEDI resistência cardiorrespiratória efeito do treinamento treinamento intervalado força muscular potência resistência muscular hipertrofia atrofia centro (CORE) exercício isométrico contração concêntrica (positiva) contração excêntrica (negativa) exercício isotônico acomodação da resistência exercício isocinético treinamento em circuito exercício pliométrico agonista antagonista inibição autogênica alongamento balístico alongamento dinâmico alongamento estático facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) Prentice_Parte_I.indd 22Prentice_Parte_I.indd 22 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 23 O exercício é fator essencial no condicionamento fí-sico, na prevenção de lesões e na reabilitação pós--lesão. O fisioterapeuta esportivo que trabalha com a população de atletas estudantes (do ensino médio, de faculdades e universidades) ou com atletas profissio- nais sabe muito bem que, para ter sucesso em competi- ções de alto nível, esses atletas precisam estar em boa for- ma. O atleta que não está em boa forma física fica mais suscetível a lesões. O fisioterapeuta espor- tivo deve reconhe- cer que o condicio- namento impróprio é um dos fatores que mais contribuem para lesões esportivas. É essencial que o atleta faça exercícios de condicionamento que possam mini- mizar a possibilidade de lesão ao mesmo tempo em que maximizam o desempenho.49 Os princípios básicos dos exercícios de condiciona- mento também se aplicam às técnicas dos exercícios terapêuticos, de reabilitação ou de recondicionamento, especificamente voltadas para a recuperação da função corporal normal após lesões. Os fisioterapeutas esporti- vos que atendem pacientes em clínicas ou hospitais têm mais chances de aplicar esses princípios no recondicio- namento ou na reabilitação do indivíduo lesionado. O termo exercício terapêutico talvez seja o mais amplamente usado para indicar exercícios empregados em programas de reabilitação. De qualquer modo, seja qual for o foco principal – deixar o atleta em boa forma ou recondicionar o atleta lesionado –, o fisioterapeuta esportivo precisa conhecer bem os princípios básicos da melhoria da resistência car- diorrespiratória, da força e da resistência muscular e da flexibilidade. A RELAÇÃO ENTRE OS FISIOTERAPEUTAS ESPORTIVOS E OS PREPARADORES FÍSICOS A responsabilidade de garantir a boa forma do atleta para a competição depende da equipe destinada a cuidar des- se aspecto do programa esportivo. No nível profissional e na maioria das faculdades e universidades, é contratado um preparador físico em período integral para orientar as sessões de treinamento individuais e em grupo. Nos Estados Unidos, embora não sejam todos, muitos prepa- radores físicos possuem o certificado da National Strength and Conditioning Association. Quando há um preparador físico envolvido, é essencial que tanto os fisioterapeutas esportivos quanto os técnicos da equipe mantenham com esse profissional um canal de comunicação aberto e tra- balhem em conjunto para garantir aos atletas a obtenção de um ótimo nível de condicionamento. O papel específico do fisioterapeuta esportivo é re- visar criticamente o programa de treinamento e condi- Estar fora de forma é uma das principais causas de lesão no esporte. cionamento elaborado pelo preparador físico e tomar co- nhecimento do que se espera dos atletas a cada dia. O fisioterapeuta esportivo deve se sentir à vontade para dar sugestões e fazer recomendações em benefício da saúde e do bem-estar dos atletas. Se houver sinais de que deter- minado exercício ou alguma sessão de treinamento possa estar causando excessivo número de lesões, o fisiotera- peuta esportivo deverá informar o problema ao prepa- rador físico, para que seja feita a substituição por algum exercício alternativo. Quando o atleta sofre uma lesão e é submetido a um programa de reabilitação, deve ser responsabilidade do fisioterapeuta esportivo comunicar ao preparador físico sobre possíveis limitações e/ou modificações no programa de condicionamento. O fisioterapeuta esportivo tem de respeitar o papel do preparador físico, que consiste em colocar o atleta em forma. Entretanto, a reabilitação do paciente lesionado fica sob a responsabilidade do fisiote- rapeuta. Nos Estados Unidos, na maioria dos estabelecimentos de ensino médio, não há um preparador físico disponível; a responsabilidade pela boa forma do atleta cabe ao fisio- terapeuta esportivo e aos técnicos dos times. Nesse caso, com bastante frequência, o fisioterapeuta esportivo assu- me o papel de preparador físico, além de manter as suas responsabilidades de fisioterapeuta. Frequentemente, o fisioterapeuta esportivo considera necessário não apenas elaborar programas de treinamento e condicionamento, mas também supervisionar a sala de musculação e en- sinar a atletas jovens e inexperientes o que eles devem fazer para garantir a boa forma nas competições. O fisio- terapeuta esportivo tem de exigir dos técnicos dos times cooperação na supervisão do programa de treinamento e condicionamento. PRINCÍPIOS DO CONDICIONAMENTO Os seguintes princípios devem ser respeitados em todos os programas de condicionamento, a fim de minimizar a probabilidade de lesões: 1. Segurança. Garantir a segurança no ambiente de con- dicionamento. Dedicar o tempo necessário à tarefa de ensinar a cada atleta as técnicas corretas, como ele deve se sentir durante a sessão de treino e quando ele deve forçar o treino ou moderá-lo.38 2. Aquecimento/resfriamento. Dedicar o tempo necessário ao aquecimento antes de iniciar qualquer atividade. Não negligenciar o período de resfriamento após a sessão de treinamento. 3. Motivação. Geralmente os atletas são pessoas altamen- te motivadas a trabalhar duro pois querem ter êxi- to no esporte praticado. Variar o programa de trei- namento e incorporar técnicas de periodização pode manter o programa agradável, evitando a rotina e o tédio (veja a seção sobre periodização no final deste capítulo). Prentice_Parte_I.indd 23Prentice_Parte_I.indd 23 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 24 William E. Prentice sioterapeutas esportivos concorda, empiricamente, que o período de aquecimento consiste em precaução contra le- sões musculoesqueléticas e possíveis dores musculares.30 O bom aquecimento também pode melhorar certos as- pectos do desempenho.3, 87 A função do aquecimento é preparar o corpo fisiolo- gicamente para o trabalho físico que está por vir. O pro- pósito é estimular gradualmente o sistema cardiorrespira- tório até um nível moderado, a fim de aumentar o fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos em atividade e elevar a temperatura muscular.94 A atividade moderadaacelera os processos metabó- licos que produzem aumento da temperatura corporal central. O aumento da temperatura dos músculos es- queléticos altera as suas propriedades mecânicas. A sua elasticidade (limite de extensão que o músculo pode atin- gir) também aumenta, e a viscosidade (medida em que o músculo pode mudar de forma) diminui. Uma boa rotina de aquecimento começa com 2 ou 3 minutos de caminhada lenta, trote ou bicicleta, a fim de aumentar o metabolismo e aquecer os músculos. O surgimento de um pouco de suor é um bom indicador de que a temperatura muscular aumentou. Embora pesqui- sas tenham indicado que o aumento da temperatura cen- tral é efetivo na redução de lesões, há pouco ou nenhum dado científico que evidencie que o alongamento duran- te o aquecimento reduza lesões. Empiricamente, muitos profissionais acham que o alongamento deve fazer parte do aquecimento e continuam a recomendar a inclusão de exercícios de flexibilidade. Também não há indícios de que o alongamento cause algum dano. Aquecimento dinâmico Durante muitos anos, a téc- nica aceita consistia em fazer um trote leve, seguido de algum alongamento estático. Uma abor- dagem mais contem- porânea usa o aque- cimento ativo ou “dinâmico” a fim de preparar o atleta para a atividade física. O aquecimento dinâmico envolve movimentação contínua, usando atividades de pular e sal- tar, com diferentes repetições e padrões de movimentação dos pés. Isso desenvolve a coordenação e a habilidade mo- tora, à medida que acelera o sistema nervoso. Também prepara os músculos e as articulações de modo mais espe- cífico para a atividade do que o alongamento estático. O aquecimento dinâmico força os indivíduos a manterem o foco e a concentração. Deve incluir exercícios destinados aos principais grupos musculares. O aquecimento dinâmi- co inteiro pode ser feito em bem pouco tempo, aproxima- damente 5 minutos, ou em até 20 minutos, dependendo dos objetivos, da idade e do nível de aptidão física do gru- po. O Foco 1.1: “Rotina do aquecimento dinâmico” lista uma série de atividades que podem ser incluídas nesse tipo de aquecimento. A atividade básica deve ter início logo depois da rotina de aquecimento. O aquecimento envolve aquecer o corpo em geral e aquecer áreas específicas de acordo com as demandas do esporte. 4. Sobrecarga. Para melhorar qualquer componente fisio- lógico, o indivíduo tem de trabalhar mais do que está acostumado a fazer. Logan e Wallis identificaram o princípio AEDI, diretamente rela- cionado ao princípio da sobrecar- ga.61 AEDI é o acrônimo de Adap- tação Específica a Demandas Impostas. O princípio AEDI deter- mina que, quando submetido a estresses e sobrecargas de variadas intensidades, o corpo adapta-se gradual- mente, ao longo do tempo, a fim de superar quaisquer demandas que lhe sejam impostas. Embora a sobre- carga seja um fator crítico no condicionamento, o es- tresse não pode ser tão grande a ponto de produzir dano ou lesão antes que o corpo tenha a chance de se ajustar especificamente ao aumento das demandas. 5. Consistência. Para que o programa de condicionamen- to seja efetivo, o indivíduo precisa realizá-lo com re- gularidade. 6. Progressão. Aumentar a intensidade do programa de condicionamento gradualmente e de acordo com a capacidade do indivíduo para que ele se adapte a es- forços crescentes. 7. Intensidade. Aumentar mais a intensidade do que a quantidade do trabalho. Os preparadores e os fisio- terapeutas esportivos costumam confundir trabalhar duro com trabalhar por longos períodos de tempo. Por isso, cometem o erro de prolongar a sessão de treino em vez de aumentar o ritmo ou a carga. O atle- ta cansado fica propenso a lesões. 8. Especificidade. Identificar os objetivos específicos do programa de condicionamento. O programa deve ser elaborado a fim de atender os componentes específi- cos da aptidão física (ou seja, força, flexibilidade, re- sistência cardiorrespiratória) relacionados à atividade da qual o indivíduo participa. 9. Individualidade. As necessidades de indivíduos dife- rentes variam consideravelmente. O preparador bem -sucedido é aquele que reconhece essas diferenças individuais e ajusta ou altera o programa de condi- cionamento para melhor atender ao indivíduo. 10. Estresse mínimo. Esperar que os atletas treinem o mais perto possível de seus limites fisiológicos. Force o atle- ta a ir o mais longe possível, mas considere outros as- pectos estressantes de suas vidas e permita-lhes certo tempo de descanso, livres das demandas do esporte praticado. AQUECIMENTO E RESFRIAMENTO Aquecimento Em geral, considera-se que deve haver um período de exercícios de aquecimento antes da sessão de treino, em- bora a revisão da literatura baseada em dados científicos revele poucos resultados de pesquisas para sustentar a eficácia do aquecimento. Apesar disso, a maioria dos fi- Princípio AEDI Adaptação Específica a Demandas Impostas Prentice_Parte_I.indd 24Prentice_Parte_I.indd 24 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 25 experiência e a observação indicam que quem se alon- ga durante o período de resfriamento tende a ter menos problemas de dores musculares após atividades de muito esforço.68 RESISTÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA Resistência cardiorrespiratória Capacidade de man- ter o corpo inteiro e os músculos grandes em atividade durante períodos de tempo pro- longados. O sistema cardiorrespi- ratório oferece um meio de for- necimento de oxigênio aos vários tecidos do corpo.60 Para todos os que se engajam em exercícios fí- sicos, a resistência cardiorrespira- tória é crítica tanto para o desem- penho quanto para a prevenção de fadiga indevida, que pode pre- dispor a lesões. Resistência cardiorrespiratória Capacidade de manter o corpo inteiro e os músculos grandes em atividade durante períodos de tempo prolongados O indivíduo não deve esperar mais de 15 minu- tos após o aquecimento para iniciar a atividade es- portiva principal, embora os efeitos possam durar cerca de 45 minutos.74 Resfriamento Logo após a sessão de exercícios ou de treina- mento, um período de resfriamento pode ser be- néfico. O período de res- friamento permite que o corpo esfrie e retorne ao estado de repouso e pode durar de 5 a 10 minutos. Embora o aquecimento seja comum, a importância do resfriamento costuma ser ignorada. Mais uma vez, a Rotina do aquecimento dinâmico Dois conjuntos de cones são posicionados, mantendo-se 10 a 20 jardas (9-18 metros) de distância entre eles. O indivíduo faz os seguintes exercícios dinâmicos entre os cones, depois corre de volta até o ponto de partida. 1. Corre de frente 2. Corre de costas 3. Caminha, alongando a panturrilha 4. Caminha, alongando os isquiotibiais 5. Ergue o joelho até tocar o peito com a ajuda da mão 6. Ergue o joelho até tocar o peito oposto com a ajuda da mão 7. Caminha, alongando o adutor com a ajuda da mão (foto) 8. Movimenta-se para as laterais, alternando direita e es- querda 9. Caminha, avançando para as laterais, alternando direita e esquerda 10. Pula com os joelhos baixos 11. Caminha, avançando com os braços estendidos sobre a cabeça 12. Caminha, avançando com rotações do tronco para os dois lados 13. Caminha, alongando o quadríceps 14. Corre, tocando as nádegas com os pés 15. Faz o exercício de “girar quadril para fora” 16. Faz o exercício de “girar quadril para dentro” 17. Faz o “carioca” para a direita e depois para a esquerda 18. Pula, erguendo ao máximo o joelho 19. Empina 20. Corre com os joelhos altos 21. Pedala para trás, tocando as nádegas com os pés 22. Faz um treino de velocidade para a frente FOCO 1.1 FOCO NO TRATAMENTO, NA REABILITAÇÃO E NO RECONDICIONAMENTO Uma maratonista chega à clínica de medicina esporti- va com queixas de peso nos membros inferiores durante as sessões de treino. Afirma que sente dificuldade ao fa- zer o aquecimento e só con- segue “ficar solta” quase no final da sessãoe acha que está sempre à beira de dis- tender um músculo. O que o fisioterapeuta esportivo deve recomendar como rotina específica de aquecimento, que deverá ser feita de forma consistente pela atleta antes de começar a sessão de treino? 1 .1 E x e rc íc io d e A p li c a ç ã o C lí n ic a Prentice_Parte_I.indd 25Prentice_Parte_I.indd 25 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 26 William E. Prentice Três fatores determinam a taxa máxima de uso do oxigênio: a respiração externa, envolvendo o processo ventilatório ou a função pulmonar; o transporte de gás, que é realizado pelo sistema cardiovascular (ou seja, o coração, os vasos sanguíneos e o sangue); e a respiração interna, que envolve o uso do oxigênio pelas células para produzir energia. Desses três fatores, o mais limitador geralmente é a capacidade de transportar oxigênio pelo sistema; portanto, o sistema cardiovascular limita a taxa geral de consumo de oxigênio. Quando o indivíduo al- cança uma faixa elevada de capacidade aeróbia máxima, dentro do seu limite hereditário, isso indica que todos os três sistemas estão trabalhando bem. Efeitos sobre o coração O coração é o principal mecanismo de bombeamento, fa- zendo o sangue oxigenado circular por todo o corpo até os tecidos ativos. Quando o corpo começa a se exercitar, os músculos passam a usar o oxigênio a uma taxa muito mais alta, e o coração tem de bombear mais sangue oxi- genado para atender ao aumento da demanda. O coração é capaz de se adaptar a uma maior demanda por vários mecanismos. A frequência cardíaca apresenta uma adap- tação gradual ao aumento da carga de trabalho, aumen- tando de modo proporcional à intensidade do exercício, e depois atinge um platô, em determinado nível, após cerca de 2 a 3 minutos (Fig. 1.2). O monitoramento da frequência cardíaca é um mé- todo indireto de estimar o consumo de oxigênio. Em ge- ral, a frequência cardíaca e o consumo de oxigênio man- têm uma relação linear, embora diante de intensidades muito baixas ou altas essa relação linear seja quebrada (Fig. 1.3).14 Durante atividades de intensidade mais alta, a frequência cardíaca máxima pode ser alcançada antes do consumo máximo de oxigênio, que continua a su- bir.54 Quanto maior a intensidade do exercício, mais alta a frequência cardíaca. Por causa dessas relações, torna-se evidente que a taxa de consumo de oxigênio pode ser es- timada a partir da frequência cardíaca.20 Transporte e utilização de oxigênio Basicamente, o transporte de oxigênio pelo corpo en- volve o funcionamento coordenado de quatro compo- nentes: o coração, os pulmões, os vasos sanguíneos e o sangue. A melhoria da resistência cardiorrespiratória pelo treinamento ocorre em função do aumento da ca- pacidade de cada um desses quatro elementos de forne- cer o oxigênio necessário aos tecidos ativos. A taxa má- xima de absorção e uso do oxigênio durante o exercício é chamada de capacidade aeróbia máxima ( ∙VO2max.). 58 A realização de qualquer atividade exige determina- da taxa de consumo de oxigênio que geralmente é a mesma para todas as pessoas, dependendo do nível de aptidão física. Quanto mais elevada é a taxa ou a inten- sidade de realização da atividade, maior é o consumo de oxigênio. Cada pessoa tem a sua taxa máxima de con- sumo de oxigênio. A capacidade de realizar a atividade (ou de entrar em fadiga) está diretamente relacionada à quantidade de oxigênio necessária a essa atividade e fica limitada à taxa máxima de consumo de oxigênio da pessoa. Quanto maior a porcentagem do consumo má- ximo de oxigênio exigida durante uma atividade, me- nor o tempo durante o qual a atividade pode ser man- tida (Fig. 1.1).67 A taxa máxima de uso de oxigênio é uma característi- ca determinada geneticamente; a pessoa herda certa faixa de capacidade aeróbia máxima e, quanto mais ativa essa pessoa for, mais tempo a sua capacidade aeróbia máxima será mantida nesse nível.33 O programa de condiciona- mento permite que o indivíduo aumente a sua capaci- dade aeróbia máxima até o limite mais elevado dentro da sua faixa. Com mais frequência, a capacidade aeróbia máxima é apresentada como o volume de oxigênio usado em relação ao peso corporal por unidade de tempo (mL/ kg/min). A capacidade aeróbia máxima normal para a maioria dos atletas em idade universitária fica na faixa de 45 a 60 mL/kg/min.84 Um homem maratonista de nível internacional pode ter uma capacidade aeróbia máxima de 70 a 80 mL/kg/min. Porcentagem da capacidade aeróbia máxima Te m p o FIGURA 1.1 Quanto maior a porcentagem da capacida- de aeróbia máxima exigida durante uma atividade, menor deve ser o tempo da atividade. Fr eq uê nc ia c ar d ía ca s ub m áx im a 2-3 minutos Tempo FIGURA 1.2 São necessários 2 ou 3 minutos para que a frequência cardíaca chegue ao platô de uma determinada carga de trabalho. Prentice_Parte_I.indd 26Prentice_Parte_I.indd 26 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 27 aumenta até aproximadamente quatro vezes o seu valor de repouso em um indivíduo normal e pode aumentar até seis vezes em atletas de resistência dos grupos de elite. Ocorre um efeito do treinamento sobre o débito car- díaco do coração – o volume de ejeção aumenta enquanto a frequência cardíaca do exercício se reduz em um exercício com deter- minada carga padrão. O coração torna-se mais eficiente porque é capaz de bombear mais sangue a cada batimento. Por ser um mús- culo, o coração se hipertrofia até certo ponto, mas essa hipertrofia não é de modo algum um feito negativo do treinamento. Efeitos sobre a capacidade de trabalho A resistência cardiorrespiratória desempenha papel críti- co na capacidade de o indivíduo resistir à fadiga. A fadiga está intimamente relacionada à porcentagem da capaci- dade aeróbia máxima que determinada carga demanda.74 Vejamos um exemplo. A Figura 1.6 apresenta dois indi- víduos, A e B. O indivíduo A tem capacidade aeróbia má- xima de 50 mL/kg/min, ao passo que o B tem apenas 40 mL/kg/min. Se A e B fizerem exercícios com a mesma in- tensidade, A vai trabalhar em um nível mais baixo de ca- pacidade aeróbia máxima do que B. Consequentemente, A será capaz de sustentar a sua atividade por um período de tempo mais longo. O desempenho pode ficar prejudi- cado se a capacidade de usar o oxigênio de modo eficiente estiver prejudicada. Portanto, melhorar a resistência car- diorrespiratória é, obrigatoriamente, um componente es- sencial em qualquer programa de condicionamento. Os sistemas de energia Várias atividades esportivas envolvem demandas específi- cas de energia. O sprinting e o salto, por exemplo, são ati- vidades de alta energia, exigindo uma produção relativa- Efeito do treinamento O volume de ejeção aumenta enquanto a frequência cardíaca se reduz em um exercício com determinada carga Um segundo mecanismo pelo qual o coração é capaz de se adaptar a aumentos de demanda durante o exercí- cio consiste no aumento do volume de ejeção – volume de sangue bombeado a cada batimento cardíaco.17 O coração bombeia aproximadamente 70 mL de sangue por bati- mento. O volume de ejeção pode continuar a aumentar apenas até o ponto em que não há mais tempo disponível entre os batimentos. Esse ponto corresponde a cerca de 40% da frequência máxima; acima desse nível, aumentos no volume de sangue bombeado por unidade de tempo devem acontecer exclusivamente por meio de aumentos na frequência cardíaca (Fig. 1.4).66 Juntos, o volume de ejeção e a frequência cardíaca determinam o volume de sangue a ser bombeado pelo co- ração em certa unidade de tempo. A isso denominamos débito cardíaco, que indica quanto sangue o coração é capaz de bombear em exatamente 1 minuto.60 Cerca de 5 L de sangue são bombeados pelo coração durante cada minu- to de descanso. Portanto, o débito cardíaco é o principal determinante da taxa máxima possível de consumo de oxigênio (Fig. 1.5). Durante o exercício, o débito cardíaco P or ce nt ag em d a cap ac id ad e ae ró b ia m áx im a 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 10 20 30 40 50 Frequência cardíaca 60 70 80 90 100 FIGURA 1.3 A frequência cardíaca máxima é alcançada geralmente ao mesmo tempo em que a capacidade aeró- bia máxima. Vo lu m e d e ej eç ão 40% Frequência cardíaca FIGURA 1.4 Platôs do volume de ejeção a 40% da fre- quência cardíaca máxima. D éb ito c ar d ía co Capacidade aeróbia Máxima Máximo FIGURA 1.5 O débito cardíaco limita a capacidade aeró- bia máxima. Prentice_Parte_I.indd 27Prentice_Parte_I.indd 27 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 28 William E. Prentice glicose e transferido para o sangue a fim de atender às necessidades energéticas do corpo. As gorduras e as pro- teínas também podem ser metabolizadas para gerar ATP. Assim que o glicogênio do músculo e do fígado se es- gota, o corpo passa a depender mais das gorduras arma- zenadas no tecido adiposo para atender às demandas de energia. Quanto mais tempo dura uma atividade, maior é a quantidade de gordura usada, especialmente durante os estágios finais dos eventos de longa duração. Durante o repouso e o esforço submáximo, tanto a gordura quanto os carboidratos são usados como substrato energético em uma proporção de 60 a 40%.66 Seja qual for a fonte de nutrientes que produz a ATP, ela está sempre disponível na célula como uma reserva de energia imediata. Quando todas as fontes de ATP disponí- veis se esgotam, é preciso gerar mais para que a contração muscular continue. Metabolismo aeróbio versus anaeróbio Três siste- mas de geração de energia funcionam no tecido muscular para produzir ATP: ATP, glicolítico e oxidante. Durante explosões repentinas de atividade em exercícios inten- sivos ou de curto prazo, a ATP pode ser rapidamente metabolizada para atender às demandas de energia. No entanto, após poucos segundos de exercício intensivo, as pequenas reservas de ATP esgotam-se. O corpo passa a usar o glicogênio armazenado como fonte de energia. O glicogênio é quebrado para fornecer glicose, que depois é metabolizada dentro das células musculares para gerar ATP para as contrações musculares sem a necessidade de oxigênio. Essa quebra também produz um subproduto chamado ácido láctico, ou lactato, que passa das células musculares para a corrente sanguínea, a fim de ser usado em algum outro lugar. Esse sistema de energia é chamado de metabolismo anaeróbio.11 À medida que o exercício continua, o corpo passa a depender de uma forma mais complexa de metabolismo de carboidratos e de gorduras para gerar ATP. Esse siste- ma de energia exige oxigênio e por isso é chamado de metabolismo aeróbio. O sistema aeróbio queima o lactato, usando oxigênio, removendo-o e criando muito mais ATP do que o sistema anaeróbio. Normalmente, o tempo para eliminar o lactato do sistema é de 20 minutos. Treinar para melhorar a resistência ajuda o indivíduo a livrar-se do ácido láctico antes que se acumule, a ponto de causar fadiga muscular.5 Em muitas atividades, ambos os sistemas – o aeróbio e o anaeróbio – funcionam simultaneamente.66 O grau de envolvimento de cada um é determinado pela inten- sidade e duração do exercício. Quando a intensidade do exercício permite o fornecimento de oxigênio suficiente para as demandas dos tecidos ativos, ele é considerado aeróbio. Contudo, se o exercício tem alta intensidade ou se a sua duração é tal que o oxigênio disponível torna-se insuficiente para atender às demandas energéticas, en- tão passa a ser anaeróbio. Consequentemente, registra- -se um débito de oxigênio, que deverá ser pago duran- te o período de recuperação. As pequenas explosões de mente grande de energia por um tempo curto. A corrida e a natação de longa distância, no entanto, são essencialmente atividades de baixa energia por unidade de tempo, exigin- do produção de energia por um tempo prolongado. Outras atividades físicas demandam um misto de utilização de bai- xa e de alta energia. Essas várias demandas de energia podem ser atendidas por processos diferentes, pelos quais se fornece energia aos músculos esqueléticos.* ATP: a fonte imediata de energia Na quebra de alimentos nutritivos, há produção de energia.66 Essa energia, por sua vez, é usada para produzir ade- nosina trifosfato (ATP), derradeira forma de ener- gia passível de uso em atividades musculares. A ATP é produzida no tecido muscular a partir da glico- se ou do glicogênio sanguí- neo. A glicose é derivada da quebra dos carboidratos alimentares. Quando não é necessária de imediato, a glicose fica armazenada na forma de glicogênio no músculo em repouso e no fígado. Depois de algum tempo, o glicogênio arma- zenado no fígado pode ser convertido novamente em * N. de R.T.: Mini-camps. Campos de dimensão menor, usados pelos ti- mes da National Football League em maio de cada ano, para organização do novo esquema de jogo. Um jogador profissional de futebol americano sofreu um estiramento grau 2 no isquiotibial na sexta semana da temporada. Pouco antes dos playoffs, lesionou nova- mente o mesmo músculo quando fazia um treino de baixa velocidade com exercí- cios de drible. Infelizmente, foi forçado a permanecer na lista dos reservas lesionados durante toda a temporada, apesar de ter feito todos os esforços para voltar. Esse atleta perdeu grande parte de seu condicionamento car- diorrespiratório porque não podia correr e exibia sinais de fraqueza na força muscu- lar dos membros inferiores porque tinha dificuldade em realizar levantamentos. Considerando que ele terá de participar de dois mini- -camps* durante a primave- ra e o começo do verão e que a prática da pré-temporada começará oficialmente em julho, qual deve ser o seu plano de condicionamento na pós-temporada e fora de temporada? 1 .2 E x e rc íc io d e A p li c a ç ã o C lí n ic a Porcentagem da capacidade aeróbia máxima P or ce nt ag em d a ca p ac id ad e ae ró b ia m áx im a (m L/ kg /m in ) B A50 40 30 20 10 0 Carga de trabalho FIGURA 1.6 A pessoa A provavelmente é capaz de tra- balhar por mais tempo do que a pessoa B em função da utilização de uma capacidade aeróbia máxima mais baixa. Prentice_Parte_I.indd 28Prentice_Parte_I.indd 28 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 29 corpo é forçado a fazer uma série de ajustes para respon- der ao aumento das demandas da carga de trabalho. Uma vez que a frequência cardíaca mantém uma re- lação linear com a intensidade do exercício e com a taxa de consumo de oxigênio, torna-se relativamente simples identificar a carga de trabalho específica (ritmo) que le- vará o platô da frequência cardíaca ao nível desejado. Monitorando a frequência cardíaca, ficamos sabendo se o ritmo está rápido demais ou lento demais em relação à frequência desejada.5 Várias fórmulas identificam a faixa de frequência car- díaca do treinamento. 5 Para calcular a frequência cardíaca específica, devemos determinar a frequência cardíaca má- xima. A exata determinação da frequência cardíaca (FC) máxima envolve levar o indivíduo a se exercitar no nível máximo e monitorar a sua FC por meio de um eletrocar- diograma. Fora do laboratório, é difícil fazer isso. Estima -se que a FC máxima média encontra-se em torno de 220 batimentos por minuto. Mas ela diminui com a idade. Portanto, um modo relativamente simples de estimar a FC máxima de um adulto consiste na fórmula FCmáx � 220 – idade. Para um indivíduo de 20 anos de idade, a frequên- cia cardíaca máxima ficaria em torno de 200 batimentos por minuto (220-20 � 200). A reserva da frequência car- díaca (RFC) é usada para determinar a FC durante o exer- cício. A RFC é a diferença entre a frequência cardíaca má- xima (FCmáx) e a frequência cardíaca em repouso (FCrep): 48 RFC � FCmáx – FCrep Quanto maior a diferença, mais ampla é a RFC e maior a faixa de potenciais intensidades da frequência cardíaca de treinamento. A equação de Karnovené usada para calcu- lar a frequência cardíaca durante o exercício na presença de determinada intensidade de treinamento. Para usar a fórmula de Karvonen, é preciso conhecer a FCmáx e a FCrep do indivíduo:47 FC no exercício � % da intensidade-alvo (FCmáx – FCrep) + FCrep Quando usamos estimativas da FCmáx e/ou da FCrep, os valores são sempre aproximados. Portanto, em uma pes- soa de 20 anos de idade, com frequência cardíaca em repouso de 70 batimentos por minuto, a RFC será 130 (200 – 70 � 130). O coração trabalha em uma frequên- cia entre o limite mais baixo e o mais alto. O limite mais contração muscular, como nos sprints da corrida ou da natação, usam predominantemente o sistema anaeró- bio. No entanto, eventos de longa duração dependem muito do sistema aeróbio. A maioria das atividades usa uma combinação dos metabolismos anaeróbio e aeróbio (Tab. 1.1). Técnicas de treinamento para melhorar a resistência cardiorrespiratória A resistência cardiorrespiratória pode melhorar em re- sultado de uma série de métodos.57 Em grande parte, a extensão dessa melhoria será determinada pelos níveis iniciais da resistência cardiorrespiratória do indivíduo. Treinamento contínuo O treinamento contínuo en- volve quatro elementos relacionados à atividade: • Frequência • Intensidade • Tipo • Tempo Frequência Para observar pelo menos uma melhoria mínima na resistência cardiorrespiratória, é necessário que a pessoa faça no mínimo três sessões por semana.5 Se possível, o indivíduo deve planejar 4 a 5 sessões por se- mana. O atleta competiti- vo tem de estar preparado para treinar seis vezes por semana. Todos devem tirar pelo menos um dia de fol- ga na semana para permi- tir o descanso tanto psico- lógico quanto fisiológico. Intensidade Dos quatro fatores considerados, o mais crítico é a intensidade do treinamento, embora recomendações relativas à intensidade variem. A in- tensidade é particularmen- te crítica nas etapas iniciais do treinamento, quando o TABELA 1.1 Comparação entre as atividades aeróbias e anaeróbias Modo Intensidade relativa Desempenho Frequência Duração Diversos Atividades aeróbias Atividades sustentadas e contínuas, de longa duração Menos intensas 60-90% da frequência máxima Pelo menos 3, mas não mais do que 6 ×/semana 20-60 min Menor risco para indivíduos sedentários ou mais velhos Atividades anaeróbias Atividades explosivas e súbitas, de curta duração Mais intensas 90-100% da frequência máxima 3 a 4 ×/semana 10 s a 2 min Usadas em atividades esportivas e de equipe Uma jogadora de futebol so- freu uma entorse grau 1 que pode mantê-la fora da prática esportiva por uma semana. Essa atleta vinha trabalhando duro para melhorar os níveis de condicionamento e está preocupada porque ficar sem correr durante uma semana inteira pode prejudicar o seu condicionamento cardiorres- piratório. Que tipo de atividade o fisioterapeuta esportivo deve recomendar durante o pe- ríodo de reabilitação para ajudar a atleta a manter o nível atual de resistência car- diorrespiratória? 1 .3 E x e rc íc io d e a p li c a ç ã o c lí n ic a Prentice_Parte_I.indd 29Prentice_Parte_I.indd 29 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 30 William E. Prentice No treinamento contínuo, é mais desejável trabalhar com intensidade correspondente a 60 a 80% da frequên- cia cardíaca máxima. Obviamente, seria extremamente difícil sustentar uma atividade com intensidade relativa- mente alta por um período superior a 20 minutos. A van- tagem do treinamento intervalado é que ele permite tra- balhar nessa porcentagem de 80% ou em um nível ainda mais elevado por um período de tempo curto, seguido de um período de recuperação ativa, durante o qual o indi- víduo pode se manter na faixa de 30 a 45% da frequência cardíaca máxima.15 Portanto, a intensidade da carga de trabalho e a sua duração podem ser maiores do que no treinamento contínuo. A maioria dos esportes é anaeróbia, envolvendo bre- ves explosões de atividade intensa, seguidas de algum tipo de período de recuperação ativa (p. ex., no futebol americano, basquetebol, futebol e tênis). O condiciona- mento com a técnica intervalada permite ao atleta usar uma carga de trabalho mais específica do esporte pra- ticado. Nesse caso, o princípio da sobrecarga é aplicado pela adoção de um período de treinamento muito mais intenso. Há várias considerações importantes sobre o treina- mento intervalado. O período de condicionamento é o tempo durante o qual se mantém realmente a ativida- de contínua; o período de recuperação é aquele entre os períodos de treinamento. A sessão é um grupo de perío- dos de treinamento e de recuperação combinados; as re- petições são o número de períodos de treinamento e de recuperação por sessão. O tempo ou a distância de trei- namento é a duração ou o percurso do período de treina- mento. A taxa de recuperação de treinamento é dada pela proporção temporal entre o treinamento e a recuperação. Um exemplo de treinamento intervalado é aquele em que o jogador de futebol dá tiros de corrida. A carga de trabalho intervalada pode envolver 10 tiros de 120 jardas (110 m), com um período de recuperação de 45 segun- dos de caminhada entre os tiros. Durante essa sessão de condicionamento, a frequência cardíaca do jogador de fu- tebol provavelmente aumenta de 85 para 90% do nível máximo durante o movimento rápido e pode baixar para 30 a 45% no período de recuperação. Jogo de velocidade O jogo de velocidade é uma técni- ca de treinamento semelhante à corrida cross-country, ori- ginalmente chamado de fartlek. É similar ao treinamento intervalado no sentido de que o indivíduo tem de cor- rer durante um período de tempo específico; no entanto, o ritmo e a velocidade não são determinados. O trajeto da sessão do jogo de velocidade deve incluir um terreno de relevo variado, com desníveis de subidas e descidas e também um trecho com obstáculos, como árvores ou pe- dras. O objetivo é colocar exercícios rápidos na sessão de corrida, variando a sua duração de acordo com os propó- sitos de cada um. Uma vantagem desse tipo de condicio- namento consiste em que, como o terreno muda sempre, o trajeto pode evitar o tédio e ser realmente relaxante. baixo é calculado tomando-se 60% da reserva da fre- quência cardíaca mais a frequência cardíaca em repouso [(130�0,6) + 70 � 148]. O limite mais alto é calculado tomando-se 85% da RFC mais a frequência cardíaca em repouso [(130�0,85) + 70 � 180,5]. Seja qual for a fórmula usada, para que se observe uma melhoria mínima na resistência cardiorrespiratória, a frequência cardíaca deve ser elevada até, pelo menos, 70% de sua taxa máxima.20 Um indivíduo bem condicio- nado deve ser capaz de manter a frequência cardíaca no nível de 85%. Tipo O tipo de atividade usada no treinamento contí- nuo tem de ser aeróbio.20 As atividades aeróbias são aque- las que elevam a frequência cardíaca e a mantêm nesse nível por um tempo prolongado. As atividades aeróbias geralmente envolvem movimentos repetitivos, do corpo inteiro e dos músculos grandes, realizados no decorrer de um longo período de tempo. Exemplos de atividades aeróbias são: correr, trotar, caminhar, pedalar, nadar, pu- lar corda, subir escadas e fazer esqui cross-country. A van- tagem dessas atividades aeróbias, em comparação com outras atividades mais intermitentes, como racquetball, squash, basquetebol ou tênis, é que elas são de fácil regu- lagem, por meio do aumento ou da diminuição da veloci- dade. Uma vez que certa intensidade da carga de trabalho gera determinada frequência cardíaca, as atividades ae- róbias permitem aos atletas manter a frequência cardíaca em determinado nível-alvo. As atividades intermitentes envolvem variações de velocidade e de intensidade que fazem a frequência cardíaca oscilar consideravelmente. Embora essas atividades intermitentes melhorem a re- sistência cardiorrespiratória, é mais difícil controlar a sua intensidade. TempoPara ocorrer uma melhora mínima, o indiví- duo tem de realizar pelo menos 20 minutos de ativi- dade contínua com a frequência cardíaca no seu nível de trabalho.5 Dados recentes sugerem que breves explo- sões de exercícios com duração bem curta, por exem- plo, de 12 minutos, podem ser suficientes para gerar melhorias. Geralmente, quanto maior a duração da car- ga de trabalho, maior a melhoria na resistência cardior- respiratória. O atleta competitivo deve treinar por pelo menos 45 minutos com frequência cardíaca no nível de treinamento. Treinamento intervalado Diferentemente do treina mento contínuo, o intervalado envolve mais atividades intermitentes, visto que consiste em períodos alternados de traba- lho relativamente intenso e de re- cuperação ativa. Esse treinamen- to permite a realização de maior quantidade de trabalho a um ní- vel mais intenso no decorrer de um período de tempo mais longo, em comparação com o trabalho contínuo.62 Treinamento intervalado Períodos alternados de trabalho e recuperação ativa Prentice_Parte_I.indd 30Prentice_Parte_I.indd 30 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 31 A B C D E F G H FIGURA 1.7 Tipos de equipamento de fitness para melhorar a resistência cardiorres- piratória. A, Bicicleta ergométrica; B, Esteira; C, Simulador de escadas; D, Aparelho de esqui cross-country; E, Aparelho elíptico; F, Bicicleta ergométrica horizontal; G, Aparelho de remo; H, Ergométrica para a parte superior do corpo. Para melhorar a resistência cardiorrespiratória, o jogo de velocidade tem de elevar a frequência cardíaca, pelo menos até os níveis de treinamento mínimo. O jogo de velocidade pode ser melhor utilizado como atividade de condicionamento fora da temporada ou como atividade de mudança de ritmo para combater o tédio de um pro- grama em que se repete a mesma atividade dia após dia. Equipamento para melhorar a resistência cardiorrespiratória A quantidade e a variedade dos equipamentos de fitness e exercícios disponíveis no mercado chegam a ser inacredi- táveis (Fig. 1.7). Os preços podem variar dos 2 dólares de uma corda de pular aos 60 mil dólares de certos dispositi- Prentice_Parte_I.indd 31Prentice_Parte_I.indd 31 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 32 William E. Prentice Orientações para aquisição de equipamentos para a prática de exercícios aeróbios Bicicleta ergométrica (Fig. 1.7 A) A maioria dos modelos trabalha apenas a parte inferior do corpo, mas alguns têm guidom móvel para braços e ombros. Al- gumas bicicletas podem ser programadas para variadas sessões de trabalho, por exemplo, para subidas. Outras permitem pedalar para trás, o que intensifica o tra- balho dos músculos isquiotibiais. Procure: • movimentação macia dos pedais • assento confortável • guidom ajustável à altura • pedal com alça de segurança, para evitar que o pé deslize e obrigar as pernas a trabalharem no curso as- cendente • carga de trabalho facilmente ajus- tável • estrutura sólida Esteira (Fig. 1.7 B) Alguns aparelhos têm inclinações ajus- táveis para simular subidas, tornando a sessão de exercício mais estafante. Al- guns podem ser programados previa- mente com variadas sessões de exercí- cios. Procure: • velocidade e inclinação facilmente ajustáveis • superfície de rolagem com largura e extensão suficiente para as suas passadas e com boa absorção de impacto • motor potente, que suporte veloci- dades altas e carga pesada Simulador de escadas (Fig. 1.7 C) Alguns modelos maiores simulam real- mente o movimento de subir escadas. A maioria deles, no entanto, têm pedais que trabalham contra o peso do usuário à medida que ele movimenta as pernas; essa característica exige menos dos joe- lhos, pois o usuário não dá passos de verdade. Algumas pessoas preferem pe- dais que permanecem paralelos ao chão; outras gostam dos giratórios. Os modelos com pedais independentes resultam em um movimento mais natural. Procure: • movimentação suave da passada • pedais largos e confortáveis, sem oscilações • resistência facilmente ajustável • barra confortável para as mãos ou corrimões para manutenção do equilíbrio Aparelho de esqui cross-country (Fig. 1.7 D) Esses aparelhos trabalham a maior par- te dos grupos musculares. Simulam o esporte ao ar livre: os pés deslizam em trilhos e as mãos seguram cordas ou bastões de modo independente ou em movimentos sincronizados. Os apare- lhos com cordas em vez de bastões po- dem oferecer uma sessão de exercícios especialmente forçada para a parte su- perior do corpo. Procure: • base longa o bastante para acomo- dar a passada • resistência ajustável a braços e per- nas • movimentação suave Aparelho elíptico (Fig. 1.7 E) O aparelho de exercício elíptico permite a realização de uma sessão cardiovascular sem impacto, que reproduz a combina- ção das ações de caminhar, subir escada e praticar o esqui cross-country, por meio de uma passada no formato elíptico, na posição de pé, usando o movimento pro- gressivo ou regressivo. Procure: • rampa ajustável eletronicamente, que permita aumentar e diminuir a inclinação • resistência ajustável Bicicleta ergométrica horizontal (Fig. 1.7 F) A horizontal é quase igual à bicicleta ergométrica regular, exceto pelo fato de que o indivíduo fica em uma posi- ção semi-inclinada, e não sentado com as costas eretas ou levemente inclinado para a frente, enquanto pedala. A van- tagem dessa posição está na redução da pressão sobre a área lombar da coluna, em particular sobre os discos lombares. Aparelho de remo (Fig. 1.7 G) O aparelho de remo fornece uma sessão de exercício mais completa do que a da corrida ou do ciclismo, porque tonifica os músculos da parte superior do cor- po. A maioria dos aparelhos tem pistões hidráulicos para possibilitar a variação da resistência; muitos modelos grandes usam um volante. Os modelos com pis- tão possuem braços hidráulicos e são mais baratos e mais compactos do que os com volante, que têm uma ação mais suave, geralmente mais similar à rema- da real. Um dos modelos novos possui até um volante dentro de um tanque com água para reproduzir o ato real de remar. Procure: • assentos e remos de movimentação suave • apoio de pés giratório Ergométrica para a parte superior do corpo (Fig. 1.7 H) A ergométrica para a parte superior do corpo é essencialmente uma bicicleta es- tacionária que o usuário pedala com os braços e não com as pernas. Esses apa- relhos são usados mais frequentemente para ajudar a manter a resistência car- diorrespiratória em programas de rea- bilitação destinados a indivíduos com lesões nos membros inferiores e que, por alguma razão, não podem realizar atividades com suporte do próprio peso. Essa ergométrica também pode ser usada como ferramenta de treinamento e con- dicionamento para ajudar a aumentar a resistência muscular dos membros supe- riores. Procure: • velocidade e resistência facilmente ajustáveis • assento confortável, que forneça apoio e estabilidade para a parte inferior das costas • movimentação suave e silenciosa FOCO 1.2 FOCO NO TRATAMENTO, NA REABILITAÇÃO E NO RECONDICIONAMENTO vos isocinéticos controlados por computador. Certamente não é preciso adquirir equipamentos de exercício caros para obter bons resultados. Muitos benefícios fisiológicos podem ser alcançados tanto com uma corda quanto com em uma esteira de 10 mil dólares. O Foco 1.2: “Orienta- ções para aquisição de equipamentos para a prática de exercícios aeróbios” identifica e comenta alguns dos equi- pamentos mais amplamente usados. Prentice_Parte_I.indd 32Prentice_Parte_I.indd 32 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 33 lo é chamado de hipertrofia,53 ao passo que a diminui- ção do tamanho do músculo é chamada de atrofia. Tamanho do músculo A força é a expressão da quan- tidade e do diâmetro das fibras musculares que compõem determinado músculo. O número de fibras é uma carac- terísticagenética; portanto, um indivíduo que contenha grande número de fibras musculares possui maior poten- cial de hipertrofia comparado a outro com um número relativamente menor de fibras.53 Explicações para a hipertrofia muscular Várias teorias têm sido propostas para explicar por que o mús- culo se hipertrofia em resposta ao treinamento de for- ça.66 Há indícios de que o número de fibras musculares aumenta porque elas se dividem em resposta ao treina- mento.36 Entretanto, essas pesquisas foram feitas com animais, e não devemos generalizá-las para seres hu- manos. Em geral, considera-se que o número de fibras é determinado geneticamente e parece não aumentar em função do treinamento. Outra hipótese consiste em que, uma vez que o mús- culo trabalha mais no treinamento de musculação, de- manda-se mais sangue para supri-lo de oxigênio e outros nutrientes. Portanto, aumenta-se o número de capila- res. Essa hipótese é correta apenas parcialmente; alguns poucos capilares são formados durante o treinamento de musculação, mas certo número de capilares inativos po- dem se encher de sangue para atender ao aumento de demanda por suprimento sanguíneo. Uma terceira teoria para explicar o aumento no ta- manho do músculo parece ser mais plausível. As fibras musculares são compostas principalmente de pequenos filamentos de proteína chamados miofilamentos, que são os elementos contráteis do músculo. Esses miofilamen- tos aumentam tanto em tamanho quanto em número em resultado do treinamento de força, fazendo com que o diâmetro da seção transversal de cada fibra muscular também aumente.36 Esse aumento é particularmente verdadeiro para os homens, embora em mulheres tam- bém se observe certo crescimento no tamanho do mús- culo.1 Mais pesquisas são necessárias para esclarecer melhor a questão e determinar as causas específicas da hipertrofia muscular. Aumento da eficiência neuromuscular Tipica- mente, com o treinamento de musculação, no início o indivíduo observa ganhos surpreendentes de força, ainda que o volume muscular não aumente. Esse ga- nho de força deve ser atribuído a outra coisa e não à hipertrofia. Para que o músculo se contraia, é preciso que um impulso seja transmitido do sistema nervoso ao músculo. Cada fibra muscular é inervada por uma unidade motora específica. Quando sobrecarregamos um músculo, como acontece no treinamento de mus- culação, ele é forçado a trabalhar de modo eficiente. A eficiência é alcançada pelo disparo de mais unidades motoras, provocando maior contração do músculo.92 A IMPORTÂNCIA DA FORÇA, DA RESISTÊNCIA (ENDURANCE) E DA POTÊNCIA MUSCULARES O desenvolvimento da força mus- cular é um componente essencial do programa de condicionamen- to de qualquer atleta. Força é a capacidade do músculo de gerar força contra uma resistência ou carga. No esporte, a maior parte dos movimentos é explosiva e tem de incluir elementos tanto de for- ça quanto de velocidade para ser efetiva. Quando se gera grande quantidade de força rapidamente, o movimento pode ser cha- mado de potência. Sem capacidade de gerar potên- cia, o atleta fica limitado em termos de desempenho.74 A força muscular está intimamente associada à resistência muscular. Re- sistência muscular é a capacidade de realizar con- trações musculares repeti- das contra uma resistência por um período de tempo prolongado. À medida que a força muscular aumenta, a tendência é que haja um aumento correspondente na resistência.55, 90 Vamos imaginar, por exemplo, um indivíduo capaz de le- vantar um peso 25 vezes. Se houver um aumento de 10% na força muscular por meio do treinamento de musculação, então é prová- vel que o número máximo de repetições aumente, pois será mais fácil levantar o mesmo peso. Fatores fisiológicos e biomecânicos que determinam o nível da força muscular A força muscular é proporcional ao diâmetro da seção transversal das fibras musculares. Quanto maior o diâmetro da seção trans- versal ou quanto maior o mús- culo, mais forte ele é e, portanto, mais força é capaz de gerar. O ta- manho do músculo tende a au- mentar, em termos de diâmetro da seção transversal, por meio do treinamento de musculação. Esse aumento de tamanho do múscu- Força muscular Força máxima que se pode aplicar ao músculo durante uma única contração máxima Potência Capacidade de gerar força rapidamente Resistência muscular Capacidade de realizar contrações musculares repetidas contra uma resistência Hipertrofia Desenvolvimento ou crescimento de um músculo causado por aumento no tamanho de suas células em resposta ao treinamento. Atrofia Redução de um músculo causada por diminuição no tamanho de suas células em função da falta de atividade. Fora da temporada, uma nadadora universitária tem seguido um programa de treinamento de musculação para aumentar a força e a re- sistência muscular. Embora tenha melhorado um pouco a força, está preocupada por- que sente que está perdendo a flexibilidade dos ombros, o que lhe parece crítico para o desempenho como nadado- ra. Ela notou também certa hipertrofia dos músculos e acha que pode ser essa a cau- sa da perda de flexibilidade. O que o fisioterapeuta esportivo pode recomendar para que a atleta continue a melhorar a força e a resis- tência muscular ao mesmo tempo em que mantém ou até melhora a flexibilidade? 1 .4 E x e rc íc io d e a p li c a ç ã o c lí n ic a Prentice_Parte_I.indd 33Prentice_Parte_I.indd 33 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 34 William E. Prentice (momento) e assim poderá produzir mais força de tor- ção em torno da articulação. O comprimento do músculo determina a tensão que pode ser gerada.42 Variando o comprimento de um mús- culo, é possível produzir diferentes tensões. Essa relação comprimento-tensão está ilustrada na Figura 1.9. Na posição B, na curva, a interação das pontes cruzadas entre os mio- filamentos de actina e miosina dentro do sarcômero está no nível máximo. Quando deixamos o músculo nesse comprimento, produzimos a maior quantidade de tensão. Na posição A, o músculo está encurtado; na posição C, alongado. Em qualquer desses casos, a interação entre os miofilamentos de actina e miosina através das pontes cru- zadas fica grandemente reduzida, e o músculo não é capaz de gerar uma tensão significativa. Overtraining O overtraining pode ter um efeito negativo sobre o desenvolvimento da força muscular. A afirmação “abusou, perdeu” é aplicável. O overtraining pode resultar em colapso psicológico (desgaste) ou fisiológico e pode envolver lesão musculoesquelética, fadiga ou doença. Engajar-se em um treinamento de musculação apropria- Consequentemente, não é incomum observarmos ganhos muito rápidos de força logo quando se inicia um primeiro pro- grama de treinamento de musculação, por causa da melhoria na função neu- romuscular.53 Outras adaptações fi- siológicas ao exercício de carga Além da hi- pertrofia muscular, há uma série de adaptações fisiológicas em função do treinamento de carga.11 A força das estruturas não contráteis, incluindo tendões e liga- mentos, aumenta. O conteúdo mineral dos ossos também aumenta, tornando-os mais fortes e mais resistentes a fra- turas. A absorção máxima de oxigênio melhora quando o treinamento de carga tem intensidade suficiente para gerar frequências cardíacas no nível de treinamento ou acima dele. Várias enzimas importantes para o metabolis- mo aeróbio e anaeróbio também aumentam.20, 66 Fatores biomecânicos A força em um dado múscu- lo é determinada não apenas pelas propriedades físicas do próprio músculo, mas também por fatores biomecâ- nicos que ditam quanta força pode ser gerada por meio de um sistema de alavancas em relação a um objeto externo.42 Se pensarmos na articulação do cotovelo como um desses sistemas de alavanca, percebemos que o músculo do bíceps produz a flexão dessa articulação (Fig. 1.8). A posição da ligação do músculo do bíceps com o braço de alavanca – nesse caso,o antebraço – determinará, em grande parte, quanta força o músculo será capaz de gerar.40 Se houver duas pessoas, A e B, e a pessoa B tiver a ligação do bíceps mais distante do centro da articulação do que a pessoa A, então ela será capaz de levantar pesos mais pesados, pois a força do músculo atuará por meio de uma alavanca mais longa Bíceps 24 cm Braço de alavanca Bíceps 22 cm Braço de alavancaA B FIGURA 1.8 A posição da ligação do tendão do músculo ao braço pode afetar a capacidade do músculo de gerar força. A pessoa B é capaz de gerar mais força do que a pessoa A, pois a ligação do tendão está mais próxima da resistência. Uma aluna universitária do primeiro ano, integrante do time principal de basquete, está sem motivação para me- lhorar a força e a aptidão fí- sica ao longo do verão e fora da temporada. Os prepara- dores físicos ficam frustrados com a atitude dela e procu- ram o fisioterapeuta espor- tivo em busca de conselhos. Como o fisioterapeuta esportivo pode convencer a atleta da importância da for- ça e do condicionamento? 1 .5 E x e rc íc io d e a p li c a ç ã o c lí n ic a Te ns ão Comprimento do músculo A B C FIGURA 1.9 Em função da relação comprimento-tensão no músculo, desenvolve-se maior tensão no ponto B e menos tensão nos pontos A e C. Prentice_Parte_I.indd 34Prentice_Parte_I.indd 34 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 35 e são consideradas as “ge- nuínas” fibras de contra- ção rápida.66 Qualquer músculo contém todos os tipos de fibras, e a sua proporção no músculo de cada indi- víduo varia de acordo com a pessoa.54 Os músculos cuja função principal é manter a postura contra a força da gravidade preci- sam de mais resistência e possuem elevada porcen- tagem de fibras de con- tração lenta. Os músculos que produzem movimen- tos de força explosivos, rápidos e de curta duração costumam ter uma por- centagem muito maior de fibras de contração rápida. Por ser definida geneti- camente, essa proporção pode desempenhar papel importante na determinação da habilidade para certa ati- vidade esportiva. Os velocistas e os levantadores de peso, por exemplo, têm grande porcentagem de fibras de con- tração rápida em comparação com as de contração len- ta.20 No entanto, os corredores de maratonas geralmen- te têm porcentagem mais elevada de fibras de contração lenta. As capacidades metabólicas dos dois grupos de fi- bras, de contração lenta e de contração rápida, podem ser aumentadas por meio de um treinamento específico de força e de resistência. Parece que, em resposta ao treina- mento, pode ocorrer uma transformação quase comple- ta das fibras de contração lenta em fibras de contração rápida e vice-versa.66 As fibras que estão no processo de transição de um tipo para outro compartilham algumas propriedades dos dois tipos, I e II, e são chamadas de fi- bras “híbridas”. Contrações musculares esqueléticas O músculo esquelético é capaz de realizar três tipos de contração: isométrica, concêntrica e excêntrica.26 A contração isométrica acontece quando o músculo se contrai para au- mentar a tensão, mas não há mudan- ça no seu compri- mento. Uma força considerável pode ser gerada contra certa resistência imóvel, embora não ocorra qualquer movimento. Na contração concêntrica, o comprimento do músculo diminui à medida que a O músculo esquelético é capaz de realizar três tipos de contração: • Isométrica • Concêntrica • Excêntrica do e eficiente, manter uma boa dieta e descansar adequa- damente pode minimizar os potenciais efeitos negativos do overtraining. Reversibilidade Quando o treinamento de força é des- continuado ou interrompido, o músculo atrofia, diminuin- do tanto em força quanto em massa. As adaptações ocor- ridas no músculo esquelético em resposta ao treinamento de carga podem começar a se reverter em pouco tempo, a partir de 48 horas. Parece realmente que o exercício con- sistente do músculo é essencial para prevenir a perda da hipertrofia produzida no treinamento de força. Fibras de contração rápida versus fibras de contração lenta e resistência muscular As fibras musculares esqueléticas de uma unidade motora específica podem ser de contração lenta ou de contração rápi- da, sendo que cada uma delas possui características meta- bólicas e contráteis distintas. As fibras de contração lenta (CL), também chamadas de tipo I ou oxidati- vas lentas (OL), são densas em capilares e ricas em mitocôn- dria e mioglobina, o que dá ao tecido muscular a sua característica cor verme- lha. Elas podem transportar oxigênio e, portanto, são mais resistentes à fadiga do que as de contração rápida.43 As fi- bras de contração lenta estão associadas, basicamente, a atividades de longa duração, do tipo aeróbias.66 As fibras de contração rápida (CR) são chamadas de tipo II ou glicolíticas oxidativas rápidas (GOR). São capa- zes de produzir contrações rápidas e forçadas, mas têm a tendência de chegar à fadiga mais rapidamente do que as de contração lenta. As fibras de contração rápida são úteis em atividades de curta duração e alta intensidade, que envolvem principalmente o sistema anaeróbio, e são capazes de produzir contrações potentes, ao passo que as fibras de contração lenta produzem um tipo de força de longa duração. As fibras de contração rápida podem ser subdivididas em três grupos, embora todos os três tipos sejam capazes de fazer contrações rápidas. As do tipo IIa, como acontece com as fibras musculares de contração lenta, são modera- damente resistentes à fadiga. As do tipo IIx, também co- nhecidas como glicolíticas rápidas (GR) e ocasionalmente como tipo IId, são menos densas em mitocôndrias e mio- globina do que as do tipo IIa. Esse é o tipo de músculo mais rápido em seres humanos e pode se contrair mais rapidamente e com maior quantidade de força do que o tipo IIa. Essas fibras, no entanto, podem sustentar ape- nas explosões de atividade anaeróbia curtas antes de a contração muscular tornar-se dolorosa. As fibras do tipo IIb são menos densas em mitocôndrias e mioglobina e en- tram em fadiga rapidamente. Além disso, têm cor branca Há quatro tipos básicos de fibra muscular: • De contração lenta ou tipo I • De contração rápida tipo IIa • De contração rápida tipo IIb • De contração rápida tipo IIx Um arremessador de peso, aluno do ensino médio, tem trabalhado intensamente no treinamento de muscula- ção para melhorar a potên- cia muscular. Em particular, tem se concentrado no le- vantamento de pesos livres extremamente pesados, com pequeno número de repeti- ções (3 séries de 6 a 8 repe- tições). Sua força melhorou significativamente ao longo dos últimos meses, mas ele não vê o mesmo grau de desenvolvimento em seus arremessos, embora o técni- co diga que a sua técnica é muito boa. O atleta está frustrado com o próprio desenvolvi- mento e quer saber se há alguma outra coisa que ele possa fazer no programa de treinamento para incre- mentar o desempenho. 1 .6 E x e rc íc io d e a p li c a ç ã o c lí n ic a Prentice_Parte_I.indd 35Prentice_Parte_I.indd 35 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 36 William E. Prentice funcional fornece uma abordagem singular, capaz de re- volucionar o modo como a medicina esportiva pensa a respeito do treinamento de força em geral. Para compreender a abordagem do treinamento de força funcional, o fisioterapeuta esportivo precisa entender o conceito de cadeia cinética e perceber que toda a cadeia cinética é uma unidade funcional integrada. A cadeia ciné- tica é composta não apenas de músculos, tendões, fáscias e ligamentos, mas também do sistema articular e do siste- ma neural. Todos esses sistemas atuam simultaneamente como uma unidade integrada, a fim de permitir a eficiên- cia estrutural e funcional. Se algum sistema da cadeia ci- nética não estiver trabalhando com eficiência, os outros sistemas serão forçados a se adaptar para compensar o pro- blema;isso pode levar à sobrecarga do tecido, à diminuição do desempenho e a padrões previsíveis de lesão. A integra- ção funcional do sistema permite uma excelente eficiência neuromuscular durante as atividades funcionais.26 Durante movimentos funcionais, alguns músculos se contraem concentricamente (encurtam) para produ- zir o movimento, outros se contraem excentricamente (alongam-se) para permitir a ocorrência do movimento, e ainda há outros que se contraem isometricamente para criar uma base estável, sobre a qual será realizado o mo- vimento funcional. Esses movimentos ocorrem em três planos. O treinamento de força funcional usa exercícios integrados destinados a melhorar os padrões do movi- mento funcional em termos não apenas de aumento da força e melhoria do controle neuromuscular, mas tam- bém para obter altos níveis de força de estabilização e de flexibilidade dinâmica.19 Diferentemente das técnicas de treinamento de for- ça tradicionais, que usam barras, halteres ou aparelhos e exercícios em um único plano, dia após dia, o princípio básico do treinamento de força funcional consiste na uti- lização de variações de treinamento para forçar constan- tes adaptações neurais em vez de se concentrar somente em mudanças morfológicas. As variáveis do exercício que podem ser alteradas incluem o plano do movimento, a posição do corpo, a base de apoio, o tipo de modalidade de equilíbrio e o tipo de resistência externa.26 A Tabela 1.2 lista essas variáveis. A Figura 1.10 fornece exemplos de exercícios de força funcionais. Treinamento de estabilização central (core) O programa de treinamento para estabilização central destina-se a ajudar o indivíduo a ganhar força, controle neu- romuscular, potência e resistên- cia nos músculos da coluna lom- bar, do abdome e da região dos quadris e da pelve. Esses músculos são chamados coleti- vamente de centro (CORE).27 O conceito do treina- mento de estabilização central é essencial. Um centro fraco é o principal problema dos movimentos ineficien- tes, que podem levar a lesões.50 Quando os músculos das extremidades são fortes e o centro é fraco, não é Centro Músculos da coluna lombar, do abdome, dos quadris e da pelve. contração se desenvolve para superar ou mover alguma resistência. Na contração excêntrica, a resistência é maior do que a força muscular produzida, e o músculo se alonga enquanto continua a se contrair. As contra- ções concêntricas e excêntricas são consideradas movi- mentos dinâmicos.26 É muito importante compreender que os movimen- tos funcionais envolvem aceleração, desaceleração e es- tabilização em todos os três planos simultaneamente. Es- ses movimentos são controlados por mecanorreceptores neuromusculares, localizados no interior do músculo.26 Técnicas de treinamento com carga Há uma série de técnicas de treinamento com carga para melhorar a força, incluindo exercícios de treinamento de força funcional, treinamento de estabilização central (core), exercícios isométricos, exercícios de resistência progressiva, exercícios isocinéticos, treinamento em cir- cuito, exercícios de força calistênicos e exercícios pliomé- tricos. Seja qual for a técnica utilizada, há um princípio básico extremamente importante. Para que o músculo aumente a sua força, deve-se forçá-lo a trabalhar a um nível mais elevado do que o de costume. Em outras pa- lavras, devemos sobrecarregar o músculo. Sem sobrecar- ga, o músculo será capaz apenas de manter a força já adquirida, e isso desde que o treinamento seja mantido contra uma resistência com a qual ele esteja acostumado. Para desenvolver a força muscular de forma mais efeti- va, o treinamento de musculação deve exigir um esforço consistente e crescente contra uma carga progressiva- mente crescente.34 Desde que aplicado esse princípio da sobrecarga, qualquer uma das oito técnicas de condicio- namento pode produzir aumento da força muscular ao longo de um período de tempo. Treinamento de força funcional Por muitos anos, as técnicas do treinamento de força em programas de condicionamento ou de reabilitação focaram exercícios isolados, em um único plano, usados para obter hiper- trofia muscular em um músculo específico. Esses exer- cícios têm uma demanda neuromuscular muito baixa, pois são realizados, basicamente, com o resto do corpo estabilizado de modo artificial, em partes estáveis do equipamento.26 O SNC controla a habilidade de integrar a função proprioceptiva de uma série de músculos indi- viduais, que têm de atuar de forma coletiva para produ- zir certo padrão de movimento, que ocorre em três pla- nos de movimento. Se o corpo está constituído de modo a se movimentar em três planos de movimento, então o treinamento isolado pouco faz para melhorar a capa- cidade funcional. Quando o treinamento de força usa exercícios isolados, em um único plano e artificialmente estabilizados, o corpo como um todo não é preparado para lidar com as demandas impostas pelas atividades diárias normais (subir e descer escadas, tirar as compras do porta-malas do carro, etc.).26 O treinamento de força Prentice_Parte_I.indd 36Prentice_Parte_I.indd 36 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 37 Exercício isométrico O exercício isométrico envolve uma contração muscular em que o comprimento do músculo permanece constante, enquanto se desenvolve uma tensão em busca da força máxi- ma contra uma resistência imó- vel.9 O músculo deve gerar a for- ça máxima por 10 segundos de Exercício isométrico Contrai o músculo estaticamente, sem mudar o seu comprimento. possível produzir a força necessária a movimentos efi- cientes. O treinamento de estabilização central deve ser um componente importante em qualquer programa de força abrangente.32, 65 Os programas de estabilização central dinâmica são discutidos em detalhes nos Capítu- los 13 e 22. A Figura 1.11 mostra vários exemplos de exercícios que podem ser usados para melhorar a esta- bilidade do centro. A B C D E F FIGURA 1.10 Os exercícios de fortalecimento funcionais usam movimentos simultâneos (contrações concêntricas, ex- cêntricas e isométricas) em três planos, sobre superfícies instáveis: A, rotações diagonais de estabilidade, usando uma bola pesada; B, ereto, postura tandem sobre um disco Dyna, com rotação do tronco; C, rotações diagonais de pé, usando a resistência de um cabo ou de um tubo elástico; D, avanços em vários planos, usando um peso como resistência; E, avanço frontal com movimentação do braço; F, arremesso de bola pesada com rotação dos dois braços, partindo da po- sição de agachamento. TABELA 1.2 Variáveis dos exercícios de treinamento Plano do movimento Posição do corpo Base de apoio Simetria dos membros superiores Simetria dos membros inferiores Modalidade de equilíbrio Resistência externa • Sagital • Em supino • Banco para exercícios • Os 2 braços • As 2 pernas • Piso • Barra • Frontal • Transversal • Combinado • Em prono • Decúbito lateral • Sentado • Ajoelhado • Semi- ajoelhado • De pé • Bola estabilizadora • Pranchas de equilíbrio • Outra • Braços alternados • 1 braço • 1 braço com rotação • 1 perna na frente da outra • 1 perna • 2 pernas instáveis • 1 perna na frente da outra instável • 1 perna instável • Trave de equilíbrio • ½ rolo de espuma • Placa Airex • BOSU • Calçados apropriados • Areia • Haltere • Aparelhos com cabos • Medicine balls • Power/ balls • Outros Prentice_Parte_I.indd 37Prentice_Parte_I.indd 37 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 38 William E. Prentice resistance exercise) fortalece os músculos por meio de uma contração que vence alguma resistência predeterminada, produzida por um equipamento, como halteres, barras ou aparelhos de musculação (Fig. 1.12). O exercício de resistência progressiva usa contrações isotônicas, que ge- ram força enquanto o músculo sofre alterações em seu comprimento.34 Contrações isotônicas As contrações isotônicaspodem ser tanto concêntricas quanto excêntricas. Ao fazer uma rosca do bíceps, o indivíduo dá um bom exemplo de contração isotônica. Para levantar o peso a partir da po- sição inicial, o bíceps tem de se contrair e encurtar. Essa contração com encurtamento é chamada de contração concên- trica ou positiva. Se o bíceps não se mantiver contraído du- rante o abaixamento do peso, a gravidade fará com que o peso simplesmente caia, voltando à posição inicial. Portanto, quando o indivíduo controla o peso à medida que o abaixa, faz com que o bíceps continue a se con- trair à medida que vai se esten- dendo. Essa contração, em que o músculo se alonga en- Contração concêntrica (positiva) O músculo se encurta enquanto se contrai ao atuar contra uma resistência. Contração excêntrica (negativa) O músculo se alonga enquanto se contrai ao atuar contra uma resistência. cada vez, e essa contração deve ser repetida 5 a 10 vezes por dia. Os exercícios isométricos são capazes de aumen- tar a força muscular; infelizmente, os ganhos de força são específicos do ângulo articular mantido durante o treina- mento. Em outros ângulos, a curva de força cai significa- tivamente, em virtude da falta de atividade motora em cada um deles. Outra importante desvantagem dos exercícios iso- métricos está no fato de que eles tendem a produzir um pico de pressão sanguínea sistólica, o que pode resultar em acidentes cardiovasculares com ameaça à vida.74 Esse aumento abrupto da pressão sanguínea faz com que o indivíduo prenda a respiração e aumente a pressão to- rácica. Consequentemente, a pressão sanguínea experi- mentada pelo coração aumenta de modo significativo. Para evitar ou minimizar esse aumento da pressão, reco- menda-se uma respiração contínua durante a contração máxima. Os exercícios isométricos são úteis na reabilitação após certas lesões; esse uso é discutido nas seções de rea- bilitação, nos Capítulos 15 a 23. Exercício de resistência progressiva Essa terceira técnica de treinamento de resistência talvez seja a mais usada e a mais popular para aumento da força muscu- lar. O exercício de resistência progressiva (ERP – progressive A B C D E F FIGURA 1.11 Exercícios de estabilização central. A, ponte; B, cobra pronada; C, abdominal isolado, decúbito lateral; D, seta huma- na; E, flexão com bola suíça; F, Elevação dos quadris sobre a bola suíça. Prentice_Parte_I.indd 38Prentice_Parte_I.indd 38 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 39 gem o uso de anilhas de ferro de pesos variados, que po- dem ser facilmente trocados, retirando-se quantidades de peso iguais nos dois lados ou adicionando-se outras quantidades. Os aparelhos possuem uma pilha de pesos erguidos por meio de alavancas ou puxadores. A pilha de pesos desliza verticalmente sobre um par de barras que restringe o movimento isolado de cada barra. Para aumentar ou diminuir o peso, basta mudar a posição do pino de trava. Tanto os pesos livres quanto os aparelhos têm suas vantagens e desvantagens. O uso de aparelhos é relati- vamente seguro em comparação ao de pesos livres. Além disso, é simples aumentar ou diminuir o peso nos apare- lhos – basta mover um único pino de trava, embora ge- ralmente seja possível mudar apenas de 5 em 5 kg ou de 7 em 7 (10 ou 15 libras). Já no caso das anilhas de ferro, é preciso encaixá-las de cada lado do haltere ou da barra e depois removê-las. A Figura1.13 mostra alguns exemplos de exercícios de força isotônicos. O instrutor nos exercícios com peso livre Durante o trei- namento com pesos livres, é essencial a presença de um instrutor para observar os movimentos e prestar assistên- cia em caso de necessidade. Esse instrutor é especialmen- te necessário quando o peso a ser levantado é muito grande. O instrutor tem três funções: proteger o levanta- dor, evitando lesões, dar recomendações sobre a técnica adequada de levantamento e ajudar a motivar quem está fazendo o exercício. O Foco 1.3: “Técnicas adequadas de instrução” fornece algumas orientações sobre as técnicas corretas de um instrutor. Treinamento isotônico Seja qual for o tipo de equipamento usado, poderão ser aplicados os mesmos princípios do exercício isotônico. No exercício de resistência pro- gressiva, é essencial incorporar Exercício isotônico Encurta e alonga o músculo ao longo da amplitude total do movimento. quanto ainda aplica força, é chamada de contração excêntrica ou negativa.46 Contrações excêntricas versus contrações concêntri- cas É possível gerar quantidades maiores de força contra uma resistência com uma contração excêntrica do que com uma concêntrica. Essa força maior ocor- re porque as contrações excêntricas exigem um nível muito mais baixo de atividade da unidade motora para alcançar certa força, em comparação com as concêntri- cas. Uma vez que menos unidades motoras disparam a produção de uma força específica, unidades motoras adicionais podem ser recrutadas para gerar um aumen- to de força. Além disso, a utilização de oxigênio é muito mais baixa durante o exercício excêntrico em compa- ração com o exercício concêntrico. Portanto, as contra- ções excêntricas são mais resistentes à fadiga do que as concêntricas. A eficiência mecânica do exercício excên- trico pode ser várias vezes maior do que a do exercício concêntrico.46 As contrações concêntricas aceleram o movimento, ao passo que as excêntricas o desaceleram. Os isquioti- biais, por exemplo, precisam se contrair excentricamente para desacelerar a velocidade angular da perna durante a corrida. Do mesmo modo, os rotadores externos dos mús- culos do manguito, que envolvem os ombros, contraem- -se excentricamente para desacelerar a rotação interna do úmero durante o arremesso. Por causa das forças exces- sivas envolvidas nessas contrações excêntricas, as lesões são muito comuns. Desse modo, o exercício excêntrico tem de ser incorporado de modo rotineiro no programa de treinamento de força para evitar lesões aos músculos que atuam para desacelerar o movimento. Pesos livres versus aparelhos Vários tipos de equipa- mentos podem ser usados no exercício de resistência progressiva, inclusive pesos livres (barras e halteres) ou aparelhos, como os fabricados pela Universal, Nautilus, Cybez, Eagle e Body Master. Os halteres e as barras exi- A B FIGURA 1.12 A, halteres e barras são pesos livres que ajudam a desenvolver a força isotônica; B, muitos conjuntos de aparelhos fornecem uma série de possi- bilidades de exercício. Prentice_Parte_I.indd 39Prentice_Parte_I.indd 39 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 40 William E. Prentice A B C D E F G H I J K FIGURA 1.13 Exemplos de exercí- cios de força isotônicos com uso de barras que mostram as técnicas de instrução apropriadas, quando neces- sárias. A, Agachamento; B, Supino; C, Desenvolvimento (pressão militar); D, Levantamento de peso romeno; E, Le- vantamento olímpico; F, Levantamento terra; G, Levantamento de arremesso; H, Levantamento; I, Supino invertido no banco com barra; J, Supino inclinado; K, Rosca do bíceps. Prentice_Parte_I.indd 40Prentice_Parte_I.indd 40 10/10/11 19:1010/10/11 19:10 Fisioterapia na Prática Esportiva 41 Certos aparelhos são fabricados de modo a minimizar essa oscilação da resistência por meio do sistema de came (Fig. 1.14). O came é desenhado individualmente para cada parte do equipamento, e assim se obtém uma resis- tência variável durante todo o movimento. O sistema de came busca alterar a resistência, de modo que o músculo possa suportar uma carga maior – nos pontos em que a o ângulo da articulação ou o comprimento do músculo se encontra em desvantagem mecânica, o came reduz a re- sistência ao movimento muscular. Porém, se esse modelo realmente cumpre o que prome- te, isso é questionável. A mudan- ça da resistência em diferentes pontos da amplitude é chamada de acomodação da resistência ou resistência variável. Técnicas do exercício de resistência progressiva
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