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Ação de Obrigação de Fazer e Indenização por Danos Morais

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TJRN
Tribunal de Justiça do RN - 1º Grau
O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 0010325-88.2017.8.20.0104 em 03/07/2017 12:19:34 por WDAGNO SANDRO BEZERRA CAMARA Documento assinado por: 
- WDAGNO SANDRO BEZERRA CAMARA
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usando o código: 17070312193400000000025421261
	ID do documento: 26344136	
17070312193400000000025421261
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE PAU DOS FERROS /RN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 JALDENIRA FERREIRA DE OLIVEIRA, brasileira, assistente de serviços gerais, casada, com a cédula de identidade n° 001.652.998 - ITEP/RN, inscrita no CPF sob o nº 011.581.724-78, residente e domiciliado na rua, Dois de Fevereiro, Centro/Área Urbana Água Nova/RN, CEP 59995-000., telefones: (84) 98883-7036, endereço eletrônico wdagnosandro@hotmail.com, por seu advogado infra-assinado, constituído mediante Procuração em anexo, com endereço profissional e eletrônico indicado no rodapé desta página, onde recebe as intimações de estilo vêm, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, em conformidade com o art. 461 e seguintes do Código Civil, no CTB e demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, propor a presente 
 
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E TUTELA ANTECIPADA 
 
em face de REGINALDO RODRIGUES DE ARAÚJO, brasileiro, inscrito no CPF/MF sob o nº 098.110.294-82, portador da cédula de identidade nº 3.091.445 SSP/RN, residente e domiciliado na Rua João Cobe, nº 86 – Cohab – CEP 59.650-000, Assú/RN, telefone (84) 99935-0988, endereço eletrônico desconhecido, pelas motivações fáticas e fundamentos jurídicos que, com a devida vênia, passa a expor, para ao final requerer: 
 
 
I – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA 
 
01. Inicialmente, requer o autor os benefícios da gratuidade judiciária, por atualmente não poder arcar com os custos e as despesas processuais, sem comprometer seu sustento familiar. 
 
02. Conforme dispõe os artigos 98 e seguintes do novo CPC, c/c art. 4º, 
§ 1º da Lei nº 1.060/50, a parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família. 
 
03. Neste sentido, citamos o julgado da primeira câmara cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que teve como relator o desembargador CARLOS ROBERTO LOFEGO CANIBAL, no agravo de instrumento de n° 70010254340. 
 
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. BENEFÍCIO DA AJG. A declaração da parte acerca da insuficiência de recursos para fazer frente às despesas com o ajuizamento e andamento de demanda judicial, sem prejuízo de seu sustento, é o suficiente para a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, acrescida à comprovação da necessidade. A necessidade do benefício somente pode ser elidida por prova em contrário da parte oposta, ou pela prescindibilidade aferida pelo magistrado através de fundadas razões. Inteligência que resulta da exegese do disposto no art. 1º c/c com art. 4º da Lei n. 1.050/60 e art. 5º, XXXIV, a, e XXXV, da CF/88. Recurso provido.” 
 
 
II – DOS FATOS 
 
04. O 	demandante 	foi 	proprietário 	da 	motocicleta 	do 	tipo 
YAMAHA/FACTOR YBR 125 K, ano 2009, modelo 2010, de cor vermelha, de placas NNS 4900, Renavan 184727448, e em 17 de outubro de 2014 a vendeu ao requerido, conforme autorização para transferência de propriedade em anexo. 
 
05. A venda do referido veículo se deu através de contrato verbal entre as partes, tendo ocorrido o pagamento do preço e a entrega da coisa de forma imediata, sendo entregue toda a documentação pertinente a transferência da motocicleta no ato do negócio. 
 
06. Sendo assim, de acordo com o Certificado de Registro de Veículo e autorização para transferência em anexo, o demandante tomou todas as providências necessárias para que fosse concretizada a transferência do veículo, inclusive reconhecendo e cartório as firmas de ambas as partes, não sendo, no entanto, realizada e concluída a transferência por inércia do comprador, ora demandado. 
 
07. Repare, Excelência, que o demandante preencheu devidamente o “recibo” (autorização para transferência) da motocicleta em nome do adquirente, reconheceu sua firma em cartório, bem como repassou toda a documentação necessária para que o demandado cumprisse sua obrigação contratual e legal, que era a de, simplesmente, se dirigir ao órgão responsável pelo licenciamento e transferir o registro da propriedade para o seu nome. 
 
08. Contudo, mesmo cumprindo integralmente sua obrigação contratual, quedou-se inerte o demandado quanto a transferência do veículo. 
 
09. De acordo com os documentos anexos, já se passaram mais de 02 (dois) anos sem que o demandado cumprisse com sua obrigação. 
 
010. Observa-se do dossiê consolidado do referido veículo, obtido junto ao sitio do DETRAN/RN, a inclusão de diversas dívidas referentes ao IPVA, Licenciamento e Seguro Obrigatório correspondentes aos anos de 2014 e seguintes. Além disso, constam diversas multas inscritas quando a referida motocicleta já estava na posse do demandado. 
 
011. Com esse tipo de atitude da parte ré, fica evidenciada sua má-fé, que em nenhum momento se preocupou em regularizar o referido veículo para a sua propriedade. Ademais, o autor diversas vezes procurou pelo requerido no sentido de resolver esta desagradável situação, ou seja, está sendo ele cobrado por algo que não é mais de sua responsabilidade. 
 
012. Além disso, fica o autor a mercê de sofrer eventual ação de reparação de danos decorrida de acidente de veículo, execução de dívida por parte do Estado, sem falar na esfera criminal e nem tão pouco efetua o pagamento do tributo que recai sobre o veículo. 
 
013. Destarte, tal situação já vem afetando e afetará ainda mais o bom conceito financeiro e comercial do autor e trará prejuízos de difícil e até incerta reparação. 
 
014. Ademais, em continuando esta situação, o autor, certamente, sofrerá execução fiscal por parte do Estado em decorrência do débito oriundo do referido veículo. Não pode o autor ser responsabilizado por algo que foge inteiramente da sua obrigação, já que dispõe o CTB que a obrigação para a transferência da propriedade veicular é do comprador. 
 
015. Diante disto, resta patente o descumprimento da obrigação contratual por parte do requerido, bem como os danos morais sofridos pelo demandante, não havendo alternativa senão a busca do judiciário para ver compelido o demandado a transferir o veículo, como também ser condenado ao pagamento de indenização por danos morais. 
 
 
 
III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS 
 
III.1 – DA OBRIGAÇÃO DE FAZER 
 
16. O artigo 497 do novo Código de Processo Civil disciplina que o juiz , concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, verbis: 
 
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. 
 
17. Ora, evidente que a tutela jurisdicional é admissível, uma vez que por disposição contratual se obrigou o demandado a efetivar a transferência do veículo junto ao DETRAN/RN. O demandante cumpriu integralmente sua obrigação contratual, não havendo, no entanto, o réu cumprido a sua parte na relação jurídica firmada. 
 
18. No presente caso, a obrigação de fazer é de natureza infungível intuitu personae, de vez que somente o requerido poderá transferir o veículo para o seu nome, aqui obrigatoriamente deve-se levar em conta as qualidades específicas do obrigado. No sentido de esclarecer essa situação, pode-se explanar o art. 815 do CPC, que diz "quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o executado será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe designar,se outro não estiver determinado no título executivo". 
 
19. Por outro lado, nos termos do art. 123, I, e parágrafo primeiro, do Código de Trânsito Brasileiro, em se tratando de aquisição de veículo, a obrigação de proceder à transferência da titularidade recai sobre o adquirente, que no caso se reporta ao demandado. 
 
"Art.123. Será obrigatório a expedição de novo Certificado de Registro de Veículo quando: 
'I – for transferida a propriedade; 
'§ 1º No caso de transferência de propriedade, o prazo para o proprietário adotar as providências necessárias à efetivação da expedição do novo Certificado de Registro de Veículo é de trinta dias, sendo que nos demais casos as providências deverão ser imediatas (...)". 
 
20. Portanto, cabia somente ao requerido, de posse da motocicleta, transferi-la para seu nome, e em 30 dias, mas assim não procedeu, sendo que sua demora causou percalços e dissabores ao autor, passíveis de reparação. 
 
21. É pacífico o entendimento jurisprudencial quanto à obrigação de fazer, conforme se pode verificar mediante os exemplos abaixo transcritos: 
 
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO. TRANSFERÊNCIA NO DETRAN NÃO PROVIDENCIADA. NEGLIGÊNCIA. ATO DE OFÍCIO. O ART. 123 § 1º DO CTB. COBRANÇA DE DÉBITOS. ART. 42, DO CPC. TRADIÇÃO OPERADA, CONSOANTE ART. 492, DO CCB/02. COMPROMISSO DO COMPRADOR DE OPERAR A TRANSFERÊNCIA JUNTO AO ÓRGÃO DE TRÂNSITO. PROCURAÇÃO OUTORGADA. OBRIGAÇÃO DAQUELE QUE ADQUIRE UM VEÍCULO, NÃO ELIDIDA PELO PRINCÍPIO DA TRADIÇÃO, DE REALIZAR O SEU LICENCIAMENTO, TRANSFERÊNCIA E REGULARIZAÇÃO NO SEU NOME. SENTENÇA MANTIDA. UNÂNIME. 1. OPERA-SE A TRADIÇÃO COM A ENTREGA DE VEÍCULO USADO. INTELIGÊNCIA DO ART. 492, DO CCB/02. 2. OBRIGAÇÃO LEGAL DO NOVO ADQUIRENTE DE TRANSFERIR O VEÍCULO PARA SEU NOME, A TEOR DO ART. 123 § 1º, DO CTB, NO PRAZO ESTABELECIDO. OCORRIDA A TRADIÇÃO, O NOVO ADQUIRENTE ASSUME OS ÔNUS DA TRANSFERÊNCIA JUNTO A TERCEIROS, AO DETRAN-DF E À SECRETARIA DE FAZENDA-DF. 3. AQUELE QUE ADQUIRE UM VEÍCULO PELO SISTEMA DA TRADIÇÃO FICA OBRIGADO, POR FORÇA DE LEI, A PROVIDENCIAR A TRANSFERÊNCIA PARA O SEU NOME NA REP ARTIÇÃO DE TRÂNSITO, INCLUSIVE COM A REGULARIZAÇÃO DE DÉBITOS PENDENTES. 4. É HABITO NO COMÉRCIO DE VEÍCULOS A UTILIZAÇÃO DE PROCURAÇÕES SUCESSIVAS, OU 
SUBSTABELECIMENTOS SUCESSIVOS DA PROCURAÇÃO ORIGINAL, PARA FAZER PASSAR O VEÍCULO DE MÃO EM MÃO, JAMAIS SE REGISTRANDO DITO BEM NO NOME DAQUELE QUE POR ÚLTIMO O POSSUA, AINDA QUE POR POUCO TEMPO. A TRADIÇÃO, OU TRADITIO, QUE VEM DO ANTIGO DIREITO ROMANO, SIGNIFICA TRANSFERIR A POSSE DE BENS MÓVEIS PELA SUA SIMPLES TRANSFERÊNCIA FÍSICA, TODAVIA, NO DIREITO MODERNO, ESSA CIRCUNSTÂNCIA NÃO EXIME O ADQUIRENTE DE EFETUAR OS PROCEDIMENTOS LEGAIS INDISPENSÁVEIS. 5. "É OBRIGAÇÃO DE QUEM ADQUIRE UM VEÍCULO PROCEDER À TRANSFERÊNCIA DO BEM PARA O SEU NOME IMEDIATAMENTE. SE O VENDEDOR DO VEÍCULO NÃO EXIGE A IMEDIATA TRANSFERÊNCIA E O COMPRADOR NÃO ADOTA A PROVIDÊNCIA E REVENDE O BEM PARA TERCEIRA PESSOA, QUE DESAPARECE, CORRETA É A CONDENAÇÃO DO ADQUIRENTE DO VEÍCULO NA OBRIGAÇÃO DE FAZER A TRANSFERÊNCIA DISCUTIDA" (ACÓRDÃO 210068, PUBLICADO EM 13/04/2005, REL. JUIZ JOÃO BATISTA TEIXEIRA). 6. "AOS OLHOS DA RECORRIDA, A ENTREGA DO VEÍCULO PARA A RECORRENTE SIMBOLIZAVA A AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE SOBRE O BEM, ASSUMINDO A RECORRENTE TODOS OS ÔNUS DO VEÍCULO A P ARTIR DA TRADIÇÃO. ADEMAIS, AO NÃO TRANSFERIR O VEÍCULO PARA O SEU NOME, REVENDENDO-O SEM A DEVIDA CAUTELA, A RECORRENTE ASSUME O RISCO DECORRENTE DA FORMA COMO OPTA POR EXERCER A SUA ATIVIDADE ECONÔMICA. A SIMPLES COMUNICAÇÃO DA VENDA DO VEÍCULO AO DEP ARTAMENTO DE TRÂNSITO NÃO ISENTA A RECORRENTE DA SUA RESPONSABILIDADE, POIS ELA TEM O DEVER DE TRANSPARÊNCIA SOBRE A SITUAÇÃO DO VEÍCULO PERANTE A REFERIDA AUTARQUIA ... A OMISSÃO DA RECORRENTE TRADUZ-SE EM VERDADEIRO DESRESPEITO À BOA-FÉ DA RECORRIDA, A QUAL DEPENDE DE PROPOSITURA DE AÇÃO PERANTE O PODER JUDICIÁRIO PARA SOLUCIONAR A QUESTÃO" (ACÓRDÃO Nº 270903, PUBLICADO EM 18/05/2007, REL. JUIZ HECTOR VALVERDE SANTANA). SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS E JURÍDICOS FUNDAMENTOS. DE CONFORMIDADE COM O REGRAMENTO QUE ESTÁ AMALGAMADO NO ARTIGO 55 DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS (LEI N. 9.099/95), A RECORRENTE, SUCUMBINDO NO SEU INCONFORMISMO, SUJEITA-SE AO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS E DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, OS QUAIS ARBITRO EM 20% (VINTE POR CENTO) SOBRE O VALOR CORRIGIDO DA CONDENAÇÃO, ISENTANDO-O, PORÉM, NOS TERMOS DO ART. 12 DA LEI 1060/50. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO, CONSOANTE REITERADOS JULGADOS DAS TURMAS RECURSAIS, LEGITIMANDO A LAVRATURA DO ACÓRDÃO NOS MOLDES AUTORIZADOS PELO ARTIGO 46 DA LEI Nº 9.099/95. UNÂNIME. (TJ-DF - ACJ: 29016120088070010 Relator: ALFEU MACHADO, Julgamento: 21/11/2008, 2ª Turma Recursal do DF, Data de 
Publicação: 02/02/2009, DJ-e Pág 161) 
 
	APELAÇÃO 	CÍVEL. 	AÇÃO 	DE 	OBRIGAÇÃO 	DE 	FAZER. 
TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULO. REQUISITOS DO ART. 134 DO CTB. DUT. PROCURAÇÃO. CONCESSIONÁRIA. ALIENAÇÃO A TERCEIROS. TRANSFERÊNCIA. INOCORRÊNCIA. DÉBITOS ORIGINADOS APÓS 
OUTORGA DE MANDATO. RELAÇÃO DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA DE AUTOMÓVEIS ADQUIRENTE. APELAÇÃO PRINCIPAL. DESPROVIMENTO. RECURSO ADESIVO. MAJORAÇÃO DOS 
HONORÁRIOS. APRECIAÇÃO EQUITATIVA. ART. 20, § 4º, DO CPC. PROVIMENTO. I - No caso de alienação de veículo, é ao anterior proprietário que compete adotar as providências necessárias à alteração da titularidade do bem junto ao DETRAN, conforme inteligência do artigo 134 do Código de Trânsito Brasileiro, salvo se o negócio for celebrado com concessionária de automóveis, a quem compete fazê-lo, porque remunerada para tanto, restando responsabilizada, nos termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, por débitos originados após a outorga, pelo cliente alienante, de procuração para transferir a propriedade do veículo.III - Em se tratando de ação de obrigação de fazer, os honorários devem ser fixados com fundamento no art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil, observados os critérios insertos no § 3º do mesmo dispositivo legal. IV - Recurso do réu desprovido. Apelo do autor provido para majorar os honorários advocatícios. (20090111030835APC, Relator NÍVIO GERALDO GONÇALVES, 1ª Turma Cível, julgado em 19/01/2011, DJ 25/01/2011 p. 78) 
 
PROCESSO CIVIL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. TRANSFERÊNCIA DO VEÍCULO ADQUIRIDO. RESPONSABILIDADE DO COMPRADOR. PAGAMENTO DE IPVA. VEÍCULO NA POSSE DE TERCEIRO. SOLIDARIEDADE. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE AFASTADA. SENTENÇA REFORMADA. 1. A RESPONSABILIDADE PELA TRANSFERÊNCIA DO VEÍCULO CABE AO COMPRADOR QUE, COMO NOVO PROPRIETÁRIO, TEM A OBRIGAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA JUNTO AO ÓRGÃO COMPETENTE. É O QUE SE INFERE DO DISPOSITIVO LEGAL CONSTANTE NO ARTIGO 123, § 1º, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. 2. ATÉ O MOMENTO DA TRADIÇÃO, OS RISCOS DA COISA CORREM POR CONTA DO VENDEDOR, E O DO PREÇO POR CONTA DO COMPRADOR. (ART. 492, CC) 3. A CIRCUNSTÂNCIA DE HAVER O APELADO TRANSFERIDO O VEÍCULO À TERCEIRO, NÃO O EXIME DE SUA RESPONSABILIDADE, VEZ QUE NÃO PROCEDEU A TRANSFERÊNCIA PARA SEU NOME QUANDO DA AQUISIÇÃO E DA REVENDA, DEVENDO ARCAR COM AS 
CONSEQÜÊNCIAS DE SUA DESÍDIA. 4. NOS TERMOS DO ART. 8º DO DECRETO 16.099/94 A ALIENAÇÃO DO VEÍCULO SEM A FORMALIZAÇÃO DA TRANSFERÊNCIA JUNTO AO DETRAN CULMINA NA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO VENDEDOR PELO PAGAMENTO DO IPVA. 5. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-DF - ACJ: 20040610079208 DF, Relator: NILSONI DE FREITAS, Julgamento: 22/11/2005, 1ª Turma Recursal do DF) 
 
22. Diante de tal situação, é de se impor ao demandado obrigação de fazer, no sentido de transferir o veículo para o seu nome, requerendo, desde já, que seja assinalado prazo ao mesmo para o cumprimento da ordem judicial. Além disso, necessário se faz a fixação de multa cominatória por dia de atraso em caso de descumprimento da ordem, sem prejuízo das sanções penais cabíveis, e, caso não seja cumprida a obrigação, que seja suprida por esse Juízo com a expedição de ofício ao DETRAN para a transferência da propriedade e dos débitos para o nome do demandado.III.2 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL E DOS DANOS MORAIS 
 
23. Da atitude omissiva do demandado, houveram, porém, danos de ordem moral, que igualmente devem ser indenizados. A manutenção do veículo em nome do demandante viola o direito de personalidade e acarretou danos morais que devem, por mandamento constitucional e legal, serem indenizados. 
 
24. A Constituição Federal de 1988 assegura o direito de todo cidadão à indenização pelos danos que vier a sofrer em razão da violação de seus direitos. 
 
25. Estabelece o artigo 5º, nos incisos V e X que: 
 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; 
 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. 
 
26. A legislação pátria é clara quando trata da matéria e estabelece que aquele que violar, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. Estabelece o Artigo 186 do Código Civil: 
 
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” 
 
27. Por sua vez, o artigo 927 informa que: 
 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
 
28. No caso em comento, é absolutamente flagrante que a atitude do demandado se afigura ilícita, já que, mesmo ciente da obrigação de transferir o veículo, e dos vários pedidos do demandante, quedou-se inerte quanto a sua obrigação contratual e legal. 
 
29. Elucida Caio Mário da Silva Pereira que: "A teoria da responsabilidade civil assenta, em nosso direito codificado, em torno de que o dever de reparar é uma decorrência daqueles três elementos: antijuridicidade da conduta do agente; dano à pessoa ou coisa da vítima; relação de causalidade entre uma e outra."(Responsabilidade Civil, ed. Forense, pág. 93). 
 
30. Ademais, inexiste motivos para a não transferência do veículo, já que não existe débito algum em nome do demandante, nem tão pouco em nome do proprietário anterior, além de ter o demandado toda a documentação necessária a transferência. 
 
31. Sendo assim, clara está a ocorrência de dano moral, tendo em vista que o demandante, não pode dispor do seu bem, nem sequer pode utilizá-lo, já que ante a atitude ilícita o DETRAN não emitiu o CRLV do veículo. 
 
32. Não há dúvidas de que, por ter passado o demandante vários anos sem ver retirado o referido bem do seu nome do Cadastro do DETRAN, passou por várias situações desconfortáveis, inclusive vexatórias, além do que acarretou vários prejuízos a ele, pois foram geradas multas, onde adveio pontos em sua habilitação, além da situação de ver um veículo trafegando em seu nome com os possíveis riscos de ocorrência de acidentes de trânsito. 
 
33. Em assim agindo, o demandado expôs o autor à situação de insegurança, de angústia. Imagine, Excelência, se referido veículo se envolvesse em acidente de trânsito com vítima fatal, quem poderia ser responsabilizado? O próprio demandante, já que o cadastro da referida moto encontrava-se irregularmente em nome do mesmo. 
 
34. Rui Stoco em suas lições afirma que: 
 
"Desse modo, deve haver um comportamento do agente, positivo (ação) ou negativo (omissão), que desrespeitando a ordem jurídica, cause prejuízo a outrem, pela ofensa a bem ou a direito deste. Esse comportamento (comissivo ou omissivo) deve ser imputável à consciência do agente, por dolo (intenção) ou por culpa (negligência, imprudência, ou imperícia), contrariando, seja um dever geral do ordenamento jurídico (delito civil), seja uma obrigação em concreto (inexecução da obrigação ou de contrato). 
Esse comportamento gera, para o autor, a responsabilidade civil, que traz, como conseqüência, a imputação do resultado à sua consciência, traduzindo-se, na prática, pela reparação do dano ocasionado, conseguida, normalmente, pela sujeição do patrimônio do agente, salvo quando possível a execução específica. Por outras palavras, é o ilícito figurando como fonte geradora de responsabilidade." (Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, 4ª ed., 1999, p.63.) 
 
35. Importante colacionar o conceito doutrinário de dano moral: 
 
"São lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou jurídicas, em certos aspectos da sua personalidade, em razão de investidas injustas de outrem. São aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhes constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e sensações negativas. Os danos morais atingem, pois, as esferas íntima e valorativa do lesado, enquanto os materiais constituem reflexos negativos no patrimônio alheio." (Carlos Alberto Bittar,"Reparação Civil por Danos Morais", in Tribuna da Magistratura, p. 33). 
 
36. O Prof. e Desembargador Sérgio Cavalieri, em sua conhecida obra 
"Programa de Responsabilidade Civil", leciona a propósito: 
 
"Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos."(pág. 89, 3ª ed.). 
 
37. E efetivamente, os aborrecimentos suportados pelo demandante decorrem de conduta omissiva do demandado, cenário que enseja a composição de indenização por danos morais, considerando os reflexos do abalo na esfera íntima e social da autora, aos quais evidentemente não dera causa. 
 
38. Frise-se, que o requerente tentou, em vão, solucionar o problema amigavelmente, através de todos os meios possíveis, sendo que em face do descaso do réu, não logrou êxito. E mais, comunicou o fato ao demandado, e este, ao invés de buscar esclarecer e tomar as providências cabíveis se manteve inerte. 
 
39. Ora, danos morais "são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, em contraposição a patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico" (Wilson Mello da Silva, o Dano moral e sua reparação). E, "Embora o dano moral seja um sentimento de pesar íntimo da pessoa ofendida, para o qual não se encontra estimação perfeitamente adequada, não é isso razão para que se lhe recuse em absoluto uma compensação qualquer. Essa será estabelecida, como e quando possível, por meio de um soma, que não importando uma exata reparação, todavia representará a única solução cabível nos limites das forças humanas" (RT 485/230). 
 
40. Os danos, por sua vez, são inegáveis, porquanto decorrem do próprio ato ilícito em si, sendo incontestável, em razão disso, o dever de indenizar. 
 
41. Deste modo, levando-se em consideração as condições sociais e econômicas das partes, o grau de sofrimento provocado e os demais parâmetros norteadores, o valor da indenização, fixado em R$ 10.000,00 (dez mil reais), se afigura plenamente proporcional e razoável, eis que tal fixação é justa medida, de modo que, tampouco signifique um enriquecimento sem causa da vítima, mas está também em produzir no causador do mal impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado, evitando que promova outras situações da mesma natureza. 
 
 
IV – DA TUTELA DE URGENCIA 
 
42. Inicialmente, prescreve o artigo 300 do novo CPC que: 
 
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 
§1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la. § 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia. 
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. 
 
43. Notória a necessidade de concessão de tutela de urgência, tendo em vista o preenchimento de todos os seus requisitos, uma vez que é demonstrada prova inequívoca, geradora de verossimilhança das alegações, bem como o perigo de dano grave ou de difícil reparação, de acordo com o disposto no Art. 300 do NCPC 
 
44. A demonstração do preenchimento dos requisitos não comporta maiores esforços. O preenchimento do primeiro pressuposto prova inequívoca, já foi excessivamente demonstrado no decorrer de toda esta petição, ademais todo o alegado pode ser comprovado de plano, pela via documental, sem necessidade de qualquer dilação probatória. 
 
45. Observa-se ainda, no presente caso, agressão frontal a direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição Federal, o que, por si só, já justifica o reconhecimento da verossimilhança. Além disso, o direito da Requerente encontra respaldo na jurisprudência consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais de Justiça. 
 
46. Comprovado está que o Autor nada deve ao demandado, cumpriu integralmente sua parte contratual, a omissão do demandado em efetivar a transferência do veículo é indevida. Tem-se por concluir que a atitude do requerido, não passa de uma arbitrariedade, que deverá por isso, ao final, ser declarada insubsistente, em caráter definitivo. 
 
47. Desta forma, uma vez demonstrada a existência do “fumus boni iuris” e do “periculum in mora”, cabível o deferimento da tutela de urgência. E no que pertine ao primeiro requisito, tem-se ele como cristalino, vez que seu pleito repousa em direito já amplamente discutido, devidamente comprovado nos autos. 
 
48. Juntamente com os fatos e o direito acima demonstrados, o que já demonstra o “fumus boni iuris”, há também o “periculum in mora”, vez que a manutenção desta situação acarretará maiores prejuízos ao demandante, já que o veículo encontrase em nome do demandante, podendo estar passível de multas e, ainda, provocar acidentes incorrendo o demandante em responsabilidade civil e penal. 
 
49. O perigo de dano grave ou de difícil reparação, esse mostra-se também atendido, uma vez que, a necessidade desta medida se dá mediante a imprescindibilidade da requerente, encontra-se totalmente impedida de efetivar qualquer compra ou transação ante a negativação do seu nome em razão da dívida tributária da motocicleta. Além do mais, sem esta prestação jurisdicional por parte desse Juízo, certamente o mesmo enfrentará graves danos na sua intimidade o que não pode ser considerado como meros dissabores da vida cotidiana, mas sim violação da dignidade da pessoa humana. 
 
50. Ora, Excelência, o requisito do periculum in mora, fica claramente demonstrado, vez que em não se concedendo a medida acautelatória, initio litis e inaldita altera pars, ao requerente, que já passou por graves abalos em sua honra, poderá agravar mais ainda sua situação. 
 
51. Por todos estes motivos, Ínclito Magistrado, o “periculum in mora” resta evidente e a liminar se faz indispensável ao caso em análise, estando presentes os requisitos autorizadores da concessão da liminar “inaudita altera pars” como medida essencial para o restabelecimento da justiça. 
 
52. Com amparo em neste largo aspecto, é que o requerente pede urgência no reconhecimento judicial da atual situação vivida por si, em decorrência do dano atual de reparável conserto, inclusive da ineficácia da presente demanda, quanto ao seu resultado final, motivo pelo qual requer-se a concessão da tutela de urgência, a fim de ser determinado, imediatamente, ao demandado que proceda com a transferência do veículo junto ao DETRAN/RN. 
 
 
V – DOS PEDIDOS 
 
53. Diante de tudo que foi exposto, Requer que se digne Vossa 
Excelência em: 
 
a) Deferir o benefício da Assistência Judiciária Gratuita, com base nos artigos 98 e seguintes do novo CPC, bem como no art. 4°, Parágrafo 1°, da Lei 1060/50, devidamente comprovada a hipossuficiência econômica do autor; 
 
 
b) Deferir a TUTELA DE URGÊNCIA, inaudita altera pars e initio litis, nos moldes do art. 300 do NCPC, para que seja determinado ao demandado que providencie a imediata transferência do veículo do tipo YAMAHA/FACTOR YBR 125 K, ano 2009, modelo 2010, de cor vermelha, de placas NNS 4900, Renavan 184727448, junto aos cadastros do DETRAN/RN, para o seu nome ou de terceira pessoa indicada por ele, sob pena de multa diária de um salário mínimo vigente em caso de descumprimento, sem prejuízo das sanções penais cabíveis; 
 
c) Determinar a citação do demandado no endereço declinado inicialmente, para que, querendo, compareça a audiência de conciliação e conteste a presente ação no prazo legal, sob pena confissão e revelia; 
 
d) Julgar totalmente procedentes os presentes pedidos a fim de que seja determinado ao demandado que providencie a imediata transferência do veículo acima descrito junto aos cadastros do DETRAN/RN, sob pena de multa diária de um salário mínimo vigente em caso de descumprimento, sem prejuízo das sanções penais cabíveis, confirmando em definitivo a liminar anteriormente deferida, bem como para que pague, junto ao DETRAN-RN e a PGE, a dívida referente ao IPVA, Licenciamento e Seguro Obrigatório correspondentes aos anos de 2014 e seguintes, e, caso não seja cumprida a obrigação, que seja suprida por esse Juízo com a expedição de ofício ao DETRAN para a transferência da propriedade e dos débitos para o nome do demandado 
 
e) Condenar o Requerido ao pagamento do valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por danos morais, tudo acrescido de juros e correção monetária, bem como ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios na base de 20% (vinte por cento) sobre o total alçado com a Sentença; 
 
54. Requer, por fim, que sejam deferidos todos os meios de provas em direito admitidos, notadamente, prova testemunhal, documental, pericial, tanto quanto a juntada posterior de novos documentos, bem como depoimento pessoal do requerido. 
 
55. Dá-se à causa o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). 
 
Nestes termos, pede Deferimento. 
Natal/RN, 30 de junho de 2017. 
 
 
Wdagno Sandro Bezerra Câmara 
OAB/RN 7480 
Rua Raimundo Chaves, nº 1580 – Lagoa Nova – CEP 59.064-390, Natal/RN. Fone (84) 3082-4018 www.vilarsaldanha.jur.adv.br – Endereço eletrônico wdagnosandro@hotmail.com 
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