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INICIAÇÃO AOS ESPORTES COLETIVOS ROGÉRIO DA CUNHA VOSER 2020 1 SOBRE O AUTOR DOUTOR EM CIÊNCIAS DA SAÚDE NA PUCRS, EM 2006. MESTRE EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO PELA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFRGS, EM 1998. ESPECIALISTA EM CIÊNCIAS DO FUTEBOL E DO FUTEBOL DE SALÃO PELAS FACULDADES INTEGRADAS CASTELO BRANCO CENTRO EDUCACIONAL DE REALENGO, EM 1990. LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA PELA ESEF-UFPEL, EM 1988. GRADUADO EM FISIOTERAPIA PELA ULBRA, EM 1999. ATUALMENTE É PROFESSOR ASSOCIADO NÍVEL 2 DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FISIOTERAPIA E DANÇA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL . AUTOR DOS LIVROS INICIAÇÃO AO FUTSAL: ABORDAGEM RECREATIVA; ANÁLISE DAS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS EM PROGRAMAS DE INICIAÇÃO AO FUTSAL; A CRIANÇA E O ESPORTE: UMA PERSPECTIVA LÚDICA; FUTSAL: PRINCÍPIOS TÉCNICOS E TÁTICOS; FUTSAL E A ESCOLA: UMA PERSPECTIVA PEDAGÓGICA; FUTEBOL: HISTÓRIA, TÉCNICA E TREINO DE GOLEIRO; ENSINO DOS ESPORTES COLETIVOS: UMA ABORDAGEM RECREATIVA; PIBID NA EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA E PRÁTICAS PARA O ENSINO DO ESPORTE NA ESCOLA E FUTSAL: ENSINO ATRAVÉS DOS JOGOS DE INTELIGÊNCIA E CAPACIDADE TÁTICA. 2 Sumário Introdução.............................................................................3 1 Aspectos pedagógicos das atividades físico-desportivas aplicadas às crianças.............................................................4 2 O treinador de jovens atletas..........................................13 3 A ética no esporte.............................................................26 4 Fatores determinantes da ansiedade em competições de iniciação esportiva...............................................................37 5 A técnica e a tática............................................................46 6 Atividades práticas...........................................................54 7 Planejamento das aulas e treinos...................................71 3 Introdução Neste início de século, o fenômeno esportivo infantil tem sido motivo de muitos estudos e questionamentos, tanto no que diz respeito aos seus ideários, como em relação a sua função pedagógica e sociopolítico-cultural. Sob esta perspectiva, é possível observar a influência preponderante da participação da escola e da família no processo de adesão do jovem à prática do esporte e da atividade física. Buscando contribuir para a melhoria da nossa sociedade, seja de forma lúdica, por meio de jogos e brincadeiras; pela prática de algum esporte; ou de qualquer tipo de atividade física, a educação física tem como missão de promover o desenvolvimento de habilidades motoras, a interação social e educação dos indivíduos de forma a garantir-lhes uma participação ativa e voluntária em atividades físicas e esportivas ao longo de suas vidas. Da mesma forma, deve propiciar vivências e experiências de solidariedade, cooperação e superação; valorizando suas práticas esportivas, danças e jogos nos conteúdos dos seus programas, bem como ser meio de desenvolvimento da cidadania. Para que isto acima ocorra, se faz necessário a utilização de uma pedagogia que consiga contemplar tais benefícios. A evolução do conhecimento e da pesquisa no campo da pedagogia do esporte, em especial das modalidades coletivas, indica que ainda ocorram a utilização de modelos tradicionais, cuja especificidade aponta para um trato excessivamente “técnico”. Neste modelo, o aluno “aprende para jogar”, priorizando o ensino da técnica por meio da interferência direta do professor em suas ações. Em contraposição, a tendência atual das novas abordagens prioriza o ensino da tática, considerando as experiências vividas e os interesses dos alunos. Estas atividades focam no “jogar para aprender”. Neste e-book, pretende-se dar um embasamento teórico sobre temas importantes que estão presentes na iniciação aos esportes; também apresentando atividades práticas e de planejamento. 4 CAPÍTULO 1 Aspectos pedagógicos das atividades físico-desportivas aplicadas às crianças 1 1 Colaborou na elaboração deste capítulo: Francisco Xavier de Vargas Neto, professor, PHD em Filosofia e Ciências da Educação em Barcelona. 5 1 Introdução O fenômeno esportivo infantil tem sido neste início de século, motivo de muitos estudos e questionamentos tanto no que diz respeito a seus ideários como em relação a sua função pedagógica e sociopolítico-cultural. Nesse contexto, pode-se observar a influência e a participação dos profissionais da Educação Física, conjuntamente com os pais, como fatores determinantes no processo de aderência, permanência e até de abandono esportivo do jovem iniciante. É sabido o quanto será benéfica para a criança a sua participação em atividades físico-desportivas, seja pelo aspecto de saúde como também por se tratar de importante meio de interação social, entre outros tantos. Este estudo irá discorrer sobre importantes temas relacionados aos aspectos pedagógicos na prática esportiva infantil. 2 Possibilidades pedagógico-formativas das atividades físico-desportivas As atividades físico-desportivas, entendidas como atividades naturais de movimento, jogo e confrontação, são, conforme Vargas Neto (1995), elementos básicos para a educação das pessoas, e possuem funções altamente pedagógicas que podem incidir no desenvolvimento equilibrado e harmônico do ser humano. Vargas Neto relata que se pode desenvolver um profundo trabalho educativo, humanizante e integrador com as atividades físico-desportivas, que tanto representam uma alternativa gratificante como uma compensação da opressão da vida atual, pois o esporte torna possível a expressão e a satisfação de muitos desejos que o mundo moderno desperta, mas também reprime, como já comentado. O reconhecimento universal do êxito e do fracasso no esporte, e especialmente no esporte coletivo, é um elemento essencial de comunicação e, como consequência, de educação. Fora do esporte, ou das atividades físico-desportivas, o raio de ação dentro do qual os seres humanos podem atuar sem limitações e projetar sua personalidade é cada vez menor. Diante de uma situação tão calamitosa de repressão da liberdade corporal, essas atividades oferecem possibilidades de realização para qualquer pessoa disposta a superar o sedentarismo. Essas possibilidades ativas e comunicativas afetam principalmente os que participam dinamicamente da prática do esporte. Alguns autores, inclusive, sustentam que os espectadores, cujo número é maior do que o dos participantes, beneficiam-se dos espetáculos esportivos no que diz respeito à comunicação. Existem sólidas convicções – devido à experiência pedagógica e às sucessivas reflexões culturais e filosóficas – sobre a conveniência e a utilidade da prática de 6 atividades físico-desportivas. Por essa razão, os educadores não duvidaram nunca de que a prática de um esporte ensina a superar as dificuldades da vida. “O esporte é um dos meios e metas da humanidade em seus incessantes esforços por superar-se. Sua unicidade reside na intimidade entre os acontecimentos físicos de nosso corpo e suas repercussões sobre nossas mentes” (JOKL, 1964, p.477). Segue afirmando o mesmo autor: “O interesse da cultura física pelo cultivo e aperfeiçoamento dos recursos motores do indivíduo aplica-se tanto ao corpo como à mente da qual se originam” (p.478). Parece demonstrado que a melhora técnico-desportiva incide sobre parâmetros não físicos da pessoa (a capacidade cognitiva, a afetividade, a maturidade da personalidade, a confiança em si, as relações sociais e a canalização da agressividade poderiam ser bons exemplos). Esses argumentos reforçam e consolidam o aspecto educativo do esporte. Os valores alcançados atravésdo jogo esportivo – como a interiorização das regras, a colaboração, a aceitação da autoridade, a disciplina, a iniciativa, a superação de si mesmo – configuram uma constelação de condutas positivas, construtivas e integradoras que se encontram presentes no sistema de valores que cada um assume para si mesmo e com sua maneira de viver. Além disso, essas práticas ajudam na formação da pessoa humana em sua adaptação à vida em geral e a assumir hierarquicamente os valores. Por esse motivo, o educador físico-desportivo deve interessar-se pelo aperfeiçoamento da pessoa como tal. Mas, para isso, deve adequar-se à realidade de cada indivíduo, descobrindo quais são suas aptidões e seus limites. Essa mesma prática físico- desportiva, com a alternância de êxitos e fracassos, serve de pauta ao educador, para avaliar as condições, capacidades e limitações pessoais de ordem física e mental dos educandos. O descobrimento intencionado das tensões que o esporte impõe é principalmente de ordem mental. Estudiosos como Cagigal (1985) opinam que nas atividades físico-desportivas encontramos parte das grandes motivações e atitudes que impulsionaram historicamente os comportamentos do ser humano: em primeiro lugar, o lúdico – a intencionalidade de sua ação está no atrativo do intranscendente e festivo, ainda que sujeito a algum tipo de norma; a questão principal não é ganhar, e sim passar bem e aproveitar –, em segundo lugar, o agonístico – entendido como ciência e arte de combate, intencionalidade competitiva, luta contra algo, alguém ou si mesmo. Aos componentes lúdico e agonístico, Seirul-Lo (1992) agrega um terceiro, ou seja, o eronístico, cujo valor devemos buscar no gosto e no prazer da realização (não na acepção sexual da escola psicanalítica). É uma forma prazerosa de se enfrentar as atividades corporais, pois o instrumento do esportista é seu próprio corpo, fonte de hedonismo tanto físico-biológico como mental. Sendo comportamentos inatos ao ser humano, podem, portanto, ser cultivados e desenvolvidos através da educação, fundamentalmente por parte da educação físico- desportiva. A história da humanidade parece demonstrar que todos esses comportamentos enriqueceram o ser humano e contribuíram para a sua formação global, favorecendo, entre outras, as seguintes habilidades: 7 2.1 Habilidades intelectuais • Passagem das operações concretas ao pensamento hipotético-dedutivo, com o desenvolvimento dos processos mentais de compreensão, análise e síntese. 2.2 Habilidades afetivo-sociais • Integração do indivíduo ao grupo ou ao meio; • Necessidade orgânica e social de realizar exercício físico; • Conhecimento de suas reais possibilidades e interesses; • Criatividade; • Autoconhecimento e sua independência. 2.3 Habilidades físico-motoras • Percepção do próprio corpo, do espaço e do tempo; • Tomada de decisões e resolução de problemas físicos; • Domínio de habilidades e destrezas físicas. Por tudo isso, valorizamos muito positivamente a potencialidade educativa das atividades físico-desportivas em todas as etapas da vida, especialmente na infância e adolescência, por se tratar de etapas mais plásticas e receptivas, que ajudam a configurar os comportamentos e estilos de vida adulto. Como consequência, as instituições educativas, principalmente, deveriam integrar as práticas lúdicas e físico-desportivas de forma sistemática e coerente, com a finalidade de possibilitarem um desenvolvimento saudável e harmonioso, proporcionando a vivência de experiências motoras – base do desenvolvimento intelectual –, facilitando a elaboração da identidade e da própria imagem, e a aquisição das capacidades necessárias para dominar os problemas relacionais, assim como os de integração social. 3 Aspectos positivos da prática de atividades físico- desportivas infantis Para a maioria dos pais, a prática de atividades físico-desportivas é uma necessidade. Um estudo francês sobre esse tema (DANSE; LAMBERT, apud DURAND, 1988) revela que 95% dos pais é a favor da prática esportiva de seus filhos, e 86% pensam que essas atividades são tão importantes quanto as intelectuais. Da mesma forma, em uma 8 pesquisa encomendada pelo jornal esportivo francês L’Equipe, ficou claro que 67% dos entrevistados são partidários da prática esportiva diária na escola. Em relação à classe médica, a opinião não é diferente das anteriores: observa-se que 99% dos pediatras franceses consideram positiva a prática esportiva infantil, reduzindo, no entanto, essa aceitação para 74% quando a iniciação se dá antes dos sete anos de idade (MANDEL; HENNEQUET, apud DURAND, 1988). Atualmente, para os médicos e professores de Educação Física, a prática das atividades físicas e esportivas contribui positivamente também no combate à “degeneração hipocinética”, entendida como uma carência relativa de movimento. Tal doença caracteriza-se pela diminuição da capacidade funcional de vários órgãos e sistemas (LAMB, 1985). Infelizmente, essa enfermidade, que até bem pouco tempo afetava somente os adultos, está se estendendo hoje em dia também às crianças, como bem assegura Seibold (1974) quando afirma que a vida em um mundo muito civilizado as torna preguiçosas e cômodas perante o tempo, uma vez que são liberadas dos esforços físicos, e há cada vez menos espaço e estímulos aos jogos livres infantis. Nesse momento, é necessário fazer referência aos aspectos negativos da televisão, ao desenvolvimento dos jogos eletrônicos, bem como à tendência das máquinas e dos computadores de executarem as tarefas cotidianas antes destinadas ao ser humano; influência essa que, segundo Toffler (1980), deverá acentuar-se nos próximos anos. Munné e Codina (1992) entendem que todo esse contexto colabora para manter as crianças fisicamente inativas, gerando deformações da coluna vertebral, aumentando seus hábitos consumistas e sua passividade perante as mensagens subliminares transmitidas pela TV. Contudo, como diz Scully (1990), nossos corpos não estão adaptados a esse nível de inatividade que a tecnologia do século XX nos permite desfrutar. Seguindo as ideias de Cotta (apud HAHN, 1988), em geral, o esporte fomenta na criança e no adolescente a maturidade, o crescimento e o desenvolvimento. Porém, acrescenta que só é perigoso o esporte de alto rendimento quando especificamente realizado na idade infantil. Desse modo, é quase unânime o consenso de recomendar a prática esportiva na infância, ainda que muitos entendam que ela possa provocar problemas se iniciada muito cedo ou quando estiver totalmente voltada para a competição. A afirmação de Thomas (apud PERSONNE, 1987) parece ser suficientemente clara quando diz que a aventura esportiva é um enriquecimento possivelmente insubstituível. Por outro lado, salienta que os caminhos que conduzem aos pódios e às marcas deveriam ser traçados sobre as bases de um patrimônio cultural-esportivo-humanista, respeitando o adolescente com o fim de nunca esquecer o menino ou menina, futuros homem e mulher que estão por trás do esportista. Diferentes autores e quase a totalidade dos professores de Educação Física concordam com a afirmação de que durante as primeiras etapas do aprendizado esportivo é que se devem estabelecer as bases do futuro rendimento, sem jamais buscar o rendimento imediato. 9 Como se pode ver, é necessário que se aplique ao menor um modelo de esporte que não busque o êxito pelo êxito, nem resultados para um futuro imediato, nunca esquecendo que esse modelo de esporte deve estar adaptado às reais necessidades, características e possibilidades de seus praticantes. Só assim poderemos afirmar que, no esporte infantil, prevalece o objetivo principal de contribuir com a formação integral da pessoa humana. 4 A criança, a saúde e a prática desportiva As práticas esportivas competitivas iniciadas precocemente e mal-orientadas podem ocasionar enormesprejuízos à saúde das crianças. Habitualmente, são detectados problemas ósseos, articulares, musculares, cardíacos e emocionais, dependendo da especialidade esportiva; sobretudo aquelas tecnicamente mais complexas, que, visando à automatização e ao aperfeiçoamento do movimento, empregam um grande número de repetições de gestos técnicos. O estudioso Personne (1987) comprovou que um praticante de ginástica olímpica pode realizar, ao longo de uma temporada, mais de 8.000 saltos (impacto altamente traumatizante para as articulações); um atleta de saltos ornamentais executa mais de 14.000 saltos; um arremessador de dardo, 6.000 arremessos por ano. Já o pesquisador Ferrandis (1994) verifica que, nas corridas de rua, em que crianças e adolescentes são estimulados a participar, um corredor de maratona, durante a prova, executa por volta de 30.000 impactos do calcanhar contra o solo. Nesses impactos, ele pode chegar a aplicar uma força de até seis vezes o peso de seu corpo. No voleibol, sabe-se que um cortador pode chegar a 150 saltos por partida, nos quais seus pés atingem uma altura superior a um metro, e o impacto de chegada ao solo pode ser de até dez vezes o peso de seu corpo. Devemos pensar também nos anos de preparação, duração e intensidade do treinamento para chegar a esse nível. É uma carga demasiadamente forte para o ombro e as articulações dos membros inferiores. O grande problema desse tipo de risco reside no impacto e na similitude dos gestos, principalmente se nos referimos a crianças em pleno processo de desenvolvimento. Com relação aos riscos do tipo psicológico (saúde mental) em crianças competidoras, foram encontrados níveis anormalmente altos de ansiedade, estresse e frustração. Tudo isso também se evidencia em conhecidos casos de talentos esportivos com futuro promissor que hoje se sentem martirizados internamente por fracassos e desilusões, consequentes de maus resultados em competições. De qualquer forma, a resposta psicológica mais preocupante é aquela que alguns autores chamam de “infância não vivida”, resultado da alta dedicação aos treinamentos, exigida principalmente em algumas modalidades esportivas, podendo chegar a várias horas por dia, durante todos os dias da semana, além da atividade escolar. Kunz (1994) detectou que isso pode provocar uma formação escolar deficiente e, pior, leva a criança esportista a participar menos das brincadeiras e dos jogos do mundo infantil, atividades essas que são indispensáveis ao pleno desenvolvimento de sua personalidade. Cabe aqui também lembrar que muitos pais, na ânsia de satisfazerem suas frustrações esportivas de 10 infância, sobrecarregam emocionalmente seus filhos, trazendo enormes prejuízos de ordem psicológica, que, muitas vezes, podem levar inclusive ao precoce abandono esportivo. Como foi visto, é necessário despender cuidados especiais para com os nossos pupilos, principalmente no que diz respeito aos objetivos que queremos desenvolver com a prática desportiva, pois ser atleta não significa ser saudável. Assim, os profissionais envolvidos nesse período de formação esportiva deverão utilizar-se de procedimentos pedagógicos eticamente corretos que venham ao encontro das necessidades e capacidades da criança. 5 Aspectos relacionados ao desenvolvimento motor Ao nascer, o ser humano apresenta muitas estruturas ainda não totalmente desenvolvidas, em nível cerebral, neural ou motor. O processo de maturação dessas estruturas ocorre de forma lenta e progressiva, e seu gestual vai se diversificando e tornando-se complexo com o passar do tempo. Para cada etapa do período de desenvolvimento infantil existem aspectos relevantes acerca do comportamento psíquico e motor que determinam a mecânica e a plástica do movimento executado (OLIVEIRA, 1998, p. 40). Para maior compreensão do desenvolvimento motor, apresentaremos a seguir a ampulheta de Gallahue (1996). Essa ampulheta favorece a observação das atividades desenvolvidas nas devidas épocas, aplicando-as no cotidiano, no campo recreativo e no campo esportivo, mostrando seu caráter competitivo, formativo e educacional. É importante salientar a fase dos movimentos fundamentais e a fase de movimentos relacionados às habilidades esportivas, uma vez que apresentam as faixas etárias de interesse para o nosso estudo. A fase dos movimentos fundamentais é aquela em que eles estão inseridos no dia a dia da criança, constituindo-se em um padrão comum e simples, caracterizado por movimentos básicos, como corridas, rolamentos, saltos, giros, entre outros. São atividades desprovidas de intenção sistematizada, sendo esses movimentos relacionados com a necessidade de interação do ser humano. A quarta fase da ampulheta, relacionada às habilidades esportivas, caracteriza-se por movimentações mais específicas, normalmente identificadas com determinado esporte que, por vezes, não se constitui de movimentos comuns, requerendo experiência motora anterior. 11 Figura: Ampulheta de desenvolvimento de Gallahue (1996). De acordo com Oliveira (1998), pode-se afirmar que a aprendizagem motora depende do processo de amadurecimento estabelecido nas fases do desenvolvimento motor e que se concretiza por meio da relação recíproca entre o ser humano e o ambiente. Segundo o autor, essa capacidade de interação é possível devido aos mecanismos perceptivos e proprioceptivos existentes no ser humano, funcionando como “porta de entrada” das informações. O mesmo autor afirma, ainda, que a interação ser humano- movimento-ambiente promove contínuas alterações no comportamento, sejam motoras, sejam psíquicas. Abaixo Oliveira (1998) discorre sobre os níveis de especialização esportiva iniciada para diferentes idades: Etapa de incorporação: Situa-se entre 11 e 13 anos e consiste no aprendizado básico da modalidade. Todo alicerce técnico vai ser construído por meio dele. Não há, ainda, a preocupação com a performance (rendimento). É importante que sejam trabalhados os seguintes aspectos: ritmo dos movimentos específicos; posições e movimentações corporais básicas; capacidade de identificação das áreas demarcadas (quadra, praça esportiva, piscina, área de combate, etc.); adaptação aos materiais; e aprendizado das regras específicas. Etapa de aperfeiçoamento: Situa-se entre 13 e 16 anos, sendo que nessa etapa o indivíduo se aprimorará tanto física como mentalmente, ampliando o ciclo de aprendizagens essenciais. De forma geral, essa etapa abrange os seguintes aspectos: aumento gradativo da velocidade de execução e coordenação dos movimentos específicos; atitudes e movimentos corporais mais complexos; domínio total do material esportivo; 12 compreensão e interpretação das regras; e desenvolvimento da tática de jogo ou da estratégia de competição. Etapa de eficiência: Vai dos 16 aos 18 anos e caracteriza-se por definições no âmbito da especialização esportiva. Até esse momento, a criança não deveria ser tratada como atleta. Busca-se, nessa etapa, a eficácia dos gestos, ou seja, a aplicação correta, consciente e consistente. Para tanto, deve-se considerar os seguintes aspectos: domínio tanto da técnica como da tática do jogo; condições físicas ideais para o início do rendimento esportivo; treinamentos específicos durante grande parte do tempo; e preocupação com a eficácia e a perfeição das atitudes esportivas. Etapa de rendimento: É a última etapa da especialização esportiva; fase em que o indivíduo já pode ser considerado um atleta; busca-se o alto nível, no qual se destacam os seguintes itens: treinamentos sistematizados; preparação física intensa; exigências cognitivas (tomada de decisão, tempo de reação); elevado senso de elaboração e tático; e busca de vitória e conquista de competições. De modo geral, alguns aspectos deverão estar presentes no ensino esportivo para as idades iniciais: base motora com controledo gesto motor e consolidação do conhecimento do próprio corpo, principalmente no ambiente de jogo; desenvolvimento físico geral e específico; vivências amplas relacionadas à técnica e à tática de jogo em diferentes situações, possibilitando o desenvolvimento do raciocínio, da tomada de decisão, da observação e da antecipação das situações que ocorrem durante o jogo; e a consciência da importância do grupo, aliada à sua habilidade individual, controle dos fatores de ansiedade e respeito às leis do jogo. 6 A pedagogia no ensino das atividades físicas e do esporte infantil e suas intervenções Para melhor esclarecer as ideias citadas anteriormente sobre a iniciação e o processo de aprendizagem das atividades físico-desportivas aplicadas a crianças, iniciamos com as palavras de Telema (1986), afirmando que devemos ter em mente que a atividade esportiva por si só não educa; seus efeitos educativos dependem da situação criada, especialmente em relação aos aspectos de interação social e ao clima afetivo- emocional e motivacional existente. Essas condições dependem de diversos fatores, entre os quais a intervenção do educador nos parece fundamental. As principais tendências pedagógicas expressas no âmbito da educação formal, como nos fala Balbinotti (1997, p.86), podem ser denominadas e definidas como reprodutivistas e construtivistas. A concepção reprodutivista (tradicional) é aquela que 13 prioriza as capacidades intelectuais, situando-as como primeiro e mais relevante objetivo na formação do homem. Seus procedimentos didáticos enfatizam processos normativos que visam a uma disciplina rígida. A tônica dessa concepção educativa é uma exposição de conhecimentos por parte do professor dirigidos a educandos ouvintes e passivos, bem- comportados e estáticos. Para o mesmo autor, a concepção construtivista pressupõe estratégias de intervenção pedagógica manifestadas através da integração entre educação intelectual e corporal e de um conceito de autoconstrução. Isso significa que o processo de elaboração do conhecimento se dá com a participação e a intervenção ativa do indivíduo em todas as atividades de aprendizagem. A complexidade do processo de construção do conhecimento exige que o professor exerça o papel de agente estimulador dessas relações de interação, nas quais o indivíduo passa a ser um agente ativo. A prática pedagógica, segundo Shigunov e Pereira (1993), é um problema central da ação educativa para todos os contextos sociais e fatores envolvidos, tanto em âmbito de intervenção pedagógica como do conteúdo ou da relação. A capacidade de intervenção pedagógica, como afirma Carreiro da Costa (1988, apud SHIGUNOV; PEREIRA, 1993, p.16), “é não só uma realidade desejável como imprescindível; ela só ganha verdadeiro sentido pedagógico quando exprime uma metodologia de ensino consentânea com as características da atividade humana”. Para Bordenave e Pereira (1983), na relação professor-aluno, o problema reside no fato de não contarmos ainda com suficiente conhecimento teórico e pesquisa para determinar quais as características pessoais que mais influenciam a aprendizagem, e de que maneira o fazem. Enquanto não forem estudados e evidenciados os elementos mais importantes da intervenção pedagógica do professor, tanto nos aspectos instrucionais quanto nos afetivos, devemos entender que a relação pedagógica não será promovida nem concretizada com toda a sua força formativa. As novas tendências pedagógicas para a educação física infantil visam, hoje, proporcionar que a criança experimente as várias possibilidades de movimentos corporais a partir de sua criatividade e autoconstrução. Nessa abordagem, ela participa intensamente das decisões de todo o processo educativo. A educação a ser exercida pelo professor, segundo Finger (1971), deverá obedecer a uma pedagogia e a uma metodologia que, além de permitirem a solução e a previsão de situações decorrentes da aprendizagem e da prática do jogo, respeitem os interesses da idade. Sabemos também que, para alcançar nossas metas no meio educativo, além de termos o conhecimento profundo ou até mesmo uma vivência da prática esportiva, é de suma importância possuirmos um conhecimento mais amplo a respeito do grupo que será trabalhado. Isso requer pesquisas e estudos nas áreas diretamente envolvidas com nosso trabalho (VARGAS NETO; VOSER, 2001). 14 Por exemplo, quando se desenvolve um trabalho de iniciação esportiva para crianças na faixa etária entre 6 e 12 anos, deve-se estar atento a algumas questões pedagógicas que envolvem o processo ensino-aprendizagem (VOSER, 1999b): • O corpo, nessa fase, é o referencial da percepção, o meio pelo qual a criança absorve o mundo e manifesta sentimentos, sensações e até mesmo opiniões. • O professor deve desenvolver os aspectos do esquema corporal, do equilíbrio, da lateralidade, da organização do corpo no espaço e no tempo, da coordenação motora grossa e fina, não esquecendo o que é característico na idade: correr, saltar, lançar, transportar, trepar, rastejar e rolar. • Deve ser oportunizada uma variedade de experiências motoras, bem como um contato com vários tipos de objetos em diferentes espaços, proporcionando, assim, a conscientização do próprio esquema corporal. • No período escolar é possível realizar um trabalho integrado com as demais disciplinas, fazendo uso da interdisciplinaridade. • Toda atividade em forma de recreação é mais atrativa para as crianças. O lúdico e o brincar são tão importantes para elas quanto respirar, comer e dormir. • Torna-se importante elaborar atividades de acordo com o interesse das crianças, observando e não permitindo as manifestações de cansaço, impaciência e desinteresse. • A linguagem utilizada deve ser objetiva e de fácil compreensão. • As atividades desenvolvidas deverão propiciar a sociabilização, a integração e a autoestima. • É importante que o professor estimule as crianças à criação e à organização das atividades sem, é claro, perder o controle da turma. Ele poderá usar as seguintes perguntas: “Quem consegue...?”, “Quem é capaz de...?”, “Quem sabe outra maneira de...?”. • Deverá ser mantida a motivação da turma e o seu interesse pelas atividades, sabendo a hora de trocá-las. • O educador deve transmitir o gosto de aprender e de se aperfeiçoar, principalmente para despertar o interesse da criança pela prática esportiva. • É necessário que os alunos se sintam seguros e desinibidos para participar de todas as atividades. Será oferecido um ambiente livre de tensões, mantendo, assim, um clima propício para a aprendizagem. • Serão incentivados principalmente os alunos que têm dificuldades, elogiando-os a cada conquista e deixando para aqueles que possuem mais facilidade o compromisso de auxiliar na transmissão da sua experiência. • A individualidade de cada criança deve ser respeitada. Deve-se, também, estar atento à progressão dos exercícios, partindo sempre do mais fácil ao mais difícil, e do simples para o complexo. • É preciso avaliar o desenvolvimento psicomotor dos alunos que são mais desenvolvidos fisicamente, mas que, na realidade, possuem a mesma capacidade mental das outras 15 crianças de sua idade. É necessário estar atento à maturidade motora e mental (emocional) das crianças. • Faz-se necessário dar atenção a fatores externos que possam interferir no andamento do trabalho proposto. O maior exemplo a ser citado é a pressão que os pais exercem sobre seus filhos ao tentar satisfazer seus próprios desejos de infância ou projetando um futuro promissor para a criança no esporte. É indicado conversar com os pais e mostrar o que esse tipo de ação pode acarretar na criança. Para concluir, lembramos que a criança não é um adulto (atleta) em miniatura, e o treinador ou professor, além de sua tarefa técnica, também tem responsabilidade pedagógica com o futurodo jovem a ele confiado. 7 Modelos de ensino esportivo Embora existam vários modelos de ensino, este artigo optará pela análise daqueles que prevalecem nos programas de iniciação esportiva. Portanto, dando seguimento às reflexões, utilizou-se a classificação de Heinila (apud FERREIRA, 1984) sobre o processo de ensino em Educação Física. Tal classificação foi utilizada no Brasil por Ferreira (1984); a autora elabora e acrescenta indicadores e referenciais para um esquema conceitual, denominado matriz analítica, a fim de realizar uma crítica à realidade do ensino da educação física infantil. Para essa autora, o modelo de reprodução em educação física é caracterizado pela atitude acrítica tanto da realidade interna constituída pelas experiências que o aluno adquire quanto pelas condições econômicas, sociais e culturais que constituem a realidade externa. Nele, o esporte é valorizado como paradigma ideal de educação, reproduzindo os padrões sociais da classe dominante. Nesse sentido, os objetivos educacionais servem para conservar e reforçar as diferenças entre as classes sociais. O modelo de reprodução também assume o esporte como foco do sistema de ensino e tem como fonte de informação as técnicas, as habilidades esportivas e o conhecimento dos mecanismos psicofisiológicos do treinamento esportivo. Sua fonte de normas e sanções provém da performance e das vitórias esportivas, das competições e das classificações por desempenho. O professor é visto como o controlador de atividades, treinador e técnico preocupado em fazer do aluno um atleta em potencial, ou seja, seu objeto de treinamento. As metodologias empregadas têm sua referência em modelos ideais de execução, predominando procedimentos diretivos. Finalmente, no que diz respeito ao critério de avaliação, há um predomínio de caráter somativo. O modelo de transformação, por sua vez, é caracterizado pela atitude de reflexão sobre a realidade, modificando a percepção que o indivíduo tem de suas experiências e do mundo que o cerca. Nessa perspectiva, a educação física é sempre processo, realimentado pela prática consciente dos sujeitos sobre a realidade esportiva, numa concepção dialética, favorecendo a aprendizagem e a avaliação dos resultados. 16 Desse ponto de vista, o professor explora situações de conflito que levam o aluno a perceber a realidade de forma múltipla e a si mesmo como agente dessa realidade. Assim, o foco do ensino é o educando, capaz de decifrar o mundo que o cerca. A perspectiva de transformação tem como fonte de informação o conhecimento funcional da natureza do homem e como fonte de normas e sanções um amplo processo de negociação com as crianças, partindo de seus interesses, necessidades e motivações. Conseguir-se-ia, assim, articular um sistema de disciplina intrínseco ao processo. O professor, nesse enfoque, é visto como facilitador e orientador das atividades, preocupado em estimular uma participação maior e mais consciente dos alunos em todos os níveis. As metodologias empregadas têm um caráter mais ativo e estimulante; utilizam procedimentos diversificados, dirigidos a motivar os diferentes níveis de aspiração dos alunos, com um predomínio dos processos indiretos de ensino (iniciativa centrada no aluno). Finalmente, com relação ao principal critério de avaliação, haverá uma ênfase sobre a avaliação do tipo formativa. Isso significa que a preocupação existente é a de disponibilizar informações qualitativas em relação ao domínio e não aos objetivos, permitindo a devida colaboração e participação crítica do próprio aluno. Os modelos citados por Heinila e Ferreira têm auxiliado diversos estudos a detectar as ambiguidades entre as ideias e ações educativas dos professores em programas de iniciação esportiva. Isso se confirma nos estudos de Brauner (1994), ao analisar as intervenções pedagógicas em programas de iniciação ao basquetebol, e Voser (1999a), nos estudos em escolinhas de futsal, quando ambos observam uma prática pedagógica tradicional, centrada na competição, no êxito e na seletividade, incidindo numa iniciação precoce. Esses achados trazem grandes preocupações e traduzem a realidade no mundo do esporte infantil. 8 Métodos de ensino na educação física e no esporte Todos os professores, em suas atividades de ensino, devem ter conhecimento do processo de aprendizagem e dos métodos de ensino a serem aplicados. Por muito tempo, ao abordarmos o tema dos métodos de ensino em educação física, logo eram referenciados os métodos global, parcial e misto. Tais métodos serviram de inspiração para muitas pesquisas em que, na maioria das vezes, os pesquisadores comparavam um método ao outro na tentativa de descobrir qual apresentaria maior êxito e eficácia no ensino da educação física. Posteriormente, outros termos e métodos foram surgindo, tais como global em forma de jogo, confrontação, série de jogos, entre outros tantos. Na verdade, a palavra “método” refere-se ao caminho a ser percorrido para alcançar os objetivos propostos. 17 Com base na didática, cada professor, partindo de diretrizes metodológicas seguras e atualizadas, pode e deve organizar seu próprio método. O bom professor é aquele que busca constantemente um método melhor e mais adequado a seus alunos, respeitando a realidade, o momento e, principalmente, suas características individuais. É importante salientar que cada método tem suas vantagens e desvantagens, mas todos são operacionais, e nenhum é desprezível. Algumas dicas importantes para o sucesso no desenvolvimento da aula, segundo Voser e Giusti (2015b): • estabelecer vínculo afetivo com os alunos; • transmitir apoio e segurança; • usar o reforço positivo; • manter a motivação; • trabalhar com as diferenças, assegurando a participação de todos os alunos; • promover a convivência entre meninos e meninas; • estimular a interdisciplinaridade; • contemplar, por meio da metodologia indicada no período de iniciação, as características, necessidades e interesses da criança. O lúdico, a recreação e as atividades pré-esportivas são bem-indicados; • atentar para a adaptação da criança ao jogo, permitindo a sua relação com o espaço, com a bola, com os colegas e com os adversários; • enfatizar as capacidades motoras; • mostrar-se organizado, apresentar os objetivos no início da aula e sempre finalizar com atividades calmantes, tais como brincadeiras, alongamento e, principalmente, conversa final abordando os fatos ocorridos (positivos e negativos). Ao final, os alunos devem ajudar o professor a recolher o material utilizado na aula; • explicar e demonstrar a atividade, quando necessário; • participar efetivamente das atividades; • incentivar os alunos à criação e à reformulação de regras; • considerar o contexto e o interesse da turma; • perceber quando a atividade perdeu a motivação ou quando o grau de exigência está muito elevado. Trabalhar do simples para o complexo, do fácil para o difícil; • manter reuniões periódicas com os demais professores e os pais, apresentando a metodologia utilizada. 18 9 Esporte da escola A Constituição Brasileira de 1988, no seu art. 217, prevê que os recursos públicos sejam prioritariamente destinados à promoção do esporte educacional. A Lei nº 9.615/98, batizada como “Lei Pelé”, regulariza o esporte no país, caracterizando o esporte educacional como aquele praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer. Ainda a Carta Internacional da Educação Física e do Esporte da UNESCO (1978) descreve: “Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à educação física e ao esporte, que são essenciais para o pleno desenvolvimentoda sua personalidade. A liberdade de desenvolver aptidões físicas, intelectuais e morais, por meio da educação física e do esporte, deve ser garantido dentro do sistema educacional, assim como em outros aspectos da vida social”. Neste sentido, o esporte pode e deve ser utilizado como ferramenta para o desenvolvimento da cidadania, conforme assinala a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). No entanto, muitas vezes se observa que os professores de Educação Física não vislumbram todas as possibilidades que devem ser exploradas durante a prática dos esportes (VOSER, GIUSTI, 2015a). Infelizmente, as escolas ainda desenvolvem um projeto de educação física ultrapassado e sem qualquer respaldo didático-pedagógico para envolver o aluno das séries iniciais, acompanhando-o até o ensino médio. A situação é tão séria que algumas escolas ainda não têm professores de educação física na educação infantil e fundamental, etapas em que sua importância é indiscutível, pois é entre os 7 e os 12 anos de idade que se estabelece a base motora (VOSER, GIUSTI, 2015b). O esporte tem de ser visto em sua dimensão mais ampla, principalmente no que se refere aos ganhos atitudinais, aos valores que estão presentes no esporte, como disciplina, respeito às regras, aos colegas, ao adversário, saber ganhar e perder, solidariedade, superação, autoconfiança, autonomia, entre outros tantos. É por meio da participação social e da cooperação com os colegas que a criança passa a praticar princípios democráticos e a ter uma vivência coletiva. O que se observa segundo geralmente no ambiente da escola são a aplicação de dois modelos: um primeiro, onde o professor apenas ministra algum alongamento e aquecimento e, em seguida, larga a bola para os alunos jogarem, “largobol”; e um segundo, onde é aplicado um modelo analítico de ensino, com o foco no aprendizado da técnica/gesto motor, repetições, seletividade, exclusão, e pela aplicação do jogo com as regras institucionalizadas. Geralmente são caracterizadas por atividades com longas colunas com pouca interação, cooperação e desenvolvimento da capacidade cognitiva (VOSER, 2018). O esporte da escola por sua vez deve preconizar a formação integral do aluno/cidadão, devendo propiciar a participação de todos, estimulando a inclusão e a diversidade. Estas aulas devem ser alegres e desafiadoras. Nossa convicção é que a escola 19 deve ser transformadora. O ensino dos esportes prepara para a vida. A prática dos esportes ensina à criança noções básicas de cidadania, de respeito às regras, a trabalhar coletivamente, a ganhar e perder. Para o esporte tornar-se fator de emancipação individual e, consequentemente, coletiva, alguns preceitos devem ser respeitados, como: 1. Inclusão de todos: criar condições, possibilidades e oportunidades para que as crianças e os jovens tenham acesso à prática esportiva; 2. Construção coletiva: elaborar e desenvolver, juntamente com os educandos, os programas pedagógicos para levar em consideração suas necessidades e expectativas; 3. Respeito à diversidade: reconhecer e respeitar as diferenças dos alunos em relação à etnia, ao gênero, ao biótipo, além de repertórios e habilidades. 4. Educação integral: ser meio de aprendizagem equilibrada, além da dimensão física, como desenvolvimento das capacidades psíquica, afetiva e social; 5. Rumo à autonomia: compreender a prática esportiva como ação emancipatória para a formação de um cidadão ativo, crítico e criativo. Para finalizar, julgo que é possível construir, ao longo de todos os anos escolares, uma proposta pedagógica que, além de desenvolver no aluno os aspectos específicos do futsal, possibilite seu crescimento como ser humano. Esta proposta deve estar alicerçada ao projeto político pedagógico da escola e, principalmente, ser contextualizada à realidade. 10 Considerações finais Os estudiosos dos temas que envolvem a criança na participação de atividades físico-desportivas são unânimes ao afirmar a necessidade da criança em participar de atividades de movimento. Destacam, porém, que a maioria dos profissionais usa de metodologias com altos graus de exigência, trazendo prejuízos de caráter físico, emocional e, por muitas vezes, um abandono precoce nessas atividades de movimento, principalmente as esportivas. Deve-se ter em mente que a criança não é um adulto em miniatura; portanto, é necessária uma proposta pedagógica que seja eficaz quanto às necessidades e aos interesses da criança. Julgo, por meio de minhas experiências, que é possível construir e aplicar uma proposta pedagógica que, além de desenvolver seus aspectos físicos e técnicos, possibilite à criança o seu crescimento como ser humano. Por fim, espero ter contribuído, através destes referenciais teóricos, com aqueles que admiram e acreditam em um esporte infantil pedagogicamente orientado. 20 Referências BALBINOTTI, C. A. A. O desporto de competição como um meio de educação: uma proposta metodológica construtivista aplicada ao treinamento de jovens tenistas. Revista Perfil. Porto Alegre, ano I, n.1, p.83-91, 1997. BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A . M. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1983. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e tecnológica. 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O relacionamento entre professor e aluno, ou treinador e atleta, é um dos pontos mais importantes do processo de formação do indivíduo. Dentro desse processo de relação, os treinadores desempenham papel de pais, amigos, conselheiros e, para muitos, de ídolos e exemplos de vida. O treinador é visto como um exemplo dentro e fora da quadra. Tutko (apud ABREU, 1993) sustenta que existe uma grande variedade de personalidades na profissão de treinador. Sentimentos como desgosto, glória e êxito em 23 sua relação com o atleta produzem uma atmosfera que pode convertê-lo num influente construtor do caráter ou num modelador da personalidade do praticante. Os treinadores sabem que muitas conquistas e vitórias caem no esquecimento, o que prova que não é o triunfo que conta, e sim a forma como ele foi obtido. Sobre isso, podemos acrescentar as seguintes palavras: (...) o treinador deve-se conduzir de tal modo que sirva aos praticantes de ontem como uma recordação agradável de sua juventude; aos praticantes de hoje, como um exemplo de sacrifício, de dedicação e de dignidade, e aos praticantes de amanhã, como uma esperança a mais em seu futuro. (GUILHERME, 1975, p.5) Cabe destacar as afirmações de Counsilman (1984), as quais sustentam que, no período crucial de incrementar o estímulo competitivo, o jovem precisa de um mestre compreensivo que demonstre algo mais do que capacidade de organização e conhecimentos de mecânica dos movimentos – por mais essenciais que sejam tais fatores para um técnico eficiente. Um técnico de grupos jovens, na concepção do autor, deve ser selecionado não por ser ambicioso ou conseguir bons resultados, mas principalmente por saber compreender os jovens e conduzi-los. Para Hahn (1988), o treinador é o elo da união entre a criança e o esporte. O autor deixa claro que a responsabilidade pedagógica do treinador é mais importante que seu papel na direção do treinamento tecnomotriz, ao basear-se no princípio de que as falhas elementares nunca se superam totalmente durante os primeiros processos de treinamento. Hahn adverte que os treinadores necessitam de uma teoria de treinamento com crianças e que, se por um lado buscam a evolução objetivada do rendimento, por outro devem levar em conta as necessidades e os interesses da criança. Conforme sua personalidade, o técnico pode agir e ser visto diante da sociedade de várias maneiras. Hendry (apud CRATTY, 1983), em suas pesquisas, segundo depoimentos de atletas e demais técnicos, encontrou que o técnico ideal seria aquele indivíduo estável, sociável, criativo, inteligente, que assume riscos calculados, é confiante e seguro. Aquele que poderia tranquilamente manter o controle em situações tensas e adversas do esporte. A interação entre técnicos e atletas vai depender principalmente das necessidades e das personalidades dos envolvidos. Isso pode influenciar a performance do atleta tanto positiva como negativamente quando não existir correspondência com as necessidades requeridas ou sobrarem estímulos inadequados (MACHADO, 1997). Outro ponto extremamente importante a que o treinador de jovens deve estar atento é com sua relação com os pais. Muitas vezes, na angústia de satisfazer seus próprios desejos de infância ou projetar para seus filhos um futuro promissor no esporte, os pais exercem uma pressão muito grande na criança e, por vezes, até mesmo acabam atrapalhando toda metodologia do professor/treinador (VOSER, 1999). Por isso, são necessárias eventuais reuniões com os pais para lhes apresentar a proposta metodológica 24 do trabalho a ser desenvolvido, bem como ressaltar-lhes a importância que eles têm dentro desse processo. A seguir, alguns lembretes. • O treinador deve doar-se naquilo que está fazendo. Deve lembrar que ninguém consegue obter grandes conquistas sem ter feito sacrifícios pessoais. • Deve ser um líder, um aglutinador; deve passar segurança e confiança a seus comandados. • Deve estar preparado psicologicamente para receber as críticas e todas as pressões que ocorrem normalmente nos treinos e jogos. • Todo treinador deve saber ouvir seus atletas e conhecer suas angústias, dificuldades e metas (canal de comunicação). • Deve ouvir a opinião dos atletas com relação a questões referentes ao treinamento, mas o grupo deve estar ciente que a decisão final é dele. • Deve apresentar e aplicar seus critérios; critérios diferentes desmobilizam o grupo e dão chance para a insegurança. • Deve manter-se atualizado, estar apoiado nas ciências do desporto (inovar). • Deve saber trabalhar em equipe multidisciplinar); para tanto, deve ter conhecimento nas áreas que ajudarão a atingir os resultados. 25 Referências ABREU, R. C. de. Análise do fenômeno do drop-out em nadadores de 12 a 15 anos de ambos os sexos no estado de Minas Gerais. Dissertação de Mestrado da UFMG, Belo Horizonte, 1993. COUNSILMAN, J. E. A natação, ciência e técnica para a preparação de campeões. 2.ed. Ibero- Americano, Rio de Janeiro: 1984. CRATTY, B. J. Psicologia no esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1983. GUILHERME, A. À beira da quadra: conhecimentos úteis aos dirigentes, treinadores e atletas. Belo Horizonte: Gráfica Aimorés, 1975. MACHADO, A. A. Agressão e ansiedade em esportistas adolescentes. In: BURITI, M. de A. (org.). Psicologia do esporte. Campinas: Alinea, 1997a, p.67-90. VOSER, R. C. Iniciação ao futsal: abordagem recreativa. Canoas: ULBRA, 1999. 26 CAPÍTULO 3 A ética no esporte 2 2 Colaborou na elaboração deste capítulo: Francisco Xavier de Vargas Neto, professor, PHD em Filosofia e Ciências da Educação em Barcelona. 27 1 Introdução Este artigo visa percorrer alguns tópicos de extrema relevância sobre a ética no esporte, assim como trazer algumas reflexões e discussões importantes com relação a esse tema, que é atual e necessita de aprofundamentos que discorram sobre a situação do desporto atual e sua vital importância para a formação pessoal e social dos indivíduos. Sabemos que a tarefa não será fácil, pois trata-se de uma abordagem pouco discutida até então pela Educação Física e por outras áreas afins do conhecimento. Apesar de reconhecermos as dificuldades encontradas na busca de um referencial teórico com consistência e profundidade, procuraremos, a partir de nossas experiências dentro do desporto de rendimento, como atletas e técnicos, trazer pontos interessantes e contribuições principalmente para os jovens que estão iniciando aparticipação no meio esportivo. 2 Conceito de ética Um pouco de história ajuda a compreender a necessidade que o homem moderno sente de pensar uma ética que possa fundar cientificamente a moralidade da vida humana. A ética e a moral muitas vezes são confundidas. A palavra ética tem sua raiz no termo grego ethos, que significa costume, comportamento, caráter; a palavra moral tem origem em mores, termo em latim que significa costume. Tanto ética quanto moral diz respeito ao conjunto dos costumes tradicionais de uma sociedade, valores referenciais de conduta para os seus membros, qualificando o bem e o mal, o certo e o errado, o lícito e o ilícito. Enquanto a moral corresponde ao conjunto de valores e regras que norteiam o nosso comportamento nas relações sociais, a ética diz respeito à reflexão sobre os diversos atos praticados nas coletividades e sua relação com o bem comum. A ética é a ciência que estuda as relações do homem com a moral. Só ela é capaz de distinguir o que é certo do que é errado. A sociedade sem ética é uma sociedade sem organização, sem liberdade e sem transparência. Quando refletimos sobre a “questão ética”, não podemos esquecer que se trata de uma das questões fundamentais do domínio da filosofia, cuja preocupação dominante é tentar determinar a finalidade da vida humana. Quando abordamos as questões éticas, logo pensamos na liberdade, na responsabilidade pessoal e também no conjunto de leis e normas que orientam a atividade humana. Para o filósofo e professor Santin (1995a), o problema ético tem suas raízes mais profundas nas misteriosas forças que regem, unem e entrelaçam o jogo do homem e o jogo do mundo. O mesmo autor ainda afirma que o problema ético propriamente dito surgiu tardiamente, quando a pergunta que o homem se fazia, “Como devo agir”, transformou-se numa série de outras dúvidas que exigem esclarecimentos. O homem passou a indagar-se sobre “Como posso julgar a minha ação e a dos outros?”, “Em nome de que critérios ou valores faço tais julgamentos?”, “Como posso saber 28 que os valores, os princípios que norteiam minha ação e a dos outros são bons, verdadeiros e justos?”. Santin (1995a) afirma que o problema ético ocorre como um processo de teorização em busca de fundamentos legitimadores e justificadores das práticas morais. Conforme Araújo (1990, p.40), (...) a ética visa à denúncia crítica e desmistificadora de todas estruturas sociais que deformam, deterioram e mutilam o reconhecimento da dignidade, a par de uma lúcida reflexão para criar e propor novos estilos de vida para uma existência melhor. Não podemos esquecer que a ética, devido ao avanço da ciência na sociedade moderna, cada vez mais se aproxima do homem na busca de autenticidade de todo discurso e de toda ação (SANTIN, 1995b). 3 A ética no desporto A ética do desporto é parte de uma problemática que abrange todos os domínios da atividade humana. De certo modo, postula o retorno às origens da prática desportiva e ao espírito que tinha em suas características a lealdade, o fair play, a justiça, a igualdade de oportunidade, o respeito pela pessoa do adversário. A defesa da ética desportiva confunde-se, pois, com a defesa do próprio fenômeno desportivo, sendo, por esse motivo, responsabilidade de todos e do Estado, em particular. Decorre desse princípio a necessidade permanente de aperfeiçoar a legislação tendente a prevenir e a punir as manifestações antidesportivas, resignadamente a violência associada ao desporto, à dopagem, corrupção e qualquer forma de discriminação social. Aparentemente, não parece ser uma tarefa difícil falar de ética no desporto em nosso país. Os exemplos de falta de ética estão na mídia com frequência quase que diária. Podemos citar como exemplos fatos já ocorridos no futebol brasileiro, como o caso Luxemburgo, o contrato da Nike com a CBF, as falsificações de idades (o famoso “gato”), o desmanche da torcida organizada Gaviões da Fiel por motivo de violência, sonegação de impostos pelos clubes, os casos de doping e tantos outros envolvendo os nossos ídolos do esporte. 4 O desporto de rendimento e a ética Nossa função na universidade, como formadores de futuros profissionais de Educação Física, é de fornecer esclarecimento intelectual e de assumir o dever da informação, ao relatar os fatores positivos e também os possíveis perigos e riscos de 29 muitas práticas esportivas quando mal-orientadas e direcionadas a outros rumos que não condizem com o esporte. Não podemos ser meros espectadores neutrais de situações que escondem, escamoteiam e ameaçam a substância humana do desporto, pois o significado humano e educativo do desporto, como afirma Bento (1990, p.38), “é garantido quando cada um rende o mais que pode sem sentir que isso é uma obrigação imposta pelo exterior; quando cada um assume mais do que é capaz, mas simultaneamente esgota as suas possibilidades de empenhamento esportivo”. Quando orientado para a finalidade de produzir rendimento, o sistema do desporto conduziu o desportista a perder sua posição de sujeito e transformar-se em objeto, num produto visível, mensurável e valorável. Determinou que o seu corpo fosse instrumento de apresentação do rendimento do sistema. O atleta depende economicamente dessa relação e sabe que tem um tempo de atividade profissional reduzido, fatos que influenciam o respectivo comportamento ético e o sujeitam a manobras que muitas vezes o prejudicam biologicamente, alterando a verdade das suas capacidades; na competição, nem sempre a lealdade e a solidariedade são valores primordiais na relação com os respectivos competidores. Muitas vezes em nossa história observou-se que o desporto foi assumido como forma de afirmação de modelos políticos sociais, e os jogos internacionais foram tomados como cenários dessa afirmação. Conforme Grande, nesses casos “A ética (...) foi subvertida, os atletas usados como bandeiras ideológicas e os resultados interpretados segundo interesses que pouco tinham que ver com o desporto em si mesmo” (1990, p.20). Ainda segundo Grande, (...) empresas e universidades, através do marketing esportivo, têm buscado investir no esporte como veículo de aproximação com a comunidade em busca da relação de fidelidade com sua marca. Para tanto, profissionalizam seus atletas e exigem deles a dedicação total aos objetivos correspondentes, em que a necessidade da vitória se sobrepõe a qualquer outro objetivo. (1990, p.21) Para que o desporto possa assumir as funções prescritas nos seus princípios, não basta torná-lo tecnicamente mais perfeito; é preciso torná-lo mais humano. No centro do desporto deve estar sempre o homem como sujeito e como motivo primeiro da prática desportiva. É sabido que o desporto é um dos mais poderosos instrumentos de cultura e intercâmbio, de conhecimento e de convívio entre os povos. Para tanto, ele deve ser tratado como fenômeno ético. Tendo em vista a imensa abrangência que o tema abarca, a seguir optamos por discutir dois tópicos do que julgamos ser atualmente a maior problemática nos aspectos que envolvem a ética e o desporto de rendimento. 30 4.1 O doping no esporte As notícias sensacionalistas sobre o doping no esporte de alto rendimento têm feito com que o fato seja conhecido por todos. Os grandes ídolos flagrados, os casos de mortes precoces, bem como inesperados relatos e publicações de ex-esportistas, fazem com que muitos treinadores, pedagogos e professores de Educação Física preocupem-se com a abrangência do fato. Em 1990, a publicação Desporto, ética, sociedade (BENTO; MARQUES, 1990) relatava, em vários de seus artigos, os diversos problemas e consequências do uso de substâncias químicas utilizadas por competidores. Por outro lado, o artigo intitulado As dimensões inumanas do esporte de rendimento (KUNZ, 1994) qualifica como inaceitável ouso de substâncias proibidas como também desqualifica o treinamento especializado precoce. A questão ética prende-se ao fato comprovado de que o doping oferece uma grande vantagem àqueles que o utilizam, e que mesmo um talento natural, por melhor que seja, sem ele dificilmente conseguirá destacar-se no alto nível. Nessa perspectiva, poderíamos discutir a questão das medalhas conquistadas sob suspeita de doping. A revista Veja publicou, em janeiro de 1998, um artigo intitulado “Medalhas sujas”, no qual questiona muitos resultados alcançados em olimpíadas e campeonatos mundiais pela extinta Alemanha Oriental: são 103 casos no atletismo e 86 na natação (masculino e feminino). A pergunta é: como ficam os recordes obtidos nessas competições? Diga-se de passagem que alguns desses recordes ainda estão em vigor. E os atletas que competiram estritamente dentro do regulamento e poderiam ter vencido (ou legalmente venceram) essas provas, como ficam? A questão é absolutamente ética. O que preocupa é o fato de que cada vez mais os atletas de diversas modalidades têm se valido de meios ilícitos para auferir vantagens nas diversas competições, atendendo assim interesses de forma escusa. Algumas substâncias são controladas nos exames antidoping; contudo, cada vez mais surgem estudos que desenvolvem mecanismos para mascarar e dificultar a possibilidade de identificar o uso de substâncias proibidas, as quais, embora favoreçam durante a competição, posteriormente podem produzir tremendos prejuízos à saúde dos atletas. Passamos a citar algumas substâncias proibidas e os riscos para a saúde decorrentes de seu uso: - EPO (eritropoietina) – produz crescimento dos órgãos internos, e nas mulheres produz aumento dos pelos da face. O uso contínuo pode levar à pressão alta; 31 - Betabloqueadores (acebutolol, alprenolol, nadolol, oxprenolol, propanolol e sotalol) – provocam dificuldades na respiração; - Esteroides corticoides (dexametasona e hidrocortisona) – produzem diabetes, glaucoma e problemas musculares; - Analgésicos (buprenorfina, heroína, dextromoramida, metadona, morfina, pentazocina e petidina) – causam problemas respiratórios, náusea e dependência; - Diuréticos (acetazolamida, bumetanida e clortalidona) – causam desidratação, falência do fígado e cãibras; - Estimulantes (anfetamina, cafeína, cocaína, efedrina e salbutamol) – podem causar queda de pressão, batimento cardíaco irregular e dependência; - Esteroides anabólicos (nandrolona, testosterona, estanozolol e mesterolona) – provocam aumento do colesterol, impotência e esterilidade, entre outros problemas. Seu uso vem se tornando cada vez mais frequente entre os jovens em academias de musculação e por atletas em todo o mundo, apesar de todas as recomendações médicas em contrário e do rigor das leis de controle de dopagem. Essas substâncias são derivadas da testosterona, um hormônio sexual masculino que é fabricado pelos testículos. No homem, a testosterona é produzida durante a vida inteira, mas principalmente entre os 11 e 13 anos. Tem, como funções principais, a descida dos testículos para dentro dos escrotos, o crescimento dos testículos e do pênis, a distribuição dos pelos, participação no crescimento ósseo, desenvolvimento da musculatura após a puberdade. Daí a definição de esteroides anabólicos (crescimento e desenvolvimento) e androgênicos (caracteres sexuais masculinos). Os medicamentos sintéticos à base de testosterona aumentam as propriedades anabólicas e reduzem as propriedades androgênicas. Por causa desse efeito anabólico, os atletas passaram a usá-lo para aumentar a massa muscular, o que leva a um aumento da força. Os atletas interessados nesse ganho rápido de força muscular aumentam a quantidade de proteínas na alimentação e realizam um supertreinamento. Assim, os músculos retêm uma quantidade maior de proteína, hipertrofiam e, portanto, ficam mais fortes. Esse aumento da massa muscular diminui a massa de gordura, e o peso do indivíduo aumenta, porque o músculo pesa mais que a gordura. Entretanto, os atletas, no desespero de melhora rápida da massa e da força, e na incessante luta por melhorar seus recordes, acabam por usar doses elevadas, algumas vezes com exagero. Em certos casos, as doses são tão altas que os músculos acabam ficando refratários a qualquer hipertrofia. Os riscos ocasionados são, no homem, impotência, problemas no fígado, descontrole hormonal masculino, e, na mulher, descontrole menstrual. Kunz (1994) relata casos da antiga Alemanha Oriental, onde se aconselhavam doses anuais de até 1.000mg em atletas adultos. Havia, porém, competidores que chegaram a ultrapassar 3.000mg/ano. Um caso assustador é da atleta arremessadora de peso Haidi Krieger, que, com 18 anos, chegou a ingerir 2.590mg/ano. 32 Na mulher, o uso dessas substâncias, principalmente antes e durante a puberdade, produz parada de crescimento, aspecto masculino, engrossamento da voz, aumento da distribuição dos pelos e aumento do clitóris. No homem, os efeitos secundários são: aumento das lesões traumatológicas dos tendões e dos ligamentos, porque o desenvolvimento dos músculos não é acompanhado do desenvolvimento dessas estruturas; diminuição da estatura; lesões do fígado, como hepatite e câncer; redução do tamanho dos testículos, redução na produção dos espermatozoides e lesões graves da próstata. A reversibilidade de qualquer desses efeitos negativos depende da quantidade usada, do tempo de uso, de características metabólicas individuais e da extensão das lesões. As modalidades que mais têm utilizado esse método são o halterofilismo, lutas, remo, atletismo e ciclismo. 4.2 A especialização esportiva precoce O tema é de certa forma recente3, porém tem recebido algumas críticas de parte de alguns profissionais realmente preocupados com um esporte educativo e formador. O fato é o seguinte: quem quiser alcançar resultados internacionais em competições precisa, além de estar submetido a uma equipe técnica multidisciplinar, começar o treinamento altamente especializado já em idades muito precoces. Nesse aspecto, em algumas modalidades específicas (ginástica olímpica e rítmica desportiva, natação, judô, etc.) o treinamento especializado precoce assume características de extrema intensidade. Segundo Meinberg (1990), “os críticos receiam que as crianças praticantes de desporto se vejam privadas da sua verdadeira infância, dado que o desporto de rendimento requer um enorme dispêndio de tempo” (p.74). Como se pode ver, são objeções éticas e morais em relação ao esporte de alto rendimento praticado por crianças. Vargas Neto (1995; 1997a; 1997b; 1997c; 1997d; 1998; 1999a; 1999b) e Vargas Neto, Vargas e Voser (1999; 2000), em alguns estudos, apresentam questões éticas relativas à criança envolvida em atividades esportivas desde muito cedo. Ainda que sejam muitos os benefícios da prática esportiva infantil, não devemos esquecer os riscos a que está sujeita a criança praticante do esporte de rendimento. Os riscos estão agrupados em quatro grandes áreas, a saber: - Riscos de tipo físico – estão relacionados à saúde corporal da criança e têm a ver com lesões ósseas, articulares, musculares e cardíacas; o problema é relativo ao imenso número 3 Nem tão recente, pois os filósofos gregos já se preocupavam com os jovens atletas que, após vencerem competições olímpicas em suas categorias, jamais voltavam ao pódio como adultos. 33 de repetições dos gestos técnicos que visam ao aperfeiçoamento e à automatização do movimento4. - Riscos de tipo psicológico – são relativos ao estado mental e de conduta dos sujeitos. Nesse aspecto, nas crianças foram encontrados níveis extremamente altos de ansiedade, estresse e frustração. Os maus resultados em competições causam desilusões e abandono, e hojese estuda a questão da “infância não vivida”, em que se têm relatos de ex-atletas que dizem não se lembrar de brincadeiras e de sua época infantil. Como pedagogos, sabemos da importância do brincar e do lúdico na formação do caráter e no desenvolvimento integral da personalidade da criança. - Riscos de tipo motriz – a especialização precoce conduz a uma importante falta de base poliesportiva, ocasionando uma provável impossibilidade de prática futura de outra modalidade, observada nos automatismos motores extremamente rígidos adquiridos por esses atletas. - Riscos de tipo esportivo – como a especialização é precoce, não se pode saber quais as características (físicas, técnicas, psíquicas, motrizes, etc.) do futuro atleta de elite. Pode esse mesmo atleta, no futuro, não apresentar as condições exigidas para aquele determinado esporte. Outro aspecto importante é o que diz respeito às conquistas de títulos e marcas durante a infância. Um estudo de Kunz (1983) determinou que esses resultados não garantem sucesso quando o atleta se torna adulto. Em sua tese doutoral que trata sobre esporte e saúde, Vargas Neto (1995) faz um apelo às autoridades políticas e esportivas no sentido de que se consolide uma legislação própria que regule e controle, basicamente, o número máximo de horas de treinamento de crianças, a intensidade e os objetivos desse mesmo treinamento e a formação e a qualidade do ensino da pessoa responsável por essas atividades. Seria igual ao que ocorre no controle por parte do Estado de outros aspectos, tais como: ingresso de menores no trabalho, o número máximo de horas na escola, a segurança dos brinquedos e a higiene dos produtos alimentícios. De toda essa exposição, acreditamos poder entender as dúvidas geradas quanto aos aspectos éticos e morais da especialização esportiva precoce. 5 Considerações finais Ao finalizar este ensaio, queremos expor que o nosso estudo não pretende apontar preceitos definitivos, mas indicar caminhos e reflexões para se agir eticamente nas práticas esportivas. O tema que abordamos gera muita controvérsia no mundo esportivo; as posições normalmente encontradas são antagônicas. De um lado, dirigentes esportivos, empresários e industriais do esporte e alguns técnicos não demonstram qualquer tipo de 4 Os números assustam: um praticante de ginástica pode executar 8.000 saltos por temporada; um arremessador de dardo, até 6.000 arremessos; em saltos ornamentais, pode-se chegar a 14.000 saltos; nas maratonas, o corredor executa 30.000 impactos do calcanhar contra o solo; no voleibol, são 150 saltos de mais de um metro de altura, causando um impacto na chegada ao solo de até dez vezes o peso do corpo. São dados relativos a atletas de alto nível. Calculando quantitativamente em relação à criança, chegaremos a números próximos a esses. 34 preocupação com os aspectos éticos e morais anteriormente abordados. Entretanto, existem profissionais, quase sempre com formação acadêmica, que divergem e criticam os mecanismos e os processos utilizados por instituições e pela mídia em relação ao esporte de alto rendimento. Em razão disso, esperamos ter contribuído e estimulado outros profissionais a investir em pesquisas e estudos nessa área, que necessita de discussões e reflexões em maior profundidade. 35 Referências ARAÚJO, L. Ética, sociedade contemporânea e desporto. In: BENTO, J.; MARQUES, A. (orgs.). Desporto, ética, sociedade. Porto: Universidade do Porto, 1990. BENTO, J. Desporto, ética, sociedade. Porto: Universidade do Porto, 1990. ______. À procura de referenciais para uma ética do desporto. In: BENTO, J.; MARQUES, A. (orgs.). Desporto, ética, sociedade. Porto: Universidade do Porto, 1990. GRANDE, N. Investigação, desporto e ética. In: BENTO, J.; MARQUES, A. (orgs.). Desporto, ética, sociedade. Porto: Universidade do Porto, 1990. KUNZ, E. Duração da vida atlética de campeões nacionais de atletismo, categoria menores, e consequências da especialização precoce desta modalidade: estudo exploratório. Dissertação de Mestrado. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 1983. ______. As dimensões inumanas do esporte de rendimento. Movimento n.1. Porto Alegre: Escola de Educação Física, UFRGS, 1994. MEINBERG, E. Para uma nova ética no esporte. In: BENTO, J.; MARQUES, A. (orgs.). Desporto, ética, sociedade. Porto: Universidade do Porto, 1990. SANTIN, S. Educação Física: ética, estética e saúde. Porto Alegre: Edições EST, 1995a. ______. A ética e as ciências do esporte. In: NETO, A. F.; GOELLNER, S. V.; BRACHT, V. (orgs.). As ciências do esporte no Brasil. Campinas: Autores Associados, 1995b. VARGAS NETO, F. X. Deporte y salud. Las actividades físico-deportivas desde una perspectiva de la educación para la salud: síntesis actual. Tesis doctoral. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1995. ______. 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A iniciação esportiva e os riscos da especialização precoce. Livro de resumos. A Educação Física no espaço de expressão da língua portuguesa: passagem para o novo milênio. 7º Congresso de Educação Física e Ciências do Esporte dos Países de Língua Portuguesa. Centro de Desportos da UFSC e Centro de Educação Física e Desportos da Udesc. Florianópolis/SC, Brasil, 1999a. p.422. ______. A iniciação nos esportes e os riscos de uma especialização precoce. Revista Perfil – Publicação do curso de Mestrado em Ciências do Movimento Humano, Esef/UFRGS, ano III, n.3, 1999b. p.70-76. VARGAS NETO, F. X.; VARGAS, L. A.; VOSER, R. C. Especialização precoce infantil: benefícios e malefícios. In: VERONEZ, L. F. C.; MENDES, V. R. (orgs.). Coletânea de textos e resumos do XVIII Simpósio Nacional de Educação Física. Políticas Públicas de Educação Física, Esporte e Lazer. Escola Superior de Educação Física, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas/RS, Brasil, 1999. p.94-101. ______. Os benefícios e os malefícios da prática esportiva infantil. Revista Sprint ano XIX, n.111, 2000. p.40-45. 37 CAPÍTULO 4 Fatores determinantes da ansiedade em competições de iniciação esportiva 5 5 Colaboraram na elaboração deste capítulo: Aline Nogueira Haas, doutora em Medicina e Cirurgia – Faculdade de Cádiz, Espanha. Max de Mello Campani, graduado em Educação Física pela ULBRA Canoas. 38 1 Considerações iniciais Para melhor estudar os transtornos ansiosos, devemos tentar definir o termo ansiedade. Do latim anxietate, ansiedade tem várias definições nos dicionários não técnicos: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo, etc. Levando-se em conta o aspecto técnico, devemos entender ansiedade como um fenômeno animal que ora nos beneficia, ora nos prejudica, dependendo de sua
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