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Psicologia Aplicada ao Esporte - Livro-Texto Unip - Unidade II

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92
Unidade II
Unidade II
5 EM BUSCA DE RECURSOS DE INTERVENÇÃO
5.1 Preparando psicologicamente os atletas
5.1.1 Influências externas no preparo psicológico de atletas
Entre as influências externas no preparo psicológico de atletas, podemos citar as seguintes: torcida, 
uso de drogas, doping, influência de pais, técnicos, dirigentes, patrocinadores, empresários e empresas.
Como vimos, o desempenho do atleta sofre interferência de fatores psicológicos (motivação, 
atenção, percepção e concentração, entre outros) e de fatores socioambientais. Para que seu trabalho 
seja eficiente e eficaz, é preciso que o psicólogo do esporte considere toda essa dinâmica de forças que 
interagem continuamente. As pessoas lidam de diferentes maneiras com vitórias e derrotas, com torcidas 
a favor ou contra, com a pressão de pais, técnicos e dirigentes, com a exigência de patrocinadores e com 
o apelo das drogas que circundam o meio esportivo, especialmente o de alto rendimento. Consideremos, 
pois, algumas dessas influências externas no preparo psicológico de atletas.
A torcida
Figura 40 – Os torcedores
A torcida exerce papel fundamental na carreira de um atleta. Suas mudanças são bruscas ao longo 
de uma partida, apoiando ou vaiando em questão de segundos. A torcida corresponde ao espectador 
que apresenta prejulgamentos, muitas vezes não se importando com o bem‑estar físico e emocional 
do atleta e/ou da equipe. O tipo de torcida e/ou torcedor e sua atuação são fatores que interferem 
93
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
de maneira direta e indireta nos atletas. Em sua composição estão familiares, torcida organizada, 
espectadores, telespectadores, imprensa, técnico e companheiros, entre outros.
Há indivíduos e equipes esportivas que só conseguem obter êxito em competições quando se 
deparam com o público adversário e passam a jogar não com a equipe adversária, e sim em função 
desse público situado fora do setor de jogo. Por isso, o entendimento do papel do torcedor e de seu 
comportamento também tem sido objeto de estudos no meio esportivo.
Como as ações dos atletas, as manifestações dos torcedores também resultam da interação de 
múltiplos fatores: personalidade, nível cultural, expectativas, papéis sociais, experiências anteriores e 
por aí vai. Mudanças bruscas no comportamento de torcedores, causadas por distintos fatores, podem 
conduzir à agressividade.
Figura 41 – Torcida: multiplicidade e diversidade
No espetáculo esportivo encontramos três tipos de torcedor:
• Torcedor racional: é aquele que estuda o esporte independentemente do time para o qual 
torce. Entende sobre técnica e tática, sabe o nome dos atletas e da equipe técnica, entende 
os posicionamentos do técnico e da equipe durante a disputa, acompanha os treinamentos, a 
transição de jogadores etc. Para ele o esporte fica à frente do próprio time e muitas vezes é 
solicitado a atuar como consultor profissional de clubes e setores da mídia.
• Torcedor espectador: é aquele cuja torcida se limita a seu time e ao momento da partida. Ele não 
é muito afetado pela vitória ou pela derrota, pois o jogo, o time e o esporte não interferem em seu 
cotidiano. São apenas motivo de lazer, entretenimento e recurso de integração social.
• Torcedor paixão: é aquele para quem o jogo é motivo de satisfação e de suporte social. Ele 
não torce com racionalidade, pois seu entusiasmo, sua paixão e sua excitação são tão fortes 
que o levam a renunciar a qualquer outra atividade. Esses sentimentos, por vezes verdadeiras 
declarações de amor, podem se traduzir em atitudes agressivas quando o atleta e/ou a equipe 
94
Unidade II
não apresentam os resultados esperados. Esses sentimentos se inflamam ainda mais quando suas 
reações são compartilhadas pelo grupo.
Para que uma torcida organizada se torne criminosa basta que reúna os seguintes ingredientes:
• paixão;
• grupo;
• emoções;
• propósito/tarefa (torcer: incentivar, vaiar);
• momento pelo qual a equipe passa (final de campeonato);
• atitudes dos jogadores em campo;
• atitudes imorais, supostamente permitidas;
• impunidade;
• pouca estrutura;
• pouco entretenimento;
• pouca segurança inteligente;
• altos salários dos jogadores como argumento para que haja maior cobrança por parte dos 
torcedores, o que supõe, muitas vezes, diferenças de classes sociais;
• situação socioeconômica do país.
Embora a quantidade exata de cada um desses ingredientes exija mais estudos, é inegável que 
a torcida exerça influência sobre a performance do atleta. Entre os fatores dessa influência se 
incluem os seguintes:
• Quantidade de torcedores: mais torcedores, maior influência.
• Proximidade física/estrutural entre atletas e torcedores: torcedores mais próximos dos atletas 
participam mais. Os atletas conseguem ouvir exatamente o que os torcedores dizem, podendo 
até mesmo “olhar nos olhos” deles. No caso de alguns esportes, e sendo esse tipo de influência 
considerada na arquitetura de palcos esportivos, procura‑se colocar os torcedores o mais próximo 
possível dos atletas, privilegiando a estrutura de arena em lugar da estrutura de estádio.
95
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
• Proximidade de parentesco entre atletas e torcedores/histórico familiar: quanto maior o 
grau de parentesco, maior a influência dos torcedores sobre os atletas.
• Torcida incentivadora: intensifica a autoconfiança dos atletas.
• Torcida exigente: tende a promover estresse nos atletas, gerando desmotivação ou provocando 
desequilíbrio emocional.
• Jogar dentro ou fora de “casa”: o fato de jogar dentro ou fora de “casa” pode ser incentivador 
ou não, dependendo do jogador e de variáveis da situação de um campeonato.
• Nível esportivo do atleta: atletas mais experientes, mais dotados de atenção e concentração 
durante as partidas sofrem menor influência dos fatores mencionados.
• Estímulo diante do público adversário: há jogadores e equipes esportivas que somente 
conseguem obter êxito em competições quando se deparam com o público adversário – jogam 
mais em função desse público, situado fora do setor de jogo, do que em função da equipe adversária.
• Presença de observadores: pode prejudicar a performance dos jogadores por interferir em 
habilidades atléticas que requerem coordenação complexa, movimentos executados com precisão 
e concentração intensa.
De acordo com Singer (1997), o desempenho de atletas em nível inicial de aprendizagem é prejudicado 
pela torcida; o desempenho de atletas em estágio intermediário de aprendizagem é levemente 
prejudicado, ou favorecido, pela ação da torcida; e o desempenho de atletas de alto nível técnico e psicológico 
ou não é influenciado pela torcida ou é favorecido por ela.
Atletas que apresentam desequilíbrio físico e emocional diante da torcida podem ser beneficiados 
pela ação de um psicólogo.
 Observação
É importante utilizar recursos que auxiliem o atleta a selecionar fatores 
que o ajudem no desenvolvimento global do esporte. Por exemplo, a 
técnica, a tática e o trabalho em equipe são pilares a serem construídos 
desde a iniciação esportiva.
Diante das manifestações da torcida, a atenção seletiva favorece o desempenho.
A atenção seletiva, capacidade de ignorar informações irrelevantes e se ater às mais importantes, favorece 
a concentração e o uso eficaz das habilidades motoras. Quanto menores as informações que disputem a 
atenção, menor será a quantidade de conexões nervosas exigidas para a realização de determinada tarefa, 
96
Unidade II
o que reduz o desgaste energético. Os focos de atenção são definidos em função do interesse, o que pode 
ocorrer de modo involuntário. Por exemplo, quando em meio a muitas pessoas ouvimos nosso nome sendo 
mencionado, automaticamente voltamos nossa atenção para o que está sendo dito ou para quem está 
dizendo. Distintos estímulos advêm continuamente de mais de um sentido – visão, audição, olfato, paladar, 
tato –, cabendo ao sistema nervoso central triar as informações mais relevantes.
A atenção seletiva favorece a memorizaçãoe o aumento de precisão em diversas habilidades. O alto nível 
de atenção observado durante o processo de aprendizagem é mantido durante mais tempo se houver 
interesse pela tarefa e boas condições ambientais. A automatização de um movimento aprendido faz 
com que a atenção tenda a diminuir. Quanto maior o tempo de preservação do foco de atenção, menores 
os riscos de errar. No entanto, durante um jogo, as muitas interferências simultâneas – torcida, adversários, 
pensamentos aleatórios – determinam a redução do nível de atenção. Por isso, para aumentar o poder 
da atenção seletiva de um atleta, é importante dialogar com ele sobre os pontos que mais exigem foco 
e lhe propiciar treinamento adequado.
 Lembrete
A atenção seletiva deve ser praticada nas diferentes fases do treinamento 
para que a automatização liberte o atleta de preocupações relativas às 
variáveis externas.
Vejamos alguns exemplos dessas práticas:
• Durante o treinamento podemos selecionar um objeto com cor específica e predominante, pedindo 
ao atleta para que quantifique todos os objetos que perceber. Ao final do tempo estipulado, 
solicita‑se a ele recordar os objetos vistos, partindo de objetos diversos, especificando a seguir 
objetos relacionados ao esporte e especificando, logo depois, a relação desses objetos com metas 
e objetivos esportivos. Concluídas essas tarefas, solicita‑se ao atleta novamente para que recorde 
todos os objetos, com ênfase no objeto com destaque, para verificar se deixa algum deles escapar 
da contagem. Este é um recurso para eleger um único estímulo e dar foco a ele, o que aprimora a 
capacidade de atenção seletiva.
• Durante o treinamento o atleta é solicitado a realizar determinada ação – chutar ao gol, driblar, 
cabecear, dar uma virada olímpica na natação, trocar de bastão em um revezamento – sendo 
solicitado, ao mesmo tempo, a prestar atenção em outras ocorrências simultâneas – o que um 
torcedor está dizendo, uma música, a cor de uma bandeira, o posicionamento de outros atletas. 
Pede‑se ao atleta para dedicar o máximo de atenção à habilidade principal, a fim de executar a 
tarefa na melhor performance possível. Ao final, pede‑se ao atleta para que faça um resumo de 
tudo o que viu.
A atenção seletiva é a principal chave para a abertura da porta que dá acesso ao foco principal, sem 
que haja desvio desse foco por situações irrelevantes. Esse treino contribui para melhorar a performance 
e para evitar reações indesejáveis como agressões físicas e morais a adversários.
97
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
Exemplo de aplicação
Nos esportes a torcida é uma variável externa de caráter condicionante. Reflita sobre recursos 
a serem utilizados pelo psicólogo esportivo para detectar aspectos positivos e negativos da ação da 
torcida sobre os atletas.
Uso de drogas
A recuperação de um atleta que tenha se viciado em drogas ou álcool é importante para incluir em 
seu perfil a capacidade de superação e para apresentá‑lo como modelo social.
 Observação
Perante casos de uso de anabolizantes, as atuações da psicologia 
alinhadas com as atuações das equipes técnicas evidenciarão questões 
relativas ao bem‑estar físico e emocional e questões éticas relativas à 
superação de limites.
Embora comprovado que a prática esportiva não seja garantia de distanciamento do mundo das 
drogas, o esporte é a grande saída de qualquer situação prejudicial a uma pessoa, pois mobiliza uma gama 
de hormônios e neurotransmissores responsáveis por determinadas sensações e emoções. O controle da 
liberação de hormônios no organismo permite ter maior controle do comportamento.
Infelizmente, o uso de drogas é usual no meio esportivo. Muitos atletas de alto nível já declararam 
terem feito uso de drogas ilícitas, como maconha, heroína, diferentes inalantes, cocaína, LSD, ecstasy, 
além do uso indiscriminado de anabolizantes, álcool e tabaco. Por sua vez, o uso de qualquer droga ou 
medicamento para aumentar o desempenho é considerado doping, o que fere o espírito esportivo e 
promove desigualdade de condições entre os atletas, além de proporcionar grandes riscos à saúde.
A prática esportiva pode oferecer a saída do mundo das drogas, quando o jogo se apresenta como 
fonte de prazer e de distração em competições amadoras, bem como quando a sensação de bem‑estar 
produzida após a prática esportiva substitui o prazer das sensações provocadas pelo uso de substâncias 
psicoativas. Entretanto, no alto rendimento, o anseio por vitória, por reconhecimento social e por 
estabilidade financeira aumenta a possibilidade de busca de atalhos por serem elevadas as cargas de 
treinamento e de estresse impostas aos esportistas profissionais.
Esportistas solicitados a justificarem o consumo indiscriminado de drogas e anabolizantes apontaram 
os seguintes motivos para o uso:
• Melhorar o desempenho.
• Aumentar o volume de massa muscular.
98
Unidade II
• Fortalecer músculos e ossos.
• Aumentar o transporte de oxigênio para ativar tecidos.
• Evitar dores.
• Estimular o corpo.
• Relaxar.
• Reduzir peso.
• Ocultar o uso de outras drogas.
O esporte tende a criar relação de confiança entre a equipe técnica e o atleta, o que é fundamental para 
um melhor desempenho. Mas, apesar disso, alguns atletas se sujeitam a atividades sem questionamento 
algum e acabam induzidos a ingerir anabólicos. A relação entre drogas e esportes vem de longa data. 
Algumas substâncias, como a anfetamina e os anabólicos esteroides, foram difundidas após a Segunda 
Guerra Mundial para melhoramento da capacidade de combate dos soldados, por reduzirem a fome, as 
dores e a sensação de fadiga, além de acelerarem o processo de recuperação muscular.
A testosterona e medicamentos como a nandrolona, também utilizados na Segunda Guerra Mundial, 
logo chegaram ao meio esportivo como fator adjuvante para ganho de massa muscular. Esses estimulantes 
são substâncias que agem diretamente sobre o sistema nervoso central, intensificando a ação do sistema 
cardíaco e do metabolismo. Anfetaminas, cocaína, efedrina e cafeína são usadas para obtenção de efeitos 
análogos aos da adrenalina, e com o aumento da excitação ocorre também a ampliação da capacidade 
de tolerância ao esforço físico e a redução do limiar da dor. Exemplos de esportes nos quais encontramos 
atletas que fazem uso dessas substâncias são: basquete, ciclismo, vôlei e futebol.
Analgésicos narcóticos, substâncias representadas pela morfina e petidina, são derivados do ópio e 
atuam no sistema nervoso central reduzindo dores. A redução da sensação de dor pode ser prejudicial 
aos atletas, porque uma lesão perigosa será agravada sem o alerta da dor. Essas substâncias são usadas 
em esportes que exigem muita resistência, como a maratona e o triátlon.
Os anabolizantes são derivados da testosterona, o hormônio masculino. Quando um atleta os 
consome pode ganhar força, potência e maior tolerância ao exercício físico. São substâncias usadas 
em todos os tipos de esporte e por pessoas que optam por acelerar o processo de conquista de um 
corpo mais musculoso. A eritropoetina, hormônio que aumenta a quantidade de glóbulos vermelhos 
(hemácias) no sangue, favorece um transporte maior de oxigênio para as células. Todavia, tem por 
efeitos colaterais a hipertensão arterial, o risco de infartos, de embolia pulmonar e de convulsões. É a 
droga mais usada por ciclistas, triatletas, maratonistas e outros praticantes de esportes de resistência.
É importante salientar que a opção por indução hormonal exógena e pelo uso de outros anabólicos e 
medicamentos causam ao organismo muito mais efeitos prejudiciais do que benéficos. Os anabolizantes agem 
99
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
nas fibras musculares provocando maior retenção hídrica e de nitrogênio, o que favorece a síntese proteica e 
faz com que as fibras aumentem de tamanho e proporcionem maior resistência e volume ao músculo.
Doping
Figura 42 – Medalhas
O doping resulta do uso de substâncias ilícitas utilizadas para aumentar a performance esportiva. Taissubstâncias podem ser de ordem farmacológica, hormonal, genética, sanguínea ou exteriorizada. Todos os 
anos a Agência Mundial Antidoping (WADA, em inglês) publica a lista atualizada de substâncias proibidas 
para os atletas. As punições vão de uma simples advertência à possibilidade de exclusão do atleta.
As substâncias farmacológicas e hormonais proibidas são classificadas em cinco grupos principais:
• estimulantes (cafeína, anfetaminas e cocaína);
• narcóticos e analgésicos (hormônio adrenocorticoide e cortisona);
• anabolizantes (beta‑2‑agonistas, HCG, GH, insulina etc.);
• diuréticos (furosemida, hidroclorotiazida, manitol etc.);
• hormônios peptídicos e análogos.
O doping genético resulta de terapia gênica para alterar o DNA e provocar a formação de uma 
substância dopante no próprio corpo sem necessidade de ingestão ou de injeção de substâncias 
proibidas. Esse tipo de doping, invisível e muito eficaz, tem sido objeto de pesquisas cujos resultados já 
indicam recursos para detectá‑lo.
O doping sanguíneo promove aumento da quantidade de hemoglobina no sangue. Geralmente é feito 
de maneira exógena: uma quantidade de sangue do atleta é retirada e reservada em lugar refrigerado. 
Próximo ao dia da competição, esse sangue injetado promove expressivo aumento do número de 
hemácias, o que possibilita maior transporte de oxigênio, aumentando a eficiência do desempenho.
100
Unidade II
No doping exteriorizado são adotados recursos tecnológicos para melhoramento do rendimento, 
como a famosa pele de tubarão, utilizada por nadadores na confecção de macacões que facilitam 
a aerodinâmica em corredores de curta distância, os tênis que aumentam a propulsão vertical do 
salto etc. Muitos desses recursos foram proibidos pelas respectivas confederações de esportes, por 
aumentarem a desigualdade entre participantes das competições, da qual decorrem brigas entre 
patrocinadores, clubes e atletas.
Os dopings são utilizados no período pré‑competitivo, durante a competição ou no período 
pós‑competitivo. Atualmente, muitos atletas de elite estão mais preocupados em não serem pegos em 
exames antidoping do que em utilizarem substâncias proibidas. Ao psicólogo esportivo compete zelar 
sempre pelo bem‑estar do atleta, o que inclui a inibição da prática de doping.
Figura 43 – O método boosting
 Saiba mais
Os filmes relacionados a seguir ajudam a entender melhor a interferência 
do doping no mundo esportivo:
A CORRIDA do doping. Direção: Paulo Markun. 2016. 90 min.
ÍCARO. Direção: Bryan Fogel e Mark Monroe. 2017.121 min.
A MENTIRA de Armstrong. Direção: Alex Gibney. 2013. 124 min.
O doping encontra‑se presente mesmo quando o atleta visa apenas a superação dos próprios limites, 
colocando em segundo plano a vitória, como acontece com mais evidência em atletas paraolímpicos, 
entre os quais cresce cada vez mais o número de atletas dopados. Isso seria um sinal de final dos tempos 
101
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
em relação ao espírito esportivo? A competição que visa à superação dos próprios limites demonstra 
sinais de fraqueza diante do esporte reabilitador.
O chamado boosting (do inglês, impulso, impulsionando) está em ascensão entre os atletas 
paraolímpicos. Por meio desse método, atletas paraplégicos têm recorrido ao estrangulamento de sua 
genitália, à fratura de dedos do pé e à compressão de órgãos do abdômen. Sem sentir dores nessas partes 
do corpo, tornam‑se capazes de intensificar a circulação sanguínea, diminuir o cansaço e melhorar 
seu desempenho em até 10% nas provas de resistência, como as de longas distâncias percorridas, 
características ao atletismo em cadeira de rodas.
O estudo que descreve o boosting em atletas com elevado grau de lesão medular foi elaborado 
por onze especialistas em fisiologia e medicina do esporte de centros de pesquisa no Canadá, Estados 
Unidos, Brasil, África do Sul, Austrália e Europa (BHAMBHANI et al., 2010).
Um atleta pego em um exame antidoping receberá a principal punição, visto ser considerado 
responsável por suas condições físicas.
 Lembrete
A prática do doping pode ingressar na vida de um atleta sem que ele 
perceba. Compete ao psicólogo esportivo oferecer orientações sobre 
as consequências fisiológicas, psicológicas, sociais e profissionais 
dessa prática.
Influência de pais, técnicos e dirigentes
É preciso que a relação entre pais, técnicos e dirigentes seja harmoniosa, para fortalecer os laços de 
confiança e a formação do atleta em valores morais e éticos. Porém, muitas vezes, essa harmonização 
é abalada por um jogo de interesses extracompetição, que faz com que o atleta se torne um objeto de 
manipulação decorrente de ambições e ganância.
Normas impostas pelos clubes e posteriormente quebradas pelos próprios cartolas que as definiram 
geram confusão nos atletas. O protecionismo muitas vezes ocasionado pelo valor de mercado de um 
atleta pode afetar toda a equipe. As chamadas estrelas do time, embora ovacionadas pelos torcedores, 
imprensa, patrocinadores e agenciadores, devem receber o mesmo tratamento oferecido aos outros 
componentes, respeitada sempre a ordem justa e hierárquica.
No futebol é muito comum os atletas desrespeitarem ordens estabelecidas pelos técnicos, 
principalmente quando se veem protegidos pelos dirigentes dos clubes nos quais estão atuando. Isso 
pode provocar raiva, inveja e até mesmo relacionamentos falsos no meio esportivo.
Regras de conduta mantidas e cobradas pela cúpula de uma instituição demonstram organização, 
cooperação e respeito diante de todos os componentes da equipe. Ao psicólogo do esporte compete 
102
Unidade II
analisar ocorrências internas e externas ao âmbito esportivo e atuar de modo que o atleta não se torne 
alvo de valores externos ao mundo dos esportes, como valores políticos, por exemplo.
A orientação dada aos pais e técnicos, com base na análise de seu comportamento, irá ajudá‑los na 
adoção de atitudes e comportamentos a serem preservados em suas relações com o atleta, principalmente 
na fase de iniciação esportiva.
Compete ao psicólogo orientar os treinadores a não sobrecarregarem os atletas e a não considerarem 
apenas o atleta/aluno, mas também a influência de seus familiares e da equipe que o circunda. A figura a 
seguir ilustra algumas das relações passíveis de serem estabelecidas entre pais e técnicos, principalmente 
em período pré‑competição e durante a própria competição. Se a família (representada na figura 
pelo pai) do atleta é de tipo motivador quanto às cobranças pela vitória ou por bom desempenho, 
é importante que o técnico adote um nível pacífico de exigência. Se, por outro lado, a família do 
atleta é de tipo pacífico quanto às cobranças pela vitória ou por bom desempenho, é importante que o 
técnico adote um nível motivador ou cobrador de exigência. Se a família do atleta é de tipo cobrador 
de alta performance e deposita suas elevadas expectativas sobre o atleta/aluno, sem muitos escrúpulos, 
é importante que o técnico adote um nível pacífico de exigência.
Pai motivador
Pai pacífico
Pai cobrador
Técnico motivador
Técnico pacífico
Técnico cobrador
Figura 44 – Orientação sobre formas de atuar na relação estabelecida entre familiares e técnicos
Influência de patrocinadores, empresários e empresas
No âmbito dos atletas de elite, e em menor grau no âmbito dos atletas de base, há uma indústria 
ansiosa por se promover. Um atleta de elite destacado por suas atuações profissionais torna‑se alvo do 
interesse de patrocinadores, dirigentes e empresários diversos, dispostos a explorar seus resultados em 
benefício próprio.
O uso de atletas como objetos e/ou máquinas de fazer dinheiro é evidente no âmbito do esporte 
de alto nível. A imposição de patrocinadores busca justificativa em altos salários e bonificações 
que ludibriam e encantam os atletas e respondem a anseios de familiares e amigos. Fama e 
estabilização financeira precoce são o sonho de inúmeros jovens que se arriscam, motivados por 
ofertas tentadoras.
Atletas transformados em produtocomercial passível de compra e venda, de marketing e de jogos 
políticos se tornam produtos altamente rentáveis para a mídia, pois possibilitam o aumento da audiência 
em programas de televisão e da venda de jornais e revistas. Podem ser transformados em heróis 
nacionais, anti‑heróis ou mesmo vilões em questão de poucos minutos. Deslumbrados pela fama e pelo 
poder, podem se esquecer de sua responsabilidade social, que inclui servir de modelo identificatório. 
103
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
Frequentemente os atletas se sujeitam a exposições sem medir consequências futuras, acarretando uma 
inversão de valores.
Figura 45 – Inversão de valores: representação de um esporte patrocinado por uma marca de cigarros
Atualmente o poder da mídia esportiva é tão grande que pode alterar datas e horários de 
jogos a serem transmitidos pelos meios de comunicação e pode também influenciar na escalação 
de times em troca da valorização popular de atletas, clubes e patrocinadores. Essa relação entre 
patrocinadores, empresas e empresários exerce influência direta e indireta sobre o atleta e sobre a 
equipe técnica.
Técnico
EmpresasPatrocinadores
Empresários
Figura 46 – Pressão sofrida por técnicos esportivos
Por outro lado, é preciso ser justo e lembrar que a relação com a mídia não se restringe a lágrimas 
e exploração, pois o apoio por ela oferecido é importante para diversos esportes, contribuindo para a 
manutenção ou recuperação de clubes esportivos, para a garantia de salários e bonificações aos atletas 
e à equipe técnica, para a divulgação do esporte e de ações sociais vinculadas a sua prática, para o 
patrocínio exponencial do crescimento do esporte, e para o apoio às iniciativas de introdução à atividade 
física, que reduzem o risco do sedentarismo e de suas consequências nefastas, sendo imprescindível ao 
bem‑estar das pessoas. A transformação do esporte em espetáculo apresenta, pois, um lado positivo e 
outro negativo.
104
Unidade II
5.2 Programa de treinamento psicológico
Figura 47 – Momento de visualização
O programa de treinamento psicológico é desenvolvido ao longo de três etapas: formação, 
treinamento e aplicação.
Durante a etapa de formação é realizada a aprendizagem de técnicas úteis para o desenvolvimento 
de habilidades psicológicas por meio de exercícios que atendem às necessidades do esportista. Essa 
formação educacional é negligenciada por muitos atletas, principalmente por falta de informações 
ou por serem consideradas desnecessárias. Tal negligência se apoia na opinião de que essa formação 
acarreta perda de tempo, na crença de que tais habilidades são inatas e não demandam aprendizagem, na 
suposição de que esse tipo de treinamento é utilizado apenas com atletas que apresentam problemas de 
comportamento, no mito de que somente atletas de elite utilizam essas técnicas por serem supostamente 
muito apuradas e de difícil execução, ou, simplesmente, a negligência decorre do fato de esse tipo de 
treinamento ser considerado inútil.
Durante a etapa de treinamento é realizado o ajuste das técnicas ao desenvolvimento de 
determinadas habilidades psicológicas tendo por objetivo o aumento da funcionalidade, da automatização 
e da integração dos procedimentos à rotina de treino e de competição. Nesta etapa, o esportista é 
preparado para a prática de uma imaginação limpa e apurada e para a aquisição perfeita da técnica, 
sendo sua autonomia reforçada para que se sinta capaz de contar consigo mesmo.
Durante a etapa de aplicação são utilizadas, nas competições, as técnicas aprendidas.
Para o êxito de um programa de treinamento psicológico é recomendável que o psicólogo esportivo 
opte pela realização de uma etapa preliminar à da tríade formação‑treinamento‑aplicação, durante a 
qual sensibilizará os atletas para a influência psicológica no desempenho esportivo e para a importância 
da consciência das próprias emoções e sensações físicas no bom desempenho.
105
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
O treinamento geralmente é realizado de modo individual, a fim de permitir a melhor observação de 
variáveis psicológicas e do rendimento esportivo, incluindo um longo período de observação do atleta 
em seu próprio ambiente. Esse período de pré‑intervenção, de avaliação do nível inicial de determinada 
habilidade, é seguido do período de intervenção, durante o qual são realizadas mudanças.
A estrutura de uma única sessão de treinamento psicológico compreende três fases: briefing, sessão 
prática e de briefing.
Durante o briefing o psicólogo conversa com o atleta para avaliar o que deverá ser visualizado e 
para estabelecer com ele o consenso de que o treinamento fortalecerá um aspecto considerado falho em 
específico. Durante a sessão prática o atleta é convidado a visualizar o que foi discutido, inicialmente 
com apoio do psicólogo e depois sem esse apoio, visando à aquisição de autoconfiança e de segurança 
no uso da imaginação. Durante a fase denominada de briefing, realizada logo após a sessão prática, 
o psicólogo dialoga com o atleta a respeito de como transcorreu o processo de imaginação. Tratará de 
verificar se houve interferência de outros pensamentos, se os pensamentos foram sempre positivos em 
relação à execução da tarefa e se houve detalhamento no processo de visualização.
Entre as habilidades esportivas incluídas em um programa de treinamento psicológico incluem‑se 
as seguintes:
• Estabelecimento de metas.
• Relaxamento.
• Dinamização ou autoativação.
• Diálogo interno positivo.
• Concentração.
• Atenção.
• Aprendizagem.
• Aperfeiçoamento de habilidades.
• Controle de estados emocionais como ansiedade, estresse e medo.
• Aquisição, prática e refinamento de habilidades motoras específicas.
• Fortalecimento da motivação.
106
Unidade II
• Modificações no nível de ativação e nos estados emocionais.
• Repetição de estratégias táticas.
• Simulação imaginativa de situações competitivas e aumento da autoconfiança.
• Aperfeiçoamento das qualidades artísticas de gestos esportivos.
• Gestão da fase de convalescença – emprego, por parte de atletas lesionados, de imagens mentais 
de cura, de diminuição da dor, de objetivos de curto, médio e longo prazos, e de habilidades técnicas 
e táticas passíveis de utilização para evitar uma degradação muito grande da capacidade esportiva.
• Reabilitação física e emocional e resiliência.
Como se estabelece uma relação psicopedagógica entre o treinador e o atleta durante a 
aprendizagem de novas técnicas e de recursos para controle de emoções que possam interferir 
negativamente nos momentos de estresse, é recomendável recorrer ao arsenal teórico‑técnico da 
psicologia do esporte, essencialmente voltada para o contexto esportivo e para a otimização do 
rendimento. Nesse processo de aprendizagem mostram‑se úteis os exercícios da imaginação para a 
obtenção de um melhor desempenho esportivo.
Durante o treinamento de habilidades psicológicas convém utilizar recursos da imaginação: 
imaginar‑se e sentir‑se desempenhando determinadas atividades faz com que sejam ativados, 
embora em menor intensidade, os mesmos impulsos neuromusculares produzidos durante a 
execução do movimento.
 Saiba mais
Nas fontes referidas a seguir há boas informações sobre treinamento 
psicológico:
GODTSFRIEDT, J.; ANDRADE, A.; VASCONCELLOS, D. I. C. Treinamento 
mental no tênis: revisão sistemática da literatura. Revista Brasileira de 
Ciências do Esporte, Porto Alegre, v. 36, n. 2, p. 577‑586, jun. 2014.
GOMES, A. R. Competências psicológicas e preparação mental de atletas 
de andebol. In: ARRAYA, M.; SEQUEIRA, P. (eds.). Andebol: um caminho para 
o alto rendimento. Lisboa: Visão e Contextos, 2012, p. 361‑399.
O HOMEM que mudou o jogo. Direção: Bennett Miller, 2011. 133 min.
107
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
Diversas teorias sobre a eficácia da visualização/imaginação na aprendizagem e no rendimento 
esportivo foram formuladas por diferentes teorias psicológicas, das quais mencionaremos 
algumas a seguir:
• Teoria psiconeuromuscular:afirma que a visualização produz, por meio de imagens mentais, 
uma atividade muscular mínima que deixa traços nas células musculares, sendo tais traços 
conservados para serem utilizados na execução concreta do movimento.
• Teoria da aprendizagem simbólica: afirma que a visualização opera como um sistema que 
traduz para as pessoas como se dá o movimento. O fato de repetir mentalmente uma ação permite 
que o indivíduo se familiarize com a tarefa a ser executada e aumente suas chances de realizá‑la 
concretamente de modo satisfatório.
• Teoria bioinformacional: afirma que as imagens mentais são conjuntos de proposições 
(afirmações) armazenadas no cérebro, que favorecem o desempenho nas atividades esportivas.
• Teoria da equivalência funcional: postula que a visualização se apoia na mesma rede neural 
utilizada para a percepção do ambiente concreto e para o controle motor. Segundo esta teoria, 
duas perspectivas ou pontos de vista podem ser adotados pelos atletas, de acordo com suas 
características pessoais ou com o tipo de tarefa realizada para a imaginação.
A perspectiva interna, ou de primeira pessoa, é aquela segundo a qual o indivíduo imagina uma 
câmera posicionada em sua cabeça e a atividade sendo executada da mesma forma que na vida real. 
Essa atividade enfatiza o ponto de vista do agente da ação, sendo que nada fora do seu campo normal 
de visão será enxergado. Já na perspectiva externa, ou perspectiva de terceira pessoa, tudo se passa 
como se uma câmera fixa estivesse sendo segurada por outra pessoa (um observador externo), e o 
indivíduo vê a si mesmo realizando a tarefa a partir de um ponto de vista situado fora de seu corpo, ou 
a partir de um vídeo.
A capacidade de visualização demanda dois atributos fundamentais: vividez das imagens mentais 
e nível de controlabilidade. Ou seja, quanto mais real for a visualização, em termos de cores, texturas e 
velocidade de execução, mais funcional ela será. Uma imagem mental é mais bem vivenciada quando 
dotada de alto grau de nitidez e realismo. O atleta deve incorporar na imagem, além dos elementos 
visuais – ideia que a palavra visualização já evoca –, os aspectos sensoriais cinestésicos, auditivos 
e os estados emocionais. As imagens mentais devem se parecer ao máximo com as imagens reais. 
A controlabilidade corresponde à capacidade de manipular as imagens de modo que elas façam 
aquilo que o indivíduo deseja que façam.
O aperfeiçoamento da habilidade de visualização requer que o esportista, antes de tudo, se habitue 
com a atividade de criar imagens mentais. O treino é iniciado com a visualização de imagens de objetos 
familiares, imagens simples e estáticas, e prossegue com a visualização de imagens de movimentos 
próprios e de outras pessoas. Durante a fase inicial do treinamento são realizados diversos tipos de 
manipulação da imagem: mudanças do ponto de observação de um objeto; mudanças de cor, tamanho 
108
Unidade II
e peso (propriedades do objeto), manipulações espaciais, rotações de um objeto assimétrico (como uma 
raquete) e mudanças de perspectiva.
Assim sendo, para que o treino mental tenha êxito, é preciso que o atleta apresente iniciativa 
própria, compreensão e conhecimento do método; confiança no treinador e no psicólogo esportivo; 
utilize sua individualidade e não tente representar outra pessoa durante a visualização; seja disciplinado 
no treinamento físico e tenha uma aprendizagem condizente com o princípio da economia de funções 
cognitivas, ou seja, que a visualização exija cada vez menos esforço de concentração e ocorra da melhor 
maneira possível.
A conquista de um alto grau de visualização a ser utilizada segundos antes da execução de 
determinadas tarefas beneficiará a realização de outras atividades da vida diária que exigem superação 
de situações difíceis, tais como exames, entrevistas e reuniões importantes.
Muitos atletas de elite podem se beneficiar do treinamento mental. Por exemplo, Ayrton Senna, 
piloto de Fórmula 1, era mestre em visualizar as corridas. Logo que chegava em um autódromo 
caminhava por toda a pista. Depois, no hotel, visualizava cada metro da pista, a forma de guiar, os 
trinta pontos de ultrapassagem, as freadas etc. Utilizava esse recurso, entre outros, na obtenção 
do sucesso.
Todo treinamento mental deve estar de acordo com o treinamento físico e com suas necessidades. 
É preciso lembrar que este treino, como qualquer outro, para que seja eficaz, demanda tempo e 
disciplina na prática dos exercícios. A visualização/imaginação não é o único recurso de treinamento 
mental. Há outros recursos, entre os quais a meditação e a hipnose, que vêm se destacando no 
cenário esportivo profissional.
Figura 48 – Representação simbólica do cérebro sob efeito de hipnose
A hipnose é uma técnica de indução de transe (relaxamento semiconsciente), aplicada sem que 
o paciente perca o contato sensorial com o ambiente. Promove alterações da percepção sensorial e 
109
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
de funções intelectuais superiores, ocasionando hiperamnésia e alteração da atenção e de funções 
motoras. Essa técnica foi desenvolvida e utilizada pelos russos há mais de cem anos, sendo bastante 
aplicada em soldados durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Embora seu uso seja 
questionável do ponto de vista ético‑moral, não implica diretamente violação das regras e dos 
códigos olímpicos.
O estado de alteração da consciência estabelecido pela hipnose simula o sono, mas a pessoa não 
dorme quando hipnotizada. Como prova disso, o resultado do eletroencefalograma (EEG) de pessoas sob 
hipnose indicou estarem em estado de vigília, e não de sono.
Não se sabe concretamente como a hipnose altera funções cerebrais, mas uma das teorias 
mais aceitas é a de que ela afete mecanismos da atenção, em uma região do cérebro denominada 
substância reticular ascendente (SRA), localizada na parte basal (tronco cerebral). Essa área é 
responsável por funções relativas ao sono, ao estado de vigília e pela percepção sensorial. É uma 
região continuamente bombardeada por estímulos provenientes dos órgãos dos sentidos, e sua 
inibição leva a estados de sonolência e de desligamento sensorial. Pode‑se afirmar que 90% das 
pessoas são suscetíveis à hipnose.
As técnicas de hipnose aplicadas ao esporte têm por objetivo inserir “gatilhos” na mente 
subconsciente dos atletas, que serão automaticamente disparados em momentos predeterminados, 
nos quais a atividade a ser desempenhada deve ser executada. Tais técnicas consistem em conduzir 
a pessoa a um estado de relaxamento profundo, durante o qual os “gatilhos” são inseridos pelo 
profissional visando aos objetivos escolhidos pelo hipnotizado. Esse recurso pode melhorar a realização 
de atividades físicas e dietas, e também aumentar a concentração nos estudos. Ainda, as hipnoses de 
regressão podem contribuir para o desbloqueio de eventos negativos, causadores de sofrimento 
psíquico, transtornos ou desconfortos.
Em muitas ocasiões a hipnose vem sendo usada não apenas como mero recurso coadjuvante ou 
complementar, mas como o principal instrumento no desenvolvimento de potenciais. O corpo responde a 
liberações de neurotransmissores que ocorre com base em pensamentos, e já foram descritas numerosas 
utilidades clínicas da hipnose para o melhoramento do desempenho de atletas. Essa técnica deve ser 
aplicada somente por hipnólogos, com o consentimento do atleta. Muitos psicólogos esportivos buscam 
formação e especialização em hipnose, sinal de ser esse mais um recurso de intervenção disponível no 
meio esportivo.
A busca incessante pelo melhor desempenho tem gerado o aumento do número de recursos 
utilizados para esse fim, que certamente serão remodelados com o passar dos anos, vindo a originar 
outros, cada vez mais capazes de suprir as intensas demandas inerentes aos novos desafios do 
esporte. A relação entre tecnologia e limites do corpo humano é alvo de debates acadêmicos e 
empíricos no universo da psicologia esportiva, sendo absolutamente necessárioque o psicólogo 
esportivo esteja sempre informado sobre as normas legais adotadas pelas entidades desse setor e 
pelas organizações profissionais.
110
Unidade II
6 ÂMBITOS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO DO ESPORTE
6.1 Atuando no âmbito escolar
Figura 49 – Educação física escolar
Como aplicar a psicologia do esporte na área escolar? Essa área de atuação do psicólogo esportivo, 
relativamente nova, nos coloca diante das seguintes questões:
• Qual o real significado da educação física competitiva na comunidade escolar?
• Qual o grau de interferência dessa prática no desenvolvimento do aluno?
• Como agem e o que pensam os profissionais envolvidos com a questão?
• Sendo um dos componentes curriculares nas escolas, a Educação Física tem atingido seus objetivos 
pedagógico‑educacionais?
• Os componentes psicológicos e sociais largamente debatidos em nossos livros acadêmicos têm 
sido considerados na prática pedagógica?
• As ideias apoiadas em valores sociais vêm sendo aplicadas?
• Em que espaços vem sendo trabalhada a igualdade de aprender e de jogar?
• A interação entre os alunos interfere no desempenho escolar e esportivo de cada um deles?
• Para melhor contribuir com o bem‑estar físico e emocional dos alunos o psicólogo esportivo tem 
o direito de acessar o mundo de exercícios por eles realizados na escola e fora dela?
111
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
6.1.1 A tríade da psicologia esportiva
Para que estas e outras perguntas formuladas por psicólogos esportivos que atuam em âmbito 
escolar possam ser respondidas, convém recorrer a um conceito muito útil: o da tríade da psicologia 
esportiva, constituída pelo aluno, por sua família e sua escola. O ideal é que a tríade composta por 
esses três agentes interligados por objetivos comuns articule e harmonize ações para conquista do bom 
desempenho escolar. O triângulo que a representa tem o aluno ocupando o posto mais importante: 
o vértice superior desse triângulo; enquanto representantes da família e da escola ocupam os vértices 
inferiores, conforme ilustrado na figura a seguir. Compete ao psicólogo contribuir para que haja equilíbrio 
das forças presentes nessa interação humana.
Aluno
Família Escola
Psicólogo do esporte
Figura 50 – Tríade da psicologia esportiva em âmbito escolar
Esse âmbito de atuação do psicólogo demanda saberes de psicologia educacional e escolar; 
psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem; e psicologia da personalidade, além de 
conhecimento dos processos de ensino. A relação estabelecida pelo psicólogo esportivo com os alunos, 
seus pais e professores lhe possibilita identificar a participação desses agentes socioeducacionais. 
Desprovido de tal conhecimento, o psicólogo esportivo terá reduzida a eficácia de sua ação e receberá 
pouco reconhecimento como profissional. Vemos, pois, que ele é chamado a atuar como mediador 
das interações aluno‑familiares‑professores, especialmente durante os jogos escolares (esportes e 
disciplinas associadas).
Muito importante é reconhecer o que a escola entende por esporte: jogo‑festa, alegre e participativo? 
Recurso de interação social por meio de encontros de diversão, com o objetivo de estimular interações? 
Jogo de competição baseado em rendimento, técnicas e iniciação esportiva precoce?
Por ocasião das competições o psicólogo do esporte favorecerá a reflexão de alunos, familiares e 
professores sobre as dificuldades encontradas para que haja participação crítica dos envolvidos com 
a prática esportiva competitiva. Há propostas pedagógicas que removem a competição de atividades 
112
Unidade II
nas quais ela é exigida. Tais propostas são questionáveis: elas seriam mesmo passíveis de aplicação e 
são recomendáveis? Omitir a competição em sociedades como a nossa, na qual a competição está no 
cerne de sua estrutura, não seria criar um ambiente artificial que contribuirá para provocar ou acentuar 
desajustes, marginalização e conflitos?
Por outro lado, é certo que nós, educadores, não podemos antecipar no universo infantil 
responsabilidades, exigências, deveres e atitudes próprias do universo adulto. Por meio do esporte as 
crianças podem tornar‑se mais críticas, criativas e responsáveis e podem aprender a competir, a trabalhar 
em equipe, a respeitar o próximo e a lidar com vitórias e fracassos. É recomendável que o psicólogo 
esportivo escolar proponha atividades esportivas criativas, com os próprios alunos propondo as regras.
Exemplo de aplicação
A atuação do psicólogo esportivo ainda é muito tímida no âmbito escolar. Reflita sobre diferentes 
possibilidades de sua atuação na escola, seja nas atividades de extensão extraclasse, seja nas aulas de 
Educação Física.
6.2 Atuando no âmbito da recreação
No âmbito da recreação, da prática de atividades físicas desenvolvidas em tempo livre por pessoas 
de diversas faixas etárias, o psicólogo esportivo busca compreender as pessoas e ajudá‑las a utilizar 
estratégias para melhorarem seu desempenho social e competitivo. Comumente um atleta se comporta 
de determinado modo em jogos de caráter profissional e de outro modo em jogos de caráter recreativo, 
e a observação dessas diferenças fornece informações importantes sobre o comportamento desse atleta 
em situações adversas. Informado desses aspectos de sua natureza, o atleta poderá reunir melhores 
condições para aprimoramento de sua performance.
Observações relativas a comportamentos reveladores de egoísmo, tendência à dominação, 
preconceitos e discriminações, agressividade, empatia, apatia, timidez, extroversão, sociabilização, 
serão apresentadas ao atleta a título de feedback. Evidentemente, os parâmetros utilizados na análise 
de fatores pessoais de um atleta não são os mesmos utilizados na análise de fatores pessoais de 
participantes de atividades de recreação, por exemplo. A agressividade ou a apatia, por exemplo, têm 
distintos significados se manifestas em um jogo de lazer ou em um jogo profissional. Cabe lembrar que 
a análise de comportamentos não se restringe a um atleta ou grupo de atletas, e sim a todas as pessoas 
que interferem de um modo ou outro no processo de desenvolvimento físico e emocional de uma 
equipe, o que inclui análise socioeconômica e cultural.
6.3 Atuando no âmbito da reabilitação
Acredita‑se que a cada ano milhões de adultos e crianças sofram lesões decorrentes da prática 
esportiva. Pessoas que apresentam mais estresse têm mais lesões relacionadas ao esporte e ao exercício. 
Segundo Weinberg e Gold (2006), embora fatores físicos sejam a causa primária de lesões esportivas, 
fatores psicológicos também podem contribuir para elas. Ao lidarem com limitações decorrentes de 
113
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
lesões físicas, os profissionais de educação física consideram fatores psicológicos além dos físicos entre 
as causas das lesões e utilizam recursos de recuperação.
Figura 51 – Lesão esportiva
Para a recuperação de esportistas, é preciso considerar tanto os aspectos de reabilitação emocional 
– baixa autoestima, frustrações, medos e evitações, entre outros fatores emocionais – quanto a 
reabilitação física de lesões osteomusculares. Uma concepção holística de pessoa é fundamental para 
aplicações nesse âmbito de atuação. Diariamente muitos atletas são lesionados, e o psicólogo esportivo 
é chamado a atendê‑los.
Por que ocorrem lesões? A literatura mostra que fatores de personalidade e níveis de estresse estão 
diretamente relacionados à incidência de lesões em atletas de alto nível e atletas amadores. Em relação aos 
fatores de personalidade, os pesquisadores buscam entender se traços como autoconceito, introversão, 
extroversão e inflexibilidade são significativamente relacionados com a ocorrência de lesões. Por exemplo: 
atletas com baixa autoestima apresentam maior número de lesões? Níveis elevados de estresse 
aumentam a incidência de lesões?
O aumento do estresse reduz as taxas de atenção e concentração levando à execução 
de movimentos que podem causar novas lesões. Além disso, esses erros também podem sercometidos pelo excesso de repetições mal executadas ou mal planejadas durante os treinamentos 
e competições, situações nas quais o próprio estresse competitivo aumenta as chances de erro 
por exagero ou má execução.
Atenção e concentração reduzidas, associadas ao aumento de tensão muscular, podem fazer 
com que o esportista lesionado considere a si mesmo como esportista destituído de valor. Isso 
ocasiona sentimentos e emoções semelhantes aos vivenciados por pessoas que enfrentam morte 
iminente. Em tais condições, praticantes de exercícios e atletas frequentemente experimentam 
forte sentimento de pesar, processado em cinco estágios: negação, raiva, negociação, depressão 
e reorganização.
114
Unidade II
Embora nem todos os esportistas submetidos a tais circunstâncias passem por todos os cinco 
estágios e alguns nem sequer apresentem esse padrão hierárquico de respostas emocionais, convém 
considerar essa possibilidade. Outras reações psicológicas passíveis de ocorrer são as seguintes: 
perda de identidade, medo, ansiedade, falta de confiança e diminuição de desempenho. É preciso 
identificar o quadro de reações emocionais de um esportista em tais condições para lhe oferecer 
tratamento apropriado.
Ivleva e Orlick (1991) desenvolveram um estudo sobre estratégias psicológicas de reabilitação 
de lesões. Compararam atletas de recuperação rápida de lesões no joelho e no tornozelo (menos de 
cinco semanas) com atletas que, sob as mesmas circunstâncias, haviam tido recuperação lenta (mais 
de 16 semanas). Os pesquisadores realizaram entrevistas que avaliaram atitude, perspectiva, estresse, 
controle do estresse, apoio social, diálogo interior positivo, visualização da cura, estabelecimento 
de metas e crenças. Verificaram que atletas com recuperação rápida usavam mais estratégias de 
estabelecimento de metas, diálogo interior positivo e (em menor grau) visualização da cura do que 
atletas de recuperação lenta.
Isso sugere que fatores psicológicos desempenham papel importante na recuperação de lesões. 
Basicamente, o tratamento da lesão deve incluir recursos psicológicos para favorecer a cura e acelerar a 
recuperação. Atletas que confiam nas possibilidades de tratamento e recuperação alcançam resultados 
mais eficazes.
 Observação
É responsabilidade do psicólogo do esporte adotar procedimentos 
apropriados: manter contato com a pessoa lesionada; instruí‑la sobre a 
lesão e o processo de recuperação; ajudá‑la a desenvolver habilidades 
psicológicas específicas de controle; orientá‑la sobre o modo de lidar com 
retrocessos; incentivá‑la a buscar apoio social e, acima de tudo, aprender 
com ela.
6.4 Atuando no âmbito de esportes de rendimento
A atuação na área de esportes de rendimento demanda identificação de fatores externos e internos 
que interferem diretamente na performance e no desempenho do atleta e/ou da equipe. A avaliação de 
fatores externos – condições institucionais e grupais, valores ético‑morais da cultura institucional – e 
de fatores internos – características pessoais do atleta – demandam do psicólogo esportivo um estudo 
cuidadoso para definição de um processo de preparo para o enfrentamento de situações de estresse nos 
treinamentos, durante as competições e fora delas.
Para melhor compreensão dessa dinâmica, convém retomarmos o conceito de tríade da psicologia 
esportiva, desta vez situando no ápice da pirâmide o atleta e, na base, seus familiares e amigos, o 
treinador e a instituição que o abriga. Observemos a figura apresentada a seguir.
115
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
Aluno
Família Instituição
Psicólogo do esporte
Figura 52 – Tríade da psicologia esportiva no âmbito de esportes de rendimento
É preciso que o psicólogo esteja preparado para harmonizar as forças advindas dos três vértices 
da tríade, e isto não é tarefa fácil, pois sempre há interferência de múltiplas fontes promotoras de 
desestabilização emocional, durante todo o processo evolutivo de equilíbrio emocional. Esses fatores 
de desequilíbrio acham‑se representados na figura a seguir.
Aluno
Família
Promessas Salá
rio $
Compromisso Patr
ocin
ador
$$$
Dirig
ente
s
Instituição
Psicólogo do esporte
Incongruência de ideias
Figura 53 – Tríade da psicologia esportiva – dinâmica de 
forças no âmbito dos esportes de rendimento
Além dos fatores representados na figura, todos presentes no cotidiano de atletas de alto rendimento, 
há muitos outros, o que demanda do psicólogo um detalhado conhecimento de todas as forças atuantes 
sobre o atleta. A obtenção desse conhecimento exige um grau de confiança mútua entre atleta e 
116
Unidade II
psicólogo esportivo que leva tempo para ser estabelecida e somente se estabelece se houver empatia 
entre ambos e se ambos estiverem disponíveis para o diálogo. A frequência e os motivos dos encontros 
dessa díade favorecem, dificultam ou impedem a formação do necessário vínculo que tornará eficaz a 
ação do psicólogo.
Um fato que poderá dificultar a formação de vínculo é o relativo à frequente troca de atletas nos 
clubes e mesmo nos países. E outro fato importante a ser considerado é que o psicólogo não atua 
sozinho: ele integra uma equipe multidisciplinar, sendo preciso que compartilhe informações com os 
demais integrantes da equipe para que haja uma melhor consistência no trabalho a ser desenvolvido. 
Evidentemente, por motivos éticos, nem todas as informações obtidas podem ser compartilhadas, o que 
exige do psicólogo discernimento suficiente para triar o que pode e deve compartilhar e reservar para si 
informações a ele confiadas e que não podem nem devem ser compartilhadas.
Psicólogos bem formados sabem que toda avaliação – de habilidades motoras, de aptidões físicas 
e cognitivas, de aspectos emocionais – está sujeita a erros, por isso cuidam para realizá‑la com boa 
margem de segurança, visando a uma aplicabilidade o mais fidedigna possível. Reconhecidas as próprias 
limitações como avaliador e o fato de que as pessoas adotam muitas vezes um estilo de resposta 
conhecido como “falso bom”, o psicólogo bem formado tratará de lidar com essas variáveis. Por exemplo: 
um atleta, temendo que seu técnico saiba o quanto ele fica nervoso antes das competições, ao ser 
submetido a testes de ansiedade anteriores à competição responde falsamente para parecer calmo, frio 
e imperturbável.
Algumas regras desse tipo de intervenção psicológica são simples:
• buscar conhecer e compreender cada atleta individualmente;
• estabelecer diálogo autêntico com os atletas e com demais integrantes da equipe multiprofissional;
• não se basear exclusivamente em resultados de testes;
• respeitar a ética profissional de psicólogos, mantendo sigilo relativo a aspectos que não devem 
ser compartilhados;
• fornecer à equipe todas as informações passíveis de serem compartilhadas;
• realizar atendimentos individuais e grupais.
De modo geral, concluída a avaliação do atleta, que certamente inclui dados sobre atenção, percepção 
e concentração, os psicólogos do esporte definem estratégias para a conquista de alto desempenho. 
Entre as principais estratégias se incluem as seguintes:
• Utilizar planos específicos para aumento da autoconfiança, preparando o atleta para lidar com 
adversidades que possam surgir durante a competição.
117
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
• Implementar rotinas geradoras de condições para lidar com circunstâncias incomuns e evitar 
distrações antes e durante as competições e para se manter concentrado no que é exigido como 
desempenho imediato, bloqueando eventos e pensamentos irrelevantes.
• Implementar as seguintes rotinas:
— antes da competição, repetir afirmações positivas, autossugestivas;
— concentrar‑se no que é controlável, sem se preocupar com os outros competidores;
— desenvolver detalhados planos de competição;
— regular a própria ansiedade.
 Saiba mais
Os livros e textos a seguir podem ajudar na compreensão do conteúdo 
apresentado até o momento:
BARRETO, J. A. Psicologia do esporte para o atleta de alto rendimento. 
Riode Janeiro: Shape, 2003.
CANTÓN, E. El área profesional de la psicología del deporte. In: DOSIL, 
J. D. (ed.). El psicólogo del deporte: asesoramiento e intervención. Madri: 
Síntesis, 2007.
DOSIL, J. D. (ed.). El psicólogo del deporte: asesoramiento e intervención. 
Madri: Síntesis, 2007. p. 39‑50. Disponível em: https://pt.scribd.com/
document/395499970/El‑Psicologo‑del‑Deporte‑Asesoramiento‑e‑
Intervencion‑Joaquin‑Dosil‑pdf. Acesso em: 22 jul. 2020.
WEINBERG, R.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia aplicada ao 
exercício e ao esporte. Porto Alegre: Artmed, 2006.
6.5 Atuando na atenção básica em saúde
Desde sua criação pelo Ministério da Saúde, em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas 
e Complementares (PNPIC) foi implantada no Sistema Único de Saúde (SUS) com o objetivo de 
implementar tratamentos alternativos à medicina baseada em evidências na rede de saúde pública 
do Brasil, através do SUS.
118
Unidade II
A ampliação de ofertas conduziu ao atual conjunto de 29 modalidades de práticas integrativas e 
complementares, entre as quais as seguintes:
• arteterapia;
• biodança;
• dança circular;
• dança sênior;
• dinâmica energética do psiquismo;
• fitoterapia e plantas medicinais;
• homeopatia;
• hortas comunitárias;
• medicina antroposófica, que inclui a prática de euritmia;
• medicina tradicional chinesa (que inclui acupuntura, meditação e práticas corporais, como o 
tai chi chuan);
• medicina tradicional indiana (ayurveda);
• musicoterapia;
• naturopatia;
• oficina de memória;
• osteopatia;
• quiropraxia;
• reiki;
• relaxamento;
• shantala;
• teatro do oprimido;
119
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
• terapia comunitária;
• terapia de florais;
• termalismo;
• ioga.
Figura 54 – Meditação
Solicitado a nos oferecer uma descrição sucinta da meditação, Hernan Maximilian Rolim de Vilar, 
psicólogo clínico, mestre em Ciência da Religião e monge budista, em informação verbal fornecida em 
30 de maio de 2020, contribuiu com as informações apresentadas a seguir.
Segundo Goleman e Davidson (2017, p. 14), “meditação é uma palavra abrangente para uma 
miríade de variedades da prática contemplativa, assim como esporte se refere a uma ampla gama de 
atividades atléticas”. Cebolla, Campayo e Demarzo (2016, p.19) correlacionam meditação com o termo 
inglês mindfulness, comumente traduzido por “atenção plena”, e apresentam a seguinte definição: 
“Mindfulness é o traço ou estado mental de estar intencionalmente atento à experiência presente”. Uma 
condição para sua prática é aceitar os acontecimentos sem julgamento de valor sobre o que ocorre.
Referindo‑se à compreensão do psiquismo, Ricard e Singer (2018) contrapõem ao conhecimento 
gerado no ocidente pela psicologia o conhecimento gerado no oriente pelo budismo. No ocidente, 
fatos marcantes foram a criação de um laboratório de estudos da consciência por William James, 
em 1875, e a busca de compreensão do psiquismo e de fenômenos da consciência característica 
da terceira força da psicologia, inaugurada em 1962, por Abraham Maslow. Como vemos, o 
conhecimento teórico desse tema, construído pela psicologia no ocidente, data, quando muito, de 
menos de 200 anos, enquanto o conhecimento empírico construído pelo budismo no oriente data 
de 2500 anos.
120
Unidade II
No budismo encontramos métodos práticos para “realizar uma transformação gradual das emoções, 
do temperamento e dos traços de personalidade”: a mente devidamente treinada é capaz de fazer 
emergir o que há de melhor no potencial humano – “capacidades humanas inatas permanecem em 
estado latente a menos que façamos alguma coisa para levá‑las ao ponto de funcionamento ótimo” 
(RICARD; SINGER, 2018, p. 13‑14).
Segundo Campayo e Demarzo (2015, p. 20), mindfulness é um exercício da atenção que pode ser 
aprendido e praticado por meio de técnicas que nos possibilitem:
• evitar a distração e a atenção multifocal;
• permanecer centrados no presente, deixando fora de foco eventos passados ou futuros;
• exercitar a intencionalidade, isto é, praticarmos nossa volição;
• assumir uma atitude ativa de curiosidade perante a experiência vivida no agora, em detrimento 
de uma atitude passiva ou resignada;
• manter essa qualidade de atenção por período de tempo suficiente para que ela se transforme 
em concentração;
• perceber fenômenos por meio das emoções e de outros recursos mentais, além do meio utilizado 
usualmente: o da percepção sensorial;
• (re)conhecer a verdadeira “realidade dos fenômenos”.
Estudos sobre a utilização do mindfulness na área da saúde em geral e da saúde mental em 
particular demonstraram haver distintos resultados tanto no tratamento de dor crônica e no controle 
da intensidade da dor, quanto no atendimento a casos psiquiátricos de depressão e ansiedade e nos 
casos de perda de funções psicossociais e de qualidade de vida. Intervenções baseadas em mindfulness 
para o tratamento de dor crônica apresentaram‑se moderadamente eficazes com resultados positivos a 
longo prazo (VEEHOF et al., 2015).
Estas informações fornecidas por Vilar nos levam a concluir que mindfulness é recurso de grande 
utilidade, tanto para psicólogos do esporte e profissionais de educação física quanto para os usuários 
de seus serviços, seja na área da educação, seja na área da saúde. No Brasil essa prática integra a 
PNPIC no SUS.
Também vêm sendo incluídas entre as práticas integrativas e complementares algumas atividades 
realizadas em grupo para acompanhamento complementar à saúde: grupos de bordadeiras; de 
caminhadas; de cuidadores de Alzheimer; de idosos; de prosa com mulheres; de terapia e arte; de contação 
de histórias; de suporte mútuo. Oração a Deus e busca de benzedeiras também são apontadas como 
estratégias popularmente utilizadas para o autocuidado.
121
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
Basta percorrer essa lista para facilmente identificar práticas que podem ser conduzidas por 
profissionais de educação física, integrados ou não a equipes interdisciplinares. Todo profissional da 
saúde pode trabalhar com práticas integrativas e complementares no SUS, o que inclui profissionais 
de educação física e psicólogos do esporte. Inserir‑se nesse âmbito de ação é participar de um projeto 
coletivo que visa atender às seguintes necessidades:
• ausência de efeitos colaterais;
• empoderamento e responsabilização dos usuários;
• promoção de saúde;
• redução da frequência de transtornos mentais comuns, da medicalização e de custos para os 
usuários do SUS.
Convém enfatizar que por ocasião do surgimento do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) 
no SUS os profissionais de educação física foram inseridos no serviço de atenção básica. Ao criar a 
Política Nacional de Promoção da Saúde, o Ministério da Saúde definiu como um dos eixos prioritários 
o incentivo a práticas corporais e atividades físicas, indispensáveis para a promoção da saúde e para a 
prevenção e controle de doenças crônicas, especialmente as cardiovasculares. Profissionais de educação 
física e psicólogos do esporte são especialmente necessários nas esquipes interdisciplinares que atuam 
nas estratégias de saúde da família (ESF).
 Observação
Para ampliar conhecimentos sobre este fértil e promissor campo de 
atuação sugerimos o acesso ao sistema Google Acadêmico para consulta 
de artigos publicados sobre o tema.
A título de exemplo, apresentamos uma prática incluída entre as práticas integrativas e 
complementares: a euritmia, modalidade de dança baseada no conhecimento antroposófico de ser 
humano. Na euritmia os movimentos são coreografias realizadas por um indivíduo ou por um grupo ao 
som de música instrumental produzida ao vivo (KIRCHNER‑BOCKHOLT, 2016).
Figura 55 – Espetáculos de euritmia
122
Unidade II
A euritmia é uma modalidade de dança que vem sendo desenvolvida desde 1912, com base na 
antroposofia. Seus movimentos são coreografias realizadas individualmente ou em grupo, para expressar 
música instrumental tocada ao vivo e/ou linguagem poética. A palavra euritmiavem do grego eurythmia, 
que significa equilíbrio de forças. Utilizada em processos educacionais e terapêuticos, essa modalidade 
de dança visa dinamizar forças atuantes no corpo humano.
 Saiba mais
Para mais informações sobre euritmia, sugerimos a seguinte leitura:
SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA NO BRASIL. O que é euritmia. 2016. 
Disponível em: http://www.sab.org.br/portal/euritmia/91‑euritmia. Acesso 
em: 23 jul. 2020.
E para mais informações sobre meditação, prática igualmente incluída 
entre as práticas integrativas e complementares, sugerimos o seguinte vídeo 
com explicações sobre o “mecanismo” da meditação, de Tatiane Vasconcelos 
(médica psiquiatra) e Hernan Maximilian Rolim de Vilar (monge budista, 
psicólogo clínico e mestre em Ciência da Religião):
VASCONCELOS, T.; VILAR, H. Meditação e ansiedade. Cuidadamente, [s.d.]. 
Disponível em: https://youtu.be/RvJ7HXNoizw. Acesso em: 23 jul. 2020.
7 PRÉ‑REQUISITOS PARA ATUAR EM GRUPOS E EQUIPES
7.1 Conhecimentos básicos de estrutura e dinâmica de grupos
7.1.1 Tópicos de psicologia social
Figura 56 – Indivíduos em interação
123
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
A psicologia social é o ramo da psicologia que estuda, basicamente, o comportamento dos indivíduos 
quando estão em interações sociais. Essa área da psicologia surgiu recentemente, no século XX, como 
campo de interação da psicologia com as ciências sociais – sociologia, antropologia, geografia, história, 
ciência política. Por exemplo, da interação da psicologia com a etnologia (ramo da antropologia) resultou 
a etnopsicologia, que considera os aspectos sociais, históricos e culturais dos fenômenos psicológicos.
Ao realizar um balanço do estado atual da psicologia social, nos âmbitos nacional e internacional, 
Maria Cristina Ferreira (2010) registra sua evolução na América do Norte, na Europa e na América Latina, 
na qual particulariza a recente produção brasileira.
Vimos que, ao longo da história da psicologia, houve grande pluralidade e multiplicidade de abordagens 
teóricas. O mesmo ocorreu no âmbito de cada área específica dessa ciência, e com a psicologia social 
não teria sido diferente. Os estudos e pesquisas foram reunidos em dois grandes conjuntos, um dos 
quais reúne aqueles cuja ênfase recai nos indivíduos e outro cuja ênfase recai na relação estabelecida 
entre indivíduos. Dessa classificação resultam duas modalidades de psicologia social:
• Psicologia social psicológica.
• Psicologia social sociológica.
Vejamos melhor o que significa isso.
A psicologia social psicológica privilegia a vida intrapsíquica do indivíduo: seus pensamentos, 
sentimentos e comportamentos quando ele se encontra diante da presença real (ou imaginada) de 
outras pessoas. Em outras palavras, a psicologia social psicológica enfatiza aquilo que se passa na 
interioridade dos indivíduos, seus processos intraindividuais que determinam o modo pelo qual eles 
respondem a estímulos sociais.
A psicologia social sociológica, por sua vez, privilegia a experiência social adquirida pelo indivíduo 
ao longo de suas diversas participações em diferentes grupos sociais. Em outras palavras, a psicologia 
social sociológica enfatiza os fenômenos observáveis em grupos e coletividades.
Entre os principais temas de estudo da psicologia social, estão incluídos os seguintes: atitudes, 
relações entre funções cerebrais e cognição social (neurociência social), processos coletivos que ocorrem 
em grupos de todos os portes, desde os processos próprios de relações interpessoais que envolvem 
somente dois participantes; processos próprios dos grupos, instituições e comunidades; até atingir os 
processos próprios das redes sociais, sejam elas presenciais ou virtuais.
O que o campo da psicologia social pode oferecer de melhor aos profissionais de educação física? 
Parece‑nos que, dessa área da psicologia, o mais útil para você, querido aluno, é a aquisição de alguns 
conhecimentos sobre estrutura e dinâmica de grupos. O estudo de grupos é indispensável a profissionais 
que integram ou muito possivelmente virão a integrar equipes multi e interdisciplinares de trabalho e 
àqueles que trabalharão junto a grupos.
124
Unidade II
Ao tratarmos de particularidades da estrutura e dinâmica dos grupos, ingressamos em vasto território 
da psicologia, pois, havendo uma multiplicidade de abordagens teóricas, das quais decorrem distintas 
sugestões práticas, nós, autores deste livro‑texto, nos vemos obrigados, mais uma vez, a eleger temas 
cujo estudo possa ser útil a você.
Para darmos andamento à abordagem desse tema, vamos recorrer mais uma vez ao já mencionado 
Enade Psicologia: material instrucional específico, produzido pela UNIP. Nesse material, vemos que 
sociólogos e psicólogos elaboraram muitas definições de grupo, uma das quais de uso frequente: 
basicamente, grupo é um conjunto de pessoas que desempenham distintos papéis para que possam 
atingir, juntas, um ou mais objetivos comuns.
Cada grupo é um todo dinâmico, é como um organismo coletivo, de modo que qualquer alteração 
em algum de seus elementos repercute nos demais elementos e no sistema como um todo. Além disso, 
num grupo bem conduzido, a produção coletiva é sempre maior e melhor que a soma das produções 
individuais de seus membros.
Durante a convivência e a realização de trabalhos em conjunto, vão se sucedendo processos 
grupais, e essa dinâmica psicossocial proporciona aos integrantes do grupo o compartilhamento de 
representações, de crenças e de conhecimentos; o desempenho de múltiplos papéis e o sentimento 
de pertença grupal. Esses benefícios do grupo podem favorecer o desenvolvimento, o autoconhecimento e a 
elevação da autoestima de seus integrantes.
Diversas modalidades de intervenção grupal compõem o repertório de profissionais da saúde, da 
educação, de organizações de trabalho, de sistemas jurídicos, de instituições e de comunidades. Múltiplas 
estratégias de análise e de intervenção nos processos grupais são tradicionalmente utilizadas por 
coordenadores, facilitadores e moderadores de grupo para adequar os indivíduos a interesses corporativos 
ou para favorecer exercícios cooperativos de ação grupal, quando se tem em vista a promoção da 
autonomia de sujeitos e de coletividades. O trabalho grupal demanda compatibilidade entre as condições 
do contexto, os objetivos da estratégia adotada e as necessidades dos participantes do grupo.
Figura 57 – Unidade na diversidade
125
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
Assim, da vasta diversidade de estratégias grupais utilizáveis em distintos contextos profissionais, 
é preciso que a escolha dos procedimentos a serem adotados se apoie em uma cuidadosa avaliação da 
situação e dos objetivos da intervenção, para que se possa escolher o tipo de intervenção mais adequado 
aos objetivos e demandas do grupo e à necessidade dos indivíduos que o compõem.
Há diversas modalidades de grupo. Entre elas, é de nosso particular interesse neste contexto o grupo 
operativo, proposto por Enrique Pichón‑Rivière (1977, p. 42) e por ele definido como um “conjunto de 
pessoas reunidas por constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, 
que se propõe, implícita ou explicitamente, uma tarefa, que constitui a finalidade do grupo”. Os grupos 
operativos têm por objetivo a realização de uma tarefa.
 Lembrete
Para situarmos a contribuição de Enrique Pichón‑Rivière em seu contexto 
teórico, podemos retornar à Introdução, onde apresentamos o panorama 
histórico da psicologia e as principais áreas de atuação dos psicólogos.
Eduardo Frias (2020) nos lembra que Pichón‑Rivière descreve o sujeito como emergente de uma trama 
complexa de relações sociais em que ocorrem internalizações recíprocas (vínculos) e relações sociais (nexos). 
Este autor também descreve o indivíduo como um ser que se movimenta em um drama interno enquanto 
participa de vários dramas externos. E, baseado em seus conhecimentos de psicanálise, Pichón‑Rivière 
explica que as pessoas com quem um indivíduo se relaciona se inscrevemem sua interioridade, por meio de 
um progressivo processo de internalização das múltiplas e sucessivas experiências vividas nessas interações. 
Múltiplas imagens, originadas de múltiplos objetos internalizados, se articulam na subjetividade do 
indivíduo, sistema interno que compreende habitat e grupo interno, isto é, compreende um cenário e, nele, 
personagens em relação, segundo um script ou argumento, como numa obra teatral.
Composto
Como antropófago
Faço de pedaços das pessoas que amo e odeio
Partes de mim mesmo.
E_FR!@s
Fonte: Frias (2013).
Foi possível entender esse conceito de Pichón‑Rivière? Para tornar mais inteligível sua maneira de 
compreender o indivíduo colocado em relação social, basta considerarmos que cada um de nós representa 
vários papéis sociais ao interagir com outras pessoas: cada um de nós é filho; pai ou mãe; trabalhador em 
determinado lugar, exercendo determinadas funções; amigo; comprador; vendedor, e assim por diante. 
Essas interações podem ser entendidas como se cada um de nós, sem perda da própria unidade identitária, 
estivéssemos representando diversos papéis nos palcos de teatro determinados por cada contexto.
126
Unidade II
Pichón‑Rivière vai além ao propor que nossa interioridade é habitada por personagens em interação, 
havendo contínua comunicação entre os dramas vividos por esses personagens internos e os dramas 
vividos por nós em nossas interações sociais.
Figura 58 – Estabelecendo nexos
Às relações significativas estabelecidas entre os seres que habitam nossa interioridade Pichón‑Rivière 
dá o nome de nexos, e às relações significativas por nós estabelecidas com outras pessoas em nosso dia 
a dia dá o nome de vínculos.
O fato de os personagens internos não serem estáticos e de interagirem justifica a denominação 
grupo interno. Graças a um complexo dinamismo de introjeção e projeção de imagens, no cenário 
interno, a realidade externa é reconstruída, com maior ou menor grau de distorção, já que o sujeito 
transforma dados da realidade externa ao interpretar a experiência: configura‑se, assim, a trama 
argumental interna (argumento interno).
Estando em grupo, as pessoas compartilham tempo, lugar e campo psicológico. Formam vínculos, 
manifestam emoções, têm vivências, expressam ideias e ideais. Os integrantes de um grupo interagem 
por meio de um complexo mecanismo de atribuição e assunção de papéis. A mútua representação 
interna (internalização recíproca) é o processo por meio do qual cada integrante de um grupo reconstrói 
em sua interioridade a trama de relações de que participa no meio social.
Para lidar com obstáculos e dificuldades próprias de nossa vida cotidiana, é preciso, entre outras 
coisas, superar obstáculos e dificuldades nas relações que nossos personagens internos estabelecem 
entre si. Esse trabalho a ser realizado na esfera subjetiva de cada um de nós é pré‑requisito para podermos 
lidar de modo eficiente e eficaz com o que ocorre externamente, em nossas relações sociais.
Assim, para lidar com obstáculos e dificuldades próprias de nosso fazer profissional, é preciso 
que, além dos recursos teórico‑técnicos propostos por Pichón‑Rivière e outros pensadores da 
psicologia, possamos superar nossa dificuldade para lidar com determinadas questões. Pode 
ocorrer, por exemplo, que a educação que recebemos nos tenha levado a sentir antipatia, medo ou 
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PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
aversão por pessoas diferentes de nós. Diferentes por pertencerem a outra classe social, ou a outro 
segmento étnico‑racial, ou por terem orientação de gênero distinta daquela que consideramos a 
única correta ou, ainda, por serem pessoas velhas, gordas, portadoras de algum tipo de deficiência, 
por estarem morrendo, e assim por diante.
Estereótipos negativos e preconceitos sempre têm raízes profundamente arraigadas em nós, 
demandando revisão. E eis que em nossa prática profissional nos vemos diante da necessidade de 
interagir com pessoas que, em nossa interioridade, em nosso cenário interno, são representadas como 
aversivas ou desprezíveis ou aterrorizantes.
 Lembrete
A percepção de si é tarefa exigente a ser realizada na subjetividade 
de um profissional da educação física, de um psicólogo e de qualquer 
profissional chamado a oferecer cuidados a alguém.
Quanto ao desenvolvimento de grupos de trabalho, quer utilizemos a técnica de grupos operativos, 
quer utilizemos outra, vale fazer algumas observações. A vida de grupos e de equipes de trabalho se 
desenvolve em conformidade com as seguintes etapas:
• formação;
• conflito;
• normatização;
• desempenho;
• desintegração.
Figura 59 – Para interagir em grupo é preciso compartilhar um código linguístico comum
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Unidade II
As etapas do processo grupal nem sempre obedecem exatamente à sequência enunciada, porque 
podem ocorrer retornos às etapas anteriores antes do avanço para etapas seguintes. O conhecimento 
das etapas dos processos grupais nos dá a conhecer que os períodos de turbulência fazem parte 
desses processos.
Para melhor entendimento, as etapas de formação, conflito, normatização, desempenho e 
desintegração de uma equipe de trabalho acham‑se descritas a seguir.
Durante a etapa de formação têm início os contatos interpessoais e o reconhecimento mútuo 
dos integrantes do grupo. Nessa etapa, o objetivo coletivo é identificado e são estabelecidas as 
regras de tempo, lugar, papéis e funções. Durante essa etapa da vida grupal não ocorrem disputas pelo 
poder no interior da equipe, pois os indivíduos ainda se locomovem em meio às incertezas relativas 
às responsabilidades, aos papéis de cada um e ainda não reconhecem a si mesmos como membros 
do grupo.
Durante a etapa de conflito, nitidamente marcada pela incerteza, os membros do grupo já estão 
identificados. Tem início então o processo de ajustes relativos às tarefas que serão realizadas, a decisão 
de quem fará o que, e de que maneira. Durante essas negociações, os integrantes do grupo podem 
redefinir regras. As lideranças começam a emergir, o que poderá determinar a ocorrência de disputa 
pelo poder de condução do grupo, e pequenos poderes começam a ser divididos e disputados entre os 
membros. Isso não implica, necessariamente, litígios, pois, apesar de serem esperadas discordâncias, as 
negociações podem ocorrer sem hostilidades.
Durante a etapa de normatização, a energia da equipe se concentra nos processos de coesão 
grupal, de identificação dos membros do grupo e de maior proximidade entre eles. Também têm 
início o compartilhamento de sentimentos e percepções e o intercâmbio de informações. Aumenta a 
tolerância frente às divergências. A concordância explícita com os objetivos do grupo se inclui entre as 
características desta etapa. As lideranças, já aceitas, definem junto com os integrantes do grupo papéis 
e funções, bem como normas de desempenho.
Durante a etapa de desempenho, as tarefas são executadas. Já ultrapassada a etapa de normatização, 
durante a qual foram estabelecidas relações mais próximas, foram compartilhados percepções e 
sentimentos, bem como houve aumento da coesão grupal, a energia do grupo se volta agora para a 
realização de atividades. Ainda que possa haver oscilações ao longo do percurso, esta é a fase de ouro 
da produtividade grupal.
A desintegração é a última etapa do processo grupal. Tendo sido atingidos os objetivos do 
grupo, sua existência passa a ser desnecessária. É importante assinalar que, nas equipes permanentes 
de trabalho, durante essa etapa pode ocorrer a renovação de metas e de recursos, bem como a 
substituição de membros.
Nem todo grupo é operativo. Outra modalidade de grupo bastante frequente é o grupo de 
encontro, no qual os fatores socioafetivos predominam sobre os fatores sócio‑operativos. De fato, 
há trocas socioafetivas nos grupos operativos, assim como há tarefas a serem realizadas nos grupos 
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PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE
de encontro, sendo a principal delas o encontro humano. Mas, sem dúvida alguma, as equipes 
são grupos operativos inseridos

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