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PORTUGAL, BRASIL, MOÇAMBIQUE

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Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Componente Curricular: Antropologia V
Docente: Núbia Rodrigues
Discente: Lidia Bradymir
RESENHA
SILVANO, Filomena and Rosales, Marta Vilar “Na realidade, Portugal, Moçambique, Brasil… eu ligo muito à ideia de nação portuguesa”: ligar o que a vida separou. Horiz. antropol., Jun 2015, vol.21, no.43, p.105-127.
Neste artigo, as autoras Filomena Silvano e Marta Rosales fazem uma breve discussão sobre o conceito de diáspora, das suas modificações e impasses ao longo da história nas ciências sociais, a partir de uma etnografia realizada com três famílias de origem portuguesa que migraram para Moçambique e hoje vivem no Brasil.
Iniciando o texto com uma discussão teórica do conceito de diáspora, as autoras partem da formulação de Rogers Brubaker sobre uma “diáspora da diáspora”, referente a uma dispersão dos significados de diáspora “nos espações semântico, conceptual e disciplinar”. Esse autor determina como três critérios básicos da ideia de diáspora: 1- dispersão espacial; 2- orientação para uma “terra mãe”; 3- manutenção de fronteiras. O aspecto mais passível de questionamento seria presença de uma “terra mãe”, uma vez que está não se apresentaria nem mesmo na diáspora judaica. 
“Na realidade, muitas diásporas têm-se a si próprias como referência: a pertença é a pertença à diáspora e não à real ou suposta “terra de partida”.” (p. 4).
Nesse sentido, Brubaker propõe que o conceito seja usado nas ciências sociais a partir do estudo das práticas, ou seja, diáspora como “categoria da prática”, e através do estudo das representações identitárias – diáspora enquanto “idioma”. Avtar Brah, sugere o estudo das diversas fraturas (raça, classe, gênero etc.) que compõem as diásporas. Resumindo, os estudos sobre diáspora foram se tornando mais flexíveis e diversificados, elas citam Braziel e Mannur na concepção dos estudos da diáspora como necessariamente conectado aos estudos transnacionalistas, que olham para as pessoas e entendem o seu objeto como um fenômeno humano. 
“No essencial, é este o pano de fundo conceptual em que inserimos o nosso texto: o da afirmação da necessidade de observar e interpretar as práticas e as representações de pessoas concretas em situações de deslocação espacial também elas concretas. Dado o contexto etnográfico em estudo, será ainda necessário abordar, se bem que de forma sucinta (e isto apesar da sua complexidade) o quadro específico da denominada “diáspora portuguesa”.” (p. 6).
A ideia de uma “diáspora portuguesa”, seria uma amálgama da “diáspora colonial” e “diáspora do trabalho”, que integra uma representação específica da relação colono e colonizado, marcada pelo incentivo à aproximação, particularmente na época do Estado Novo. O Brasil, no período pós-colonial, facilitou a produção de discursos diaspóricos que pregavam a existência de uma continuidade entre eles. 
As famílias que participaram da etnografia possuem quatro aspectos em comum: 1- o percurso: partiram de Portugal para Moçambique, saem de lá no fim do regime ditatorial, ficam um curto período em Portugal e vão para o Brasil, onde ainda vivem; 2- estratificação social: integram elites coloniais em Moçambique e depois se posicionam nos estratus mais elevados da classe média brasileira; 3- continuidade geracional: o percurso corresponde a três gerações, sendo a terceira nascida no Brasil; 4- a segunda geração casa-se com brasileiros/as.
Essa diáspora, se analisada pelos critérios comuns, pode ser entendida em primeiro momento como “diáspora colonial”, onde eles se deslocam para uma colônia portuguesa, e posteriormente como uma “diáspora de trabalho” por se fixarem em um Estado-nação com meios de sobrevivência adequados. Contudo, esse segundo percurso é para um Estado-nação que foi uma colônia do país de partida e mantem relações, o que pode constituir como uma continuidade da “diáspora colonial”.
O que as autoras demonstram, através dos relatos dos entrevistados, é que há nos discursos uma continuidade existencial entre Moçambique e Brasil, que diminui os efeitos do trauma da partida. Não é como se ele não existisse, mas a manutenção do estilo de vida, clima, alimentos e língua ajudaram, principalmente os portugueses da segunda geração, a se adaptarem mais rapidamente ao Brasil. O que aparece nos discursos, é uma percepção de que esses três países seriam como um só, isso principalmente pelo idioma. Não há um sentimento de retorno a uma “terra mãe”, o que há é uma “terra de eleição” e a “pátria”. Moçambique surge como “terra mítica”, de onde eles partiram, mas não como um lugar que desejam retornar.
Além destes aspectos, também a organização social do Brasil era parecida com os outros dois, onde pessoas brancas ocupavam a elite do país enquanto pessoas negras e indígenas eram mais pobres. A ideia de “diáspora portuguesa” entre eles é uma experiência transnacional, a concepção de diáspora neste caso não tem como referência o país de partida, mas a diáspora em si mesma. Elas comparam o caso dessas famílias com os portugueses que vivem na França e no Canadá, que formam “comunidades portuguesas”, que no caso brasileiro sequer existe.

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