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CONTROLE DA APRENDIZAGEM MOTORA AULA 3 Prof.ª Tatiane Calve 2 CONVERSA INICIAL O desempenho de uma tarefa motora exige que o sistema neuromotor integrado controle o funcionamento de um conjunto de vários músculos e articulações. Com o processo de aprendizagem motora, a prática e a experiência na execução das tarefas, a habilidade motora se torna cada vez mais precisa e consistente. Assim, o organismo se estabiliza e surgem os padrões de movimento coordenados. Quando executamos os padrões de maneira mais harmoniosa, ou seja, mais coordenada, o dispêndio de energia é menor e o desempenho é melhor. Para explicar como a coordenação motora ocorre, há diferentes teorias, as quais descrevem o controle do movimento de acordo com as características ambientais e orgânicas. Nesta aula, vamos abordar as teorias que explicam os comandos de controle do movimento coordenado. Por intermédio de pesquisas que indagam a maneira como o Sistema Nervoso Central (SNC) controla o desempenho de diferentes tipos de habilidades motoras, surgem as teorias do controle motor. Cada autor, com seu ponto de vista, procura explicar como os aspectos ambientais e do organismo se integram para que os sistemas sensorial, nervoso central e o motor possam, de maneira eficiente, receber, integrar e programar o movimento coordenado. Ainda serão abordadas, nesta aula, as diferenças individuais, as características do processo de controle postural e os meios pelos quais o profissional de Educação Física pode auxiliar no processo de aquisição e melhora do movimento coordenado. TEMA 1 – TEORIAS DO CONTROLE MOTOR Durante o aprendizado ou treinamento do iniciante ou experiente, a ação motora é realizada por meio do Sistema Nervoso Central e Periférico, em conjunto com o Sistema Motor, para receber informações extrínsecas e intrínsecas ao organismo, interpretar e programar a ação a ser realizada. Para explicar como esse processo de controle neuromotor ocorre, existem algumas teorias que são classificadas de acordo com a “importância dada em 3 relação à informação fornecida pelos componentes centrais do sistema de controle e pelo ambiente.” (Magill, 2000, p. 41). Entre as teorias que explicam os comandos do controle motor coordenado, serão abordados a seguir a Teoria do Programa Motor, a Teoria do Reflexo, a Teoria Hierárquica e a Teoria dos Sistemas Dinâmicos. 1.1 Programa motor Schimidt (1987, 1988) explica a ação motora é controlada por um mecanismo com características adaptativas e flexíveis do sistema (Magill, 2000). O Programa Motor Generalizado de Schimidt propõe que “um programa generalizado seria responsável pelo controle de uma classe de ações”, as quais são definidas como “um conjunto de diferentes ações que tem características comuns, mas singulares” (Magill, 2000, p. 42). Para Magill (2000), a coordenação do movimento é explicada, por essa teoria, por intermédio de Aspectos Invariantes (armazenamento de informações) e Parâmetros Motores (características específicas de cada movimento). Assim, o organismo sempre terá um modelo mecânico que será utilizado como referência para a realização de determinadas ações. Essa teoria explica que o controle do movimento possui uma “classe de ações”, a qual tem características comuns, denominadas aspectos invariantes, e, no momento da execução da tarefa, parâmetros específicos do movimento. 1.1.1 Aspectos invariantes e parâmetros motores Aspectos invariantes são a base do que está armazenado na memória, são considerados como “assinaturas” da ação motora. Entres os diversos aspectos invariantes de uma ação motora, Magill (2000) cita três deles: timing relativo – é o tempo ou ritmos de uma ação motora; força relativa – é a força utilizada para realização da tarefa; ordem ou sequência dos componentes – é a ordem sequencial do uso dos componentes utilizados para execução de um movimento. Segundo Magill (2000), para que o movimento seja desempenhado de maneira satisfatória, é necessário que o executante utilize parâmetros motores, que são as características específicas do movimento. 4 Os parâmetros motores permitem que o indivíduo regule a força total, o tempo total e a contração muscular na realização das ações motoras. 1.2 Teoria do reflexo Charles Sherrington, entre o final do século XIX e início do século XX, acreditava que o controle do movimento ocorria por meio de comandos neurofisiológicos, em que os reflexos eram únicos comandos para o controle motor (Shumway-Cook; Woollacott, 2003). Nessa teoria simplista, para que haja uma resposta, o comando ocorre por meio de um estímulo envolvendo três estruturas, sendo um receptor, um condutor e um efetor, ou seja, neurônios para fazer a condução e um músculo para fazer a ação motora. 1.3 Teoria hierárquica Para os defensores da Teoria Hierárquica, o sistema nervoso é organizado como uma hierarquia, na qual o cérebro é dividido em três níveis, sendo eles superior, médio e inferior (Shumway-Cook; Woollacott, 2003). Com essa organização, os comandos ocorrem de cima para baixo, ou seja, o primeiro nível, o superior, envia comandos ao nível médio, o qual encaminha comandos ao nível inferior. Essa teoria indica que o controle do movimento feito por centros superiores do SNC inibe os reflexos. Porém, os reflexos são a base da formação dos movimentos coordenados pelos centros superiores. 1.4 Teoria dos sistemas dinâmicos A Teoria dos Sistemas Dinâmicos tem uma visão multidisciplinar, que envolve a física, química, matemática e biologia (Magill, 2000). O comportamento motor segue uma sequência não linear, ou seja, quando há o aumento da velocidade de um movimento, este modifica suas características, o que caracteriza os estados fora de fase e em fase. Essa teoria explica que a coordenação do movimento ocorre pela mudança de estado do organismo. Um movimento se torna coordenado quando o organismo passa de um estado de instabilidade para um estado de 5 estabilidade, ou seja, o organismo se auto-organiza em busca de uma maior coordenação e controle do movimento. Durante o processo de aprendizagem até a automatização do movimento, o organismo se adaptada a uma nova organização, que é chamada de instabilidade de sistema. Quando o sistema se organiza novamente, surge um padrão específico de auto-organização e o sistema se estabiliza. Assim sendo: quanto mais treinamos, maior é a coordenação das estruturas coordenativas entre a sinergia muscular e articular; tudo é comandado pelo SNC; há o uso da percepção; estabilidade e atraidores (atratores) – a estabilidade é o estado estacionário do sistema. Figura 1 – Esquema de atratores, na abordagem dos sistemas dinâmicos TEMA 2 – COORDENAÇÃO DO MOVIMENTO Coordenação motora, segundo Turvey (1990), é conceituada como sendo a padronização dos movimentos do corpo e dos seguimentos de acordo com as características dos eventos e objetos presentes no ambiente (Magill, 2000). O padrão coordenativo dos movimentos do corpo e dos seguimentos se altera com o período de prática, ou seja, no início da aprendizagem de uma nova habilidade motora, o indivíduo coordena os movimentos dentre de um padrão e, com a prática, o padrão muda, pois o movimento se torna mais coordenado (controle e precisão maiores). A seguir, um exemplo de mudança de padrão de movimento após a prática do chute do futebol. 6 Figura 2 – Exemplo de mudança de padrão de movimento (chute do futebol) em relação ao tempo de prática Fonte: Watkins, 2017. O sistema nervoso é responsável pelo controle do movimento coordenado do corpo e de seus seguimentos. Assim, duas maneiras de controlar o movimento serão expostas a seguir. 2.1 Problema de graus de liberdade O problema de graus de liberdade foi proposto por Nicolai Bersntein,em 1967, e é definido como sendo “o número de elementos ou componentes independentes do sistema” (Magill, 2000, p. 39). Os componentes de um sistema motor são as articulações, grupos musculares e unidades motoras, que necessitam ser controlados pelo Sistema Nervoso Central. Portanto, quanto maior o número de componentes necessários para executar um movimento, maior a complexidade do movimento, que possui mais graus de liberdade e, consequentemente, necessita de maior controle das ações. 2.2 Sistema de controle de circuito aberto e circuito fechado O movimento, como exposto anteriormente, é controlado pelo sistema nervoso e existem dois sistemas que fazem esse comando, os sistemas de circuito aberto e fechado, os quais são baseados no controle proposto pela engenharia mecânica (Magill, 2000). NOVICE: PRE – INICIANTE: PRÉ-TESTE NOVICE:POST – INICIANTE: PÓS-TESTE EXPERT – EXPERIENTE KNEE – JOELHO HIP - QUADRIL 7 De acordo com essa teoria, o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico são utilizados para controlar o movimento humano. No sistema de circuito fechado, o Sistema Nervoso Central, que programa e organiza o controle da ação motora, envia os comandos para os executores do movimento (sistema efetor – muscular) e, ao detectar o erro, o Sistema Nervoso Periférico envia informações sensoriais (feedback) de volta ao centro de controle do movimento (córtex cerebral), o qual reorganiza os novos comandando para a realização de uma nova ação. No sistema de circuito aberto, a organização e o controle inicial da ação ocorre de maneira idêntica à do circuito fechado; porém, não há a presença de feedback para auxiliar no controle do movimento. Nas figuras a seguir, estão exemplificados os sistemas de circuito fechado (com feedback) e de circuito aberto (sem uso de feedback). Figura 3 – Diagrama ilustrativo do sistema de circuito fechado O sistema de circuito fechado é mais utilizado para movimentos mais complexos e que exigem maior controle e precisão dos movimentos. Já o sistema de circuito aberto está presente nos movimentos balísticos, nos quais não há tempo hábil para uso do feedback para controlar a ação motora. TEMA 3 – CONTROLE DO MOVIMENTO E POSTURA O controle do movimento, como já exposto, “é a capacidade de regular ou orientar os mecanismos essenciais para o movimento” (Shumway-Cook; Woollacott, 2003, p. 1). A organização dos graus de liberdade ocorre pelo SNC por meio das informações sensoriais do ambiente e do próprio corpo. Dessa maneira, a COMANDOS DO MOVIMENTO CENTRO DE CONTROLE DO MOVIMENTO EXECUTORES DO MOVIMENTO FEEDBACK COMANDOS DO MOVIMENTO CENTRO DE CONTROLE DO MOVIMENTO EXECUTORES DO MOVIMENTO 8 recepção e organização das informações e a programação e execução do movimento dependem da integração do organismo, do ambiente e da tarefa a ser realizada. O controle postural segue a mesma organização das demais tarefas motoras e é caracterizada pelo controle da posição do corpo no espaço, em relação à estabilidade e orientação (Shumway-Cook; Woollacott, 2003). Estabilidade postural: também conhecida como equilíbrio, é caracterizada pela capacidade do organismo de manter o centro de massa dentro dos limites da base de suporte. Orientação postural: é definida como alinhamento biomecânico e a orientação do corpo em relação ao ambiente (gravidade). Para que haja o controle da postura em relação à estabilidade e à orientação do corpo no espaço, deve haver integração das informações sensoriais (extrínsecas e intrínsecas) e a capacidade de produzir forças para controle dos sistemas de posicionamento corporal (Shumway-Cook; Woollacott, 2003). A figura a seguir mostra a interação do sistema neuromotor para que haja controle postural. Figura 5 – Modelo conceitual do controle postural Fonte: Shumway-Cook; Woollacott, 2003. 9 Shumway-Cook e Woollacott (2003, p. 156) indicam três estratégias para que haja controle postural. Estratégias motoras posturais: são a organização de movimentos adequados para controlar a posição do corpo no espaço. Estratégias sensoriais: organizam as informações sensoriais dos sistemas visual, somatossensitivo e vestibular para o controle postural. Estratégias sensório-motoras: refletem as normas de coordenação dos aspectos sensoriais e motor do controle postural. Para manter o equilíbrio postural em diferentes situações, como perturbações externas (escorregão, empurrão etc.) ou perturbações internas (neurais ou somatossensoriais), o organismo utiliza informações de feedback (respostas sensoriais) e feed-forward (antecipação). Essas informações permitem que haja padrões motores, os quais são denominados estratégias do tornozelo, do quadril e do passo, como exemplificado na figura a seguir. Figura 6 – Estratégia do tornozelo, do quadril e do passo, para controle da postura Crédito: Thyago Macson. Estratégia do tornozelo Estratégia do quadril Estratégia do passo 10 TEMA 4 – DIFERENÇAS INDIVIDUAIS E CAPACIDADES Existem indivíduos habilidosos e outros nem tanto. Alguns têm facilidade e rapidez em aprender e outros muita dificuldade e demora. Isso ocorre devido a diferenças individuais marcantes que influenciam na capacidade ou habilidade dos indivíduos. 4.1 Diferenças individuais As diferenças individuais são explicadas pela psicologia diferencial, que procura “identificar e medir as capacidades individuais ou traços” (Magill, 2000, p. 302). Características genéticas determinam as diferenças individuais sobre a capacidade de aprendizagem cognitiva e motora, facilitando ou não o processo de aquisição e especialização das habilidades motoras. 4.2 Capacidades Para Magill (2000), a palavra “capacidade”, que pode ser empregada como “habilidade”, é conceituada como sendo a qualidade geral de um indivíduo, relacionada com o seu desempenho na realização de diferentes habilidades ou tarefas motoras. Os estudiosos da área divergem nas afirmações sobre as capacidades gerais e específicas dos indivíduos, pois alguns pesquisadores indicam que as capacidades gerais e as específicas estão diretamente relacionadas, já outros afirmam que elas são totalmente independentes (Magill, 2000). Assim, surgem duas hipóteses: hipótese da capacidade motora geral – indica que todos os indivíduos possuem uma capacidade motora geral, a qual permite a aprendizagem e a execução de qualquer habilidade motora; hipótese das capacidades motoras específicas – os indivíduos possuem inúmeras capacidades independentes, as quais são utilizadas separadamente para realização de diferentes habilidades motoras. 11 4.2.1 Identificação das capacidades motoras A capacidade motora é conceituada como sendo um “atributo relativamente permanente de um indivíduo” (Magill, 2000, p. 304). O bom desempenho durante a realização de uma determinada habilidade motora está diretamente relacionado com as capacidades que um indivíduo possui. Por exemplo, se uma pessoa tem uma boa capacidade de percepção espaço-temporal, ela terá um bom desempenho em tarefas como a prática de esportes coletivos. Dessa maneira, o desenvolvimento das capacidades perceptivo-motoras é de extrema importância para a realização de diferentes habilidades utilizadas no dia a dia, prática esportiva, ginástica, dança etc. Fleishman (1972) e Fleishman e Quintance (1984, citado por Magill, 2000), citam 11 capacidades perceptivo-motoras importantes para a execução de habilidades motoras e 9 capacidades de proficiência física. 1. Capacidades perceptivo-motoras: a. Coordenação de múltiplos membros; b. Precisão e controle; c. Orientação da resposta; d. Tempo de reação; e. Velocidade de movimento do braço; f. Controle do grau de velocidade; g. Destreza manual; h. Destreza dos dedos; i. Estabilidade da mãoe do braço; j. Rapidez de pulso e dedos; k. Pontaria. 2. Capacidades de proficiência física: a. Foça estática; b. Força dinâmica; c. Força explosiva; d. Força do tronco; e. Flexibilidade de extensão; f. Flexibilidade dinâmica; g. Coordenação geral do corpo; 12 h. Equilíbrio geral do corpo; i. Estamina. Com a identificação e medição dessas capacidades, é possível inferir que todas as pessoas possuem alguma capacidade e que as diferenças individuais devem ser levadas em consideração ao planejar e aplicar atividades para que a aprendizagem e a especialização de diferentes habilidades motoras ocorram com sucesso. 4.2.2 Capacidades motoras e desempenho motor As capacidades motoras de um indivíduo influenciam diretamente seu desempenho motor, pela facilidade em aprender, especializar e executar as habilidades motoras. Dessa maneira, Ackerman (1988, citado por Magill, 2000) afirma que há três categorias de capacidades que interferem no desempenho motor: Capacidade geral – são as capacidades cognitivas e de memória, para armazenamento de informações; Capacidade de velocidade perceptiva – são as capacidades associadas ao processamento de informação e tomada de decisão; Capacidade psicomotora – é a capacidade que o indivíduo tem de realizar as tarefas com maior controle e precisão. A identificação dos componentes de uma tarefa, assim como, as capacidades exigidas para a sua realização determinam a estratégia de ensino e treinamento para que o indivíduo tenha um melhor desempenho motor. TEMA 5 – EXEMPLOS INSTRUTIVOS PARA PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA Para que um indivíduo aprenda uma nova habilidade motora, vimos que ele necessita de informações intrínsecas e extrínsecas; além disso, a capacidade de aprender e aprimorar uma ação motora depende de características hereditárias e ambientais. O modo como a instrução é oferecida ao executor influencia a realização da tarefa; assim, existem várias maneiras de instruir. A seguir serão 13 apresentadas algumas formas de instrução utilizadas por profissionais que atuam na área da aprendizagem motora. 5.1 Demonstração A demonstração é uma das maneiras mais utilizadas para instruir um executante durante o processo de aprendizagem motora, indicando como o indivíduo deve realizar a ação motora. Um dos motivos pelo qual a demonstração é uma das formas de instrução mais comum é a influência do uso da informação visual para identificar as características mecânicas do padrão de movimento a ser desempenhado. Magill (2000) indica sete condições que os profissionais de educação física precisam levar em consideração para escolha da instrução. O que o executante deve observar da demonstração: em sua grande maioria, o executante busca identificar as informações sobre o padrão coordenativo do movimento (aspectos invariantes do movimento). Uma das técnicas para identificar esse padrão de observação é a técnica do ponto de luz, na qual o executor identifica padrões motores apenas pela distribuição dos pontos reflexivos colocados nas articulações de um indivíduo (Figura 7). Figura 7 – Representação dos pontos de luz (A) e imagem representativa da locomoção por meio da análise dos pontos de luz (B) (A) (B) Créditos: Maochill/Shutterstock; VRX/Shutterstock. Como exposto anteriormente, um indivíduo é capaz de identificar e utilizar as informações sobre os padrões motores por meio de pontos de luz inseridos nas articulações e assim utilizar essas informações para executar seus próprios movimentos. 14 Influência das características da habilidade: o tipo de habilidade aprendida influencia na eficiência da aprendizagem pela demonstração. A demonstração é mais eficaz quando a habilidade aprendida requer a aquisição de um novo padrão de coordenação motora. Demonstração desempenhada corretamente: uma das influências da demonstração na aprendizagem motora está relacionada com o fato da demonstração estar ou não correta em relação ao padrão motor específico do movimento a ser aprendido. Observação de demonstração realizada por não treinados: a utilização de modelos não treinados para demonstração de uma habilidade motora pode ser eficaz para iniciantes, que são desencorajados a copiar o movimento a ser executado e, assim, buscar a execução da tarefa da sua maneira. A frequência de demonstração de uma habilidade motora: a demonstração, para os iniciantes, sugere uma “ideia” de como realizar o movimento e, com isso, quanto mais vezes o aprendiz observar o demonstrador, mais informações ele vai obter sobre o movimento, podendo realizá-lo de forma mais eficiente. Modelo auditivo: outra maneira de instruir por meio da demonstração é utilizar a informação auditiva, em que o demonstrador descreve o movimento a ser realizado. Magill (2000) cita o estudo de Boody et al. (1985), em que se compara um grupo aprendiz que recebeu somente informações visuais, um grupo que recebeu apenas informações auditivas e um grupo controle, que foi apenas instruído quanto ao objetivo da habilidade motora em questão. Os resultados indicaram que o grupo que recebeu a instrução auditiva obteve melhores resultados de desempenho. Como a observação da demonstração influencia na aprendizagem motora: quando um indivíduo recebe uma instrução, pela técnica da demonstração, ele consegue traduzir as informações oferecidas sobre o movimento e as armazena na memória. Assim, quando for executar o movimento desejado, utiliza essas informações memorizadas. Assim, o processo de aprendizagem pela demonstração passa por quatro estágios, segundo Magill (2000). 15 1º. Processo de atenção: está relacionado com a atenção utilizada para obter informações sobre o movimento demonstrado. 2º. Processo de retenção: é o processo pelo qual o executante transforma em códigos simbólicos as informações recebidas sobre o movimento observado e o memoriza. 3º. Processo de reprodução do comportamento: utilização do que foi memorizado para realizar a ação motora pretendida. 4º. Processo de motivação: está relacionado com o incentivo para desempenhar as ações motoras de acordo com o que foi aprendido. Dessa maneira, a demonstração parece ser um método de instrução eficaz, principalmente para o iniciante, que necessita de um exemplo para a realização de novas habilidades motoras. 5.2 Pistas e instruções verbais As instruções verbais, assim como a demonstração, são um dos mais eficientes e comuns métodos de instrução para a realização de novas habilidades motoras ou correção de habilidades já desempenhadas. Magill (2000) indica três fatores que indicam a eficácia da instrução verbal. Instrução verbal e capacidade de atenção – para que a instrução verbal seja eficaz, o instrutor deve levar em consideração o limite atencional do executor. Assim, as instruções e pistas verbais devem ser curtas e precisas. Instruções verbais e as estratégias de obtenção da meta: as instruções verbais são capazes de direcionar a atenção do executor para a meta pretendida, contendo informações sobre velocidade, força, direção etc. Pistas verbais: são frases utilizadas para chamar a atenção do executante, as quais devem ser curtas e objetivas. As pistas verbais devem auxiliar os executores em relação às informações fornecidas pelos instrutores, para que a execução da ação motora seja eficiente e a aprendizagem se concretize. 16 5.3 Posição serial e a instrução A posição serial está relacionada a habilidades motoras que devem ser executadas de maneira seriada. Nesse tipo de habilidade motora, “os primeiros e últimos itens são lembrados com maior facilidade, sendo que os itens do meio são menos lembrados” (Magill, 2000, p. 196). Dessa forma, os aprendizes que recebem instruções sobre habilidades seriadas têm mais dificuldade em memorizar as informaçõessobre as ações motoras realizadas no meio da sequência da tarefa. Portanto, os instrutores devem enfatizar as instruções, a demonstração e chamar mais atenção para os segmentos motores do meio da sequência, de modo que as pessoas possam memorizar toda a sequência da habilidade motora desejada. Seja qual for o método de instrução, professores, técnicos e terapeutas devem escolher os métodos instrucionais de acordo com os objetivos e características do executante. NA PRÁTICA Diante dos conceitos expostos e exemplos oferecidos sobre os tipos de instrução que influenciam o processo de aprendizagem motora, cite os três métodos utilizados para instruir os indivíduos durante a realização de uma tarefa. Os três métodos de instrução apresentados do texto são: demonstração; pistas e instruções verbais; influência da posição serial. FINALIZANDO Nesta aula, foram abordadas as teorias que explicam os comandos de controle do movimento coordenado, seja enfatizando o Sistema Nervoso Central ou as informações oferecidas pelo ambiente. Ainda foram abordadas as diferenças individuais, as características do processo de controle postural e os meios pelos quais o profissional de Educação Física pode auxiliar no processo de aquisição e melhora do movimento coordenado, por meio de diferentes métodos instrucionais. 17 REFERÊNCIAS MAGILL. R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Bucher, 2000. PELLEGRINE, A. M. A aprendizagem de habilidades motoras: o que muda com a prática? Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, supl. 3, p. 29-34, 2000. SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M. H. Controle Motor: teorias e aplicações práticas. 2. ed. Barueri: Manole, 2003. WATKINS, J. Developmental biodynamics: the development of coordination. Jan. 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/figure/kicking-a-soccer- ball-hip-angle-knee-angle-diagrams-for-one-representative-novices_fig4_323573 799>. Acesso em: 11 mar. 2020.