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CONTROLE DA APRENDIZAGEM MOTORA AULA 4 Prof.ª Tatiane Calve 2 PERSPECTIVAS TEÓRICAS DA APRENDIZAGEM MOTORA A aprendizagem motora faz parte de um campo de investigação dentro da área de comportamento motor que estuda o processo de emergência, aquisição, aprendizagem, especialização e reabilitação de habilidades motoras. O processo de aprendizagem motora está associado a aquisição de novas habilidades motoras em diferentes contextos, como nas tarefas do dia a dia ou prática esportiva; além de auxiliar no processo de reabilitação da motricidade. A aprendizagem depende de prática e experiência na execução das tarefas. Com isso, a execução das tarefas se torna cada vez mais consistente e permanente. Para explicar como a aprendizagem das habilidades motoras ocorre, há diferentes teorias, as quais descrevem a maneira como o organismo adquire e memoriza diferentes habilidades motoras, de acordo com as diferenças individuais, do tipo de prática e experiências prévias. Atualmente, a aprendizagem motora é um campo do comportamento motor de grande importância para a área científica, que busca explicar o processo pelo qual o indivíduo adquire, especializa e reaprende diferentes habilidades motoras. CONVERSA INICIAL Nesta aula serão explicadas as definições de aprendizagem motora e desempenho motor, além de abordar as teorias que explicam o processo de aprendizagem motora. Cada autor explica como os aspectos ambientais e do organismo se integram para que o sistemas perceptual-motor seja utilizado de maneira eficaz no processo de aprendizagem motora. Ainda serão abordadas, nesta aula, as características das tomadas de decisões nas ações motoras e o processo de ensino e aprendizagem de habilidades motoras. 3 TEMA 1 – DEFINIÇÃO DE APRENDIZAGEM MOTORA E DESEMPENHO MOTOR Aprendizagem motora é conceituada como sendo um processo interno que resulta em alterações relativamente permanentes no comportamento motor (Magill, 2000), como consequência da prática ou de experiências anteriores, proporcionando melhora significativa no desempenho motor (Pellegrine, 2000). O aprendizado de habilidades motoras ocorre devido à capacidade de a memória armazenar informações por meio de repetição de movimentos em tarefas específicas. Com a repetição, o córtex cerebral memoriza as informações utilizadas para realizar determinadas habilidades, as quais vão se tornando mais acuradas e consistentes, possibilitando um desempenho cada vez mais eficaz. Dessa forma, com o decorrer da prática, o desempenho motor vai progredindo de impreciso para acurado, de lento para rápido e de inconsistente para automatizado. Durante o processo de ensino e aprendizagem de novas habilidades motoras, o iniciante passa por diferentes fases até que se torne habilidoso. Ugrinowitsch et al. (2013) cita as fases da aprendizagem motora propostas por Fitts e Posner (1967): Estágio cognitivo – é a primeira fase da aprendizagem e é de natureza cognitiva. Estágio associativo – nessa fase a pessoa aprende a associar algumas pistas ambientais com o movimento executado. Estágio autônomo – é o estágio final da aprendizagem. Nesse estágio há a automatização da habilidade. Para que o indivíduo se torne experiente em uma determinada habilidade esportiva, além do desenvolvimento do sistema neuromotor, das características perceptivo-motoras e a maturação das habilidades motoras, o processo de ensino e treinamento também influenciam na aprendizagem motora. A aprendizagem motora não se mede de forma direta, por se tratar de uma alteração neurológica. Então, para saber se houve ou não aprendizagem de uma nova habilidade motora, deve ser aplicado o teste de retenção, feito após um período sem prática da habilidade a ser testada. 4 Dependendo do desempenho do indivíduo é inferida a aprendizagem motora. Assim sendo, o desempenho motor é avaliado para identificar o quanto o indivíduo obteve de melhora na realização das habilidades motoras que estão sendo adquiridas, aprendidas, recuperadas ou especializadas. O desempenho motor pode ser medido quanto às caraterísticas quantitativas ou qualitativas da execução da tarefa. Assim, a medida de desempenho é dividida em duas categorias (Magill, 2000): Medida de resultado de desempenho – é uma medida quantitativa e indica o resultado do desempenho. Medida de produção de desempenho – é a medida qualitativa e proporciona informações sobre a ação do sistema nervoso, dos músculos e das articulações durante o movimento. No quadro abaixo são exemplificados os tipos de medidas de desempenho. Quadro 1 – Exemplos de medidas de resultado de desempenho e de produção de desempenho Medidas de resultado de desempenho Medidas de produção de desempenho Velocidade – tempo para completar uma resposta Medidas cinemáticas – deslocamento, velocidade, aceleração do movimento e ângulo articular Precisão – erros/acertos cometidos no desempenho de um movimento Medidas cinéticas – considerações sobre as forças no estudo do movimento (Torque, Eletromiografia - EMG e Eletroencefalograma - EEG) Magnitude da resposta – altura, distância, número de tentativas Latência da resposta – tempo de reação (TR) 5 Para que haja maior eficiência no processo de aprendizagem motora, a escolha do tipo de prática oferecido ao aprendiz é muito importante, pois a eficácia da prática está associada com as características de cada tipo de habilidade a ser ensinada/aprendida, possibilitando a capacidade de aperfeiçoar a habilidade, aumentar a consistência e desempenhar a habilidade com maior economia de esforço (Magill, 2000). Na aprendizagem da habilidade motora fechada (sem interferência externa), é necessário que o aprendiz busque automatização e maior consistência durante a sua realização. No entanto, para a aprendizagem da habilidade motora aberta (com interferência externa direta), o executante precisa não somente automatizar os movimentos, mas também diversificar sua aplicação em diferentes contextos, ampliando as possibilidades de uso da habilidade aprendida (Magill, 2000). Prática em blocos, prática aleatória e prática serial são alguns tipos de prática que podem ser oferecidos aos aprendizes e experientes. Com a escolha correta do tipo de prática, instruções corretas e treinamento, a aprendizagem motora e o desempenho motor se tornam mais eficientes. TEMA 2 – TEORIAS DA APRENDIZAGEM MOTORA Assim como exposto anteriormente, a aprendizagem motora é o processo interno de mudanças relativamente permanentes no comportamento motor (Magill, 2000), que ocorre pela prática e experiências prévias, proporcionando melhora significativa no desempenho na realização do movimento (Pellegrine, 2000). Devido à importância do processo de ensino e aprendizagem do movimento para realização de tarefas do dia a dia, prática esportiva (lazer/rendimento) e reabilitação motora, inúmeros são os estudos sobre os métodos de aprendizagem, tipos de prática e descrição de como ocorre o processo de aprendizagem de uma habilidade motora. As teorias da aprendizagem motora buscam explicar como o organismo utiliza informações sensoriais para que haja programação e controle do movimento. Assim, cada uma em sua linha de interpretação, explicam o processo de aprendizagem dos movimentos. 6 2.1 Teoria motora As teorias motoras têm por objetivo explicar como o sistema nervoso controla e armazena as informações sobre os movimentos realizados, criando, assim, a memória motora. Entre as teorias motoras, iremos abordar aqui a Teoria do circuito fechado de Adams, Teoria do circuito aberto de Keele e Teoria dos esquemas de Schimidt, as quais focam no papel do feedback e programação motora para armazenamento de informações e controle do movimento coordenado,e tiveram repercussão na década de 1970, ficando conhecidas como “debate centralista- periferalista” (Tani et al., 2004). 2.1.1 Teoria do circuito fechado de Adams A Teoria do circuito fechado de Adams foi descrita em 1971, e é considerada uma teoria periferalista, pois os comandos para formulação da ação motora são realizados com base em informações sensoriais, as quais são comparadas com uma referência previamente armazenada na memória, possibilitando correções no movimento caso sejam necessários (Tani et al., 2004). Na teoria do circuito fechado, o uso da memória para comparação com as informações sensoriais utilizadas no momento da execução da ação motora é fundamental. Assim, os dois tipos de memória utilizadas no circuito fechado são: Traço de memória – é a memória utilizada na seleção do movimento. Traço perceptivo – é a informação utilizada durante a prática como referência interna para o controle do movimento. Nessa teoria, o feedback tem papel crucial, pois é por meio dele que o sistema nervoso faz a comparação entre as informações sensoriais que serão utilizadas na execução do movimento e as informações já armazenadas na memória. Com isso, há a possibilidade de ajustar os comandos para que o movimento ocorra com maior coordenação. 7 2.1.2 Teoria do circuito aberto de Keele Keele, em 1968, propôs a teoria do circuito aberto, na qual o feedback não possui papel importante, pois, para esse pesquisador, o controle do movimento ocorre por um programa motor em nível central (Tani et al., 2004). Segundo essa teoria, quando o sistema nervoso central é acionado para a realização de um movimento, o programa motor especifica a sequência e o timing do movimento a ser executado, ou seja, um conjunto de instruções são enviadas aos músculos para que uma sequência de movimento seja executada sem que haja a necessidade do uso de informações sensoriais como referência para a modulação e controle do movimento. Para Keele, a teoria do circuito aberto explica como ocorre o movimento balístico, no qual não há tempo para que o feedback seja usado. Além disso, como o feedback não é processado durante a execução do movimento, a atenção também não precisa ser utilizada para correções do movimento. 2.1.3 Teoria do esquema de Schimidt Em 1975, Schimidt propõe a teoria do esquema, na qual o autor explica que, dependendo do tipo de atividade, o controle do movimento será realizado de uma maneira diferente, absorvendo as duas teorias anteriores (Tani et al., 2004). Nessa teoria, é explicado que, para a execução de movimentos balísticos, o controle do movimento ocorre sem o uso de feedback – sistema de circuito aberto – e movimentos lentos, em que há necessidade de maior controle e coordenação, que seriam controlados por um sistema de circuito fechado, com uso de feedback. Nas figuras abaixo são esquematizados o uso do feedback para a retroalimentação do circuito fechado e a realização do movimento no sistema de circuito aberto, sem uso de feedback. 8 Figura 1 – Diagrama ilustrativo do sistema de circuito fechado Figura 2 – Diagrama ilustrativo do sistema de Circuito Aberto 2.2 Teoria da ação A teoria da ação explica a aprendizagem motora pela importância das informações providas do ambiente e a interação dessas informações com o organismo. Duas abordagens importantes dentro da teoria da ação são a abordagem dos sistemas dinâmicos e a abordagem ecológica da ação e percepção, as quais serão descritas a seguir. 2.2.1 Abordagem dos sistemas dinâmicos A abordagem dos sistemas dinâmicos surge em meados da década de 1980, para indagar as questões não respondidas pelas teorias do processamento de informação, em que o foco central era a programação do movimento pelo sistema nervoso central. A teoria da abordagem dos sistemas dinâmicos é embasada na relação entre diferentes áreas de conhecimento, como física, biologia, química e matemática (Magill, 2000). Os pesquisadores que defendem essa teoria explicam que o controle do movimento humano é complexo, variando de acordo com as condições do indivíduo, ambiente ou especificidade da tarefa realizada (Magill, 2000). COMANDOS DO MOVIMENTO CENTRO DE CONTROLE DO MOVIMENTO EXECUTORES DO MOVIMENTO FEEDBACK COMANDOS DO MOVIMENTO CENTRO DE CONTROLE DO MOVIMENTO EXECUTORES DO MOVIMENTO 9 Dessa maneira, para que a aprendizagem ocorra, o organismo passa de um estado de instabilidade para um estado de estabilidade (atrator) do sistema, ou seja, no início do processo de aprendizagem, o aprendiz comete “erros” na execução do movimento, e com o passar do tempo e treinamento, esses “erros” são minimizados, até que haja automatização do movimento. Abaixo, é apresentado um esquema exemplificando o processo de estabilidade do organismo na aprendizagem motora pela visão da teoria dos sistemas dinâmicos. Figura 3 – Esquema de atratores, na abordagem dos sistemas dinâmicos 2.2.1 Abordagem ecológica da ação e percepção Uma abordagem mais recente, da década de 1980, é a abordagem ecológica da ação e percepção de Gibson, que explica a aprendizagem motora com base na relação entre o executante e o meio no qual o processo de aprendizagem ocorre. A teoria exposta por Gibson, afirma que a percepção dos significados das funções do organismo, dos objetos e do meio como um todo possibilita interpretar o contexto e, com base nele, realizar as ações motoras (Canfield, 2000). Os significados percebidos são denominados de affordance: a relação direta entre a percepção de tudo de nos rodeia e a ação a ser realizada com base nessa percepção (Canfield, 2000). Por exemplo, quando vemos (percebemos) uma cadeira, a ação que nos vem a cabeça é sentar, ou seja, a tomada de decisão para a realização de uma determinada tarefa depende de todas as informações presentes no ambiente e do “convite” que essas informações nos levam a decidir sobre a ação a ser realizada. 10 TEMA 3 – CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE HABILIDADES Ao longo da vida de um ser humano, há transformação e ampliação da bagagem motora. As alterações ocorridas no repertório motor “ocorrem no número, na complexidade e na qualidade de execução das ações motoras” (Barela, 1999, p. 53). As mudanças que ocorrem no comportamento motor de um indivíduo, ao longo da vida, são contínuas; entretanto, são caracterizadas por fases e são influenciadas dor fatores ambientais e hereditários, assim como apresentado na figura da Ampulheta, abaixo: Figura 4 – Representação das fases e estágios do desenvolvimento motor ao longo da vida – ampulheta Fonte: Gallahue e Ozmun (2005). Segundo Gallahue e Ozmun (2005) o processo de aquisição e refinamento das habilidades motoras pode ser dividido por fases e estágios, os quais dependem da maturação do organismo e estímulos ambientais, os quais serão abordados, de forma sucinta, a seguir. 11 3.1 Movimento reflexo Como podemos observar na ampulheta, a fase motora reflexa é a base do desenvolvimento motor, e é caracterizada por movimentos involuntários e respostas automáticas (Gallahue; Ozmun, 2005). Nessa fase, a decisão sobre o movimento ocorre na medula, e não em nível cortical e tem por objetivo colher informações do ambiente, buscar alimento e se proteger. A fase reflexa é dividida em dois estágios (Gallahue; Ozmun, 2005): 1. Estágio de codificação das informações – estágio caracterizado por movimentos involuntários. Nesse estágio, o reflexo é utilizado pelo bebê para colher informações, buscar alimento e se proteger través do movimento. 2. Estágio de decodificação de informações – estágio de inibição gradual de muitos reflexos e desenvolvimento dos centros cerebrais superiores. Os centros inferiores gradualmente abandonam o controle dos movimentos, os quais passam a ser controlados pela área motorado córtex cerebral. Gallahue e Ozmun (2005) dividem os movimentos reflexos em: Reflexos primitivos de sobrevivência, utilizados para buscar alimento do ambiente e proteção do bebê. Reflexos posturais, movimentos precursores dos movimentos utilizados para no equilíbrio corporal e na locomoção. 3.2 Habilidades motoras rudimentares As habilidades motoras rudimentares são caracterizadas por movimentos imprecisos e de pouco controle (Gallahue; Ozmun, 2005). Nessa fase, a criança passa por dois estágios distintos, sendo eles estágio de inibição dos reflexos e estágio de pré-controle. As habilidades motoras rudimentares são dividias em estabilizadoras (controle da cabeça, do tronco, sentar e ficar em pé), locomotoras (movimentos horizontais e postura ereta) e controle de objetos (alcançar, agarrar e soltar) (Gallahue; Ozmun, 2005). 12 3.3 Habilidades motoras fundamentais As habilidades motoras fundamentais são a base para a realização das tarefas diárias e também serão utilizadas para a aprendizagem dos gestos esportivos, futuramente. As habilidades motoras fundamentais são divididas em estabilizadores, locomotoras e de controle de objetos. Gallahue e Ozmun (2005) dividem as habilidades motoras fundamentais em três estágios de padrões motoras, sendo eles: Estágio inicial – de 2 a 3 anos de idade. Estágio elementar – de 4 a 5 anos de idade. Estágio maduro – de 6 a 7 anos de idade. 3.4 Habilidades motoras especializadas As habilidades motoras especializadas são caracterizadas pela combinação de duas ou mais habilidades motoras fundamentais, que são refinadas para a realização de tarefas mais complexas da vida diária ou habilidades específicas dos esportes, ginástica ou dança (Gallahue; Ozmun, 2005). Gallahue e Ozmun (2005) dividem essa fase em três estágios de aquisição: Estágio transitório – de 7 a 10 anos de idade. Estágio de aplicação – de 11 a 13 anos de idade. Estágio de utilização permanente – de 14 anos acima. Como exposto acima, a aquisição e refinamento das habilidades motoras dependem da maturação dos sistemas neurológico, anatômico e fisiológico (Magill, 2000), e a velocidade com que a emergência e ampliação do repertório motor ocorrem de depende das características ambientais e hereditárias. TEMA 4 – PROCESSO DE APRENDIZAGEM E CONSTRUÇÃO DO PANORAMA PERCEPTUAL-MOTOR O desenvolvimento perceptivo-motor permite ao indivíduo receber, organizar, integrar e aprender o significado das informações e formular as respostas apropriadas a cada estímulo recebido. Para isso, são utilizados os 13 canais sensoriais exteroceptivos e intraceptivos, assim como a cognição, para interpretação das informações e sua aprendizagem do movimento voluntário. As percepções são divididas em percepção visual, auditiva, propriocepção, percepção tátil e percepção háptica. A percepção visual utiliza a modalidade visual para recepção das informações externar ao organismo, e é dividida em: Fixação e acompanhamento – percepção de objetos estáticos (fixação) e de objetos em movimento (acompanhamento). Percepção de forma – distinção de formas. Percepção de profundidade – julgamento da distância de um objeto, tendo como ponto de partida a si mesmo. Percepção figura-fundo – distinção de uma figura do seu fundo. Percepção espacial – percepção de objetos no espaço ou de si mesmo no espaço. Coordenação vasomotora – coordenação da visão com os movimentos do corpo. A percepção auditiva utiliza a modalidade auditiva para recepção das informações externar ao organismo, e é dividida em: Percepção figura-fundo auditiva – atenção e distinção entre sons. Discriminação auditiva – distinção entre frequências e amplitudes de som. Localização de sons – origem do som. Coordenação auditivo-motora – é a capacidade de coordenar estímulos sonoros com movimentos do corpo. A propriocepção compreende as capacidades perceptivo-motoras que reagem a estímulos sugeridos dentro do organismo, como estímulos sensoriais que provêm de músculos, tendões e receptores do sentido vestibular. A percepção tátil é a interpretação das sensações das superfícies cutâneas do corpo. A percepção háptica é a união entre cinestesia e tato com forma de exploração do ambiente. 14 4.1 Consciências sobre o corpo e o ambiente Durante a vida, as pessoas adquirem experiência (aprendem) para utilizar as informações providas do ambiente e do próprio corpo para elaborar e realizar movimentos mais refinados. Dessa maneira, Gallahue e Ozmun (2005), classificam as consciências em: Consciência corporal – é um conceito fundamentado em sensações dos limites do corpo, identificação das partes do corpo, planejamento e execução de movimentos, e conhecimento de onde o corpo está no espaço. Consciência direcional – evolui da incorporação de conceitos concomitantes aos gestos que vão de um ponto para outro no espaço. Consciência espacial – envolve a percepção do tamanho e alinhamento das partes do corpo em relação a uma disposição de objetos no espaço. Consciência temporal – envolve eventos que iniciam e terminam numa sequência rítmica ou monotônica que mantém uma relação entre as pausas. Pode envolver a memória a curto prazo. O processo de aprendizagem motora permite ao indivíduo obter consciência de corpo, tempo e espaço, estando, assim, preparado para realizar atividades da vida diária com mais destreza e menos gasto de energia, além de iniciar a prática de esportes, refinando os gestos técnicos de cada modalidade esportiva. TEMA 5 – TOMADA DE DECISÃO NAS AÇÕES E RESPOSTAS MOTORAS Como vimos anteriormente, a tomada de decisão sobre a realização de uma determinada ação motora depende as informações que o executante recebe do próprio organismo e do ambiente onde a tarefa será realizada. A realização de qualquer ação motora exige preparação, isto é, adequar o sistema neuromotor para controlar o movimento desejado. Essa preparação é feita pelo organismo momentos antes do início da ação motora. Para decidir como uma tarefa será executada, a tomada de decisão sobre como o movimento será planejado e executado depende das características da própria tarefa, do executante e do ambiente. 15 As informações e a experiência do executante sobre a habilidade e o contexto onde ela será executada influenciam sobre a tomada de decisão. A tomada de decisão é influenciada por alguns fatores, como: Estado de ânimo Experiência motora Estresse físico e mental Disposição física Para que a resposta motora seja satisfatória, a tomada de decisão sobre sua realização é determinada pela relação entre a percepção, a atenção e a preparação do movimento. O movimento voluntário não ocorre de maneira instantânea; assim, para que uma ação motora seja realizada com desempenho satisfatório, é necessário que haja preparação antes do início do movimento (Magill, 2000). Dependendo do tipo de tarefa a ser executado, o executante deverá ter maior ou menor período de preparação. A seguir serão descritas algumas características que influenciam na preparação do movimento e tomada de decisão para a resposta motora, propostas por Magill (2000). 5.1 Características da tarefa e do contexto que influenciam na preparação do movimento Os tipos de tarefa motora e os contextos em que essas tarefas são executadas interferem na preparação e na tomada de decisão sobre a ação motora a ser realizada. Número de opções de resposta – quando o número de alternativas de respostas aumenta, o tempo para preparação do movimento também aumenta. A previsibilidade da opção de resposta correta – se, entre as possibilidades de resposta, uma delas for mais previsível, o tempo para preparação para o movimento será menor. A probabilidade de a pista prévia estar correta – a probabilidade de respostaestar certa ou errada dificulta a tomada de decisão, aumentando o tempo para a preparação para a ação. 16 Compatibilidade estímulo-resposta – quando a compatibilidade do estímulo-resposta for baixa, haverá aumento do tempo de preparação do movimento e vice-versa. Regularidade do período prévio – quando uma resposta detecta um sinal prévio, indicando que, em breve, será informado o sinal para realização da tarefa, o tempo de preparação diminui. Complexidade do movimento – dependendo do número de componentes (graus de liberdade) envolvidos na realização da tarefa, o tempo de preparação também se altera, ou seja, quando mais complexo o movimento, maior será o tempo de preparação. Precisão do movimento – quanto maior a precisão exigida em uma ação motora, maior o tempo de preparação para a sua execução. Repetição de um movimento – quando uma mesma tarefa é realizada mais de uma vez, as tentativas que sucedem a primeira exigirão menor tempo de preparação. Tempo entre diferentes respostas a diferentes sinais – se a tarefa exigir do executante que ele desempenhe uma ação como resposta a um sinal e, logo após, tenha que responder a outro sinal para realização de uma outra ação, o tempo de preparação será maior. 5.2 Características do executante que influenciam na preparação do movimento Os tipos de tarefa motora e os contextos em que essas tarefas são executadas interferem na preparação e na tomada de decisão sobre a ação motora a ser realizada. Prontidão do executante – o tempo de preparação e o desempenho do executante na ação depende de sua prontidão e atenção. Prestar atenção no sinal versus movimento – o quanto de atenção é despendido antes da realização da tarefa interfere no tempo de preparação, ou seja, quanto maior o estado atencional do executante, menor o tempo de preparação do movimento é exigido. Prática – o tempo de preparação é diminuído quando o executante possui tempo de prática na tarefa que será executada. 17 NA PRÁTICA Diante dos conceitos expostos e exemplos oferecidos sobre o processo de coordenação e aprendizagem motora, cite as teorias motoras abordadas nessa aula. Teoria motora Teoria do circuito fechado de Adams Teoria do circuito aberto de Keele Teoria do esquema de Schimidt Abordagem dos sistemas dinâmicos Abordagem ecológica da ação e percepção FINALIZANDO Nesta aula foram abordadas as principais teorias da aprendizagem motora, entre elas a Teoria motora e a Teoria da ação, as quais se diferenciam pela importância do uso do sistema nervoso central e informações do ambiente. Foram descritos, também, como os aspectos ambientais e do organismo se integram para que os sistemas perceptual-motor seja utilizado de maneira eficaz no processo de aprendizagem motora. Ainda, como as características da tarefa e do executante influenciam nas tomadas de decisões nas ações motoras. 18 REFERÊNCIAS BARELA, J. A. Aquisição de habilidades motoras: do inexperiente ao habilidoso. Motriz, v. 5, n. 1, 1999, p. 53 - 57. CANFIELD, J. T. Aprendizagem de habilidades motoras II: o que muda com a prática? Rev. Paul. Educ. Fís., s. 3, 2000, p.72-78. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebes, crianças e adultos. São Paulo: Phorte, 2005. PELLEGRINE, A. M. A aprendizagem de habilidades motoras: o que muda com a prática? Rev. Paul. Educ. Fís., s. 3, 2000, p.29-34. MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Blucher, 2000. TANI, G. et al. Aprendizagem motora: tendências, perspectivas e aplicações. Rev. Paul. Educ. Fís., v. 18, 2004, p.55-72.
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