Buscar

Lesoes Corporais - Materia e Questoes

Prévia do material em texto

FACULDADE DE ANICUNS
CURSO DE DIREITO - Disciplina: Direito Penal III - 5º Per. PROFª. Cláudia Pimenta Leal
DAS LESÕES CORPORAIS
Conceito – é a ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem, isto é, o dano ocasionado à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental.
Autolesão – Não se pune no direito brasileiro a não ser que a autolesão sirva de meio para cometer outro crime. Ex.: comete crime de estelionato quem “lesa o próprio corpo, com o intuito de haver indenização de seguro” (art. 171, § 2º, V, CP ).
Lesões Leves
	Art. 129 – Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano.
	O CP não fala qual lesão é leve, mas sim a que é grave ou gravíssima. Por isso, sabe-se que uma lesão corporal tem natureza leve por exclusão.
	A objetividade jurídica desse crime é a proteção do direito à integridade corporal ou à saúde do ser humano.
	Ofensa à integridade física – abrange qualquer alteração anatômica prejudicial ao corpo humano. Ex.: fraturas, cortes, escoriações, queimaduras, etc.
	Equimose constitui lesão. Trata-se da rouxidão decorrente do rompimento de pequenos vasos sanguíneos sob a pele ou sob as mucosas.
	Hematomas também são considerados lesões. É uma espécie de equimose com inchaço.
	A simples dor não constitui lesão.
 * O corte de cabelo sem autorização da vítima pode constituir lesão. Dependendo dos motivos será crime de lesão corporal ou injúria real (caso haja intenção de envergonhar a vítima).
	Ofensa à saúde – abrange a provocação de perturbações fisiológicas (vômitos, paralisia corporal momentânea, transmissão intencional de doenças, etc) ou psicológicas.
Sujeitos do crime - Pode praticar o crime qualquer pessoa, trata-se de crime comum. Assim, tanto o sujeito ativo, quanto o passivo, podem ser qualquer pessoa.
 Elemento subjetivo – o dolo, vontade consciente de lesionar a vítima, chamado de animus laedendi . É válido ressaltar que, o dolo tem grande importância para diferenciar o homicídio tentado do crime de lesão corporal.
Consumação – No momento em que ocorre a ofensa à integridade física ou corporal da vítima.
	A prova da lesão é feita mediante o exame de corpo de delito (laudo pericial – art. 158 CPP). Excepcionalmente, se os vestígios da lesão corporal houverem desaparecido, o exame de corpo de delito poderá ser suprido pela prova testemunhal (art. 167 CPP).
Tentativa - admite-se a tentativa de lesão corporal, que ocorre quando o sujeito, embora empregando meio executivo capaz de causar o dano à incolumidade corporal da vítima, por circunstâncias alheias à sua vontade não consegue a consecução de seu fim.
	Damásio de Jesus cita o exemplo do agente que, desejando amputar a perna da vítima, desfere-lhe um golpe de machado, fere-a, mas não consegue realizar seu intento por intervenção de outras pessoas. Há nesse caso, tentativa de lesão corporal gravíssima e não leve.
	* O crime de lesão corporal leve é de menor potencial ofensivo.
LESÕES GRAVES (art. 129, § 1º)
	É no § 1º do art. 129 que estão descritos os resultados graves, e a pena em todos os casos, é de reclusão de 1 a 5 anos.
	Haverá lesão corporal grave quando a conduta ofensiva do agente produzir um dos seguintes resultados:
	I – Se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias – é a hipótese em que a vítima fica impossibilitada de exercitar suas ocupações por mais de 30 dias. Essas ocupações não se referem somente ao trabalho, mas ao lazer e outras atividades lícitas, não sendo necessária que a ocupação seja lucrativa. É necessário a realização de laudo pericial complementar, tão logo transcorra o prazo de 30 dias, para verificar a incapacidade.
	II – Se resulta perigo de vida - embora todas as lesões corporais possam apresentar potencialmente, complicações que ameacem a vida da vítima (ex.:infecções, cirurgia em órgão vital, transfusão imediata de sangue para evitar a morte, etc.), a lei nesse caso, refere-se ao perigo em concreto, o qual deve ser demonstrado através de perícia médica devidamente fundamentada, devendo ficar constatada a probabilidade de morte da vítima, pois, se o agente deseja a morte ou assume o risco de produzi-la, há crime de homicídio tentado.
	III – Se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função – debilidade é a diminuição, o enfraquecimento de membro, sentido ou função, consistindo na diminuição da capacidade funcional de cada um, de forma duradoura, não sendo necessário que seja perpétua.
	Membros são os apêndices do corpo – braços, pernas, mãos, antebraço, coxas e pés. A perda de parte dos movimentos do braço é um exemplo é um exemplo de lesão grave.
	Sentidos são os mecanismos sensoriais através dos quais percebemos o mundo exterior. O ser humano possui cinco sentidos: audição, visão, olfato, tato e paladar. A perda parcial da visão, em um dos olhos, é debilidade permanente. Note-se que nos órgãos duplos (olhos, ouvidos, rins, etc.), a inutilização de apenas um caracteriza lesão corporal grave por debilidade permanente, e não lesão gravíssima por inutilização.
* cirurgias reparadoras, ou a utilização de próteses ou disfarces, ou qualquer outro mecanismo, não descaracterizam a qualificadora, pois o que importa é o resultado causado pela conduta do agente.
	Função é a atividade de um órgão ou aparelho do corpo humano (função respiratória, digestiva, reprodutora, etc.).
	III – Se resulta aceleração de parto – o que exige, em verdade, é uma antecipação de parto, ou seja, um nascimento prematuro.
	Só é aplicável quando o feto nasce com vida, pois quando ocorre aborto, o agente responde por lesão gravíssima.
	Se o agente desconhece o estado de gravidez, responde por lesões leves.
* Se em razão da aceleração de parto o feto nascer vivo e morrer, haverá concurso formal de crimes. Lesão corporal grave contra a mãe, pela aceleração do parto e lesão corporal seguida de morte contra o recém-nascido.
Obs.: A Lei n. 9.434/97 admite a doação de órgão de pessoa viva, desde que o doador seja maior de idade e capaz, além da doação ser obrigatoriamente gratuita. Ressalta-se ainda que, só será possível se houver autorização do doador e caso haja possibilidade de graves prejuízos para a saúde. O desrespeito a essas regras caracteriza crime previsto no art. 14 da Lei n. 9.434/97, que, aliás, possui qualificadoras idênticas às estabelecidas no Código Penal para a configuração das lesões graves ou seguidas de morte.
LESÕES GRAVÍSSIMAS (art. 129 §2º)
	Estão previstas no art. 129 §2º CP, cuja pena é de reclusão de 2 a 8 anos.
	São aquelas onde as consequências da conduta apresentam maior relevância jurídica e dela resultam:
	I – Se resulta incapacidade permanente para o trabalho – esta qualificadora não se refere a ocupações habituais, mas a atividade profissional remunerada, relacionado ao sustento, ganho financeiro.
	II – Se resulta enfermidade incurável – é a alteração permanente da saúde por processo patológico, a transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estágio atual da medicina. A enfermidade também é considerada incurável se a cura somente é possível através de cirurgia, posto que ninguém é obrigado a se submeter a processo cirúrgico.
	A transmissão da AIDS, por coito ou transfusão, enquanto não ocorre a morte da vítima, é crime de lesão corporal gravíssima (se transmitir a doença e a vítima vier a morrer, haverá homicídio doloso).
	III – Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função – a perda se dá por amputação (retirada por meio cirúrgico em consequência da lesão provocada pelo agente) ou mutilação (retirada pelo próprio agente através de sua conduta, p. ex., arrancar a mão com um machado). Em ambos os casos haverá a lesão gravíssima. A perda pode ser de um membro (corte de uma perna), sentido (retirada dos globos oculares), ou função (destruição da bolsa escrotal, o que impede a reprodução).
	A inutilização diferencia-se da perda. Inutilizar é tornar imprestável, danificar.Nada é retirado do corpo da vítima, embora desapareça sua atividade precípua. Por exemplo: o braço não é amputado, mas perde totalmente o movimento.
	Ocorre a mutilação no momento da ação delituosa, e é provocada diretamente pelo agente que, por exemplo, se utiliza de serra elétrica, machado, etc., para extirpar parte do corpo da vítima.
	A amputação apresenta-se na intervenção cirúrgica imposta pela necessidade de salvar a vida da vítima ou impedir consequências mais graves. 
Observações:
	1 – a perda de parte do movimento do braço é lesão grave pela debilidade do membro. A perda de todo o movimento é lesão gravíssima pela inutilização. A perda de um dedo caracteriza lesão grave, enquanto a perda de uma mão tipifica inutilização do membro (lesão gravíssima). Por fim, a perda de todo o braço constitui lesão gravíssima pela perda de membro.
	2 – a extirpação do pênis caracteriza lesão gravíssima em face da perda da função reprodutora e, também, pela deformidade permanente.
	3 – a provocação de cegueira em um só olho ou surdez em um só ouvido caracteriza mera debilidade do sentido. É que, por se tratar de sentido que se opera através de 2 órgãos, a lesão gravíssima pela sua perda somente ocorrerá quando ambos forem atingidos, pois só assim a vítima se torna efetivamente surda ou cega.
	4 – se o laudo de exame de corpo de delito apontar que a vítima sofreu uma lesão corporal grave e outra gravíssima, responderá o agressor apenas por lesão gravíssima.
	5 – a correção através de meios ortopédicos ou próteses, não exclui a caracterização. Já o reimplante efetuado com total êxito implicará a desclassificação do delito.
	IV – Se resulta deformidade permanente - para ocorrência desta qualificadora é necessário que a lesão corporal seja permanente, tenha prejuízo estético visível e capacidade de causar impressão vexatória. Ex.: cicatrizes extensas, perda das orelhas, queimadura por vitriolagem (lançamento de ácido na vítima), etc. o dano estético na ocorre apenas no rosto, pode apresentar-se em outras regiões do corpo, mas deve ter dimensão apta a causar vexame no ofendido.
· A vítima não fica obrigada a submeter-se a intervenção cirúrgica, mas se o fizer com sucesso, fica afastada a qualificadora.
	V – Se resulta aborto – O aborto, nesse caso, advém da culpa do agente, é o denominado crime preterdoloso (o agente quer agredir a vítima e não quer causar o aborto, mas o provoca de maneira culposa).
	Se o autor desejava o aborto ou assumiu o risco de produzi-lo, responde pelo crime de aborto em concurso com lesões corporais.
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE (art. 129 § 3º)
	Art. 129 §3º - se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: pena – reclusão, de 4 a 12 anos.
	Ocorre quando as lesões corporais provocadas pelo agente resultam em morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis este resultado nem assumiu o risco de produzi-lo. É necessário que haja nexo de causalidade entre o resultado morte e as lesões sofridas, assim como a existência de culpa relativa à morte.
	Trata-se de crime exclusivamente preterdoloso em que o agente quer apenas lesionar a vítima e acaba provocando sua morte de forma não intencional, mas culposa.
* Se no caso concreto se demonstrar a vontade do agente no resultado morte, o crime é de homicídio e não de lesão seguida de morte.
* Se a forma de agressão demonstra que o agente assumiu o risco de provocar a morte deve ser reconhecido o homicídio (com dolo eventual) e não as lesões corporais seguidas de morte. É o que ocorre, por exemplo, quando várias pessoas atiram gasolina sobre alguém, provocando sua morte. No caso houve homicídio doloso por dolo eventual.
Tentativa. Os crimes preterdolosos não admitem tentativa. Preterdolo é a soma do dolo na conduta antecedente com a culpa no resultado consequente.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
	Trata-se de uma espécie de lesão corporal. Doméstico vem do latim dosmesticus, que se refere a domus (casa), ensejando o entendimento de que o crime acontece no âmbito da família.
	A Lei 10.886/04 criou um tipo especial denominado “violência doméstica”, estabelecendo penalidade ao art. 129, § 9º. “se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou hospitalidade”.
	O crime pode ocorrer em situações e formas distintas:
1) Em razão de parentesco ou convivência familiar: o tipo fala primeiro em ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro. Assim, se a vítima reside com o agente, o delito estará caracterizado. Entende-se que é suficiente a constatação de relação doméstica ou familiar para a ocorrência do crime. Ex.: casamento moderno – marido e mulher morando em casas separadas, que, com certa freqüência visitam-se. Nesse caso, o caso se caracterizará se houver a prática de lesão corporal contra um dos cônjuges.
	Por outro lado, a expressão “com quem conviva ou tenha convivido” enseja a aplicação da Lei de Violência Doméstica, logo, a convivência, desde que seja doméstica, fará incidir o tipo previsto na lei. Ex.: lesão praticada em alguém que mora com amigos em uma república.
2) Prevalecendo-se o n das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: aqui, o agente aproveita da hospitalidade para a prática do crime.
Objeto jurídico – a lei protege, além da integridade física e psíquica da vítima, a harmonia familiar.
Pena – a pena é de detenção, de 3 meses a 3 anos.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
 	A Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) deu tratamento diferenciado aos casos de violência doméstica e familiar, considerando como tal, qualquer ação ou omissão, baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, seja no âmbito da unidade doméstica (espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas), seja no âmbito da família (comunidade formada por pessoas que são ou se consideram aparentadas, unidas por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa) ou ainda em qualquer relação íntima de afeto, na qual haja convivência entre o agressor e a agredida independentemente de coabitação.
· As relações pessoais enunciadas nesta lei independem de orientação sexual, e tal forma de violência constitui uma das formas de violação dos Direitos Humanos.
· A Lei 11.340/06 proibiu a aplicação da lei 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como vedou a aplicação, nesses casos, de penas de cesta básica e outras de prestação pecuniária, ou substituição de pena de multa.
· A ação penal é pública condicionada a representação do ofendido, dado que, neste crime, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Sanção – a pena é de 3 meses a 3 anos e será aumentada de 1/3 se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.
	Felizmente, a lei 11.340/06, introduziu várias modificações dentro do ordenamento jurídico brasileiro, criando mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. E nos faz pensar que dias melhores virão. Vejamos algumas das principais modificações introduzidas:
· Garantia de proteção policial para a mulher agredida, quando necessário, podendo tal determinação advir de comando da própria autoridade policial
· Acompanhamento policial para a ofendida até sua moradia, onde ela poderá retirar seus pertences do local da ocorrência.
· Aumento de 3 anos de detenção da pena máxima prevista para o delito. Dessa forma, o crime de lesão corporal praticado contra a mulher sai da esfera de competência do juizado especial criminal, não sendo cabível a aplicação dos institutos da transação penal e da composição cível dos danos.
· Com o aumento da pena, a prisão emflagrante pode ser mantida, ou seja, o agressor e agredida não retornam para o mesmo teto.
· Fica vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária.
· Em qualquer fase do inquérito policial, ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor
· A ofendida será notificada dos atos processuais que envolvam a liberdade/prisão do agressor, para evitar “surpresas desagradáveis” quando da liberdade do agressor.
· Medidas provisórias de urgência poderão ser tomadas pelo juiz criminal, tais como: afastamento do agressor do lar; proibição de aproximação do agressor da ofendida, de seus familiares e testemunhas; proibição da realização de contatos do agressor com a ofendida, por qualquer meios de comunicação; suspensão ou restrição de porte de armas.
· O juiz poderá determinar a manutenção do vínculo trabalhista, quando for necessário o afastamento da mulher do local de trabalho, por até 6 meses.
· A violência contra a mulher é circunstância que agrava (aumenta a pena) de qualquer crime previsto no ordenamento jurídico brasileiro.
QUESTÕES
Após leitura e estudo do material acima, responda:
ENVIAR AS QUESTÓES PARA O E-MAIL: professoraclaudia1@bol.com.br
1) As lesões corporais graves ou gravíssimas admitem tentativa? Justifique
2) As lesões esportivas configuram o delito de lesão corporal? Justifique sua resposta
3) A perda de um olho, por completo, caracteriza que tipo de lesão?
4) A Cessação da incapacidade para as ocupações habituais está necessariamente vinculada à cura completa da lesão corporal?
5) Comente o tratamento penal conferido à lesão corporal culposa relacionada à direção de veículo automotor
6) Em que situações aplicar-se á a conduta prevista no artigo 129, parágrafo 9º do Código Penal?
7) É possível aplicar a Lei Maria da Penha a Lésbicas, Travestis e transexuais? Justifique

Continue navegando