Buscar

DA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS

Prévia do material em texto

DA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS 
Preliminarmente, anota-se que os artigos 513 a 519 do Código de Processo Civil disciplinam as disposições gerais que devem ser aplicadas nos incidentes de cumprimento de sentença ou de decisão, tais qual o modo de intimação do devedor, as espécies de títulos executivos judiciais e a competência do juízo, entre outras.
Quanto à competência, restou disposto no artigo 516, inciso II, do Código de Processo Civil que o cumprimento de obrigação de alimentos se dará no juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição ou no juízo do atual domicílio do credor, de acordo com o artigo 528, parágrafo 9º do referido código.
Especificamente, a execução da obrigação de alimentos, provisória ou legitima, se dará, na forma do artigo 528 do CPC, em fase de cumprimento de sentença quando se tratar de título judicial. Abrem-se aí duas possibilidades: a) seguimento pelo procedimento que autoriza a prisão civil; b) ou pelo procedimento mediante penhora de bens.
No primeiro caso, o prazo, após intimação do devedor, será de três dias para pagar ou provar a impossibilidade, sob pena de prisão de um a três meses, além de o juiz mandar protestar o pronunciamento judicial (parágrafos 1º e 3º do referido artigo). Restou normatizado o entendimento (da Súmula 309 do STJ) de que o débito alimentar que autoriza a prisão civil é o que compreende até as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que vencerem no curso do processo (parágrafo 7º do artigo 528).
Estabelece o artigo 531, parágrafo 1º  do CPC, que a execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada em julgado, se dará em autos separados, ao passo que o cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será processado nos mesmos autos em que tenha sido proferida a sentença. Todavia, o Tribunal de Justiça de São Paulo convencionou que, quer se trate de autos físicos, quer digital, deverá a parte interessada ajuizar pedido apartado em meio eletrônico, com numeração própria, instruindo-o com as peças processuais necessárias, quais sejam, título executivo, demonstrativo do débito, documento das partes e procuração.
Exige-se a intimação pessoal do devedor, não se aplicando, portanto, as regras previstas nas disposições gerais que permitem a intimação na pessoa do advogado ou por meio eletrônico. Tal se deve em razão das graves implicações decorrentes do inadimplemento do devedor, que poderá ter sua prisão civil decretada. Em última hipótese, sua intimação poderá se dar por carta com aviso de recebimento no mesmo endereço dos autos.
Em se tratando de decisão proferida em sede de tutela de urgência, não é necessária a intimação pessoal do devedor se este tiver procurador constituído nos autos, porquanto o processo onde fora instituída a obrigação ainda se acha em andamento.
Uma vez intimado, o devedor deverá justificar o inadimplemento mediante a comprovação de fato que tenha gerado a impossibilidade absoluta de pagar, caso contrário terá, a prisão civil decretada pelo prazo de 1 a 3 meses. 
Ainda em caso de descumprimento, poderá o pronunciamento judicial ser levado a protesto (artigo 528, parágrafo 1º do CPC), ou ainda o devedor poderá ter seu nome inscrito no cadastro de proteção ao crédito (artigo 782, parágrafos 3º e 5º do CPC). O cumprimento da pena imposta não eximirá o devedor, por óbvio, do pagamento das prestações alimentícias vencidas e vincendas (artigo 528, parágrafo 5º do CPC).
Na hipótese do pelo procedimento mediante penhora de bens, em se tratando de débito superior a três prestações, não será admissível a prisão civil (artigo 528, parágrafo 8º do CPC), devendo a execução se dar na forma do artigo 523 (obrigação de pagar quantia certa), fazendo-se a intimação do executado para pagar o débito em 15 dias, acrescido de multa e honorários de 10% se não ocorrer o pagamento voluntário, sob pena de penhora de bens.
De outro modo, ajuizado o cumprimento de sentença sob o procedimento da prisão civil, não incidirá o acréscimo da multa prevista no artigo 523, porquanto descabida dupla penalidade. Nada impede, contudo, que no decorrer do processo o credor requeira, caso não ocorra o cumprimento da obrigação, a conversão do rito para o procedimento de penhora de bens, nos termos do artigo 530 do CPC.
Tendo o credor optado pelo procedimento da penhora de bens (artigo 528, parágrafo 8º c/c artigo 523), e decorrido o prazo para cumprimento pelo devedor, a multa incidirá sobre a totalidade do débito. Caso tenha ocorrido o pagamento parcial, a multa e os honorários incidirão sobre o restante (artigo 523, parágrafo 2º). Em seguida, será expedido mandado de penhora e avaliação, que poderá ter seu cumprimento mediante bloqueio on-line da conta bancária do devedor.
Independentemente de penhora, uma vez transcorrido o prazo de 15 dias sem o pagamento voluntário, inicia-se automaticamente novo prazo de 15 dias para o devedor apresentar nos autos sua impugnação, onde poderá alegar exclusivamente as matérias elencadas no artigo 525, parágrafo 1º, tais como falta ou nulidade de citação no processo de conhecimento, ilegitimidade, inexigibilidade da obrigação ou inexequibilidade do título, penhora ou avaliação incorreta, excesso de execução, incompetência ou qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação.
Caso alegue excesso de execução, o devedor deverá apresentar o valor que entende adequado acompanhado do respectivo demonstrativo de cálculo, sob pena de não conhecimento da alegação, conforme artigo 525, parágrafo 5º do CPC. É importante observar que a impugnação do devedor poderá ser apresentada sem prévia garantia do juízo, nesse sentido há o Agravo de Instrumento 2061048-67.2016.8.26.0000, do TJ-SP: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. ART. 732 DO CPC/1973. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PRÉVIA GARANTIA DO JUÍZO. DESNECESSIDADE, CONFORME O NOVO CPC. RECURSO PROVIDO, NA PARTE CONHECIDA. 1. Decisão terminativa que, diante de embargos opostos pelo ora agravante à execução de alimentos promovida por sua filha, aqui agravada, rejeitou os "embargos/impugnação, nos termos do artigo 267, inciso VI, do CPC", condenando o "embargante/impugnante" no pagamento de custas e de honorários advocatícios da parte contrária, fixados em R$ 800,00 (oitocentos reais). 2. Conhecimento do recurso. Erro escusável na interposição de agravo de instrumento ao invés de apelação. 3. Admissão de embargos à execução como impugnação ao cumprimento de sentença. 4. Exigência de prévia garantia do juízo. Embora a decisão agravada tenha sido proferida na vigência do CPC/1973 e esteja em consonância ao entendimento amplamente majoritário da jurisprudência e da doutrina quanto ao que dispõe o art. 475-J, §1º, do CPC/1973; com a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil, o oferecimento da impugnação ao cumprimento definitivo de sentença passou a prescindir da garantia do juízo. Art. 525 do CPC/2015. 5. Recurso provido, apenas para que as matérias de defesa alegadas pelo agravante sejam apreciadas na origem. Hipótese de não conhecimento nesta instância, diante da inadmissibilidade de supressão de instância. 6. Recurso provido, na parte conhecida. 
(TJSP;  Agravo de Instrumento 2061048-67.2016.8.26.0000; Relator (a): Alexandre Lazzarini; Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Foro de Santo André - 4ª. Vara de Família e Sucessões; Data do Julgamento: 21/02/2017; Data de Registro: 21/02/2017)
Presentes os requisitos legais, o juiz poderá, após a impugnação, conceder-lhe efeito suspensivo (artigo 525, parágrafo 6º), sem prejuízo dos atos de substituição, reforço, redução da penhora ou avaliação dos bens.
O devedor poderá, antes de ser intimado para o cumprimento da sentença, comparecer em juízo e oferecer em pagamento o valor que entender devido, podendo o credor impugnar o valor depositado. Se constatada a insuficiência do valor, o juiz determinará o prosseguimento da execução com penhora e atos subsequentes. Ou declarará satisfeita a obrigação caso o credor não se opuser ao valordepositado.
Ficou também disciplinado que, sem prejuízo dos alimentos vincendos, poderá o juiz mandar descontar das rendas do devedor, de forma parcelada, o débito apurado, desde que, somado à prestação mensal devida, não ultrapasse 50% de seus ganhos líquidos, nos termos do parágrafo 3º do artigo 529 do CPC. 
De outra forma, a execução dos alimentos, por não haver sentença ou decisão judicial que a instituiu, a obrigação será exigida em procedimento específico de execução de título extrajudicial. O executado, desta feita, será citado, e não meramente intimado, para em três dias efetuar o pagamento das parcelas anteriores e das que se vencerem no curso da ação, podendo provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-lo, aplicando-se, no que couber, o disposto nos parágrafos 2º a 7º do artigo 528, ou seja, a execução poderá ser promovida sob pena de prisão civil.
Também será possível que a execução se dê na forma do artigo 824,e seguintes. Nessa hipótese, a defesa do devedor poderá se dar mediante apresentação de embargos à execução, previsto no art. 914, constituindo título executivo extrajudicial o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública e pela Advocacia Pública, conforme artigo 784, IV, dentre outros.
Os alimentos indenizatórios nascem da obrigação do tipo ex delicto, ou seja, é oriunda de um dano causado a outrem, e desse modo, passível de reparação. Haja vista o caráter de ressarcir não há de se falar em possibilidade de prisão civil, como ocorre na obrigação de alimentar decorrente dos alimentos legítimos. A obrigação de prestar alimentos, geralmente nasce da relação de parentesco, o que obriga o indivíduo ao dever de sustento.
Nossa carta constitucional elenca no artigo 5º, LXVII quanto a possibilidade de prisão por débito alimentar decorrente de relação familiar, mas não menciona em momento algum quanto a aplicação desse meio coercitivo ao devedor de alimento indenizatórios. Este é o posicionamento do STJ em sede de decisão recente. Onde segue trecho da decisão.
Segundo a pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é ilegal a prisão civil decretada por descumprimento de obrigação alimentar em caso de pensão devida em razão de ato ilícito. 2. Ordem concedida."(HC 182.228/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 1º/3/2011, DJe 11/3/2011.)"HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIMENTOS DEVIDOS EM RAZÃO DE ATO ILÍCITO. Quem deixa de pagar débito alimentar decorrente de ato ilícito não está sujeito à prisão civil. Ordem concedida." (HC 92.100/DF, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2007, DJ 1º/2/2008, p. 1.) "HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO. A possibilidade de imposição de prisão civil em decorrência de não pagamento de débito alimentar não abrange a pensão devida em razão de ato ilícito. Precedentes. Ordem concedida." (HC 35.408/SC, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/10/2004, DJ 29/11/2004, p. 314.) Com efeito, sopesando entre a plausividade do entendimento de origem e a jurisprudência firmada no STJ, deve-se inclinar, em sede liminar, pelo acolhimento desta, pois em jogo a liberdade do recorrente. Ante o exposto, DEFIRO o pedido liminar para, até ulterior manifestação do relator do presente writ, determinar a suspensão de eventual ordem de prisão. Oficie-se, com urgência, ao Tribunal de Justiça a quo e ao Juízo de primeiro grau, encaminhando-lhes cópia desta decisão. Remetam-se os autos ao Ministério Público Federal para emitir parecer. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 30 de julho de 2018. MINISTRO HUMBERTO MARTINS Vice-Presidente, no exercício da Presidência.
(STJ - RHC: 101008 RS 2018/0186269-2, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Publicação: DJ 03/08/2018)
Essa impossibilidade de prisão já é fruto de várias discussões na doutrina, e chegou-se a conclusão de que não há essa possibilidade de prisão no que tange aos alimentos indenizatórios. O Professor Flávio Tartuce entende que tais alimentos não se confundem com o de Direito de Família, motivo pelo qual a jurisprudência tem entendido, com razão, que não cabe prisão pela falta do seu pagamento, sabe-se que de forma geral, a prisão civil, diferente da prisão nos casos penais, não deve ser usada como punição, sansão, mas como um meio coercitivo que visa forçar o pagamento dos alimentos. O próprio art. 528, §6º afirma que uma vez paga a dívida, não deve mais subsistir a ordem de prisão, que deverá ser suspensa pelo juiz. Tartuce dispõe do tema da seguinte forma.
Entende-se que só é cabível a prisão civil no caso dos alimentos legítimos ou convencionais; não se permitiria a prisão civil, nem a adoção do procedimento próprio do cumprimento de sentença para prestação alimentícia, quando se tratar de alimentos indenizatórios, ou seja, daqueles decorrentes de indenização por ato ilícito.
Assim, devemos considerar que a prisão civil é tida como ultima ratio, devendo se considerar suas limitações e legitimidade de aplicação, onde a legislação não expressa seu uso em hipóteses que fujam do previsto, além das hipóteses decorrentes de vinculo familiar.
Fredie Didier cita sobre o tema afirmando que [...] só é cabível a prisão civil no caso dos alimentos legítimos ou convencionais; não se permitiria a prisão civil, nem a adoção do procedimento próprio do cumprimento de sentença para prestação alimentícia, quando se tratar de alimentos indenizatórios, ou seja, daqueles decorrentes de indenização por ato ilícito, conforme visto.
Com base ao que já foi apresentado, conclui-se que temos por certo que não é cabível a prisão civil do devedor de alimentos indenizatórios, pois há firmado entendimento sobre o tema na doutrina e jurisprudências dos tribunais brasileiros. Dada a natureza distinta da obrigação em relação aos alimentos legítimos, onde esta possui caráter de reparação do dano causado a outrem, sob pena de outras formas de coerção diversas da prisão.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.
DIDIER JR., Fredie; et al. Curso de direito processual civil: execução. 7. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Juspodivm, 2017.

Continue navegando