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A DIVERSIDADE AULA 6

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1 
 
 
 
 
 
 
 
A DIVERSIDADE CULTURAL 
COMO PRÁTICA NA 
EDUCAÇÃO 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Lucas Pydd Nechi 
 
2 
 
CONVERSA INICIAL 
Nos debates propostos nas aulas anteriores, evidenciou-se que o ensino 
da diversidade cultural como prática não ocorre como discurso ou apenas como 
conteúdos transversais. As ciências humanas e suas licenciaturas possuem 
discussões e fundamentações teóricas ricas no sentido da humanização e da 
compreensão e respeito à diversidade, porém muitas destas elaborações 
teóricas não chegam às salas de aula da educação básica. A História foi 
apontada como disciplina-chave para estes objetivos, desde que embasada na 
Teoria e na Filosofia da História, que atestam o caráter intrinsicamente didático 
e narrativístico desta disciplina. Contudo, na realidade escolar brasileira, o 
trabalho de conscientização sobre diversidade ocorre de diversas maneiras e 
sob responsabilidade de educadores das mais diferentes formações. Sugere-se 
aqui estratégias didáticas da Educação Histórica, mas que não se restringem à 
disciplina História nas escolas. O que se espera é que o trabalho com elementos 
do passado possua rigor científico e proporcione mudanças nas concepções das 
crianças e jovens. Os temas da aula de hoje são fundamentados por 
experiências teóricas e práticas do leste europeu, usadas em países que 
passaram por guerras e divisões internas e buscam fortalecer os laços entre 
sujeitos de diferentes etnias por meio do ensino de história. 
 
CONTEXTUALIZANDO 
 A aula de História tradicional faz parte do imaginário e do senso comum 
de quem já passou pela escola brasileira, por estar enraizada e amplamente 
disseminada como forma única do ensino da disciplina. A cena é clássica: o 
professor ou professora dedica boa parte do horário de aula escrevendo o 
conteúdo no quadro negro (ou apresentando inúmeros slides no computador), 
com séries de fatos e datas, explanando suas interpretações e resumos daquilo 
que é apresentado no livro didático. Segue-se uma aula expositiva extensa na 
qual o carisma e capacidade de encantamento do professor define suas 
qualidades como professor de História. Um bom professor de história é um bom 
 
3 
 
contador de histórias. Nas tarefas de casa, são comuns fichamentos e resumos, 
como esforço de síntese do volume gigantesco de conteúdo transmitido. 
Também é recorrente a dificuldade de seleção de conteúdo, sempre extenso e 
alongado demais para as poucas horas da disciplina na grade curricular. 
Apesar de consagrado e vinculado à cultura escolar, tal metodologia de 
ensino da aula tradicional citada não contribui com o desenvolvimento da 
consciência histórica das crianças e jovens. Por utilizar prioritariamente a função 
cognitiva da memorização, muito rapidamente os conteúdos aprendidos são 
esquecidos e não se relacionam com a vida prática do presente dos sujeitos. 
Muito menos serve de ferramenta para suas decisões e orientações temporais. 
A aula de História deve ser em si uma arena de embates de narrativas, 
interpretações e fontes históricas, tornando a diversidade cultural não uma opção 
de conteúdo mas sim uma estratégia metodológica indispensável. 
 
TEMA 1: AULA INTERATIVA 
O uso da aula expositiva é, ainda, a mais frequente estratégia de ensino 
não apenas dentre professores de História, mas também de outras disciplinas. 
Não pretendemos nos voltar contra este valioso método: afinal, a História é 
pautada pela narratividade de seu conteúdo, tornando as narrativas em sala 
potenciais elementos de ensino. Entretanto, quando crianças e jovens 
permanecem apenas como receptores passivos de conteúdo, sua aprendizagem 
é muito reduzida. Não é possível que haja aprendizagem significativa sem 
interação entre as pessoas, pois memorização de fatos não é sinônimo de 
aprendizagem histórica. 
Para que ocorra o desenvolvimento da consciência histórica, os 
estudantes deverão processar as informações disponibilizadas por conta própria. 
Assim sendo, o planejamento prévio de aulas por parte dos professores se torna 
essencial para que se sistematizem atividades desafiadoras que possibilitem aos 
alunos se expressarem, interagirem com os demais colegas e com o professor 
e também entrar em contato com fontes históricas. Sabe-se que muitos 
 
4 
 
professores não possuem disponibilidade de tempo para se dedicar a pesquisa 
e preparação de aulas, acabando por optar em adotar unicamente a proposta do 
livro didático. Dessa forma, entretanto, não conseguimos ir além do exercício 
de memorização. 
A partir de um objetivo de aprendizagem, que pode ser oriundo do 
currículo ou das necessidades de orientação temporal dos alunos, as atividades 
devem ser permeadas por questões-chave, que levem os estudantes a formular 
suas hipóteses e engajarem-se nas aulas. O trabalho em grupo também é 
essencial, pois o confronto de opiniões entre sujeitos da mesma faixa etária 
fornece a possibilidade de se aprender de forma multiperspectivada. Black, 
especialista em educação histórica e formação de professores em Kosovo, 
afirma que os benefícios das atividades em grupo são: “os estudantes retêm 
mais informação, ensina-se valores como tolerância, respeito, solidariedade e 
responsabilidade.” (BLACK, 2011, p. 25). 
Essa autora descreve algumas atividades interessantes e simples que se 
baseiam no uso da interação no ensino de história (BLACK, 2011, p. 26). 
Apresenta-se aqui dois exemplos: 
 
 Pense – Debata – Apresente. 
- Faça uma questão ou apresente um desafio. Pode ser a definição de um 
conceito usando as próprias palavras ou o resumo do que aprenderam. 
- Oferte um breve espaço de tempo para os alunos pensarem sozinhos. 
- Em duplas, os alunos deverão comparar suas respostas. 
- As duplas deverão partilhar suas conclusões com a turma. 
 
 Estudo de caso 
- Atividade com base na análise de uma narrativa de um evento do passado que 
uma pessoa ou grupo experienciou. No uso de fontes escritas, desenvolve 
empatia histórica. 
- Divide-se a turma em grupos menores. 
- Inicia-se com uma pergunta (como, por quê, de que forma) desafiadora. 
 
5 
 
- Fornecem-se aos estudantes fontes ou narrativas que não respondem 
completamente à pergunta feita. Assim, as crianças e jovens exercitam 
habilidades de raciocínio, inferência e plausibilidade histórica, pautados 
pelas fontes. 
- Após pensarem e debaterem entre si, cada grupo apresentará suas inferências. 
O professor pode revelar outras fontes gradualmente, ou então apresentar 
narrativas de historiadores sobre o fato, de preferência com pontos de 
vista divergentes. 
- Esta estratégia incita a análise de fontes, o debate de temas históricos, a 
compreensão do método historiográfico hermenêutico e a familiarização com a 
existência de fatos e argumentos não conclusivos e abertos na história. 
Outras atividades que envolvam a simulação de fatos históricos (ou 
tomada de papéis, role playing), jogos, idas a campo e debates contribuem para 
uma aprendizagem democratizada, na qual os estudantes são convidados a 
participar e interagir, não apenas a absorver passivamente conteúdos. 
Em suma, segundo Black (2011), “contar não é ensinar e ouvir não é 
aprender”. Os estudantes devem estar engajados em atividades que lhes 
possibilite aprofundamento de suas compreensões e reflexão sobre os 
conteúdos propostos. A interatividade é um processo de duas vias entre 
estudantes, conteúdos, colegas e professores. 
 
TEMA 2: USO DE FONTES HISTÓRICAS 
Os livros didáticos ainda são a principal referência de professores em sala 
de aula. Devido ao tempo limitado para pesquisa e produção de aulas mais 
dinâmicas, interativas e provocadoras, muitos professores aderem ao uso do 
livro não apenas como material didático, mas também como estrutura curricular. 
Assim, seguir linearmente os capítulos e subdivisões dos livros se torna o roteiro 
de aprendizagemhistórica para muitos alunos. Claramente isso contribui para o 
desinteresse e baixo aproveitamento nesta matéria. 
 
6 
 
Os livros apresentam muitas fontes históricas, primárias e secundárias, 
mas, além de constar no material, as fontes devem ser usadas de maneira 
investigativa pelos professores. As narrativas são copiadas, resumidas e 
exploradas à exaustão, porém as imagens, reproduções de cartas, mapas e 
outros artefatos acabam muitas vezes relegados à curiosidade ou apenas 
ilustração do conteúdo. 
O trabalho direto com fontes visa ao desenvolvimento do raciocínio dos 
estudantes, no processo similar ao do método historiográfico que, a partir de 
vestígios do passado, busca realizar descrições, interpretações e inferências 
sobre os acontecimentos. O pesquisador Leonard Valanta (2008, p.15), em 
material produzido para professores da Bósnia e Herzegovina, aponta seis 
questões sobre o uso de fontes em sala de aula: “Como selecionar fontes? Como 
trabalhar com os estudantes a partir das fontes? Que fontes usar? Como usar 
boas fontes satisfatoriamente? Como achar boas fontes?”. A seguir 
discutiremos possíveis respostas. 
 
 Como selecionar fontes? 
As fontes históricas possuem o poder de encantar e despertar a 
curiosidade nas pessoas. Muitos artefatos preservados em museus e galerias, 
textos, cartas e imagens trazem em si pistas curiosas de como outros seres 
humanos viveram em outros tempos. Assim, para o trabalho de Educação 
Histórica com o objetivo de educação para a diversidade, a escolha das fontes 
deve ser realizada levando em consideração a faixa etária dos alunos, seus 
interesses explicitados na rotina escolar e elementos humanos que podem 
despertar discussões relevantes àquele determinado contexto. O volume de 
descrições e interpretações já realizado por historiadores e arqueólogos também 
pode facilitar o trabalho em sala, tendo em vista que fontes ainda envoltas em 
dúvidas e mistérios podem não ajudar os estudantes a construir narrativas. 
 Como trabalhar com os estudantes a partir das fontes? 
Primeiramente, relembramos a importância da multiperspectividade. Ou 
seja, as fontes devem apresentar a diversidade da visão de mundo de outras 
 
7 
 
pessoas, assim como a análise das fontes pode explicitar discrepâncias 
interpretativas dos profissionais envolvidos. Os estudantes devem ser motivados 
a fazerem indagações à fonte em si. No caso de artefatos, como joias ou armas, 
perguntas devem surgir: o que é isso? De que material é feito? Como era feito? 
Como era utilizado? Quem tinha acesso a este material? Os estudantes podem 
fazer suas próprias interpretações e explanações, antes mesmo do professor 
apresentar relatos historiográficos que descrevem com mais precisão a fonte 
adotada. Os estudantes devem ser encorajados a tentar explicar o máximo 
possível a fonte, a partir de suas interpretações, e, ao fim, perceber que as 
narrativas históricas produzidas possuem diferentes graus de plausibilidade, o 
que confere cientificidade à História e a separa do senso comum. 
 Que fontes usar? 
A variedade de tipos de fonte histórica pode ser uma ferramenta de 
diversificação metodológica para professores. Fontes visuais, como: fotografias, 
desenhos, histórias em quadrinhos, materiais de publicidade, caricaturas, 
mapas, obras de arte, monumentos, sítios históricos e arquitetônicos. Fontes 
escritas, como: documentos legais, jornais, revistas, diários, narrativas pessoais, 
depoimentos, testemunhos e obras literárias. Nota-se que, mais uma vez, o 
trabalho de pesquisa do professor é decisivo na escolha, organização e trabalho 
com fontes. 
 Como usar boas fontes satisfatoriamente? 
Segundo Valanta (2008, p.17), o uso de sucesso de fontes diz respeito à 
maneira pela qual se pode construir boas perguntas às fontes. O professor pode 
preparar uma lista prévia com o maior número de perguntas possíveis, no caso 
da turma não desenvolver muitas questões. O processo de inquérito à fonte pode 
ser descontraído como um jogo argumentativo, no qual cada estudante pode 
perguntar como também oferecer respostas às perguntas dos colegas, sendo 
medido o nível de plausibilidade e fidelidade à fonte. 
 
 Como achar boas fontes? 
 
8 
 
A disponibilidade de boas fontes primárias diz respeito à maneira pela qual 
o país, o estado e o município estão articulados na preservação do patrimônio e 
na transmissão da cultura do passado. Museus, galerias de arte, e sítios 
arqueológicos em geral podem ser de extrema valia na busca de fontes. Não 
devemos desprezar, também, as culturas não reconhecidas como clássicas da 
cultura ocidental, mas que fazem parte da rotina dos estudantes. É possível 
trabalhar com ferramentas, relatos e descrições de pessoas próximas à escola, 
com suas histórias de vida e relatos humanos sobre determinada região. Outra 
sugestão é, na era do conhecimento, fazer uso de smartphones e tablets para a 
busca de fontes na internet. Alguns museus, como o Louvre em Paris e a Galeria 
Nacional de Londres, possuem aplicativos virtuais nos quais é possível acessar 
com detalhes muitas fontes e obras de arte de reconhecida importância cultural. 
 
TEMA 3: O PASSADO DIFÍCIL E TEMAS CONTROVERSOS 
Em tempos de polarização política e ideológica no Brasil, com início 
aproximadamente a partir das manifestações de rua em junho de 2013, debater 
política, história e cultura, em suas especificidades, pode ser uma tarefa árdua. 
Sobretudo nas redes sociais, nas quais o desconhecimento do interlocutor e a 
falta de empatia gerada pelo debate virtual agravam a dificuldade. A História em 
si é território de embates de produção de sentido, de narrativas oficiais e 
paralelas, de relações de poder desiguais e de domínio e disputa cultural. Ou 
seja, não há debate, ensino e aprendizagem de história neutros. 
Quando os assuntos do passado possuem forte conexão com o presente 
e há divisão de valores e interesses, é bem provável que o passado possa ser 
pesado como um fardo para as novas gerações. Por exemplo, não é fácil para 
crianças e jovens alemães estudarem as duas grandes guerras mundiais, nas 
quais o surgimento do nazismo e os horrores causado por seus integrantes 
colocou a Alemanha no posto de vilã do mundo moderno. Os reflexos disto estão 
presentes intensamente na cultura histórica: filmes, jogos, músicas e livros que 
mexem com a identidade nacional do povo deste país. 
 
9 
 
Devemos manter em mente que a história é multiperspectivada e, sendo 
assim, não se pretende buscar unanimidades em temas polêmicos em sala de 
aula. Pelo contrário! As disciplinas escolares de História, Sociologia, Filosofia e 
até literatura podem ser os últimos raros espaços de formação das novas 
gerações ao debate, ao encontro com ideais dissonantes, à tolerância e ao 
respeito. Em vez de impor determinada narrativa mestra, unilateral, tendenciosa 
e etnocêntrica, como apresentam quase todos os livros didáticos da área, o 
ensino de História deve servir justamente para ensinar a acolher visões 
diferentes de mundo, a tolerância, o respeito e a criticidade quanto à 
fundamentação das argumentações. É dessa maneira que o ensino de História 
se compromete com a defesa e sustentação da democracia. 
Uma estratégia prática é a identificação, por parte dos estudantes, do 
porquê pensam da maneira que pensam. Ou seja, buscar desenvolver atividades 
que incitem a reflexão de como se construiu a identidade histórica dos 
alunos e no que se baseiam suas convicções. Se bem mediado pelos 
professores, o debate de temas sensíveis e controversos pode se tornar 
sequências didáticas extremamente significativas para os estudantes. Para isso, 
algumas regras são sugeridas (BLACK, 2011, p. 39): 
 
 Uma pessoa fala por vez, sem interrupções; 
 Demonstração de respeito pela visão dos outros; 
 Desafie e discorde de ideias, não de pessoas; 
 Linguagem apropriada – sem apelosemocionais, racismo ou sexismo; 
 Permitir que todos possam se expressar; 
 Os estudantes devem aprender a argumentar usando fontes, e não 
apenas opiniões soltas. 
 
Esta mesma autora salienta que os professores devem “explorar os fatos 
e ideias que subjazem as controvérsias como historiadores: suspendendo 
julgamentos, mas analisando as causas, analogias, construção de narrativas, 
 
10 
 
comparando, usando compreensão empática de diferentes perspectivas, etc.” 
(BLACK, 2011, p. 40). 
De toda forma, os estudantes devem saber, ao término da aula, de que 
mais importante do que ter uma opinião ou se abraçar a uma determinada visão 
de mundo e sociedade, é a capacidade de construir argumentações plausíveis 
pautadas em fontes, e manterem-se abertos a revisões de pensamento e novas 
informações e argumentações. 
 
TEMA 4: MÉTODOS DE ENSINO E MULTIPERSPECTIVIDADE 
É importante frisar que o ensino para a diversidade com base na 
multiperspectividade subverte muitas das estratégias de ensino já consagradas 
na escola tradicional. Em muitos casos, é recomendado a mudança da estratégia 
de ensino como um todo do que apenas a realização de adaptações na tentativa 
de apresentar outras visões históricas. 
Quando se apresenta uma narrativa oficial, referendada pelo livro didático 
e hegemônica na cultura histórica e, complementarmente, anuncia-se que 
existem outras visões e versões, o que se realiza de fato é o fortalecimento da 
visão inicial. Aos estudantes é explicitado que há uma maneira certa, oficial, 
predominante e forte, enquanto visões desviantes ou que se contraponham a 
oficial são secundárias, inconvenientes, problematizadoras e inconformadas. 
Os estudantes tendem a buscar versões “corretas” ou acusar narrativas 
de “mentirosas” e “erradas”, principalmente quando são crianças menores. 
A lógica maniqueísta está fortemente impregnada na cultura como um todo, 
enquanto a multiperspectividade requer exercício, reflexão racional intencional e 
aprofundamento. É necessário educar crianças e jovens desde cedo para a 
compreensão de que eventos históricos podem ser interpretados e descritos de 
diversas maneiras, até mesmo de forma contraditória. 
Quanto mais a aula de História se assemelhar a jogos de investigação, de 
detetives (sendo as fontes históricas utilizadas como pistas), e menos como um 
 
11 
 
momento de contar histórias, mais possibilidades de estudo multiperspectivado 
serão observados. 
No debate sobre o foco do ensino de história, constitui-se uma dicotomia 
entre a aprendizagem de conteúdos e o desenvolvimento de habilidades. 
A perspectiva dos conteúdos se refere mais fortemente às aulas tradicionais, 
centradas na aquisição e armazenamento de dados e informações. A estratégia 
de desenvolvimento de habilidades surge como resposta da didática e da 
pedagogia à aula tradicional conteudista, buscando dinamizar a sala de aula. 
Recomenda-se aqui o equilíbrio entre as duas abordagens: as habilidades e 
competências próprias da aprendizagem histórica são desenvolvidas por meio 
da investigação sistemática de fontes, nas quais os conteúdos e objetivos de 
ensino são trabalhados. 
Como sugestão para o trabalho multiperspectivado, o professor deverá 
selecionar embates históricos que oportunizem a coleta de fontes de várias 
visões diferentes. Os estudantes podem ser divididos em grupos que 
investiguem fontes e narrativas opostas. Após a construção de narrativas dos 
grupos a partir das fontes, deverão apresentar para os demais estudantes da 
turma. A estratégia da dramatização (role play) também pode ser utilizada, 
incitando os estudantes a se colocarem no lugar de diferentes personagens 
históricos. Por exemplo, no período colonial brasileiro, podem ser estudadas 
fontes dos indígenas, dos portugueses colonizadores e dos povos africanos 
escravizados. Na história mundial, o estudo das grandes guerras pode ser 
realizado comparando as fontes escritas e imagens provenientes de vários 
países envolvidos. Sobretudo, o olhar daqueles que sofreram, que foram 
violentados e oprimidos, pode e deve ser destacado como forma de desenvolver 
a empatia histórica dos estudantes. 
O pesquisador Alan Midgley (2008) acredita que uma forma de 
sistematizar o ensino de história parte de objetivos que busquem a investigação 
de: “o que aconteceu, onde e quando aconteceu, por que aconteceu e quais 
consequências o acontecimento apresentou.” Mesmo debatendo sobre 
multiperspectividade, esta lista inicial não apresenta contribuições significativas 
 
12 
 
a um ensino mais crítico. Esta simplificação do conteúdo histórico pode ser 
usada como lista para a preparação de aulas. Porém ela não é suficiente se nos 
interessa destacar a multiperspectividade e o humanismo como objetivos do 
ensino de história. Neste caso, a lista de perguntas se amplia consideravelmente, 
e requerem um esforço do educador em sua preparação. Devemos perguntar às 
fontes e ao conteúdo a ser desenvolvido: quem disse o que aconteceu? O que a 
fonte me conta sobre as pessoas envolvidas? O que a fonte não dá conta de 
explicar? Quem foi prejudicado e quem foi beneficiado com o acontecimento? 
Direitos humanos fundamentais foram violados neste acontecimento? Por quem 
e contra quem? Estas e outras perguntas retiram a neutralidade do conteúdo 
histórico, da fonte e dos interlocutores, colocando-os em debate e instigando 
professores e alunos a adotar critérios de cientificidade e de humanidade para o 
trato com o passado. 
 
TEMA 5: AVALIAÇÃO 
 Como último tema de abordagens práticas para o ensino de História com 
ênfase na diversidade, temos a avaliação. As avaliações têm deixado de ser 
instrumentos de mensuração da aprendizagem, fruto do trabalho conjunto de 
professores e alunos, para serem usadas para diferentes funções. Por um lado, 
como medida exclusiva de ranking de alunos para ingresso em universidades. 
Aos mais bem avaliados, as portas da universidade e do futuro profissional se 
abrem. Aos estudantes que apresentam resultados insatisfatórios, indicam-se 
tratamentos psicopedagógicos, psicológicos e psiquiátricos num movimento de 
patologização da infância e da juventude. Por outro lado, as avaliações servem 
como medida classificatória de instituições, quando se entende que escolas que 
possuem bons índices de aprovação de vestibular são automaticamente 
boas escolas. 
A avaliação como instrumento de medida, tanto do trabalho do educador 
como do desempenho do estudante, precisa ser compreendida como parte 
integrante de todo processo de aprendizagem. No que diz respeito à educação 
 
13 
 
histórica, a avaliação pode ser uma aliada na proposição de ensino mais 
interativo, motivador e potencializar o uso de fontes e a empatia histórica. 
Podemos usar a necessidade de orientação temporal dos estudantes como norte 
do processo de ensino e aprendizagem. Assim, os professores deverão buscar 
contemplar os conteúdos obrigatórios do currículo com os interesses de crianças 
e jovens. Muitas vezes os interesses e curiosidades ficam em segundo plano: 
aprender história é parte do trabalho de ser estudante, e é impossível que se 
equivalha a momentos de descontração e lazer. Contudo, o que vemos nas 
escolas é o oposto: aulas e atividades são encaradas como sacrifício por serem 
pouco estimulantes. 
Não devemos encarar a avaliação como fim do processo educativo. As 
avaliações podem ocorrer em todos os momentos, até mesmo nas primeiras 
aulas, como forma de o professor orientar seu trabalho para se aproximar das 
necessidades de cada turma. Compreender a educação desta maneira implica 
em oportunizar aos educadores tempo e condições de estudo e pesquisa, 
necessários como parte integrante da rotina educativa. 
Black considera que o ensino de História é referenciado em uma 
abordagem integral, que diz respeito também ao desenvolvimento de aspectos 
emocionais e estéticos, não apenascognitivos. Em paralelo com a taxonomia 
de Bloom, ela descreve elementos empáticos que podem auxiliar no foco 
da diversidade: 
 
 Recebendo: Os estudantes são receptivos a crenças e valores diferentes 
dos que eles possuem? 
 Respondendo: Os estudantes consideram a sua impressão sobre o outro 
com base nos valores e crenças da outra pessoa? 
 Valorando: Os estudantes refletem sobre as suas próprias formações, 
perspectivas, crenças e valores? 
 Organizando: Os estudantes explicam a contribuição de diferentes 
perspectivas ao desenvolvimento da sociedade e reexaminam suas 
próprias crenças e valores? 
 
14 
 
 Caracterizando: os estudantes abordam a diversidade 
caracteristicamente de maneira que respeite e aprecie as diferenças, 
crenças e valores? (BLACK, 2011, p. 50). 
 
Estes questionamentos podem ser utilizados como guias para os 
professores na preparação de seus planos de aula. Ao comentar a maneira pela 
qual as avaliações se inserem na rotina de ensino, Black (2011) também 
enumera aspectos fundamentais da aprendizagem nesta disciplina: 
 
 Avaliações não devem ser separadas do ensino e da aprendizagem 
histórica. A avaliação deve desenvolver-se naturalmente ao transcorrer 
do estudo, testando o conhecimento, compreensão e habilidades que os 
estudantes adquiriram; 
 Os planos de aula não podem ser isolados. Cada plano de aula deve 
encaixar-se numa sequência lógica. Nem todas as habilidades e 
atividades importantes caberão em cada aula; 
 Tanto professores como alunos devem saber claramente o que está 
acontecendo no processo de ensino e aprendizagem; 
 Os planos de aula e de avaliação não devem ser segredo do professor. 
Todos devem compreender como as aulas estão pensadas de 
maneira ampla; 
 Ritmo é importante: as aulas devem ser vívidas o suficiente para manter 
o entusiasmo, mas também devem permitir espaço de tempo adequado à 
participação dos estudantes. 
 Testes e exames não devem ser provas de velocidade, pois devem 
possibilitar aos estudantes a chance de produzir algo que se orgulhem. 
 O uso de fontes históricas e da abordagem multiperspectivada deve 
manter a mesma linha das atividades rotineiras, às quais os estudantes 
estão acostumados. 
 
 
15 
 
Nota-se que esta lista de sugestões demanda diversas políticas públicas 
educacionais que ainda não fazem parte da realidade brasileira: estrutura física 
com museus, bibliotecas e acesso à internet de qualidade; visitas a museus e 
sítios arqueológicos; professores com dedicação exclusiva a uma escola, com 
hora-atividade remunerada e suficiente para pesquisa e planejamento. 
 
SÍNTESE 
 Esta última aula apontou, em seu conjunto de temas, para a busca da 
superação da aula tradicional de História. Ao ensejarmos despertar nos 
estudantes visões críticas, democráticas e humanas da sociedade e de si 
mesmos, no processo de construção de suas identidades, devemos ir além de 
modelos já superados e que claramente pouco contribuíram para a cidadania, 
inclusão e ampliação de direitos básicos a todos setores da sociedade. Enquanto 
as mudanças institucionais e políticas parecem não confluir para objetivos 
comuns, cabe aos professores a busca por formação e aprimoramento pessoal 
e profissional. 
A porta da escola deve se abrir a novos conhecimentos, tanto formais, 
vindos da academia, como também conhecimentos populares, como saberes de 
movimentos sociais e de sujeitos da comunidade. Não devemos ter receio de 
mudar e tentar novas estratégias na formação dos sujeitos. O protagonismo das 
juventudes e das infâncias é ainda visto com desconfiança por estruturas rígidas 
educacionais. Na sociedade do conhecimento e da informação, ouvir com 
atenção o que anseiam crianças e jovens pode ser um excelente primeiro passo 
rumo a uma aprendizagem significativa e transformadora. 
 
REFERÊNCIAS 
BLACK, L. Manual for History Teachers in Bosnia and Herzegovina, 
Strassburg. 2008. 
 
BLACK, L. History teaching today: Approaches and methods. Kosovo: Printing 
Press, 2011. 
 
16 
 
 
MIDGLEY, A. Multiperspectivity: Teaching Methods. In: BLACK, L. Manual for 
History Teachers in Bosnia and Herzegovina. Strassburg. 2008. p. 39. 
 
VALANTA, L. Using Sources in New Textbooks. In: BLACK, L. Manual for 
History Teachers in Bosnia and Herzegovina, Strassburg. 2008. p. 15-18. 
 
 
 
Texto obrigatório 
 
Abordagem teórica 
 
SCHMIDT, M. A. M. S. Cognição histórica situada: que aprendizagem histórica 
é esta? In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 25, 2009, Fortaleza. Anais do 
XXV Simpósio Nacional de História – História e Ética. Fortaleza: ANPUH, 
2009. CD-ROM. 
 
Abordagem Prática 
CAINELLI, M. A Escrita da História e os Conteúdos ensinados na disciplina de 
história no ensino fundamental. In: Educação e Filosofia. Uberlândia, v. 26, n. 
51, p. 163-184, jan./jun. 2012. 
 
 
Saiba Mais: 
 
BLACK, L. Manual for History Teachers in Bosnia and Herzegovina, 
Strassburg. 2008. Disponível em: 
<http://www.coe.int/en/web/history-teaching/bosnia-and-herzegovina>. 
 
 
Fala, Doutor - Ronaldo Cardoso Alves: Aprender história com sentido para a vida. 
Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=ngt8L7pFjCY>.

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