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Multiculturalismo SERVIÇO SOCIAL - 2020.1 Unidade1 – Problematizando as identidades Objetivos: -Destacar o conceito de identidade, problematizando sua história e desenvolvimento; -Discutir o conceito de identidade no mundo atual, suas tensões e fronteiras simbólicas; - Apontar a centralidade da cultura, da Teoria do reconhecimento e das dinâmicas de globalização para a produção social das identidades; - Aquilo que o sujeito é acompanha os acontecimentos e contextos sociais; - A identidade não é um problema somente dos tempos modernos, ela se apresenta como uma importante referência para as sociedades de todos os tempo; - O tema identidade é bastante complexo nos dias atuais mas nem sempre foi assim, o conceito de identidade acompanha os indivíduos em sua história em cada época; - Os povos antigos e da idade média tinha a concepção identitária como autossuficiente, fechada em si. Outros povos não tinham identidade específica, eram selvagens e bárbaros; - Platão e Aristóteles tinham uma visão essencialista – existe uma unidade, uma essência, uma alma única, fixa, apesar de não acessíveis à nossa experiência cotidiana; - Etimologicamente, a identidade é aquilo que permanece o mesmo ao longo do tempo, é o que Platão chamava “ a essência do que existe”; Essencialismo Identitário Representa a ideia de que a identidade de uma pessoa indicaria “aquilo que se é” ; Não dando ênfase de que é na relação com o outro que me identifico (me reconheço) como o não outro; O essencialismo nega ou inviabiliza essa condição relacional; Na sua lógica existiria um núcleo que seja “comum” e “fixo”; Se orientam de maneira binária: eu sou/ eu não sou – Classificação a partir de dois polos opostos; As preocupações identitárias sempre existiram. Elas se transformam com o passar do tempo; É o caso dos Gregos e romanos; Os gregos construíram sua identidade com base em atributos que seriam próprios dos gregos; - Civilização grega – Polis, civilização política; - A cidadania era obtida por nascimento e os gregos obtinha a cidadania da pólis que pertencia seus pais; - Fora dela só barbárie (não gregos); - Pandeia: Reproduzir a educação grega – formação moral, religiosa e cívica; - A plenitude de cidadania era reservada somente aos homens; - A diferença entre gregos e não gregos torna-se política – o bárbaro é aquele que não compartilha uma pólis ou laços comuns (educação, língua, costumes); - A identidade Romana não era uma imposição, mas sim uma característica geral de comportamentos que deveriam ser compartilhados entre os súditos; - No caso, é possível se tornar um romano – com base na lei e do direito; - A identidade era mais ampla e flexível; - Para os romanos, a identidade era uma preocupação da elite política e militar ( era preocupação para aqueles que tinham possibilidades de pertencer a elite romana); • Por que fazer a ligação da identidade nacional com o Império Romano e à Idade Média? • Pois ajudaram a construir a ideia de pertencimento, a identidade, nacionalidade; Identidade Nacional: - Conforme Anthony Smith (1997), é a manifestação da consciência de pertencimento a uma comunidade; Demanda uma base territorial em que seus membros se identificam, relacionam, tem a ideia de pertencer. Assim, foram derivadas noções de cidadania, nação e pátria; Grupo Étnico - Conforme Frederik Barth (2006), é um modelo de organização identitária responsável por estruturar os sentidos do “nós” e os “outros”, os de “dentro” e os de “fora”; Tradição inventada - Segundo Hobsbawm (1988) São noções historicamente novas fingindo terem existido durante muito tempo. Tradições realmente inventadas construídas e formalmente institucionalizadas; - As tradições geralmente aparecem para dá uma ideia de continuidade. - Exemplo: coroação, casamento. Tópico 2 – Identidade e Modernidade Uma série de eventos sociais, políticos, culturais e científicos abalam a visão de mundo antigo e medieval; Descoberta das Américas; Invenção da imprensa móvel, Revoluções científicas, Revolução Inglesa, Francesa, Americana, Ascensão da classe burguesa e do capitalismo; Surgimento de uma visão de que o mundo era diferente - Moderno - Na passagem da Idade Média para a Modernidade temos o surgimento do conceito de subjetividade; - Passagem da preocupação com a essência do Ser para as bases e possibilidades de conhecer o sujeito; - Subjetividade Moderna – tudo que é interno de cada pessoa, como ela se relaciona consigo e com os outros; - o eu, o espírito, a consciência; - Reflexão do sujeito em relação ao mundo, inserido nas transformações; Mudanças do Ser para Sujeito de acordo com: - René Descartes: “pai da filosofia moderna”; - Ideia de sujeito cartesiano: moderno e influenciado pelo olhar científico; - Sujeito que se ocupa de suas capacidades cognitivas e de percepção (pensamento); - É um sujeito lógico – baseado em modelos físicos; Kant: A questão não é mais sobre o Ser e sua essência, mas, quais as bases que possibilitam o conhecimento seguro; - Entendimento seguro das coisas e do mundo; - A filosofia kantiana colocou no centro da reflexão o sujeito em sua relação com o mundo e não em sua “essência” primordial; A medida que o mundo irá se transformando Kant encara o sujeito inserido nessas transformações; Friedrich Nietzsche: Realizou reflexões e diagnóstico acerca da modernidade e de seus valores centrais, assim como realizou críticas; - Em sua visão crítica, os valores modernos levam o indivíduo ao desassossego; - Para ele todo o mundo se encontra preso a cultura alexandrina possuindo ideal o homem teórico, com altas capacidades de conhecimento a serviço da ciência; - Menciona as bases como sendo castradoras da subjetividade e da individualidade, a partir de suas críticas à moral, à religião, ao Estado, à democracia; O sujeito é social: - Estimulado pelas mudanças, o início do século XX trouxe novos teóricos com pensamentos sobre o sujeito social e sua identidade; - Stuart Hall trouxe concepções que podem dizer algo sobre identidade: • Identidade é marcada pela ideia do sujeito centrado e dotado de capacidades, consciência; • Sujeito Sociológico – onde a identidade é formada na interação entre eu e a sociedade, no dialogo contínuo; • Sujeito Pós-moderno – cuja identidade não e fixa essencial ou permanente; É formada e transformada continuamente – sujeito descentralizado e fragmentado, onde a identidade é algo contraditório; - A escola de Chicago foi fundamental na reorientação do sujeito; - Procuravam compreender os problemas sociais decorrente da industrialização e urbanização; - A identidade envolve processos e contextos sociais ancorados nas experiências da vida; (Em processo); -Surgiu as primeiras críticas a ideia de identidade essencial; - Onde foram formadas bases do interacionismo simbólico – refletir sobre a interação humana; Interacionismo simbólico: - Interação social entre os indivíduos, grupos, entre diferentes identidades; - Visa compreender como os indivíduos interpretam os objetos, os gestos, as pessoas nas situações de interação; Esses aspectos da escola de Chicago e do Interacionismo Reforçou a ideia de que identidade envolve processos e contextos sociais localizados; Então começa-se a argumentar, refletir, analisar questões ligadas a identidade voltando-se para as dinâmicas sociais; Como pensar identidade no mundo moderno: - A modernidade produziu efeitos drásticos ao redor do mundo a partir de alguns aspectos: emancipação do indivíduo, diferenciação social, racionalidade, economia, democratização da educação e ciência, surgimento da cultura em massa; - As identidades são afetadas de diversas maneiras, são orientadas pelo conhecimento reflexivo; Modernidade na visão de: - Max Weber: Para ele a racionalização foi uma marca para o mundo moderno; Outra característica é o Estado moderno (burocrático, racional - agrupamento de dominação);- Karl Marx: Para ele a modernidade está ligada a ascensão da burguesia e o modo de produção capitalista – deu origem a uma divisão de classes; Visões contemporâneas sobre a modernidade: - Anthony Giddens: A modernidade pode ser entendida como aproximadamente equivalente ao “mundo industrializado”; A modernidade altera radicalmente a vida social cotidiana e afeta os aspectos pessoais; A reflexividade da vida social é específica da modernidade; - Alain Touraine: conhecido pela suas reflexões sobre o sujeito e os movimentos sociais na atualidade; Crença na razão e ação racional; reconhecimento dos direitos individuais (fazem parte da modernidade); É crítico em relação a modernidade, onde afirma que a radicalização das mudanças no espaço e tempo, o próprio indivíduo é afetado, encontra-se perdido no consumo e com uma identidade frágil; - Boaventura de Sousa Santos: suas reflexões aborda temas como: modernidade, globalização, direitos humanos, democracia; - Desenvolveu crítica sobre a modernidade e seus efeitos, para ele a sociedade contemporânea foi fundada em torno de dois pilares: - O pilar da regulação (aquele ligado ao Estado, ao mercado e à comunidade) - E o pilar da emancipação (está dividido na racionalidade estético-expressiva, prática moral da ética e do direito e racionalidade cognitiva instrumental vinculado a ciência e a técnica); Jurgen Habermas: fala de modernidade como um projeto – um projeto inacabado; Para ele são as mudanças e novas formações sociais específicas desse tempo moderno; É a razão que representa a modernidade; - Ele usa dois conceitos para compreender essa racionalidade: - sistema: que indica um complemento com o mundo vivido, ligando-se as maneiras e formas de reprodução da vida material (dinheiro, trabalho, poder...) - Mundo da vida: (mundo vivido) é a maneira como nós percebemos a realidade, a existência individual, predomina a razão comunicativa; Etnocentrismo X Eurocentrismo - Visão de mundo onde o nosso grupo é tido como o centro; - Visão de mundo tendo a Europa como o centro; Tópico 3 – Identidades na contemporaneidade - No mundo de hoje somos atores e espectadores, nesse cenário a identidade se torna uma produção social plural, conflituosa e amparada na diferença; - Quando se fala em Identidade o que vem a mente é o (RG) – documento que nos designa como cidadãos brasileiros; - Ou identidade será aquilo que está dentro de nós, nossa essência individual, subjetividade. - Na pós- modernidade as identidades são percebidas como diversas, mutáveis e relacionadas ao contexto social; - Sujeito pós-moderno não tem uma identidade fixa, essencial; É formada e transformada continuamente; - A globalização tem o efeito de tornar essas identidades mais políticas, mais diversas, mais plurais; Menos fixas, unificadas; - Stuart Hall: identidade envolve um trabalho discursivo em torno das fronteiras simbólicas; - Para se reconhecer requer aquilo que é deixado de fora; Por exemplo: para apontar o que é ser brasileiro leva-se em conta tudo o que diz respeito ao não ser brasileiro (leva-se em conta o outro); - Um elemento importante nesse processo de identidade é a diferença; - Essa diferença é reproduzida por meio de sistemas simbólicos. Não sendo somente cultural ou étnica; - A complexidade da vida moderna exige que assumamos diferentes identidades: profissional, familiar, política, de bairro, dentre outros; - Mas, nem todas são compatíveis entre si. Por exemplo: algumas vezes as responsabilidades incorporadas na imagem da identidade familiar podem se opor aos sacrifícios exigidos pelo mercado profissional; - A identidade é fabricada por meio da diferença. Mas ela não é oposto a diferença; A identidade depende da diferença; Pós-Modernidade: - Este período é indicado como global, permeado por interconexões; - As relações sociais dependem cada vez mais de mecanismos de reencaixe que independem de nossas vontades – por exemplo dependem: dinheiro as dinâmicas de trabalho; - Zygmunt Bauman fala sobre modernidade líquida – para tratar desse momento; Num mundo onde as identidades podem ser adotadas e descartadas; Bauman dividiu a modernidade em dois períodos: 1- Modernidade Sólida: instituições centralizadas, sentimento de progresso e crença na ciência; Identidade vinculada a nação; 2- Modernidade Líquida: A incapacidade de construir uma identidade fixa, produto da insegurança presente na pós-modernidade, a identidade líquida é passageira; Disse resultam laços frouxos nas relações sociais, substituição dos relacionamentos humanos pelo consumo que transforma o “eu” “outros” em mercadorias, desapego ao espaço e tempo, individualização; Crise de identidade: - Um dos problemas envolvendo a crise de identidade é que as lealdades políticas tradicionais têm sofrido mudanças; A identidade é uma produção, não se nasce com ela; - Stuart Hall – aponta para uma crise das “velhas identidades”. Essas identidades estabilizadas estão em declínio acompanhando o processo da identidade moderna; - Tomaz Tadeu Silva – percebe essa crise, que se origina nas mudanças promovidas pela globalização, pela migração; Globalização: É uma dimensão, um efeito potencializado e radicalizado pela modernidade. - É o processo pelo qual “determinada condição ou entidade local estende a sua influência a todo o mundo; - Devemos pensar em muitas globalizações: existem diferentes conjuntos de relações sociais que dão origem a relações globais; (fenômeno complexo: econômico, social, político, cultural); - A globalização social vem promovendo desigualdades em diversos níveis das relações sociais; Outra forma de perceber a identidade em termos de globalização liga-se a ideia de identidade híbrida; O indivíduo que não permanece o mesmo, ele muda através do conhecimento de outras identidades – com isso possui uma identidade híbrida; -Teoria do Reconhecimento: Trata-se de uma corrente que transborda um campo transdisciplinar, que inclui a Antropologia, sociologia, filosofia, política; - Observam os movimentos sociais de gênero, étnicos, raciais, etários; Preocupa-se com as questões culturais; - Articula debate a questões de injustiça – Conforme Axel Honnet, processo de reconhecimento enquanto uma luta contra a injustiça; - Nancy Fraser – aponta as desigualdades vindas das relações culturais e identitárias e a necessidade de redistribuir a justiça; • Cultura: - Elemento constitutivo de muitos processos sociais; - Construção histórica apreendida socialmente; - Carrega: hierarquias, significados, sendo mutável, plural; - É construída e reconstruída socialmente através das relações sociais;