Prévia do material em texto
6 Lição 1 - Comportamento Organizacional Nesta lição vamos estudar o comportamento humano, de modo individual e coletivo, no sentido de construirmos melhores relações de trabalho, au- mentando assim a qualidade do ambiente organizacional. Ao término dessa lição, você deverá ser capaz de: a) relacionar o conceito de comportamento com organizações de trabalho; b) descrever o conceito de grupo e equipe; c) identificar maneiras de estudar os fatores motivacionais. 1. O comportamento Humano nas Organizações A interação entre aquilo que um organismo faz, o ambiente em que faz e o que é produzido a partir desse fazer, na psicologia, recebe o nome de “com- portamento”. O conceito de comportamento, segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 2010), é definido como “maneira de se comportar ou de se conduzir; conjunto de ações de um indivíduo, observáveis objetivamente”. E nas organizações, como funciona o comportamento humano? Em uma organização a maioria dos comportamentos que as pessoas apresen- tam depende do trabalho de outras pessoas, criando uma interdependência¹. 1.1 Comportamento Organizacional O comportamento organizacional é uma área de conhecimentos multidisci- plinar cujo principal foco de análise são as ações e os comportamentos das pessoas nas organizações (SOBRAL e PECI, 2008). A compreensão do comportamento organizacional é uma condição necessá- ria para que os administradores possam explicar e prever o comportamento das pessoas nas organizações. Bases do Comportamento Individual nas Organizações Observe a figura a seguir, que apresenta as bases do comportamento indivi- dual nas organizações. 1. Interdependência Relação de dependência entre um ato e outro. 7 Bases do comportamento individual Fonte: Sobral e Peci (2008) Atitudes As atitudes representam as predisposições das pessoas perante eventos, si- tuações, objetos ou outras pessoas. Podem ser avaliações favoráveis ou desfa- voráveis. São três as atitudes mais analisadas no contexto do trabalho: • Satisfação no trabalho: é a atitude positiva de um empregado com relação a seu cargo. • Envolvimento no trabalho: representa o grau de identificação do empregado com seu cargo, em termos de participação. • Comprometimento organizacional: lealdade, envolvimento e identificação com a organização. Personalidade A personalidade de um indivíduo refere-se ao conjunto de características psicológicas relativamente estáveis que o caracteriza e o diferencia de outras pessoas, e que reflete no seu comportamento. Entre os modelos que buscam identificar quais os traços de personalidade que mais influenciam o desempenho organizacional, está o modelo dos cinco fatores, que descreve a personalidade humana, com base em cinco dimen- sões: • Extroversão: até que ponto uma pessoa é sociável, comunicativa, assertiva e confortável nas relações pessoais. • Agradabilidade: até que ponto um indivíduo é tolerante, de boa índole, cooperativo e compreensivo. 8 • Senso de responsabilidade: até que ponto uma pessoa é cuidadosa, organizada, responsável, persistente e de confiança. • Estabilidade emocional: até que ponto uma pessoa é segura, calma e entusiasta. • Abertura para experiências: até que ponto um indivíduo é curioso, imaginativo e aberto intelectualmente. Percepção A percepção é o processo por meio do qual as pessoas organizam e interpre- tam suas impressões sensoriais. É um processo tanto físico como psicológico. Você já reparou que cada pessoa percebe o mesmo objeto de forma diferente? E, já que a realidade é interpretada de diversas maneiras, os comportamentos gerados também são distintos. Em resumo, a percepção dos funcionários e administradores é mais importante do que a realidade em si. Aprendizagem A aprendizagem refere-se à mudança no comportamento como consequên- cia da ex-periência (SOBRAL; PECI, 2008). A importância da aprendizagem no comportamento individual baseia-se no pressuposto de que todos os com- portamentos são aprendidos. Destacamos duas teorias que explicam o processo de aprendizagem indivi- dual: a teoria do condicionamento operante e a teoria de aprendizagem so- cial. Ambas inspiram os administradores a moldar os comportamentos de seus funcionários, privilegiando os objetivos da organização. E como isso é feito? Elogiando funcionários pelo bom desempenho ou criticando-os por al- guma insuficiência ou falha. 2. Motivação Nem sempre os objetivos individuais estão alinhados com os objetivos orga- nizacionais. É comum haver incongruências entre as necessidades dos indi- víduos e os requerimentos da empresa. Portanto, é tarefa do administrador compatibilizar os objetivos de ambos. A essa tarefa damos o nome de moti- vação. Motivação pode ser entendida como a predisposição individual para exercer esforços no intuito de alcançar os objetivos organizacionais (SOBRAL; PECI, 2008). A motivação está condicionada pela capacidade de tais esforços satis- fazerem também necessidades individuais. Indivíduos motivados se esforçam mais, porém, nem sempre na direção dos objetivos da organização. O desafio dos administradores é direcionar esses esforços para atingir as metas organizacionais. 9 Uma das teorias mais conhecidas de motivação é a Teoria da Hierarquia das Necessidades, de Abraham Maslow. Para o autor, o comportamento de uma pessoa é motivado por estímulos internos ou necessidades, entendidos como carência ou privação. As necessidades são múltiplas e classificadas em ordem hierárquica de cinco níveis, conforme a figura a seguir: Pirâmide das necessidades de Maslow Fonte: Sobral e Peci (2008) • Necessidades fisiológicas: são as necessidades básicas, como alimentação, água, oxigênio e descanso. • Necessidades de segurança e estabilidade: segurança e proteção da integridade física e emocional. • Necessidades sociais: integração, aceitação, amizade, amor, afeto e participação. • Necessidades de estima: independência, realização, liberdade, status e reconhecimento. • Necessidades de autorrealização: desenvolvimento máximo do potencial e das capacidades individuais. O ponto central da teoria – e também sua maior crítica – é o fato de que as necessidades estão vinculadas à hierarquia, ou seja, as necessidades de or- 10 dem inferior têm prioridade e precisam ser satisfeitas antes da ativação das necessidades de ordem superior. 3. Conceito de Grupo e de Equipe Em uma organização, pode haver grupos e equipes de trabalho. Um grupo de funcionários pode ser caracterizado como equipe quando compreende seus objetivos e está engajado em alcançá-los de forma compartilhada (MOSCO- VICI, 2005; ALBURQUEQUE; PUENTE-PALÁCIOS, 2004). Vamos pensar em um exemplo: um grupo de pessoas esperando o ônibus no ponto. Elas têm o mesmo objetivo: pegar o ônibus. Mas estão engajadas de forma compartilhada para conseguir tal objetivo? Não, pois uma pessoa não depende da outra para o ônibus passar. Agora vamos pensar em um grupo de funcionários que precisa distribuir os produtos para os locais corretos em determinado período de tempo. Eles têm um objetivo comum e precisam conseguir atingi-lo juntos. Esses últimos constituem uma equipe. Segundo Moscovici (2005), um grupo que se desenvolve e se torna uma equi- pe aprende comportamentos (habilidades) de diagnóstico e de solução de problemas. Essa é a característica que prevalece em uma equipe. 4.Conflitos Ainda de acordo com Moscovici (2005), são apresentadas duas modalidades de lidar com conflitos em uma organização, denominados “conjuntos de tá- ticas”. O primeiro conjunto de tática é chamado táticas de luta/fuga. O que aconte- ce quando temos duas pessoas lutando? Há competição – uma delas precisa vencer. 11 O mesmo ocorre com as táticas de luta. A pessoa identifica que há conflito e se comporta de modo a lutar contra o adversário. Agora vamos imaginar um grupo que precisa atingir o mesmo objetivo de forma compartilhada, ou seja, se desenvolver como equipe. Cada membro do grupoprecisa ajudar ao outro, pois, caso contrário, é grande a chance de que haja prejuízo para um dos indivíduos do grupo. É por isso que a tática de luta, que envolve competição, impede que o grupo se desenvolva. Na tática de fuga pode haver o uso da força para eliminar o conflito. Por exemplo: o chefe ou outra pessoa com autoridade exige que o conflito termi- ne, muitas vezes proibindo que as pessoas conversem a respeito. As pessoas envolvidas então não falam sobre suas emoções, não lidam diretamente com o conflito, ou seja, ele não deixa de existir (MOSCOVICI, 2005). É como se to- mássemos um remédio para lidar com a dor de cabeça em vez de desligar o som que nos incomoda. Outro exemplo de tática de fuga envolve deixar de conversar com o outro, evitar interação, sair do ambiente onde há conflito, entre outras maneiras de escapar do conflito. Ainda que fugir do problema seja uma maneira de ame- nizar a situação, esse é um procedimento que não resolve os conflitos, pois, em certo momento, será preciso enfrentar a realidade. As táticas de luta/fuga são as mais usadas na tentativa de lidar com os conflitos, mesmo não sendo as mais eficazes para melhorar o relacionamento. (MOSCOVICI, 2005) O segundo conjunto de táticas para lidar com conflitos em uma organização é denominada táticas de diálogo. Diferente do conjunto táticas de luta/fuga, essas são utilizadas por grupos que funcionam como equipes. A tática de apaziguamento é uma dessas táticas, e consiste na ajuda de outra pessoa para administrar o conflito de grupo. É diferente, no entanto, da tática de fuga, ela que há o uso da autoridade de outra pessoa. O conflito é dado como existente, embora às vezes não haja como eliminá-lo no momento. É então que, por meio de diálogo e com apoio de pessoas externas ao grupo, é possível pensar em uma trégua ou em um tempo para pensar em como lidar com a situação, de modo a encaminhar a situação de conflito para uma nego- ciação entre as pessoas envolvidas (MOSCOVICI, 2005). Outro componente do conjunto de táticas de diálogo é a tática de negocia- ção. Para que ela funcione, é preciso que as pessoas não estejam sob efeito de emoções fortes, em meio a uma briga ou discussão, por exemplo. Os en- volvidos então definem o objetivo da negociação: pontos de vista, diferenças de opinião, percepção, ideias e sentimentos sejam compreendidos pelo outro. Assim, é possível sugerir propostas para lidar com a situação de conflito. 12 A terceira tática que compõe as táticas de diálogo é a de confrontação, que, quando bem conduzida, transforma a discórdia em um problema que preci- sa ser resolvido por meio de colaboração entre as partes envolvidas. Alguém atua como mediador², sendo um elemento neutro que apoia a negociação. É preciso, também, que as partes envolvidas estejam em equilíbrio de poder, ou seja, não seja um chefe e um subordinado, por exemplo. Os dois lados pre- cisam estar interessados em resolver o conflito e identificar o propósito da confrontação: solucionar o conflito ou controlá-lo (assim como na negocia- ção). Por fim, a tática de resolução de problemas é outra tática componente do con- junto de táticas de diálogo. Tal tática é realizada em duas etapas: diferenciação (caracterizar as percepções e sentimentos de ambas as partes) e integração (reformular problemas existentes, estabelecer prioridades e elaborar alterna- tivas para resolvê-lo). Por meio dessa tática, fica claro para cada participante seu papel no surgi- mento, evolução e mesmo o agravamento da situação de conflito. Apesar de desagradável, Moscovici (2005) destaca que a clareza acerca de sua respon- sabilidade no conflito é fundamental para que as dificuldades sejam solucio- nadas. Saiba Mais Assista ao filme “Os Estagiários” (2013), que mostra os conflitos de gerações dentro de uma empresa que aplica a tecnologia e inovação em seu dia a dia. Exercícios Propostos 1. Assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas: I. O comportamento humano nas organizações envolve sentimentos, emoções e crenças. II. A consequência produzida pela ação de uma pessoa muitas vezes consiste na situação constituinte do comportamento profissional de outra pessoa. III. A situação com a qual uma pessoa lida em seu trabalho é, muitas vezes, produzi- da pela ação de outro funcionário. ( ) a) V – V – V ( ) b) V – F – F ( ) c) V – F – V ( ) d) F – F – F ( ) e) V – V – F 2. Mediador Pessoa que coordena a discussão de um grupo; intermediário. 13 2. Complete as lacunas das frases abaixo: Manuel trabalha em uma empresa e é responsável pela organização de documen- tos a serem lidos pelo chefe de setor. O chefe de setor, por sua vez, lida com o que constitui a ______________ do comportamento profissional de Manuel. Ou seja, o que Manuel produz em seu comportamento profissional é a ______________ que constitui o comportamento do chefe de setor. ( ) a) ação – consequência ( ) b) consequência – situação ( ) c) consequência – ação ( ) d) situação – consequência ( ) e) situação – ação 3. Assinale a alternativa correta: I. Em uma organização, é comum o trabalho de uma pessoa ser fundamental para que outra ação de outro funcionário. II. Conhecer a situação com as quais as pessoas lidam pode ajudar a entender o que elas precisam fazer em uma organização. III. Todo o comportamento apresentado por alguém em uma organização envolve a consequência do trabalho de outra pessoa. ( ) a) as afirmações I e II estão corretas ( ) b) somente a afirmação II está correta ( ) c) as afirmações I e III estão corretas ( ) d) somente a alternativa II está correta ( ) e) as afirmações II e III estão corretas 4. Assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas: ( ) Uma equipe de trabalho é um grupo que tem um objetivo comum e seus integrantes não dependem uns dos outros para atingi-lo. ( ) Uma equipe de trabalho é um grupo que tem claro os objetivos individuais das pessoas. ( ) Uma equipe de trabalho é um grupo que tem objetivos em comum e as pessoas que compõe estão engajadas para atingi-los juntas. ( ) a) V – V – F ( ) b) V – V – V ( ) c) F – V – V ( ) d) F – F – V ( ) e) V – F – F 14 5. Relacione os itens a seguir de acordo com a tática de diálogo correspon- dente: a) Apaziguamento b) Negociação c) Confrontação d) Resolução de problemas ( ) Proposição de propostas para lidar com o conflito a partir de exposição de sentimentos e pontos de vista. ( ) Há um mediador e é necessário o equilíbrio de poder entre os participantes do conflito. ( ) Cada participante tem claro seu papel no conflito, para propor maneiras de solucioná-lo. ( ) Pensar em como lidar com a situação de conflito no futuro. Ajuda de um mediador externo. ( ) a) A – B – C – D ( ) b) B – C – D – A ( ) c) B – A – C – D ( ) d) D – B – A – C ( ) e) C – A – D – B