Buscar

O estrangeiro

Prévia do material em texto

Caso Mersault
Faculdade Luciano Feijão
Curso de Direito Turma: 2019.2
Disciplina: Português Instrumental 
Prof.: Leo Mackellene
Aluno: Emanuel Rodrigues Alves
Um bom homem (Mersault), acusado injustamente de um crime no qual diante de sua inimputabilidade o cometera. Portador de uma doença rara e sua vida correndo perigo diante de uma situação de forte emoção, acaba atirando cinco vezes contra um árabe, este mesmo desafeto de seu amigo que o dera a arma (Raimundo). Diante da situação onde todos o acusam de psicopata pelo o simples fato de não ter chorado no enterro de sua mãe, se encontra em uma situação onde todos os seus direitos foram violados. A justiça acaba infringido o princípio da imparcialidade no seu caso, e favorecendo a sua condenação.
Mersault é um homem simples, solteiro, idade entre 30 e 40 anos, não possui filhos, tem um trabalho digno onde possui a confiança e respeito de todos ao seu redor, cuida de sua mãe até o ponto de reconhecer não possuir mais condições financeiras, decide com todo carinho coloca-la em um asilo para que possa em seus últimos dias de vida ser feliz, com pessoas da sua mesma faixa etária. Mersault sempre foi rodeado de amigos, saíam muito para beber, se divertirem. Logo após o falecimento de sua querida mãe, Mersault conhece Maria, uma linda moça que lhe desperta sentimentos, mas o mesmo não sabe expressar, pois a falta de demonstrar seus sentimentos é um dos seus grandes defeitos. Em um domingo Mersault decide com Raimundo (seu melhor amigo) irem à praia para a casa de um amigo de Raimundo (Masson), Mersault convida Maria e ambos passam o domingo na casa de praia de Masson. Neste dia que acontece o crime no qual Mersault está sendo acusado injustamente. Em nenhum momento Mersault demonstrou conhecer os árabes, pelo contrário, seu amigo Raimundo os conhecia e tinha desafetos com eles, justamente esse desafeto faz com que Raimundo vá armado para um dia que seria apenas de puro lazer. Essa atitude de Raimundo em convidar Mersault para a casa de Masson (no qual ele não conhecia), encontrar os árabes a caminho da mesma praia, ir armado para um dia de lazer, faz com que Raimundo tenha premeditado tudo, pois sabia da lealdade de seu amigo Mersault. 
Na praia ao se depararem com os árabes, surge a primeira atitude de premeditação a respeito do crime no qual Mersault está sendo acusado injustamente, Raimundo dá a arma para Mersault segurar, mesmo sabendo que seu desafeto (o árabe) anda armado com uma faca, essa atitude explica o seu desejo de influenciar Mersault a fazer o que ele (Raimundo) gostaria de fazer. Após toda confusão inicial, Raimundo não pede a arma de volta para Mersault. Assim, ele passa a caminhar sozinho pela praia, tentando entender o que havia acontecido, de repente encontra o árabe no mesmo local em que havia escolhido para seu descanso, os dois começam a encarar-se, e em uma aproximação de Mersault o árabe saca a faca de sua bainha e o ameaça. Mersault naquela situação de forte emoção, e em perigo de perder sua vida, saca a arma que Raimundo havia lhe dado momentos antes na primeira briga e efetua o primeiro disparo, e logo em seguida dispara mais quatro vezes. 
Mersault sempre levou uma vida monótona, sem grandes aventuras, sem crimes. O único vício que o mesmo possuía era o tabagismo, algo que 20% da população mundial fazem uso, dados da OMS (Organização mundial da Saúde). Além do tabagismo, Mersault apresenta um distúrbio chamado despersonalização, doença essa que não foi levada em conta na hora de seu julgamento, mas de suma importância para explicar algumas de suas atitudes ao longo dos fatos que antecedem e no momento do crime. A doença de Mersault de acordo com o especialista na área David Spiegel. 
O transtorno de despersonalização/desrealização é um tipo de transtorno dissociativo que consiste em sentimentos recorrentes ou persistentes de distanciamento do próprio corpo ou processos mentais, geralmente com uma sensação de ser um observador externo da própria vida (despersonalização) ou de estar desconectado de um ambiente (desrealização). Este transtorno é quase sempre desencadeado por estresse grave. O diagnóstico se baseia nos sintomas depois que outras causas possíveis forem descartadas. O tratamento consiste em psicoterapia mais terapia medicamentosa para qualquer morbidade com depressão e/ou ansiedade. (David Spiegel, MD, Stanford University School of Medicine, julho 2017)
David Spiegel, afirma que essa situação é bastante comum em 50% da população mundial, mas de forma branda, sem grandes impactos sociais, e que apenas 2% dessa população desenvolvem os critérios para a despersonalização/desrealização. Distúrbios estes que podem ser apresentados de formas mentais e físicas. A forma física se dá por meio de convulsões e movimentos de forma repetitiva, justificando o fato de Mersault após ter disparado uma vez efetuou mais quatro disparos, justamente o fato de sua musculação ter travado no movimento, ocasionado pelo o grande estresse sofrido e seu medo de morrer naquele momento.
Logo, este distúrbio mental (doença) justifica os fatos do mesmo não ter chorado no enterro de sua mãe, ter negado abrir o caixão para que pudesse despedir-se, dito para seu chefe que a morte de sua mãe não era sua culpa, negar seus sentimentos diante de Maria mesmo gostando dela, essas dificuldades de transparecer seus sentimentos fazem parte do distúrbio que o mesmo convive desde sempre. Doença essa em que nenhum momento foi citado ou solicitado por parte da defesa, mesmo que os sintomas sejam aparentes e que impactam diretamente sua vida social. Esse transtorno faz com que Mersault se aproxime de poucas pessoas, devido poucas entenderem sua condição. De acordo com o Art. 97 do código penal. “Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ”, o fato de Mersault apresentar todos os sintomas de sua doença o torna inimputável na prática do crime a qual está sendo acusado.
 Raimundo, um homem experiente nas leis da vida, se aproxima de Mersault notando suas condições frágeis e de fácil manipulação pensando em como poderia tirar proveito dessa situação. Inicialmente convida Mersault para sair, os dois bebem juntos, conversam, se divertem. Raimundo ganha a confiança de Mersault e o usa para uma briga de um antigo desafeto (o Árabe), briga antiga que não havia sido resolvida e estava esperando o momento certo para o acerto de contas. Raimundo mesmo conhecendo pouco Mersault, envolve-o na briga, dá-lhe uma arma, induzindo-o para que cometesse o crime eliminando o seu desafeto. Mesmo todas as provas apontando contra o Mersault (ao se encontrar com o árabe pela a segunda vez) onde o mesmo estava só, agiu sob legitima defesa, defendendo o seu bem mais precioso, a sua vida. Durante a briga com o árabe, o mesmo narra o fato que antecede ao crime: 
“Esta espada a arder corroía-me as pestanas e penetrava-me nos olhos doridos. Foi então que tudo vacilou. O mar enviou-me um sopro espesso e fervente. Pareceu-me que o céu se abria em toda a sua extensão, deixando tombar uma chuva de fogo. Todo o meu ser se retesou e crispei a mão que segurava o revólver. O gatilho cedeu, toquei na superfície lisa da coronha e foi aí, com um barulho ao mesmo tempo seco e ensurdecedor, que tudo principiou. ” (O estrangeiro. Pag.43)
O árabe ao puxar a navalha e se aproximar, Mersault não vê outra alternativa a não ser segurar o revolver que Raimundo o dera, mas não puxou o gatilho de imediato, os dois entraram em uma briga corporal e vendo sua vida ameaçada, disparou o primeiro tiro. Na sequência os outros disparos são justificados pelo o seu transtorno de despersonalização, onde naquele momento de pura adrenalina, raiva contínua e seus músculos não respondiam mais como queria, não conseguira se conter apenas no primeiro, repetindo mais quatro vezes. 
“De acordo com o Art.23 do código penal,II - em legítima defesa; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ”. No momento do acontecido ele agiu por legitima defesa, justamente pelo o fato do árabe está armado e se aproximado dele para desferir alguns golpes, situação essa em que se viu a necessidade de agir de forma mais forte, ocasionando os disparos. 
Mersault um homem de vida monótona, de mesma rotina, residência e emprego fixo, sem nenhum antecedente criminal, sendo acusado de um crime bárbaro, frio, sem escrúpulos. Sendo acusado de psicopata, alguém que não pode viver em sociedade apenas pelo o fato de não ter chorado no enterro de sua mãe, de não conseguir apresentar seus sentimentos por causa de uma doença que o atormenta durante toda sua vida. Outro fato importante, é durante o julgamento na parte das testemunhas. No momento do diretor do asilo não foi citado a forma como ele (o Diretor) falou assim que conheceu Mersault no velório de sua mãe, ele indagou a decisão correta de Mersault ter colocado sua mãe no asilo:
 “ O senhor não lhe podia suportar as despesas. Ela precisava de uma enfermeira. O seu ordenado é modesto. E, no fim de contas, aqui ela era feliz. Sabe o senhor, aqui ela tinha amigos, pessoas da mesma idade. Partilhava com eles motivos de interesse que são de um outro tempo. O senhor é novo, e ao pé de si, ela aborrecia-se com certeza” (O estrangeiro, pag. 2)
No testemunho de Maria percebe-se que a mesma está ameaçada dando um testemunho fraudulento incriminando Mersult. Testemunho esse citado por Maria: “De repente Maria começou a soluçar, exclamou que não era isso, que a obrigavam a dizer o contrário do que pensava, que me conhecia muito bem e que eu não tinha feito nada de mal. ” (O estrangeiro. Pag. 65). Ainda na parte das testemunhas ignoraram alguns depoimentos como no exemplo citado: 
“ Depois disso, mal ouviram Masson declarar que eu era uma pessoa honesta, (direi mesmo mais, uma excelente pessoa). Mal escutaram Salamano, quando recordou que eu fora muito bom para o cão dele e quando respondeu a uma pergunta a meu respeito, dizendo que eu metera a minha mãe no asilo porque já não tinha nada a dizer-lhe. ”
Diante dos fatos apresentados, de acordo com o código penal brasileiro, coagir testemunhas é crime: Art. 344 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40 “Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral”. Sendo assim, o testemunho de Maria deveria ter sido retirado do processo.
Com tudo isso, podemos observar que outros casos foram justos em sua decisão ao inocentar o réu por sua inimputabilidade, como no caso:
Tribunal do Júri de Ceilândia absolveu Israel Luan Alves Pêgo da acusação de tentativa de homicídio mediante o uso de faca, no dia 14 de dezembro de 2015, no interior de um trailer, em Ceilândia. Em plenário, o Ministério Público sustentou a pronúncia, requereu a diminuição de pena por conta da semi-imputabilidade, entendendo que o acusado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato e pediu a substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança, na forma do art. 98 do Código Penal.
Mersault, além de ser inimputável apresenta legítima defesa em sua acusação no crime, fatos esses que não foram levados em conta no Tribunal.
Em dado momento Mersault afirma a injustiça que está ocorrendo pelo simples fato de não como as outras pessoas da sociedade, por ter a infelicidade de julgado no mesmo dia em que um criminoso de alta periculosidade estava presente no banco dos réus, muitos jornalistas presentes para acompanhar esse caso e que acabara dando ênfase ao caso Mersault também. Mersault em um tom de desabafo, afirma:
“Que importava se, acusado de um crime, era executado por não ter chorado no enterro da minha mãe? O cão de Salamano valia tanto como a mulher dele. A mulher autômato era tão culpada como a Parisiense que não se casara ou como Maria, que queria que eu casasse com ela. Que importava que fosse meu amigo, ao mesmo título que Celeste valia mais do que ele? Que importava que oferecesse hoje a sua boca a um novo Meursault? Compreendia, ele este condenado? E que do fundo do meu futuro. Anunciavam possivelmente partidas para um mundo que me era para sempre indiferente. Pela primeira vez, há muito tempo, pensei na minha mãe. Julguei ter compreendido porque é que, no fim de uma vida, arranjara um "noivo", porque é que fingira recomeçar. Também lá, em redor desse asilo onde as vidas se apagavam, a noite era como uma treva melancólica. Tão perto da morte, a minha mãe deve ter-se sentido libertada e pronta a tudo reviver. Ninguém, tinha o direito de chorar sobre ela. Também eu me sinto pronto a tudo reviver. ” (O estrangeiro. Pag.84 e 85)
Essas palavras finais citadas por Mersault, colocam em ponto o quanto estava indignado diante da injustiça sofrida, julgado por um crime de autodefesa, mesmo com o seu distúrbio ocasionando aquele momento triste. O fato de ter atirado contra o árabe as outras quatro vezes tenha sido o seu fato condenatório, mas que não exclui o redutor de pena prevista no artigo 33 da Lei 11.343/2006, onde: “O dispositivo diz que deve ter abatimento de um sexto a dois terços a pena imposta ao réu que é agente primário, tem bons antecedentes, não se dedica ao crime nem pertence à organização criminosa. ”
Dispositivos esses que não foram permitidos o seu uso, negando a Mersault o seu simples direito a defesa. Mersault em nenhum momento passou por exames psicológicos que comprovassem a sua doença, a arma que o mesmo nunca havia manuseado e que pertencia a outra pessoa, a testemunha que foi coagida pelo o advogado de acusação, fatores esses que precisam ser melhores analisados e destrinchados, permitindo assim a imparcialidade no julgamento. O crime de Mersault foi muito visado pelo o fato de esta sendo julgado no mesmo dia que um grande psicopata e grande bandido procurado que ali estava presente (parricida). Todos os jornais estavam presentes e ao observar a história de Mersault, notaram uma oportunidade de matéria para os mesmos, ajudando a modificar a opinião pública de acordo com o que publicara, no caso o acusando mais fundo. 
Diante dos fatos e argumentos apresentados Mersault é inocente, e deve ao mínimo responder o seu processo em liberdade, e que todas as provas sejam levadas em consideração, havendo assim a imparcialidade no julgamento.
REFERÊNCIAS
https://teses.ufs.br/handle/riufs/5917
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=PENA+MINIMA.+REU+PRIMARIO
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10628361/artigo-98-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10595529/artigo-344-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637476/artigo-23-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=82614
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637167/artigo-26-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10628559/artigo-97-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-dissociativos/transtorno-de-despersonaliza%C3%A7%C3%A3o-desrealiza%C3%A7%C3%A3o
“ O Estrangeiro” Camus Albert 5º Edição

Continue navegando