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Dedico este trabalho primeiramente а Deus, pоr ser essencial em minha vida, ao meu esposo Danilo, аоs mеυs filhos Lavínia e Heitor, aos meus pais Lourival e Lucinete e аоs meus irmãos.
Dedico também а todos os tutores qυе mе acompanharam durante а graduação, еm especial ао Tutor Anderson е à Tutora Rose responsáveis pala realização deste trabalho.
agradecimentos
A Deus por permitir essa grande conquista
A toda minha família, pelo carinho, paciência, dedicação e compreensão da minha ausência. 
A todos os meus amigos e tutores que auxiliaram no meu trabalho direta ou indiretamente, dando-me força e ajudando nos momentos difíceis.
A todos vocês, meu muito obrigado!
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi analisar qual o desafio do Serviço Social frente à violência doméstica contra a mulher, para tanto se embasou em pesquisas bibliográficas, as quais nortearam os estudos. Na busca desse objetivo, o presente estudo visou refletir sobre as questões de gênero no Brasil, discutir a importância da implementação da Lei 11.340/2006 e de programas de proteção social às mulheres e analisar o desafio do Serviço Social frente à violência doméstica sofrida pelas mulheres. A hipótese proposta afirma que o assistente social no atendimento à mulher vítima de violência doméstica se depara no cotidiano institucional com o desafio de intervir para que essa mulher vença seus medos e se reconheça como cidadã de direitos, isso porque é de suma importância entender qual esse grande desafio. 
Palavras-chave: Violência doméstica. Mulher. Gênero. Serviço Social. Política Pública.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
07
2. AS QUESTÕES DE GÊNERO NO BARSIL
10
2.1 A VIOLÊNCIA DECORRENTE DAS QUESTÕES DE GÊNERO
14 
2.2 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL
16 
2.3 TIPOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER
19 
2.4 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER
22 
3. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER X LEI MARIA DA PENHA
25 
3.1 DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
30 
3.2 PRINCIPAIS EFEITOS DA LEI
31 
4. SERVIÇO SOCIAL FRENTE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
36 
4.1 PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL
39 
5. CONSIDERAÇÕES GERAIS
42 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
47
1. INTRODUÇÃO
Os altos índices de violência contra as mulheres em todo o Brasil não deixam dúvidas quanto à necessidade do enfrentamento organizado que deve ser feito a essa pratica vergonhosa, bem como as mudanças de comportamento e atitudes da sociedade frente à violência sofrida pela mulher e o reconhecimento dos seus direitos. 
O presente estudo buscou identificar os desafios do Serviço Social frente à violência doméstica contra a mulher. Para tanto, foi necessário realizar uma análise fundamentada nas seguintes categorias teóricas: Violência doméstica, Mulher, Gênero, Políticas Públicas e Serviço Social.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) registrou, em 2014, por sua Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), quase 46 mil relatos de violência contra a mulher, o que representou 12,5% dos atendimentos, que incluem pedidos de informação, prestação de serviços, reclamações, sugestões e elogios. Do total de relatos de violência, cerca de 25 mil (53,9%) referiam-se à violência física e mais de 15 mil (33,2%) relatavam violência psicológica, enquanto 876 (1,4%) eram casos de violência sexual.
Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2015 revelou que a cada 15 segundos uma mulher é espancada; 01 (uma) em cada 05 (cinco) mulheres diz já ter sofrido algum tipo de violência doméstica e em 70% dos casos de violência contra a mulher o agressor é o marido ou o companheiro, sendo este tipo de violência a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos; os maridos são responsáveis por mais de 50% dos assassinatos de mulheres e, em 80% dos casos, o assassino alega defesa da honra.
Na contemporaneidade, com o contexto de desigualdade e o avanço do sistema neoliberal, a violência contra a mulher passa a compor o rol dos agravos da questão social, tornando-se então, objeto de intervenção do Serviço Social. Diante do exposto, surgiu a seguinte problemática: Qual o desafio do Serviço Social no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica?
Partiu-se da hipótese que o assistente social no atendimento a mulher vítima de violência doméstica se depara no cotidiano institucional com o desafio de intervir para que essa mulher vença seus medos e reconheça-se como cidadã de direitos.
O objetivo geral do presente trabalho foi analisar qual o grande desafio do Serviço Social no atendimento as mulheres vítimas de violência doméstica. Os específicos foram: Analisar as questões de gênero no Brasil; identificar a violência decorrente das questões de gênero; sistematizar os tipos e formas de manifestação da violência doméstica contra a mulher; entender qual o papel do Serviço Social frente a essa violência; examinar a Lei Maria da Penha e seus principais efeitos.
A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, através de um levantamento bibliográfico, cujos dados coletados serviram de norte teórico, para assim obter uma maior compreensão sobre a temática abordada. Foi utilizada a técnica de revisão bibliográfica, através de leituras e análises das produções e embasados através das seguintes fontes bibliográficas: revista cientifica, artigos científicos, livros acadêmicos, dentre outros. Todos os dados foram analisados a partir da perspectiva histórica critica.
O tema é de grande importância para a categoria, uma vez que é de suma importância analisar a pratica profissional do Serviço Social diante da violência doméstica contra a mulher. É importante também para a sociedade, pois necessário se faz entender esse processo de violência doméstica contra a mulher, onde cada vez mais mulheres começaram a brigar por seu espaço em um processo de luta, resistência e consciência, visando erradicar todas as formas de violência e preconceito contra as mesmas, pois essa violência contra a mulher faz parte dos recursos de poder utilizados pelos homens para manter os privilégios e os benefícios que a milenar cultura machista lhes tem assegurado. 
Os motivos que levaram a escolha do tema foram: a motivação em analisar o grande desafio do Serviço social frente à violência doméstica contra a mulher; a inquietação em analisar a Lei Maria da Penha e seus impactos na sociedade Brasileira; bem como o desejo de mostrar a importância do Serviço Social diante desse tema contemporâneo, uma vez que o profissional de Serviço Social tem em seu objeto de estudo a questão social, sendo essa violência uma forma de expressão dessa questão social que precisa ser enfrentada.
O trabalho foi estruturado em três capítulos: O primeiro abordou as questões de gênero no Brasil, evidenciando a violência decorrente das questões de gênero e seus tipos e formas de manifestação; O segundo capítulo relatou a importância da lei Maria da Penha, os direitos fundamentais da mulher e os principais efeitos da lei; e por fim, o terceiro e último capítulo ressaltou o papel do Serviço Social frente a violência doméstica contra a mulher, analisando qual o seu papel e desafio na contemporaneidade.
Por tudo isso esse trabalho torna-se relevante, pois permite um amplo debate sobre as questões de violência sofrida pela mulher no Brasil e o desafio do Serviço Social diante desse grande problema contemporâneo.
2. AS QUESTÕES DE GÊNERO NO BRASIL
A sociedade é preconceituosa.Dentre os muitos preconceitos, está o preconceito contra a mulher enraizado culturalmente na ideologia patriarcal e, que situa as mulheres em desigualdade aos homens. Uma das consequências destas relações hierárquicas entre os gêneros pode ser a violência moral ou, física. Eis que temos um ditado popular de muito mau gosto “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. A violência que a mulher sofre é tema de interesse científico por contribuir para os estudos das políticas em saúde da mulher, e programas que ofereçam maior visibilidade à igualdade entre os gêneros. Diversas áreas do conhecimento escolhem estudar o tema para em suas pesquisas apontar possíveis soluções, ou explicações do fato. A psicologia, a antropologia são exemplos de disciplinas que abordam o tema. Mas, também é de interesse prático para a sociologia por afetar todo o desenvolvimento nas relações da sociedade como um todo. 
Nos anos 1980 os teóricos dão início aos estudos na questão do gênero compreendido como uma construção social dos conceitos de masculino e do feminino. Estes estudos refletem as mudanças sociopolíticas do país sendo também parte das conquistas do movimento das mulheres que através de passeatas e denúncias abrem espaço para a busca dos seus direitos e expressam sua indignação com a situação desigual que a mulher enfrentava. Assim, este movimento ocorre no mesmo período do processo da redemocratização no Brasil. 
Em 1988 a Constituição assegura alguns direitos às mulheres bem como a outros setores sociais. Em 1985 foi criada a primeira delegacia da mulher no Brasil e no mundo, localizada no Estado de São Paulo e nasce da luta do movimento feminista. A delegacia fica com a responsabilidade de proteger a mulher em caso de violência, 11 estupro e lesões causadas a ela. 
A partir deste momento as Convenções da ONU reconhecem formalmente os direitos das mulheres como direitos humanos com a intenção em prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher. A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou em 1999 que 25 de Novembro é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. Antes disso, 1975 foi declarada o Ano Internacional da Mulher.
Pesquisas realizadas sobre a violência de gênero, além da produção teórica também contribuem para a formulação de estratégias e políticas públicas para o seu combate. As pesquisas realizadas pela ONU, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou a América Latina como um dos lugares mais violentos do mundo. E no Brasil, segundo dados da ONU a violência de gênero, a doméstica e sexual está em alta devido neste país à impunidade ser comum.
Na sociedade contemporânea, ser mulher implica em uma série de desafios que não se trata apenas de estabelecer relações de igualdade entre os gêneros, mas também de entender essas relações.
O advento da Constituição Federal de 1988 concedeu as mulheres brasileiras um avanço significativo no que diz respeito a igualdade, equiparando homens e mulheres e garantindo as mesmas novos direitos e conquistas. Isto porque estudos apontam que as constituições brasileiras inicialmente eram omissas aos direitos da mulher.
Segundo Miranda (2010, p.24) com o advento da Constituição de 1988 homens e mulheres definitivamente adquirem a igualdade, conforme estabelece o artigo 5º:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.
Porém, todas essas conquistas adquiridas com a chegada da Constituição Federal de 1988 não garantiram a total emancipação das mulheres brasileiras, uma vez que, a sociedade ainda é marcada pelo tradicional modelo patriarcal, machista, que idealiza a pessoa do sexo masculino como um ser “superior” a pessoa do sexo feminino. 
Miranda (2010, p. 3) reflete: “As sociedades, inclusive a brasileira ainda diferencia o papel do homem e da mulher, mostrando que o homem detém o poder público e a mulher o poder privado ou doméstico, ligando à mulher as funções de esposa, mãe e dona do lar”.
Para falar das relações de gênero, é de suma importância entender que gênero é um conceito em constante transformação. Porém, o que fora adotada nessa pesquisa considerou esse como relações de poder entre homens e mulheres, sobre forte influência do que a cultura local dita e tenta modelar, sobre como portar-se, pensar, agir, entre outros. Esses modelos pré estabelecidos pela sociedade são dicotômicos, e desencadeiam uma série de preconceitos que cada vez mais recobre a vida principalmente das mulheres, já estas são quem sofrerem os priores tipos de preconceitos e discriminação.
O termo gênero na avaliação de Teles e Melo (2003, p.16) é utilizado para:
 Demonstrar e sistematizar as desigualdades socioculturais existentes entre mulheres e homens, que repercutem na esfera da vida pública e privada de ambos os sexos, impondo a eles papéis sociais diferenciados que foram construídos historicamente, e criaram pólos10, de dominação e submissão. Impõe-se o poder masculino em detrimento dos direitos das mulheres, subordinando-as às necessidades pessoais e políticas dos homens, tornando-as dependentes.
O século XX, especialmente em sua segunda metade, foi marcado por grandes transformações econômicas, sociais e culturais, as quais redefiniram os papeis de homens e mulheres na sociedade, especificamente nos espaços público e privado. De modo geral, houve uma significativa transformação nos padrões até então estabelecidos e diversas restrições formais no que tange à autonomia feminina foram sendo eliminadas não só no Brasil, mas em todo o mundo.
No Brasil essas relações de desigualdades começam a ficar cada vez mais evidentes quando os movimentos feministas começam a brigar para impor o espaço nas esferas públicas e privadas, dando assim uma maior visibilidade as lutas pela inserção e igualdade da mulher na sociedade, no mercado de trabalho e nos espaços de poder e decisão.
Para entender melhor a situação do mercado de trabalho feminino no Brasil, Bruschini, (2000, p. 35) afirma:
No Brasil, a situação da mulher no mundo do trabalho revela-se marcada por elementos de continuidade e mudanças. Os fatores de continuidade expressam-se na concentração das mulheres em empregos de menor remuneração no setor de serviços e particularmente no segmento informal e mais desprotegido do mercado de trabalho. De outro lado, como expressão de mudanças, aumentou a participação de mulheres em ocupações não-manuais de melhor remuneração, em cargos de comando, profissões de prestígio e mesmo como proprietárias de negócios no comércio e em serviços. As discrepâncias de gênero de rendimentos persistem, apesar do progresso ocupacional, sendo que as diferenças de ganhos não podem ser atribuídas a diferenças em termos de números de horas trabalhadas e escolaridade, devendo ser creditadas aos processos de discriminação. 
Nesse mesmo sentido Oliveira (2003, p.135) ressalta, 
Estudo dos efeitos da composição por gênero das ocupações sobre os salários mostra que persiste no Brasil uma penalidade salarial para aqueles que estão inseridos em ocupações tipicamente femininas, sendo que essa penalidade se mostra mais forte para as mulheres do que para os homens. A análise temporal do período que vai de 1981 a 1999 revelou uma tendência de aumento do hiato salarial de gênero. 
Apesar do Sistema Patriarcal Ocidental reconhecer gradativamente toda a diversidade biológica, social e cultural dos seres humanos e a partir desta problemática criar declarações e pactos específicos para as mulheres, ainda persiste na contemporaneidade uma desigualdade de gênero alarmante e assustadora, que não condiz com os avanços da sociedade contemporânea, principalmente a sociedade brasileira. 
Segundo o Fórum Econômico Mundial ao divulgar orelatório e ranking 2011 do Global Gender Gap, que mede o índice mundial de desigualdade de gênero através da análise da participação de homens e mulheres em quatro áreas temáticas consideradas fundamentais: participação econômica, educação, saúde e poder político, dos 134 países estudados, o Brasil ocupa atualmente o 82º lugar. Desde 2006, quando foi feito o primeiro estudo, o Brasil se classificou como 67º no ranking dos países mais igualitários, e desde então o que se observou foi a queda nessa posição: 74º (2007), 73º (2008), 81º (2009), 85º (2010). É importante ressaltar que este atual resultado coloca o Brasil em último lugar entre os países da América do Sul, ou seja, é impressionante que por maior que o Brasil seja economicamente e politicamente na região, quando se trata de garantir a igualdade entre homens e mulheres, está em uma desvantagem assustadora quando comparado aos países vizinhos.
Esses dados citados acima comprovam que o papel social da mulher ou homem não é definido pela anatomia, ou seja, pela simples diferenciação na formação do corpo do homem e da mulher e sim pela cultura. Isso porque é a cultura quem define o comportamento que deve ser seguindo por ambos os sexos, qual padrão “normal” a seguir, e qual o papel masculino e o feminino a ser seguido pela sociedade. 
Embora os diversos avanços obtidos ao longo dos anos, a inserção da mulher em espaços antes dominados exclusivamente por homens, além da inclusão desta nos espaços de poder e decisão, ainda existe uma distância discordante quando se trata de igualdade em direitos para homens e mulheres. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) se não houver interrupções e retrocessos nas ações já iniciadas, a igualdade entre homens e mulheres só será alcançada em 2490.
Essa posição de dominação do homem sobre a mulher, alimentada por diversos anos, se traduz algumas vezes em atos de violência, uma vez que o homem educado em uma cultura machista se comporta como autoridade máxima, obrigando-a a seguir suas determinações e preceitos, tornando-a submissa ao mesmo.
No próximo subitem será pertinente analisar a violência decorrente das questões de gênero, uma vez que mesmo na contemporaneidade essa desigualdade entre homens e mulheres ainda persiste, independentemente de classe social, religião, etnia, raça e idade.
2.1 A VIOLÊNCIA DECORRENTE DAS QUESTÕES DE GÊNERO
Foi muito sugestivo falar de gênero, já que o mesmo desencadeia uma série de desigualdades nas relações de poder entre homens e mulheres, onde este poder é delegado exclusivamente ao sexo masculino, uma vez que a cultura patriarcal influência diretamente neste processo de dominação e discriminação e um sexo sobre o outro, principalmente sobre aquele sexo considerado frágil por diversos segmentos da sociedade. 
Essa variabilidade entre os sexos geram a chamada violência de gênero, presente em diversos lares, e problemática que virou questão de saúde e utilidade pública, onde segundo a compreensão de Teles e Melo (2002, p.18) se configura da seguinte maneira:
[...] uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da mulher. Demonstra que os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos e indica que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim do processo de socialização das pessoas[...] A violência de gênero pode ser entendida como ‘violência contra a mulher’[...]. 
Essa violência de gênero para SOUZA (2007, p.35) se generalizou como: 
[...] uma expressão utilizada para fazer referência aos diversos atos praticados contra mulheres como forma de submetê-las a sofrimento físico, sexual e psicológico, aí incluídas as diversas formas de ameaças, não só no âmbito intrafamiliar, mas também abrangendo a sua participação social em geral, com ênfase para as suas relações de trabalho, caracterizando-se principalmente pela imposição ou pretensão de imposição de uma subordinação e controle de gênero masculino sobre o feminino. A violência de gênero se apresenta, assim, como um ‘gênero’, do qual as demais, são espécies.
Por ser considerada “inferior” pela cultura patriarcal machista, a mulher era obrigada a seguir as determinações que lhe era imposta pela figura masculina em sua família, fazendo com que esta não tivesse poder de decisão e autonomia sobre sua própria vida. 
Na ótica de Mello (2007, p.03), o mesmo destaca: 
[...] a mulher era tida como um ser sem expressão, uma pessoa que não possuía vontade própria dentro do ambiente familiar. Ela não podia sequer expor o seu pensamento e era obrigada a acatar ordens que, primeiramente, vinham de seu pai e, após o casamento, de seu marido. 
Fato este que coloca a mulher em uma posição de subordinação e submissão ao homem, e faz com que este reconheça a mulher como “propriedade” exclusiva sua. Porém quando não consegue obter por total o seu objetivo, ou seja, toda essa dominação que almeja, o mesmo a violenta, transgredindo assim todas as leis que protegem as mulheres. 
A violência de gênero independe de classe social, e está ligada a ideia de submissão e pertencimento da mulher como "propriedade" única e exclusivamente do homem.
A violência contra a mulher é um tema contemporâneo, decorrente principalmente das desigualdades nas relações de poder estabelecidas entre homens e mulheres, assim como da discriminação de gênero ainda presente e persistente na sociedade brasileira. Porém, sabe-se que esta questão não é recente, mas foi evidenciada apenas no século XIX com a constitucionalização dos direitos humanos e após as constantes lutas e militância dos movimentos feministas em todo o país. 
Após análise sobre a violência decorrente das questões de gênero, no próximo subitem, será abordada a violência doméstica contra a mulher, evidenciando a questão social.
2.2 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL
A violência engloba qualquer ato já cometido bem como ameaças que causam inibição, coação e acima de tudo agressão à integridade física e moral de qualquer ser humano, sendo assim prejudicado. A violência ocorre tanto em circunstância do ato com força física, moral, ou verbal. A violência é um fenômeno social que afeta diretamente as relações pessoais e interpessoais da sociedade.
A superação da violência contra a mulher consiste na predominância das relações pautadas pela compreensão dos atos do ser humano. A prevenção da violência se dá pela educação e formação de valores como a ética, a coerência, com o objetivo de modificar o comportamento do ser humano em sociedade para assim conviver melhor com seu próximo. 
Falando na violência podemos destacar também o conceito de agressão e conflito. A violência pode ser decorrente da fragmentação cultural e social assumir como causa a economia, política e as falhas do Estado. 
O desemprego e a pobreza, por exemplo, não se tornam a primeiro momento uma violência, mas irão alimentar frustrações causadas por tais fatores. Assim, a violência torna-se objeto de estudo da sociologia, e sente necessidade em distinguir os problemas e percepções subjetivas de suas realidades históricas da sociedade. 
Podemos afirmar que a violência resulta da desigualdade e dominação daquele que, encontra-se com a subjetividade frustrada. E para combatê-la devemos resgatar os valores morais e éticos, buscar uma modificação nos papéis sociais, da condição da mulher na família e na sociedade como um todo.
Para analisar a violência doméstica contra a mulher, parte-se do pressuposto que a cultura brasileira ainda reflete características das relações patriarcais e de poder, onde era atribuído o papel de “inferior” a mulher, colocando-as em posição de subordinação, onde durante muito tempo a mulher foi considerada como objeto, um sujeito social com pouco ou praticamente nenhum direito e por esse motivo a mesma deveria sofrer inúmeros tipos de violência, já que não poderia adentrar em espaços públicos, tão pouco decidir sobreseu corpo, sua vida, o melhor caminho a seguir. 
Desse modo, para manter as desigualdades hierárquicas existentes e então garantir obediência e subalternidade de um sexo a outro, a mulher era submetida a uma dominação inescrupulosa, em face do casamento. 
A grande ocorrência de violência doméstica contra a mulher no Brasil não está associada somente aos precedentes de desigualdade social, cultural e de pobreza. Está ligada também e principalmente ao preconceito, ao abuso de poder e à discriminação desenfreada que coloca a mulher em uma situação de vulnerabilidade social.
Para se ter uma dimensão da reprodução dos comportamentos violentos baseados no gênero, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estima que, entre 2009 e 2011, o Brasil registrou cerca de 16,9 mil feminicídios. Ainda de acordo com a mesma pesquisa, a Bahia é o segundo estado da federação mais perigoso para as mulheres, registrando uma taxa de 9,08 casos a cada 100 mil mulheres.
Essa violência se configura como uma expressão da questão social, que para Carvalho & Iamamoto (1991, p.77), é definida como:
[...] as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão.
Essa questão social citada acima é nutrida pela exploração das classes subalternas e pelo avanço desenfreado do sistema capitalista neoliberal, tornando assim as classes paupérrimas refém dos seus agravos, que são configurados e traduzidos em violência, pobreza, desigualdade, entre outros. Por esse motivo, a violência doméstica contra a mulher é considerada uma expressão da questão social.
Essas relações de violência doméstica contra a mulher têm por base não só a ideia de inferioridade da mulher, mas também a influência do moderno sistema capitalista e neoliberal que persiste em definir o homem como ser produtivo de maior importância, enquanto que a mulher é o sexo “frágil”, apenas uma parte complementar.
Segundo Porto (2007, p. 18-19), 
Nas classes mais desfavorecidas, a violência na família é resultado do baixo nível educacional, da tradição cultural machista e patriarcal, do desemprego, da drogadição e do alcoolismo. Também ocorre nas classes economicamente superiores, estando relacionada também à parte desses fatores. 
A violência contra a mulher chegou a um patamar tão elevado, que passou a ser considerado um grande problema de saúde pública, como ressalta Giulia (2000, p. 26-27).
O direito das mulheres a uma vida livre de violência é um enunciado exigente e urgente. Não se refere a um tratamento de exceção que afirma a sua natural vulnerabilidade. Em sua formulação tratou-se, apropriadamente, de revelar, e como conseqüência, corrigir a falta de proteção de exceção que jurídica e institucionalmente vêm tendo os direitos humanos das mulheres. Em sua conceituação, ratificam-se direitos humanos de aplicação universal e se reconhecem como violações a estes um conjunto de atos lesivos que até então não tinham sido apreciados como tais. É um direito que repõe o princípio de igualdade, fazendo com que tudo o que seja violento, prejudicial e danoso para as mulheres seja considerado como ofensivo para a humanidade. 
No início do século XXI, pode-se notar uma avalanche de atos de violência doméstica contra a mulher. Tal fato sempre existiu, porém acredita-se que só ganhou visibilidade quando a mídia passou a divulgar diversos casos, após serem aprovadas legislações em favor do direito da mulher. Essa violência destacada afeta e recobre a vida de milhares de mulheres brasileiras em seus mais variados estágios de desenvolvimento, acarretando prejuízos, na maioria das vezes, prejuízos irreversíveis.
É válido destacar que são múltiplas as formas pelas quais a violência doméstica contra a mulher se manifesta. De fato, o próprio conceito definido pela Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida popularmente como Convenção de Belém do Pará (2004) em seu Art. 1º aponta para esta amplitude, definindo violência contra as mulheres como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”.
Já em seu Art. 2º essa Convenção dispõe que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica, explicadas nessa ordem abaixo:
Ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência, incluindo-se, entre outras formas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual; Ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local; e perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.
A violência doméstica não é marcada apenas pela violência física, embora essa seja mais evidente já que deixa marcas visíveis. Porém a violência doméstica é marcada por diversas outras formas como fora citada anteriormente, tais como a violência psicológica, sexual, patrimonial, moral, dentre outras, onde no Brasil atinge um número significativo de mulheres, as quais vivenciam frequentemente estes tipos de agressões principalmente no âmbito familiar, em um espaço que deveria ser apenas de amor e proteção, mas que passa a ser um local de dor, medo, insegurança e risco. 
Conforme Maria Amélia Teles, diretora da União de Mulheres de São Paulo, a violência contra a mulher é o fenômeno mais “democraticamente” distribuído na sociedade, isso porque atinge todos os continentes, diversas classes sociais, distintos grupos etários, étnicos e raciais. Contudo, a maior parte dessas agressões é executada por homens que possuem algum tipo de convívio ou já possuíram com as vítimas. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase metade dos assassinatos de mulheres são cometidos principalmente pelo marido, namorado ou companheiro, seja atual ou ex e isso se tornou um grave problema de saúde pública. Os assassinatos representam cerca de 7% de todas as mortes de mulheres de 15 a 44 anos no mundo.
A seguir, serão feitas reflexões acerca dos tipos e forma de manifestação da violência doméstica contra a mulher.
2.3 TIPOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER
A violência na contemporaneidade recobre a vida de milhares de mulheres brasileiras, não importando a condição social, econômica, etnia, faixa etária, entre outros e se expressa nas mais variadas formas.
De acordo com a Lei 11.340 de 07 de Agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, em seu Capítulo II no Artigo 7º, são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher:
I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danos emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, quea impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
V – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
VI – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Dente os tipos de violência doméstica contra a mulher, a considerada mais comum e mais frequente é a violência física, que consiste em qualquer conduta que ofenda a integridade física da mulher. Essa percepção de violência mais comum e mais constante é alimentada principalmente pelo fato de que as agressões físicas marcadas pelos tapas, socos, chutes, pontapés, punhaladas, estrangulamentos, torturas, queimaduras, entre outros, deixam marcas que são percebíveis por qualquer pessoa que se aproxime ou faça parte do círculo de amizades dessa mulher violentada.
Porém, a violência psicológica abrange um grande número de mulheres, que por sua vez muitas nem se dão conta que sofrem este tipo de violência. São humilhações, depreciação, rejeição, humilhação, desrespeito, diminuição da autoestima, da motivação e do auto imagem feminina, entre outros que não deixam marcas físicas, mas deixam cicatrizes emocionalmente que a mulher ira levar consigo para o resto da vida, e ainda podem causar danos por vezes irreversíveis à saúde da mulher.
Para fundamentar esta afirmação, Miller (1999, pag. 20) afirma:
A violência física em toda a sua enormidade e horror não é mais um segredo. Entretanto, a violência que não envolve dano físico ou ferimentos corporais continua num canto escuro do armário, para onde poucos querem olhar. O silêncio parece indicar, que pesquisadores e escritores não enxergam as feridas que não deixam cicatrizes no corpo, e que as mulheres agredidas não fisicamente, tem medo de olhar para as feridas que deixam cicatrizes em sua alma. 
Essa violência psicológica que atinge a mulher ainda é pouco percebida pela sociedade e até pela mulher vitimada, isso por que ela não deixa marcas “visíveis” como a violência física, porém a proporção dos danos causados por esse tipo de violência é muito grande e assustadora, causando problemas psicológicos que podem levar a consequências sérias, e até ter fins trágicos se a mesma não tiver tratamento correto e adequado. 
Para uma compreensão maior sobre a violência psicológica, Dias (2007, p.48) afirma:
Violência psicológica é a proteção da autoestima e da saúde psicológica, consiste na agressão emocional (tão ou mais grave que a física). O comportamento típico se dá quando o agente ameaça, rejeita, humilha ou discrimina a vítima, demonstrando prazer quando vê o outro se sentir amedrontado, inferiorizado e diminuído, configurando a vis compulsiva.
A violência psicológica desestabiliza o equilíbrio pessoal da mulher, proporciona uma queda na sua autoestima e na motivação pessoal feminina, prejudicando sua autoimagem e produzindo assim um dano silencioso que com o passar do tempo vai se agravando e provocando danos sérios, silenciosos e por vezes irreversíveis.
Segundo Ballone (2008) muitos não sabem, mas a violência psicológica normalmente se dá concomitante à violência verbal. Alguns agressores verbais dirigem suas ofensas não apenas à sua companheira, mas contra outros membros da família, incluindo momentos quando estes estão na presença de outras pessoas estranhas ao lar.
Outra forma de violência que produz danos silenciosos à saúde da mulher é a violência moral, que consiste em xingamentos, ofensas, desqualificação, ou qualquer tipo de ação que consiga diminuir o conceito que a mulher tem de si mesma e/ou ainda afete a imagem da mulher diante da sua família, da comunidade ou grupo que convive.
A manutenção da violência doméstica contra a mulher é ocasionada principalmente pelo silêncio, que atua como recurso de consentimento e proporciona a impunidade, impunidade esta que permite que outras situações de violência ocorram. 
É importante ressaltar que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a violência doméstica contra a mulher é considerada um problema de saúde pública, pois afeta não só a integridade física, mas incide também de forma silenciosa na saúde mental. 
No próximo item serão abordadas as formas de manifestação da violência doméstica contra a mulher, pois é de suma importância entender não só os tipos, mas a forma como está cruel violência se manifesta.
2.4 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER
As formas de manifestação da violência doméstica contra a mulher se alicerçam na cultura da submissão, no medo, na dependência econômica, no significado dos papeis sociais impostos a homens e mulheres reforçados por culturas patriarcais, que estabelecem relações de violência entre os sexos. 
Segundo Machado e Gonçalves (2003, p.289) entre as formas de manifestação da violência doméstica contra a mulher, ressaltam-se:
Coagir e ameaçar: Ameaçar provocar lesões na pessoa da vítima; ameaçar abandonar, suicidar-se, queixar-se do cônjuge à Segurança Social; Coagir para prática de condutas ilícitas.
Intimidar: Atemorizar a propósito de olhares, atos, comportamentos; partir objetos; destruir pertences ou objetos pessoais do outro; maltratar os animais de companhia; exibir armas.
Usar violência emocional: Desmoralizar; Fazer com que o outro se sinta mal consigo próprio; Insultar; Fazer com que o outro se sinta mentalmente diminuído ou culpado; Humilhar.
Isolar: Controlar a vida do outro: com quem fala, o que lê, as deslocações; limitar o envolvimento externo do outro; usar o ciúme como justificação.
Minimizar, negar, condenar: Desvalorizar a violência e não levar em conta as preocupações do outro; afirmar que a agressão ou a violência nunca tiveram lugar; transferir para o outro a responsabilidade pelo comportamento violento; afirmar que a culpa é do outro.
Instrumentalizar os Filhos: Fazer o outro sentir-se culpado relativamente aos filhos; usar os filhos para passar mensagens; aproveitar as visitas de amigos para atormentar, hostilizar; ameaçar levar de casa os filhos.
Utilizar “Privilégios machistas”: Tratar a mulher como criada; Tomar sozinho todas as decisões importantes; ser o que define o papel da mulher e do homem.
Utilizar a violência Econômica: Evitar que o outro tenha ou mantenha um emprego; forçar o pedido de dinheiro; fixar uma mesada; apossar-se do dinheiro do outro; impedir que o outro conheça ou aceda ao rendimento familiar.
Diante de todos esses dados, percebe-se que nos dias atuais faz-se necessário que a mulher se reconheça como cidadã de direitos, não aceitando nenhuma forma de dominação determinada pelo homem e impondo sua inserção total e justa na sociedade. 
Ainda persiste na contemporaneidade pensamentos e comportamentos machistas, não só reproduzidos por homens, mas por algumas mulheres, que acreditam que a cultura de submissão a qual a mulher foi vitima por árduos anos ainda deve prevalecer. É uma realidade dura, que precisa ser enfrentada dia-a-dia, com uma constante sensibilização para que a mulher consiga por total sua emancipação.
Porém, trabalhar a questão da inserção de igualdade dos sexos é um problema secular, já que desafiar o poder patriarcal alimentado pela cultura machista remete a um processo árduo de politização, sensibilização e reeducação da mulher. Processo este, que deve ser trabalhado paulatinamente, visto que emocionalmente nem todas estão prontas para esta realidade.
Ainda há no Brasil inúmeras mulheres sem condições emocional e financeira para denunciarem seu agressor. Logo, essa decisão torna a Lei mais rigorosa na punição aos agressores. Porém, o combate ao fenômeno da violência contra a Mulher não é função exclusiva do Estado, a sociedadetambém precisa se conscientizar sobre sua responsabilidade, no sentido de não aceitar a conviver com esse tipo de violência, pois, ao se calar, ela contribui para a perpetuação da impunidade.
3. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER X LEI MARIA DA PENHA
O presente capítulo trata da violência doméstica contra a mulher, enfocando a importância da Lei 11.340/96, conhecida como Lei Maria da Penha, que se tornou um marco histórico na luta pelo enfrentamento dessa violência e na garantia dos direitos dessas mulheres vitimadas.
O Brasil não tinha uma lei especifica para atender as mulheres vítimas de violência doméstica, as mesmas eram amparadas pela Lei 9.099/1995, a qual regula apenas os crimes de menor potencial ofensivo, onde a pena do agressor resultava na maioria dos casos em prestação de serviços à comunidade ou em doação de cestas básica a entidades assistenciais. Com essa punição branda, grande parte dos agressores voltava a praticar violência contra sua companheira e para muitas a denúncia não representava nenhum tipo de mudança em sua vida e por esse motivo muitas ficavam retraídas em procurar uma delegacia, até mesmo porque nesse ambiente não se sentiriam acolhidas.
Diante da morosidade da Justiça brasileira, a até então desconhecida Maria da Penha Maia Fernandes, em parceria com o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), denunciou a omissão do Brasil junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) (caso n.º12.051/OEA). Então, a OEA reconheceu a grave lacuna deixada pelo Estado brasileiro no que diz respeito aos direitos da mulher, principalmente os direitos da mulher vitimada e responsabilizou o mesmo pela lacuna deixada, pela negligência e omissão em relação à violência doméstica contra a mulher.
Houve, portanto uma recomendação (relatório n.º 54/2001) para que o país realizasse uma profunda reforma legislativa com o fim de combater, efetivamente, a violência doméstica praticada contra a mulher. Diante disso, o governo federal brasileiro atendeu à recomendação da OEA e deu início ao processo legislativo, com o objetivo de implementar medidas para contribuir na prevenção e combate à violência doméstica contra as mulheres, sancionando então pelo até então presidente Luís Inácio Lula da Silva, a Lei 11.340/2006, dando-lhe o nome de Lei Maria da Penha em homenagem a essa grande mulher guerreira, a qual se tornou um marco histórico no enfretamento de todas as formas de manifestação da violência contra a mulher.
Então, em 07 de agosto de 2006, a Lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal. Essa lei dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal, e ainda estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Segundo Cavalcante (2007, p. 29):
A Lei “Maria da Penha” atribui à mulher tratamento diferenciado, promovendo sua proteção de forma especial em cumprimento às diretrizes constitucionais e aos tratados ratificados pelo Brasil, tendo em vista que, a mulher é a grande vítima da violência doméstica, sendo as estatísticas com relação ao sexo masculino tão pequenas que não chegam a ser computadas.
Mas a Própria Lei enfrenta desafios para ser cumprida, isto porque considera o comportamento machista de alguns delegados e juízes, a precariedade das delegacias especializadas, que não são tão especializadas como deveria ser, com uma boa estrutura e pessoas qualificadas trabalhando nelas, às vezes estão tão longe do padrão estabelecido que as mulheres não se sentem à vontade para fazer a denúncia. A situação é mais complicada nas cidades consideradas pequenas que não existe a delegacia “especializada” para atender casos de violência contra as mulheres e estes são tratados nas delegacias comuns, as quais não possuem nenhum tipo de preparo para acolher de forma efetiva, eficaz e eficiente essas mulheres. 
A Lei Maria da Penha define a violência física, como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde física da mulher, deixando em aberto todas as possibilidades que aí possam se enquadrar, pois esse tipo de violência pode se manifestar das mais variadas formas, como, por exemplo, através de: tapas, empurrões, socos, mordidas, chutes, queimaduras, cortes, estrangulamento, lesões por armas ou objetos, entre outras. 
O produto desta violência é tipificado, conforme art. 129 do Código Penal Brasileiro, como lesão corporal, podendo, de acordo com a extensão dos danos causados, ser considerada: 
a) leve, que não deixa nenhum tipo de sequela na vítima; 
b) grave, quando a lesão deixa a pessoa incapacitada para o trabalho por mais de 30 dias; quando ocasiona perigo de vida; quando provoca debilidade permanente de membro, sentido ou função do corpo da pessoa; ou quando ela provoca aceleração do parto; 
c) gravíssima, quando a lesão deixa a pessoa permanentemente incapacitada para o trabalho; quando a lesão provoca enfermidade incurável; quando ela provoca perda ou inutilização de membro, sentido ou função do corpo da pessoa; quando provoca deformidade corporal permanente; ou ainda, quando ela provoca aborto.
De acordo com a Secretária Especial de Políticas para as mulheres (2006, p.09-13) a Lei Maria da Penha traz inúmeras inovações, dentre as quais destacam-se: define a violência doméstica e familiar contra as mulheres; estabelece as formas da violência doméstica contra as mulheres como física, psicológica, sexual, patrimonial e moral; proíbe as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas); garante a notificação às mulheres quando do ingresso e saída do agressor da prisão; altera o código de processo penal para possibilitar ao juiz a decretação da prisão preventiva quando houver riscos à integridade física ou psicológica das mulheres; altera a lei de execuções penais para permitir o juiz que determine o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação; prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial para os casos de violência doméstica contra a mulher; permite a autoridade policial prender o agressor em flagrante sempre que houver qualquer das formas de violência doméstica contra a mulher; registra o boletim de ocorrência e instaura o inquérito policial (composto pelos depoimentos da vítima, do agressor, das testemunhas e de provas documentais periciais); remete o inquérito policial ao Ministério Público; pode requerer ao juiz, em 48h, que sejam concedidas diversas medidas protetivas de urgência para a mulher em situação de violência; solicita ao juiz a decretação da prisão preventiva com base na nova lei que altera o código de processo penal. O juiz poderá conceder, no prazo de 48h, medidas protetivas de urgência (suspensão do porte de armas do agressor, afastamento do agressor do lar, distanciamento da vítima, entre outras).
Em relação à Violência Doméstica e Familiar, percebe-se que apesar dos inúmeros avanços ocorridos no campo da legislação ao longo dos tempos e sobretudo através das diversas políticas públicas e ações com foco no combate e ao enfrentamento da violência contra as mulheres, ainda continuam crescente o inúmero os casos que ocorrem apontando as mulheres como vítima dos mais diversos tipos de violência.
Além de todas essas inovações, em 09 de Fevereiro de 2012 o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente a ação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a Lei Maria da Penha, em que a ação penal pública não mais será condicionada exclusivamente para a mulher vitimada, ou seja, o Ministério Público está autorizado a denunciar o agressor, mesmo que a vítima não manifeste o desejo, vontade e/ou necessidade de fazer uma queixa formal contra quem a agrediu.
Isso representa um avanço significativopara as conquistas femininas, visto que ainda há no Brasil inúmeras mulheres sem condições emocional e financeira para denunciarem seu agressor. Logo, essa decisão torna a Lei mais rigorosa na punição aos agressores.
De acordo com Pinafi (2007, p.05),
O combate ao fenômeno da violência contra a Mulher não é função exclusiva do Estado; a sociedade também precisa se conscientizar sobre sua responsabilidade, no sentido de não aceitar a conviver com esse tipo de violência, pois, ao se calar, ela contribui para a perpetuação da impunidade. Faz-se urgente a compreensão, por parte da sociedade como um todo, de que os Direitos das mulheres são Direitos Humanos, e que a modificação da cultura de subordinação calcada em questões de gênero requer uma ação conjugada, já que a violência contra a mulher desencadeia desequilíbrios nas ordens econômica, familiar e emocional.
Segundo a Senadora Marta Suplicy (2014) na maioria das vezes a mulher está presa financeiramente e/ou psicologicamente ao seu parceiro e não tem condição psicológica alguma de fazer essa denúncia. Agora felizmente não tem mais essa de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Hoje, mete sim. Ninguém quer ver a mulher apanhar e a sociedade, hoje, está num processo civilizatório.
Então, cabe a toda a sociedade a responsabilidade de denunciar todo e qualquer ato de violência contra a mulher, mesmo que a vítima sinta-se inibida de denunciar seu agressor, ou que por qualquer outro motivo não deseje realizar essa denúncia.
Segundo a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Nilma Lino Gomes (2015) essa mudança na Lei é uma vitória das famílias, pois não poderá ter uma família harmoniosa onde tenha uma mulher violentada. É injusto querer manter uma harmonia falsa, onde a mulher é violentada e se cala e continua a ser vítima todos os dias, ou uma vez por semana ou uma vez por mês.
Os dados sobre violência doméstica contra a mulher no Brasil são assustadores, de acordo com dados do Ministério da Justiça, a cada duas horas uma mulher é assassinada no país, a cada quinze segundos uma mulher é agredida e em quase 70% dos casos, quem espanca ou mata a mulher é o namorado, marido ou ex-marido. Impressionante saber que das mulheres que procuraram o Sistema Único de Saúde (SUS) em 2014 para tratar ferimentos, 68% afirmaram que o agressor estava dentro de casa.
De acordo com dados homogêneos da Organização Mundial de Saúde (OMS) compreendidos entre 2006 e 2010, mais um retrocesso é apresentado quando fica evidenciado que o Brasil é o 7º (sétimo) que mais mata mulheres no contexto de 84 países no mundo, ficando atrás apenas de países como El Salvador, Guatemala, Rússia e Colômbia. 
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Sangari em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) de 1980 a 2010, foram assassinadas no país cerca de 91 mil mulheres, 43,5 mil só na última década. De acordo com a mesma pesquisa os estados brasileiros com as taxas mais elevadas de violência contra as mulheres são o Espírito Santo, Alagoas e o Paraná. Dentre as capitais, as maiores taxas estão na Região Norte: Porto Velho, Rio Branco e Manaus. 
O gráfico a seguir mostrará os dados assustadores dos homicídios de mulheres no Brasil.
Gráfico 01
Fonte: SIM/SVS/MS *2010: dados preliminares
O próximo item tratará das medidas protetivas de urgência, medidas estas que as mulheres vitimadas podem solicitar para lhes garantir proteção dos seus agressores.
3.1 DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA 
O Art. 22 da Lei “Maria da Penha” dispõe sobre as medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor, na qual juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, a saber:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
 V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
Já o Artigo 23 prescreve sobre as Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida, onde o juiz poderá, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; 
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; 
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; 
IV - determinar a separação de corpos. 
O próximo subcapítulo de fundamental importância para compreender todo o processo, tratará os principais efeitos da Lei Maria da Penha, desde sua criação em 2006 até os dias atuais.
3.2 PRINCIPAIS EFEITOS DA LEI 
A Lei Maria da Penha em pouco mais de oito anos conseguiu resultados importantes e significativos no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher. 
Segundo dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) através da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), desde a criação dessa central em abril de 2006 até junho de 2011, foram registrados 1.952,001 atendimentos. Destes, 434.734 registros se referem apenas a informações sobre a Lei Maria da Penha (11.340/06), o que corresponde a 22,3% do total das ligações. Dentre os estados brasileiros que procura esse serviço, a Bahia está em segundo lugar na procura dos serviços oferecidos pela central 180 com 32.044 ligações, perdendo apenas para São Paulo com 44.499.
O Conselho Nacional de Justiça divulgou dados de julho de 2010, que revelaram que desde a vigência da Lei Maria da Penha, 331.796 processos foram distribuídos. Desses, 110.998 foram sentenciados, foram decretadas ainda 1.577 prisões preventivas, 9.715 prisões em flagrante e 120.99 audiências designadas. Dos procedimentos realizados: 93.194 medidas protetivas, 52.244 inquéritos policiais e 18.769 ações penais.
Os dados acima mostram o tamanho da eficácia da Lei Maria da Penha, que está mudando a vida de milhares de mulheres brasileiras que foram vitimadas e tiveram coragem de decretar sua liberdade e sua autonomia, denunciando seus agressores.
Contudo, muita coisa ainda precisa ser feita, pois os dados mostram os avanços obtidos no enfrentamento da violência doméstica, e permite perceber que esta manifestação dolorosa ainda não foi cessada e que para seu total enfrentamento a caminhada será árdua. 
Em 2000 existiam 304 Delegacias Especializadas em Atendimento a Mulher, destas 02 ficavam localizadas no Estado da Bahia. Atualmente a realidade é outra e existe em todo o Brasil cerca de 500 delegacias especializadas em atendimento a mulher para mais de cinco mil municípios, o que ainda é número pequeno diante da realidade gritante e emergente da violência doméstica no Brasil. Porém apenar deste número ser pequeno, este conseguiu levar diversas mulheres a decretarem sua total liberdade e autonomia, livre de toda humilhação, agressão, submissão, dentre outras. 
No estado da Bahia são 15 Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher, localizadas nas cidades: Alagoinhas, Barreiras, Camaçari, Candeias, Feira de Santana, Jequié, Juazeiro, Itabuna, Ilhéus, Paulo Afonso, Porto Seguro, Teixeira de Freitas, Salvador (Periperi e Engenho Velho e Brotas) e Vitória da Conquista.
O gráfico a seguir mostra a quantidade no Brasil de Delegacias Especializadas no Atendimento à mulher.
Gráfico 02
Fonte: Secretaria de Políticas para as Mulheres (2012)
Onde não há uma unidadeespecializada, o atendimento à mulher é improvisado nas delegacias da região, onde estas não dispõem de um atendimento adequado e os policiais com quem a vítima tem o primeiro contato nem sempre estão preparados para realizar o atendimento sem invadir, sem induzir e sem julgar a vítima.
A Bahia conta com dois Serviços de Saúde Especializados para o Atendimento dos Casos de Violência Contra a Mulher, esse serviço dispõe de equipes multidisciplinares (psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos) capacitados para atender aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher e de violência sexual. São o IPERBA e a Maternidade Climério de Oliveira, ambos situados na cidade de Salvador.
Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher são órgãos da Justiça ordinária com competência cível e criminal, responsáveis por processar, julgar e executar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, no estado da Bahia existem apenas dois: Vara de Violência Doméstica e Familiar, situada em Feira de Santana e 1ª Vara de Violência Doméstica contra a Mulher da Bahia localizada em Salvador.
Na Bahia existe ainda uma Promotoria Especializada do Ministério Público, que pode mover ação penal pública, solicitar que a polícia civil inicie ou dê prosseguimento às investigações e solicitar ao juiz a concessão de medidas protetivas de urgência nos casos de violência contra a mulher, podendo ainda fiscalizar os estabelecimentos públicos e privados de atendimento à mulher em situação de violência. 
Segundo dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres o Brasil conta com a seguinte rede de enfrentamento à violência contra a mulher: 215 Centros Especializados de Atendimento à Mulher em Situação de Violência; 500 DEAM - Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher; 117 Postos/Núcleos/Seções de Atendimento à Mulher nas Delegacias Comuns; 233 Serviços de Saúde Especializados para o Atendimento dos Casos de Violência Contra a Mulher; 51 Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; 48 Varas Adaptadas de Violência Doméstica e Familiar; 38 Promotorias Especializadas/Núcleos de Gênero do MP; 64 Núcleos/Defensorias Especializados de Atendimento à Mulher; 01 Núcleo da Mulher na Casa do Migrante; 208 Centros de Referência de Atendimento à Mulher; 05 NIAM/NUAM - Núcleos (Integrados) de Atendimento à Mulher; e 72 Casas-abrigo.
As Casas Abrigo ainda representam uma dissonância na Legislação Brasileira, isso porque a Lei Maria da Penha estabelece em seu Art. 3º que: Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. 
Logo, seria contraditório que a mulher fosse obrigada a viver escondida nas casas-abrigo, já que a Lei Maria da penha garante que a mesma terá direito à liberdade. 
Porém, as Casas Abrigo foram criadas para receber a mulher que corre risco de morte iminente e não tem para onde ir, ou seja, são locais seguros que além de oferecem abrigo protegido, oferecem também atendimento integral (psicossocial e jurídico) as mulheres em situação violência domésticas, acompanhadas ou não de seus filhos/as. 
Os tipos de serviços ofertados pelas Casas abrigo são: atendimento psicológico, escola para os filhos, atendimento jurídico, capacitação profissional, serviços médicos, terapia ocupacional, programas de acesso à moradia e ajuda financeira após o desligamento.
As Casas Abrigo é um serviço de caráter seguro, sigiloso e temporário, no qual as usuárias poderão permanecer por um período de 90 a 180 dias, mas caso solicite, a mesma pode permanecer por mais tempo para então reunir condições necessárias para retomar o curso de suas vidas. Porém, apesar de necessária, essas Casas Abrigos representa uma contradição, pois se a violência cometida foi através de seu companheiro, quem deveria estar isolado do mundo era ele e não a mulher.
Ao adentrar nas Casas Abrigos, uma mudança significativa logo é notada na aparência física da mulher abrigada, a mesma passa a se cuidar, explorar sua vaidade, isso se traduz no resgate da mulher aos seus desejos, anseios, sonhos e vontades, que durante muito tempo esteve encoberto e sufocado pelo seu marido ou companheiro. 
Nesses serviços de enfrentamento e apoio as mulheres vitimadas, encontram-se atuando profissionais que tem por objetivo a total inserção da mulher na sociedade, com foco na igualdade de direitos, no princípio constitucional de toda e qualquer forma de manifestação da Liberdade. São profissionais que ganharam papeis distintos e importantes para compor essas redes de enfrentamento. Dentre estes profissionais destacam-se: Assistentes Sociais, Psicólogos, delegados, entre outros.
O próximo capítulo tratará do desafio para o profissional de Serviço Social frente a esse contexto de violência doméstica contra a mulher, já que a violência doméstica contra a mulher é uma manifestação da questão social que ainda persiste na sociedade contemporânea e é alimentada pela cultura machista e pelo sistema neoliberal.
4.O SERVIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
Este capítulo trata do Serviço Social frente à questão da violência doméstica contra a mulher, visto que essa violência é um fenômeno social que deve ser defrontado através de um conjunto de ações e estratégias políticas.
O avanço desenfreado do sistema neoliberal e a consequente desresponsabilização do Estado frente as suas atribuições na garantia dos direitos dos cidadãos, tem contribuído diretamente na redefinição da atuação do profissional de Serviço Social, uma vez que este profissional trabalha diretamente no enfrentamento das manifestações da questão social.
O profissional de Serviço Social tem como objeto de trabalho o enfrentamento da questão social e suas múltiplas expressões, que se configuram através da precarização das relações de trabalho, da violência, da má distribuição da renda, entre outros.
No contexto da violência doméstica contra a mulher, o profissional de Serviço Social, inserido no espaço sócio ocupacional da Área Jurídica, a partir do seu cotidiano institucional desenvolve ações que tem por objetivos a sensibilização das mulheres vitimadas, para que estas se reconheçam como sujeito de direitos, então, os assistentes sociais nesse contexto direcionam suas ações com o objetivo de proteger e orientar estas mulheres vítimas de violência, a buscarem seus direitos e decretar sua liberdade. Segundo YAZBEK (1999, p. 150) “o assistente social é o intermediador direto tanto no atendimento concreto às necessidades apresentadas, como responde pelo componente socioeducativo que permeia a produção dos serviços assistenciais”.
Já segundo Baptista e Battini (2009, p.30), 
[...] o assistente social será capaz de atuar e direcionar os problemas advindos de uma sociedade machista e patriarcal que envolve a questão de gênero, e com ela a desigualdade entre homens e mulheres, todavia a perspectiva que o profissional assume face à realidade é o que fornece as bases para sua ação. 
O profissional de Serviço Social, conforme o seu Código de Ética, tem suas ações profissionais comprometidas com o ideal da emancipação humana, da “defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo” (BONETTI, 1998, p. 218). 
Neste sentido, é de se esperar que no cotidiano profissional esteja presente o compromisso com a superação da violência contra a mulher, e que o exercício profissional seja propositivo, comprometido e crítico, visando assim a aproximação com a demanda, para então fazer com que as mulheres vítimas de violência doméstica elevem sua autoestima e reconhecem-se como sujeito de direito, garantindo assim a sua emancipação.
Na atuação profissional em espaços que atendem mulheres vítimas de violência doméstica, o trabalho do Assistente Social consiste em contribuir diretamentepara mudar a trajetória de vida da demanda, fazendo com que estas vençam seus medos e reconheçam-se como cidadãs de direitos. 
Diante do exposto, Iamamoto (2004, p.272) traz a seguinte reflexão:
O assistente social não trabalha com fragmentos da vida social, mas com indivíduos sociais que se constituem na vida social em sociedade e condensam em si a vida social. As situações singulares vivenciadas pelos indivíduos são portadoras de dimensões universais e particulares das expressões da questão social, condensadas na história de vida de cada um deles. O conhecimento das condições de vida dos sujeitos permite aos assistentes sociais dispor de um conjunto de informações que, iluminadas por uma perspectiva teórico crítica, possibilitam apreender e revelar as novas faces e meandros da questão social, que desafia a cada momento o desempenho profissional: a falta de atendimento às suas necessidades na esfera da saúde, educação, habitação, a assistência; nas precárias condições de vida das famílias; na situação das crianças de rua; no trabalho infantil, na violência doméstica, entre inúmeros exemplos.
A mulher espera de seu companheiro amor, proteção, carinho e quando este nega a ela esses sentimentos e respeito passando a agredi-la moralmente, fisicamente e/ou sexualmente, a mesma sente-se totalmente desolada, desamparada, com sua autoestima baixa. Dada essa realidade a vitimada precisa sensibilizar-se compreendendo que a violência não é uma condição para a sua vida, e que a mesma tem autonomia plena sobre sua vida, sobre seu corpo, seus desejos e suas vontades.
Para Tavares e Pereira (2007, p.419-420),
Intervir junto destas mulheres em situação de violência doméstica consiste elaborar estratégias visando ao seu fortalecimento, a sua resistência aos atos de desigualdade que vivenciam, buscando o resgate da cidadania, da autonomia, da autoestima, da participação destas no contexto social contemporâneo que se apresenta. Aumentar o poder pessoal destas usuárias é também reconhecer, através da ação investigativa, que a fragilização vivenciada pelas mesmas compreende as perdas materiais, subjetivas e valorativas, em razão dos processos de exclusão e violência que sofrem cotidianamente. Proporcionar resistências a elas, seria conferir poder a cada uma, percebendo-as como sujeitos que trazem e constroem uma perspectiva histórica.
O profissional de Serviço Social deverá então perceber e reconhecer a situação em que se encontra a vítima da agressão, realizando seu processo de trabalho com uma postura ética, sem agredir, sem invadir, sem induzir toda e qualquer decisão da mulher vitimada. 
No atendimento as mulheres vítimas de violência doméstica o assistente social deverá levar em conta a singularidade de cada usuária, a sua história de vida, sua vida familiar, respeitando-a impreterivelmente, já que seu agressor é a pessoa que ela considera “o amor da sua vida” e sempre esperou deste carinho, proteção e amor.
Como afirma Bertani (1993, p. 49):
O assistente social tem como função observar, propor, atuar e até exercer pressão no inter relacionamento entre sistema social e pessoas, realizando práticas técnicas e administrativas, contribuindo efetivamente no processo proporcionando real benefício às pessoas que utilizam à instituição.
É necessário que o assistente social saiba valorizar o ponto de vista das mulheres vitimadas sobre o processo que a mesma vivencia, de forma que seja dada a essa o poder de decisão, tratando-a sujeito e agente de sua história. Será uma construção conjunta, onde o profissional de Serviço Social dará subsidio para que a usuária sinta-se segura para seguir em frente.
O atendimento por mais humano que seja não pode se limitar à execução de tarefas burocráticas e a contribuição do profissional de Serviço Social se dá na medida em que se reflete a condição da mulher vitimada, tratando-a com empatia, de forma que a mesma sinta-se respeitada e perceba que a negação do seu direito à liberdade imposta por seu companheiro está sendo rompida e superada no momento em que esta encontra suporte e subsidio para denunciar seu agressor. 
Desse modo, as ações dos profissionais de Serviço Social são direcionadas para orientar estas mulheres vítimas de violência a buscarem seus direitos. E ao tratar das manifestações e enfrentamento da questão social, coloca a cidadania, a defesa, preservação e conquista de direitos, como foco de seu trabalho. 
4.1 PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL 
O objetivo principal da abordagem deste item é refletir sobre a importância do papel do profissional de Serviço Social na construção da cidadania de mulheres que sofrem violência doméstica.
A mulher ao sofrer qualquer tipo de violência doméstica sente-se fragilizada, com sua autoestima baixa e algumas ainda encontra-se estagnadas na relação com seu companheiro e/ou agressor, isso pela dependência emocional e/ou material. E, uma vez agredida, na maioria delas internaliza-se um medo que consegue inibir todo e qualquer tipo de iniciativa, até mesmo de denunciar seu agressor. 
O primeiro passo, e o mais importante é a mulher reconhecer e perceber que aquela violência sofrida não é uma condição para sua vida e que ela pode dar um basta nessa situação. Segundo dados do Instituto Avon em 2011 dois são os principais motivos para elas não denunciarem seu agressor: falta de condições econômicas para se sustentar (27%) e falta de condições para criar os filhos (20%).
Porém, reconhecendo toda a situação de fragilidade que envolve a mulher nesse momento é necessário que ela procure ajuda em locais apropriados, onde poderá contar com profissionais capacitados para entender e auxiliar na resolução desse problema. 
O atual contexto neoliberal e a presente globalização exigem a todo momento do profissional de Serviço Social uma constante capacitação, que lhe permita acompanhar e dinâmica da realidade na qual o mesmo se encontra inserido, ou seja, o profissional precisa estar antenado com as transformações da sociedade para poder então atuar com propriedade no enfrentamento da questão social e suas mazelas. 
Na cena contemporânea, segundo Iamamoto (2009, p.12):
O exercício da profissão exige um sujeito profissional que tenha competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais. Requer ir além das rotinas institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade, as tendências e possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo profissional, desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho.
E nesse contexto que o Serviço Social através de sua função sócio educativa contribui diretamente para a emancipação da mulher, direcionando sua pratica de forma propositiva, critica e comprometida com a demanda.
Nessa perspectiva, Iamamoto (2009, p.06) afirma:
Os assistentes sociais realizam assim uma ação de cunho socioeducativo na prestação de serviços sociais, viabilizando o acesso aos direitos e aos meios de exercê-los, contribuindo para que necessidades e interesses dos sujeitos sociais adquiram visibilidade na cena pública e possam ser reconhecidos, estimulando a organização dos diferentes segmentos dos trabalhadores na defesa e ampliação dos seus direitos, especialmente os direitos sociais. Afirma o compromisso com os direitos e interesses dos usuários, na defesa da qualidade dos serviços sociais.
Então, ao Serviço Social por ser uma profissão de caráter sócio político e sócio educativo, cabe intervir no conjunto de desigualdades geradas pelas relações de poder entre o capital e a classe trabalhadora, que ocasionam na Questão Social e seus agravos. 
Contudo, o assistente social precisa ser crítico, propositivo e interventivo, e estar apto para desempenhar seu papel orientando, questionando, desenvolvendo estratégias e encaminhando as usuárias para serviços que possam atender suas necessidades com eficiência e eficácia. 
O primeiro passo, a ser dado ao se deparar em seu atendimento com uma mulher vitimadaé o acolhimento humanizado, evitando assim a banalização ou negação, bem como o juízo de valores. Porém, em muitos atendimentos principalmente em delegacias que não são especializadas em atendimento à mulher, é notado um atendimento desumanizado, fazendo com que a vítima se frustre e desacredite nos serviços de proteção.
É indispensável também que o assistente social durante todo o período de atendimento à mulher vitimada, esteja utilizando uma escuta respeitosa, garantindo a esta à segurança de que naquele espaço ela está sendo ouvida, entendida e respeitada. 
É necessário que o profissional de Serviço Social estabeleça vínculos de apoio e confiança com a mulher vitimada, respeitando o seu tempo, os seus limites e as suas decisões, visto que, a mesma espera encontrar nas redes atendimento todo o suporte necessário superar a violência sofrida. 
No atendimento à mulher vitimada, o assistente social precisa responder a demanda apresentada com competência técnica, utilizando seus instrumentos em concordância com as dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa. De acordo com Carvalho & Iamamoto (2005) essas dimensões não podem ser desenvolvidas separadamente, caso contrário o profissional de Serviço Social irá cair nas armadilhas da fragmentação e da despolitização, tão presentes no passado histórico do Serviço Social.
A violência doméstica contra a mulher é uma problemática não só social, mas de saúde também, já que os constantes atos de violência trazem consequências graves à saúde feminina, que por vezes podem ser irreversíveis. E ao profissional de Serviço Social cabe nesse contexto o desafio de intervir para que a mulher vença seus medos e entenda que só ela pode dar um basta nesse abuso e nessa violência inescrupulosa. 
O cotidiano institucional é o espaço oportuno e privilegiado, que oferece os desafios e os limites para a execução da ação profissional, proporcionando ao assistente social exercer a sua pratica, conhecer a demanda e fazer as possíveis intervenções, sempre respaldado em seu código de ética e utilizando suas competências profissionais, para assim dar subsidio para a execução de uma pratica comprometida, propositiva e critica.
Para uma atuação efetiva e comprometida, os profissionais de Serviço Social no enfrentamento da violência doméstica precisam estar capacitados para “decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo” (IAMAMOTO, 1998, p.20).
O Serviço Social, enquanto profissão interventiva torna-se fundamental nesse processo de fortalecimento das usuárias em diferentes dimensões, fazendo com que estas através da constante sensibilização percebam a importância da preservação e manutenção da dignidade de sua existência. 
Assim, no cenário atual de atendimento à mulher vítima de violência doméstica o assistente social é agente intermediador, que tem contribuído de maneira significativa para tirar essas vítimas do processo de baixa autoestima, de angústia, de depressão, de ansiedade, de desordem de estresse pós-traumático, entre outras, fazendo com que esta possa exercer sua cidadania plena e sentir-se livre e respeitada.
5. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Nos últimos vinte anos a sociedade brasileira reconheceu a violência doméstica contra a mulher como um problema público e não apenas privado. Décadas atrás a violência doméstica ficava restrita ao lar, não sendo questionada por quem a presenciava, só mais tarde este silêncio foi rompido, devido às conquistas do movimento feminista e às publicações de autores que dedicaram suas reflexões sobre a violência cometida contra a mulher. 
A divulgação das pesquisas sociais, a publicação de livros e artigos pode evitar o domínio patriarcal. Assim, este estudo também pode contribuir para uma mudança nas relações sociais da contemporaneidade.
Medidas efetivas, multidisciplinares, das áreas médicas, jurídicas, econômicas, sociais e de líderes comunitários, serão fundamentais na prevenção da violência contra a mulher. Mudar o comportamento social e cultural da sociedade não será fácil, mas com muito trabalho e medidas educativas que busquem a conscientização, a população ganhará novas forças para dizer não a violência doméstica e conjugal.
As pesquisas e reflexões realizadas ao longo do desenvolvimento do presente trabalho permitiram responder os questionamentos levantados com relação ao desafio do profissional de Serviço Social frente à violência doméstica contra a mulher.
Observou-se durante as pesquisas realizadas que a violência contra a mulher é alimentada principalmente pela cultura machista, que impõe uma cultura de submissão e dita papeis distintos aos sexos na sociedade. O capitalismo também influência nesse processo de reprodução da “inferioridade” do ser feminino, reforçando esta ideia quando refere ao ser masculino como mais produtivo que o ser feminino.
A mulher espera do seu marido ou companheiro principalmente sentimentos como cuidado, amor, carinho e principalmente proteção. Porém o que se percebe é que em algumas situações a pessoa até então designada a cuidar, amar e proteger, se torna o agente que de fato proporciona situações de intensa dor, agressão e humilhação.
A militância pelo fim das desigualdades de gênero deverá continuar arduamente, com constante e persistente sensibilização de toda a sociedade, para por fim a cultura machista que coloca a mulher em uma posição de submissão, subordinação e de inferioridade, que proporciona para a vida da mesma, inúmeros tipos de violência.
Na luta pelo enfrentamento de todas as formas de manifestação da violência doméstica contra a mulher, os movimentos feministas a partir da década de 70 surgem como os pioneiros na luta por igualdade de gênero. O Brasil por sua vez, não possuía uma legislação que atendesse a enorme demanda da violência doméstica com eficácia, o que tornava a denúncia da mulher violentada ineficaz, já que o agressor não poderia ser preso em flagrante e a mulher não seria protegida, já que crimes contra a mulher eram considerados como crimes de menor potencial ofensivo.
Esse fato tornou a impunidade presente na vida de muitas mulheres vitimadas por anos, até que finalmente em 07 de Agosto de 2006 foi sancionada pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva a Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha.
Essa Lei mudou a Legislação Brasileira, estabeleceu medidas protetivas de urgência à mulher, tornou mais eficaz a punição para os agressores e redefiniu os papéis sociais de muitas profissões, dentre as quais se destacam os assistentes sociais.
Apesar dos avanços conquistados através da Lei Maria da Penha, ainda existe um número alarmante de mulheres que são vitimadas todos os dias, dentro do seu próprio lar e não conseguem denunciar o seu agressor. Algumas se encontram presas financeiramente, outras emocionalmente e algumas nem se dão conta de que estão sendo violentadas, pois desconhecem todos os tipos e formas da violência doméstica.
O objetivo do homem ao violentar sua companheira ou esposa é a intimidação e o controle social de sua vida. A mulher tinha que obedecer inicialmente ao seu pai e após o casamento a mesma devia subalternidade ao seu marido ou campanheiro, este considerava a mulher sua proriedade e quando percebia que não estava tendo todo o dominio de julgava ter, a violentava como forma de mostrar seu poder sobre a vida da mesma. 
Os constantes atos de violência provocam inúmeros agravos à saúde da mulher, tanto agravos físicos como mentais, dentre esses agravos destacam-se: baixa auto estima, medo, sentimento de culpa, isolamento social, depressão, anciedade, dentre outros agravos que podem provocar danos além de silenciosos, irrecuperáveis.
A violência física é quela que provoca danos visíveis, fato este que torna esse tipo de violência mais facil de ser identificado e consequentemente denunciado, já que com a mudança na configuração da Lei Maria da Penha permite

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