Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Disciplina: Fisiologia humana Aula 2: Comunicação neural e sentidos gerais Apresentação Na aula passada, tivemos a oportunidade de estudar como os sistemas orgânicos buscam, de maneira dinâmica e integrada, um estado relativo de constância do meio interno, bem como analisamos basicamente como o ocorre a organização, divisão e funcionamento do sistema nervoso (SN) para buscar esse estado de equilíbrio. (AIRES, 2012, p. 234) Os neurônios se organizam em cadeias celulares de transmissão e processamento de informações. Um simples ato motor, como o movimento de uma pessoa para atender ao chamado de um familiar, requer uma magnitude de trabalho complexo e coordenado pelo SN. (LENT, 2004, p. 76) Por esse motivo, as células nervosas e musculares são descritas como tecidos excitáveis devido à sua habilidade de propagar sinais elétricos rápidos em resposta a um estímulo sensorial. Sabemos agora que muitos outros tipos de células geram sinais elétricos para iniciar processos celulares, mas a habilidade das células neuronais e musculares de enviar um sinal elétrico constante por uma longa distância é característico dos mecanismos de comunicação elétrica. Estudaremos esses mecanismos nesta aula, além dos sinais advindos dos órgãos dos sentidos e do sistema somatossensorial (tato, temperatura, dor, propriocepção, olfato, paladar, audição e visão). (ZANELA, 2015, p. 25) Objetivos Identi�car o mecanismo de transmissão dos impulsos neurais e seu sistema de comunicação celular; Estabelecer a função do potencial de ação de células excitáveis para propagação dos estímulos; Esquadrinhar a organização morfofuncional do sistema sensorial humano. (Fonte: Insane Labz <https://www.insanelabz.com/product_images/uploaded_images/nootropic-synapse.jpg> ) Neurotransmissão: potencial de repouso, de ação, sinais elétricos e transmissão sináptica neural A membrana das células, devido às suas características, permite a passagem de diversos íons e possui habilidades excitatórias importantes no estudo da comunicação celular. (SILVERTHORN, 2010, p. 250) Esse tecido é excitável devido à diferença de voltagem existente entre os meios intracelular e extracelular. Essa diferença é comumente chamada potencial de repouso graças à presença de diversos canais iônicos (com permeabilidades diferentes) que transportam íons para dentro e para fora da célula. (AIRES, 2012, p. 222) Portanto, podemos assumir que o potencial de repouso da membrana resulta nas grandes diferenças de cargas positivas existentes entre os meios extracelular e intracelular. Como veremos a seguir, esse mecanismo é fundamental para a gênese do potencial de ação da célula (�gura 1). Íon Líquido extracelular (Mm) Líquido intracelular (Mm) E a 37°C K 5 mM (normal: 3,5 -5) 150 mM - 90mV Na 145 mM (normal: 135- 145) 15 mM + 60mV Cl 108 mM (normal: 100-108) 10 mM (normal: 5-15) - 63mV Ca 1 mM 0,0001 mM Ver revisando conceitos, questão 7 íon + + - 2+ Figura 1: Concentração iônica e potencial de equilíbrio da membrana. (Fonte: SILVERTHORN, 2010, p. 250) Canais iônicos especí�cos são a grande razão para o gradiente de potencial elétrico https://www.insanelabz.com/product_images/uploaded_images/nootropic-synapse.jpg Figura 2: Mecanismos básicos do potencial de repouso da membrana. (Fonte: ZANELA, 2015, p. 19) fora da célula ser positivo em relação ao meio intracelular cuja principal função é promover esse gradiente eletroquímico. Nas condições de repouso, uma célula neuronal possui um potencial de membrana equivalente a -70 milivolts (mV). Nesse caso, podemos dizer então que as concentrações iônicas no interior da célula são de 70mV negativos em relação ao líquido extracelular (�gura 2). (GUYTON; HALL, 2017, p. 59) Essa diferença de potencial é resultado da atividade assimétrica da bomba Na /K ATPase, que transporta 3Na para fora da célula em troca da entrada de 2K . Com isso, o meio interno da célula �ca negativo em relação ao meio externo (-70mV). Nessas condições (-70mV), a membrana neuronal �ca levemente permeável ao íon Na , permitindo a abertura dos canais de Na sensíveis à voltagem e ao �uxo desse íon para o interior da célula, acarretando na redução do gradiente eletroquímico da membrana e levando à despolarização da célula (�gura 3). (SILVERTHORN, 2010, p. 253) Grá�co de alterações do potencial de membrana + + + + + + Figura 3: Alterações do potencial de membrana da célula de repouso (-70mV), despolarização (entre -40mV a 0mV), hiperpolarização (-90mV) e novamente estado de repouso (-70mV). (Fonte: SILVERTHORN, 2010, p. 253) Na fase �nal do período de despolarização, a permeabilidade da membrana para o Na é reduzida. A partir daí, a membrana celular começa a �car mais permeável aos íons K , que começam a ser rapidamente transportados para o meio extracelular, trazendo o potencial de membrana de volta aos valores de repouso (-70mV). Esse fenômeno é chamado de fase de repolarização da membrana celular (�gura 2). (LENT, 2004, p. 92) + + Comentário Os canais de K permanecem abertos após a célula atingir o valor negativo de -70mV. Esse fator é responsável pela hiperpolarização da membrana celular, que corresponde ao �uxo de K para fora da célula até que ela atinja um gradiente eletroquímico mais negativo que havia nas condições de repouso (-90mV). Nessa faixa de potencial, os canais de K começam a se fechar e a célula volta a aumentar a permeabilidade ao Na , trazendo o valor do potencial de membrana para -70mV, quando é iniciado um novo ciclo de estimulação (despolarização). + + + + Para ocorrer um novo potencial de ação, é necessário que a membrana celular atinja um limite de variação de cargas para alterar a permeabilidade dos canais iônicos. Esse limite é conhecido como limiar de excitabilidade. Quando ele é alcançado, inicia-se uma nova propagação do potencial de ação (�gura 4). Vale ressaltar que o tempo necessário para que os canais de Na e K permaneçam abertos não depende da intensidade do estímulo de despolarização. Para que ocorra uma alteração do potencial de membrana, a despolarização deve ultrapassar a faixa do limiar de excitabilidade dela. Do contrário, os canais responsáveis pela despolarização permanecerão fechados. (CONSTANZO, 2014, p. 53) + + Dica Isso signi�ca que um novo potencial de ação não pode ser propagado num período de 2 milissegundos (ms), independentemente de quão intenso seja o seu estímulo. Esse período é chamado de período refratário absoluto, que representa o tempo necessário para que os canais de Na assumam novamente o estado de repouso. O período refratário relativo se inicia logo após o término do período refratário absoluto e se mantem até que o potencial de membrana se reestabeleça. + Figura 4: Períodos refratários (absoluto e relativo) durante o potencial de repouso e de ação da membrana. (Fonte: CONSTANZO, 2014, p. 53) No período refratário absoluto, é possível que um novo potencial de ação (despolarização) ocorra desde que ele seja su�ciente para alcançar o limiar de excitabilidade da célula. (CONSTANZO, 2014, p. 54) Os potenciais de ação frequentemente obedecem a um padrão também conhecido como tudo ou nada. Um neurônio desencadeia uma despolarização máxima (se o limiar de excitabilidade for atingido) ou então não desencadeia nenhuma resposta (se o estímulo não alcançar o limiar de excitação). A força com que um potencial se inicia em sua região de origem (zona de gatilho) não irá in�uenciar a amplitude do potencial de ação ao longo de sua trajetória. (SILVERTHORN, 2010, p. 254) Todo potencial de ação estimula um novo potencial de ação por toda extensão do neurônio. Por esse motivo, a força do estímulo excitatório não possui in�uência sobre a velocidade de condução do impulso, que é fator in�uenciado pelo diâmetro da �bra nervosa e por sua característica quanto à mielinização. Dica A velocidade de condução do impulso nervoso será maior em um neurônio com maior diâmetro. Da mesma forma, a velocidade na condução do impulso será mais rápida em um neurôniomielínico (contendo bainha de mielina) do que em um neurônio amielínico (que não possui bainha de mielina). Nos neurônios mielínicos, a bainha de mielina, que é uma membrana rica em lipídeos, isola de maneira não contínua o neurônio em toda sua extensão. Os espaços entre as bainhas de mielina contêm os chamados nodos de Ranvier. Assim, o impulso nervoso promove mecanismos saltatórios, pulando através dos nodos de Ranvier em vez de ser trafegado pela bainha de mielina (�gura 5). Figura 5: Esquema representativo da estrutura de um axônio de um neurônio mielinizado (contendo bainha de mielina). (Fonte: SILVERTHORN, 2010, p. 255) Essa característica faz com que o impulso passe pelas �bras, pulando de uma região à outra dos nodos de Ranvier. Nos mecanismos dos impulsos saltatórios, o tráfego do potencial ao longo do neurônio é realizado muito mais rápido comparado a um neurônio amielínico com diâmetro semelhante. (CONSTANZO, 2014, p. 57) O potencial de ação ao atingir a fenda pré-sináptica pode estimular ou inibir a célula da fenda pós-sináptica no: 1 SNC: A outra célula pode ser um neurônio; 2 SNP: A outra célula pode ser um neurônio ou uma célula efetora de um órgão. Atenção Devido às características estruturais dos neurônios, o impulso gerado neles permite o tráfego até outra célula neuronal pela união existente entre essas células. Esse tráfego é chamado de sinapse. (GUYTON; HALL, 2017, p. 70) Neurônios podem se comunicar através de dois tipos distintos de sinapse: elétrica e química. (SILVERTHORN, 2010, p. 256) Sinapse elétrica O tráfego da informações passa de uma célula para outra através do �uxo de íons, que atravessa a membrana da outra célula pela presença de proteínas de membrana denominadas de junções comunicantes (gap junctions) ou abertas (�gura 6). A comunicação entre as células neuronais ocorre graças às junções comunicantes (gap junctions). Elas estão localizadas em maior parte nos neurônios do SNC, embora possam ser encontradas nas células da glia, nos cardiomiócitos (músculo cardíaco) e na musculatura lisa. Devido ao mecanismo de comunicação celular ser proveniente das junções comunicantes, a transmissão sináptica entre as sinapses elétricas é muito mais rápida que as das sinapses químicas. Figura 6: Estrutura de uma sinapse elétrica. (Fonte: ZANELA, 2015, p. 24) Sinapse química Depende da liberação de neurotransmissores dos terminais pré-sinápticos diretamente na fenda sináptica. Durante a despolarização da membrana do terminal axônico, ocorre a abertura dos canais de cálcio (Ca ) dependentes de voltagem. A partir daí, ocorre �uxo de Ca do meio extracelular para o meio intracelular a favor do seu gradiente de pressão (as concentrações de Ca no meio extracelular são mais elevadas que no intracelular, facilitando seu transporte). Uma vez no meio intracelular, os íons Ca se ligam às vesículas sinápticas responsáveis pelo armazenamento de neurotransmissores no interior do terminal axônico pré-sináptico. Após a interação dos íons Ca nessas vesículas, elas são transportadas para a membrana do terminal axônico pré-sináptico, onde, graças à exocitose, os neurotransmissores são liberados na fenda sináptica. Responsáveis pelo início de uma resposta elétrica (ou pela ativação de uma via de segundo mensageiro intracelular), os neurotransmissores irão se ligar a receptores especí�cos presentes na membrana do terminal axônico pós-sináptico (�gura 7). (SILVERTHORN, 2010, p. 262) 2+ 2+ 2+ 2+ 2+ Figura 7: Exemplo de uma sinapse química. (Fonte: SILVERTHORN, 2010, p. 262) Atenção Note, na imagem, a liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica para levar à excitação (neurotransmissores excitatórios) ou à inibição (neurotransmissores inibitórios) da membrana pós-sináptica. Os principais tipos de neurotransmissores serão observados na tabela a seguir. Eles podem ser agrupados em sete classes diferentes de acordo com a sua estrutura: Acetilcolina Aminas Aminoácidos Peptídeos Purinas Gases Lipídeos Saiba mais Clique em Tabela <galeria/aula2/anexo/tabela.pdf> para conhecer os principais neurotransmissores. Sistema sensorial (parte 1): vias e receptores sensoriais; sistema somestésico e propriocepção Trata-se do conjunto constituído pelos sensores capazes de detectar diferentes tipos de informação da periferia e as vias por onde trafegarão essas informações e pelos circuitos neurais responsáveis por seu processamento. O sistema sensorial representa a porção do sistema nervoso relacionada a recepção, transdução, transmissão e processamento das informações originadas no próprio organismo ou no ambiente. Ele será utilizado na organização de vários tipos de resposta. http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0057/galeria/aula2/anexo/tabela.pdf Diferentes classi�cações - em geral, equivalentes - podem ser assumidas no estudo do sistema sensorial. Nas próximas seções, conheceremos alguns conceitos e exemplos sobre esse sistema quanto às seguintes classi�cações: Somestesia (tátil, térmica e dolorosa) Propriocepção (articular, muscular e vestibular) Sentidos especiais (audição, gustação, olfação e visão) (GUYTON; HALL, 2017, p. 428) Vias e receptores sensoriais Há diferentes tipos de receptores responsáveis pelo desencadeamento dos estímulos sensoriais periféricos e viscerais: toque, dor, frio, calor, odor e sabor. Esses sentidos podem ser classi�cados como gerais (sistema nervoso somático e visceral: tato, dor, temperatura e propriocepção) e especiais (audição, gustação, olfação e visão). Os receptores responsáveis pela detecção dos estímulos sensoriais são denominados como: 1 Mecanorreceptores: Identi�cam um estímulo relacionado a um estresse mecânico no tecido em questão. Exemplo: barorreceptores descritos na primeira aula; 2 Termorreceptores: Responsáveis pela detecção das variações de temperatura (calor e frio), localizam-se principalmente na região cutânea; 3 Nociceptores: Responsáveis pela detecção da dor em decorrência de uma lesão tecidual; 4 Quimiorreceptores: Há uma variedade deles que identi�ca os estímulos relacionados a paladar, olfato, conteúdo de gases no sangue arterial e osmolaridade dos líquidos corporais; 5 Osmorreceptores. Quando os receptores sensoriais iniciam seus mecanismos de resposta, conseguem conduzir o impulso nervoso com uma taxa de despolarização. No entanto, eles vão se adaptando ao estímulo e começam a diminuir essa alta frequência de disparo até pararem de responder. (GUYTON; HALL, 2017, p. 431) Atenção Os receptores sensoriais necessitam conduzir a transmissão do estímulo rapidamente para o SNC. Inicialmente, os impulsos provenientes desses receptores são direcionados até a medula espinhal. A partir daí, seguem no sentido ascendente por diversas vias até o cérebro ou até outras estruturas do SNC, como o tronco encefálico, via nervos cranianos. Existem outras vias que fazem conexão com a medula espinhal, realizando, uma vez nesse segmento, sinapse com neurônios motores, o que iniciará uma resposta de re�exo. A transmissão das informações sensoriais pode ser direcionada até o SNC por diferentes tipos de �bras: Fibra nervosa Mielina Diâmetro (µm) Velocidade (m/s) Localização Função Aα Sim 6-22 30-120 Eferência muscular Motora Aβ Sim 6-22 30-120 Aferência da pele e articulações Tátil, propriocepção Aϒ Sim 3-6 15-35 Eferência para fuso muscular Tônus muscular Aδ Sim 1-4 5-25 Aferência de nervos sensoriais Dor, frio, tato B Sim <3 3-15 Pré-ganglionar simpático Funções autonômicas diversas C1 Não 0,3-1,3 0,7-1,3 Pós-ganglionar simpático Funções autonômicas diversas C2 Não 0,4-1,2 0,1-2,0 Aferência de nervos sensoriais Dor, calor, tato Tabela 2: Classificação das fibras nervosas pertencentes ao sistema sensorial. (Fonte: ZANELA, 2015, p. 27) Sistema e vias somatossensoriais Os sentidos somáticos podem ser classi�cados em três diferentes estímulos �siológicos provenientes de: Sensações táteis e de posição (atuação de mecanorreceptores) Calor e frio (termorreceptores) Dor (qualquer fatorcapaz de levar à lesão tecidual que seja detectado pelos nociceptores) (GUYTON; HALL, 2017, p. 428) As informações transmitidas pelos receptores somáticos são transportadas até a área somatossensorial do córtex e para o cerebelo por diversas vias somatossensoriais. Localizada no giro pós-central, a área sensorial primária recebe estímulos aferentes de diversas regiões do corpo. Na �gura a seguir, podemos observar o homúnculo somatossensorial. Ele ilustra as diferentes regiões encefálicas relacionadas com as percepções de estímulo especi�camente relacionadas a diversas partes do corpo. (TORTORA; DERRICKSON, 2002, p. 449) Trata-se da representação do mapeamento da superfície corporal sobre o giro pós-central, mostrado aqui em um corte frontal (A) e em um exemplo de caricata (B). Figura 8: Homúnculo somatossensorial. (Fonte: AIRES, 2012, p. 235) Existem basicamente duas vias sensoriais (ou sistemas) responsáveis pela transmissão dos diversos segmentos corporais até o SNC. Clique nos botões para ver as informações. Como o próprio nome indica, ele direciona os impulsos provenientes da periferia até a região da coluna dorsal da medula espinhal. Uma vez na medula espinhal, as colunas dorsais são formadas a partir dos axônios dos neurônios de primeira ordem, dispostos nos fascículos grácil e cuneiforme, que se projetam até o bulbo pelos neurônios de segunda ordem até os respectivos núcleos grácil e cuneiforme. Do bulbo, os neurônios de segunda ordem irão se projetar até o tálamo e, daí, para a área somatossensorial primária do córtex cerebral. 1) Sistema da coluna dorsal lemnisco medial É responsável pela condução dos impulsos com origem na substância cinzenta espinhal. De maneira semelhante ao sistema da coluna dorsal, esses impulsos irão se projetar para o lado oposto da medula e seguirão no sentido ascendente até alcançar o tronco cerebral e o tálamo. A partir disso, as vias ascendentes são projetadas até a área somatossensorial primária do córtex cerebral pelos tratos espinotalâmicos lateral e anterior. (TORTORA; DERRICKSON, 2002, p. 445) 2) Sistema anterolateral Sensibilidade tátil Essa submodalidade sensorial é mediada por mecanoceptores divididos em duas classes funcionais: De adaptação rápida (respondem apenas ao início de uma estimulação e ao seu término, embora não respondam a uma estimulação contínua) De adaptação lenta (podem responder a uma estimulação contínua). Eis os tipos de mecanoceptores em duas regiões da pele: Na superfície da pele: Corpúsculos de Meissner (adaptação rápida) e de Merkel (adaptação lenta) No tecido subcutâneo: Corpúsculos de Pacini (adaptação rápida) e de Ru�ni (adaptação lenta). As características funcionais e morfológicas desses receptores vão de�nir suas especi�cidades quanto às resoluções espacial (associada principalmente ao tamanho de campos receptivos) e temporal (associada ao curso temporal de adaptação do receptor) dos estímulos táteis. Os corpúsculos de Meissner e Pacini são mais sensíveis a estímulos mecânicos vibratórios, além de terem um tempo de adaptação mais curto. O receptor de Meissner, no entanto, permite uma melhor localização do estímulo, enquanto o de Pacini intermedia uma sensação mais difusa, originada em tecidos mais profundos. Essa diferença na resolução espacial está vinculada ao tamanho dos campos receptivos constituídos por esses receptores (�gura 9). (AIRES, 2012, p. 247) Figura 9: Os quatro principais estímulos de respostas dos mecanorreceptores cutâneos em função de sua adaptação e tamanho do campo receptivo. (Fonte: AIRES, 2012, p. 247) Temperatura Na região cutânea, existem termorreceptores capazes de detectar os estímulos especí�cos de frio e calor (�gura 10). Figura 10: Frequência da descarga, em diferentes temperaturas, na região cutânea, em fibras aferentes associadas a diferentes populações de termorreceptores. (Fonte: AIRES, 2012, p. 250) A condução do impulso nervoso por ambos ocorre de maneira lenta. Esse é o motivo de demorarmos a nos adaptar a determinadas condições térmicas. No entanto, esses receptores são responsáveis pela geração de re�exos nos casos emergenciais quando, por exemplo, colocarmos nossa mão em uma chapa quente. Nessa situação, tiramos a mão rapidamente sem programar o ato motor. Atenção Receptores sensíveis ao frio conseguem detectar oscilações de temperatura numa faixa entre 10oC e 40oC, enquanto receptores sensíveis ao calor detectam variações de temperatura entre 32oC e 48oC. (BERNE et al., 2004, p. 196) Dor A dor é uma sensação detectada pelos nociceptores (derivados da palavra nocivo), terminações livres sem estruturas acessórias destinadas à transdução do estímulo, o que faz desse tipo de receptor um dos menos diferenciados entre os receptores sensoriais. As terminações nervosas provenientes dos nociceptores possuem seu corpo celular nos gânglios das raízes dorsais espinais ou no gânglio trigeminal composto por diferentes classes de �bras aferentes. São encontradas na pele e também em tecidos mais profundos. As �bras mielínicas do tipo Aδ estão associadas a nociceptores térmicos e mecânicos. Há duas classes distintas de nociceptores associados a �bras Aδ. Enquanto ambas respondem a estímulos mecânicos intensos, elas diferem entre si pela capacidade de responder ao calor intenso. Um conjunto de nociceptores denominado polimodal está associado às �bras do tipo C (amielínicas). Ele é ativado por estímulos mecânicos, químicos e térmicos de alta intensidade. A lesão de um tecido intensi�ca a experiência dolorosa por aumentar a sensibilidade dos nociceptores a estímulos térmicos e mecânicos (hiperalgesia). Esse fenômeno resulta, em parte, da liberação de mediadores químicos das próprias terminações nervosas livres e também de células não neurais intimamente relacionadas com o processo in�amatório, como mastócitos, neutró�los e plaquetas. Ilustradas na �gura a seguir, as vias ascendentes responsáveis pelas projeções nociceptivas envolvem as seguintes estruturas: Figura 11: Principais vias ascendentes que conduzem a informação nociceptiva. (Fonte: AIRES, 2012, p. 252) Trato espinotalâmico cortical (esquerda); Projeções espinorreticulares, compostas por axônios que ascendem, terminando no tálamo e na formação reticular bulbo- pontina (centro); Trato espinomesencefálico, que termina em regiões do mesencéfalo que incluem a formação reticular mesencefálica e a substância cinzenta periaquedutal (direita). Propriocepção Outra classe de receptores sensoriais, os proprioceptores são capazes de identi�car informações correspondentes ao grau de estiramento da �bra muscular e do grau de tensão nessa �bra. Além desses dois estímulos especí�cos, a transmissão do impulso nervoso também pode ser direcionada a outras estruturas do SNC para auxiliar na coordenação dos movimentos e no equilíbrio corporal. Basicamente, proprioceptores são divididos em duas classes: fusos musculares e órgão tendinoso de Golgi (OTGs). Os fusos são constituídos por �bras musculares modi�cadas. Denominadas intrafusais, essas �bras estão agrupadas em feixes e �cam envoltas por uma cápsula de tecido conjuntivo (�gura 12). O estiramento muscular gera impulsos que serão conduzidos para o SNC. Eles buscam monitorar as variações do comprimento do músculo esquelético. Figura 12: Fusos neuromusculares. (Fonte: AIRES, 2012, p. 259) A informação originada nas terminações sensórias dos fusos musculares chega à medula espinhal, que rapidamente promove o recrutamento das �bras intrafusais para evitar o estiramento excessivo do músculo. Além disso, os fusos também atuam na percepção da posição dos membros, participando da coordenação das contrações musculares. (AIRES, 2012, p. 259) Já as �bras extrafusais possuem tanto inervação sensorial quanto motora – a última, destinada às intrafusais. Os órgãos tendíneos de Golgi se localizam na inserção dos tendões das �bras musculares, situando-se, portanto, em série com o músculo. Isso o torna apropriado para detecção da força contrátil (tensãogerada pelo músculo) (�gura 13). As �bras neuronais se originam nos órgãos tendíneos de Golgi e projetam-se sobre os motoneurônios, inervando agonistas e antagonistas de seu músculo de origem. Essa inervação, no entanto, é funcionalmente inversa daquela promovida pelas �bras Ia (inibitória sobre os agonistas e excitatória sobre os antagonistas). Atenção Quando uma �bra muscular for imposta a uma carga muito elevada, as �bras Ia inibem o músculo responsável pela ação concêntrica e estimulam os músculos antagonistas, levando o indivíduo a largar o peso rapidamente para evitar uma lesão. A �gura a seguir demonstra que a inervação é feita por um axônio aferente único em série com o músculo: Figura 13: Órgãos tendinosos de Golgi. (Fonte: AIRES, 2012, p. 259) Atividade 1. Sobre potenciais graduados e depolarização da membrana neural, é correto a�rmar que: a) O estímulo gerado pelo neurônio durante a despolarização é dependente da intensidade de sua ativação. b) A ativação ou inibição de neurônios deve-se ao tempo de abertura dos canais de íons de sódio voltagem-dependentes. c) A despolarização do neurônio somente será possível se houver somação temporal e/ou espacial de potenciais graduados que possibilitem atingir o limiar de excitabilidade neural. d) Os neurônios no período refratário absoluto podem despolarizar se houver um novo estímulo com maior intensidade que possibilite o alcance do limiar de excitabilidade. e) O potencial de membrana negativo no interior da soma neural é devido à presença de íons de cloro, e o exterior positivo deve-se ao efeito dos íons de sódio e potássio sabidamente com carga positiva. 2. O sistema nervoso é um dos principais sistemas de nosso organismo, desempenhando várias funções importantes, como o controle da homeostase. Marque abaixo, de forma respectiva, as funções que devem ser desempenhadas para a captação de informações, a interpretação dessas informações e a resposta pelo organismo. a) Efetora, sensitiva e integrativa. b) Integrativa, sensitiva e efetora. c) Efetora, integrativa e sensitiva. d) Sensitiva, efetora e integrativa. e) Sensitiva, integrativa e efetora. 3. Como observado na organização do sistema sensorial, a captação de informações, a interpretação dessas informações e a resposta pelo organismo são transmitidas, respectivamente, pelas vias sensitivas, integrativa e efetora. Os diversos sistemas de controle das funções corporais têm um objetivo comum: a manutenção das condições quase estáticas ou quase constantes do meio interno, entendendo-se como meio interno o meio que envolve as células, ou seja, líquido intersticial nos tecidos e o plasma no sanguíneo. O texto acima se refere a: a) Propagação do impulso nervoso. b) Processos de difusão em meio celular. c) Homeostase. d) Transporte transmembrana. e) Potencial de ação. Referências AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. BERNE, R. M. et al. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. COSTANZO, L. S. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. HALL, J. E.; GUYTON, A. C. Tratado de �siologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. Rio de Janeiro: Atheneu, 2004. SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana – uma abordagem integrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. ORTORA G J DERRICKSON B P i í i d i � i l i 14 d Ri d J i G b K 2016 ORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e �siologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. ZANELA, C. Fisiologia humana. 1. ed. Rio de Janeiro: SESES, 2015. Próxima aula Sentidos do corpo e suas vias; Organização funcional para o controle dos órgãos dos sentidos; Atuação dos órgãos dos sentidos no controle do meio interno. Explore mais Sugestões de vídeo: Animação do potencial de ação neural <https://www.youtube.com/watch?v=XdCrZm_JAp0> ; Sinapse nervosa <https://www.youtube.com/watch?v=YnXAFIAwwE0&feature=youtu.be> ; Célula de Schwann e seu potencial de ação <https://www.youtube.com/watch?v=rWEEKtWbLVc> ; https://www.youtube.com/watch?v=XdCrZm_JAp0 https://www.youtube.com/watch?v=YnXAFIAwwE0&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=rWEEKtWbLVc
Compartilhar