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Matlin, M.W. - Psicologia Cognitiva (2004) Bases biológicas da percepção PROCESSOS PERCEPTIVOS Percepção: É um conjunto de processos que consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações (estímulos sensoriais) obtidas pelos sentidos. • A percepção é um processo que utiliza nossos conhecimentos prévios para reunir e interpretar (processar) os estímulos registrados pelos nossos sentidos. • Combina aspectos tanto do mundo externo (estímulos visuais) quanto do mundo interno (conhecimento prévio). • Exige menos habilidades do que tarefas cognitivas como resolução de problemas ou tomada de decisões. Reconhecimento do objeto: É a identificação de uma forma em um arranjo complexo de estímulos sensoriais. Os estímulos perceptivos podem ser: ESTÍMULO DISTAL É o objeto real que se encontra em uma localidade espacial ESTÍMULO PROXIMAL É a informação registrada nos receptores sensoriais Teorias de reconhecimento do objeto Teoria da correspondência de gabaritos • De acordo com essa teoria, você compara um estímulo a um conjunto de gabaritos ou padrões específicos armazenados na sua memória. Depois de comparar o estímulo a alguns gabaritos, você nota o gabarito que corresponde ao estímulo. • É considerada inadequada atualmente, pois não corresponde à flexibilidade da percepção humana: segundo essa teoria, seria necessário um gabarito diferente para cada rotação ou inclinação de uma figura. • Na verdade funciona somente para números e letras isolados e objetos apresentados em sua forma padrão. Modelo de análise de características • Propõe que um estímulo visual é composto por um número pequeno de características ou componentes. Cada característica chama-se característica distintiva. Quando você vê uma nova letra, seu sistema visual nota a presença ou a ausência de diversas características e compara então essa lista com as características armazenadas na memória para cada letra do alfabeto. • Esse modelo propõe que as características distintivas das letras do alfabeto permanecem constantes, seja manuscrita, impressa ou digitada. • Explica como percebemos padrões bidimensionais, como figuras em um quadro, estampas em um tecido e ilustrações em livros. • Quanto mais características importantes em comum, mais tempo se leva para distinguir duas ou mais letras. Ex.: as letras F e E ou P e R. Memória sensorial: sistema de armazenamento de grande capacidade que registra informações de cada um dos sentidos. Memória icônica (memória sensorial visual): permite que a imagem de um estímulo visual permaneça de 200 a 400 milissegundos – menos de meio segundo – depois que o estímulo desapareceu. Córtex visual primário (lobo occipital) Córtex inferior temporal (lobo temporal) + de 30 áreas do córtexdesempenham papel na percepção visual Matlin, M.W. - Psicologia Cognitiva (2004) Modelo de reconhecimento pelos componentes • É uma tentativa de explicar como conseguimos reconhecer formas tridimensionais. Um objeto pode ser representado como um arranjo de formas simples em 3D. Irving Biederman denomina essas formas de geons (geometrical ions), os quais se combinam para formar objetos significativos. • Modelo proposto essencialmente para reconhecimento de objetos tridimensionais. • É possível o reconhecimento mesmo quando os objetos aparecem encobertos ou sob ângulos incomuns. Abordagem centrada no observador Explicação alternativa que propõe um armazenamento mental de objetos tridimensionais vistos de vários ângulos. Teoria da percepção construtiva • O perceptor cria (constrói) uma compreensão cognitiva (percepção) de um estímulo, usando tanto a informação sensorial quanto o fundamento para a estrutura, mas utilizando outras fontes de informação para construir a percepção. • Conhecido como percepção inteligente, porque estabelece que o pensamento de ordem superior desempenha um papel importante na percepção. • Ex.: num cruzamento você vê a placa “PA E”. PROCESSAMENTO BOTTOM-UP Ressalta a importância do estímulo no reconhecimento do objeto. O estímulo influencia nossa percepção. O estímulo físico é registrado nos receptores sensoriais (por exemplo, os receptores da retina). A chegada dessa informação coloca em ação o processo de reconhecimento do objeto. Essa informação começa no nível básico (bottom) e abre caminho para cima (top), além do córtex visual primário. Quando você percebe algo sem nenhum construto cognitivo preconcebido. PROCESSAMENTO TOP-DOWN Nossos conhecimentos prévios (expectativas, conceitos, memória, aprendizado, experiência anterior) e processos mentais ajudam a identificar objetos. O contexto direciona nossa percepção: espero encontrar uma xícara em uma cafeteria. Nossas expectativas no nível superior (top) do processamento visual irão abrir caminho para baixo (down) e guiar nosso processamento inicial dos estímulos visuais. Influencia nossa capacidade de reconhecer letras durante o processo de leitura. Efeito de supremacia da palavra: podemos identificar uma letra com mais exatidão e rapidez quando ela surge em uma palavra do que quando surge sozinha. Podemos facilmente reconhecer a letra s na apalavra island, mesmo que o s não seja li pronunciado. Processamento top-down superativo: fazer uso em demasia de uma estratégia racional pode levar a erros. Se lermos muito rápidoa palavra droam, ela pode ser processada comodream. Percepção de rostos: Há um fundamento holístico no reconhecimento de rostos, ou seja, reconhecemos fisionomias em termos de forma e estrutura gerais. Percebemos um rosto a partir de sua Gestalt, ou qualidade geral que ultrapassa seus componentes individuais. O córtex inferior temporal, no lobo temporal, é a área que detém maior responsabilidade no reconhecimento de rostos. Percepção auditiva • Receptor sensorialda audição: (cóclea) papel de transformar o som em sinal elétrico. • Área auditiva primária: (lobo temporal) recebe e processa informação auditiva. • Vias auditivas: conduzem a informação auditiva ao cérebro. • Centros nervosos organizados hierarquicamente no tronco cerebral e nos hemisférios cerebrais. • Os sons relacionados com linguagem podem ser processados nos dois hemisférios cerebrais, mas de forma diversa. • Hemisfério esquerdo: linguagem (conteúdos). Matlin, M.W. - Psicologia Cognitiva (2004) • Hemisfério direito: prosódia do discurso ou melodia de uma música. Percepção visual • Receptor sensorial da visão: retina. • Receptores (fotorreceptores): cones e bastonetes. • Fóvea: região da retina que possui a melhor resolução espacial (a acuidade visual é melhor). • Vias ópticas: todas as formações nervosas que transportam e tratam a informação visual entre a retina e o córtex primário. • No decurso de seu trajeto, as vias ópticas podem sofrer diversas lesões, cujo reconhecimento se baseia na observação das perturbações do campo visual que provocam. Agnosia: É a incapacidade de reconhecer objetos ou estímulos. Ocorrem por lesões nas áreas deassociação. Tipos Agnosia tátil Agnosia visual Agnosia auditiva Anosognosia: Condição em que o paciente desconhece sua própria doença e comporta-se como se os distúrbios não existissem. Agnosias auditivas • Lesões do hemisfério cerebral dominante (áreasassociativas do lobo temporal). • Perda da capacidade de reconhecer e identificar sons elementares, musicais (“amusia”) ou a palavra falada (“surdez verbal”), apesar da ausência de surdez. • “Surdez verbal”: indivíduo não compreende a linguagem oral. As palavras parecem-lhe ruídos indiferenciados. Agnosias visuais • Lesão das áreas associativas do córtex visual. • Perda da capacidade de reconhecer e identificar pela visão objetos, pessoas, animais, etc. Agnosia para a forma e o padrão • Agnosia para objetos: perturbação no reconhecimento do objetoreal, seu nome e utilização. • Lugar de armazenagem das recordações visuais está destruído. Prosopagnosia: perturbação no reconhecimento de faces, antes familiares. Acromatopsia (agnosia para cores): perturbação na distinção de cores. Distúrbios visuais Hemianopsia • Defeitos do campo visual: vê a metade do campo visual. • Lesão afeta a via óptica, antes de chegar ao córtex. Cegueira cortical: lesões extensas dois lobos occipitais. • Indivíduo não é capaz de dizer o nome do objeto que lhe é apresentado. Não consegue deslocar-se sozinho. • Com a evolução, podem recuperar uma parte de suas capacidades visuais (detecção da luz e do movimento). Atenção: Matlin, M.W. - Psicologia Cognitiva (2004) Refere-se a uma concentração da atividade mental. A atenção é uma concentração em uma tarefa mental na qual selecionamos certos estímulos perceptivos para processarmos enquanto ignoramos outros. Atenção divida • Nas tarefas de atenção dividida, as pessoas devem atender (executar) a uma ou mais mensagens simultâneas, respondendo a cada uma conforme necessário. • Nosso sistema perceptivo pode lidar com algumas tarefas de atenção dividida, mas falhamos quando as tarefas se tornam exigentes demais. • O treino é capaz de alterar os limites da capacidade atencional. Atenção seletiva • Nas tarefas de atenção seletiva, as pessoas são instruídas a responderem de maneira seletiva a determinadas informações semtomar conhecimentos de outras. • As pesquisas desse tema utilizam duas tarefas cognitivas: uma tarefa auditiva chamada escuta dicótica e uma visual chamada efeito Stroop. Escuta Dicótica: pessoas são solicitadas a usaram fones de ouvido – cada ouvido recebe uma mensagem diferente. As pessoas podem notar no ouvido não atendidouma mudança no gênero da pessoa que fala e seu próprio nome citado. Não conseguem perceber, porém, que a mensagem passou de um idioma para outro. Efeito coquetel: designa o fato de conseguirmos notar quando nosso nome é mencionado em uma conversa, mesmo que estejamos prestando atenção em outra conversa. Costuma ocorrer durante festas ou reuniões sociais, enquanto estamos rodeados de muitas conversas simultâneas. Efeito Stroop: aspessoas levam mais tempo para dizer o nome de uma cor quando são distraídas por outro aspecto do estímulo, no caso, o significado das palavras em si. Isso ocorre porque a leitura é um processo automático enquanto que a nomeação das características dos estímulos, neste caso, a cor, é um processo controlado. Tarefa emocional de Stroop: tarefa para testar pessoas portadoras de transtorno fóbico. As pessoas são instruídas a nomear a cor da tinta em que estão impressas palavras relativas aos seus objetos temidos. Por exemplo, peludo e rastejar, para alguém que tenha pavor excessivo de aracnídeos. Os portadores de um transtorno fóbico são hiperalertas a palavras relativas à sua fobia, mostrando atenção maior ao significado desses estímulos. Como resultado, prestam relativamente pouca atenção à cor da tinta das palavras. Teorias da atenção Teoria do gargalo • Metáfora a um gargalo de garrafa – o gargalo limita a quantidade de informações às quais podemos prestar atenção. Assim, quando uma mensagem está fluindo correntemente através do gargalo, as outras mensagens devem ficar para trás. • Considerada simples demais para explicar a sofisticação do processo de cognição humana. Processamento automático x processamento controlado • De acordo com Walter Schneider e Richard Shiffrin, os seres humanos possuem dois níveis de processamento para a atenção. • O processamento automático em tarefas fáceis que empregam itens familiares (procurar seu nome em uma lista). • O processamento controlado em tarefas difíceis que empregam itens não familiares (procurar três nomes não familiares, como Samantha, Johnny e Caren em uma lista). Matlin, M.W. - Psicologia Cognitiva (2004) • O proc. automático é paralelo, ou seja, podemos lidar com dois ou mais itens ao mesmo tempo. • O proc. controlado, por sua vez, é serial: só podemos lidar com um item de cada vez. Teoria de integração de características • De acordo com a teoria de Anne Treisman, às vezes olhamos para uma cena usando a atenção distribuída (dividida) com todas as partes da cena processadas ao mesmo tempo. Em outras ocasiões, usamos a atenção focalizada, com os itens da cena processado um de cada vez. • A atenção focalizada exige o processamento serial. • A atenção distribuída exige o processamento paralelo. Tópicos relativos à Teoria de integração de características 1. Efeito de presença ou ausência de características Itens alvo x itens inaplicáveis Busca rápida para uma característica presente Busca lenta para uma característica ausente • Quando as pessoas estão procurando uma característica presente, podem empregar a atenção distribuída de maneira eficaz. A quantidade de itens inaplicáveis não influi no tempo de busca. • Quando estão procurando uma característica ausente, empregam a atenção focalizada. À medida que aumenta o número de itens inaplicáveis, aumenta o tempo de busca. 2. Conjunções ilusórias • É uma combinação inadequada de características de dois ou mais objetos. Combinar a cor de um objeto com a forma de outro, por exemplo. Ocorre quando nossa atenção está sobrecarregada ou é desviada. • Ex.: dax e kay(atenção desviada ou sobrecarregada)→day, T e N(atenção desviada ou sobrecarregada) →T Bases biológicas da atenção Rede anterior de atenção Rede posterior de atenção: responsável pelo tipo de atenção exigida para buscas visuais. É ativada quando estamos atentos a um lugar do espaço. Ex.: procurar uma lente de contato que caiu próximo à pia do banheiro. Um derrame, dano ou acidente no lobo parietal do hemisfério direito do córtex prejudica a capacidade de perceber estímulos visuais no campo visual esquerdo, e vice-versa. Omissão unilateral: déficit espacial para metade do campo visual. Rede anterior de atenção: área cortical responsável pela atenção dirigida ao significado de palavras. É ativada quando precisamos inibir uma resposta automática a estímulos e apresentar uma resposta menos óbvia, como no teste de Stroop. Também está ativa quando se solicita a uma pessoa que escute uma lista de substantivos e determine a ação correspondente a cada um (por exemplo, ao ouvir agulha, a pessoa deveria responder costurar). Rede posterior de atenção Matlin, M.W. - Psicologia Cognitiva (2004) Existem dois tipos de pistas que podem dirigir nossa atenção • Sinais endógenos:são internalizados e de ordem superior. Envolvem o conhecimento interno para compreender a sugestão. Ex.: sem sabermos o significado de uma não saberíamos que indica uma direção. • Sinais exógenos: não precisamos procurá-los para que captem nossa atenção. Eles incluem uma luz muita intensa ou um ruído muito alto. Cegueira por desatenção (InattentionalBlindness):quando não estamos conscientes das coisas que acontecem em nosso campo visual quando nossa atenção é dirigida a outras coisas. Ex.: teste do gorila invisível. Cegueira para mudanças (ChangeBlindness): é a incapacidade de detectar alterações em um objeto ou em uma cena. Por que ocorre? Devido à natureza pragmática de nossa percepção. Nós nos concentramos somente nas informações que parecem importantes e ignoramos as irrelevantes. Caso contrário, ficaríamos sobrecarregados com informações desnecessárias. Consciência: Sentimento ou conhecimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo interior. Supressão do pensamento: incapacidade de remover da consciência certos pensamentos e ideias. Visão cega (visão sem percepção): condição visual em que uma pessoa é vítima de um dano no córtex visual primário e alega não ser capaz de ver um objeto.Noentanto, ela é capaz de relatar algumas características desse objeto. Por que ocorre? Antes de a imagem ser registrada no córtex visual primário, o estímulo visualformado na retina passa pelo tálamo e culículo superior (outros espaços corticais), os quais mapeiam nossa posição no espaço e são fundamentais para conseguirmos planejar nossos movimentos e desviar de uma pessoa, por exemplo. Quando a informação não chega ao córtex visual primário, a percepção não se torna consciente, isto é, o indivíduo consegue detectar certo estímulo, mas não tem consciência da experiência visual. Inconsciente cognitivo: Refere-se às informações processadas fora da percepção consciente. As pessoas podem perceber um estímulo sem estarem cientes de o terem percebido. Por exemplo, as pessoas vítimas da visão cega possuem informações visuais, usando, pelo que parece, seu inconsciente cognitivo.
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