Buscar

psicologia da educação ciclo 3

Prévia do material em texto

Claretiano – Centro Universitário
Curso de Graduação em Pedagogia – Licenciatura
Tutor: Jaqueline Belga Marques
A Zona de Desenvolvimento Proximal: 
um conceito fundamental para a prática pedagógica
 Elisandra Misturini
Introdução
O modelo de educação contemporâneo, especialmente de crianças pequenas, teve a contribuição das ideias sobre cultura educacional de Lev Vygotsky. A educação pré-escolar continua sendo influenciada pelos trabalhos de Vygotsky, mesmo que as abordagens sugeridas por eles tenham suas limitações na educação atual. 
Vygotsky foi um crítico das teorias da psicologia da sua época, como da psicologia de Gestalt e das ideias da psicologia de desenvolvimento de Jean Piaget. Os trabalhos de Vygotsky trouxeram uma nova perspectiva sobre como entender o desenvolvimento das crianças nos processos educacionais, especialmente da ideia do papel da troca entre o adulto mais competente e a criança menos competente em determinado assunto com o objetivo de construção do conhecimento. De acordo com as ideias de Vygotsky o processo de desenvolvimento das crianças acontecia através da troca entre o adulto, portador da cultura ou conhecimento e que facilitaria a aquisição do conhecimento e aprendizado. 
Uma característica da teoria sociocultural de Vygotsky é a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que pode ser definida como a diferença entre o que a criança consegue aprender quando agindo sozinha daquilo que ela é capaz de aprender com o suporte de um adulto. Além disso, para a identificação da Zona de Desenvolvimento Proximal é necessário conhecer o que a criança já sabe, ou seja, a zona de desenvolvimento real, e o que a criança consegue realizar com auxilio, ou seja, a zona de desenvolvimento potencial. A ZDP é o intervalo entre esses dois níveis de desenvolvimento, a zona de desenvolvimento real (conhecimentos já consolidados) e a zona de desenvolvimento potencial (o que consegue fazer com ajuda). 
Observação de situação de ZPD
Com base nas ideias da teoria de Vygotsky sobre ZDP, onde existe a necessidade de interação entre um participante mais experiente e um menos experiente, que se relacionam com o objetivo de transmitir ao menos experiente uma habilidade, o objetivo deste trabalho é observar a interação entre pares em uma sala de aula de segundo ano bilíngue ao interpretar uma pequena historia em inglês. 
G.L. de oito anos e F.G.T. de sete anos cursam o segundo ano do Ensino Fundamental de uma escola particular em São Leopoldo, RS. Ambos estão matriculados no programa bilíngue (inglês-português) da escola, que é oferecido de forma opcional no turno inverso do ensino regular. G.L e F.G.T são colegas de aula em ambos os turnos e com frequência optam em fazer as atividades em pares ou grupos juntos, pois são amigos desde a Educação Infantil.
A atividade que será relatada a seguir foi feita em pares e tinha como objetivo relacionar o que estava sendo lido com gravuras, que deveriam ser numeradas de acordo com a sequência da historia. O primeiro passo seria a leitura, reconhecimento do vocabulário e finalmente numerar as gravuras em ordem. 
F.G.T. ainda não está completamente alfabetizado na língua materna e tem dificuldades maiores para compreender plenamente os pequenos textos trabalhados nas aulas do bilíngue. G.L., por sua vez, já está alfabetizada e praticamente biletrada e não tem grandes dificuldades em ler e entender os textos na língua adicional. Neste caso, pode-se reconhecer G.L. como parte mais competente e que auxiliará F.G.T. na tarefa de ler e compreender o texto em inglês sem fazer a tradução do mesmo. 
G.L. inicia a tarefa lendo sozinha, mas logo percebe que o colega não está tendo grandes progressos na leitura e oferece ajudá-lo assim que terminar de ler o texto em silêncio. G.L. termina de ler o texto e logo pergunta para F.G.T. quais partes do texto ele não havia entendido e sugere começarem pelo vocabulário que o colega já conseguiu reconhecer, identificando assim a zona de desenvolvimento real. A partir das palavras que eram familiares ao colega, G.L. sugeriu co-construir o significado do restante do texto.
Com a ajuda de G.L., F.G.T. consegue chegar ao final do texto e numerar as figuras com autonomia, identificando a zona de desenvolvimento potencial, pois ele conseguiu terminar a tarefa com o auxílio da colega. 
Conclusão 
Nos estudos de Vygotsky, os aprendizes eram crianças, enquanto um adulto ou parceiro mais experiente oferecia suporte. No exemplo apresentado através da observação da situação relatada no item anterior podemos ver claramente que esse suporte pode ser oferecida entre pares, basta que uma das partes seja mais competente do que a outra em um determinado assunto. Assim, o auxílio na ZDP incorpora não só o auxílio do mais capaz ao menos capaz, mas também o auxílio entre pares que se engajam em atividades de construção de conhecimento compartilhado por meio de diálogo e colaboração (LANTOLF e THORNE, 2006). Pode se dizer que a zona de desenvolvimento proximal é uma elaboração colaborativa, onde as partes trocam conhecimento visando à aprendizagem. 
Tratando-se de um processo colaborativo é interessante que nas situações reais de sala de aula os pares sejam trocados conforme as necessidades de intercambio entre experientes e menos experientes, considerando-se que crianças têm habilidades e talentos diferentes e que podem alternar os papeis de portadores de conhecimento dependendo do que está sendo estudado. Dessa forma, além do trabalho colaborativo, onde todos se beneficiam, há a valorização de todas as competências, prestigiando todos os componentes da turma e assegurando que todos possam mostrar o que sabem ao construir o saber. 
Referências
CAMPOS, J. AP. P. P. et al. Psicologia da Educação. Batatais: Claretiano, 2016.
LANTOLF, J. & THORNE, S. L. (2007). Sociocultural Theory and Second Language Learning. In. B. van Patten & J. Williams (eds.), Theories in Second Language Acquisition (pp. 201-224). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum.
OXFORD, R.L. (1997). Cooperative Learning, Collaborative Learning, and Interaction: Three Communicative Strands in the Language Classroom. The Modern Language Journal, n. 4. (pp. 443-456). 1997).
VYGOTSKY, L. (1978). Mind in society: The development of higher psychological processes. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Continue navegando