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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UFBA
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO - IED
PROF. RICARDO MAURÍCIO
DISCIPLINA DIR/45
· CARACTERÍSTICAS:
PROPEDÊUTICA (Introdutória): IED apresenta a natureza propedêutica, porque se propõe a oferecer conceitos fundamentais para a ciência jurídica.
ENCICLOPÉDICA: IED propõe uma reflexão interdisciplinar acerca do fenômeno jurídico, englobando diversas formas de conhecimento aplicadas ao direito (filosofia, sociologia, história, antropologia, etc.).
ZETÉTICA: IED é zetética, porque se propõe a oferecer uma reflexão crítica no fenômeno jurídico, diferentemente de uma abordagem dogmática (quando se prioriza a busca por respostas; pensamos de forma fechada, pouco arejada; pensamos em dogmas que não admitem questionamento). Nesse sentido, a norma jurídica passa a ser entendida como um ponto de partida para uma reflexão mais profunda e aberta sobre a relação do direito com a realidade social (fatos e valores).
- O dogma, no direito, é um comando normativo encontrado nas leis, decisões judiciais; a norma ela é o dogma a ser examinado, a ser seguido. O pensamento dogmático, no direito, pode nos conduzir a um pensamento injusto e fechado; afasta a ordem jurídica da realidade social – “dura lex, sed lex”; “summum jus, summa injuria”.
EPISTEMOLÓGICA (Espisteme – ciência + logos – estudo): IED apresenta natureza epistemológica, porque debate as condições de cientificidade do conhecimento jurídico problematizando os pressupostos, a natureza, a metodologia e as funções da ciência do direito.
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NÃO SE JUSTIFICA MAIS COMO TEORIA GERAL, DEVIDO 
ÀS VÁRIAS TEORIAS QUE VEM SENDO PUBLICADAS.
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· TEORIA DA NORMA JURÍDICA: 
NORBERTO BOBBIO – TEORIA GERAL DO DIREITO FALA DESTE TÓPICO E DA TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO ATRAVÉS DA PERSPECIVA KELSENIANA. 
INDICACÃO – PAULO GROSSI, HISTÓRIA DA TEORIA GERAL DO DIREITO
1. Sociedade – conceito: sociedade é um conjunto de seres vivos que apresentam um dado padrão de organização e repartição.
2. Sociedade não humana x Sociedade humana: as sociedades não humanas são aqueles grupos sociais constituídos por outros animais que apresentam uma dada forma de organização (Ex: formigas e abelhas). As sociedades humanas compreendem aqueles grupos sociais constituídos pela espécie homo sapiens.
3. Determinismo x Liberdade Humana: o Determinismo Biológico implica a realização de ações sociais necessárias, que sempre se repetem, por força de uma predisposição genética. As sociedades não humanas são compostas por seres regidos pelo Determinismo Biológico. O mundo do Determinismo não necessita de um sistema de controle social, porque as ações sempre irão acontecer da mesma forma, não se modificam. Liberdade consiste na capacidade de autogoverno e de escolha de opções existenciais. Os seres que integram as sociedades humanas são essencialmente livres, exigindo, portanto, a organização de um sistema de controle social. 
4. O Controle Social e o Mundo Normativo: entende-se por Sistema de Controle Social, o conjunto de instituições e de normas que harmonizam as diversas esferas de liberdade individual, adequando o comportamento dos indivíduos aos cânones socialmente aceitos. Normas sociais são padrões de dever-ser comportamental que orientam a conduta humana em sociedade, prescrevendo as sanções que devem ser aplicadas àqueles que praticam infrações.
5. A Norma e a Lógica do Dever-ser: pode-se afirmar que o Mundo Normativo é um mundo do dever-ser (plano ideal) que não se confunde com o mundo do ser (plano real). 
- O grande problema do Brasil é dar efetividade às normas que já existem, antes mesmo de realizar qualquer tipo de reforma.
6. Normas Técnicas x Normas Éticas: existem dois tipos de normas sociais: as normas técnicas e as normas éticas. As normas técnicas regulam a otimização de determinadas finalidades independentemente dos meios empregados; a técnica é neutra e não está necessariamente comprometida com o respeito à dignidade humana e à justiça (Ex: as normas técnicas de utilização de uma arma de fogo). As normas éticas, por sua vez, disciplinam aspectos comportamentais tendo em vista o respeito à dignidade e à realização da justiça. À luz da ética, o agente social deve buscar meios socialmente legítimos para a realização de fins. Para ética, os fins NÃO justificam os meios (Ex: Código Penal Brasileiro). Geralmente a técnica e a ética entram em conflito, podendo, contudo, convergir na mesma direção ao regularem o comportamento humano. 
7. Tipos de Normas Éticas (Etiqueta, Moral e Jurídicas): 
7.1. Etiqueta: normas de etiqueta ou cortesia são aquelas normas sociais ou éticas que regulam aspectos éticos de menor relevância para a vida social. A violação aos seus preceitos configura uma descortesia. Tal infração é punida com a imposição de uma sanção difusa: uma punição plural e espontânea que brota da opinião pública.
7.2. Moral: as normas morais são normas éticas que regulam aspectos mais relevantes da vida social quando comparadas à etiqueta (Ex: decálogo bíblico – 10 mandamentos). A imoralidade é qualquer comportamento que viola as normas morais devendo ser punida também através e sanções difusas.
7.3. Jurídicas: são aquelas normas sociais que regulam o chamado Mínimo Ético, vale dizer o mínimo de eticidade necessária para a própria subsistência da sociedade humana (Ex: Código Penal Brasileiro). O descumprimento das normas jurídicas acarreta em uma ilicitude, a qual deve ser punida através de uma sanção organizada: punição pré-determinada e aplicada em regime de monopólio estatal (nas sociedades ocidentais contemporâneas).
OBSERVAÇÕES FINAIS: 
- A maioria dos comportamentos humanos está situada na zona do juridicamente permitido, e somente excepcionalmente integra na zona do juridicamente proibido (“Tudo que não está juridicamente proibido, está juridicamente permitido” – Hans Kelsen);
- A grande maioria das descortesias e imoralidades são comportamentos lícitos;
- Uma mesma conduta pode, contudo, ferir dois ou mais padrões de normatividade ética (Ex: conduta de matar alguém viola, ao mesmo tempo, normas morais e jurídicas).
- Embora as sanções jurídicas sejam aplicadas em geral pelo Estado, a própria ordem jurídica, excepcionalmente, autoriza o particular a utilizar a força e a impor uma sanção ao infrator que pratique uma ilicitude (Ex: legítima defesa no Código Penal Brasileiro, art. 23).
· DIREITO x MORAL: CRITÉRIOS DISTINTIVOS
1. Bilateralidade x Unilateralidade: afirma-se que o Direito é bilateral, porque as normas jurídicas disciplinariam relações intersubjetivas, que necessariamente envolvem um sujeito ativo (titular de um direito subjetivo) e um sujeito passivo (obrigado ao cumprimento de um dever jurídico). Logo, o dever jurídico pode ser exigido institucionalmente. Por sua vez os preceitos da normatividade moral são unilaterais, pois se dirigem ao indivíduo particularizado. Logo, o dever moral não pode ser exigido institucionalmente por outro agente social.
2. Heteronomia x Autonomia: as normas jurídicas são consideradas heterônomas, porque os seus preceitos são extraídos de uma normatividade jurídica obrigatória, que se impõe independentemente da vontade dos seus destinatários. De outro lado, as normas morais são autônomas, porque os seus preceitos são escolhidos com relativa liberdade pelos agentes sociais em conformidade com suas respectivas consciências éticas.
3. Exterioridade x Interioridade: as normas jurídicas são exteriores no sentido de que os preceitos da normatividade do Direito só podem incidir a partir da materialização de uma conduta no mundo dos fatos. Ao contrário da moral que incide diretamente na consciência ética, independentemente da materialização de um comportamento no plano exterior.
4. Maior Coerção x Menor Coerção: coerção consiste na ameaça de imposição de um castigo (sanção patrimonial ou pessoal), o qual previne a ocorrência de uma infração ética. Nas sociedades ocidentais contemporâneas o Direito é mais coercitivo que a moral, porque as normas jurídicas geram um receio maior na mente dos agentes sociais. Umacoerção não precisa ser, necessariamente, uma ação; pode ser a figura de uma pessoa. 
5. Maior Coação x Menor Coação: coação é a manifestação concreta da força (exteriorização da violência) que atua na dimensão repressiva do sistema de controle social. O Direito é mais coativo que a moral nas sociedades ocidentais contemporâneas, porque as sanções jurídicas são mais severas do que as sanções morais (maior constrangimento pessoal e patrimonial).
6. Sanção Organizada x Sanção Difusa: enquanto o Direito dispõe de sanções organizadas (pré-determinadas e aplicadas pelo monopólio estatal), as normas morais se valem de sanções difusas (espontâneas e aplicadas pela pluralidade da opinião pública).
· TEORIA DOS CÍRCULOS ÉTICOS:
× A teoria dos círculos éticos consiste numa parte da Teoria Geral do Direito que examina os diversos modos de articulação do Direito com a Moral que foram sendo propostos ao longo da evolução do pensamento jurídico.
1. Concêntricos: trata-se da visão segundo a qual o direito seria o núcleo do círculo moral, não havendo assim a possibilidade de o direito tratar o comportamento humano diversamente da moral. Essa visão foi predominante na teoria jurídica durante a Idade Antiga e a Idade Média, sob influência de jusnaturalismo (doutrina dos direitos naturais). Embora tenha o mérito de propiciar o debate sobre a justiça, critica-se tal concepção pelo universalismo ético e pela impossibilidade de visualizar as diferenças da moral e do direito na regulação do agir humano. Nem sempre o direito e a moral irão tratar os comportamentos humanos do mesmo modo.
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MORAL
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DIREITO
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2. Separados: trata-se de visão positivista, típica dos séculos XVIII e XIX e primeira metade do século XX que sustenta a incomunicabilidade do direito com a moral. Sustentava-se que essa separação seria necessária para garantir a previsibilidade e a segurança jurídica, evitando a “contaminação” dos juristas por seus critérios de subjetividade moral. Embora tenha o mérito de trazer segurança, tal visão desemboca num dogmatismo perigoso, porque tendente a transformar o direito num veículo de injustiças. Quando os círculos éticos são separados, não há espaço para uma análise zetética.
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DIREITO
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MORAL
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3. Secantes: trata-se de uma visão pós-positivista que se tornou predominante após a Segunda Guerra Mundial. Sob a influência do processo de internacionalização dos direitos humanos ocorrido no mundo ocidental. Nesse sentido, direito e moral passam a compartilhar uma zona comum e a manter zonas autônomas na disciplina do agir humano. Embora tal visão tenha possibilitado a reaproximação do direito com o debate sobre a justiça, ela traz insegurança ao diluir as fronteiras das esferas moral e jurídica.
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DIREITO
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MORAL
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· ATRIBUTOS DAS NORMAS JURÍDICAS:
1. VALIDADE: uma norma jurídica é considerada válida, toda vez que a mesma for criada em conformidade com os parâmetros estabelecidos pela normatividade jurídica superior (compatibilidade vertical). Para tanto, apresenta-se como de grande utilidade a Teoria do Ordenamento Piramidal formulada pelo grande jurista Hans Kelsen.	
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ORDENAMENTO JURÍDICO (HANS KELSEN)
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VALIDADE
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A validade pode ser:
· FORMAL: consiste na observância dos requisitos de competência (habilitação conferida a um órgão para criação normativa) e de procedimento (conjunto de ritos que devem ser obedecidos). 
· MATERIAL: consiste na adequação de uma norma inferior com o conteúdo de uma norma superior e temos como exemplo o Art. 227 da Constituição (Princípio da Proteção Integral do Menor) e o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Criação de uma instituição ou lei que dê força à uma lei.
2. VIGÊNCIA: entende-se por vigência o tempo de validade da norma jurídica. Será determinada a vigência quando a norma jurídica estabelecer previamente o término de sua validade e temos como exemplo o Contrato de Trabalho Temporário. A cessação da validade de uma norma de vigência determinada ocorre através do fenômeno da caducidade. Por outro lado, a norma de vigência indeterminada não fixa o término de sua validade, a qual só resta cessada com a revogação por outra norma jurídica. 
Entende-se por revogação a substituição de uma norma jurídica por outra de igual ou superior hierarquia que regula a mesma matéria da norma anterior, porém de modo diverso, contrário. Exemplo a revogação do Código de Processo Civil de 1973 (Código Buzaid) pelo novo Código Civil de 2015. 
A revogação pode ser total ou parcial, expressa ou tácita:
· TOTAL: é a modificação global dos dispositivos normativos anteriores. Exemplo: a revogação total da Constituição de 1967 pela Constituição de 1988.
· PARCIAL: ocorre quando o novo diploma normativo modifica parcelas de dispositivos normativos anteriores. Exemplo: a revogação da Parte 1ª do Código Comercial Brasileiro (1850) pelo Código Civil de 2002 (Art. 2045).
· EXPRESSA: ocorre quando um novo diploma normativo refere textualmente a modificação da norma anterior. Exemplo: a revogação do Código Civil de 1916 no art. 2045 do Código Civil de 2002.
· TÁCITA: ocorre quando o novo diploma normativo não modificar expressamente (não dizer claramente) o anterior, mas se revela logicamente contrário aos dispositivos normativos anteriores (necessidade de interpretação do jurista). Exemplo: a revogação tácita, implícita, da antiga Lei de Impressa da Constituição de 1988.
OBS: A maioria das normas são indeterminadas; a maioria das revogações são tácitas.
REVOGAÇÃO ≠ REPRISTINAÇÃO:
Repristinação consiste na restauração dos efeitos jurídicos de uma norma revogada por conta da revogação de uma norma revogadora. No Brasil admite-se a ocorrência de repristinação, desde que de movo expresso (Art. 2º da LINDB – Lei de Introduções às Normas do Direito Brasileiro). 
VIGÊNCIA ≠ INCIDÊNCIA:
Também não podemos confundir incidência com vigência; incidência é o fenômeno normativo que traduz a relação entre o momento de publicação da norma jurídica e o momento de início de vigência da mesma norma jurídica. Será imediata quando houver a coincidência desses momentos (exemplo: a Constituição Federal de 1988). Por sua vez, será mediata quando estiver previsto um lapso temporal de vacância normativa entre o momento da publicação e o momento de início da vigência (vacatio legis), como por exemplo ocorreu com o Código Civil de 2002 (um ano de vacatio legis). Durante o prazo de vacância normativa aplica-se aos fatos sociais o diploma normativo anterior.
OBS: o artigo primeiro da LINDB prevê que, salvo disposição contrária, a lei deverá ser considerada como tendo incidência mediata, com vacatio legis de 45 dias para alcançar brasileiros no país e de 3 meses para alcançar brasileiros no exterior.
3. VIGOR: é a força vinculante de uma norma jurídica que traduz a força normativa do princípio tempus regit actum (o tempo rege o ato). Essa sistemática do vigor (o tempo rege o ato) é uma decorrência de um princípio geral da segurança jurídica bem como um desdobramento do princípio geral da irretroatividade das leis (art. 5º da Constituição). 
Existem exceções à sistemática do vigor. Em alguns ramos jurídicos a lei pode retroagir para beneficiar um sujeito de direito mais vulneráveis. É o que ocorre, por exemplo, com a lei penal, a lei trabalhista e a lei tributária que retroagem para beneficiar, respectivamente, o réu criminal, o trabalhador e o contribuinte.
4. EFICÁCIA: é a possibilidade de produção de efeitos jurídicos. Comporta duas modalidades: a eficácia social, também chamada de efetividade e a eficácia técnico-jurídica, também chamada de aplicabilidade.
· EFETIVIDADE: é a adequação fática de uma norma jurídica que se revela toda vez que os preceitos normativos são concretamente observados pela sociedade. Exemplo: observância do Código Brasileiro de Trânsito em Brasília.
· APLICABILIDADE: consiste na possibilidade concreta de produção de efeitos diretos e imediatos de uma norma jurídica. Exemplo: Art. 18, parágrafo 1º da Constituição de 1988. Se uma norma jurídica necessitar da criação de outranorma jurídica para produzir seus efeitos, não terá aplicabilidade (Art. 153, inciso sétimo da Constituição de 1988).
5. LEGITIMIDADE: é a adequação valorativa de uma norma jurídica, toda vez que os preceitos normativos são considerados justos pela maioria da sociedade num dado contexto histórico-cultural. Exemplo: legitimidade atual da Lei da Ficha Limpa na sociedade brasileira. 
Não se pode confundir legitimidade com efetividade, pois embora justa a norma jurídica pode ser descumprida pelo grupo social. Exemplo: Estatuto do Idoso.
· CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS: 
1. QUANTO AO SISTEMA: 
1.1. NORMAS INTERNAS: são normas jurídicas que pertencem ao ordenamento jurídico nacional de um Estado soberano. Exemplo: Constituição Federal de 1988. 
1.2. NORMAS ESTRANGEIRAS: são aquelas normas criadas fora dos limites territoriais de um Estado soberano. Comporta duas categorias: o Direito Internacional Clássico – as normas estrangeiras só valerão se forem convertidas, pelo Congresso Nacional, às normas internas; ele está estruturado na ideia de soberania – (exemplo: Tratados Internacionais) e o Direito Comunitário – as normas não precisam ser convertidas em normas internas; meio termo entre o Internacional e Nacional. 
2. QUANTO À RELAÇÃO COM A VONTADE:
2.1. NORMAS COGENTES: são normas que impõem preceitos obrigatórios aos sujeitos de direito; são normas que estabelecem preceitos independente da vontade das partes. Exemplo: obrigatoriedade de voto.
2.2. NORMAS DISPOSITIVAS: são normas que dependem da vontade das partes; são normas que admitem a modulação de seus efeitos pela vontade das partes. Exemplo: as normas do Código Civil que tratam dos regimes patrimoniais de bens durante o casamento.
3.QUANTO À RELAÇÃO ENTRE AS NORMAS:
3.1. NORMAS PRIMÁRIAS (OU DE CONDUTA): são normas que regulam diretamente o comportamento humano seja para proibir ou para permitir uma dada conduta. Exemplo: art. 121 do Código Penal – tipifica o crime de homicídio.
3.2. NORMAS SECUNDÁRIAS (OU DE ORGANIZAÇÃO): são normas que tratam do modo de criação, interpretação e aplicação das normas primárias regulando, de modo indireto, o comportamento humano. Exemplo: art. 1 da LINDB.
4. QUANTO AOS GRAUS DE APLICABILIDADE:
4.1. PLENA: é aquela norma jurídica que produz os seus efeitos no mundo do Direito, independentemente da criação de outra norma jurídica. Exemplo: art. 18, parágrafo 1º, Constituição Federal de 1988 – Brasília é a capital do Brasil.
4.2. LIMITADA: são aquelas normas jurídicas que só produzem efeitos no mundo do Direito a partir da criação de outras normas jurídicas. Exemplo: art. 153, inciso 7º, da Constituição Federal de 1988 – imposto sobre grandes fortunas (IGF).
4.3. CONTIDA (OU RESTRINGÍVEL): é aquela norma que, inicialmente, produz ambos efeitos jurídicos e, no segundo momento, prevê a possibilidade de uma outra norma jurídica restringir o alcance da norma jurídica originária. Exemplo: art. 5, inciso 13, da Constituição Federal de 1988 (Liberdade de Trabalho, Ofício ou Profissão atendidas às qualificações que a lei estabelecer).
4.4. EXAURIDA: é aquela norma jurídica cujos efeitos já se consumaram, permanecendo, contudo, vigente como uma mera lembrança histórica. Exemplo: art. 2 da ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) que trata do plebiscito de 93 – referiu-se que em 7 de setembro de 1993 teria um plebiscito para escolher a forma de governo. 
5. QUANTO À ESTRUTURA NORMATIVA:
5.1. REGRAS: são normas que apresentam estrutura fechada ao estabelecer marcos de segurança e de previsibilidade para as relações sociais. Estabelecem previamente as consequências jurídicas para o intérprete do Direito. Exemplo: art. 13 – a língua portuguesa como idioma oficial – da Constituição de 1988.
5.2. PRINCÍPIOS: são normas que apresentam uma estrutura normativa aberta, dotada de maior generalidade. Apontam para os valores essenciais da ordem jurídica, aproximando o Direito da moral e potencializando a realização da justiça. Exemplo: art. 1º, inciso 3º, da Constituição – principio à dignidade da pessoa humana; art. 5º
6. QUANTO À SISTEMATIZAÇÃO LEGAL:
6.1. CODIFICADAS: são aquelas normas jurídicas que integram os códigos: leis dotadas de grande generalidade (alcançam diversas situações e destinatários) e coesão interna (são produzidos a partir de um projeto racional, exaustivamente discutido, e esse projeto é um projeto que dificilmente apresentará contradições. Exemplo: Código Civil Brasileiro de 2002. 
Os séculos XVIII, XIX e a primeira metade do século XX constituíram uma era marcada por grandes codificações. A partir da II Grande Guerra, iniciou-se um processo de descodificação, com a criação de microssistemas jurídicos no plano legislativo. As sociedades humanas tornaram-se cada vez mais complexas e heterogêneas, e devido a essa mudança, houve uma implosão do mundo legislativo e assim, surgem os microssistemas jurídicos (ECA, Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha).
6.2. CONSOLIDADAS: são normas que integram as consolidações: leis que resultam da justaposição de diplomas legislativos pré-existentes. Exemplo: consolidação das leis do trabalho. As consolidações apresentam um grau menor de sistematização quando comparadas aos códigos – ela é bem diferente deles. Enquanto o código deriva de um projeto original, único, exaustivamente discutido no congresso, a consolidação resulta de um processo legislativo mais rápido, mais expedito; o legislador congrega leis pré-existentes e ao congregá-las, nós chegamos a um projeto de consolidação que é aprovado; a consolidação aproveita um material legislativo prévio.
6.3. ESPARSAS/EXTRAVAGANTES: as leis esparsas ou extravagantes são leis que regulam temas e aspectos específicos da vida social, formando os chamados microssistemas jurídicos (Estatuto do Idoso, Estatuto da Igualdade Racional, ECA, dentre outros). Se originam de um projeto original e tem menor generalização quando comparadas às consolidadas.
O código não tem hierarquia entre leis codificadas, consolidadas e esparsas/extravagantes.
7. QUANTO AOS ÂMBITOS DE VALIDADE:
7.1. ESPACIAL:
7.1.1. GERAIS: São aquelas normas válidas em todo território nacional de um Estado soberano. Exemplo: a Constituição Federal de 1988.
7.1.2. ESPECIAIS: São aquelas normas válidas em parcelas específicas do território nacional de um Estado soberano. Exemplo: a lei orgânica do município de Salvador (A lei orgânica de qualquer município é a Constituição de cada município).
7.2. PESSOAL:
7.2.1. GENÉRICAS: normas que alcançam indistintamente a comunidade jurídica, dirigindo-se a destinatários indeterminados. Quanto maior a hierarquia normativa, maior será a generalidade da norma jurídica. Exemplo: art. 5º da Constituição Federal de 1988 – todos são iguais perante a lei.
7.2.2. INDIVIDUALIZADAS: são normas jurídicas que se dirigem a destinatários específicos. Exemplo: contratos; são acordos de vontades que estabelecem direitos e deveres para os contratantes, destinatários definidos. As normas jurídicas que estão na base da pirâmide normativa, são aquelas normas jurídicas dotadas de menor generalidade e maior individualização. 
7.3. MATERIAL:
7.3.1. DE DIREITO PÚBLICO: são aquelas normas jurídicas que disciplinam a relação entre os órgãos estatais e a relação entre o Estado e os particulares, tendo em vista a supremacia do interesse da coletividade. São, geralmente, normas de natureza cogente. Exemplo: as normas do Direito Constitucional, Administrativo, Tributário, etc. 
O direito individual não pode sobrepujar o direito coletivo. Verifica-se, atualmente, uma tendência crescente de “privatizações’ do direito público, tendo em vista a crescente participação dos particulares na prestação de serviços públicos, colaborando, assim, com o cumprimento das funções estatais. Exemplo: parceria público-privadas – pedágios em estradas.
7.3.2. DE DIREITO PRIVADO: são normas que disciplinam relações entre particulares, privilegiando os princípios de liberdade e da autonomia da vontade. Exemplo: normas do Direito Civil e do Direito Comercial.
A maioria dasnormas do direito privado são dispositivas. O direito privado antecedeu, historicamente, o direito público (o direito não-estatal é anterior ao direito estatal). Verifica-se, atualmente, o processo convergente da publicização do direito privado por conta da ingerência do Estado nas relações particulares, através de normas de proteção a grupos e indivíduos mais vulneráveis. Exemplo: leis trabalhistas e leis de proteção de consumidores.
7.4. TEMPORAL:
7.4.1. NORMAS DE VIGÊNCIA DETERMINADA: São normas que estabelecem o término de sua validade. Exemplo: as medidas provisórias – art. 62 da Constituição Federal de 1988.
7.4.2 NORMAS DE VIGÊNCIA INDETERMINADA: São normas jurídicas que não estabelecem o término de sua validade. Exemplo: Constituição Federal de 1988.
7.4.3. INCIDÊNCIA: Quanto ao âmbito de incidência, podemos diferenciar as normas de incidência imediata das normas de incidência mediata.
7.4.3.1 NORMAS DE INCIDÊNCIA IMEDIATA: são normas jurídicas que iniciam sua vigência no próprio momento de sua publicação. Exemplo: Constituição Federal de 1988 (5 de outubro de 1988; mesma data da sua publicação no diário oficial).
7.4.3.1. NORMAS DE INCIDÊNCIA MEDIATA: São aquelas normas jurídicas que iniciam sua vigência após a publicação, prevendo um prazo de vacatio legis. Exemplo: Código de Processo Civil atual (foi publicado em março de 2015 e só entrou em vigência em 2016).
7.5. QUANTO A RETROATIVIDADE
7.5.1. NORMAS RETROATIVAS: são aquelas normas jurídicas que, excepcionalmente, alcançam situações ocorridas antes de sua vigência. Exemplo: retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu e, também, retroatividade da lei trabalhista mais benéfica ao trabalhador.
7.5.2. NORMAS IRRETROATIVAS: as normas jurídicas podem ser irretroativas, porque/quando não alcançam as situações ocorridas antes da sua vigência. A irretroatividade normativa é uma decorrência do princípio geral da segurança jurídica. A constituição de 1988 em seu artigo 5º, estabelece a irretroatividade das leis e o respeito a situações já consolidadas no passado: o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito.
7.5.2.1 DIREITO ADQUIRIDO: é aquele direito que integra o patrimônio do titular, consolidando uma série de prerrogativas e faculdades do sujeito ativo. Exemplo: adquirir o direito a aposentadoria. Não se confunde com a expectativa do direito que se apresenta toda vez que um direito está na iminência de integrar o patrimônio do titular.
7.5.2.2 ATO JURÍDICO PERFEITO: é aquele ato que se consumou conforme os requisitos exigidos por lei na época da sua elaboração. Exemplo: celebração de um casamento. 
7.5.2.3 A COISA JULGADA: é o efeito de imodificabilidade – ela se cristaliza – de uma decisão judicial que não comporta mais recursos. Seja porque a decisão foi tomada na última instância do poder judiciário, seja porque uma das partes deixou escoar o prazo para a interposição de um recurso.
· FONTES DO DIREITO:
1. CONCEITO: são as manifestações de normatividade jurídica que surgem a partir da incorporação à ordem jurídica dos elementos econômicos, políticos e ideológicos presentes na realidade social. O estudo das fontes do direito nos remete ao exame da origem ou gênese do fenômeno jurídico.
2. MONISMO JURÍDICO x PLURALISMO JURÍDICO: na teoria das fontes do direito, dois grandes paradigmas são encontrados, de um lado os monistas, que defendem a origem exclusivamente estatal do Direito e, de outro lado, os pluralistas que defendem a origem estatal e não-estatal do Direito. O paradigma pluralista, se tornou predominante no mundo ocidental após a Segunda Guerra Mundial. A convivência do direito estatal com o direito não-estatal nem sempre é harmoniosa, havendo conflitos frequentes entre as normas oriundas do Estado e as normas oriundas da sociedade.
3. TIPOLOGIAS:
3.1. FONTES MATERIAIS: são aquelas fontes oriundas da sociedade que provém da realidade econômica, política e ideológica. Tal realidade social oferece a matéria-prima necessária para a criação de normas jurídicas. Exemplo: a crise econômica e a aprovação da nova lei das terceirizações.
3.2. FONTES FORMAIS: são aquelas normas jurídicas propriamente ditas que resultam do processo de incorporação das fontes materiais.
3.2.1. ESTATAIS: são aquelas normas jurídicas que se originam do Estado. Exemplo: legislação e jurisprudência.
3.2.2. NÃO-ESTATAIS: são aquelas normas jurídicas que se originam diretamente dos polos de poder social, ou seja, fontes criadas fora do Estado. Exemplo: costumes, doutrinas, negócios jurídicos e poder normativo dos grupos sociais.
4. ESPÉCIES DE FONTES DO DIREITO:
4.1. LEGISLAÇÃO: trata-se de um diploma normativo, revestido de forma escrita, dotado de generalidade e abstração, que se origina de um parlamento. A lei é a principal forma do Direito no Civil Law (tradição romano-germânica). Exemplo: países da Europa Continental e América Latina.
OBS: o sistema de Civil Law se diferencia do sistema de Commom Law (tradição anglo-americana), pois esse último coloca a jurisprudência e os costumes no centro do sistema jurídico. Exemplo: Inglaterra, EUA, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, etc.
4.2. JURISPRUDÊNCIA: é um conjunto de decisões judiciais reiteradas que formam um padrão interpretativo capaz de inspirar futuros julgamentos. Os precedentes são usados para influenciar futuros julgamentos. Ao lado dos costumes é a principal fonte jurídica do sistema de Commom Law. Existe sempre uma jurisprudência dominante. 
A jurisprudência, muito mais do que a lei, ostenta a capacidade de atualizar o Direito, antecipando as transformações sociais. Isso porque o juiz está a todo momento analisando as mudanças; a lei já nasce em descompasso. Exemplo: reconhecimento da guarda compartilhada. 
No Brasil verifica-se um avanço grande da jurisprudência como fonte do Direito, tendência reforçada pela nova redação do Código de Processo Civil a ponto de falarmos da “comunização” do Direito Brasileiro. As grandes inovações do Direito Brasileiro são inovações que podem ser exemplificadas com reconhecimento dos seguintes temas: abandono afetivo, união homoafetiva, direito dos transexuais, proteção contra o bullying, dentre outros.
4.3. SÚMULAS: depois de reiteradas decisões no mesmo sentido, os tribunais podem editar enunciados interpretativos que sintetizam a jurisprudência do Poder Judiciário, são as súmulas. Elas podem ser persuasivas, não obrigatórias, ou vinculantes, obrigatórias. 
No Brasil, todos os tribunais podem editar súmulas persuasivas, mas somente o Supremo Tribunal Federal dispõe da prerrogativa de editar súmulas vinculantes (emenda constitucional, número 25 de 2004).
Diálogo das Cortes: pode citar decisões de outros países, mas não são vinculantes, mas sim, persuasivas, pois detém de argumentação. 
· VANTAGENS DA SÚMULA VINCULANTE:
1. Possibilita o desafogamento das instâncias judiciais, porque o juiz de um determinado lugar termina nesse mesmo lugar;
2. Realiza os princípios da celeridade e da efetividade do processo;
3. Reforça o princípio da segurança jurídica, evitando a tomada de decisões conflitantes ou contraditórias, é um padrão de interpretação único;
4. Realiza o princípio da economicidade processual;
5. Realiza o princípio da razoabilidade, pois não seria razoável prorrogar um processo já se sabendo de antemão o posicionamento do STF.
· DESVANTAGENS DA SÚMULA VINCULANTE:
1. Viola o princípio da separação dos poderes (o STF como legislador positivo – o STF se torna quase um legislador, porque elas são normas genéricas, abstratas e obrigadas formalmente, como se fossem leis);
2. Viola o princípio do livre convencimento judicial (o juiz age como um autônomo, um robô da atividade judicial – fordismo judicial);
3. O STF costuma ser um tribunal conservador e submetido às pressões políticas e econômicas de grandes grupos de interesse;
4. As súmulas vinculantes petrificam a ordem jurídica, bloqueando novas interpretações e decisões – porque apesar de ter mudanças, demora muito e isso impede que novas interpretações surjam;
5. Viola o princípio democráticoao restringir o pluralismo de ideias e o diálogo hermenêutico entre julgadores, profissionais do Direito e agentes sociais. 
4.4. COSTUMES JURÍDICOS: trata-se de uma fonte não-estatal do Direito que decorre da reiteração de práticas sociais no mesmo sentido, as quais estabelecem direitos e deveres para os agentes sociais. As normas jurídicas costumeiras não são escritas, apresentando, assim, um menor grau de segurança. São, contudo, importantes para ramos jurídicos tais como o Direito Internacional, Direito Comercial e o Direito do Trabalho. Exemplo: o uso do cheque pré-datado no Brasil como costume do Direito Comercial. Os costumes jurídicos começam como costumes morais. 
4.5. DOUTRINA: consiste no conjunto de obras e pareceres dos grandes profissionais do Direito que oferecem o argumento de autoridade para influenciar futuros julgamentos. Trata-se de toda a produção científica que serve de embasamento para a criação de leis, decisões judiciais, atos administrativos e demais normas jurídicas. Exemplo: Direito de Informática, Direito dos Animais, Biodireitos, dentre outros. Ela reforça a livre interpretação; é importante quando está diante de novos ramos do Direito, porque não tem muitos marcos legislativos, muitos precedentes, temos um trabalho doutrinário pioneiro.
4.6. NEGÓCIOS JURÍDICOS: são declarações de vontade escritas ou não escritas, unilaterais ou bilaterais que regulam as relações entre os agentes privados, prescrevendo direitos e deveres jurídicos. Exemplo: testamentos e contratos.
4.7. PODER NORMATIVO DOS GRUPOS SOCIAIS: trata-se da prerrogativa genérica de criar microssistemas por parte de instituições sociais. Refere-se ao paradigma do pluralismo jurídico. Exemplo: regulamentos de empresa e convenções condominiais, devem obedecer aos parâmetros estabelecidos pelas leis estatais. 
· TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO:
1. NOÇÕES GERAIS: a teoria do ordenamento jurídico e a parte da teoria do direito que se propõe a examinar a possibilidade de o direito ser concebido e aplicado como um sistema. 
2. O CONCEITO DE SISTEMA JURÍDICO:
Primeiramente, entende-se por sistema o conjunto de elementos que são organizados a fim de permitir o conhecimento de uma dada fração do universo natural ou social. 
No mundo do direito, é também possível conceber a noção de sistema jurídico, toda vez que são propostos modelos de organização conceitual da normatividade jurídica conceber um sistema jurídico, ajuda o jurista a melhor interpretar e aplicar as normas jurídicas aos casos concretos. A contribuição ainda hoje mais conhecida e difundida no plano da Teoria do Ordenamento Jurídico é aquela fornecida pelo grande pensador Hans Kelsen: a pirâmide normativa.
A teoria piramidal, de Hans Kelsen, é a mais didática e operacional no mundo ocidental, mas não deixa de receber críticas, pois não contempla os costumes, nem dedica especial atenção ao papel da jurisprudência, que fica relegada a uma condição de segundo plano na base da pirâmide normativa. Nesse sentido, pode-se entender o sistema jurídico como um conjunto de normas que se articulam a partir de laços de validade formal e material. 
3. O PROBLEMA DA COMPLETUDE – LACUNAS E INTEGRAÇÃO DO DIREITO: para que um sistema possa ser considerado racional, deve o mesmo ser considerado completo, por oferecer respostas às situações que pretende enfrentar. No mundo jurídico, discute-se sobre a possibilidade de o Direito ser qualificado como um sistema fechado (completo) ou aberto (incompleto). 
· Argumentos em favor da completude do sistema jurídico: 
1º O direito seria um sistema um sistema fechado e completo, porque seria possível aplicar o axioma “tudo que não está juridicamente proibido, está juridicamente permitido”; fechando o sistema. 
2º O direito seria completo, porque sempre o julgador estaria obrigado a decidir, sendo a sua decisão a resposta normativa para a nova situação social, ou seja, o fechamento do sistema seria realizado no plano da jurisdição. 
3º O direito seria completo, porque o próprio ordenamento jurídico ofereceria os instrumentos para o preenchimento das lacunas, através dos mecanismos de integração (analogia, costumes, princípios geral do direito e equidade).
· Argumentos favoráveis ao sistema aberto ou incompleto:
1º A ordem jurídica não consegue alcançar o mesmo ritmo das transformações da realidade social, surgindo assim, as lacunas; o direito não consegue alcançar; o direito é um reboque; vem depois. 
2º A existência de instrumentos de integração é a demonstração inequívoca de que o direito já se reconhece incompleto. 
	3º Para que o sistema jurídico fosse completo haveria a necessidade de um legislador que viesse a regular, com perfeição, todos os aspectos da vida social presente e futura. 
Nesse sentido, somos favoráveis à ideia da incompletude e abertura do sistema jurídico. Existem, portanto, lacunas jurídicas. 
3.1. LACUNAS: entende-se por lacunas jurídicas quaisquer imperfeições que venham a comprometer a completude do sistema jurídico. Elas podem ser classificadas da seguinte forma: 
I. LACUNA NORMATIVA: é aquela lacuna jurídica que se verificam toda vez que inexiste norma que venha a regular uma dada situação social. Exemplo: ausência de legislação penal expressa para os crimes virtuais. 
II. LACUNA FATICA: consiste naquela lacuna jurídica que se apresenta toda vez que a norma jurídica vigente não se revela efetiva, estando em descompasso com os fatos sociais. Exemplo: as leis das contravenções penais e o jogo do bicho. 
III. LACUNA VALORATIVA OU AXIOLÓGICA: se verifica toda vez que a norma jurídica vigente não se encontra em conformidade com a ideia de justiça da sociedade. Nesse sentido, ocorre uma perda de legitimidade, por conta do desalinhamento dos subsistemas normativo e valorativo. Exemplo: a previsão normativa da obrigatoriedade do voto no âmbito da Constituição Federal de 1988. 
3.2. INSTRUMENTOS DE INTEGRAÇÃO DO DIREITO: a integração do direito consiste numa atividade de preenchimento de lacunas, através da qual o jurista restaura a completude da ordem jurídica. Tais mecanismos estão previstos na lei (LINDB, CPC, CLT, CP, dentre outros), bem como são usados pela doutrina e jurisprudência. Não há hierarquia entre eles, nem tampouco relação de exclusividade. Tais instrumentos são os seguintes: analogia, costumes, princípios gerais do direito e equidade.
3.2.1. ANALOGIA: consiste na aplicação de uma norma jurídica que trata de uma dada situação social semelhante que carece de uma regulação normativa expressa. A analogia é usada de modo bastante econômico em ramos jurídicos regidos pelo princípio da legalidade estrita. Exemplo: aplicação da Lei Maria da Penha às transexuais submetidas a violência doméstica e familiar. A analogia é aplicada mediante uma análise zetética da situação. Por força do princípio da legalidade estrita (cumprimento dogmático da lei), a analogia deve ser usada de forma passimoniosa. No Direito Penal, a analogia só é permitida caso favoreça a parte, nunca desfavorecendo. “Nulo é o crime, nula é a pena sem prévia lei”. 
3.2.2. COSTUMES: são normas não escritas que resultam de práticas sociais reiteradas que podem ser usadas para o preenchimento de lacunas. Exemplo: utilização dos costumes de uma dada localidade para o preenchimento de lacunas contratuais (novo Código Civil). O costume, por não estar escrito, traz insegurança.
3.2.3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO: são normas expressas ou implícitas que corporificam os valores de uma dada sociedade, aproximando o Direito da Moral e potencializando a realização da justiça. Exemplo: aplicação do princípio da insignificância em face das lacunas valorativas decorrentes dos chamados Furtos Famélicos (furtos praticados para saciar a fome). 
3.2.4. EQUIDADE: consiste na aplicação do sentimento de justiça diante do caso concreto, a partir de uma apreensão moral do julgador e este examinaria caso a caso encontrando as peculiaridades. Exemplo: o uso da equidade na Justiça do Trabalho. 
4. O PROBLEMA DA COERÊNCIA – ANTINOMIAS E CRITÉRIOS DE SOLUÇÃO: trata-seda exigência racional de que um dado sistema não apresente contradições. No mundo do Direito, tais conflitos normativos são denominados de antinomias jurídicas: uma norma permite e outra proíbe um dado comportamento. Exemplo: a transfusão de sangue para Testemunhas de Jeová e o conflito entre à vida e à liberdade religiosa. 
Diante dessas antinomias, o jurista deverá utilizar os critérios tradicionais de solução das antinomias: 
1. CRITÉRIO HIERÁRQUICO: por força desse critério, havendo conflito entre uma norma superior e outra norma inferior, prevalecerá a norma jurídica superior. Esse é o mais importante critério tradicional para resolver antinomias jurídicas. Exemplo: a inconstitucionalidade das leis da Reforma Trabalhista. Não existe hierarquia para direitos fundamentais. 
2. CRITÉRIO CRONOLÓGICO: havendo conflito entre norma posterior e norma anterior, ambas de mesma hierarquia, prevalece a norma posterior. Exemplo: aplicação do Código de Defesa do Consumidor (1990) em face do antigo Código Civil (1916) para os contratos bancários. 
3. CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE: havendo conflito entre uma norma geral e uma norma especial, sendo ambas de mesma hierarquia, prevalece a norma especial. Exemplo: a gratuidade para idosos do transporte interestadual e intermunicipal em face do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto do Idoso. 
OBS: existe ainda uma situação específica segundo a qual uma norma anterior especial entra em conflito com uma norma posterior geral, sendo ambas de mesma hierarquia, trata-se da antinomia de segundo grau. Com relação a ela, a Ciência Jurídica não dispõe de um critério previamente estabelecido. Exemplo: o conflito entre o Código de Defesa do Consumidor (1990) e o novo Código Civil (2002) em matéria de Direito Contratual. Há uma certa prevalência da norma anterior especial.
4.1. A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS ENTRE PRINCÍPIOS JURÍDICOS: A PONDERAÇÃO DE BENS E INTERESSES: os princípios jurídicos estão, em sua grande maioria, previstos na Constituição. Quando ocorrem conflitos entre eles, os critérios tradicionais acima examinandos não podem mais ser utilizados. Restará o uso da técnica hermenêutica da ponderação de bens e interesses. Trata-se de uma interpretação voltada ao estabelecimento de uma prioridade concreta entre os princípios em disputa à luz do exame das dimensões fática e valorativa do problema jurídico. Ponderar demanda uma investigação zetética das dimensões de legitimidade e efetividade, a fim de que seja possível mensurar a preponderância de um princípio em face de outro. Em cada caso concreto haverá um mosaico de princípios incidentes e uma hierarquia específica de acordo com a situação (Exemplo: o conflito entre os princípios da intimidade e da liberdade dos meios de comunicação e o conflito entre os princípios da livre iniciativa, propriedade privada, busca do pleno emprego e proteção ambiental). Não há hierarquia prévia entre princípios.
A boa ponderação é aquela que consegue garantir a preponderância do princípio dominante sem afastar, totalmente, do processo decisório o princípio de menor peso do caso concreto.
· RELAÇÃO JURÍDICA:
1. CONCEITO: consiste no vínculo intersubjetivo que se estabelece toda vez que a hipótese abstrata da norma jurídica se materializa no mundo dos fatos polarizando de um lado um sujeito ativo (titular de um direito subjetivo) e de outro lado um sujeito passivo, obrigado ao cumprimento de um dever jurídico, bem como apresenta-se como nexo intersubjetivo que justifica a aplicação ao infrator que pratica uma dada ilicitude.
2. CARATERES: a relação jurídica apresenta duas características básicas, a primeira é a bilateralidade (existência de uma interação intersubjetiva de comportamentos humanos) e a exterioridade (manifestação concreta das ações sociais). Exemplo: a relação tributária entre o Estado e os contribuintes.
3. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: 
3.1. FATO JURÍDICO: entende-se por fato jurídico todo e qualquer acontecimento natural ou humano que materializa a hipótese desenhada abstratamente no plano jurídico normativo, produzindo, assim, consequências no mundo do Direito. O fato jurídico, em sentido amplo, compreende duas categorias: o fato jurídico em sentido estrito (ou restrito) e ato jurídico. O primeiro, diz respeito ao evento natural que produz consequências jurídicas (exemplo: a passagem do tempo, a morte natural). O segundo, refere-se ao evento decorrente da vontade humana que produz efeitos jurídicos (exemplo: a celebração de um contrato, a elaboração de um testamento). 
3.2. SUJEITO DE DIREITO: são todos aqueles entes personalizados ou despersonalizados que integram os polos da relação jurídica. De um lado, o sujeito ativo titulariza um direito subjetivo em face de um sujeito passo obrigado ao cumprimento de um dever jurídico correlato. 
3.2.1. ENTES PERSONALIZADOS: são sujeitos de Direito que a ordem jurídica reconhece como detentores de uma personalidade jurídica (possibilidade de convivência social). Podem ser tanto pessoas naturais, dotadas de existência corpórea (exemplo: qualquer um de nós; pessoa física), quanto pessoas jurídicas, dotadas de existência abstrata ou ficta. Essas pessoas jurídicas podem ser de Direito Privado (exemplo: associações civis e sociedades comerciais) ou de Direito Público (exemplo: organismo internacionais, entes federativos, dentre outros). 
OBS: não se pode confundir pessoa física com pessoa jurídica, pois tratam-se de entes diversos. Contudo, em determinadas situações, quando há indícios de fraudes, o Poder Judiciário pode aplicar a Teoria da Desconsideração da Pessoa Jurídica (de origem norte-americana), hoje muito utilizada no Brasil nas seguintes áreas: Direito do Consumidor, Direito do Trabalho, Direito Administrativo, Direito Previdenciário, Direito Tributário, dentre outros. 
3.2.2. ENTES DESPERSONALIZADOS: são aqueles sujeitos de Direito que, embora não possuam personalidade juridicamente reconhecida, são capazes de titularizar direitos e contrair deveres. Exemplo: nascituro – é o ser em gestação.
OBS: atualmente, discute-se muito sobre a possibilidade de reconhecer-se outros entes despersonalizados, a exemplo dos animais e até mesmo de seres dotados de inteligência artificial. 
3.3. DIREITO SUBJETIVO: consiste no conjunto de faculdades e de prerrogativas que a ordem jurídica confere ao sujeito ativo de uma relação jurídica. O Direito em sentido objetivo (norma jurídica) confere ao sujeito ativo uma série de poderes cuja materialização depende do cumprimento de um dever jurídico correlato pelo sujeito passivo. Nesse sentido, o objeto do direito subjetivo é o dever jurídico. Exemplo: o direito subjetivo de propriedade privada, as faculdades de usar, gozar e dispor de um dado bem.
· TEORIAS FUNDAMENTADORAS DO DIREITO SUBJETIVO: muitas concepções foram oferecidas ao longo da evolução do pensamento jurídico para identificar qual seria o conteúdo do direito subjetivo. As principais são as seguintes: 
I. Teoria da Vontade: o fundamento da do direito subjetivo seria a vontade humana. Essa teoria é moderna – voluntarista – e que hoje é muito criticada, porque nem todo o direito subjetivo tem como suporte a vontade. Exemplo: nascituro, “loucos”. 
II. Teoria do Interesse: o direito subjetivo estaria baseado no vínculo de intencionalidade existente entre um sujeito e um dado objeto, geralmente exprimindo um conteúdo de natureza econômica (interesse, portanto, de natureza material). 
III. Teoria Eclética (ou Mista): o fundamento do direito subjetivo seria tanto interesse quanto a vontade. Essa é a teoria mais criticada, porque as críticas anteriores podem ser “encaixadas” nesta. 
IV. Teoria da Ação: o fundamento do direito subjetivo seria a possibilidade de o sujeito ativo mover uma ação judicial perante o poder judiciário para exigir institucionalmente o cumprimento de um dever jurídico. Tal visão sofre críticas, porque acaba confundindo o chamado Direito Material com o Direito Processual, que são distintos. Exemplo: a prescrição do Direito Processual de Ação após dois anos do término de umcontrato de trabalho. 
V. Teoria Existencialista: o direito subjetivo repousaria na liberdade humana. Nesse sentido, o exercício do direito subjetivo residiria na possibilidade de uma livre realização de comportamentos. O problema dessa teoria é que nem todo o direito reside na expansão da liberdade; essa teoria não explica a dinâmica das normas cogentes (preceitos obrigatórios).
VI. Teoria Jusnaturalista: os direitos subjetivos são direitos naturais e inerentes à condução humana, sendo, portanto, universais. Essa visão é também equivocada, porque os direitos são sempre histórico-culturais, não existem direitos universais e inerentes, eles surgem a partir de necessidades concretas em situações histórico-culturais. Exemplo: Estado laico. 
VII. Teoria Normativista: o fundamento do direito subjetivo seria a própria norma jurídica. Não haveria direito subjetivo sem uma norma expressa ou implícita, escrita ou não escrita que fundamente uma dada pretensão jurídica. Essa é a teoria mais aceita. 
· TIPOLOGIAS DE DIREITO SUBJETIVO:
DIREITOS PATRIMONIAIS x DIREITOS EXTRAPATRIMONIAIS: 
PATRIMONIAIS: são direitos que possuem um dado valor econômico. Exemplo: direito de propriedade privada.
EXTRAPATRIMONIAIS: são direitos que não apresentam possibilidades de apreciação econômica. Exemplo: direito à vida e a integridade física. 
DIREITOS ABSOLUTOS x DIREITOS RELATIVOS:
ABSOLUTOS: são aqueles direitos que produzem seus efeitos perante toda a comunidade jurídica (sujeito passivo indeterminado). Tais direitos impõem obrigações negativas ao sujeito passivo. Exemplo: os direitos à vida, à propriedade, à honra. 
RELATIVOS: são aqueles direitos que são exercidos perante um sujeito passivo determinado, impondo-se, assim, obrigações positivas. Exemplo: direito de crédito trabalhista, direito de crédito tributário. 
DIREITOS PÚBLICOS x DIREITOS PRIVADOS:
PÚBLICOS: são aqueles direitos se exercem no contexto de uma relação em que o Estado esteja presente, seja no polo ativo seja no polo passivo. Exemplo: o direito à saúde do cidadão e a obrigação do Estado em face do fornecimento de medicamentos de alto custo; o direito de crédito tributário do Estado contra o contribuinte.
PRIVADO: é aquele direito subjetivo exercido no âmbito de relação entre os particulares. Exemplo: o direito de crédito trabalhista exercido contra uma empresa. 
3.4. DEVER JURÍDICO: consiste num conjunto de obrigações assumidas pelo sujeito passivo de uma relação jurídica. Existem três tipos de obrigações que podem ser isoladas ou concomitantes:
I. Obrigação de Fazer: consiste na realização de um comportamento positivo. Exemplo: prestação de um serviço de limpeza.
II. Obrigação de Não Fazer: consiste na abstenção de um comportamento. Exemplo: a preservação do sigilo profissional.
III. Obrigação de Dar: consiste na obrigação de entrega de um bem – é um tipo de obrigação de fazer. Exemplo: o pagamento de um tributo ou da fatura de um cartão de crédito – em geral, qualquer tipo de pendência de pagamento.
· TIPOLOGIAS DE DEVERES JURÍDICOS: trata-se dos critérios de classificação dos deveres jurídicos:
DEVER JURÍDICO INSTATÂNEO x DIREITO JURÍDICO SUCESSÍVEL:
INSTANTÂNEO: é aquele que se consuma num único ato. Exemplo: pagamento à vista de um automóvel. 
SUCESSÍVEL: é aquele que se projeta no tempo, através de uma sucessão de atos. Exemplo: pagamento mensal de pensão alimentícia. 
DEVER JURÍDICO PATRIMONIAL x DEVER JURÍDICO EXTRAPATRIMONIAL:
PATRIMONIAL: é aquele dever jurídico que é passível de apreciação econômica. Exemplo: pagamento de um tributo.
EXTRAPATRIMONIAL: é aquele que não é passível de apreciação econômica. Exemplo: o respeito à vida alheia. 
DEVER JURÍDICO PÚBLICO x DEVER JURÍDICO PRIVADO:
PÚBLICO: é aquele cumprido em relações em que o Estado segura num dos polos da relação jurídica. Exemplo: o cidadão e a obrigação pública do Estado oferecer segurança. 
PRIVADO: são aqueles deveres jurídicos que se constituem de obrigações cumpridas em relações que envolvem particulares. Exemplo: o pagamento de uma fatura pelo consumidor a uma dada empresa de telefonia. 
3.5. ILICITUDE: trata-se de um comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) que transgrede preceitos de normatividade jurídica. Trata-se da mais grave forma de infração ética (violação dos valores do chamado Mínimo Ético). A maioria dos comportamentos humanos são, contudo, lícitos (tudo que não está juridicamente proibido, está juridicamente permitido). 
A ilicitude pode ser praticada tanto pelo sujeito ativo quanto pelo sujeito passivo. Chama-se abuso de direito, a ilicitude que decorre do exercício desproporcional ou arbitrário de um direito subjetivo pelo sujeito ativo. Exemplo: a cobrança abusiva de uma dívida (a cobrança deve ser feita de 8h-18h, em dias de semana e de forma passimoniosa); abordagem violenta em blitz policial.
Por outro lado, o inadimplemento ocorre toda vez que o sujeito passivo descumpre como obrigação integrante de um dever jurídico. Exemplo: o crime de sonegação fiscal. 
3.6. SANÇÃO JURÍDICA: é a consequência jurídica do ilícito. Trata-se de qualquer constrangimento patrimonial ou físico imputado ao infrator que pratica. Nas sociedades contemporâneas, a sanção jurídica apresenta natureza organizada. 
NORMA JURÍDICA
(DIREITO OBJETIVO)
FATO JURÍDICO
 (
INADIMPLEMENTO
) (
ABUSO DE DIREITO
) (
SANÇÃO JURÍDICA
) (
I
LICITUDE
) (
LICITUDE
)
· ESCOLAS DO PENSAMENTO JURÍDICO:
1. JUSNATURALISMO: o jusnaturalismo é uma doutrina dos Direitos Naturais que sustenta a existência de um código de ética universal e absoluto de justiça; a ideia de que o direito nasceria com os indivíduos – direito à vida, liberdade, propriedade (o que atualmente chamamos de Direitos Humanos). O Estado não seria obrigado, através de suas leis, atos administrativos, a reconhecer esses direitos para que eles existissem – eles existiriam independente do Estado. Isso porque parte-se da ideia de que os direitos naturais estariam gravados na nossa própria essência, cada um carregaria dentro de si uma espécie de código de ética e de justiça – uma bússola ética. 
1ª FASE – JUSNATURALISMO COSMOLÓGICO (IDADE ANTIGA): o fundamento dos direitos naturais e da ideia de justiça seria a harmonia cósmica do indivíduo com o universo. Foi desenvolvida na Grécia e na Roma Antiga e isso porque se acreditava que o comportamento humano obedecia às leis cósmicas. 
2ª FASE – JUSNATURALISMO TEOLÓGICO (IDADE MÉDIA): o fundamento dos direitos naturais e da própria ideia de justiça reside na vontade de Deus – a Justiça Divina. No ponto de vista social, é importante destacar a influência da Igreja Católica Apostólica Romana que se comportava como mediadora entre esses dois mundos – Divino e Real. Também pode ser encontrado nas sociedades do Orientes – as sociedades islâmicas. 
3ª FASE – JUSNATURALISMO RACIONALISTA (IDADE MODERNA): o fundamento dos direitos naturais e da justiça residiria na razão humana universal; o ser humano acessaria a justiça através da razão – não mais através da fé. Foi sustentada durante a modernidade e foi a concepção que serviu de alavanca ideológica para a Revolução Francesa, Independência dos EUA (a declaração do bom povo da Virgínia, percebe-se a clara evocação dos preceitos jusnaturalista racionalista). No século XIX ele perdeu a força.
4ª FASE – JUSNATURALISMO CONTEMPORÂNEO (APÓS A II GUERRA MUNDIAL): o fundamento dos direitos naturais e da ideia de justiça passa a ser o consenso internacional expresso por diversos povos, nações e países acerca da essencialidade dos chamados direitos humanos. Ela toma força, porque o início do século XX é catastrófico para os direitos humanos, banalizaram o mau – campos de concentração. Teve a criação da ONU em 1945 e em 1948 é promulgada a Declaração dos Direitos do Homem, ou seja, é retomada a discussão acerca dos direitos humanos sob outra perspectiva. A dificuldade é a busca desse consenso já que vivemos num mundo multicultural. 
CRÍTICAS POSITIVAS: 
1. Teve o mérito de demonstrar a importância do debate sobre a legitimidade do direito (conexãodo direito com a justiça).
2. Desenvolveu, pela primeira vez, uma noção de sistema, no mundo do direito: Direito Positivo (inferior) x Direito Natural (superior). 
3. Foi a matriz principal do discurso dos direitos humanos que hoje está no centro dos Estados democráticos da atualidade. 
CRÍTICAS NEGATIVAS:
1. Os direitos e a justiça são construções histórico-culturais e, portanto, variáveis no tempo e no espaço. 
2. Confunde os atributos normativos da validade e da legitimidade, porque o jusnaturalismo sustenta que aquilo que não é justo, não seria válido.
3. O direito natural, pela sua vagueza semântica, não oferece segurança jurídica para a tomada das decisões e para a solução dos conflitos de interesses. 
2. POSITIVISMO LEGALISTA: trata-se de corrente de pensamento jurídico contrária à concepção jusnaturalista. Desenvolveu-se após as Revoluções Liberais Burguesas dos séculos XVII e XVIII (Revolução Gloriosa, na Inglaterra; Independência dos EUA; e a Revolução Francesa) – se consolida no início do século XIX. A maior expressão do positivismo legalista foi a Escola de Exegese, na França, formada pelos comentadores do Código Napoleônico de 1804.
TESES FUNDAMENTAIS:
1. Redução do Direito à lei; direito é lei (legalismo).
2. Defesa do monismo jurídico; produção estatal do direito – o direito seria produto exclusivo do Estado.
3. Defesa da perfeição racional do legislador; acreditava que o legislador era perfeito.
4. Defesa da completude e coerência do sistema legal; ausência de lacunas e de antinomias jurídicas.
5. Rejeição da existência dos Direitos Naturais; o único direito existente é o direito positivado pelo Estado, ou seja, rejeita a existência de direitos naturais.
6. Separação do Direito em face da Moral; ao rejeitar os direitos naturais, o que se quis, foi afastar qualquer influência de ter essas discussões tidas como subjetivas; tornar o direito mais objetivo e menos dependente das subjetividades dos seus aplicadores. 
7. Negação do debate sobre a justiça; esse debate sobre a justiça é um debate importante, porque ele era o eixo das discussões jusnaturalistas e que é abandonado no positivismo legalista.
8. Neutralização política do Poder Judiciário; o juiz como a boca da lei. O papel do judiciário seria aplicar a lei de forma dogmática (isso atenderia o interesse da burguesia).
9. Ênfase na interpretação gramatical do Direito; interpretação legal ao pé da letra – dogmatismo jurídico.
CRÍTICAS POSITIVAS:
1. Contribuiu para o desenvolvimento da ciência jurídica especialmente do Direito Civil (teorias, classificações, definições).
2. A defesa da legalidade foi, ao seu tempo, revolucionária, pois sem a segurança jurídica oferecida pela lei não haveria capitalismo no terreno econômico ou democracia no terreno político.
3. A lei, por ser uma fonte escrita, também oferece segurança jurídica para os processos decisórios.
CRÍTICAS NEGATIVAS:
1. A lei não é a única fonte do direito (pluralismo jurídico). 
2. A aplicação mecânica da lei pode gerar um grande dogmatismo, pois o legalismo conduz a profundas injustiças. 
3. A legislação não é perfeita, pois a mesma apresenta antinomias e lacunas (incompletude e incoerência). 
3. HISTORICISMO JURÍDICO: trata-se da primeira corrente de crítica ao positivismo legalista. Ela surgiu na Alemanha durante o século XIX. O seu mentor foi o jurista germânico Carl von Savigny. 
TESES FUNDAMENTAIS:
1. Valorização dos costumes como principais fontes do direito.
2. Afirmação do Volksgeist (o espírito do povo) como fundamento do direito costumeiro; cada povo teria suas características próprias.
3. Rejeição da ideia da perfeição racional do legislador e da lei. 
4. Afirmação do pluralismo jurídico (produção social do direito). 
5. Defesa do método histórico de interpretação jurídica; os juristas teriam que voltar ao passado, mapear a origem do fenômeno jurídico para melhor compreendê-lo. Busca dos antecedentes remotos ou imediatos que interferiram no processo de criação da norma jurídica (interpretação contextual e retrospectiva). 
CRÍTICAS POSITIVAS:
1. Teve o mérito de resgatar o estudo do direito romano ao enfatizar a interpretação história, eles foram ao passado que é imprescindível para a interpretação do direito.
2. Reconheceu a origem também social do direito (pluralismo jurídico). 
3. Situou o direito adequadamente no rol dos objetos culturais, porque o direito estava sempre situado como objeto ideal – tiravam ele da realidade. 
CRÍTICAS NEGATIVAS:
1. Retira-se a autonomia da ciência jurídica, subordinando-a à história; surgiu a História do Direito. 
2. A noção de Volksgeist é uma noção estereotipada da realidade, pois nem todos os agentes sociais vivem, sentem e agem da mesma forma – ele generaliza e não reconhece a diversidade. 
3. O costume, por ser uma fonte não escrita, acaba por não oferecer segurança jurídica. 
4. SOCIOLOGISMO JURÍDICO: trata-se de um movimento de reação ao positivismo legalista, surgida na França durante o século XIX, após o surgimento da sociologia de Augusto Comte. O direito passou a ser estudado como uma ciência social enquanto conjunto de fatos sociais. Depois da França, o sociologismo se espraiou pelo mundo alcançando diversos países: EUA, Rússia, Alemanha, Inglaterra, Países Escandinavos, dentre outros. 
No Brasil, o sociologismo chegou somente na primeira metade do século XX.
TESES FUNDAMENTAIS:
1. Colocação do direito no mundo do ser, como objeto real; deixa de ser estudado como norma, para ser estudado como fato.
2. Efetividade: a efetividade torna-se o atributo normativo mais valorizado da Teoria Geral do Direito, ou seja, adequação fática da norma jurídica.
3. Defesa do pluralismo jurídico (produção social do direito). O direito é produto essencial da sociedade e não do Estado 
4. Valorização da jurisprudência como principal fonte do direito. O direito vivo e concreto dos tribunais, o sociologismo considera a jurisprudência, mais do que qualquer outra fonte é capaz de captar a realidade social.
5. Demonstração da imperfeição da lei e do legislador (incompletude e incoerência).
6. Possibilidade da chamada jurisprudência contra legem (contra a lei).
7. Reconhecimento da possibilidade dos movimentos sociais criarem novos direitos não expressos na lei.
8. Desenvolvimento de uma interpretação sociológica do direito; adequação do texto normativo a nova realidade social e ao adequar não poderíamos reproduzir o sentido original do legislador.
CRITICAS POSITIVAS:
1. Demonstra a relevância da efetividade como atributo normativo.
2. O sociologismo teve o mérito de reconhecer a sociedade como um centro de produção das normas jurídicas (superação da visão estatocêntrica do direito).
3. Demonstração da imperfeição da lei e do legislador (reconhecimento das antinomias e das lacunas jurídicas).
4. Reconhecimento da capacidade da jurisprudência de criar um direito novo e mais adequado à realidade.
CRITICAS NEGATIVAS:
1. O sociologismo confunde os mundos do ser e do dever-ser ao situar o direito como fato social; ele é uma experiência normativa.
2. O sociologismo acaba por confundir ilicitude com ineficácia, bem como confunde licitude com eficácia. Exemplo: a prática do jogo do bicho no Brasil seria considerada lícita por ser efetiva. 
3. O reconhecimento do grande valor da jurisprudência como fonte do direito pode abrir espaço para o arbítrio judicial, com a consequente violação do princípio da separação dos poderes (o juiz como legislador).
4. O reconhecimento dos movimentos sociais como sujeitos coletivos do direito pode comprometer o respeito a legalidade e à segurança jurídica (o risco de um conflito da sociedade contra o Estado).
5. O sociologismo compromete a autonomia da ciência do direito subordinando-a à sociologia. 
5. TEORIA PURA DO DIREITO: trata-se de uma corrente de pensamento jurídico surgida na primeira metade do século XX, que integra um movimento mais amplo denominado de Positivismo Lógico. Essa visão foi idealizada pelo grande jurista tcheco Hans Kelsen. Essa teoria foi um divisor de águas na história do pensamento jurídico.Podemos inclusive afirmar que tivemos duas fases: o pré-kelseniano e o pós-kelseniano. Kelsen em nenhum momento identificou o direito com a lei; ele agregou o estudo da lógica ao positivismo jurídico.
TEORIAS FUNDAMENTAIS:
1. Reconhecimento da ciência jurídica como ciência normativa, cujo objeto é a norma jurídica.
2. Afirmação da norma como uma estrutura de dever-se (Lógica da Imputação).
3. Exclusão das dimensões fáticas e valorativas da experiência jurídica (o direto como um conjunto puro de normas).
4. Valorização da validade como atributo das normas jurídicas (rejeição das dimensões de efetividade e de legitimidade), nós juristas não deveríamos nos preocupar em discutir legitimidade ou efetividade.
5. Proposição de um sistema jurídico piramidal (hierarquização, valorização da hierarquia normativa).
6. Separação entre direito e moral (típico do positivismo).
7. Rejeição do debate sobre a justiça (não se poderia verificar porque o conteúdo da justiça ele variaria no tempo e no espaço). 
8. Rejeição dos chamados direitos naturais. 
9. Defesa da completude da Ordem Jurídica (tudo o que não está juridicamente proibido, está juridicamente permitido).
10. Defesa do dogma da coerência (ausência de antinomias jurídicas).
11. Defesa do monismo jurídico – o direito como produto exclusivo do Estado.
CRITICAS POSITIVAS:
1. Promoveu um grande avanço na Teoria do Direito, oferecendo novas definições, classificações e instrumentos teóricos.
2. Restaurou a autonomia da ciência do direito que estava comprometida pela história e pela sociologia.
3. Oferece instrumentos capazes de solucionar os problemas do cotidiano jurídico. Exemplo: Pirâmide Normativa.
CRITICAS NEGATIVAS:
1. Não atentou para a pluridimensionalidade da experiência jurídica, ao reduzir o direito a norma. 
2. Exclusão do debate sobre a justiça abre espaço para um dogmatismo perigoso em matéria de direito, abrindo espaço para normas injustas.
3. Identificação do direito com o Estado favorece os regimes autocráticos.
6. PÓS-POSITIVISMO JURÍDICO: trata-se de corrente surgida após a Segunda Guerra Mundial (final da década de 40), no mundo ocidental, como uma reação à Teoria Pura do Direito. No Brasil, tal concepção surgiu após o advento da Constituição Federal de 1988 (surgiu nessa Constituição, porque passamos por um período ditatorial; foi uma concepção, de certa forma, recente). Pretende o pós-positivismo conciliar as teses defendidas pelo Jusnaturalismo, pelo Positivismo Jurídico, pelo Historicismo e pelo Sociologismo Jurídico. 
TESES FUNDAMENTAIS:
1. Afirmação do Direito como um fenômeno ético tridimensional – norma, fato e valor (supera as visões unilaterais de outras correntes de outro pensamento jurídico; é uma abordagem plural).
2. Valorização concomitante dos atributos da validade, efetividade e legitimidade.
3. Valorização de uma investigação zetética do Direito (reflexão crítica do fenômeno jurídico) – se contrapõe ao dogmatismo da Teoria Pura do Direito. 
4. Ênfase a um diálogo multidisciplinar do Direito com outras formas de conhecimento. 
5. Reaproximação do Direito em face da Moral (Teoria dos Círculos Éticos Secantes).
6. Retomada do debate sobre a justiça a partir da fórmula multicultural dos Direitos Humanos. 
7. Defesa do pluralismo jurídico (produção social e estatal do Direito).
8. Constatação da insuficiência do legislador e da lei (desconstrução racional do mito da perfeição legislativa.
9. Reconhecimento da incompletude do sistema legal (existência de lacunas jurídicas).
10. Reconhecimento da incoerência do sistema legal (existência de antinomias jurídicas).
11. Valorização da hermenêutica jurídica nas dimensões teórica e prática (ênfase a uma postura criativa e construtiva do aplicador do Direito, ao contrário de uma interpretação gramatical, mecânica).
12. Ênfase ao uso dos métodos sociológico (procura adequar o Direito a realidade social) e teleológico (procura realizar os fins maiores do Direito, geralmente utilizando princípios) de interpretação jurídica.
13. Valorização dos princípios como espécies normativas e como vetores de interpretação.
14. Valorização da jurisprudência como fonte jurídica capaz de criar um Direito vivo e concreto.
15. Dissolução das fronteiras entre o Civil Law e o Commom Law, através da valorização da jurisprudência (Commonização do Direito Brasileiro).
16. Valorização dos Direitos Humanos Fundamentais na teoria e prática do Direito – afirmados através de princípios em escala internacional, constitucional; eles são o eixo a partir da qual se estrutura do pensamento jurídico. 
17. Proposição de uma ciência jurídica como ciência cultural (inexatidão e diversidade histórico-cultural). 
CRÍTICAS POSITIVAS:
1. Teve o mérito de superar as visões unilaterais das correntes (reducionistas) anteriores do pensamento jurídico.
2. Teve o mérito de desenvolver uma teoria dos princípios, capaz de fundamentar a aplicação de um direito justo e ao mesmo tempo seguro.
3. Oportunizou um ativismo judicial capaz de potencializar a efetivação dos Direitos Humanos Fundamentais (protagonismo do poder Judiciário no Estado democrático de Direito).
4. Possibilitou a desconstrução do mito da perfeição racional da lei.
CRÍTICAS NEGATIVAS:
1. Os princípios, por conta de sua estrutura normativa aberta, geram insegurança jurídica. 
2. O ativismo judicial pode ensejar o decisionismo judicial (risco de uma jurisprudência contra a lei).
3. O diálogo multidisciplinar do Direito pode comprometer a autonomia da ciência jurídica.
4. O discurso multicultural da justiça e dos Direitos Humanos Fundamentais pode gerar um perigoso relativismo de valores.
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