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Epidemiologia Modelos de saúde-doença com ênfase no modelo de História Natural da Doença e níveis de prevenção Modelos de saúde-doença • A base do raciocínio para compreensão sobre a ocorrência das doenças surge dos MODELOS SAÚDE-DOENÇA MODELO BIOMÉDICO: Referencial clássico da biomedicina. Perfeito para explicar e tratar doenças infecciosas e parasitárias. Esse modelo compreende a doença como uma agressão de um agente etiológico MODELO PROCESSUAL: Esse modelo é o mais importante para a epidemiologia. É o modelo de História Natural da Doença. Incorpora o conceito de risco para se basear nas medidas de prevenção. Útil para compreender as DCNT Modelos de saúde-doença • A base do raciocínio para compreensão sobre a ocorrência das doenças surge dos MODELOS SAÚDE-DOENÇA MODELO SISTÊMICO: Esse modelo incorpora forte base ecológica, combinada com a ideia de sistemas. Conjunto de fatores relacionados, onde um elemento provoca alteração de todos os outros elementos MODELO SOCIOCULTURAL: Explica o processo saúde-doença do ponto de vista social e cultural. Os primeiros autores foram Susser (1973) e Fiel (1976). Em 1980 Young apontou que as forças sociais é que determinam quais pessoas ficarão doentes, dependendo da condição econômica Doença é socialmente construída Modelos saúde-doença • As influência de cada modelo: Modelo biomédico Modelo Processual ou (história natural) Modelo Sistêmico (ou abrangente) Patologia, Clínica Médica, Parasitologia Epidemiologia, risco, interação com fatores de risco Teoria dos Sistemas, ecologia Modelo sociocultural Sociologia, antropologia Modelos de saúde-doença INFECCIOSA NÃO-INFECCIOSA AGUDA Gripe, rubéola, varicela, dengue, Fratura, picada de insetos, reações alérgicas, acidentes, quedas CRÔNICA Hiv-aids, tuberculose, hanseníase, doença de Chagas, hepatite C Hipertensão arterial, diabetes, bronquite, rinite, sinusite, câncer, Alzheimer, Parkinson, Esclerose múltipla, depressão, esquizofrenia PONTO DE VISTA CLÍNICO:AGUDA OU CRÔNICA. PONTO DE VISTA DA PATOLOGIA: INFECCIOSA OU NÃO INFECCIOSA 1 – História natural da doença Como definir história natural da doença? É a descrição de todos os processos que ocorrem no ambiente e no indivíduo que contrai uma doença até a sua cura, morte ou sequela pela doença. A HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA É DIVIDIDA EM: Período epidemiológico que descreve a relação que acontece entre o ambiente e o homem. Período patológico que descreve as modificações que acontecem no organismo humano. 1 – História natural da doença – período pré-patogênico 1) Período pré-patogênico É o período em que a doença ainda não surgiu do organismo. Envolve a interação da pessoa com o ambiente. Por exemplo, a pessoa fuma cigarros enquanto é jovem e saudável OU a pessoa ainda não foi infectada pelo HIV OU a pessoa ainda não foi picada pelo Aedes aegypti infectado pelo zika vírus. No período pré-patogênico, descrevemos a interação da pessoa com os fatores de risco e a interação da pessoa com o ambiente em que ela vive e ainda mais se a pessoa possui condições físicas e genéticas que podem protegê-la ou prejudicá-la em relação à doença. 1 – História natural da doença – período pré-patogênico FATORES QUE INFLUENCIAM NO PERÍODO PRÉ-PATOGÊNICO Fatores sócio- econôm icos Fatores sócio- políticos Fatores sócio- culturais Fatores psicossoci ais Fatores ambient ais Fatores genétic os 1 – História natural da doença SÓCIO-ECONÔMICOS SÓCIO-POLÍTICOS SÓCIO-CULTURAIS PSICOSSOCIAIS Os pobres adoecem mais. Os pobres morrem mais cedo. Taxa de mortalidade infantil é mais alta entre os pobres. Pobres têm mais filhos com baixo peso. Leis mais favoráveis Políticos mais “técnicos” do que “políticos” Participação da população nas decisões. Transparência nas relações do Estado com a população. Defecar e urinar no solo. Jogar lixo na rua. Desperdício de recursos. Acreditar que os políticos resolvem tudo. Falta de cuidado com a própria saúde. Corrupção Ausência de boa relação familiar. Trabalhos estressantes. Promiscuidade. Carência afetiva. AMBIENTAIS Agentes patogênicos no ambiente. Poluição ambiental. Moradias em locais de risco. Solo, clima, topografia, vegetação. GENÉTICOS Presença de genes que favorecem o desenvolvimento de doenças, como por exemplo distrofia muscular de Duchene, gene BRCA1 e BRCA2 ligados ao câncer de mama e ovário e próstata. Síndrome de Down e outras síndromes genéticas. 1 – História natural da doença – período patogênico 2) Período patogênico Este período se inicia com as primeiras ações que os agentes patogênicos exercem sobre o ser afetado. Seguem-se as perturbações bioquímicas em nível celular, continuam com as perturbações na forma e na função, evoluindo para defeitos permanentes, cronicidade, morte ou cura. Colimon (1978) divide o período de patogênese em três etapas: subclínica, prodrômica e clínica. Mausner & Bahn (1974) propõem o seguintes estágios: pré- sintomático, clínico e de incapacitação. 1 – História natural da doença • O modelo de Leavell e Clark é o mais adotado em todo o mundo e o mais importante para a epidemiologia. • Para esses autores, são considerados quatro níveis de evolução no período de patogênese: a) Interação estímulo-suscetível b) Alterações bioquímicas, fisiológicas e histológicas c) Sinais e sintomas. d) Defeitos permanentes, cronicidade. 1 – História natural da doença – período pré-patogênico a) Interação Estímulo-Suscetível Nesta etapa a doença ainda não tomou desenvoltura, porém todos os fatores necessários para a sua ocorrência estão presentes. Alguns fatores agem predispondo o organismo à ação subsequente de outros agentes patógenos. A má nutrição por exemplo, predispõe à ação patogênica do bacilo da tuberculose; altas concentrações de colesterol sérico contribuem para o aparecimento da doença coronariana; fatores genéticos diminuem a defesa orgânica, abrindo a porta do organismo às infecções. 1 – História natural da doença – período patogênico b) ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS, HISTOLÓGICAS E FISIOLÓGICAS Neste estágio, a doença já está atuando no organismo afetado. Embora não se percebam manifestações clínicas, já existem alterações histológicas com percepção subclínica de caráter genérico. Estas alterações não são perceptíveis. Porém, ainda neste estágio, a doença já está presente e pode ser percebida através de exames clínicos ou laboratoriais orientados. 1 – História natural da doença – período patogênico c) Sinais e Sintomas Acima do horizonte clínico os sinais iniciais da doença, ainda confusos, tornam- se nítidos, transformam-se em sintomas. É o estágio chamado de clínico, iniciado ao ser atingida uma massa crítica de alterações funcionais no organismo acometido. A evolução da doença encaminha-se então para um desenlace; a doença pode passar ao período de cura, evoluir para a cronicidade ou progredir para a invalidez ou para a morte. 1 – História natural da doença – período patogênico d) Cronicidade A evolução clínica da doença pode progredir até o estado de cronicidade ou conduzir o doente a um dado nível da incapacidade física por tempo variável. Pode também produzir lesões que serão, no futuro, uma possibilidade para novas doenças. Do estado crônico, com incapacidade temporária para desempenho de alguma atividade específica, a doença pode evoluir para a invalidez permanente ou para a morte. Em alguns casos para a cura. 2 – Níveis de prevenção: primário, secundário e terciário • Winslow, citadopor Leavell & Clark (1976), define: "Saúde pública é a ciência e a arte de evitar doenças, prolongar a vida e desenvolver a saúde física e mental e a eficiência, através de esforços organizados da comunidade, para o saneamento do meio ambiente, o controle de infecções na comunidade, a organização de serviços médicos e paramédicos para o diagnóstico precoce e o tratamento preventivo de doenças, e o aperfeiçoamento da máquina social que irá assegurar a cada indivíduo, dentro da comunidade, um padrão de vida adequado à manutenção da saúde". A epidemiologia é a ciência que estabelece ou indica e avalia os métodos e processos usados pela saúde pública para prevenir as doenças. Portanto, saúde pública e epidemiologia são irmãs! 2 – Níveis de prevenção: primário, secundário e terciário • Prevenir e prever antes que algo aconteça, ou mesmo cuidar para que não aconteça. • Prevenção em saúde pública é a ação antecipada, tendo por objetivo interceptar ou anular a evolução de uma doença. • A prevenção pode ser feita nos períodos de pré-patogênese e/ou patogênese. • O conhecimento da história natural da doença favorece o domínio das ações preventivas necessárias 2 – Níveis de prevenção: primário, secundário e terciário • A prevenção primária que se faz com a intercepção dos fatores pré-patogênicos inclui: (a) promoção da saúde; (b) proteção especifica. • A prevenção secundária é realizada no indivíduo, já sob a ação do agente patogênico, ao nível do estado de doença, e inclui: (a) diagnóstico; (b) tratamento precoce; (c) limitação da invalidez. • A prevenção terciária consiste na prevenção da incapacidade através de medidas destinadas à reabilitação. • Assim, o processo de reeducação e readaptação de pessoas com defeitos após acidentes ou devido a sequelas de doenças é exemplo de prevenção em nível terciário. 2 – Níveis de prevenção: primário, secundário e terciário Esse é o modelo de Leavell e Clark, 1976. O mais utilizado para explicar a prevenção. 2 – Níveis de prevenção: primário, secundário e terciário PREVENÇÃO PRIMÁRIA Promoção da Saúde É feita através de medidas de ordem geral. - Moradia adequada. - Escolas. - Áreas de lazer. - Alimentação adequada. - Educação em todos dos níveis Proteção Específica - Imunização. - Saúde ocupacional. - Higiene pessoal e do lar. - Proteção contra acidentes. - Aconselhamento genético. - Controle dos vetores. 2 – Níveis de prevenção: primário, secundário e terciário PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diagnóstico Precoce - Inquérito para descoberta de casos na comunidade. - Exames periódicos, individuais, para detecção precoce de casos. - Isolamento para evitar a propagação de doenças. - Tratamento para evitar a progressão da doença Limitação da Incapacidade - Evitar futuras complicações. - Evitar sequelas. 2 – Níveis de prevenção: primário, secundário e terciário PREVENÇÃO TERCIÁRIA - Reabilitação (impedir a incapacidade total). - Fisioterapia. - Terapia ocupacional. - Emprego para o reabilitado. Referências Introdução à Epidemiologia. Naomar de Almeida Filho e Maria Zelia Rouquayrol. 4ª Edição. Revisada e Ampliada. Editora Guanabara-Koogan, 2006 Epidemiologia Teoria e Prática. Maurício Gomes Pereira. Editora Guanabara- Koogan, 2007