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Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 1 GENÉTICA VEGETAL Mauricio Ballesteiro Pereira 3. GENÉTICA DE POPULAÇÕES Considerações: 1) Os indivíduos não se encontram isolados na natureza, mas reunidos em populações, reprodutivamente ativas. 2) Ao estudar a genética experimental, nós retiramos os indivíduos das suas populações naturais, e o submetemos a cruzamentos escolhidos. 3) Em muitos casos não é possível estudar a genética por meio de cruzamentos artificiais. 3.1. Genética ecológica. 3.2. Reprodução artificial muito difícil. 3.2. Dificuldades de ordem ética para os cruzamentos. Nestes casos o estudo da herança deve ser feito na população em seu estado natural. 4) Base teórica para a genética quantitativa, evolução e para o melhoramento vegetal e animal. 3.1. DEFINIÇÃO DE POPULAÇÃO “ grupo de indivíduos da mesma espécie, que ocupam uma mesma área ao mesmo tempo, e que são potencialmente intercruzáveis, produzindo descendência viável e fértil” Mais do que um conjunto de indivíduos iremos ver a população como um conjunto de genes. Iremos nos interessar pelo comportamento dos genes, considerando os indivíduos apenas como portadores desses genes. 3.2. FREQÜÊNCIAS GÊNICAS E GENOTÍPICAS Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 2 Uma população pode ser caracterizada, para determinado loco, pelas freqüências com que cada genótipo aparece. Por exemplo: População 1 Genótipo Nº de Indivíduos Freqüências Genotípicas AA 100 D= 100/400=0,25 Aa 200 H= 200/400=0,50 aa 100 R= 100/400=0,25 Total 400 1 População 2 Genótipo Nº de Indivíduos Freqüências Genotípicas AA 200 D= 200/500=0,40 Aa 200 H= 200/500=0,40 aa 100 R= 100/500=0,20 Total 500 1 Freqüências: Homozigotos dominantes, D, Heterozigotos de H Homozigotas recessivos de R. D + H + R = 1 Freqüência de A, é p, f(A)= p = D + (1/2) H (I) Freqüência de a, é q, f(a)=q = R + (1/2) H. (II) Note mais uma vez que p+q=1. Nos exemplos acima temos: População 1 p = 0,25 + (1/2) 0,50 = 0,50 População 2 p = 0,40 + (1/2) 0,40 = 0,60 q = 0,25 + (1/2) 0,50 = 0,50 q = 0,20 + (1/2) 0,40 = 0,40 Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 3 A freqüência genotípica caracteriza uma população, mas a freqüência gênica não. Para uma distribuição de freqüências gênicas, infinitas distribuições de freqüência genotípicas são possíveis. Por exemplo, p = 0,4 para o alelo A e q = 0,6 para o alelo a. D=0,4, H=0,0 e R=0,6 D=0,3, H=0,2 e R=0,5 ou D=0,2, H=0,4 e R=0,4, ou outra qualquer. Genótipos são combinações dos genes. Para podermos fazer qualquer afirmativa a respeito das freqüências genotípicas é necessário um conhecimento da forma como os genes se combinam na população, ou seja, a forma como os gametas se combinam para formar os novos indivíduos de população. 3.3. PADRÕES REPRODUTIVOS DAS POPULAÇÕES Panmixia - todos os indivíduos de uma população têm a mesma chance de se acasalarem entre si. Isto é, a reprodução é totalmente ao acaso. Endogamia – maior frequência de cruzamento entre indivíduos com grau de parentesco maior do que o de dois indivíduos tomados ao acaso na população. Exogamia - é o oposto à endogamia, isto é, ocorre cruzamento de indivíduos com parentesco menor que dois indivíduos tomados ao acaso na população. Outras: Autogamia; Autogamia parcial; Alogamia ... FREQÜÊNCIAS GÊNICAS E GENOTÍPICAS NA POPULAÇÃO PANMÍTICA. Freqüências gênicas nos gametas = freqüências gênicas na população. Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 4 Teremos então p gametas A e q gametas a Como panmixia indica reprodução aleatória, a combinação dos gametas também o será Gametas femininos Gametas masculinos p A q a p A p2 AA pq Aa q a pq Aa q2 aa Qualquer que sejam as freqüências genotípicas iniciais, em uma geração de panmixia, elas passam a ser p2, 2pq e q2, esses valores dependem apenas das freqüência gênicas na geração paterna. As novas freqüências gênicas (na nova geração) são: p1=D1+(1/2) H1 ou p1 = p 2 + pq sendo q=1-p então: p1 = p 2 + p(1-p) = p2 + p - p2 = p, e q1 = q 2 + pq =q A população panmítica não altera suas freqüências gênicas de uma geração para outra. Se o sistema de acasalamento continuar panmítico as freqüência genotípicas e gênicas não irão se alterar geração após geração. Desta forma, se nenhum outro fator interferir, se diz que a população está em equilíbrio ou Equilíbrio de Hardy-Weinberg. Teorema de Hardy-Weinberg: “Em uma população suficientemente grande na qual não ocorra deriva genética, onde os acasalamentos ocorram ao acaso (Panmixia), na qual não ocorra mutação gênica, nem migração (população isolada) ou seleção (isto é, todos os indivíduos são igualmente férteis e viáveis), as freqüências genotípicas e gênicas permanecerão constantes ao longo das gerações” Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 5 Confirmação: Machos Fêmeas Freqüência do cruzamento Descendência AA AA p4 AA Aa 2p3q 0,5 AA e 0,5 Aa aa p2q2 Aa Aa AA 2p3q 0,5 AA e 0,5Aa Aa 4p2q2 0,25 AA, 0,5 Aa e 0,25 aa aa 2 pq3 0,5 Aa e 0,5 aa aa AA p2q2 Aa Aa 2pq3 0,5 Aa e 0,5 aa aa q4 aa Totais dos descendentes f(AA)= p4 + 2p3q + p2q2 = p2 (p2 + 2pq + q2) = p2 f(Aa)= 2p3q + 4p2q2 + 2pq3 = 2pq (p2 + 2pq + q2) = 2pq f(aa)= p2q2 + 2pq3 + q4 = q2 (p2 + 2pq + q2) = q2 Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 6 3.7. FATORES QUE ALTERAM AS FREQÜÊNCIAS GÊNICAS DAS POPULAÇÕES As populações panmíticas em equilíbrio não alteram suas freqüências gênicas e genotípicas ao longo das gerações. Dessa forma não haveria evolução ou melhoramento. Processos naturais que alteram as freqüências gênicas Mutação gênica, Oscilação (ou Deriva) genética, Migração genética, Seleção natural São esses os fatores essenciais à evolução, sem os quais a variação existente seria estática. 3.7.1. Mutação Gênica Genes = cadeias de moléculas de DNA (ácido desoxirribonucléico). Purinas (Adenina e Guanina) e pirimidinas (Timina e Citosina) Seqüência de bases = código genético Proteína Qualquer mudança nesta seqüência de bases causará uma mudança na proteína codificada, podendo então alterar sua função no organismo. Causas das Mutações Erro na replicação (durante a mitose ou meiose) Radiações capazes de atingir o DNA Substâncias químicas capazes de reagir com o DNA As mutações causam mudanças completamente aleatórias. É Improvável que uma mutação venha a trazer vantagem imediata. Na maioria dos casos será prejudicial. Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 7 Acúmulo de mutações em uma população é benéfico em longo prazo, pois causa variação genética. As mutações ocorrem continuamenteem todas as populações, em baixíssima freqüência. Quantificação do efeito das mutações sobre as frequências gênicas A1 A2 = u A2 A1 = v f(A1) = po e f(A2)qo, então: p1 = po - upo + vqo q1 = qo + upo - vqo Se upo > vqo a freqüência de A1 diminui. Se upo < vqo a freqüência de A2 diminui. Se vqe = upe entra em equilíbrio nas frequências e pe = v/(u+v) e qe = u/(u+v) 3.7.2. Migração Genética Migração genética = saída ou entrada de indivíduos de uma população. Saída de indivíduos não causará qualquer impacto na população. Entrada de indivíduos na população causará alteração nas frequências. Capacidade de dispersão. Barreiras reprodutivas Pré-zigóticas Pós-zigóticas, Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 8 Supondo duas populações: sendo no o número de genes A na população "O", ni o número de genes A na população "I", To o total de genes deste loco na população "O" e Ti o total de genes deste loco na população "I". p1 = (no + ni)/(To + Ti). no = poTo e ni = piTi. Assim, p1 = (poTo + piTi)/(Ti+To) (média ponderada) Se m = proporção de imigrantes , ou seja, m = Ti/(Ti + To) p1 = po (1-m) + pi mi ou p1 = po + m (pi - po) Na geração seguinte p1 2, 2p1q1, q1 2. Composto Cruzamentos entre populações População imigrante "I" pi = ni/Ti População original "O" po = no/To Junção as Populações (composto) p1 = (no + ni)/(To + Ti) Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 9 População 2 População 1 p2 A q2 a p1 A p1p2 AA p1q2 Aa q1 a p2q1 Aa q1q2 aa Freqüência de heterozigotos em uma população panmítica é no máximo 0,5 (meio). Numa população híbrida o valor poderá exceder 0,5 e será tanto maior quanto mais contrastantes forem as populações cruzadas, podendo chegar a 1. Geração avançada de um híbrido = composto de duas populações pc = p1 + p2 qc = q1 + q2 2 2 Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 10 3.7.3. Deriva Genética ou Oscilação Genética Amostra de uma população Erro amostral 100 bolas, sendo 40 pretas e 60 brancas Menor amostra aleatória = uma bola tomada ao acaso, P(preta)= 40% e P(branca)= 60% Amostras maiores têm maior chance de se aproximar do verdadeiro valor da população, O único grupo que garante a presença de 40% de bolas pretas e 60% de bolas brancas é o formado por todas as bolas, portanto a população. Note-se que se a caixa contivesse somente bolas de uma cor, qualquer amostra tirada teria 100% de bolas dessa cor, proporção exatamente igual a da população. Erro amostral ocorre em todas as amostras de populações variáveis, e será maior quanto menor for o tamanho da mesma. Imprevisível em seu efeito Variância pode ser prevista estudando a natureza do processo. Uma geração = amostra dos gametas possíveis na geração anterior A amostra tem tamanho 2N, sendo N o número de indivíduos na geração de filhos A frequência gênica na geração descendente não será a mesma que na geração paterna, mesmo que nenhum processo especial esteja ocorrendo. Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 11 Só locos não segregantes não sofrem alteração com o efeito amostral Variância (S2p) da frequência gênica de diversas amostras de tamanho 2N retiradas de uma mesma população. Distribuição binomial: S2p = pq/2N, onde N = número de indivíduos descendentes. Vê-se que: S2p = 0 se p=0 ou q=0 ou se N for infinito. "genetical drift", ou deriva genética ou ainda oscilação genética. Perda de genes Fixação de genes Aumento da homozigose Perda de variabilidade. Diferenciação de populações Formação de raças naturais. Deriva genética p0=0,4 e N=10 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Frequências Gênicas G0 p0 e q0 G1 p1 =p0±S 2 p1 q1=q0±S 2 p1 G2 p2 =p1±S 2 p2 q2=q1±S 2 p2 Gn pn =p(n-1)±S 2 pn qn=q(n-1)±S 2 pn q2=q1±S 2 p2 q2=q1±S 2 p2 p2 =p1±S 2 p2 q2=q1±S 2 p2 q1=q0±S 2 p1 Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 12 3.7.4. Seleção Seleção = Diferenças na capacidade dos indivíduos com diferentes genótipos de deixarem descendentes para a geração seguinte Capacidade de sobrevivência de um genótipo em um meio ambiente Ou proporção de descendentes deixados de uma geração para outra por um determinado genótipo Adaptação Fertilidade Viabilidade Seleção artificial Viabilidade Critério de seleção Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 13 Seleção contra genes recessivos Modelo: população panmítica s é a taxa de seleção, 1-s é a taxa de viabilidade. Genótipos Freqüências Viabilidade Produto Freqüências AA p2 1 p2 p2/(1-q2s) Aa 2pq 1 2pq 2pq/(1-q2s) aa q2 1-s q2 (1-s) q2(1-s)/(1-q2s) Soma 1 1-q2s 1 Note que: q vai de 0 a 1, assim como s. Se q=0 ou q=1 a seleção é impossível. s=0 indica a ausência de seleção e s=1 indica seleção máxima Se s=0 então pela fórmula q1 = q, como esperado. O denominador jamais pode assumir valor zero. O numerador, só atingirá este valor se q = 0, ou q e s iguais a 1. Portanto, partindo de um valor qualquer, diferente de zero ou 1 para “q”, nunca se atingirá valor zero para “q1”. Isto indica que, nos casos de dominância, o processo de seleção não é capaz de, por si só, eliminar um gene recessivo da população, por mais prejudicial que ele seja. Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 14 Confirmação Vamos estudar o caso de seleção mais extrema, o dos genes letais recessivos, onde s=1. q1 não será zero a não ser que q já o seja. Se q for muito pequeno (tende a zero), então 1+q tende para 1, Então q1 é praticamente igual a q. Isto indica a pouca eficiência em alterar a frequência de genes recessivos raros. De fato, se nessas condições (s=1): q = 0,5 então → q1 = 0,33 , q = 0,2 então → q1 = 0,166 , q = 0,1 então → q1 = 0,0909. Podemos alterar esta fórmula para qt é a frequência gênica após t gerações de seleção com taxa 1 Modificando esta fórmula chega-se a Para diminuir a frequência à metade Frequência inicial 0,6. Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira15 Freqüência inicial de 0,1. A seleção só age sobre os homozigotos recessivos. O gene recessivo presente no heterozigoto está isento de seleção. A seleção agirá sobre alelos recessivos, diminuindo a sua freqüência, até‚ atingir um ponto tal, quando este alelo for suficientemente raro, em que seu efeito será desprezível. Seleção com ausência de dominância Genótipos Freqüências Viabilidade Freqüência AA p2 1 p2 p2/(1-qs) Aa 2pq 1-(s/2) 2pq(1-(1/2)) 2pq [1-(s/2)]/(1-qs) aa q2 1-s q2 (1-s) q2(1-s)/(1-qs) Soma 1 1-qs 1 Comparando com a seleção contra genes recessivos, esse processo é mais eficiente. "Carga genética", Populações panmíticas acumulam inúmeros alelos recessivos prejudiciais, em frequência baixíssima, sem que sejam eliminados pela seleção. A carga genética tem papel fundamental na evolução da espécie, pois permite o acúmulo de inúmeros genes mutantes diferentes, que poderão ficar à disposição do processo seletivo caso haja uma mudança nas condições ambientais. Esses alelos constituem uma reserva de variabilidade genética para o processo evolutivo e para o melhoramento. Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 16 Para simplificar, examinaremos apenas o caso extremo em que s=1. Seleção contra genes dominantes Genótipos Freqüências Viabilidade Freqüência AA p2 1-s (1-s)p2/1-sp(1+q) Aa 2pq 1-s 2pq (1-s)/ 1-sp(1+q) aa q2 1 q2/ 1-sp(1+q) Soma 1 1-sp(1+q) Mais efetiva que contra alelos recessivos. Principalmente quando o gene dominante é raro. Se s=1 então p1=0 na primeira geração. Se , e p , então . O efeito da seleção e a frequência gênica Qualquer mutante dominante prejudicial será rapidamente eliminado da população. Na natureza, quase todos os genes dominantes representam formas bem adaptadas e férteis, enquanto encontramos inúmeros genes recessivos que geram em homozigose indivíduos com problemas de adaptação ou fertilidade. Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 17 Na dominância, com seleção contra o alelo recessivo, este valor é Na ausência de dominância. Na dominância, com seleção contra o alelo dominante, este valor é Valores de q para s=0,5. 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 Frequência do gene sob seleção Seleção contra o recessivo Genes com auseência de dominância Seleção contra o dominânte Genética Vegetal Mauricio Ballesteiro Pereira 18 Valores de q para s=0,1 0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0,014 0,016 0,018 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 Frequência do gene sob seleção Seleção contra o recessivo Seleção em genes com ausencia de dominância
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