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DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR N Ú C LE O D E P Ó S -G R A DU A Ç Ã O D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r SUMÁRIO MÓDULO 1- Conceito de Didática 1.1 Histórico da Didática: Jan Amos Komensky ou Comenius (1592- 1670) 1.2 O Histórico da Didática e seu caráter pedagógico 1.3 As Fases Naturalista-Essencialista, Psicológica e Experimental MÓDULO 2 - Teorias e Correntes Pedagógicas: Abordagens do processo ensino-aprendizagem 2.1 Perspectivas de José Carlos Libâneo e Juan Bordenave 2.2 Perspectivas de Demerval Saviani 2.3 Perspectivas de Maria Mizukami MÓDULO 3 - Natureza e Conteúdos da Didática 3. 1 Didática, Metodologias Específicas das Disciplinas e Prática de Ensino D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r MÓDULO 4 – O Trabalho Docente 4.1 O Ensino para o Desenvolvimento Humano 4.2 As Políticas Atuais para a Formação dos Profissionais da Educação MÓDULO 5 –Didática, Organização e Gestão escolar 5.1 A Dimensão Pedagógica: Questões Didáticas 5.2 A Prática Pedagógica 5.3 Didática e Ética MÓDULO 6 – Formação pedagógica e a construção de um novo perfil para docentes 6.1 Planejamento e Conteúdo 6.2 Educação e Ensino na Contemporaneidade D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r MÓDULO 1 - Conceito de Didática Carlos Eduardo Damian Leite Disciplina: Didática do Ensino Superior Módulo 1 – Conceito de Didática Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 1 – Conceito de Didática. 1.Didática 2. Educação 3. Ensino Aprendizagem. Faculdade Campos Elíseos D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Conversa Inicial Neste primeiro módulo da disciplina “Didática do Ensino Superior”, serão elucidadas a origem e fundamentação da Didática, as tendências e práticas condizentes com esta área, os enfoques positivista, tecnicista e construtivista, assim como as técnicas didáticas em função da aprendizagem. Iniciaremos então nossa trajetória de estudos! Bons Estudos! D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 1.1 Origem e Fundamentação da Didática Entre os séculos XVI e XVII, a produção feudal da Idade Média era aos poucos superada por uma nova e poderosa classe socioeconômica, que impulsionou e modificou os meios de produção, em função de um sistema baseado na cooperação, precursor do denominado trabalho em série do século XX, apresentado por meio de atos coletivos. As técnicas, artes e estudos permitiram ao homem um maior domínio sobre a natureza, bem como uma desconfiança em torno de tudo o que havia sido feito até então. Tais questionamentos fizeram surgir métodos de investigação nas mais variadas ciências, tais como Matemática, Astronomia, Geografia, Medicina, Ciências Físicas e Biologia. Francis Bacon (1561-1626) é considerado o fundador do método científico moderno. O filósofo ofereceu às ciências um ordenamento diferenciado e inovador, por meio do método indutivo de investigação (oposto ao método dedutivo de Aristóteles), propondo a distinção entre fé e razão, para que a sociedade pudesse evitar preconceitos que distorcem, a partir da religião, a compreensão efetiva da realidade. Os princípios de Bacon foram reforçados por René Descartes (1596- 1650), que escreveu, em 1637, o “Discurso do Método”, no qual apresentava as etapas necessárias ao estudo e à pesquisa, criticando o ensino humanista e propondo o modelo de ciência perfeita como sendo a Matemática. Com relação à Filosofia, Descartes realizou uma pontuação dualista, ou seja, resumiu sua essência a uma relação entre o pensamento e o ser, com base D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r na crença total da razão humana. Propôs então um método novo, científico, por meio do qual se poderia obter o conhecimento relativo ao mundo, substituindo- se a fé pela ciência de modo definitivo. Assim, surge a máxima de Descartes: “penso, logo existo”, expressão que simboliza a tendência deste pensador em trabalhar com ideias voltadas para a razão como pressuposto para a existência humana. Torna-se, desde então, o pai do racionalismo, apresentando os quatro grandes princípios do método científico: 1) Jamais acolher alguma coisa como verdadeira se não a conhecesse evidentemente como tal, evitando-se a precipitação e a prevenção a incluir uma verdade em juízo que não pudesse ser questionada; 2) Dividir cada uma das dificuldades em um número de parcelas necessárias para sua melhor resolução; 3) Conduzir os pensamentos ordenadamente, com início pelos objetos mais simples e fáceis de compreender, subindo gradativamente aos conhecimentos mais complexos; 4) Fazer a todo momento enumerações completas e revisões gerais de conteúdos, de forma que nada seja omitido. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r O pensar é realmente uma premissa à existência do ser humano? Vinte anos após a publicação da obra de René Descartes, Johannes Amos Comenius (1592-1670) elaborou um método com fins pedagógicos, publicado na “Didática Magna” (1657), a fim de que se pudesse preparar o ser humano para ensinar com rapidez, economia de tempo e energia. A ideia principal de Comenius era a de que, ao invés de se ensinar com palavras, tidas por ele como “sombras das coisas”, a escola deveria se esforçar pelo prevalecimento do ensino voltado ao conhecimento das coisas. Desta forma, pode-se considerar que o pensamento pedagógico moderno era pautado pelo realismo. A pedagogia realista, por sua vez, veio de encontro ao formalismo humanista, apontando que o domínio do mundo exterior era superior ao domínio do mundo interior, destacando-se assim a premissa de que as coisas eram supremas diante das palavras. Foi desenvolvida a paixão pelo mundo natural, a partir das ideias de Francis Bacon, como também a predileção pelo mundo da razão, com base nas considerações de René Descartes. Nesse sentido, a tendência da educação foi tornar-se essencialmente científica, com um direcionamento do conhecimento como válido apenas se preparava o indivíduo para a vida. A ascensão das ciências naturais logo despertou o interesse humano pelos estudos científicos e o abandono progressivo do estudo de autores considerados até então como clássicos e das línguas grega e latina. A moral e a política deveriam também ser modeladas pelas ciências da natureza. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r A educação não era mais analisada enquanto meio de aperfeiçoamento do ser humano, mas tanto o desenvolvimento educacional quanto o científico possuíam um fim em si mesmos. O saber foi tido como poder, principalmente de domínio sobre a natureza. Segundo Bacon, “saber é poder”, sendo este o filósofo que dividiu as ciências em: ciência da memória (histórica), ciência da imaginação (poética) e ciência da razão (filosófica). Johannes Amos Comenius é ainda hoje considerado o grande educador e pedagogo moderno, sendo um dos maiores reformadores de seu contexto histórico e sociocultural. Foi pioneiro ao propor um sistema articulado de ensino, reconhecendo o direito reservado a todos os homens com relação à aquisição do saber. Para Comenius, a educação deveria ser um elemento permanente na existência humana, ocorrendo ao longo de sua existência. Isto porque, segundo o próprio, a educação do homem nunca termina. Sua formação é tão duradoura quanto a sua própria vida. A proposta de Comenius para a organização do sistema educacionalera de 24 anos, correspondendo a quatro tipos de escolas: a escola materna (0 a 6 anos); escola elementar ou vernácula (6 aos 12 anos); a escola latina ou ginásio (12 a 18 anos) e a academia ou universidade (18 a 24 anos). Era ainda proposto que em cada família deveria existir uma escola materna, em cada município ou aldeia uma escola primária, em cada cidade um ginásio e em cada capital, uma universidade. O ensino seria unificado, ficando a escola materna responsável pelo cultivo dos sentidos e do saber falar; a escola primária desenvolveria a língua materna, a leitura e a escrita; o ginásio desenvolveria o estudo das ciências e a universidade, trabalhos práticos e viagens. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Seriam válidas as propostas de Comênio para a Pedagogia atual? Síntese As técnicas, artes e estudos permitiram ao homem um maior domínio sobre a natureza, bem como uma desconfiança em torno de tudo o que havia sido feito até então. Bacon é considerado o fundador do método científico moderno, por meio do método indutivo de investigação, propondo a distinção entre fé e razão. Descartes realizou uma pontuação dualista, ou seja, resumiu sua essência a uma relação entre o pensamento e o ser, com base na crença total da razão humana. Comenius, autor da “Didática Magna”, foi pioneiro ao propor um sistema articulado de ensino, reconhecendo o direito reservado a todos os homens com relação à aquisição do saber, ao longo de 24 anos, por meio das escolas materna, elementar, latina e a academia. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 1.2 Tendências e Práticas Didáticas A tendência de pensamento positivista na Pedagogia foi uma consolidação da concepção de educação por parte da burguesia. Desde o final do século XVIII, houve um antagonismo por parte do movimento socialista e popular, de um lado e do movimento elitista burguês, do outro. No século XIX, essas tendências são renomeadas de, respectivamente, marxismo e positivismo, representadas por Karl Marx (1818-1883) e Auguste Comte (1798- 1857). A obra de Comte que trouxe à tona os preceitos do Positivismo (também chamado de Teoria Positiva) foi “Curso de Filosofia Positiva”, publicado entre 1830 e 1842, em seis volumes. Na primeira parte de sua vida se esforçou por transformar a ciência em filosofia, para então transformar a filosofia em religião. Para Comte, a verdadeira ciência seria capaz de oferecer uma visão analítica de todos os fenômenos, inclusive os de natureza humana, a fim de que pudessem ser considerados fatos. As ciências da natureza e as ciências humanas deveriam se afastar de qualquer preconceito ou pressuposto ideológico, sendo neutras a ponto de se tornarem positivas. O Positivismo, portanto, representava uma doutrina que consolidaria a ordem pública, desenvolvendo nas pessoas uma sábia resignação ao seu status quo – situação em que se encontram no contexto em que se inserem, no momento atual de análise. Tal tendência ganha força com o desenvolvimento da “sociologia da educação”, na qual o Positivismo negava a especificidade metodológica das ciências sociais em relação às naturais, de forma que fossem identificadas e categorizadas – por exemplo, a pedagogia seria uma teoria de “prática social”. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r O cenário educacional nacional apresenta uma educação constituída por tendências liberais, sendo em momentos distintos conservadora e renovada, onde as tendências manifestam se nas práticas escolares e na pedagogia de muitos profissionais docentes, embora sem que os mesmos percebam tal influência. Em tal pedagogia, a escola tem o papel de preparar os indivíduos para a vida em sociedade, considerando as habilidades individuais de cada um, onde os indivíduos precisam aprender e adaptar-se à sociedade de classes, desenvolvendo sua própria cultura, sendo a mesma um processo de reprodução de saberes. Com foco específico voltado à Teoria Tecnicista, que consiste em subordinar a educação às necessidades sociais, tendo como função principal preparar de "recursos humanos", ou seja, mão-de-obra para indústrias. Sabe- se que a sociedade industrial e tecnológica possui metas econômicas, sociais e políticas, onde então a educação treina os alunos para que os mesmos possam cooperar com tais metas, onde a escola funciona como uma modeladora para o comportamento humano onde as relações entre professor e aluno são objetivas para a construção do processo de ensino aprendizagem e os conteúdos são técnicos de acordo com a necessidade de cada curso. Nesse sentido os conteúdos trabalhados são apenas técnicas que possam gerar mão de obra qualificada, desconsiderando inúmeros fatores, sendo a tecnologia o alvo de tal teoria, garantindo com tais processos de ensino aprendizagem um bom funcionamento da sociedade tendo a educação como recurso tecnológico, dando um enfoque sistêmico. Por sua vez, pode ser considerada a Teoria Construtivista, oriunda da Escola Nova, com base em preceitos desenvolvidos pelos teóricos da educação, em função de métodos que atendessem às exigências da sociedade contemporânea, motivados pelo processo de ensino aprendizagem significativo. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Pode ser citado o exemplo da médica italiana Maria Montessori (1870- 1952), que direcionou os métodos empregados na recuperação de crianças com necessidades especiais para com os alunos tidos como normais. Desenvolveu uma enorme quantidade de materiais pedagógicos e jogos, que ficavam à disposição na Casa dei Bambini. A ideia central do método de Montessori era a construção de um ambiente escolar com objetos pequenos, para estimular o pleno domínio da criança sobre os mesmos. Por meio dos sentidos, as crianças eram induzidas a explorar cores, formas, texturas e espaços, em técnicas como a “lição do silêncio” (domínio da fala) e a “lição da obscuridade” (educação das percepções auditivas). Também pode ser considerado na Teoria Construtivista a participação relevante de Jean Piaget (1896-1980), investigou a natureza do desenvolvimento da inteligência na criança. Destacou ainda a importância de uma “pedagogia experimental”, a fim de que fossem respeitadas as etapas específicas do desenvolvimento da criança. Para Piaget, o objetivo maior da educação não deve ser repetir ou conservar verdades acabadas, mas aprender por si próprio a conquista do verdadeiro. A escola deve então ser ambiente de apropriação do saber, sendo ela democrática e parte integrante dos processos sociais. A educação deve ser mediadora, preparando o aluno para a socialização, enquanto ser atuante. Os conteúdos trabalhados são universais, considerando a realidade dos alunos, destacando os saberes culturais, utilizando-se de métodos que compreendam a ação e compreensão, a ação e síntese, unindo teoria e prática, onde o professor participa como coautor dos processos de ensino- aprendizagem, para que ocorra de forma significativa. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Síntese A Teoria Positiva reflete a concepção de Auguste Comte, para quem a verdadeira ciência seria capaz de oferecer uma visão analítica de todos os fenômenos, inclusive os de natureza humana, a fim de que pudessem ser considerados fatos. A Teoria Tecnicista consiste em subordinar a educação às necessidades sociais, tendo como função principal preparar de "recursos humanos", ou seja, mão-de- obra para indústrias. Já a Teoria Construtivista, oriunda da Escola Nova, apresentava como base os preceitos desenvolvidos pelos teóricos da educação, em função de métodos que atendessem às exigências da sociedade contemporânea, motivados pelo processode ensino aprendizagem significativo. 1.3 Enfoques da Didática Pode-se definir a instituição escolar, segundo Paro (2000), enquanto âmbito sociocultural que desenvolve conteúdos com base em valores e realizações da sociedade em que está inserida. A função do professor volta-se à atenção para com estas questões, a fim de que se promova, em sala de aula, o aprendizado e a utilização de recursos que remetam o aluno ao seu cotidiano. Este processo constitui a verdadeira “práxis” educacional (união entre teoria e prática). D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r A educação vem passando por um processo lento e gradativo de transformação, tentando construir uma identidade, definir seu papel perante a sociedade moderna e se preparar para atender os alunos do século XXI. As contribuições da comunidade, especificamente aquelas que vêm da relação que a escola estabelece com os familiares de seus alunos, são passíveis de análise, à medida que se constata a importância e o uso das expectativas deste público como norteadoras das ações educacionais. A dificuldade, entretanto, da efetiva construção dessa relação, de uma maneira que proporcione condições de igualdade na relação das duas instituições, isto é, estabelecendo-se uma parceria, onde a participação dos pais seja real – diferente daquela participação onde enviam uma contribuição mensal, colaboram comprando rifas, ou vêm à escola para ouvirem a professora contar das inúmeras dificuldades dos filhos. Tais afirmações são presentes quando se analisa o paralelismo entre as duas instituições, rompidos por raros e frágeis pontos de intersecção. Considerando-se a necessidade primordial que a família possui como base psicológica e sociocultural, faz-se fundamental a ação de colocá-la como face agente da instituição de ensino. Para que as realizações pedagógicas sejam efetivadas pelo que é transmitido no lar, em meio aos pais, irmãos e familiares, cuja contribuição é, de fato, valiosíssima para que seja trabalhada a autoestima e a possibilidade de o aluno ser incluído de modo efetivo na interação com os colegas e nas ações escolares. Neste sentido surge uma acomodação, já que a instituição segue as realizações que lhe são tradicionais, sem buscar a participação familiar efetiva, com isso deixando de lado a integração que se faz necessária, no sentido de aproximar a comunidade do âmbito educacional: “Parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão por parte dos pais (...); por outro lado, uma falta de habilidade dos professores para promoverem essa comunicação” (PARO, 2000, p. 68). D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Assim, deve ser considerada a atuação dos professores, complementada pelo apoio da gestão escolar, para que a devida interação com as famílias possa ser promovida, em torno do bem comum que vem a ser o aprendizado realizado de maneira eficaz, com conteúdos relacionados à prática exigida pela vida cotidiana do educando. No ambiente escolar, as realizações pertinentes às dimensões pedagógica, política e administrativo-financeira se desenvolvem por meio de processos interligados. O currículo muitas vezes prioriza teorias que não vem ao encontro de competências que um cidadão precisa hoje para agir em sociedade – dentre elas, a interação social, garantida pela escola quando esta se propõe a ser um espaço de integração entre alunos, familiares e a comunidade em geral. Como tornar efetiva a participação dos públicos escolares no processo de ensino aprendizagem? A gestão participativa propõe questões que vão ao encontro da desejada autonomia, de acordo com as concepções de Freire (2002), que apontava a educação como forma de aquisição de um olhar crítico diante da sociedade, das desigualdades. Desta forma, adquire o aluno autonomia o suficiente para verificar tais questões e, consequentemente, propor mudanças voltadas à construção igualitária das realizações socioculturais. Verifica-se também a tendência de que os professores atuem em prol de que a família complete a educação oferecida na escola, principalmente auxiliando as crianças nos deveres escolares, o que ele denomina como “uma continuidade de mão única”. Paralelamente a este procedimento, espera-se que os pais, embora cheguem a conceber a escola como “segunda família”, D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r possam perder “a timidez diante dos professores, o medo da reprovação dos filhos e a distância que sentem da cultura da escola (...)” (PARO, 2000, p. 33). Paro (2000) aponta ainda a existência de uma “duplicidade discursiva”, já que a família demonstra que possui preocupação e desejo de envolver-se com os assuntos escolares. Por outro lado, os discursos dos educadores demonstram o interesse na participação dos pais em situações que acontecem fora dos muros da escola, como o auxílio nas tarefas de casa. Contudo, verifica-se que os professores apresentam, constantemente, uma insegurança de que haja interferência em procedimentos como avaliação, definição de calendário e currículos escolares, sendo que é comum que o corpo docente acabe ofertando possibilidades de participações restritivas, ou exigindo um conhecimento que os pais não possuem, acabando por afastar a família. Segundo Paro (2000), pode-se afirmar que, além de problemas como professores mal formados e outros, a escola tem falhado, principalmente, “porque que não tem dado a devida importância ao que acontece fora e antes dela, com seus educandos” (p. 15). E como ponto de partida para a busca de uma solução para tal realidade, articula sua pesquisa, “(...) com a preocupação de estudar formas organizacionais mais adequadas de integração dos pais a propósitos escolares de melhoria de ensino (...)” (p. 17). Para tanto, é necessário ter a habilidade de integrar e motivar toda a equipe para garantir o êxito de tais processos. Isso significa que a liderança exercida pelo gestor irá influenciar na condução dos processos de trabalho e, consequentemente, nos resultados esperados para a escola na gestão democrática. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Síntese A função do professor no contexto atual volta-se à atenção para com as questões sociais e culturais, a fim de que se promova, em sala de aula, o aprendizado e a utilização de recursos que remetam o aluno ao seu cotidiano. Este processo constitui a verdadeira “práxis” educacional (união entre teoria e prática). A educação vem passando por um processo lento e gradativo de transformação, tentando construir uma identidade, definir seu papel perante a sociedade moderna e se preparar para atender os alunos do século XXI. Assim, deve ser considerada a atuação dos professores, complementada pelo apoio da gestão escolar, para que a devida interação com as famílias possa ser promovida, em torno do bem comum que vem a ser o aprendizado realizado de maneira eficaz, com conteúdos relacionados à prática exigida pela vida cotidiana do educando. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 1.4 Técnicas Didáticas e a Aprendizagem Surgem para o profissional docente novos desafios, à medida que são reconhecidos novos espaços de aprendizagem. Deste modo, o processo de ensino aprendizagem se efetiva além dos muros escolares, gerando a ampliação deste processo educacional em um contexto multidisciplinar, bem como as possibilidades para pedagogos e profissionais da educação. A quebra de paradigmas se faz fundamental em meio aos pensamentos voltados para a inserção dos alunos em outros espaços educacionais, além da própria escola. Neste aspecto, o pedagogo e o profissional da educação são fundamentais para que tal rompimento ocorra, gerandoa construção de um novo modelo sociocultural. A partir da compreensão das relações humanas e profissionais, bem como os anseios da sociedade, a educação pode reformular conceitos postos como imutáveis, voltando o foco da educação para ações baseadas na reflexão, na crítica e na inovação. Os responsáveis por se organizar a educação de um modo multidisciplinar e em lugares públicos, além dos limites escolares, terão a ousadia de mudanças, bem como a iniciativa para encontrar espaços para saberes inéditos. Portanto, tal renovação de conceitos irá oportunizar espaços educativos em todos os lugares das cidades, nos quais diferentes pessoas se reunirão com o objetivo de gerarem novas realidades educacionais, a partir da qual surgirão cidadãos conscientes de seus deveres e potencialidades. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r O ideal em torno de uma gestão democrático-participativa é o incentivo por parte do coordenador, não apenas para a realização de atividades, mas para que as ideias sejam desenvolvidas de um modo comum entre escola e família, para que as expectativas desta sejam atingidas pelo planejamento e execução das realizações escolares. Pais, familiares e alunos são parte da sociedade moderna, em meio aos avanços tecnológicos, onde as pessoas precisam muito mais do que apenas os saberes, que as escolas defendem e julgam como suficientes: precisam de maneiras diversificadas de participar ativamente do processo educacional como um todo. Do mesmo modo, os gestores dos sistemas de ensino encontram-se influenciados por fatores externos e internos: “os externos são fatores de ordem social, econômico-cultural, científica e tecnológica; os internos estão relacionados ao desenvolvimento do conhecimento sobre o processo educativo” (PARO, 2000, p. 46). De acordo com Saviani (1991, p. 21 apud GADOTTI, 2000, p. 148), a escola lida com uma realização muito mais complexa, voltada à “produção de ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes e habilidades”. Isto é, o foco na instituição escolar tende a ser a produção de saber, por meio da análise crítica das informações disponíveis pelas tecnologias digitais, desenvolvendo-se deste modo um olhar discente atento à formação de ideias, opiniões e um indivíduo voltado ao desenvolvimento de competências e formação de atitudes. Na verdade, o ponto chave da gestão democrático-participativa é garantir que os interessados no desenvolvimento integral dos discentes possam acompanhar e participar, efetivamente, de toda e qualquer decisão ou acontecimento promovido pela instituição de ensino (FREIRE, 2002). O gestor auxilia a docência, segundo Saviani (1991, p. 21 apud GADOTTI, 2000, p. 151) à medida que entende o bom funcionamento da escola e tem clareza em relação às razões que a instituição que dirige possui como centrais, bem como os papéis do professor e do educando em meio ao trabalho educativo. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Se o foco da função de gestor deve ser a educação, logo ele deve estar “comprometido com a qualidade educativa, deve ser antes de tudo um educador; antes de ser um administrador ele é um educador”. Este pensamento aponta elementos que são indispensáveis aos centros educacionais, visto que ideias e atitudes que se baseiam na constante inovação, bem como na interferência construtiva daqueles que são, direta ou indiretamente beneficiados pelo processo de ensino-aprendizagem, garantindo- se assim a renovação de valores em prol do desenvolvimento institucional e, principalmente, humano. No contexto contemporâneo de desenvolvimento, é relevante destacar o papel do pedagogo e demais profissionais da educação em meio às realizações do âmbito escolar. A atuação daqueles que lidam com a educação devdesenvolver um pensamento voltado para a possibilidade de se educar fora do ambiente educacional, fazendo com que seja efetiva a aprendizagem de conhecimentos, habilidades e atitudes. É possível que a educação seja efetivamente reconhecida como autêntica fora do ambiente escolar? D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Síntese A quebra de paradigmas se faz fundamental em meio aos pensamentos voltados para a inserção dos alunos em outros espaços educacionais, além da própria escola. Neste aspecto, o pedagogo e o profissional da educação são fundamentais para que tal rompimento ocorra, gerando a construção de um novo modelo sociocultural. Este pensamento aponta elementos que são indispensáveis aos centros educacionais, visto que ideias e atitudes que se baseiam na constante inovação, bem como na interferência construtiva daqueles que são, direta ou indiretamente beneficiados pelo processo de ensino-aprendizagem, garantindo-se assim a renovação de valores em prol do desenvolvimento institucional e, principalmente, humano. Considerações Finais Finalizando o módulo 1, esperamos que você tenha compreendido a origem e fundamentação da Didática, as tendências e práticas condizentes com esta área, os enfoques positivista, tecnicista e construtivista, assim como as técnicas didáticas em função da aprendizagem. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r MÓDULO 2 - TEORIAS E CORRENTES PEDAGÓGICAS: ABORDAGENS DO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM Sofia Lara Todão Szenczi Disciplina: Didática do Ensino Superior Módulo 2 – Teorias e Correntes Pedagógicas: abordagens do processo ensino e aprendizagem Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 2 – Teorias e Correntes Pedagógicas: abordagens do processo ensino e aprendizagem. 1.Ideias Pedagógicas 2. Teorias e Correntes Pedagógicas 3. Processo Ensino Aprendizagem. Faculdade Campos Elíseos D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Conversa Inicial Neste segundo módulo, serão elucidadas as definições de Teorias e Correntes Pedagógicas, que nos dias atuais norteiam a prática e os processos de ensino aprendizagem. Onde teoria e prática são estudadas para que o profissional docente possa alcançar a “práxis” em sua atuação docente, considerando as particularidades de cada indivíduo e concluindo de modo satisfatório os objetivos contidos nos processos educacionais Iniciaremos então nossa trajetória de estudos! Bons Estudos! D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 2.1 O Início das Ideias Pedagógicas Descrever Conceitos ou Ideia Pedagógicas sem adentrar ao campo da Filosofia é algo que possamos considerar impossível, uma vez que toda a realidade conhecida ou desconhecida surgiu primeiramente no pensamento humano sendo que devemos salientar a essência humana para a criação do desenvolvimento histórico e sócio cultural da humanidade. A Filosofia consiste no processamento das ideias, onde o pensamento racional junta-se à reflexão das ações dos indivíduos, criando conceitos e ideias que influenciam diretamente na existência humana. Na Grécia Antiga, anteriormente ao pensamento reflexivo, tinham por fontes históricas: os escritos de Homero, a Ilíada e a Odisseia, organizando a sociedade em questão no sistema gentílico, que formava-se entre pessoas que tivessem ligações religiosas ou de nascimento. No século V a.C., período clássico da história grega, através dos sofistas iniciou-se a análise da sociedade, tendo como ponto de partida a reflexão antropológica tendo como base o homem e sua essência, englobando questões morais e políticas. Para Aranha e Martins (1993), legitimaram o ideal democrático e a participação efetiva do cidadão nas decisões da polis (centro das cidades- estadosgregas). Contudo, o centro da Filosofia Grega e Ocidental centra-se em Sócrates (470-399 a.C.), sendo o mesmo pensador contemporâneo dos sofistas é a dele que são estabelecidos os períodos pré-socrático, socrático (ou clássico) e pós- socrático. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Embora os sofistas tivessem suas reflexões tendo o indivíduo enquanto base os primeiros filósofos pré-socráticos, tinham como base de suas reflexões a natureza e seus fenômenos, buscando pelo princípio de todas as coisas, busca que chamaram de arché, enquanto os sofistas chamavam sua busca Arete, com base na virtude humana. Quando pensamos em Ideias Pedagógicas, logo fazemos conexões com a essência humana e suas habilidades e competências, nesse sentido quando buscamos compreender a ligação entre a Pedagogia e aos primórdios da Filosofia logo nos remetemos ao fato de que os sofistas eram grandes mestres da arte política, onde a retórica era tida como instrumento de tal processo, sendo a mesma uma das habilidades que mais destacam-se no processo de ensino aprendizagem, em que professor e aluno devem manter um constante diálogo para que tal processo se efetive. Ressaltando que os sofistas faziam criticas a Sócrates e Platão, devido ao fato dos mesmos demonstrarem extrema preocupação com o padrão formal de exposição das ideias. Em “A República”, Platão (428-347 a.C.), tendo como principal interlocutor se mestre Sócrates, desenvolveu suas ideias tendo a política como base, sendo que a valorização da reflexão filosófica o leva a conceber em sua obra o conceito de “sofocracia” (“governo da sabedoria”), como modelo satisfatório de política. Em contraponto Aristóteles (384-322 a.C.), que foi discípulo de Platão, nos trás um pensamento crítico a respeito da “sofocracia” de seu mestre como algo utópico, segundo o mesmo uma forma de autoritarismo exercido pelos sábios. Pensava que o poder não deveria estar concentrado em uma minoria da sociedade e sim com todos os indivíduos, buscando a satisfação dos mesmos com base na ética. Ao analisar a importância de tais conceitos no contexto educacional, tendo como base a formação de cada indivíduo, conclui-se que as ideias de tais filósofos foram a base para a formação de conceitos políticos, a morais e a D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r éticos, considerados fundamentais para o convívio em sociedade em todos os tempos. Segundo Aranha e Martins (1993), a Filosofia Ocidental tem como principais fontes os pensadores da Grécia Antiga, destacando se três deles com as seguintes premissas: Sócrates –questionamento constante –, Platão – dualidade entre o real e o metafísico - e por fim Aristóteles, com a lógica por guia do ato reflexivo. Aos pensarmos na premissa de Sócrates era “só sei que nada sei”, onde a partir dela eram realizados questionamentos constantes a indivíduos desconhecidos, para que os mesmos pudessem compreender que através de tais questionamentos é que poderiam alcançar determinadas explicações para que compreendessem a realidade. Pelas concepções de Platão, o real/físico e o metafísico são considerados através da reflexão, sendo que a matéria se sobrepõe ao espírito, onde o filósofo acreditava que a alma é aprisionada ao corpo, inclusive em sua potencialidade além da humanidade, desenvolvendo também ideias voltadas à concepção da ética, referindo-se a vícios e virtudes, estimulando o equilíbrio em ações voltadas ao convívio social, ligadas à conduta humana, individualmente ou de forma coletiva. Aristóteles por sua vez, nos trás o conceito do pensamento lógico, tendo o homem enquanto “animal social” e um modo de pensamento que posteriormente seria seguido pela Filosofia Moderna. Sua lógica resume-se ao silogismo, que consiste em ideias que se relacionam, segundo Aranha e Martins (1993): “Todo humano é mortal. Sócrates é humano. Logo, Sócrates é mortal”, sendo que tal lógica pode abranger temas mais complexos que podem trazer erros simplesmente pelo fato de usar a razão de modo abrangente. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Seria então a verdade pautada em ideias tendo ligação à essência humana? Síntese As concepções dos filósofos gregos nos trazem a necessidade do questionamento e da reflexão nos processos de ensino aprendizagem, onde o despertar pelos saberes, surgem através da dúvida e da busca pela resolução das inquietações humanas. Sendo que tais concepções podem ser aplicadas à educação como base para que a realidade seja investigada e os indivíduos possam ter uma formação de saberes efetivos. A Filosofia Oriental possui também sua contribuição para a formação das ideias pedagógicas, considerando a contribuição do filósofo chinês Confúcio (gerador do Confucionismo), que em seus diálogos elucidou diversos fatores relacionados aos indivíduos e suas relações. Em sua obra era constante a busca pela ética, promovendo a igualdade e o compromisso social tendo, por exemplo, o político como espelho para a sociedade destacando que o governante deveria se responsabilizar pelo bem bem-estar do povo. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Na educação, Confúcio contribuiu com a ideia de que o comportamento ético deve ser fundamental na existência humana enquanto ser social, para que o mesmo possua consciência enquanto cidadão para com o público discente, considerando que os seres humanos se diferenciam dos demais seres vivos, devido aos aspectos culturais e o modo de interpretação do mundo em que a representação simbólica de tudo que os cercam é utilizada. A utilização da simbologia significa que os seres humanos possuem noção própria sobre seu entorno, sendo a respeito de objetos, fenômenos naturais, dentre outros e tais seres se expressam por meio de uma ação específica: a fala, fato esse que vimos anteriormente nesse módulo. A fala é um aspecto único e exclusivo da cultura dos seres humanos, sendo a linguagem a porta de entrada para que o indivíduo possa atribuir significados à tudo em sua volta e em conjunto com a imagem a ação de falar, dá espaço a característica mais importante nos processos de aprendizagem de tais seres: a imaginação. Podemos ao estudar os conceitos pedagógicos atrelados ao desenvolvimento humano compreender que tal espécie tem em sua essência o questionamento que se faz constante e variado, surgindo desde o inicio de nossa existência e tornando se mais constante junto ao desenvolvimento da fala e nesse processo são criadas explicações por meio da virtualização das ideias, em que os indivíduos constroem verdades e as expressam através da cultura oral. Para Campbell (2005), a cultura oral compreende a forma pela qual os conhecimentos são transmitidos através da fala, de geração para geração, sendo a forma pela qual, muitos registros históricos, filosóficos e culturais puderam ser mantidos até os dias atuais. Surgem, a partir dessa cultura, as mitologias, compreendendo formas fantásticas de explicação para os fenômenos naturais e as realizações humanas. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r A Filosofia surgiu da análise do convívio entre os seres humanos, seja em sociedade ou em relação à natureza, buscando compreender quais valores poderiam contribuir para o bem comum, tais valores pautariam se na ética para que fossem assim determinados e propagados como valores positivos e relevantes. A palavra Ética provém do grego ethos = conduta, comportamento, sendo um conjunto de normas sociais que orientavam (e orientam) o homem em seu meio social a se portar de modo a não prejudicar a si mesmo e aos demais, no equilíbrio entre vícios e virtudes, de acordo com os preceitos platônicos ou ainda orientados, para a felicidadeindividual e coletiva, de acordo com a ética apontada por Aristóteles (ARISTÓTELES, 2006). A Filosofia deu espaço para que o pensamento racional acontecesse, onde a razão tivesse destaque sobre as explicações fantásticas, antes geradas pela imaginação, tidas então por meio da observação e realização de experiências para com acontecimentos da natureza e realizações do homem, trazendo então uma colaboração significativa para que o ser humano assimile suas concepções sobre os objetos, seres e fenômenos ao seu redor. Nesse sentido, podemos compreender que o pensamento racional e empírico se contrapôs a fantasia, tendo o questionamento pautado na razão como base para reflexões e a mesma guiasse os saberes para que, como ocorreu na época, a partir dos questionamentos filosóficos, diversos áreas de conhecimento surgissem. A Pedagogia seria, portanto, o modo de ensinar os conhecimentos gerados através dos questionamentos filosóficos, uma vez que a filosofia gerava saberes e a pedagogia consiste na ciência que nortearia os processos de ensino aprendizagem, buscando meios para que o profissional docente obtivesse sucesso ao transmitir conhecimento aos seus alunos, sendo esse então o surgimento das ideias pedagógicas com base em preceitos filosóficos. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r É possível pensar em Ideais Pedagogias sem considerar os conceitos da Filosofia? Síntese As premissas elucidadas até então, nos trazem indícios de que a Pedagogia surgiu após a Filosofia buscar, através de questionamentos, as respostas para saberes diversos através da reflexão pautada na essência humana e na razão, tendo assim meios para efetivar os processos de ensino aprendizagem. 2.2_ Teorias da Corrente Pedagógica Liberal e Progressista Como vimos anteriormente neste módulo, a Pedagogia surgiu dos conceitos filosóficos e podemos afirmar também que junto a Filosofia sempre existiu a necessidade humana de definir e nomear, sejam coisas, objetos ou até mesmo a maneira como tudo é feito. Com a Pedagogia e os métodos de ensino aprendizagem não foi diferente, houve desde seus primórdios a necessidade de definir as técnicas utilizadas em tais processos. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Você acredita ser relevante a necessidade humana de definir e nomear a tudo? Para Libâneo (1985), existem duas Correntes Pedagógicas a serem consideradas, sendo elas a Progressista e a Liberal. Compreende se a Corrente Pedagógica Liberal, como manifestação da sociedade capitalista. Sabe-se que a doutrina liberal surgiu para salientar a predominância da liberdade e dos interesses individuais, com base na propriedade privada dos meios de produção. No Brasil, a educação é constituída por tendências liberais, sendo em momentos distintos conservadora e renovada, onde as tendências manifestam se nas práticas escolares e na pedagogia de muitos profissionais docentes, embora sem que os mesmos percebam tal influência. Em tal pedagogia, a escola tem o papel de preparar os indivíduos para a vida em sociedade, considerando as habilidades individuais de cada um, onde os indivíduos precisam aprender e adaptar-se à sociedade de classes, desenvolvendo sua própria cultura, sendo a mesma um processo de reprodução de saberes. Dentro da Corrente Pedagógica Liberal, existem quatro teorias, sendo elas: a Tradicional, a Renovada Progressista, a Renovada Não Diretiva e a Tecnicista. A Teoria Pedagógica Tradicional consiste na preparação moral e intelectual para que o aluno seja preparado para ser inserido em sociedade, sendo seus conteúdos valores sociais e conhecimentos que são repassados aos alunos como verdade única e absoluta de maneira repetitiva e mecânica D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r para que o mesmo possa decorá-los uma vez que os métodos utilizados são expositivos e com modelos, onde o aluno tem o professor enquanto autoridade maior, tendo como representante de suas ideias o sociólogo Émile Durkheim. A Teoria Renovada Progressista compreende que a escola deve adequar o indivíduo ás necessidades do meio social, baseando seus conteúdos com foco nos processos mentais, tendo como método a prática, em que o aluno deve aprender fazendo, em tal processo o professor deve auxiliar o aluno em seu desenvolvimento espontâneo pelo estímulo, valorizando a autoeducação, tendo como representantes: Anísio Teixeira, Montessori, dentre outros. Compreende se por Teoria Renovada Não Diretiva, a pedagogia que pauta-se nas relações interpessoais, tendo a escola o papel de formar cidadãos com atitude, preocupando com a saúde psicológica dos alunos, dando ênfase aos conteúdos ligados à comunicação onde a transmissão de conteúdos é vista de modo secundário, buscando incentivar os alunos na busca de conhecimentos, deixando de lado métodos prontos para desenvolver meios para que os alunos possam concluir os processos de ensino aprendizagem onde a educação tenha o aluno como centro e o professor possa cooperar com tais processos, tendo como idealizador Carl Rogers. Ainda na Corrente Liberal, temos a Teoria Tecnicista, que consiste em subordinar a educação às necessidades sociais, tendo como função principal preparar de "recursos humanos", ou seja, mão-de-obra para indústrias. Sabe- se que a sociedade industrial e tecnológica possui metas econômicas, sociais e políticas, onde então a educação treina os alunos para que os mesmos possam cooperar com tais metas, onde a escola funciona como uma modeladora para o comportamento humano onde as relações entre professor e aluno são objetivas para a construção do processo de ensino aprendizagem e os conteúdos são técnicos de acordo com a necessidade de cada curso. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Nesse sentido os conteúdos trabalhados são apenas técnicas que possam gerar mão de obra qualificada, desconsiderando inúmeros fatores, sendo a tecnologia o alvo de tal teoria, garantindo com tais processos de ensino aprendizagem um bom funcionamento da sociedade tendo a educação como recurso tecnológico, dando um enfoque sistêmico. Síntese A Corrente Liberal, na maioria de suas teorias busca uma educação que sirva para organizar os indivíduos de acordo com as necessidades da sociedade em que os mesmos serão inseridos, uma vez que acabam por moldá-los, sendo através dos conteúdos trabalhados ou da delimitação de suas ações, sempre influenciando de algum modo sua maneira de lidar com a realidade, deixando de lado a essência humana e dando ênfase à inserção social dos mesmos. Em contraponto à Corrente Liberal, existe a Corrente Progressista, que possui uma perspectiva transformadora, realizando análises críticas e coletivas das realidades sociais e tendo por finalidade: “ideais sociopolíticos”, embora seus defensores não concordem com sua institucionalização em uma sociedade capitalista, a mesma é tida como instrumento de luta contra as premissas liberais, trazendo consigo as Teorias Pedagógicas: Libertária, Libertadora e Crítico-Social dos Conteúdos. As Teorias libertadora e libertária têm em comum o anti-autoritarismo, valorizando a experiência vivida e tendo-a como base da relação educativa, considerando a autogestão pedagógica, focando no processo de aprendizagem D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r em grupo onde o diálogo tenha destaque e seja considerada a realidade de cada indivíduo, dando preferência a uma educação popular “não-formal”. A Teoria libertadora acredita que a escola deve proporcionar ao aluno base para que o mesmo tenha consciência de sua realidade e autonomia para transformá-la, utilizando se do método dialético autêntico, em que o professor e aluno tenham umarelação de igualdade e diálogo, aprendendo pela codificação, decodificação e problematização, propondo resoluções de problemas reais. Tal teoria é utilizada na Educação de Jovens e Adultos (EJA), tendo como inspiração Paulo Freire. A Teoria libertaria, por sua vez, acredita na autogestão pedagógica que significa que o conteúdo e o método, resumem tanto o objetivo pedagógico quanto o político, dando aos envolvidos no contexto escolar autonomia e retirando das mãos do Estado o poder de controlar tal contexto. A escola deve promover a coletividade e cooperar para que os alunos tenham uma transformação no sentido libertário e que tal transformação possa se estender em todos os meios sociais em que o aluno possa repassar tais conhecimentos, os conteúdos apreendidos em tal seguimento têm como foco atender as necessidades da vida social dos indivíduos usando a metodologia do diálogo e das vivências grupais em que o professor é tido como orientador e integrante do grupo onde ocorre uma aprendizagem informal e sem burocracias, tendo Freinet como influenciador. Por fim, traz também, a Teoria Crítico-Social dos Conteúdos, que consiste em dar ênfase aos conteúdos e confrontá-los com as realidades sociais. Nesse contexto, difundir os conteúdos é tarefa primordial e, quando falamos em conteúdos, não queremos dizer aqueles que são apenas decorados, mas sim os que estão presentes no dia-a-dia dos indivíduos. A escola deve então ser ambiente de apropriação do saber, sendo ela democrática e parte integrante dos processos sociais. A educação deve ser mediadora, preparando o aluno para a socialização, enquanto ser atuante. Os conteúdos trabalhados são universais, considerando a realidade dos alunos, D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r destacando os saberes culturais, utilizando-se de métodos que compreendam a ação e compreensão, a ação e síntese, unindo teoria e prática, onde o professor participa como coautor dos processos de ensino-aprendizagem, para que ocorra de forma significativa. Tem como idealizador Demerval Saviani O professor como coautor do processo de ensino- aprendizagem, contribui com o mesmo de maneira efetiva? 2.3 Aplicação dos Conceitos na Prática Docente A fim de que fossem desenvolvidas teorias para direcionar as práticas pedagógicas, na busca pela melhoria da qualidade educacional, com base nas tendências da educação foi que diversos educadores direcionaram seus esforços em prol da análise das possibilidades com relação ao ensino. Na condução de um trabalho docente mais bem elaborado e eficaz, com base nas necessidades atuais do público discente, verifica-se a importância das tendências pedagógicas, pois é o reconhecimento docente destas tendências, bem como das perspectivas que se podem ter a partir das mesmas, que permitem que o processo de aprendizagem tenha sentido para o aluno. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Além disso, o professor também pode se questionar sobre o que ensinar, para quem ensinar, como, para quê e por quê, questionamentos fundamentais para que se alcance a prática pedagógica de modo efetivo, além de promover junto ao profissional docente uma segurança maior com relação às ações que ele precisa efetivar no processo de ensino-aprendizagem. As concepções das tendências pedagógicas foram desenvolvidas a partir das concepções dos educadores, a partir do contexto histórico e sociocultural no qual os mesmos se inseriam, com suas respectivas compreensões da realidade e do ser humano. A partir dos aspectos que analisavam com relação ao trabalho docente e à sociedade, apresentaram ideias voltadas ao ensino e sua eficácia, a fim de que fosse plena a contribuição da educação na formação dos indivíduos. A partir do momento em que o professor toma o devido conhecimento a respeito das tendências pedagógicas, especialmente as mais recentes, estas criam a este profissional a possibilidade de trabalhar com as variáveis educativas, principalmente no que se refere à transmissão de conteúdos e realizações de atividades, ampliando suas alternativas de atuação por meio de elementos relevantes para si e para a sociedade, em uma prática docente relevante e valiosa. Tal reformulação nas realizações do professor promovem para com o mesmo as opções de diversificação referentes às suas ações. A insatisfação discente pode ser, portanto, combatida por meio de novos conhecimentos, habilidades e atitudes, estimulados por meio de recursos inovadores, que permitem tanto a professores quanto a alunos explorarem suas potencialidades com relação aos procedimentos pertinentes à educação. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r No contexto atual, alunos e professores sentem-se verdadeiramente motivados pelo processo de ensino- aprendizagem? Assim, conforme o professor domina os aspectos pertinentes às tendências pedagógicas pode, inclusive, providenciar suas mudanças, conforme julgar importante aos alunos. Isto permite que, na relação professor- aluno, seja considerada de forma mais constante as necessidades discentes, em prol da importância que o aprender possui para este público. A partir dessas premissas, verifica-se que o aprendizado promove a análise efetiva do contexto histórico e sociocultural no qual os educandos se inserem, além da capacidade crítica dos mesmos para com a realidade. Neste sentido, pode-se destacar a importância do viés crítico da Pedagogia, também denominada Pedagogia Crítica, a partir do momento em que a educação assume o papel de estimular a compreensão dos aspectos que fazem parte da sociedade contemporânea, promovendo a capacidade de questionamento dos alunos, a fim de que os mesmos busquem resoluções que sejam plausíveis e eficazes para todos os indivíduos. As relações existentes entre Pedagogia e Filosofia ilustram os aspectos em comum que estão presentes na educação e na sociedade, inclusive no que se referem às inquietações humanas, promovidas de acordo com o próprio processo de ensino-aprendizagem, em torno das possibilidades de atuação do profissional docente e das potencialidades de desenvolvimento do público discente. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Desta forma, o que se pode compreender com relação ao desempenho docente, com base nas tendências pedagógicas, é que a forma com que o professor busca atualizar e aprimorar suas concepções e práticas faz toda a diferença no momento de se estimular o aluno a uma postura crítica e efetiva, diante de seu próprio desenvolvimento. Pode-se, enfim, apontar que a aprendizagem exerce sua função, neste caso, como elemento norteador do ser humano, em prol dos primeiros passos para que se garanta a capacidade de reconhecimento e análise de seus pensamentos, ações e valores, enquanto modo de expressar a visão que possui com relação à realidade em que se encontra. Síntese As concepções das tendências pedagógicas foram desenvolvidas a partir das concepções dos educadores, a partir do contexto histórico e sociocultural no qual os mesmos se inseriam, com suas respectivas compreensões da realidade e do ser humano. A partir do momento em que o professor toma o devido conhecimento a respeito das tendências pedagógicas, especialmente as mais recentes, estas criam a este profissional a possibilidade de trabalhar com as variáveis educativas, principalmente no que se refere à transmissão de conteúdos e realizações de atividades, ampliando suas alternativas de atuação por meio de elementos relevantes para si e para a sociedade. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Considerações Finais Finalizando o módulo 2, esperamos que você tenha compreendido as definições de Teorias e CorrentesPedagógicas, que nos dias atuais norteiam a prática e os processos de ensino aprendizagem. Onde teoria e prática são estudadas para que o profissional docente possa alcançar a “práxis” em sua atuação docente, considerando as particularidades de cada indivíduo e concluindo de modo satisfatório os objetivos contidos nos processos educacionais. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r MÓDULO 3 – Natureza e Conteúdos da Didática Isabel Cristina Domingues Aguiar Nome da Disciplina: Didática no Ensino Superior Módulo 3 – Natureza e Conteúdos da Didática – Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 3 – Natureza e Conteúdos da Didática 1. ____________ 2. _____________ 3. _____________ Faculdade Campos Elíseos Conversa Inicial No terceiro módulo, analisaremos a natureza e conteúdos da didática. Para tanto, no primeiro momento trataremos dos conteúdos específicos da didática a partir da importância da figura do professor; em seguida, definiremos as semelhanças entre a didática e outras disciplinas pedagógicas, bem como uma breve análise do processo de aprendizagem sociocultural que são ferramentas importantes para compreendermos o ato didático. Por fim, abordaremos a natureza e conteúdos da didática aplicados no ensino superior. Agora com a descrição de toda a trajetória, podemos iniciar a nossa jornada de estudos. Ótimo aprendizado! D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 3.1 Conteúdos da Didática e a Formação do Professor A didática é uma disciplina que compõe o estudo da Pedagogia e centraliza seu estudo na técnica de ensino, isto é, nos procedimentos e/ou modos que garantam a aprendizagem significativa do aluno. O conteúdo da didática não apresenta distinção expressiva entre o que se aplica na educação básica e no ensino superior. Há apenas ressalvas que serão expostas mais a frente quanto ao emprego de estratégias para a prática educativa. A compreensão da didática é decisiva tanto para a eficácia do ato educativo, quanto para o trabalho do professor que depende desse saber para estabelecer a direção do ensino e aprendizagem, além de adquirir mais segurança profissional. Contudo, entre os estudiosos da didática não há uma concordância dos limites de conteúdo que esta disciplina deve se ater. Enquanto Vicente Benedito (1987) e Renzo Titone (1974) a definem como uma ciência construída a partir da teoria e prática, outros pesquisadores como Danilou (1978) a determina como estudo da assimilação dos conhecimentos sistematizados, os quais permitem o entendimento do processo de ensino-aprendizagem. Não objetiva-se aqui identificar as inúmeras definições do objeto de estudo da didática, ao contrário, o interesse do presente módulo está na busca pelos elementos comuns que caracterizam os conteúdos desta disciplina. Observa-se que as diversas definições de didática perpassam pela ideia de uma disciplina voltada para o ensino e aprendizagem de modo a compreender as relações entre o ato de ensinar e a formação do aluno (o aprendizado). D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Neste sentido, a didática enquanto disciplina que busca técnicas de estímulo para a aprendizagem, precisa traçar os princípios e procedimentos que regulam o ensino, bem como orientar para a eficácia da aprendizagem. Para isso, é importante compreender a figura do professor como parte do próprio conteúdo de estudo da didática, pois é através da atuação do professor que o processo de ensino e aprendizagem se efetivará. O destaque dado ao docente refere-se ao trabalho como ponte de mediação entre o aluno em formação e o conhecimento que será aprendido. Isso não significa afirmar que as técnicas de ensino instituídas pela Didática visam à aquisição de um conhecimento estático em que o professor se posiciona apenas como transmissor do conteúdo, deixando o aluno passivo no processo de sua própria aprendizagem. De maneira oposta, a didática busca nos métodos e procedimentos formas de permitir o real desenvolvimento das capacidades dos alunos. Além disso, sabe-se que o modelo de professor como mero transmissor de conteúdo está em desuso, já que na atualidade exige-se cada vez mais que o ensino resulte na formação de pessoas críticas e que saibam lidar com o conhecimento de forma reflexiva, sem aprendizados mecanicistas e sem sentido com a realidade. Paulo Freire afirma que o conhecimento deve estar sempre atrelado a realidade do discente, cabendo ao professor à função de auxiliar o aluno na construção de sua autonomia e responsabilidade, respeitando “a autonomia do ser educando, à sua dignidade e identidade”. (FREIRE, 2007). D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r A respeito da postura do professor em sala de aula, observa-se ainda a existência de outras formas didáticas que vão além da atitude de transmissão de conteúdo, desenvolvendo, sobretudo a capacidade de estimular o pensamento para formar conceitos, habilidades mentais que permitam a reflexão sobre a própria atividade mental. De acordo com José Carlos Libâneo (2002), em “Didática: velhos e novos temas”, a atitude didática torna o professor o elemento de mediação entre o aluno e o conteúdo de estudo, capaz de oferecer subsídios e condições de ensino que proporcionem a eficácia no processo de aprendizagem do aluno. O processo didático é o conjunto de atividades do professor e dos alunos sob a direção do professor, visando à assimilação ativada pelos alunos dos conhecimentos, habilidades e hábitos. Nessa concepção de didática, conteúdos escolares e o desenvolvimento mental se relacionam com reciprocidade, pois o progresso intelectual dos alunos e o desenvolvimento de suas capacidades mentais se verificam no decorrer da assimilação ativa dos conteúdos. (LIBÂNEO, 2002, p.8) Dessa forma, a didática atribui ao professor uma tarefa determinante, mas não de maior proeminência, para a formação de cidadãos críticos e reflexivos, com autonomia sobre o conhecimento e capazes de atuarem socialmente e transformar a realidade ao qual estão inseridos. O principal destaque desses estudos está no papel ativo que os discentes têm sobre sua própria aprendizagem, é deles a função de desenvolver as estruturas cognitivas do pensamento, linguagem, memória, atenção, imaginação, percepção e raciocínio que fazem parte de sua formação intelectual, tendo em vista a compreensão do mundo a sua volta. Para que o professor possa estimular o desenvolvimento dessas habilidades cognitivas é necessária à formação de duas etapas: a teórica científica – aprendizado acadêmico específico nas disciplinas de especialização; a formação técnico-prática – conhecimento de disciplinas da docência como a Didática e as metodologias específicas de cada ciência, bem como da Psicologia da Educação e da Prática de Ensino. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r A etapa teórica científica não se refere apenas ao domínio do conteúdo específico da disciplina, mas ao processo de pesquisa que originou tal conteúdo, o procedimento científico adotado, os equívocos e certezas encontrados ao longo da pesquisa. Esse conhecimento é relevante para que o professor possa refazer em aula o percurso da investigação científica, auxiliando o aluno a pensar de forma teórica e conceitual, posicionando-o no papel ativo de sua aprendizagem. De outro lado, a formação técnico-prática diz respeito às disciplinas da frente pedagógica que atuam no processo de ensino de modo a criar condições para assegurar aos alunos um aprendizado significativo. Dentre tais disciplinas pedagógicas, a didática aponta paraos objetivos, formas e meios que esclareçam o processo educativo a partir da participação ativa dos alunos, cabendo ao professor o papel de orientação desse processo. Observa-se aqui que a concepção de didática e dos participantes do processo educativo não é apenas a de uma ciência que aborda as técnicas de ensino, mas direciona-se ao entendimento de uma disciplina construída entre a teoria e prática de ensino, que leva em conta a função ativa do aluno no processo de aprendizagem escolar. Os conteúdos da didática são formados a partir da junção dos conhecimentos teóricos e práticos obtidos nas disciplinas de formação acadêmica, pedagógica e técnico-prática caracterizando as condições e formas de atingir a eficácia do ensino e da aprendizagem escolar. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Síntese A didática centraliza-se nas técnicas de ensino, nos procedimentos e/ou modos que garantam a aprendizagem significativa do aluno. Compreender a didática é decisivo tanto para a eficácia do ato educativo, quanto para o trabalho do professor que depende desse saber para estabelecer a direção do ensino e aprendizagem. É necessário pensar na figura do professor como parte do próprio conteúdo de estudo da didática, pois é através da atuação do professor que o processo de ensino e aprendizagem se efetivará. A atitude didática torna o professor o elemento de mediação entre o aluno e o conteúdo de estudo, capaz de oferecer subsídios e condições de ensino que proporcionem a eficácia no processo de aprendizagem do aluno. A didática atribui ao professor uma tarefa determinante, mas não de maior proeminência, para a formação de cidadãos críticos e reflexivos, com autonomia sobre o conhecimento e capazes de atuarem socialmente e transformar a realidade ao qual estão inseridos. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 3.1.1 Didática e seu caráter interdisciplinar A didática, enquanto parte de estudo da Pedagogia, é uma disciplina técnica que orienta a prática educativa de modo a desenvolver as funções cognitivas dos alunos. O caráter abrangente que leva a didática a ser aplicada a todo e qualquer tipo de disciplina faz com que seja questionada sua pertinência nos estudos educacionais, porém sua função ao lado das demais disciplinas pedagógicas é imprescindível para a formação docente. Contudo, se a didática possui elementos próprios de ciência, é necessário determiná-los e distingui-los em relação aos demais saberes. A natureza de estudo da didática é o ensino, mas sua concepção é pluridimensional, isto é, precisa recorrer aos outros campos da educação para resolver seus problemas e tornar-se compreensível. Para exemplificar este fato pode-se pensar nas semelhanças entre a didática e a metodologia de ensino. Ambas se apoiam no estudo das estratégias de ensino e aprendizagem, apontando os elementos característicos de cada método, mas não podem ser consideradas como disciplinas ambivalentes. Primeiramente, a metodologia incumbiu-se da função de classificar os métodos de ensino por um viés descritivo, sem criar análises aprofundadas e/ou juízo de valor, o que não ocorre com o estudo da Didática que estabelece critérios de valoração aos métodos de ensino. Portanto, não podem ser abordadas de forma equivalente. Em outros momentos, verifica-se que a didática se vale de conhecimentos sociopolíticos, pedagógicos e científicos para criar objetivos, selecionar conteúdos e métodos, pois o fenômeno educativo é interdisciplinar por natureza e exige a mobilização de diversas áreas para explicar o ensino de cada disciplina. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r De forma genérica observa-se que os conteúdos didáticos referentes à situação de aprendizagem escolar estão presentes nas seguintes etapas: Objetivos – são elementos que estruturam o ensino didático, podem transcender os limites da aprendizagem escolar (objetivos gerais) ou intencionar a disciplina (objetivos específicos); Conteúdos – componente didático decisivo para o desenvolvimento crítico, deve ser contextualizado com a realidade que o aluno está inserido, mas simultaneamente, é preciso atender aos programas de conteúdos estabelecidos para a formação, visando o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas. Ademais, a seleção de conteúdos é uma etapa que exige domínio sobre o conhecimento abordado e do conjunto de discentes. Métodos – procedimentos e formas que o professor utiliza para atingir seus objetivos (gerais e específicos) em relação aos conteúdos da disciplina que serão aplicados; Avaliação escolar – componente didático que permite observar os progressos e as dificuldades de aprendizagem. Nesse subitem destaca-se que a avaliação, sob o ponto de vista didático, deve ser utilizada como ferramenta de reconsideração para saber se o plano de ensino está adequado à realidade dos discentes ou se é preciso realizar ajustes. É importante ainda que o mecanismo avaliativo (LIBÂNEO, 2002) não esteja a serviço do rendimento quantitativo, ou seja, para a atribuição de notas sem diagnóstico de aprendizagem. Assim, os elementos caraterísticos do ensino didático compõem o processo de ensino ao propiciar as condições adequadas para a aquisição ativa do conhecimento, além de facilitar o papel do professor enquanto mediador do aluno e do conteúdo a ser apreendido. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 3.1.2 Processo de aprendizagem sociocultural e a Didática A partir do século XX, a didática passou a receber influência determinante dos estudos da Psicologia especialmente os que consideravam os aspectos relacionados ao ensino e aprendizagem. A compreensão desse processo passará ser uma ferramenta decisiva para a escolha das estratégias do ato didático. Cada processo de aprendizagem tem suas próprias conjecturas didáticas: tradicional, comportamental (ou behaviorista), humanista, interacionista (cognitivista e sociocultural). Importa-nos enfocar aqui o processo sociocultural devido à proximidade dessa abordagem com a compreensão da didática moderna, a qual estabelece um ensino voltado para a formação de um aluno ativo sobre sua aprendizagem e da existência do professor mediador. O processo interacionista sociocultural é a base de uma didática fundamentada no diálogo, não apenas pela transmissão de conteúdos. Para Vigotsky (1896-1934), partidário da linha sociocultural de aprendizagem, o desenvolvimento da mente está vinculado à cultura, isto é, a cultura (incluindo o ensino e a aprendizagem) compõe a formação das funções psicológicas superiores, e o desenvolvimento de um indivíduo depende da relação que é estabelecida com o meio o qual está inserido. A concepção de Vigotsky se opôs a outras vigentes em sua época, especialmente a teoria ambientalista que atribuía demasiada importância às condições do meio no desenvolvimento do sujeito, em virtude de seus estudos não poderem alcançar consciência objetivamente; e o inatismo que sobrepôs os fatores biológicos do desenvolvimento em detrimento dos fatores ambientais. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Convém ressaltar que o processo sociocultural não considera aprendizagem e desenvolvimento como similares, pois a aprendizagem antecede o desenvolvimento que surge como fator resultante da interação entre aprendizagem e o meio sociocultural. Desse modo, para que o sujeito se desenvolva de forma significativa no meio ao qual está inserido, se faz necessário o uso de estratégias que o auxiliem ao longo de seu percurso educativo. É notória a importância do ambiente escolar para o desenvolvimento do sujeito, principalmentepela multiplicidade de relações que esse ambiente pode promover. Dentre elas, a relação professor-aluno se sobressai pela busca de uma aprendizagem significativa tendo em vista que, pela perspectiva da mediação, cabe ao professor a função de estimular o desenvolvimento do aluno. Dessa forma, o trabalho docente atua como fator de mediação entre a cultura elaborada, convertida em saber escolar, e o aluno que além de um sujeito psicológico, é um sujeito autônomo sobre seu desenvolvimento. Para que o ensino seja efetivado e que os alunos desenvolvam suas capacidades e habilidades mentais, é necessário que o professor atue além dos limites do conteúdo de ensino, mediando situações de aprendizagem, identificando a origem do processo de pesquisa que originou o referido conteúdo; qual método e procedimento serão adotados para que os alunos se apropriem dos conteúdos ensinados; quais são as características individuais e socioculturais dos alunos. Essas questões são atos que compõem a didática moderna e que visam o desenvolvimento das capacidades mentais, bem como da participação ativa do educando no processo de aprendizagem. D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Para finalizar a explanação da importância do processo sociocultural nos estudos de didática ressalta-se que na base epistemológica seguida por Vygotsky, o Materialismo Histórico – Dialético, o sujeito constrói o mundo ao seu redor e também a si mesmo, compreendendo assim que o homem é historicamente determinado como também é um determinante da história. Nessa lógica, o papel da educação é possibilitar a incorporação de conhecimento sobre mundo e, simultaneamente, articular o desenvolvimento das funções psicológicas. À didática, como parte do processo educativo, cabe o papel de pesquisa os fundamentos e modos de realização do ensino e aprendizagem, além de converter objetivos pedagógicos gerais em objetivos de ensino específicos, selecionar conteúdos e métodos de modo desenvolver sujeitos ativos, reflexivos e transformadores de sua realidade. A Didática é imprescindível para a formação e atuação de professores? D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r Síntese A didática, enquanto parte de estudo da Pedagogia, é uma disciplina técnica que orienta a prática educativa de modo a desenvolver as funções cognitivas dos alunos. A natureza de estudo da didática é o ensino, mas sua concepção é pluridimensional, isto é, precisa recorrer aos outros campos da educação para resolver seus problemas e torna-se compreensível. Os conteúdos didáticos referentes à situação de aprendizagem escolar estão presentes nas etapas: objetivos; conteúdos; métodos; avaliação escolar. A partir do século XX, a didática recebeu influência dos estudos da Psicologia, especialmente os que consideravam os aspectos relacionados ao ensino e aprendizagem. O processo sociocultural considera que o desenvolvimento da mente está atrelado a cultura (ensino e aprendizagem). D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r 3.2 Natureza e Conteúdos da Didática no Ensino Superior Ao realizar uma análise dos conteúdos da didática aplicados ao ensino superior é notório pontuar algumas considerações. Primeiramente, o conteúdo da didática enquanto disciplina do campo pedagógico não apresenta distinção expressiva entre o que se aplica na educação básica e no ensino superior. Há apenas ressalvas quanto ao emprego de estratégias de ensino- aprendizagem que precisam ser consideradas para a prática educativa. Em seguida, o levantamento bibliográfico sobre a didática no ensino superior revelou que esse é um assunto pouco abordado, mas que deve servir de fonte para pesquisas e orientações acadêmicas, principalmente para auxiliar o trabalho docente. Dentre as diferenças de estratégias de ensino-aprendizagem observa-se que, de maneira geral, na educação básica o professor atua como mediador entre o aluno e o conteúdo a ser aprendido, empregando estratégias para que ocorra a aprendizagem. No ensino superior, por sua vez, exige-se cada vez mais do aluno a especificação dos conteúdos abordados em aula, isto é, o aluno deve possuir plena autonomia sobre o conhecimento. Pelo viés da didática moderna esta diferenciação não deveria ocorrer de forma tão abrupta, pois o aluno deveria ser estimulado desde a educação básica a ser o agente ativo do processo de sua aprendizagem, para que quando chegasse ao ensino superior tivesse independência para desenvolver D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r seu conhecimento. Contudo, grande parte do ensino superior é regido ainda pela didática tradicional centralizando no professor a figura de destaque para transmitir os conhecimentos em detrimento de um ensino reflexivo, crítico e contextualizado socialmente. Sabe-se que o professor do ensino superior é especialista na disciplina ministrada, mas não consegue transmitir o conhecimento aos alunos por falta de técnicas de didáticas que facilitam o entendimento como um todo. Há ainda, casos de docentes que até utilizam uma abordagem didática baseada no diálogo, mas não levam em consideração as deficiências de aprendizagem que alguns alunos apresentam no ensino superior. Neste sentido, verifica-se que a didática moderna ainda está em processo de aprimoramento no ensino superior e, muitas vezes, a problemática encontra-se fora dos limites de responsabilidade da própria didática, tais como: ausência de ligação entre o ensino básico e o superior; problemas de aprendizagem oriundos do ensino básico e fundamental. Cabe esclarecer que o professor do ensino superior não é o responsável absoluto pela aplicação da didática tradicional, isso se deve, sobretudo pela própria formação do conceito de universidade que estabelece na tríade aula- pesquisa-extensão, a reflexão como parte da realidade do aluno de graduação. Assim, é compreendido que a formação ativa, autônoma e reflexiva perpassa todas as instâncias do ensino superior, cabendo ao ensino na sala de aula a função de transmitir conteúdos que deverão ser especificados na pesquisa acadêmica. Entretanto, como pontua Libâneo (2002), o ato didático deve estar presente em todos os níveis de aprendizagem de modo a proporcionar ao aluno um aprendizado eficaz, reflexivo e de acordo com os componentes D id át ic a d o E n si n o S u p e ri o r fundamentais do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, como já foi tratado no presente módulo, a didática tradicional está em desuso porque não se aplica as necessidades contemporâneas, nem se preocupa com a formação ativa dos discentes. Atualmente, a interação professor-aluno é condição essencial para a prática educativa, sendo utilizadas inclusive as novas tecnologias da educação como instrumento de facilitação da aprendizagem e aproximação dos sujeitos desse processo. A prática didática no ensino superior deve voltar-se para as necessidades reais dos alunos, identificando/sanando eventuais deficiências de aprendizagem, bem como no respeito aos saberes culturais dos alunos. Tais necessidades devem ser estabelecidas em conformidade com os objetivos pedagógicos já institucionalizados, pois é preciso formar os alunos para as diversas realidades que encontrará em sua atuação profissional. Por fim, a didática é um instrumento de reflexão sobre a situação de aprendizagem que precisa inserir-se cada vez mais no ensino superior de modo a contribuir para a formação de profissionais críticos e sujeitos ativos do processo de sua aprendizagem. D id át ic a d o E n si n o
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