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1 Intestino Delgado ANATOMIA: o ID estende-se do piloro até a válvula ileocecal e, dependendo do seu tônus muscular, mede de 3,5m a 6,5 m de comprimento. É dividido em três regiões: O duodeno estende-se até o ângulo de Treitz (flexura duodeno jejunal) (3 porções); O jejuno é constituído pelos 40% proximais do restante do ID; O íleo é constituído pelos 60% distais. Toda a extensão do ID, disposto em alças redundantes, é móvel, exceto pelo duodeno, que é quase totalmente retroperitonial e, portanto, fixo. HISTOLOGIA: é fundamental compreender a microscopia do ID para avaliar sua função em condições de saúde e doença. Assim como o estômago e o cólon, a parede do ID é constituída por 4 camadas: mucosa, submucosa, muscular e serosa. SEROSA: tecido conjuntivo frouxo, mesotélio; MUSCULAR PRÓPRIA: camada longitudinal externa e circular interna; SUBMUCOSA: tecido conjuntivo vascularizado, algumas células de defesa. No duodeno glândulas de Brunner. As glândulas de Brunner secretam muco e bicarbonato que protegem a mucosa da úlcera péptica. Capilares linfáticos e venosos. Plexos nervosos mioentéricos: de Auerbach entre as camadas musculares e de Meissner na submucosa. Enzimas do intestino delgado: enzimas da borda-em-escova para a digestão final de proteínas e carboidratos. MUCOSA: o aspecto distinto da mucosa intestinal é a sua disposição em vilosidades, projeções digitiformes com 0,5 a 1 mm de comprimento, que expandem muito a área de absorção. As vilosidades são compostas por um epitélio colunar que se apoia sobre uma membrana basal, uma lâmina própria e uma muscular da mucosa, que separa a mucosa da submucosa. O tecido conjuntivo da lâmina própria forma a parte central da vilosidade e circunda as criptas de Lieberkuhn na base das vilosidades. A lâmina própria normal é sede de várias células mesenquimais incluindo linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Os plasmócitos da lâmina própria secretam principalmente IgA na forma de um dímero que se funde através da membrana basal da cripta. A IgA chega então à superfície basal ou lateral da célula epitelial, onde então se combina a um componente secretor produzido por aquela célula (transcitose). A molécula de IgA secretora resultante é captada pela célula e secretada para a luz intestinal. A IgA secretora, mais resistente à proteólise que a IgA sérica, ligase a antígenos alimentares e impede a aderência de bactérias às células epiteliais intestinais. Além disso, a IgA pode neutralizar toxinas bacterianas e inibir a replicação e a penetração de vírus na mucosa. Nódulos linfóides (MALT) estão dispostos por toda a mucosa e agregam-se em placas de Peyer visíveis. Nesses locais encontram-se as células M (apresentadoras de antígeno). As células epiteliais colunares das vilosidades são principalmente absortivas, enquanto as que revestem as criptas são a fonte da renovação celular e secreção. Estas também exibem algumas células caliciformes, células de Paneth e células enteroendócrinas. Os enterócitos são altos e exibem núcleos basais. Inúmeras microvilosidades estendem-se da superfície destas células para a luz, aumentando mais ainda a superfície de absorção. A membrana plasmática das microvilosidades é coberta por um glicocálice (revestimento indistinto) produzido pela célula absortiva. As dissacaridases e peptidases residem neste glicocálice. Alguns receptores, como para o complexo fator intrínsecovitamina B12 no íleo, também estão presentes na região membrana-glicocálice. 2 O citoplasma abaixo das microvilosidades contém uma rede de microfilamentos de actina, miosina e outras proteínas (apoproteínas). As bordas laterais das membranas plasmáticas adjacentes formam junções oclusivas impermeáveis às macromoléculas, mas que permitem o transporte passivo de pequenas moléculas via paracelular. O material absorvido é transportado da célula epitelial para o espaço intercelular entre as células absortivas. A seguir penetra na membrana basal, atravessa a lâmina própria e entra em um capilar ou um canal linfático. Nas criptas são reconhecidos 4 tipos celulares: CÉLULAS CALICIFORMES: nas paredes laterais das criptas são preenchidas por vesícula de muco. Sua estrutura e função são semelhantes às das células caliciformes de outros locais e contêm mucinas neutras e ácidas. CÉLULAS DE PANETH: localizadas na base da cripta participam ativamente da secreção exócrina. Participam da defesa da mucosa conforme evidenciado pela presença de lisozima, produtos antimicrobianos (peptídios criptidinas) e ligante CD95 (TNF das citocinas). CÉLULAS ENDÓCRINAS: possuem grânulos de localização basal indicando que eles são secretados para a lâmina própria e não para a luz. Produzem vários hormônios gastrointestinais e peptídios: gastrina, secretina, colecistocinina, glucagon, PIV e serotonina. Presume-se que a secreção destes hormônios, em resposta a estímulos apropriados, regule muitas funções gastrointestinais. Como em outros tecidos, os tumores primários derivados destas células são caracterizados por secreção hormonal surpreendente (Tumores carcinóides). CÉLULAS INDIFERENCIADAS: estão localizadas nas paredes laterais das criptas, entre as células de Paneth e são as células mais numerosas das criptas. Funcionam como células de reserva, a partir das quais as outras células da mucosa são renovadas, assim as mitoses são mais numerosas entre elas. O epitélio da mucosa do ID é substituído em um período de 4 a 7 dias. Essa proliferação celular rápida explica por que o epitélio intestinal é particularmente sensível à radiação e aos agentes quimioterápicos. DISTÚRBIOS CONGÊNITOS ATRESIA: é definida como oclusão completa da luz que pode manifestar-se como: um diafragma intraluminal fino, sacos proximal e distal cegos unidos por um cordão, ou extremidades cegas desconectadas. Múltiplas oclusões intestinais podem produzir um aspecto de cordão de salsichas. Embora se acredite que a maioria dos casos de atresia congênita reflita isquemia intrauterina durante o desenvolvimento fetal, ¼ dos casos associa-se a íleo meconial e 1/10 com fibrose cística. ESTENOSE: é um estreitamento incompleto do intestino delgado, mas sem oclusão total da luz. A estenose também pode ser causada por um diafragma incompleto. Embora o distúrbio geralmente seja sintomático na lactância, foram registrados alguns casos em adultos. A atresia ou estenose intestinal é diagnosticada com base no vômito persistente ou líquido contendo bile no primeiro dia de vida. Não há eliminação de mecônio. O intestino fetal encontra- se dilatado e cheio de líquido (detectável ao Rx ou US). DUPLICAÇÕES: as duplicações gastrointestinais (cistos entéricos), que podem ocorrer do esôfago até o ânus, são estruturas esféricas ou tubulares fixadas ao trato alimentar, podendo ou não comunicar-se com a luz. DIVERTÍCULO DE MECKEL: é causado por persistência do ducto vitelino, é uma evaginação do intestino sobre a borda anti- mesentérica do íleo, distante 60 a 100 cm da válvula íleocecal em adultos. O divertículo de Meckel é a anomalia congênita mais comum do ID e mais significativa clinicamente. 2/3 dos pacientes tem menos de 2 anos de vida. PATOLOGIA: o divertículo de Meckel tem cerca de 5 cm de comprimento, com diâmetro menor que o do íleo porém maior que o do apêndice. 3 Um cordão fibroso pode pender livremente do ápice do divertículo ou pode estar fixado ao umbigo podendo haver a formação de fístulas. É um divertículo verdadeiro porque possui todas as camadas do intestino normal, e a mucosa é semelhante à do íleo adjacente. A maioria é assintomática e diagnosticada incidentalmente. Uma minoria se torna sintomática e, destes, cerca de metade contém tecido gástrico, duodenal, pancreático, biliar ou colônicoectópico. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: o divertículo de Meckel pode causar várias complicações. HEMORRAGIA: responsável por metade de toda a hemorragia gastrointestinal inferior em crianças (ulceração péptica do íleo adjacente à mucosa gástrica ectópica). OBSTRUÇÃO INTESTINAL: o divertículo pode agir como um condutor para uma intussuscepção ou vólvulo. DIVERTICULITE PERFURAÇÃO FÍSTULA com drenagem fecal para o umbigo. MÁ ROTAÇÃO: uma rotação intestinal imprópria na vida fetal causa posicionamentos anormais do intestino delgado e do cólon, fixações anômalas e faixas. A importância clínica destas reside em sua propensão a causar vólvulo no ID e no IG e encarceramento do intestino em uma hérnia interna. DOENÇAS VASCULARES A diminuição do fluxo sanguíneo para os intestinos de qualquer causa pode ocasionar doença intestinal isquêmica. O tipo mais comum é a isquemia intestinal aguda que está associada à lesão que varia de necrose da mucosa a infarto transmural do intestino. As síndromes intestinais isquêmicas crônicas são menos frequentes. PATOGENIA: Oclusão arterial (trombose, embolia, menos comum arterite) Isquemia intestinal não-oclusiva (hipóxica, choque) Trombose das veias mesentéricas Volvo ou vólvulo Embora as camadas musculares profundas sejam inicialmente preservadas acabam sofrendo necrose também. A disfunção do músculo liso interfere na peristalse e causa íleo adinâmico (o intestino próximo à lesão está dilatado e cheio de líquido). Organismos intestinais podem atravessar a parede lesada e causar peritonite ou septicemia (translocação bacteriana). 4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: na oclusão da artéria mesentérica, dor abdominal aguda, de início súbito. A diarreia com sangue, hematêmese e o choque são comuns e, em casos não tratados a perfuração é frequente. A medida que o infarto progride, as manifestações sistêmicas podem tornar-se mais graves (síndrome de falência de múltiplos órgãos), e a morte é inevitável se não for realizada intervenção cirúrgica. INFECÇÕES DIARREIA BACTERIANA: apesar dos avanços na identificação de organismos, da antibioticoterapia e da reposição hidroeletrolítica, a diarreia infecciosa ainda causa muitas mortes em todo o mundo. O intestino delgado normal tem poucos microrganismos (geralmente <100.000/ml), em sua maioria bacilos aeróbios como os lactobacilos. Estes organismos seguem no fluxo do alimento e não costumam colonizar o ID. Estados diarreicos infecciosos são causados por colonização por bactérias como cepas toxigênicas de Escherichia coli e Vibrio choleare. O fator mais importante na diarreia infecciosa é o aumento da secreção intestinal, estimulado por toxinas bacterianas e hormônios entéricos. A diminuição da absorção e o aumento do peristaltismo contribuem menos para a diarreia. O cólon (IG) abriga uma flora bacteriana abundante, com uma concentração 7x maior do que a do intestino delgado. No cólon as bactérias anaeróbias (ex.: Bacteroides e Clostridium) superam em 1000x as aeróbias. A escassez de bactérias no estômago e no ID se deve a mecanismos protetores: A produção de ácido gástrico é hostil ao crescimento bacteriano, um efeito que explica o supercrescimento de bactérias na acloridria; A bile tem atividade antimicrobiana (sais biliares e IgA); A propulsão peristáltica do conteúdo intestinal limita o tempo disponível para o acúmulo de bactérias; A flora normal secreta suas próprias substâncias antimicrobianas para manter um equilíbrio ecológico (o tratamento com antibióticos de amplo espectro altera a flora natural e permite o supercrescimento de organismos comumente inofensivos); Os plasmócitos da lâmina própria secretam IgA para a luz intestinal. Os agentes da diarreia infecciosa são convenientemente classificados em organismos toxigênicos, que causam diarreia através da produção de toxinas; bactérias aderentes e bactérias invasivas. DIARREIA TOXIGÊNICA: Os organismos protótipos que produzem diarreia pela secreção de toxinas são: V. choleare e cepas toxigênicas de E. coli. A diarréia toxigênica caracteriza-se por: A lesão da mucosa intestinal é mínima ou ausente; O microrganismo permanece na superfície da mucosa onde secreta sua toxina; O líquido secretado para o intestino causa diarreia aquosa, que pode ocasionar desidratação, particularmente no caso de cólera. DIARREIA CAUSADA POR BACTÉRIAS INVASIVAS: Os organismos causam diarreia por lesão direta da mucosa intestinal. Entre eles: Shigella, Salmonella e determinadas cepas de E. coli, Yersinia e Campilobacter. Estes organismos invasivos tendem a infectar a porção distal do íleo e o cólon, enquanto as bactérias toxigênicas envolvem o trato intestinal superior. FUNGOS: o trato gastrointestinal não é um ambiente hospitaleiro para os fungos. Número pequeno de comensais. GASTROENTERITE VIRAL: ROTAVÍRUS: a infecção por este vírus é causa comum de diarreia em lactentes, sendo responsável por metade dos casos de diarreia aguda em crianças com menos de 2 anos de idade. O rotavírus foi demonstrado em amostras de biópsia duodenal e está associado a lesão do epitélio superficial e comprometimento da absorção intestinal por períodos de até 2 meses. OUTROS VÍRUS: implicados como agentes etiológicos de diarreia infecciosa incluem echovírus, coxsackievírus, citomegalovírus, adenovírus e coronavírus. TUBERCULOSE: historicamente uma doença importante a tuberculose gastrointestinal hoje é uma doença rara nos países industrializados. No passado uma grande proporção da doença era causada pelo Mycobacterium bovis. Com o controle da tuberculose nos rebanhos leiteiros e a pasteurização do leite a contaminação por estes organismos tornou-se rara e os casos de tuberculose intestinal hoje são causados pelo M. tuberculosis. A maioria dos casos de tuberculose intestinal é causada pela ingestão de bactérias no alimento ou pela deglutição de escarro infeccioso. 5 Após ser ingerido o bacilo é protegido da digestão pela sua cápsula cérea e passa para o ID. A bactéria então estabelece um locus de infecção que em 90% dos casos é na região ileocecal onde o tecido linfóide é abundante. A infecção também pode ocorrer no cólon, jejuno, apêndice, reto e duodeno, nessa ordem de frequência. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: quase todos os pacientes com tuberculose intestinal apresentam dor abdominal crônica, e cerca de 2/3 possuem uma massa palpável no quadrante inferior direito. É comum haver emagrecimento, febre e fraqueza. MÁ ABSORÇÃO: é uma expressão genérica usada para descrever vários distúrbios clínicos nos quais nutrientes importantes são absorvidos inadequadamente pelo trato gastrointestinal. Embora haja alguma absorção de nutrientes no estômago e no cólon, apenas a absorção do intestino delgado, principalmente na porção proximal, é clinicamente importante. As duas substâncias preferencialmente absorvidas pela porção distal do ID são os sais biliares e a vitamina B12. A absorção intestinal é caracterizada por uma fase luminal e uma fase intestinal. A fase luminal consiste nos processos que ocorrem na luz do ID, altera o estado físico-químico dos vários nutrientes de forma que possam ser captados pelas células absortivas no epitélio do ID. A fase intestinal inclui os processos que ocorrem nas células e canais de transporte da parede intestinal. Na fase luminal é fundamental que as enzimas pancreáticas e os ácidos biliares sejam secretados para a luz duodenal em quantidades adequadas e em uma condição físico-química normal. Dois outros fatores são importantes para a atividade ideal das enzimas pancreáticas e dos sais biliares: um fluxo normal e controlado do conteúdo gástrico para o duodeno e um pH apropriadamente alto do conteúdo duodenal.A excreção normal das enzimas pancreáticas para o duodeno requer função exócrina pancreática adequada e um fluxo de suco pancreático sem obstrução. O suprimento de uma quantidade e uma qualidade normais de bile para o duodeno requer: Função hepatocelular adequada; Fluxo de bile desobstruído; Circulação enteroepática intacta dos sais biliares. A circulação enteroepática de bile começa com a absorção da maioria dos sais biliares intestinais no íleo distal e termina com sua excreção para o duodeno pelos ductos biliares. 95% dos sais biliares são reciclados e 5% excretados nas fezes. 6 As condições para o funcionamento normal da circulação enteroepática são: Microbiota intestinal normal; Função absortiva ileal normal; Um sistema biliar desobstruído. Causas de má absorção na fase luminal: Após cirurgia gastroduodenal (gastrectomia, antrectomia, piloroplastia) há interrupção da continuidade normal do estômago distal e duodeno; Disfunção pancreática (pancreatite crônica, carcinoma pancreático ou fibrose cística); Deficiência ou ineficácia dos sais biliares (comprometimento da excreção da bile, hepatopatia), deficiência dos sais biliares na ausência ou derivação do íleo distal (cirurgia, Crohn, linfoma). Supercrescimento bacteriano devido a um distúrbio da motilidade intestinal (síndrome da alça cega e defeitos musculares ou neurogênicos da parede intestinal). Causas de má absorção na fase intestinal: MICROVILOSIDADES: as dissacaridases intestinais e as peptidases estão integralmente ligadas às membranas microvilosas. As dissacaridases são essenciais para a absorção de açucares pois apenas os monossacarídeos podem ser absorvidos pelas células epiteliais intestinais. Oligopeptídeos e dipeptídeos podem ser absorvidos por mecanismos alternativos que não exigem peptidases. A função anormal das microvilosidades pode ser primária (como nas deficiências primárias de dissacaridase) ou secundárias (quando há lesão das vilosidades como na doença celíaca – espru). As várias deficiências enzimáticas (ex. Lactase) caracterizam-se por intolerância aos dissacarídeos correspondentes. ÁREA ABSORTIVA: a área de superfície absortiva pode ser diminuída por: ressecção do ID (síndrome do intestino curto), fístula gastro-cólica (desviando-se do ID), lesão da mucosa causada por várias doenças do ID (doença celíaca, espru tropical, doença de Whipple). FUNÇÃO METABÓLICA DAS CÉLULAS ABSORTIVAS: os nutrientes no interior das células absortivas dependem do seu metabolismo nestas células para seu transporte para a circulação. Nessas, monoglicerídeos e ácidos graxos livres são reagrupados em triglicerídeos e revestidos por proteínas (apoproteínas) para formar quilomícrons e partículas de lipoproteínas. Observa-se disfunção metabólica específica na abetalipoproteinemia, um distúrbio em que as células absortivas são incapazes de sintetizar a apoproteína necessária para o agrupamento das lipoproteínas e quilomícrons. TRANSPORTE: os nutrientes são transportados do epitélio intestinal através da parede pelos capilares sanguíneos e os linfáticos. O comprometimento do transporte de nutrientes através destes condutos é um fator importante na má absorção associada à doença de Whipple, linfoma intestinal e linfangiectasia congênita. Causas de má absorção no ID: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: MÁ ABSORÇÃO ESPECÍFICA OU ISOLADA: refere-se a um defeito molecular identificável que causa má absorção de um único nutriente. MÁ ABSORÇÃO GENERALIZADA: um distúrbio em que há comprometimento da absorção de várias ou de todas as principais classes de nutrientes. Este distúrbio leva à desnutrição generalizada. Em adultos emagrecimento e caquexia, em crianças atraso do desenvolvimento (crescimento e ganho de peso insatisfatórios). 7 Os efeitos secundários de substâncias não absorvidas ou parcialmente absorvidas podem causar diarreia. Ex. na deficiência de dissacaridase, os açúcares não hidrolisados no intestino são metabolizados em ác. Lático, CO2 e H2O por bactérias do cólon, um processo que resulta em diarreia fermentativa e explosiva. AVALIAÇÃO LABORATORIAL: existem testes laboratoriais disponíveis para detectar formas específicas de má absorção. TESTE DE SCHILLING: para avaliar a absorção de vitamina B12, esta é marcada com isótopos e administrada V.O. sendo, então determinado seu nível sanguíneo. A deficiência de dissacaridase é diagnosticada por medida da glicose sanguínea após administração oral de uma quantidade padrão de dissacarídeo (teste de tolerância à lactose) ou por medida da atividade da dissacaridase em uma amostra de biópsia do ID. Teste do hidrogênio no ar exalado. DOENÇA DE WHIPPLE: é um distúrbio infeccioso, raro, do ID em que a má absorção é a característica mais proeminente. Afeta com maior frequência homens brancos, entre 30-50 anos de idade. A doença é sistêmica (febre, aumento da pigmentação cutânea, anemia, linfadenopatia, artrite, pericardite, pleurisia, endocardite e envolvimento do SNC). Patogenia: infiltração da mucosa do ID por grandes macrófagos acondicionados com pequenos bacilos em forma de bastão (Tropheryma whippelli). Estes estão distintamente relacionados com micobactérias. A natureza esporádica da doença e a ausência de evidências de transmissão direta não permitiram o estabelecimento de um padrão epidemiológico. PATOLOGIA: a parede intestinal está espessada e edemaciada, os linfonodos mesentéricos estão aumentados. O ID revela vilosidades planas, espessas e infiltração extensa da lâmina própria com grandes macrófagos espumosos. Os outros componentes normais da lâmina própria (plasmócitos e linfócitos) estão depletados. Os vasos linfáticos da mucosa e submucosa estão dilatados e há grandes gotículas de lipídios nos linfáticos, e nos espaços extracelulares. Em contraste com a intensa alteração arquitetural, as células epiteliais exibem apenas atenuação das microvilosidades e um acúmulo de lipídio no citoplasma. Os linfonodos mesentéricos que drenam as áreas afetadas do ID revelam alterações microscópicas semelhantes. Também pode ser encontrada infiltração por macrófagos contendo bacilos em outros órgãos, como pulmão, cérebro, ossos e membranas sinoviais. O tratamento é feito com antibióticos que atravessam a barreira hematoencefálica. ABETALIPOPROTEINEMIA: é uma doença hereditária autossômica recessiva caracterizada por falha da síntese de apoproteína B, um constituinte da membrana que reveste as lipoproteínas de baixa densidade. É um exemplo de má absorção resultante de um defeito metabólico nas células absortivas. As células absortivas do ID que não possuem apoproteína B não reúnem quilomícrons, um componente essencial no transporte lipídico para fora da célula. As manifestações neurológicas típicas são: perda dos reflexos tendinosos profundos, ataxia sensorial e uma forma de retinite pigmentosa. O soro mostra uma ausência total de quilomícrons, lipoproteínas de baixa e muito baixa densidade. Os níveis séricos de colesterol e triglicerídios são baixos, e a maior parte dos lipídios séricos são transportados em partículas de lipoproteínas de alta densidade. Histologicamente as vilosidades, a lâmina própria e a submucosa parecem normais. As células contêm vacúolos lipídicos, provavelmente estes representam triglicerídios, reunidos na célula, mas que não podem ser transportados para o espaço intercelular devido à ausência de apoproteína B. A má absorção na abetalipoproteinemia é parcialmente revertida pela ingestão de triglicerídios de cadeia média (em vez dos triglicerídios de cadeia longa habituais) estes são transportados através das células absortivas sem um revestimento de apoproteína. LINFANGIECTASIA CONGÊNITA: é uma doença mal compreendidaque, em geral, começa na segunda infância e provavelmente reflete uma malformação generalizada do sistema linfático. A partir dos 2 anos até adolescência. Além da esteatorréia causada por comprometimento do transporte de quilomícrons pelos linfáticos intestinais, os pacientes apresentam, também, enteropatia perdedora de TCM 6 a 12 C 8 proteínas, um distúrbio caracterizado por perda excessiva de proteínas plasmáticas para o intestino. ESPRU TROPICAL: é uma doença de causa obscura, pouco compreendida, endêmica em determinadas regiões tropicais e caracterizada por má absorção progressiva e deficiência nutricional. Geralmente há cura, ou pelo menos melhora dos sintomas após o tratamento oral com tetraciclina e ácido fólico. A doença é endêmica em Porto Rico, Cuba, República Dominicana e Haiti, mas é rara em outras partes do Caribe. A causa do espru tropical não é conhecida, alguns estudos sugerem a contaminação prolongada do intestino por bactérias e a deficiência de folato resultante pode desempenhar um papel na perpetuação da lesão intestinal. Histologicamente há leve arredondamento das vilosidades até uma mucosa completamente plana como no espru celíaco. A lesão morfológica no epitélio e a inflamação na lâmina própria geralmente acompanham as alterações das vilosidades. Esteatorréia, anemia e emagrecimento associam-se a manifestações cada vez mais graves de deficiências de ácido fólico, vitamina B12 e hipoalbuminemia. DOENÇA CELÍACA (ESPRU NÃOTROPICAL, ENTEROPATIA SENSÍVEL AO GLÚTEN): é uma síndrome caracterizada por má absorção generalizada, lesão da mucosa do ID típica mas inespecífica e uma resposta clínica imediata e histopatológica lenta à retirada do glúten na dieta. PATOGENIA: a predisposição genética e a exposição à gliadina são fundamentais no desenvolvimento da doença celíaca. O PAPEL DAS PROTEÍNAS DOS CEREAIS: pacientes com doença celíaca assintomáticos e tratados com sucesso mostraram que a ingestão de farinha de trigo, cevada ou centeio no ID histopatologicamente reestabelecido acompanha-se de alterações clínicas e histopatológicas típicas do espru celíaco. Outros cereais como a farinha de arroz e de milho não tem esse efeito. Gliadina proteína monomérica que dá expansibilidade ao glúten, insolúvel em água, solúvel em solução alcoólica. FATORES GENÉTICOS: embora o espru celíaco evidente e a doença latente sejam frequentes entre parentes, não se estabeleceu um padrão genético definido de herança. Cerca de 90% dos pacientes com doença celíaca possuem o antígeno de histocompatibilidade classe I (antígenos leucocitários humanos B8 – HLA-B8). Estes antígenos ocorrem em cerca de 20% da população adulta e são frequentes em outras doenças associadas a uma resposta imune alterada. FATORES IMUNOLÓGICOS: a lesão intestinal na doença celíaca é caracterizada por lesão das células epiteliais e um aumento no número de linfócitos T no epitélio e de plasmócitos na lâmina própria. Alguns pacientes com doença celíaca apresentam evidência sorológica de contato com um vírus (adenovírus) que infecta o trato gastrointestinal humano. Esse vírus teria uma região homóloga (sequência de aminoácidos) semelhante à da gliadina. Anticorpos anti-gliadina também são encontrados em quase todos os pacientes com doença celíaca. Entretanto, é provável que estes anticorpos resultem do aumento da permeabilidade da mucosa lesada, e seu papel na patogenia da doença ainda não foi estabelecido. ASSOCIAÇÃO COM DERMATITE HERPETIFORME: algumas vezes a doença celíaca está associada com dermatite herpetiforme, uma doença cutânea vesicular que afeta principalmente as superfícies extensoras e as partes expostas do corpo. Provável causas da doença celíaca 9 O tratamento com dieta rigorosa isenta de glúten é seguido por melhora dos sintomas gastrointestinais e das lesões cutâneas. A MÁ ABSORÇÃO NA DOENÇA CELÍACA RESULTA DOS SEGUINTES FATORES: redução da área superficial da mucosa intestinal (diminuição de vilosidades e microvilosidades) e comprometimento do metabolismo intracelular nas células epiteliais lesadas. Um provável fator agravante é a deficiência de dissacaridase secundária, relacionada com lesão das microvilosidades. PATOLOGIA: MARSH a característica da doença celíaca é uma mucosa plana no ID com: Diminuição ou total desaparecimento das vilosidades Células epiteliais lesadas na superfície mucosa com inúmeros linfócitos intraepiteliais (células T) Aumento do número de plasmócitos na lâmina própria, mas não nas camadas profundas Proliferação epitelial reativa acentuada nas criptas MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: caracteriza-se por má absorção generalizada. As crianças geralmente param de se desenvolver logo após a introdução de cereais na dieta. Muitas vezes não há sinais de má absorção evidentes, e só se suspeita da doença devido ao retardo do crescimento. Às vezes os sinais de má absorção manifestam-se em crianças maiores, na adolescência ou no adulto. Em alguns casos as complicações tardias incluem jejunite ulcerativa, linfoma de células T do ID. O tratamento com dieta rigorosa sem glúten geralmente é seguido por remissão completa dos sinais e sintomas. Alguns pacientes necessitam de corticosteróides. NEOPLASIAS O intestino delgado é curiosamente resistente à neoplasia, apesar de ser a porção mais longa do trato alimentar. BENIGNAS: epiteliais (adenomas), não-epiteliais (leiomiomas, lipomas). MALIGNAS: epiteliais (adenocarcinoma- fator de risco doença intestinal inflamatória Crohn), não-epiteliais (linfomas, leiomiossarcoma), tumores carcinóides. Os tumores malignos mais comuns do ID são metastáticos.
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