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Auditoria: Normas e Controle Interno Auditoria: Normas e Controle Interno Organizado pela Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2016 Williams Meirelles Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-252-7 Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza Revisão: Ane Sefrin Arduim Esta disciplina do curso de Ciências Contábeis tem por objeto de estudo a compreensão das normas e os conceitos teóricos para o desempenho da atividade de auditoria contábil, indispensáveis à formação profissional do auditor. O objetivo proposto para o estudo desta disciplina é o estudo das nor- mas profissionais e técnicas de auditoria, que no Brasil são emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, denominadas NBC PAs e NBC TAs. Quanto à estrutura deste livro, ela é formatada por dez capítulos. Em cada capítulo é apresentada uma introdução, na qual se busca dar ao lei- tor um indicativo inicial do que é conceituado no desenvolvimento teórico. Ainda são subdivididos em tópicos e subtópicos para que se tenha conheci- mento mais profundo de alguns conteúdos relevantes para o entendimento da atividade de auditoria. Após o desenvolvimento dos conceitos teóricos, também é apresentado um resumo de cada capítulo, titulado como recapi- tulando, no intuito de que se tenha uma síntese geral. Por fim, são elenca- das as referências e obras consultadas, as quais serviram de aporte teórico com a visão dos autores que discutem a atividade de auditoria, bem como Leis e Normas pertinentes a essa atividade. Ao final, ainda são apresen- tadas atividades que devem ser resolvidas com o propósito da fixação do conhecimento adquirido. Recomenda-se que os/as alunos/as não se limitem ao material didáti- co apresentado, mas que se despertem para a busca de leituras adjacentes que ampliem a bagagem teórica, que é relevante e necessária à prática da profissão da contabilidade e auditoria. Apresentação 1 Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria ..............................1 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças ...............17 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria .............42 4 Normas de Auditoria ..........................................................59 5 Planejamento de Auditoria ..................................................79 6 Controles Internos ..............................................................96 7 Amostragem em Auditoria ................................................120 8 Procedimentos e Evidências de Auditoria ...........................141 9 Documentação de Auditoria ..............................................160 10 Opinião do Auditor ...........................................................178 Sumário Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria1 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente é professor dos cursos de Ciências Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA presencial e EAD e funcionário público da Petrobras. Williams Meirelles1 Capítulo 1 2 Auditoria: Normas e Controle Interno Introdução Para atingir suas finalidades, a Contabilidade se utiliza de qua- tro técnicas, que são as seguintes:  Escrituração (registro dos fenômenos patrimoniais);  Demonstrações (balanços e outras demonstrações);  Auditoria;  Análise de balanços. Assim, podemos concluir que a Auditoria tem a natureza de técnica contábil utilizada pela Contabilidade para atingir seus objetivos, sendo a Auditoria Contábil a técnica contábil cujo objetivo é emitir uma opinião sobre as demonstrações contá- beis (também denominadas financeiras). Neste primeiro capítulo, estudaremos o conceito de audito- ria, os tipos de auditoria existentes e seus respectivos objetivos. 1 Conceituação A tarefa de conceituar auditoria não é das mais fáceis, princi- palmente pela possibilidade de aplicação da técnica em qual- quer ramo do conhecimento humano. Etimologicamente, a palavra auditoria se origina do Latim audire (ouvir). Inicialmente foi utilizada pelos ingleses (audi- ting) para significar o conjunto de procedimentos técnicos para Capítulo 1 Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria 3 a revisão da contabilidade. Atualmente, possui sentido mais abrangente. No sentido lato, auditoria é o processo de confrontação entre uma situação encontrada e um determinado critério, ou, em outras palavras, é a comparação entre o fato ocorrido e o que deveria ocorrer. Pode-se afirmar também que, nessa acep- ção, auditoria significa um conjunto de procedimentos técni- cos aplicados de forma independente sobre uma relação que envolve a obrigação de responder por uma responsabilidade conferida, objetivando emitir um informe de como essa obri- gação está sendo cumprida. Figura 1 Conceito de auditoria. Fonte: o Autor. Segundo a Organização Internacional das Entidades Fisca- lizadoras Superiores – INTOSAI,2 a auditoria “é o exame das operações, atividades e sistemas de determinada entidade, com vistas a verificar se são executados ou funcionam em con- 2 A Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores – INTOSAI é um organismo apolítico que objetiva o intercâmbio de ideias sobre as melhores práticas de fiscalização, filiado à Organização das Nações Unidas – ONU, com sede em Viena, Áustria, que tem por finalidade fomentar intercâmbios de ideais e experiências entre as instituições superiores de controle das finanças públicas. 4 Auditoria: Normas e Controle Interno formidade com determinados objetivos, orçamentos, regras e normas”. A IFAC3 conceituou auditoria da seguinte maneira: “Audi- toria é uma verificação ou exame feito por um auditor dos do- cumentos de prestação de contas com o objetivo de habilitá-lo a expressar uma opinião sobre os referidos documentos de modo a dar aos mesmos a maior credibilidade”. Considerando a natureza geral desses conceitos e incorpo- rando alguns outros, sintetiza-se o seguinte conceito geral de auditoria: Auditoria é o processo sistemático, documentado e inde- pendente de se avaliar objetivamente uma situação ou condição para determinar a extensão na qual critérios são atendidos, obter evidências quanto a esse atendi- mento e relatar os resultados dessa avaliação a um des- tinatário predeterminado. Agora vamos desmembrar esse conceito para uma melhor compreensão: Processo sistemático: a auditoria é um processo de traba- lho planejado e metódico, pautado em avaliações e finalizado com a comunicação de seus resultados. Processo documentado: o processo de auditoria deve ser fundado em documentos e padronizado por meio de proce- 3 Federação Internacional dos Contadores – IFAC é uma organização mundial, sem fins lucrativos, sediada em New York (EUA). Representa a profissão contábil com participação de 124 países membros e mais de 2,5 Milhões de contadores. Capítulo 1 Conceitos,Objetivos e Tipos de Auditoria 5 dimentos específicos, de modo a assegurar a sua revisão e a manutenção das evidências obtidas. Isso implica que a enti- dade de auditoria deve formalizar um método para executar suas auditorias, estabelecendo os padrões que elas deverão observar, incluindo regras claras quanto à documentação. Processo independente: a auditoria deve ser realizada por pessoas com independência em relação às organizações, aos programas, aos processos, às atividades, aos sistemas e aos objetos examinados para assegurar a objetividade e a impar- cialidade dos julgamentos. Avaliação objetiva: os fatos devem ser avaliados com a mente livre de vieses. A avaliação objetiva leva a julgamentos imparciais, estritamente adequados às circunstâncias, precisos e refletem na confiança do trabalho do auditor. Situação encontrada: o estado ou a situação existente do objeto da auditoria, encontrado pelo auditor durante a execu- ção do trabalho de auditoria. Critério: referencial a partir do qual o auditor faz seus jul- gamentos em relação à situação ou condição existente. Reflete como deveria ser a gestão. A eventual discrepância entre a situação existente e o critério originará o achado de auditoria. Evidências: elementos de comprovação da discrepância (ou não) entre a situação ou condição encontrada e o critério de auditoria. Relato de resultados: os resultados de uma avaliação de auditoria são relatados a um destinatário predeterminado, que normalmente não seja a parte responsável, por meio de um 6 Auditoria: Normas e Controle Interno relatório, instrumento formal e técnico no qual o auditor co- munica o objetivo, o escopo, a extensão e as limitações do trabalho, os achados de auditoria, as avaliações, opiniões e conclusões, conforme o caso, e encaminha suas propostas. Já em um sentido estrito, a auditoria se restringe apenas aos universos contábil e financeiro. Surge daí o conceito de Auditoria Contábil, que objetiva, após aplicação de procedi- mentos específicos com base em normas profissionais e de forma independente, a emissão de opinião sobre a adequação das demonstrações contábeis.³ Para Willian Attie (2010) a Auditoria é uma especialização contábil voltado a testar a eficiência e eficácia do controle pa- trimonial implantado com o objetivo de expressar uma opinião sobre determinado dado. Já Franco e Marra (2011) definem a auditoria como a téc- nica contábil que através de procedimentos específicos que lhe são peculiares, aplicados no exame de registros e documen- tos, inspeções, e na obtenção de informações e confirmações, relacionados com o controle de uma entidade. Objetiva obter elementos de convicção que permitam julgar se os registros contábeis foram efetuados de acordo com os princípios fun- damentais e normas da contabilidade e se as demonstrações contábeis deles decorrentes refletem adequadamente a situ- ação econômica financeira do patrimônio, os resultados do período administrativo examinado e as demais situações nelas demonstradas. Vale ressaltar, também, o conceito de Crepaldi (2013), que ensina: a auditoria das demonstrações contábeis constitui o Capítulo 1 Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria 7 conjunto de procedimentos técnicos que tem por objetivo a emissão de parecer sobre sua adequação, consoante os Princí- pios Fundamentais de Contabilidade e pertinente à legislação específica. 2 Obrigatoriedade A auditoria contábil é aplicada às companhias abertas, socie- dades e empresas que integram o sistema de distribuição de valores mobiliários, conforme art. 26 da Lei 6.385/76. Tam- bém terão suas demonstrações4 auditadas regularmente as ins- tituições financeiras, seguradoras, fundos de pensão e empre- sas de grande porte, que foram definidas pela Lei 11.638/07 como aquelas que: Faturarem mais que R$ 300 milhões por ano; Possuírem ativos superiores a R$ 240 milhões. Já na área pública, a CF/88 determina em seus art. 70 a 75 que a fiscalização contábil, orçamentária, financeira, ope- racional e patrimonial será exercida pelo Congresso Nacional, 4 No Brasil, as demonstrações contábeis são definidas por lei. No âmbito das sociedades anônimas, a Lei n.º 6.404/76 no seu artigo 176, estabelece os seguin- tes demonstrativos: Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados, opcionalmente substituída pela Demonstração das Mutações no Patrimônio Líquido, Demonstração dos Fluxos de Caixa e, para as companhias abertas, a Demonstração do Valor Adicionado. No setor público, a Lei n.º 4.320/64, definiu os seguintes modelos: Balanço Orça- mentário, Balanço Financeiro, Balanço Patrimonial e Demonstração das Variações Patrimoniais. 8 Auditoria: Normas e Controle Interno mediante controle externo (tribunais de conta), e também pelo sistema de controles interno de cada poder (vale para adminis- tração direta e indireta). 3 Tipos de Auditoria e seus Objetivos Baseado nas definições conceituais de auditoria, podemos classificá-la nos seguintes tipos: Auditoria Contábil: objetiva obter elementos comprobató- rios suficientes que permitam opinar se os registros contábeis foram efetuados de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade e se as demonstrações contábeis refletem, ade- quadamente, a situação econômico-financeira do patrimônio. Conforme a NBC TA 200, o objetivo da auditoria é aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por parte dos usuários. Isso é alcançado mediante a expressão de uma opinião pelo auditor sobre se as demonstrações contábeis fo- ram elaboradas, em todos os aspectos relevantes, em confor- midade com uma estrutura de relatório financeiro aplicável. Auditoria de Gestão: objetiva emitir opinião com vistas a certificar a regularidade das contas, verificar a execução de contratos, convênios, acordos ou ajustes, a probidade na apli- cação dos dinheiros públicos e guarda ou administração de valores e outros bens da União ou a ela confiados. Auditoria de Programas: objetiva acompanhar, examinar e avaliar a execução de programas e projetos governamentais Capítulo 1 Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria 9 específicos, bem como a aplicação de recursos descentraliza- dos. Auditoria Operacional: consiste em avaliar as ações ge- renciais e os procedimentos relacionados ao processo opera- cional, procurando auxiliar a administração na gerência e nos resultados, por meio de recomendações que visem aprimorar procedimentos. Auditoria de Sistemas: objetiva assegurar a adequação, a privacidade dos dados e informações oriundas dos sistemas eletrônicos de processamento de dados. Auditoria Especial: objetiva o exame de fatos ou situações consideradas relevantes, de natureza incomum ou extraordiná- rias, sendo realizadas para atender a determinação de autori- dade competente. Auditoria da Qualidade: tem por objetivo permitir a forma- ção de uma opinião mais concreta sobre o desempenho ge- rencial dos administradores públicos, servindo como estímulo a adoção de uma cultura gerencial voltada para o atingimento de resultados dentro dos princípios da qualidade, identificando os pontos fortes e fracos da organização. Auditoria Tributária: objetiva o exame e avaliação de pla- nejamento tributário e a eficiência dos procedimentos e con- troles adotados para a operação, pagamento e recuperação de impostos, taxas e quaisquer outros ônus de natureza fisco- -tributária que incidam nas operações, bens e documentos da empresa. 10 Auditoria: Normas e Controle Interno 4 Trabalhos de Asseguração A NBC TA 01 – estrutura conceitual para trabalhos de assegu- ração – define esse tipo de trabalho como sendo um trabalho no qual o auditor independente expressa uma conclusão com a finalidade de aumentar o grau deconfiança dos outros usuários previstos, que não seja a parte responsável, acerca do resultado da avaliação ou mensuração de determinado objeto de acordo com os critérios aplicáveis. Portanto, importante saber que os trabalhos de assegura- ção envolvem três partes distintas: O auditor independente; A parte responsável (área objeto da asseguração); Os usuários (pessoas a quem o auditor submete o relatório de asseguração). Além disso, também devemos compreender as diferenças entre os dois tipos de trabalhos de asseguração cuja execução é permitida ao auditor independente, a saber, trabalho de as- seguração razoável e trabalho de asseguração limitada. Capítulo 1 Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria 11 Figura 2 Tipos de Asseguração e seus objetivos. Fonte: Fontenelle (2013, p. 21). Dessa forma, em relação aos trabalhos de asseguração, estaremos interessados no de asseguração razoável, visto que nosso objeto de estudo é a Auditoria. Desse item, além do que já foi falado, temos de entender que Auditoria é espécie do gê- nero Asseguração. Além disso, é necessário lembrar que o au- ditor independente não faz apenas trabalhos de asseguração, mas também trabalhos que não se encaixam nesse conceito, como serviços de consultoria, por exemplo. Recapitulando Neste capítulo, estudamos os conceitos de reconhecidos auto- res sobre auditoria começando pelo conceito mais básico, que consiste no confronto de uma situação encontrada com uma 12 Auditoria: Normas e Controle Interno determinada condição, entrando em conceitos mais técnicos referentes à auditoria contábil, que será o foco do nosso estu- do daqui para frente. Também abordamos a questão de quais entidades são obrigadas a terem suas informações financeiras auditadas e elencamos alguns dos tipos de auditoria mais citados nas lite- raturas. Por fim, aprendemos as diferenças entre os trabalhos consi- derados como de asseguração e asseguração limitada. Referências ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil – Teoria e Prática. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2013. FRANCO, Hilário; MARRA, Ernesto. Auditoria contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. FONTENELLE, Rodrigo; BRITO Claudenir. Auditoria Privada e Governamental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. http://www.intosai.org/ Acesso em 21 de maio 2016> https://www.ifac.org/ Acesso em 21 de maio 2016> Capítulo 1 Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria 13 Atividades 1) A auditoria é: a) Uma ciência b) Uma técnica contábil c) Um conjunto de pessoas d) Um conjunto de procedimentos na busca de fraudes e) Um trabalho 2) A auditoria consiste no levantamento, exame e avaliação de procedimentos, operações, rotinas e demonstrações contábeis de uma entidade. A partir da compreensão con- ceitual, é correto dizer que o objeto do trabalho de audito- ria se circunscreve: a) Fatos não registrados documentalmente b) Ao conjunto de elementos de controle do patrimônio administrado c) Aos papéis de trabalho d) Aos registros contábeis e) ao relatório com a opinião de auditor 3) Assinale a alternativa correta: a) No sentido lato, auditoria significa um conjunto de pro- cedimentos técnicos aplicados sobre uma obrigação de responder por uma responsabilidade conferida, objeti- 14 Auditoria: Normas e Controle Interno vando emitir uma opinião de como essa obrigação está sendo cumprida. b) No sentido stricto, a auditoria se confunde com a audi- toria contábil ou financeira, que objetiva, após aplica- ção de procedimentos auditoriais, a emissão de opinião sobre a adequação das demonstrações contábeis ou financeiras, ou seja, se essas representam apropriada- mente a situação financeira e patrimonial, o resultado das operações, as mutações no patrimônio e as fontes e aplicações de recursos de uma organização. c) “A auditoria independentemente das demonstrações contábeis, constitui o conjunto de procedimentos técni- cos que têm por objetivo a emissão de parecer sobre a adequação com que estas representam a posição patri- monial e financeira, o resultado das operações, as mu- tações do patrimônio líquido e as origens e aplicações de recursos da entidade auditada, consoante as Normas Brasileiras de Contabilidade e a legislação específica, no que for pertinente”. d) A, B e C estão corretas. e) NRA. 4) Relacione os tipos de auditoria apresentados na Coluna 1 com as suas funções descritas na Coluna 2. Coluna 1 I. Auditoria Independente. II. Auditoria de monitoramento do controle interno. Capítulo 1 Conceitos, Objetivos e Tipos de Auditoria 15 III. Auditoria de sistemas. IV. Auditoria de atividades operacionais. V. Auditoria de gestão de riscos. Coluna 2 ( ) Ajudar a organização mediante a identificação e ava- liação das exposições significativas a riscos e ajudar na contribuição para a melhoria da gestão de risco e dos sistemas de controles. ( ) É responsável por revisar a economia, eficiência e efi- cácia das atividades operacionais, incluindo as ativi- dades não financeiras de uma entidade. ( ) Revisar os controles, monitorar sua operação e fornecer recomendações de melhoria em relação aos mesmos. ( ) Emitir uma opinião sobre o conjunto completo de de- monstrações contábeis mediante a aplicação de testes detalhados de transações, saldos e procedimentos. ( ) Gerenciar o risco operacional envolvido e avaliar a adequação das tecnologias e sistemas de informação utilizados na organização através da revisão e avalia- ção dos controles, desenvolvimento de sistemas, in- fraestrutura, operação, desempenho e segurança que envolve o processamento de informações críticas para a tomada de decisão. A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: 16 Auditoria: Normas e Controle Interno a) 1 – 2 – 3 – 4 – 5 b) 5 – 4 – 2 – 1 – 3 c) 4 – 2 – 3 – 5 – 1 d) 5 – 2 – 4 – 3 – 1 e) 4 – 5 – 2 – 1 – 3 5) De acordo com a estrutura conceitual de trabalhos de as- seguração, são elementos que necessariamente devem es- tar presentes em um trabalho de asseguração executado por um auditor independente, exceto: a) Relacionamento entre duas partes. b) Objeto apropriado. c) Critérios adequados. d) Evidências apropriadas e suficientes. e) Relatório de asseguração escrito de forma apropriada. Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças1 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente é professor dos cursos de Ciências Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA presencial e EAD e funcionário público da Petrobras. Williams Meirelles1 Capítulo 2 18 Auditoria: Normas e Controle Interno Introdução A auditoria interna foi criada e desenvolvida em consequên- cia do reconhecimento dos administradores em geral quanto aos benefícios de um bom controle interno diante da crescente complexidade dos sistemas operacionais das grandes empre- sas. A auditoria interna seria, portanto, uma forma de controle sobre todos os outros controles internos de uma empresa. A auditoria interna surgiu depois da auditoria independen- te. Os problemas de controle que o administrador encontrou com a expansão das empresas, que passaram a empregar milhares de pessoas e a funcionar em diversas localidades, exigiram o aparecimento do auditorinterno. O crescimento no volume de transações tornou-se um obstáculo econômico para o emprego exclusivo da auditoria independente na forma tradicional. No presente capítulo, iremos estudar as atribuições do au- ditor interno e diferenciar seu trabalho do auditor externo. 1 Auditoria Interna A norma que disciplina a atividade de auditoria interna no Brasil é a Resolução CFC n.º 1.329/11 que alterou a sigla e a numeração da norma de auditoria interna de NBC T 12 para NBC TI 01. Essa norma assim conceitua auditoria interna: Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 19 A Auditoria Interna Compreende os exames, análises, ava- liações, levantamentos e comprovações, metodologicamente estruturados para a avaliação da integridade, adequação, efi- cácia, eficiência e economicidade dos processos, dos sistemas de informações e de controles internos integrados ao ambiente e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à adminis- tração da entidade no cumprimento de seus objetivos. A auditoria interna é uma atividade de avaliação indepen- dente dentro da empresa, que se destina a revisar as opera- ções como um serviço prestado à administração. Constitui um controle gerencial que funciona por meio da análise e ava- liação da eficiência de outros controles. É executada por um profissional ligado à empresa ou por uma seção própria para tal fim, sempre em linha de dependência da direção empresa- rial. O auditor interno é pessoa de confiança dos dirigentes; está vinculado à empresa por contrato trabalhista continuado e sua intervenção é permanente. Sua área de atuação envol- ve todas as atividades da empresa; predominam a verificação constante dos controles internos, a manipulação de valores e a execução de rotinas administrativas. O objetivo da auditoria interna é auxiliar todos os membros da administração no desempenho efetivo de suas funções e responsabilidades, fornecendo-lhes análises, apreciações, re- comendações e comentários pertinentes às atividades exami- nadas. O auditor interno interessa-se por qualquer fase das ativi- dades do negócio em que possa ser útil a administração. Isso pressupõe sua incursão em campos além dos de contabilidade 20 Auditoria: Normas e Controle Interno e finanças, a fim de obter uma visão completa das operações submetidas a exame. Testa a qualidade dos trabalhos, revisa, recomenda; enfim, assiste a administração e lhe fornece infor- mações periódicas principalmente no que tange:  A aplicabilidade e adequação de controles internos, fi- nanceiros e operacionais; revisando e avaliando a cor- reção, adequando e aplicando os controles contábeis, financeiros e outros de natureza operacional, propician- do controles eficazes a um custo razoável;  A extensão do cumprimento das diretrizes, planos e pro- cedimentos; determinando o grau de atendimento;  A salvaguarda dos ativos quanto à escrituração, guar- da e perdas de todas as espécies; determinando o grau de controle dos ativos da empresa quanto à proteção e quanto à perdas de qualquer tipo;  A avaliação da qualidade e desempenho na execução das responsabilidades delegadas determinando a fideli- dade dos dados administrativos originados na empresa;  A recomendação de melhorias operacionais. Observa-se que a auditoria interna presta ajuda à adminis- tração, com vistas à possibilidade de eliminar inconvenientes ao desempenho da gestão. Por ser empregado da empresa, o auditor interno perde sua independência profissional. Pode ser muito zeloso e cum- prir a ética, mas é evidente sua demasiada submissão aos ad- ministradores. Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 21 As responsabilidades da auditoria interna, na organização, devem ser claramente determinadas pelas políticas da empre- sa. A autoridade correspondente deve propiciar ao auditor in- terno livre acesso a todos os registros, propriedades e pessoal da empresa que possam vir a ter importância para o assunto em exame. O auditor interno deve sentir-se à vontade para revisar e avaliar diretrizes, planos, procedimentos e registros. As responsabilidades do auditor interno devem ser:  Informar e assessorar a administração e desincumbir-se das responsabilidades de maneira condizente com o có- digo de ética do instituto dos auditores internos;  Coordenar suas atividades com a de outros de modo a atingir com mais facilidade os objetivos da auditoria em benefício das atividades da empresa. No desempenho de suas funções, um auditor interno não tem responsabilidade direta nem autoridade sobre as ativida- des que examina. Portanto, as revisões e avaliações feitas nun- ca eximem outras pessoas da empresa das responsabilidades que lhes cabem. A independência é essencial para a eficiência da auditoria interna. Esta independência se obtém, primordialmente, por meio do posicionamento da estrutura organizacional e da ob- jetividade:  O posicionamento da função de auditoria interna na estrutura organizacional e o apoio dado a esta função pela administração são os principais determinantes de sua amplitude e valor. O responsável pela atividade de 22 Auditoria: Normas e Controle Interno auditoria interna deve, portanto, reportar-se a um exe- cutivo cuja autoridade seja suficiente, para assegurar uma ação efetiva, com respeito aos assuntos levantados e recomendações efetuadas.  A objetividade é essencial à função de auditoria. Um au- ditor interno não deve, portanto, desenvolver e implan- tar procedimentos, preparar registro ou envolver-se em qualquer outra atividade que poderá vir normalmente a examinar e analisar, e que venha a constituir empecilho à manutenção de sua independência. Sua objetividade não é, entretanto, afetada pelas determinações e reco- mendações de padrões de controle que venha a fazer, para a aplicação no desenvolvimento de sistemas e pro- cedimentos por ele revistos. Um dos principais objetivos do auditor interno é examinar a integridade, a adequação e a eficácia dos controles internos. Para o fornecimento de evidências as conclusões e recomen- dações da auditoria interna, as informações devem ser sufi- cientes, adequadas, relevantes e úteis. A principal finalidade do trabalho é avaliar a qualidade e aderência às normas da empresa no que se refere aos pro- cedimentos operacionais e controles internos exercidos pela empresa. A auditoria interna como um controle gerencial, que funciona medindo e avaliando a eficiência dos outros contro- les existentes, permite fornecer assistência e aconselhamento a todos os níveis da empresa, o que é praticado por intermédio de programas de treinamento. Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 23 1.1 Normas de Auditoria Interna Existentes As normas emitidas pelo CFC que disciplinam a atividade de auditoria interna são: NBC TI 01 – Auditoria Interna e NBC PI 01 – Normas Profissionais do Auditor Interno. Vamos estudá- -las: 1.1.1 NBC TI 01 – Auditoria Interna  Conceituação e Objetivos da Auditoria Interna Essa norma trata da atividade e dos procedimentos de Au- ditoria Interna Contábil, doravante denominada Auditoria In- terna. A Auditoria Interna é exercida nas pessoas jurídicas de di- reito público, interno ou externo, e de direito privado. A Auditoria Interna compreende os exames, análises, ava- liações, levantamentos e comprovações, metodologicamente estruturados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia, eficiência e economicidade dos processos, dos sis- temas de informações e de controles internos integrados ao ambiente, e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no cumprimento de seus objetivos. A atividade da Auditoria Interna está estruturada em pro- cedimentos, com enfoque técnico, objetivo,sistemático e dis- ciplinado, e tem por finalidade agregar valor ao resultado da organização, apresentando subsídios para o aperfeiçoamento dos processos, da gestão e dos controles internos, por meio da recomendação de soluções para as não conformidades apon- tadas nos relatórios. 24 Auditoria: Normas e Controle Interno  Papéis de Trabalho A Auditoria Interna deve ser documentada por meio de pa- péis de trabalho, elaborados em meio físico ou eletrônico, que devem ser organizados e arquivados de forma sistemática e racional. Os papéis de trabalho constituem documentos e registros dos fatos, informações e provas obtidos no curso da auditoria a fim de evidenciar os exames realizados e dar suporte à sua opinião, críticas, sugestões e recomendações. Os papéis de trabalho devem ter abrangência e grau de detalhes suficientes para propiciarem a compreensão do pla- nejamento, da natureza, da oportunidade e da extensão dos procedimentos de Auditoria Interna aplicados, bem como do julgamento exercido e do suporte das conclusões alcançadas. Análises, demonstrações ou quaisquer outros documentos devem ter sua integridade verificada sempre que forem anexa- dos aos papéis de trabalho.  Fraude e Erro A Auditoria Interna deve assessorar a administração da en- tidade no trabalho de prevenção de fraudes e erros, obrigan- do-se a informá-la, sempre por escrito, de maneira reservada, sobre quaisquer indícios ou confirmações de irregularidades detectadas no decorrer de seu trabalho. O termo “fraude” aplica-se a ato intencional de omissão e/ou manipulação de transações e operações, adulteração de Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 25 documentos, registros, relatórios, informações e demonstra- ções contábeis, tanto em termos físicos quanto monetários. O termo “erro” aplica-se a ato não intencional de omissão, desatenção, desconhecimento ou má interpretação de fatos na elaboração de registros, informações e demonstrações contá- beis, bem como de transações e operações da entidade, tanto em termos físicos quanto monetários.  Planejamento da Auditoria Interna O planejamento do trabalho da Auditoria Interna compre- ende os exames preliminares das áreas, atividades, produtos e processos para definir a amplitude e a época do trabalho a ser realizado, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela administração da entidade. O planejamento deve considerar os fatores relevantes na execução dos trabalhos, especialmente os seguintes: a) O conhecimento detalhado da política e dos instru- mentos de gestão de riscos da entidade; b) O conhecimento detalhado das atividades operacio- nais e dos sistemas contábil e de controles internos e seu grau de confiabilidade da entidade; c) A natureza, a oportunidade e a extensão dos procedi- mentos de auditoria interna a serem aplicados, alinha- dos com a política de gestão de riscos da entidade; d) A existência de entidades associadas, filiais e partes relacionadas que estejam no âmbito dos trabalhos da Auditoria Interna; 26 Auditoria: Normas e Controle Interno e) o uso do trabalho de especialistas; f) os riscos de auditoria, quer pelo volume ou pela com- plexidade das transações e operações; g) o conhecimento do resultado e das providências toma- das em relação a trabalhos anteriores, semelhantes ou relacionados; h) as orientações e as expectativas externadas pela admi- nistração aos auditores internos; e i) o conhecimento da missão e objetivos estratégicos da entidade. O planejamento deve ser documentado e os programas de trabalho formalmente preparados, detalhando-se o que for necessário à compreensão dos procedimentos que serão apli- cados, em termos de natureza, oportunidade, extensão, equi- pe técnica e uso de especialistas. Os programas de trabalho devem ser estruturados de for- ma a servir como guia e meio de controle de execução do trabalho, devendo ser revisados e atualizados sempre que as circunstâncias o exigirem.  Riscos da Auditoria Interna A análise dos riscos da Auditoria Interna deve ser feita na fase de planejamento dos trabalhos; estão relacionados à pos- sibilidade de não se atingir, de forma satisfatória, o objetivo dos trabalhos. Nesse sentido, devem ser considerados, princi- palmente, os seguintes aspectos: Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 27 a) A verificação e a comunicação de eventuais limitações ao alcance dos procedimentos da Auditoria Interna, a serem aplicados, considerando o volume ou a com- plexidade das transações e das operações; b) A extensão da responsabilidade do auditor interno no uso dos trabalhos de especialistas.  Procedimentos da Auditoria Interna Os procedimentos da Auditoria Interna constituem exames e investigações, incluindo testes de observância e testes subs- tantivos, que permitem ao auditor interno obter subsídios sufi- cientes para fundamentar suas conclusões e recomendações à administração da entidade. Os testes de observância visam à obtenção de razoável segurança de que os controles internos estabelecidos pela ad- ministração estão em efetivo funcionamento, inclusive quanto ao seu cumprimento pelos funcionários e administradores da entidade. Na sua aplicação, devem ser considerados os se- guintes procedimentos: a) Inspeção – verificação de registros, documentos e ati- vos tangíveis; b) Observação – acompanhamento de processo ou pro- cedimento quando de sua execução; e c) Investigação e confirmação – obtenção de informa- ções perante pessoas físicas ou jurídicas conhecedoras das transações e das operações, dentro ou fora da entidade. 28 Auditoria: Normas e Controle Interno Os testes substantivos visam à obtenção de evidência quan- to à suficiência, exatidão e validade dos dados produzidos pe- los sistemas de informação da entidade. As informações que fundamentam os resultados da Audito- ria Interna são denominadas de “evidências”, que devem ser suficientes, fidedignas, relevantes e úteis, de modo a fornecer base sólida para as conclusões e recomendações à adminis- tração da entidade. O processo de obtenção e avaliação das informações compreende: I – A obtenção de informações sobre os assuntos relacio- nados aos objetivos e ao alcance da Auditoria Interna, devendo ser observado que: a) A informação suficiente é aquela que é factual e con- vincente, de tal forma que uma pessoa prudente e informada possa entendê-la da mesma forma que o auditor interno; b) A informação adequada é aquela que, sendo confiá- vel, propicia a melhor evidência alcançável, por meio do uso apropriado das técnicas de Auditoria Interna; c) A informação relevante é a que dá suporte às conclu- sões e às recomendações da Auditoria Interna; d) A informação útil é a que auxilia a entidade a atingir suas metas. II – A avaliação da efetividade das informações obtidas, mediante a aplicação de procedimentos da Auditoria Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 29 Interna, incluindo testes substantivos, se as circunstân- cias assim o exigirem. O processo deve ser supervisionado para alcançar razo- ável segurança de que o objetivo do trabalho da Auditoria Interna está sendo atingido. Devem ser adotados procedimentos adequados para as- segurar que as contingências ativas e passivas relevantes de- correntes de processos judiciais e extrajudiciais, reivindicações e reclamações, bem como de lançamentos de tributos e de contribuições em disputa, foram identificadas e são do conhe- cimento da administração da entidade. No trabalho da Auditoria Interna, quando aplicável, deve ser examinada a observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade, das Normas Brasileiras de Contabilidade e da legislação tributária, trabalhista e societária, bem comoo cumprimento das normas reguladoras a que estiver sujeita a entidade.  Amostragem Ao determinar a extensão de um teste de auditoria ou um método de seleção de itens a serem testados, podem ser em- pregadas técnicas de amostragem. Ao usar método de amostragem, estatística ou não, deve ser projetada e selecionada uma amostra que possa propor- cionar evidência de auditoria suficiente e apropriada.  Processamento Eletrônico de Dados – PED 30 Auditoria: Normas e Controle Interno A utilização de processamento eletrônico de dados pela entidade requer que exista, na equipe da Auditoria Interna, profissional com conhecimento suficiente sobre a tecnologia da informação e os sistemas de informação utilizados. O uso de técnicas de Auditoria Interna, que demandem o emprego de recursos tecnológicos de processamento de in- formações, requer que exista na equipe da Auditoria Interna profissional com conhecimento suficiente de forma a imple- mentar os próprios procedimentos ou, se for o caso, orientar, supervisionar e revisar os trabalhos de especialistas.  Relatório O relatório é o documento pelo qual a Auditoria Interna apresenta o resultado dos seus trabalhos, devendo ser redigi- do com objetividade e imparcialidade, de forma a expressar, claramente, suas conclusões, recomendações e providências a serem tomadas pela administração da entidade. O relatório da Auditoria Interna deve abordar, no mínimo, os seguintes aspectos: a) O objetivo e a extensão dos trabalhos; b) A metodologia adotada; c) Os principais procedimentos de auditoria aplicados e sua extensão; d) Eventuais limitações ao alcance dos procedimentos de auditoria; Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 31 e) A descrição dos fatos constatados e as evidências en- contradas; f) Os riscos associados aos fatos constatados; e g) As conclusões e as recomendações resultantes dos fatos constatados. O relatório da Auditoria Interna deve ser apresentado a quem tenha solicitado o trabalho ou a quem este autorizar, devendo ser preservada a confidencialidade do seu conteúdo. A Auditoria Interna deve avaliar a necessidade de emissão de relatório parcial, na hipótese de constatar improprieda- des/irregularidades/ ilegalidades que necessitem providências imediatas da administração da entidade, e que não possam aguardar o final dos exames. 1.1.2 NBC PI 01 – Normas Profissionais do Auditor Interno  Competência Técnico-Profissional O Contador, na função de auditor interno, deve manter o seu nível de competência profissional pelo conhecimento atu- alizado das Normas Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis, especialmente na área de auditoria, da legislação inerente à profissão, dos conceitos e técnicas administrativas e da legislação aplicável à Entidade.  Autonomia Profissional 32 Auditoria: Normas e Controle Interno O auditor interno, não obstante sua posição funcional, deve preservar sua autonomia profissional.  Responsabilidade do Auditor Interno na Execução dos Trabalhos O auditor interno deve ter o máximo de cuidado, imparcia- lidade e zelo na realização dos trabalhos e na exposição das conclusões. A amplitude do trabalho do auditor interno e sua responsa- bilidade estão limitadas à sua área de atuação. A utilização da equipe técnica supõe razoável segurança de que o trabalho venha a ser executado por pessoas com ca- pacitação profissional e treinamento, requeridas nas circuns- tâncias. Cabe também ao auditor interno, quando solicitado, pres- tar assessoria ao Conselho Fiscal ou órgãos equivalentes.  Relacionamento com Profissionais de Outras Áreas O auditor interno pode realizar trabalhos de forma com- partilhada com profissionais de outras áreas, situação em que a equipe fará a divisão de tarefas, segundo a habilitação téc- nica e legal dos seus participantes.  Sigilo O auditor interno deve respeitar o sigilo relativamente às informações obtidas durante o seu trabalho, não as divulgan- do para terceiros, sob nenhuma circunstância, sem autoriza- ção expressa da Entidade em que atua. Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 33 O dever de manter o sigilo continua depois de terminado o vínculo empregatício ou contratual.  Cooperação com o Auditor Independente O auditor interno, quando previamente estabelecido com a administração da entidade em que atua, e no âmbito de pla- nejamento conjunto do trabalho a realizar, deve apresentar os seus papéis de trabalho ao auditor independente e entregar- -lhe cópias, quando este entender necessário. 2 Auditoria Externa Constitui o conjunto de procedimentos técnicos que tem por objetivo a emissão de um Relatório sobre a adequação com que estes representam à posição patrimonial e financeira, o resultado das operações, as mutações do patrimônio líquido, a demonstração dos fluxos de caixa e a demonstração do valor adicionado na entidade auditada, consoante as normas brasi- leiras de contabilidade. O objetivo da auditoria externa é o processo pelo qual o auditor se certifica de que as demonstrações financeiras re- presentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da empresa. Assim, o prin- cipal objetivo é emitir um relatório sobre as demonstrações contábeis de uma entidade, quanto à sua adequação conso- ante os princípios de contabilidade e as normas brasileiras de contabilidade. 34 Auditoria: Normas e Controle Interno A auditoria externa é executada por profissional indepen- dente, sem ligação com o quadro da empresa. Sua interven- ção é ajustada em contrato de prestação de serviços. Os tes- tes e indagações se espalham por onde haja necessidade de levantar questões elucidativas para a conclusão do trabalho ajustado. O auditor externo, pela relevância do seu trabalho perante o público, dada a credibilidade que se oferece ao mercado, se constitui numa figura ímpar que presta inestimáveis serviços ao acionista, aos banqueiros, aos órgãos do governo e ao públi- co em geral. Sua função visa à credibilidade das demonstra- ções contábeis examinadas dentro de parâmetros de normas de auditoria e princípios contábeis. Ciente de suas responsabilidades e consciência profissional, o auditor independente mantém uma atitude mental também independente, exerce seu trabalho com competência profis- sional e mantém seu grau de independência junto à empresa, objeto de exame, livre de qualquer interesse ou vantagens. Ao emitir o seu relatório sobre as demonstrações em exame, o seu julgamento e procedimento não se subordinam a injunções ou interesses da empresa. O sucesso do auditor independente num mercado alta- mente sofisticado se deve única e exclusivamente ao elevado grau de capacidade e especialização e sua independência no exercício de sua atividade. A responsabilidade do auditor independente sobre as de- monstrações contábeis é até o último dia de serviço da equipe em exemplo. Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 35 O auditor independente, na avaliação de um trabalho es- pecífico da auditoria interna com pretensão de sua utilização, deve considerar se o alcance do trabalho e seus programas correlatos são adequados, e se a avaliação preliminar da au- ditoria interna permanece apropriada. 3 Diferenças entre Auditoria Interna e Externa Mesmo que identificado o interesse comum no trabalho do auditor interno e externo, devemos salientar que existem dife- renças fundamentais, sendo as principais:  Extensão dos trabalhos: o escopo dos trabalhos feitos pelo auditor interno, normalmente é determinado pela gerência, enquanto a extensão do exame do auditor ex- terno é determinada pelas normas usuais reconhecidas no Brasil ou por legislações específicas; Direção: o auditor interno dirige seus trabalhos para assegurar que o sistema contábil e de controle interno funcionam eficientemente, a fim de que os dados con- tábeis fornecidos à gerência apresentem os fatos com exatidão. Os trabalhos do auditor externo, entretanto, são determinados por seu dever de fazer com que as demonstrações contábeis a serem apresentadas a ter- ceiros, como, por exemplo, a acionistas, investidores, fornecedores, à fiscalização, reflitam com propriedade a situação contábil de uma empresa em certa data. 36 Auditoria: Normas e Controle Interno  Responsabilidade: a responsabilidade do auditor interno é para com a gerência, ao passo que a responsabilidade do auditor externo geralmente é mais ampla. É evidente que o auditor interno, sendo funcionário da empresa, não tem a condição de total independência que possui o auditor externo.  Métodos: não obstante as diferenças apontadas, os trabalhos de ambos são efetuados em geral por méto- dos idênticos. O auditor interno segue mais rotinas de cunho interno, ou seja, observa o cumprimento rígido das normas internas, pois ele tem domínio da cultura da empresa, enquanto o auditor externo observa mais o cumprimento das normas associadas às leis de forma bem ampla, ele tem melhor domínio dos aspectos de interesse coletivo. Como exemplo, podemos citar:  Exame do sistema contábil e de controle interno, a fim de verificar o conceito dos princípios adotados e sua eficiência em operação;  Exame dos registros contábeis;  Verificação de ativos e passivos;  Observação, pesquisa, confronto de dados e uso de ou- tros processos técnicos de comprovação julgados neces- sários. Comparando-se os dois tipos de auditoria, podemos traçar as seguintes características marcantes: Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 37  Auditor externo é independente, contratado para deter- minada tarefa de auditoria, enquanto o auditor interno é empregado da empresa, sem independência;  As tarefas do auditor externo são delimitadas no con- trato, enquanto as tarefas do auditor interno são tão abrangentes quanto forem as operações da empresa;  A auditoria externa é eventual, enquanto a auditoria in- terna é contínua;  Processo utilizado por ambas é o analítico e as técnicas assemelham-se;  As bases em que se assentam os exames são as mes- mas: a escrituração, os documentos e os controles;  Os resultados assemelham-se. O que é distinção fundamental, entre os dois tipos, é o grau de independência de um contra a total dependência do outro. Enquanto o pressuposto básico do auditor externo é ser independente, na auditoria interna o ponto-chave é sua auto- nomia profissional, pois apesar de ter independência parcial, no momento de execução dos trabalhos o auditor interno deve possuir total autonomia. Recapitulando Neste capítulo, estudamos as diferenças entre a auditoria in- terna e externa, e as normas que disciplinam a atuação dos 38 Auditoria: Normas e Controle Interno auditores internos. Vamos recapitular as principais diferenças de ambas no quadro a seguir: Quadro 1 Comparativo entre Auditoria Interna e Externa Elementos Auditoria Interna Auditoria Externa Profissional Funcionário da empresa (auditor interno) Prestador de serviços independente Ação e Objetivo Exame dos processos (operacionais e contábeis) Demonstrações financeiras Finalidade Promover melhorias nos controles da empresa de forma a assegurar a proteção ao patrimônio Opinar sobre as demonstrações financeiras Relatório Principal Recomendações de controle interno e eficiência administrativa Relatório do Auditor Independente Grau de Independência Menor Maior Interessados no trabalho Empresa Empresa e público Volume dos Testes Maior Menor Continuidade do trabalho Contínuo Periódica / Pontual Fonte: o Autor. Referências CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 986, de 21 de novembro de 2003. ______. Resolução CFC nº 781, de 24 de março de 1995. Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 39 CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil – Teoria e Prática. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2013. Atividades 1) Um dos principais objetivos do auditor interno é: a) Verificar a necessidade de aprimorar as normas inter- nas vigentes. b) Examinar a demonstração do resultado do exercício e emitir seu parecer. c) Examinar os controles internos e emitir sua opinião via relatório. d) Descobrir todas as irregularidades e emitir relatório so- bre o fato. e) N.R.A. 2) Diferenciam o auditor interno do externo: a) Forma de avaliar o sistema de controles internos. b) Volume de testes nos serviços realizados. c) Forma de se portar na empresa e sua responsabilidade. d) Forma de preparar os papéis de trabalho. e) N.R.A. 40 Auditoria: Normas e Controle Interno 3) O objetivo geral da auditoria interna é atender: a) A administração da empresa b) Aos acionistas da empresa c) A auditoria externa da empresa d) A gerência financeira da empresa e) A gerência comercial da empresa 4) Os procedimentos relacionados para compor um progra- ma de auditoria interna são desenhados para: a) Detectar erros e irregularidades significativas. b) Proteger o auditor em caso de litígio legal. c) Avaliar a estrutura dos controles internos. d) Coletar evidências suficientes de auditoria. e) Desenvolver um plano estratégico da empresa. 5) O auditor interno, ao desenvolver trabalho na área de re- cursos humanos, constatou, na base de cálculo da folha de pagamentos do mês, o nome de funcionário desligado da empresa há quatro meses. O auditor interno emitiu re- latório parcial para informar à administração da empresa a irregularidade e permitir que medidas corretivas fossem realizadas. Com base nas normas de auditoria interna, o auditor: a) Deveria ter aguardado o término dos trabalhos para elaborar o relatório. Capítulo 2 Auditoria Interna e Externa: Funções e Diferenças 41 b) Tem a opção de informar ou não os fatos apurados à administração da empresa. c) Está obrigado a proceder à comunicação verbal de fatos dessa natureza e informá-los, posteriormente, em relatório final. d) Procedeu corretamente em conformidade com as nor- mas de emissão dos relatórios de auditoria interna. e) Observou que nas normas relativas ao relatório de auditoria interna não há previsão de procedimentos a serem aplicáveis nesses casos. Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria1 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente é professor dos cursos de Ciências Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA, presencial e EAD e funcionário público da Petrobras. Williams Meirelles1 Capítulo 3 Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 43 Introdução Neste capítulo, iremos abordar as origens da auditoria, pas- sando pela sua evolução e desenvolvimento tanto no mundo quanto no Brasil. Também será abortado o cenário atual da contabilida- de no Brasil, com as alterações societárias oriundas das Leis 11.638/07 e 11.941/09 que ocasionaram um novo horizonte para o trabalho dos contadores e consequentemente dos au- ditores. 1 A Auditoria e Suas Origens Não estão disponíveis, de forma detalhada e clara, na litera- tura técnica nacional, informações a respeito da história dessa atividade profissional, que é a auditoria.Sobre sua origem, menciona-se, apenas, que existem notí- cias de ações dessa natureza praticadas pelos sumérios. Mes- mo em manuais e publicações de auditoria de outros países mais desenvolvidos, encontram-se apenas referências esparsas sobre o tema. Alguns afirmam que a auditoria é uma técnica contábil e, como tal, surgiu a partir do momento em que terceiros co- meçaram a analisar e emitir opinião independente sobre os demonstrativos elaborados pela Contabilidade. 44 Auditoria: Normas e Controle Interno Atualmente, é aceitável que a Contabilidade surgiu como uma simples forma de registro das trocas de bens e serviços na antiguidade. Esses registros foram usados como base para a cobrança de impostos e é bem provável que já fossem, mesmo que empiricamente, acompanhados por pessoas independen- tes para certificar suas adequações. A cerca de 200 A.C., na República Romana, as contas go- vernamentais eram apresentadas na forma de lucros e perdas e eram constantemente fiscalizadas pelos magistrados roma- nos encarregados das finanças, os quais eram denominados questores. Com efeito, uma atividade similar à auditoria foi realizada durante o Império Romano, já que era comum os imperadores encarregarem funcionários de inspecionarem a contabilidade das diversas províncias. As cartas de Plínio a Trajano relatam sobre inspeções contábeis nas colônias. Todavia, a atividade de auditoria nos moldes que se conhece nos dias atuais teve seu início na Inglaterra nos idos do século XIX, em decorrência da Revolução Industrial verificada alguns anos antes. Era ne- cessário auditar as novas corporações que substituíam a pro- dução artesanal. É notório que a auditoria se desenvolve no Reino Unido e é difundida para outros países, principalmente Canadá e os Estados Unidos, que, em face de desenvolvimen- to econômico, aprimoraram enormemente essa nova técnica. Conforme Crepaldi (2013), o primeiro auditor provavel- mente foi um guarda-livros competente a serviço de algum mercador italiano do século XV ou XVI, que, por sua reputa- ção, passou a ser consultado sobre a escrituração de transa- Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 45 ções. Provavelmente, a Auditoria se estabeleceu como profis- são no momento em que o especialista em escrituração deixou de praticar a atividade contábil para um único usuário para assessorar os demais especialistas e mercadores, transforman- do-se em consultor. A contribuição da Itália para a Contabilidade moderna foi preponderante desde sua constituição, com as teorias do fra- de franciscano e matemático Luca Pacioli, ainda no século XV. O reconhecimento da escrituração mercantil como forma de ocupação especializada também ocorreu na Itália (Veneza), onde, em 1581, foi constituído o primeiro Colégio de Con- tadores. A admissão só era permitida depois de o candidato completar aprendizado de seis anos com contador praticante e submeter-se a exame. Contudo, a atividade de auditor encontrou campo fértil na Inglaterra mercantilista, controladora das rotas marítimas de comércio onde floresciam grandes companhias comerciais e um sistema de impostos sobre o lucro dessas empresas. O êxi- to econômico transformou-a em grande potência no final do século XVII e berço da Revolução Industrial no século seguinte. A Enciclopédia Britânica, segundo Franco e Marra (2011), menciona que, mesmo de forma não muito sistemática, até o reinado da Rainha Elizabeth as contas públicas já eram objeto de exame. Antes mesmo de 1559, esse serviço era realizado pelo auditor do tesouro, denominado Controlador Geral do Tesouro Público, cujo cargo foi criado em 1314, ou por audi- tores da receita pública. 46 Auditoria: Normas e Controle Interno Conforme Costa (1995), em 1547, foi publicado um li- vro em inglês de autor anônimo, que tratava da escrituração comercial e que se dirigia, entre outros, aos auditores. Já o Escritório de Controlador e Auditor Geral da Inglaterra foi for- malmente estabelecido em 1866. Vale mencionar que, no sé- culo XIII, na Inglaterra, durante o reinado de Eduardo I surge o termo auditor. A moderna Auditoria cresceu, portanto, na Inglaterra, que a exportou, com seus investimentos, para outros países – in- clusive para o Brasil –, principalmente para a construção e ad- ministração de estradas de ferro e outros serviços de utilidade pública. No fim do século XIX e início do XX, naquele país, o contro- le e a posse das empresas se diluíam com o aumento do mer- cado de compradores de ações. Foi, então, necessário esta- belecer padrões mínimos a ser atendidos pelas empresas com ações cotadas em bolsa, na elaboração de seus relatórios. Nos Estados Unidos, a Auditoria adquiriu novos rumos após a crise de 1929. Em meados dos anos 1930, foi criado um grupo de trabalho para determinar regras para as compa- nhias com ações cotadas em bolsa de valores, tornando obri- gatória a Auditoria contábil independente nas demonstrações financeiras dessas empresas. O crescimento das empresas e a expansão dos mercados fizeram com que fossem levados em conta outros agentes eco- nômicos, além do interesse dos proprietários das corporações. Além disso, a necessidade de financiamento e a formação do mercado de capitais tornaram relevante a divulgação de in- Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 47 formações econômico-financeiras. As demonstrações contá- beis ganharam, então, importância, não só para os credores das organizações, mas também para futuros investidores. Era necessário que essas demonstrações fossem examinadas por um profissional independente da empresa e de reconhecida capacidade técnica, que confirmasse a qualidade e precisão das informações prestadas. Só assim seria possível atestar o correto cumprimento das metas, a lícita aplicação do capital envolvido, a integridade do investimento realizado e os resul- tados econômicos de cada empreendimento. Mas, em uma tentativa de resgatar a origem da auditoria na forma de atividade profissional, pode-se dizer que o seu surgimento e desenvolvimento estão diretamente ligados à re- lação de propriedade e de capital, sendo provável a ocorrên- cia das seguintes fases: a acumulação de riqueza pelo homem, formando um patrimônio; a distância entre o proprietário e o patrimônio; a guarda por terceiros; a necessidade de controle; a necessidade de se obter informações e de se confirmar a adequação dessas informações; e, por fim, a necessidade de uma opinião independente. É evidente que a origem da auditoria, mais precisamente da Auditoria Contábil, advém do momento em que o homem passa a acumular riquezas, constituindo, assim, um patrimô- nio. Com o constante aumento desse patrimônio ou mesmo o aparecimento de novas fontes de riqueza, o proprietário passa a permanecer durante muito tempo longe do seu acompa- nhamento direto, surgindo a necessidade de a sua guarda ser realizada por terceiros, evidentemente com a devida confiança 48 Auditoria: Normas e Controle Interno e responsabilidade delegadas pelo proprietário e assumidas por terceiros – relação de accountability. Consequentemente, por ter seu patrimônio sob a guarda de um responsável, tornou-se necessário que o proprietário implantasse determinados controles para que, mesmo distan- te, pudesse acompanhar e se certificar do fiel cumprimento pelo responsável de suas determinações. Entre esses controles, é fácil identificar que a informação tempestiva e adequada deveria configurar entre os principais. Mas as informações eram de fato adequadas e fidedignas? Com o surgimento dessa dúvida, tornou-se imperioso que o proprietário atribuísse uma outra responsabilidade a um agen- te independente da relação proprietário-responsável. Este teria a incumbência de emitir uma opinião sobre a adequação das informaçõesapresentadas ao proprietário pelo responsável da guarda do patrimônio. Esse agente independente, então, seria o auditor. 2 Evolução da Auditoria As mesmas causas responsáveis pelo surgimento da auditoria são hoje em dia determinantes para sua extraordinária evolu- ção. A grandeza econômica e comercial da Inglaterra e dos Estados Unidos determinou a evolução da auditoria, como consequência do crescimento das empresas, do aumento de sua complexidade e do envolvimento do interesse da econo- mia popular nos grandes empreendimentos. Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 49 Nota-se que, em todos os países do mundo, o desenvolvi- mento da profissão de contador é consequência do desenvol- vimento econômico, que exige, cada vez mais, a utilização da auditoria, em virtude de dois fatores principais:  Crescimento das Sociedades Anônimas, onde grandes empresas são formadas por capitais de muitas pessoas, que têm na confirmação dos registros contábeis a prote- ção do seu patrimônio; e  Taxação do imposto de renda. A globalização é diretamente responsável pelo gigantis- mo atingido pela profissão nos países de origem e por sua disseminação pelo mundo. Ao criarem subsidiárias no exte- rior, as grandes empresas mandavam também seus auditores para que estes fiscalizassem a correta aplicação dos capitais, aplicação dos lucros e retorno dos capitais investidos. Essa situação propiciou a abertura de filiais também das firmas de auditoria, desenvolvendo assim a profissão. 3 Cenário Atual Brasileiro O maior evento societário desde a Lei 6.404/76 foi o que re- presentou a adoção das IFRS (International Financial Reporting Standards) no Brasil, através dos pronunciamentos emitidos pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e aprova- dos pelo CFC (Conselho federal de Contabilidade). 50 Auditoria: Normas e Controle Interno Esse desafio foi considerado o maior dos últimos tempos para empresas, contadores, controllers, diretores financeiros e auditores. Essas importantes mudanças foram oriundas das Leis 11.638/07 e 11.941/09, cujo histórico será detalhado a se- guir. No ano de 2000, foi encaminhado à Câmara de Depu- tados o Anteprojeto de Lei de reforma da Lei 6.404/76 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A atual legislação brasileira necessitava adequar-se à nova realidade mundial e às normas internacionais de contabilidade. Passados 07 anos de tramitação na Câmara de Deputados, o Projeto de Lei (PL) número 3.741/00 foi aprovado pelo Senado Federal e em 28 de dezembro de 2007 foi sancionado pelo Presidente da República, tornando-se a Lei 11.638/07 que modifica a Lei 6.404/76. A reformulação foi proposta com a intenção, principalmen- te, de se alcançar os seguintes aspectos, conforme menciona- do pela CVM:  corrigir impropriedades e erros da Lei societária de 1976;  adaptar a Lei às mudanças sociais e econômicas decor- rentes da evolução do mercado;  fortalecer o mercado de capitais, mediante implementa- ção de normas contábeis e de auditoria internacional- mente reconhecidos. Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 51 A Lei 11.638/07 passou a viger a partir de 1° de janeiro de 2008, 3 dias após ser sancionada. Em dezembro de 2008, 11 meses após a entrada em vigor da nova Lei, editou-se a Medida Provisória 449/08 (MP) para corrigir algumas falhas apresentadas, principalmente tendo em vista o conflito com o imposto de renda e o código civil, transformada na Lei n° 11.941, de 27 de maio de 2009. O objetivo central da Lei n. 11.638/07 e da Lei 11.941/09 foi de atualizar a legislação societária brasileira possibilitan- do a convergência das práticas contábeis adotadas no Brasil com as normas internacionais de contabilidade que são emi- tidas pelo International Accounting Standards Board - IASB e permitir que novas normas e procedimentos contábeis sejam expedidos pela CVM com base nas normas internacionais de contabilidade. As principais alterações trazidas pelas Leis 11.638/07 e 11.941/09 à Lei 6.404/76 foram:  Classificação do Ativo e do Passivo em “Circulante” e “Não Circulante”;  Extinção do grupo Ativo Permanente;  Restrição ao longo do exercício de 2008 e extinção, na data de 5/12/08, do subgrupo “Ativo Diferido”;  Criação do subgrupo “Intangível” no grupo do Ativo Não Circulante;  Proibição da prática da reavaliação espontânea de ati- vos; 52 Auditoria: Normas e Controle Interno  Aplicação, ao final de cada exercício social, do teste de recuperabilidade dos ativos (teste de impairment);  Registro, em contas de ativo e passivo, dos contratos de arrendamento mercantil financeiro (leasing);  Extinção do grupo Resultado de Exercícios Futuros;  Criação, no Patrimônio Líquido, da conta de “Ajustes de Avaliação Patrimonial”;  Destinação do saldo de Lucros Acumulados;  Alteração da sistemática de contabilização das doações e subvenções fiscais, anteriormente contabilizadas em conta de Reserva de Capital;  Alteração da sistemática de contabilização dos prêmios nas emissões de debêntures, anteriormente contabiliza- dos em conta de Reserva de Capital;  Extinção da classificação das Receitas e Despesas em Operacionais e Não Operacionais;  Substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) no conjunto das Demonstrações Contábeis obrigatórias;  Obrigatoriedade da elaboração da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) pelas Companhias Abertas;  Criação do Regime Tributário de Transição (RTT); Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 53  Implantação da apuração do Ajuste a Valor Presente de elementos do ativo e do passivo. Além dos aspectos contábeis, as empresas de auditoria fo- ram diretamente impactadas, positivamente, por outra mudan- ça da Lei 11.638/07: a determinação de que as empresas de Grande Porte (conforme a Lei, aquelas que possuem mais de R$ 240 milhões em ativos ou faturamento anual maior que R$ 300 milhões) independentemente se enquadradas como S.A.s ou Ltda.s, devem ter suas demonstrações financeiras auditadas por auditores independentes. Esse impacto gerou um aumento significativo no número de clientes das empresas de auditoria e contribuiu ainda mais para a importância desta profissão. A seguir, quadro resumo sobre esses impactos para as empresas: Quadro 2 Impactos Empresas Grande Porte Adoção IFRS Adoção Normas CVM Publicação DFs Auditoria S.A.s abertas Sim Sim Sim Sim S.A.s fechadas - Grande Porto Não Opcional Sim Sim S.A.s fechadas – Outras Não Opcional Sim Não Ltda.s - Grande Porte Não Não Não Sim Ltda.s – Outras Não Não Não Não Fonte: KPMG <http://www.kpmg.com.br/publicacoes/Lei_6404_final.pdf> Recapitulando Neste capítulo, estudamos sobre a história e o surgimento da auditoria, que provavelmente surgiu juntamente com a con- tabilidade desde a idade antiga, crescendo na Inglaterra no 54 Auditoria: Normas e Controle Interno século XIX e tornando-se o que é hoje em dia com seu desen- volvimento nos Estados Unidos. Também estudamos as importantes mudanças em nossa le- gislação societária oriundas das Leis 11.638/07 e 11.941/09, que valem a pena serem revisadas. Referências BRASIL. Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 21 de maio 2016. ______. Lei n° 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Dis- ponível em: < http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 21 de maio 2016. ______. Lei n° 11.941, de 27 de maio de 2009. Disponí- vel em: < http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 21 de maio 2016. CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil – Teoria e Prática. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2013. FRANCO,Hilário; MARRA, Ernesto. Auditoria contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. COSTA, Carlos Baptista. Auditoria financeira – teoria e prá- tica. 5 ed. Lisboa: Reis dos Livros. 1995, 539 p. SANTI, Paulo Adolpho. Introdução à Auditoria. http://www. kpmg.com.br Acesso em 21 de maio 2016. Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 55 Atividades 1) Com relação às origens da auditoria e seus tipos, assinale a opção correta. a) O surgimento da auditoria externa está associado à necessidade das empresas de captarem recursos de terceiros. b) Os sócios-gerentes e acionistas fundadores são os que têm maior necessidade de recorrer aos auditores inde- pendentes para aferir a segurança, liquidez e rentabili- dade de seus investimentos na empresa. c) A auditoria externa surgiu como decorrência da ne- cessidade de um acompanhamento sistemático e mais aprofundado da situação da empresa. d) A auditoria interna é uma resposta à necessidade de independência do exame das transações da empresa em relação aos seus dirigentes. e) Os auditores internos direcionam o foco de seu traba- lho para as demonstrações contábeis que a empresa é obrigada a publicar. 2) Assinale (V) para Verdadeiro ou (F) para Falso: ( ) A origem da auditoria nas empresas está associada ao aumento de seu tamanho e à sua expansão geográ- fica, circunstâncias que favoreceram o surgimento de administradores profissionais, que não se confundem com os próprios acionistas. 56 Auditoria: Normas e Controle Interno 3) Em relação às alterações promovidas nas Normas de Contabilidade brasileiras pelas Leis no 11.638/2007 e 11.941/2009 e pelos pronunciamentos do Comitê de Pro- nunciamentos Contábeis (CPC), é correto afirmar: a) Os arrendamentos (leasings) operacionais foram proi- bidos, devendo a entidade escriturar o valor do ativo, mesmo não lhe pertencendo do ponto de vista jurídi- co, na contabilidade, e depreciá-lo normalmente no decorrer de sua vida útil estimada. b) É permitido à entidade constituída na forma de uma sociedade por ações reavaliar o valor de seus ativos imobilizados, desde que fundamentado em laudo de empresa especializada, aprovado pela assembleia ge- ral dos acionistas. c) O grupo Ativo Diferido foi extinto, sendo o saldo de suas contas transferido, no que couber, para os grupos Ativo Imobilizado e para o Ativo Intangível e a parte re- manescente, após a reclassificação, poderá ser manti- da pela companhia até sua completa amortização. d) O grupo de Resultado de Exercícios Futuros foi extinto, sendo o saldo de suas contas encerrado com a con- trapartida registrada na conta de Lucros ou Prejuízos Acumulados. e) Os prêmios recebidos na emissão de debêntures são registrados a débito do Ativo e a crédito de uma conta representativa de reservas de capital. Capítulo 3 Origem, Evolução e Desenvolvimento da Auditoria 57 4) Dentre as novidades introduzidas pela Lei nº 11.638/07, a conta Ajuste de Avaliação Patrimonial (AAP) foi criada como objetivo de acolher os aumentos e diminuições de valor do patrimônio em decorrência de sua avaliação a valor de mercado. Nas Demonstrações Contábeis, onde se encontra essa conta evidenciada? a) Reduzindo o ativo. b) Reduzindo o passivo. c) No Ativo ou passivo dependendo do saldo. d) No Patrimônio líquido. e) No Resultado. 5) A Lei 11.638/07 introduziu algumas obrigatoriedades pa- ras as sociedades de grande porte. Assim, pode-se afirmar que: a) Considera-se sociedade de grande porte a sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social anterior, ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual superior a R$ 360 milhões. b) Considera-se sociedade de grande porte a sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social corrente, ativo total igual ou superior a R$ 240 milhões e receita bruta anual igual ou superior a R$ 300 milhões; 58 Auditoria: Normas e Controle Interno c) Aplica-se a elas, ainda que não constituídas sob a for- ma de sociedades por ações, as disposições da Lei nº 6.404/76 sobre escrituração e elaboração de de- monstrações financeiras, sendo dispensada a obriga- toriedade de auditoria independente por auditor regis- trado na CVM; d) Aplica-se a elas, ainda que não constituídas sob a for- ma de sociedades por ações, as disposições da Lei nº 6.404/76 sobre escrituração e divulgação de de- monstrações financeiras e auditoria independente por auditor registrado na CVM; e) Aplica-se a elas, ainda que não constituídas sob a for- ma de sociedades por ações, as disposições da Lei nº 6.404/76 sobre escrituração e elaboração de de- monstrações financeiras e auditoria independente por auditor registrado na CVM. Normas de Auditoria1 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente é professor dos cursos de Ciências Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA, presencial e EAD e funcionário público da Petrobras. Williams Meirelles1 Capítulo 4 60 Auditoria: Normas e Controle Interno Introdução As normas de auditoria representam o parâmetro que con- duzem o trabalho auditorial. Elas se relacionam à pessoa do auditor e ao processo de auditoria, envolvendo todas as suas fases: planejamento, execução e relatório. Embora na maioria das vezes tenham um caráter de guia profissional, acabam fixando limites nítidos de responsabilida- des, além de orientar o comportamento do auditor em relação a sua capacitação e ao controle de qualidade dos trabalhos realizados. Neste capítulo, teremos uma visão geral de todas as nor- mas de auditoria vigentes atualmente e estudaremos as princi- pais normas profissionais do auditor independente. 1 Normas de Auditoria Com o advento da Lei 1.638/07, o Brasil iniciou seu processo de convergência para as Normais Internacionais de Contabi- lidade, chamadas IFRS (International Financial Reporting Stan- dards), que por sua vez são publicadas pelo IASB (International Accounting Standards Board). Assim, a partir de 2010 todas as empresas ficaram obriga- das elaborar seus demonstrativos conforme essas normas. Dessa forma, as normas de auditoria em vigor até 2009 que se chamavam NBC T11 também tiveram que sofrer mu- Capítulo 4 Normas de Auditoria 61 danças para se adaptar aos padrões internacionais, assim como ocorreu com nossa contabilidade. As Normas Brasileiras de Contabilidade – NBC – editadas pelo CFC devem seguir os padrões internacionais e compreen- dem as normas propriamente ditas, as interpretações técnicas e os comunicados técnicos, elas são elaboradas em conso- nâncias com os padrões internacionais definidos pela IFAC – International Federation of Accounting (Federação Internacio- nal de Contadores). A Resolução CFC nº 1.328/11, de 18/03/11, que dispõe sobre a Estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade, es- tabelece que as Normas Brasileiras de Contabilidade se estru- turam conforme segue:  Normas Profissionais: I – Geral – NBC PG – aplicadas indistintamente a todos os profissionais de Contabilidade; II – do Auditor Independente – NBC PA– aplicadas, especi- ficamente, aos contadores que atuam como auditores independentes; III – do Auditor Interno – NBC PI – aplicadas especificamen- te aos contadores que atuam como auditores internos; IV – do Perito – NBC PP – aplicadas especificamente aos contadores que atuam como peritos contábeis.  Normas Técnicas: 62 Auditoria: Normas e Controle
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