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1 Curso Ênfase © 2019 DIREITO PREVIDENCIÁRIO – PHELIPE CARDOSO AULA40 - CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL PARTE1 1. CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL Este é um dos pontos mais dificultosos da disciplina, considerando que há diversos detalhes e que a lei regente do tema, a Lei 8.212/91, não é didática por conter muitas emendas e remissões. Dessa forma, a ideia do curso é sistematizar e organizar o "custeio", notadamente as contribuições previdenciárias, para quando o aluno realizar a leitura da lei conseguir, facilmente, identificar o objeto tratado. A base do "custeio" encontra-se no art. 195, da CF, o qual versa: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: Da leitura do dispositivo, percebe-se que o custeio da previdência não é específico, porém, de toda a seguridade social. Ademais, ao dizer que ela será financiada por "toda a sociedade", observa-se o princípio da solidariedade no âmbito do "custeio", o qual será revertido em prestações para a sociedade nas ocasiões em que as pessoas preencherem os requisitos para tanto. Nesse sentido, há um pacto da maioria (custeio) em prol da minoria (beneficiário), enfatizando o caráter solidário do sistema. Ainda, extrai-se do dispositivo que as principais, porém não únicas fontes de "custeio", são os orçamentos e as contribuições sociais. 1.1 FONTES DE CUSTEIO - ORÇAMENTOS Ao estabelecer que a Seguridade Social será financiada pelos orçamentos de todos os entes políticos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), a Constituição Federal dispõe que, além das contribuições sociais e as de seguridade social, esta específica para financiar a seguridade, devem os entes políticos aportar receitas outras, inespecíficas para o custeio e manutenção do sistema da previdência - por exemplo: impostos. Cumpre ressaltar que cada ente político possui o seu orçamento, conforme redação do 195, § 1º, da CF: § 1º As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 2 Curso Ênfase © 2019 orçamento da União. Ademais, como é sabido, a Seguridade é composta de 3 (três) ramos: saúde, assistência e previdência. Nesse sentido, a Constituição estabelece que (art. 195, § 2º): § 2º A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos. No âmbito da União, a CF ainda prevê, em seu art. 165, § 5º, que devem existir 3 (três) orçamentos - um deles, próprio e específico para a Seguridade Social (princípio do orçamento diferenciado): § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Consta ainda do texto constitucional o art. 167, VIII, o qual dispõe que: Art. 167. São vedados: (...) VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, inclusive dos mencionados no art. 165, § 5º; Em outras palavras, o orçamento da seguridade é destinado ao financiamento e à manutenção da Seguridade Social, não sendo possível desviar essa finalidade sem autorização legislativa específica. Há exceção à regra no próprio ADCT, em seu art. 76, que dispõe sobre a DRU (Desvinculação das Receitas da União): Art. 76. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2023, 30% (trinta por cento) da arrecadação da União relativa às contribuições sociais, sem prejuízo do pagamento das despesas do Regime Geral da Previdência Social, às contribuições de intervenção no domínio econômico e às taxas, já Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 3 Curso Ênfase © 2019 instituídas ou que vierem a ser criadas até a referida data. 1.2 FONTES DE CUSTEIO - LEI Nº 8.212/91 - OUTRAS FONTES NA ESFERA FEDERAL Antes de introduzir o estudo das contribuições, maior fonte de custeio da Seguridade Social e objeto do restante do curso, deve-se observar o art. 27 da Lei nº 8.212/91: Art. 27. Constituem outras receitas da Seguridade Social: I - as multas, a atualização monetária e os juros moratórios; II - a remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e cobrança prestados a terceiros; III - as receitas provenientes de prestação de outros serviços e de fornecimento ou arrendamento de bens; IV - as demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras; V - as doações, legados, subvenções e outras receitas eventuais; VI - 50% (cinqüenta por cento) dos valores obtidos e aplicados na forma do parágrafo único do art. 243 da Constituição Federal; VII - 40% (quarenta por cento) do resultado dos leilões dos bens apreendidos pelo Departamento da Receita Federal; VIII - outras receitas previstas em legislação específica. Parágrafo único. As companhias seguradoras que mantêm o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres, de que trata a Lei nº 6.194, de dezembro de 1974, deverão repassar à Seguridade Social 50% (cinquenta por cento) do valor total do prêmio recolhido e destinado ao Sistema Único de Saúde-SUS, para custeio da assistência médico-hospitalar dos segurados vitimados em acidentes de trânsito. Trata-se de uma lista de receitas possíveis no âmbito da União, sendo possível aos demais entes políticos estabelecerem listagem própria de outras receitas em leis locais. 1.3.1 FONTES DE CUSTEIO - CONTRIBUIÇÕES (NATUREZA JURÍDICA) Registra-se que as contribuições são tributos, ainda que na doutrina possa existir certa celeuma teórica sobre o assunto, a definição é pacífica no Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, a edição da Súmula Vinculante nº 8 parte desse pressuposto, ao estabelecer que: Súmula Vinculante nº 8 - STF - São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/1991, que tratam da prescrição e decadência do crédito tributário. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 4 Curso Ênfase © 2019 Os dispositivos de lei ordinária declarados inconstitucionais disciplinavam prescrição e decadência de créditos tributários, assim considerados em razão da necessidade de lei complementar para tratar do assunto. Portanto, é inquestionável que as contribuições são tributos. Contudo, as contribuições distinguem-se tendo em vista serem tributos finalísticos, dotados de finalidade específica, ao contrário dos impostos, taxas e contribuições de melhoria, definidos pela natureza específica do seu fato gerador, as contribuições são diferenciadas pela sua finalidade. No caso das contribuições de seguridadesocial, a finalidade é a manutenção e o financiamento do sistema de Seguridade Social. Para melhor situarmos as contribuições de seguridade, observa-se que os tributos dividem- se de modo geral em: • impostos; • taxas; • contribuições de melhoria; • empréstimos compulsórios; e • contribuições especiais. Dentro das contribuições especiais, tem-se, ainda: • contribuições sociais; • CIDE's (contribuições de intervenção no domínio econômico); • contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas; e • contribuição de iluminação pública. Por sua vez, nota-se que as contribuições sociais ainda dividem-se em: • Contribuições sociais gerais (PIS, CPMF etc); e • contribuições de seguridade social. 1.3.2 CONTRIBUIÇÕES (CLASSIFICAÇÃO) Classificam-se em contribuições de seguridade social ordinárias, residuais e para custeio do Regime Próprio (RPPS). As contribuições ordinárias são aquelas previstas na Constituição Federal, as residuais são aquelas criadas além das previstas na CF e as para o custeio do Regime Próprio são auto explicativas, seja para custear o regime da esfera federal, estadual, distrital ou municipal. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 5 Curso Ênfase © 2019 Depreende-se que as contribuições ordinárias e residuais são sempre de âmbito federal, considerando que apenas a União mantém e organiza o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), já as para custeio de Regime Próprio poderá ser de qualquer ente, conforme for o regime próprio analisado. Destaca-se que algumas das contribuições ordinárias possuem certas características que as diferenciam das demais, o que as classifica como contribuições ordinárias previdenciárias. Nem todas possuem esse atributo, no entanto, aquelas que possuem são assim denominadas, em razão de serem disciplinadas no Plano de Custeio da Previdência Social (PCPS). As demais constam na legislação tributária em geral. As ordinárias podem ser encontradas no art. 195, da CF, esquematizadas no seguinte quadro: Dentre as contribuições ordinárias, as que recebem o predicado de previdenciárias são as contribuições das empresas sobre a folha de pagamentos/salários e as contribuições dos segurados/trabalhadores, as quais serão estudadas adiante. Observe a redação do dispositivo: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 6 Curso Ênfase © 2019 II - dos trabalhadores; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. 1.3.3 CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS As contribuições previdenciárias possuem 3 (três) características específicas, quais sejam: 1 - Destinadas ao Fundo do RGPS (art. 250 da CF c/c art. 68 da Lei Complementar nº 101/00 LRF): Constituição Federal Art. 250. Com o objetivo de assegurar recursos para o pagamento dos benefícios concedidos pelo regime geral de previdência social, em adição aos recursos de sua arrecadação, a União poderá constituir fundo integrado por bens, direitos e ativos de qualquer natureza, mediante lei que disporá sobre a natureza e administração desse fundo. Lei de Responsabilidade Fiscal Art. 68. Na forma do art. 250 da Constituição, é criado o Fundo do Regime Geral de Previdência Social, vinculado ao Ministério da Previdência e Assistência Social, com a finalidade de prover recursos para o pagamento dos benefícios do regime geral da previdência social. § 1º O Fundo será constituído de: I - bens móveis e imóveis, valores e rendas do Instituto Nacional do Seguro Social não utilizados na operacionalização deste; II - bens e direitos que, a qualquer título, lhe sejam adjudicados ou que lhe vierem a ser vinculados por força de lei; III - receita das contribuições sociais para a seguridade social, previstas na alínea a do inciso I e no inciso II do art. 195 da Constituição; IV - produto da liquidação de bens e ativos de pessoa física ou jurídica em débito com a Previdência Social; V - resultado da aplicação financeira de seus ativos; VI - recursos provenientes do orçamento da União. § 2º O Fundo será gerido pelo Instituto Nacional do Seguro Social, na forma da lei. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 7 Curso Ênfase © 2019 2 - Destinadas exclusivamente para pagamento de benefícios, excluídos inclusive o custeio de despesas administrativas do Regime Geral (art. 167, XI, da CF): Constituição Federal Art. 167. São vedados: (...) XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201. 3 - Tuteladas pelo art. 168-A (cota do trabalhador) e pelo art. 337-A (cota patronal) do Código Penal: Código Penal Apropriação indébita previdenciária Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. § 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. § 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. § 4º A faculdade prevista no § 3º deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo para o Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 8 Curso Ênfase © 2019 ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 13.606, de 2018) (...) Sonegação de contribuição previdenciária Art. 337-A. Suprimirou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. § 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – (VETADO) II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. § 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. § 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social. 1.3.4 CONTRIBUIÇÕES RESIDUAIS São aquelas não diretamente previstas na Constituição, mas criadas em adição, nos termos do art. 195, § 4º, da CF: Art. 195. (...) § 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 9 Curso Ênfase © 2019 sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; O art. 154, I, diz respeito aos impostos residuais da União, cuja sistemática deve ser seguida para a criação de contribuições residuais. Nesse sentido, o STF decidiu em RE 258.470: Antes de realizarmos o estudo das contribuições previdenciárias em espécie, o professor recomenda a leitura dos §§ do art. 195, da CF, os quais apresentam regras com alta incidência em provas: Art. 195. (...) § 1º As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. § 2º A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos. § 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. (Vide Medida Provisória nº 526, de 2011) (Vide Lei nº 12.453, de 2011) § 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. § 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. § 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b". § 7º São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. § 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 10 Curso Ênfase © 2019 social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. § 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema único de saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos. § 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar. § 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. § 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento. O § 6º trata de uma regra específica em matéria de custeio da Seguridade Social sobre a anterioridade nonagesimal, noventena ou anterioridade mitigado, ao dispor que "só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando" a regra constitucional sobre a anterioridade de exercício (art. 150, III, CF). Embora a redação utilize o termo modificado, deve-se interpretar o verbo como aumentado, tendo em vista que a noventena trata de uma garantia do contribuinte, a qual não será afetada se o tributo/contribuição for reduzido. Ademais, em se tratando de instituição ou majoração por meio de Medida Provisória (MP), aplica-se a noventena a partir da data de edição da MP, e não da data da publicação da lei que a converteu, considerando que, em se tratando de contribuição, não se aplica o art. 62, § 1º, da Constituição Federal, conforme decidido pelo STF em AI 376.627. No tema, atente-se para a Súmula 669, do STF, a qual dispõe que: Súmula 669 - STF - Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 11 Curso Ênfase © 2019 Dando continuidade, o § 7º, do art. em comento, diz que "são isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei". Como é sabido, embora a Constituição utilize o termo isentas, considerando se tratar de disposição constitucional, a natureza é de imunidade, e não de isenção. Da leitura do dispositivo, extrai-se que o constituinte exige dois requisitos para o gozo dessa imunidade: 1 - que se trate de pessoa jurídica que desempenhe atividades beneficentes de assistência social; e 2 - que esta entidade atenda aos parâmetros previstos na lei. Surgiu, em dado momento, certapolêmica sobre a lei que viria a estabelecer tais parâmetros, já que se trata de requisito para gozo de imunidade (no direito tributário regulado por lei complementar), se esta poderia ser por lei ordinária ou complementar. Segundo o STF, "os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar" (STF, RE 566.622, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/02/2017, com repercussão geral; julgamento conjunto com as ADIs 2.028, 2.036, 2.228 e 2.621). A matéria não é simples, considerando que existe a possibilidade de requisitos de ordem material ou de ordem formal/ritual, aqueles como contrapartidas para a fruição da imunidade e estes como a habilitação, a fiscalização e procedimentos em geral. Pela análise do julgado, o Supremo definiu que, em se tratando de requisitos materiais para o gozo da imunidade, vale o do julgado supracitado, sobre a necessidade de lei complementar. Atualmente, ainda não houve a edição de tal lei, aplicando-se, por ora, o art. 14, do CTN. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso Aula40 - Custeio da Previdência Social Parte1 12 Curso Ênfase © 2019 Cumpre salientar que o julgado do RE 566.622 veio à tona ainda na vigência do art. 55 do Plano de Custeio. Sendo assim, torna-se possível que alguns dos dispositivos da Lei nº 12.101/09 venham a ser questionados no Supremo ao argumento de que, em verdade, estariam regulando questão material. Contudo, essa é uma discussão futura que eventualmente pode surgir, sendo o mais importante observar que a Lei nº 12.101/09 não foi declarada inconstitucional, portanto, válida no que se refere aos requisitos formais e procedimentais. Tema 32 - Reserva de lei complementar para instituir requisitos à concessão de imunidade tributária às entidades beneficentes de assistência social. Relator: MIN. MARCO AURÉLIO Leading Case: RE 566622 Há Repercussão? Sim. Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 146, II; e 195, § 7º, da Constituição Federal, a constitucionalidade, ou não, do art. 55 da Lei nº 8.212/91, que dispõe sobre as exigências para a concessão de imunidade tributária às entidades beneficentes de assistência social. Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar. Íntegra do acórdão disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp? id=312495373&tipoApp=.pdf Adiante, cumpre ressaltar duas Súmulas do STJ sobre o assunto: a 352 defende que não há direito adquirido a imunidade para o futuro; a 612, acerca do CEBAS, prevê documento que qualifica a entidade como beneficente, além de sua natureza declaratória: SÚMULA 352 - STJ - A obtenção ou a renovação do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas) não exime a entidade do cumprimento dos requisitos legais supervenientes. SÚMULA 612 - STJ - O certificado de entidade beneficente de assistência social (Cebas), no prazo de sua validade, possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para a fruição da imunidade.
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