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Aula8 - Abolitio Criminis

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1
Curso	Ênfase	©	2019
DIREITO	PENAL	-	PARTE	GERAL	–	MARCELO	UZEDA
AULA8	-	ABOLITIO	CRIMINIS
1.	APLICAÇÃO	DA	LEI	PENAL	NO	TEMPO
Nesta	 aula,	 dar-se-á	 sequência	 ao	 estudo	 de	 direito	 penal,	 parte	 geral,	 no	 tocante	 à
aplicação	da	lei	penal	no	tempo,	em	especial	a	retroatividade	da	lei	benéfica
Desse	modo,	rememore,	em	princípio,	a	redação	do	art.	5º,	XL,	da	Constituição	Federal,	in
verbis:
Art.	5º.
[...]
XL.	a	lei	penal	não	retroagirá,	salvo	para	beneficiar	o	réu.
Ademais,	o	tema	é	tratado	no	artigo	2º,	do	Código	Penal,	ipsis	litteris:
Lei	penal	no	tempo
Art.	 2º	 -	Ninguém	pode	 ser	 punido	 por	 fato	 que	 lei	 posterior	 deixa	 de	 considerar
crime,	 cessando	 em	 virtude	 dela	 a	 execução	 e	 os	 efeitos	 penais	 da	 sentença
condenatória.
Parágrafo	único.	A	lei	posterior,	que	de	qualquer	modo	favorecer	o	agente,aplica-se
aos	fatos	anteriores,	ainda	que	decididos	por	sentença	condenatória	transitada	em
julgado.
Perceba,	então,	que	o	dispositivo	supracitado	aborda	dois	aspectos	da	lei	penal	benéfica,
quais	sejam:
a)	no	caput,	a	abolitio	criminis,	isto	é,	a	descriminalização,	enquanto	causa	extintiva	de
punibilidade.	 Nesse	 contexto,	 rememore	 que	 ocorre	 abolitio	 criminis	 quando	 lei	 nova	 deixa	 de
considerar	 determinado	 fato	 como	 típico,	 descriminalizando	 a	 conduta.	 A	 norma,	 nesse	 caso,
retroage,	servindo	como	causa	extintiva	de	punibilidade.	[1]
b)	no	parágrafo	único,	a	novatio	legis	in	mellius,	ou	seja,	a	lei	penal	benéfica	posterior,
que	de	algum	modo	atenua,	beneficia	ou	reduz	pena,	melhorando	a	situação	penal	autor	do	delito.
Tais	institutos	serão	estudados	a	seguir.
1.1.	ABOLITIO	CRIMINIS
O	caput	do	artigo	art.	2	determina	que	"ninguém	pode	ser	punido	por	fato	que	lei	posterior
deixa	de	considerar	crime".	Trata-se	de	abolitio	criminis,	que,	em	suma,	é	lei	nova	que	deixa	de
considerar	determinado	comportamento	como	típico,	abolindo	a	figura	típica	e	descriminalizando	a
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula8	-	Abolitio	Criminis
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Curso	Ênfase	©	2019
conduta.
Ademais,	há,	ainda,	a	figura	da	abolitio	contravenciones,	a	qual	consiste	em	lei	que	deixa
de	considerar	determinado	fato	como	contravenção	penal.	Aplicando-se	às	contravenções	penais
a	mesma	lógica	aplicada	aos	crimes.
Além	 disso,	 nesse	 contexto,	 é	 importante	 rememorar	 a	 regra	 do	 tempus	 regit	 actum,
consoante	a	qual	a	lei	do	tempo	da	crime	(logo,	da	conduta)	é	a	que	deve	ser	aplicada	ao	fato.
Então,	 imagine	 que	 "A"	 praticou	 um	 fato	 que,	 à	 época	 da	 conduta,	 era	 tipificado.	 No
entanto,	posteriormente,	o	legislador	descriminalizou	aquela	conduta	típica,	de	modo	que	aquele
comportamento	de	 "A"	 não	é	mais	 considerado	 crime.	Desse	modo,	 quem	cometer	 o	 delito	 a
partir	da	abolitio	criminis	não	será	mais	alcançado	pela	lei	penal,	já	que	se	trata	de	fato	atípico.
Nesses	 termos,	 se	 o	 Estado	 deixou	 de	 criminalizar	 aquele	 comportamento	 e,	 por
consequência,	 de	 punir	 sujeito	 que	 passa,	 a	 partir	 daquele	momento,	 a	 praticá-lo,	 não	 é	 lógico
conceber	que	quem	praticou	o	fato	sob	a	vigência	da	lei	anterior	(incriminadora),	continue	sendo
penalizado.
Portanto,	 não	 se	 deve	 punir	 quem	 praticou	 o	 crime	 sob	 a	 vigência	 da	 lei	 antiga
incriminadora,	quando	lei	nova	deixa	de	considerar	o	fato	como	delituoso.
No	entanto,	no	tocante	ao	passado,	a	conduta	foi	praticada	no	momento	em	que	havia	lei
incriminadora,	ou	seja,	quando	era	fato	típico.	Consequentemente,	embora	o	Lei	retroaja,	não	se
pode	apagar	o	fato.
Entenda,	a	abolitio	criminis	não	apaga	o	 fato,	 tampouco	 culmina	em	seu	esquecimento.
Isso	porque,	o	esquecimento	refere-se	à	anistia	[2].
Nesses	 termos,	 a	 abolitio	 criminis	 irá	 alcançar	 os	 fatos	 pretéritos,	 extinguindo	 a
punibilidade.	 Portanto,	 em	 relação	 aos	 fatos	 pretéritos,	 a	 abolitio	 criminis	 opera	 como	 causa
extintiva	da	punibilidade,	prevista	no	art.	107,	III,	do	Código	Penal,	in	verbis:
Art.	107	-	Extingue-se	a	punibilidade:	
[...]
	III	-	pela	retroatividade	de	lei	que	não	mais	considera	o	fato	como	criminoso;
Então,	pode-se	afirmar	que	a	abolitio	criminis	possui	os	seguintes	efeitos:
•	em	relação	ao	futuro,	torna	atípica	a	conduta;
•	em	relação	aos	fatos	pretéritos,	retroage,	extinguindo	a	punibilidade,	nos	termos	do	art.
5º,	XL,	da	Constituição,	bem	como	do	Princípio	do	Favor	Rei	[3].
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula8	-	Abolitio	Criminis
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Curso	Ênfase	©	2019
Outrossim,	atente-se,	nesse	momento,	à	redação	da	segunda	parte	do	art.	2º,	caput,	do
Código	Penal,	que	segue	colacionada:
[...]	 cessando	 em	 virtude	 dela	 a	 execução	 e	 os	 efeitos	 penais	 da	 sentença
condenatória.
Sobre	o	dispositivo,	verifique	as	seguintes	questões:
O	trânsito	em	julgado	é	pressuposto	para	a	execução	da	pena?
Não.	Os	Tribunais	Superiores	têm	admitido	a	execução	provisória	da	pena	antes	do	trânsito
em	julgado.
Conduto,	o	legislador,	quando	concebeu	essa	disposição	do	art.	2º	supracitado,	pensava	na
execução,	tendo	como	pressuposto	o	trânsito	em	julgado	da	sentença	condenatória.	E,	por	essa
razão,	fala	"cessando	em	virtude	dela	a	execução".	
Nesse	 contexto,	 é	 importante	 que	 se	 observe	 como	 a	 abolitio	 criminis	 opera	 antes	 do
trânsito	em	julgado	e	após	o	trânsito	em	julgado,	verifique:
a)	abolitio	criminis	ANTES	do	trânsito	em	julgado:
Quando	 a	 abolitio	 criminis	 ocorre	 antes	 do	 trânsito	 em	 julgado,	 há	 a	 extinção	 da
pretensão	punitiva,	consoante	se	verifica	na	expressão	"ninguém	pode	ser	punido".
No	 que	 se	 refere	 aos	 seus	 efeitos,	 a	 extinção	 da	 pretensão	 punitiva	 culminará	 no
afastamento	da	pena,	bem	como	dos	efeitos	penais	e	extrapenais.
Por	conseguinte,	ninguém	poderá	ser	punido,	visto	que	a	pena	e	os	efeitos	secundários,
penais	e	extrapenais,	são	afastados.
Assim,	por	exemplo,	se	a	sentença	não	transitou	em	julgado	e	houve	abolitio	criminis,	ela
não	 poderá	 ser	 usada	 como	 título	 executivo	 para	 a	 obtenção	 de	 indenização.	 Ademais,	 a
reincidência,	enquanto	efeito	penal	secundário,	 também	será	afastada,	assim	como	a	perda	do
cargo.
Em	 resumo,	 todos	 os	 efeitos	 penais	 e	 extrapenais	 serão	 afastados,	 assim	 como	 a
imposição	da	pena.
b)	abolitio	criminis	DEPOIS	do	trânsito	em	julgado:
Por	outro	 lado,	quando	ocorre	após	o	 trânsito	em	 julgado,	a	abolitio	 criminis	 extingue	 a
pretensão	executória,	conforme	se	observa	na	expressão	"cessando	a	execução".
Nesse	âmbito,	 a	extinção	da	pretensão	executória	 faz	 cessar	a	execução	da	pena	e	os
efeitos	penais	da	sentença	condenatória,	como	a	reincidência,	os	maus	antecedentes,	etc.
Aline
Realce
Não mais!
Aline
Realce
Aline
Realce
Aline
Realce
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula8	-	Abolitio	Criminis
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Curso	Ênfase	©	2019
Em	 síntese,	 cessam,	 portanto,	 a	 execução	 e	 os	 efeitos	 penais	 da	 sentença
condenatória.	 Contudo,	 os	 efeitos	 extrapenais	 não	 são	 afastados,	 ou	 seja,	 são	 preservados.
Assim,	como	houve	trânsito	em	julgado,	a	sentença	pode	ser	usada	como	título	executivo	para	a
obtenção	de	indenização,	por	exemplo,	visto	que	preservada	a	obrigação	de	reparar	o	dano,	ainda
que	 tenha	sido	extinta	a	punibilidade	do	agente	e	os	efeitos	penais	 tenham	sido	atingidos	pela
abolitio	criminis.	Do	mesmo	modo,	a	perda	do	cargo,	enquanto	efeito	extrapenal,	é	mantida.
ATENÇÃO:	 Modernamente,	 entende-se	 que	 cabe	 execução	 de	 pena	 mesmo	 antes	 do
trânsito	em	julgado,	desde	que	confirmada,	em	segundo	grau,	a	condenação.	Contudo,	em	que
pese	 a	 execução	 provisória	 da	 pena	 seja	 a	 posição	 dominante,	 atualmente,	 nos	 Tribunais
Superiores,	não	há	alteração	dos	tópicos	pontuados,	de	modo	que	a	abolitio	criminis	extinguirá	a
•	pretensão	punitiva,	quando	ocorrer	antes	do	trânsito	em	julgado;	e,
•	pretensão	executória,	se	ocorrer	depois	do	trânsito.	
Em	síntese,	observe	o	seguinte	comparativo:
Para	mais,	passaremos	a	estudar	a	denominada	abolitio	criminis	temporária.
1.1.1.	ABOLITIO	CRIMINIS	TEMPORÁRIA
A	abolitio	criminis	 temporária(conforme	denominada	pelo	STJ),	 também	denominada	de
vacatio	 legis	 indireta	 (designição	 conferida	 pelo	 STF),	 é	 prevista	 na	 Súmula	 513	 do	 Superior
Tribunal	de	Justiça,	in	verbis:
STJ.	 Súmula	 513.	 A	 'abolitio	 criminis'	 temporária	 prevista	 na	 Lei	 n.	 10.826/2003
aplica-se	 ao	 crime	 de	 posse	 de	 arma	 de	 fogo	 de	 uso	 permitido	 com	numeração,
marca	 ou	 qualquer	 outro	 sinal	 de	 identificação	 raspado,	 suprimido	 ou	 adulterado,
praticado	somente	até	23/10/2005.
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
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Curso	Ênfase	©	2019
A	 abolitio	 criminis	 temporária,	 portanto,	 é	 um	 período	 de	 atipicidade	 de	 uma	 conduta
descrita	num	tipo	penal	Nesse	sentido,	pode	ser	citada,	como	exemplo,	a	Lei	de	Armas,	que,	em
dois	momentos,	valeu-se	da	vacatio	legis	indireta:	de	2003	a	2005	e	de	2008	a	2009.
Nesse	segmento,	o	STJ	denomina	o	instituto	de	abolitio	criminis	temporária,	por	se	tratar
de	um	período	de	atipicidade.
Rememore,	nesse	caso,	o	exemplo	da	Lei	10.826/2003,	a	qual	prevê,	no	artigo	12,	a	figura
da	posse	ilegal	de	arma	de	fogo	de	uso	permitido.	Porém,	em	determinado	período,	tal	conduta
foi	considerada	atípica,	para	que	os	possuidores	e	proprietários	pudessem	regularizar	suas	armas.
Tratou-se,	 em	 síntese,	 de	 um	 período	 de	 atipicidade.	 Naquele	 contexto,	 inexistia	 elemento
subjetivo	do	tipo,	uma	vez	que	o	proprietário	dispunha	de	determinado	prazo	para	regularizar	a
arma.	Ademais,	houve,	também,	a	opção	de	entregar	a	arma,	no	primeiro	período,	caso	em	que,
mesmo	não	regularizando,	o	agente	lograria	a	benesse	legal.
Atualmente,	não	existe	mais	a	abolitio	criminis	temporária.	O	que	existe,	na	verdade,	é	a
possibilidade	de	entrega	de	arma	com	a	extinção	da	punibilidade.	Nesse	sentido,	verifique	que	o
artigo	32	da	Lei	de	Armas,	não	traz	mais	previsão	de	prazo.	Logo,	a	campanha	de	desarmamento
é	permanente.
Em	 suma,	 naquele	 contexto,	 a	 abolitio	 criminis	 temporária	 referia-se	 à	 possibilidade	 de
regularização	de	armas.
Outrossim,	para	 fins	de	 compreensão	da	Súmula	513,	 do	Superior	 Tribunal	 de	 Justiça,	 é
necessário	que	se	considerem	os	seguintes	aspectos:
•	refere-se	apenas	ao	crime	de	posse;	e,
•	limita-se	as	armas	de	fogo	de	uso	permitido;
•	em	que,	eventualmente,	houve	supressão	ou	adulteração	de	numeração,	marca	ou	outro
sinal	de	identificação;
Nesses	 termos,	 é	 necessário	 que	 se	 observe	 que,	 no	 primeiro	 período	 de	 abolitio
temporária(dezembro	de	2003	a	outubro	de	2005),	tratado	pela	Súmula	citada,	o	 legislador	não
fez	qualquer	distinção	quanto	ao	tipo	de	arma.	Sendo	assim,	qualquer	arma	podia	ser,	naquele
momento,	 objeto	 da	 abolitio	 temporária,	 seja	 de	 uso	 permito	 ou	 restrito	 (até	mesmo	 a	 arma
raspada).
Entretanto,	no	segundo	período	(de	fevereiro	de	2008	até	dezembro	de	2009),	a	 abolitio
temporária	referia-se	somente	a	armas	de	uso	permitido.	Ou	seja,	referia-se	apenas	à	conduta
prevista	no	12	da	Lei.	
Aline
Realce
Aline
Realce
Aline
Realce
Aline
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Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
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Curso	Ênfase	©	2019
Por	esse	motivo,	a	Súmula	513	do	STJ	foi	editada,	com	vistas	a	delimitar	a	abrangência,
inclusive	 temporal,	 do	primeiro	período	de	vacatio	legis	 indireta.	Para	mais,	 rememore	 que,	 no
segundo	momento,	tratou-se	somente	da	posse	de	armas	de	uso	permitido.
Acerca	do	tema,	verifique	o	julgado	do	Superior	Tribunal	de	Justiça	que	segue	colacionado:
A	 Lei	 n.º	 10.826/03,	 nos	 art.	 30	 e	 32,	 determinou	 que	 os	 possuidores	 e	 os
proprietários	 de	 armas	 de	 fogo	 não	 registradas	 deveriam,	 sob	 pena	 de
responsabilidade	penal,	no	prazo	de	180	(cento	e	oitenta)	dias	após	a	publicação	da
lei,	 SOLICITAR	 O	 SEU	 REGISTRO,	 apresentando	 nota	 fiscal	 de	 compra	 ou	 a
comprovação	da	origem	lícita	da	posse	ou	ENTREGÁ-LAS	À	POLICIA	FEDERAL.
Entre	 23/12/2003	 e	 23/10/2005,	 prazo	 identificado	 como	 VACATIO	 LEGIS
INDIRETA 	pela	doutrina,	a	simples	conduta	de	possuir	arma	de	fogo	e	munições,	DE
USO	PERMITIDO	(ART.	12)	OU	DE	USO	RESTRITO	(ART.	16),não	seria	crime.
[...]
a	conduta	imputada	ao	réu	em	11/03/2009	equivale	ao	porte	de	arma	de	fogo	de
uso	 restrito,	 e,	 por	 consectário,	 deve	 ser	 considerada	 típica,	 pois	 o	 período	 de
entrega	e	 regularização	 de	 tais	 armamentos	 se	 iniciou	 em	 23/12/2003	 e	 foiu
encerrado	 em	 23/10/2005,	 já	 que	 AS	 ULTERIORES	 PRORROGAÇÕES
ABRANGERAM	SOMENTE	OS	POSSUIDORES	DE	ARMA	DE	FOGO	E	MUNIÇÃO
DE	USO	PERMITIDO.	 Ordem	 denegada.	 (HC	 219.900/MG,	 Rel.	 Ministro	 GILSON
DIPP,	QUINTA	TURMA,	DJe	14/08/2012)
Nesse	 âmbito,	 perceba	 que,	 visto	 que	 o	 legislador	 não	 fez	 distinção	 quanto	 à	 arma,
entende-se	 que	 qualquer	 arma	 de	 fogo	 poderia	 ser	 objeto	 da	 chamada	 vacatio	 legis	 indireta.
Contudo,	a	aplicação	do	 instituto	 limitava-se	ao	crime	de	posse,	não	abrangendo,	portanto,	em
nenhum	momento,	o	crime	de	porte	de	arma.
Além	 disso,	 verifica-se	 que,	 para	 o	 STJ,	 a	 posse	 de	 arma	 com	 numeração	 raspada	 e
munições,	mesmo	que	de	uso	permitido,	é	equiparada	à	posse	de	arma	de	fogo	de	uso	restrito,
para	fins	de	reconhecimento	da	abolitio	criminis	temporária.	
Assim,	visto	que	a	conduta	 imputada	ao	réu	ocorreu	em	2009,	na	segunda	abolitio	 (que
refere-se	apenas	ao	artigo	12	-	Posse	de	arma	de	fogo	de	uso	permitido)	equipara-se	ao	porte	de
arma	de	uso	restrito.	Isso	porque,	a	arma	raspada	não	foi	abrangida	pela	segunda	abolitio	criminis
temporária.	Então,	o	período	de	entrega	e	 regularização	dessas	armas	 iniciou-se	em	dezembro
2003	 e	 encerrou-se	 em	 outubro	 de	 2005	 (primeiro	 momento	 da	 abolitio).	 Nesse	 sentido,
rememore	que	as	ulteriores	prorrogações	abrangem,	somente,	os	possuidores	de	arma	de	fogo
de	uso	permitido	(art.	12).
Aline
Realce
Aline
Realce
Aline
Realce
Aline
Realce
Aline
Realce
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
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Curso	Ênfase	©	2019
Por	 fim,	pontue-se	que	 tal	 julgado	antecedeu	a	Súmula	513	do	STJ,	 a	qual	 reconhece	a
possibilidade	de	incidência	da	abolitio	criminis	temporária	em	relação	às	armas	de	uso	restrito	ou
raspadas,	apenas	no	período	de	dezembro	2003	a	outubro	de	2005.	Posto	que,	naquele	primeiro
momento,	 o	 legislador	 não	 fez	 nenhuma	 restrição	 ou	 diferenciação	 em	 relação	 as	 armas	 que
poderiam	ser	objeto	do	instituto.	Em	contraponto,	no	segundo	momento,	o	legislador	restringiu	a
hipótese	de	incidência	às	armas	de	uso	permitido.	
Para	mais,	 acerca	 da	matéria,	 questiona-se:	 a	 abolitio	 criminis	 temporária
retroage?	Ou	seja,	é	apta	a	alcançar	os	fatos	anteriores,	em	período	em	que	não
houve	nenhuma	benesse?
O	Superior	Tribunal	de	Justiça	entende	que	sim,	com	base	no	artigo	5º,	XL,	da	Constituição,
o	qual	determina	que		a	lei	penal	não	retroagirá,	salvo	para	beneficiar	o	réu.	Então,	já	que	a	lei,
nesse	caso,	é	benéfica,	deve	retroagir.	
Nesse	sentido,	verifique	o	julgado	do	Superior	Tribunal	de	Justiça,	a	seguir	colacionado:
HABEAS	CORPUS.	POSSE	ILEGAL	DE	ARMA	DE	USO	RESTRITO.	ALEGAÇÃO	DE
ATIPICIDADE	 DA	 CONDUTA.	 OCORRÊNCIA.	 ABOLITIO	 CRIMINIS	 TEMPORÁRIA
QUANTO	 À	 POSSE	 DE	 ARMA	 OU	 MUNIÇÃO	 DE	 USO	 RESTRITO,	 OCORRIDA
ANTES	 DA	 VIGÊNCIA	 DO	 PRAZO	 LEGAL	 PARA	 A	 REGULARIZAÇÃO	 (DE
23/12/2003	 A	 25/10/2005).	 LEI	 PENAL	 MAIS	 BENÉFICA.	 ORDEM	 DE	 HABEAS
CORPUS	CONCEDIDA.	[...]	Com	base	no	art.	5.º,	inciso	XL,	da	Constituição	Federal
e	no	art.	2.º,	do	Código	Penal,	a	abolitio	criminis	temporária	deve	retroagir
para	beneficiar	 o	 réu	apenado	pelo	 crime	de	posse	de	arma	de	 fogo	 seja	de	uso
permitido	ou	restrito,	com	ou	sem	numeração	suprimida,	perpetrado	na	vigência	da
Lei	n.º	9.437/97.	Precedentes.	3.	No	caso	dos	autos,	é	atípica	a	conduta	atribuída	ao
Paciente,	uma	vez	que	a	busca	efetuada	em	sua	residência	ocorreu	em	08/04/1997,
ou	 seja,	antes	do	período	de	abrangência	 para	 o	 referido	 armamento,	 qual
seja,de	23	de	dezembro	de	2003	a	23	de	outubro	de	2005,	motivo	pelo	qual	se
encontra	abarcada	pela	excepcional	vacatio	legis	indireta	prevista	nos
arts.	30	e	32	da	Lei	n.º	10.826/03.	4.	Ordem	de	habeas	corpus	concedida	para
declarar	a	extinção	da	punibilidade	quantos	aos	crime	de	posse	ilegal	de	armas	de
fogo	de	uso	restrito	e	com	a	numeração	suprimida,	com	a	extensão	do	benefício	aos
corréus,	 por	 se	 encontrarem	 em	 idêntica	 situação.	 (HC	 164.321/SP,	 QUINTA
TURMA,	DJe	28/06/2012.
Desta	feita,	o	Superior	Tribunal	de	Justiça	admite	que	a	primeira	abolitio	(de	23/12/2003	a
23/10/2005)	alcance	fatos	anteriores.	Isso	porque,	o	legislador	não	fez	nenhuma	restrição	sobre	a
espécie	de	lei	que	pode	retroagir,	sendo	assim:	se	beneficia	o	réu,	então	a	lei	retroage,	ainda	que
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula8	-	Abolitio	Criminis
8
Curso	Ênfase	©	2019
seja	uma	figura	temporária.	
Em	 contraponto,	 o	 Supremo	Tribunal	 Federal	 entende	que	 a	 abolitio	 criminis	 temporária
não	retroage,	de	modo	a	Lei	sobre	prazo	para	registro	de	armas	é	inaplicável	a	fatos	fora	de
sua	vigência.	Nesse	âmbito,	verifique	o	julgado	a	seguir	colacionado:
Lei	excepcional	temporária	não	tem	retroatividade.	Tem	ultra-atividade	em	face	da
regra	do	art.	3º	do	Código	Penal.	(RE	768494).
Portanto,	o	STF	não	aceita	a	retroatividade	da	abolitio	temporária,	pois	entende	que	a	Lei
excepcional	 e	 a	 Lei	 temporária	 não	 retroagem.	A	 abolitio	 temporária	 possui	 essa	 natureza,	 de
modo	que	não	poderá	retroagir	para	alcançar	os	fatos	anteriores,	não	abrangidos	por	seu	período
de	aplicação.
Por	 fim,	 com	 relação	 à	 divergência	 de	 posicionamento	 entre	 o	 STJ	 e	 o	 STF,	 deverá
prevalecer	 o	 entendimento	 desse,	 já	 que	 o	 intuito	 do	 legislador	 era	 possibilitar	 período	 de
adaptação	(por	isso,	a	expressão	vacatio	legis	indireta).		
Ademais,	 tratou-se	 de	uma	vacatio	 legis	 pontual,	 não	 se	 destinando	 para	 toda	 a	 lei	 de
armas.
2.	NOTAS	DE	RODAPÉ
[1]	Este	tema	será	melhor	abordado	oportunamente.
[2]	Nota	do	monitor:	o	professor	pontua	que	cabe	ao	aluno	não	confundir	abolitio	criminis
com	anistia.
[3]	também	denominado	de	in	dubio	pro	reo.
Aline
Realce

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